Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
SlideShare uma empresa Scribd logo

1

PRÉ-MODERNISMO
O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, não constitui uma "escola
literária", ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário,
seguindo determinadas características. Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que
designa uma vasta produção literária que abrangeria os primeiros 20 anos deste século. Aí
vamos encontrar as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e
simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um
novo regionalismo, além de outros mais preocupados com uma literatura política e outros, ainda,
com propostas realmente inovadoras.
Por apresentarem uma obra significativa para uma nova interpretação da realidade brasileira e
por seu valor estilístico, limitaremos o Pré-Modernismo ao estudo de Euclides da Cunha, Lima
Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. Assim, abordaremos o período que
se inicia em 1902 com a publicação de dois importantes livros - Os sertões, de Euclides da
Cunha, e Canaã, de Graça Aranha - e se estende até o ano de 1922, com a realização da
Semana de Arte Moderna.
A literatura brasileira atravessa um período de transição nas primeiras décadas do século XX. De
um lado, ainda há a influência das tendências artísticas da segunda metade do século XIX; de
outro, já começa a ser preparada a grande renovação modernista, que se inicia em 1922, com a
Semana de Arte Moderna. A esse período de transição, que não chegou a constituir um
movimento literário, chamou-se Pré-Modernismo.
Nas duas primeiras décadas do século, nosso país passou por várias transformações que
apontavam para uma modernização de nossa vida política, social e cultural.
Politicamente, vivia-se o período de estabilização do regime republicano e a chamada "política do
café-com-leite", com a hegemonia de dois Estados da federação: São Paulo, em razão de seu
poder econômico, e Minas Gerais, por possuir o maior colégio eleitoral do país.
Embora não tivesse absorvido toda a mão-de-obra negra disponível desde a Abolição, o país
recebeu nesse período um grande contingente de imigrantes para trabalhar na lavoura do café e
na indústria.
Os imigrantes italianos, que se concentraram na indústria paulista, trouxeram consigo idéias
anarquistas e socialistas, que ocasionaram o aparecimento de greves, de crises políticas e a
formação de sindicatos.
Do ponto de vista cultural, o período foi marcado pela convivência entre várias tendências
artísticas ainda não totalmente superadas e algumas novidades de linguagem e de ideologia.
Esse período, que representou um verdadeiro cruzamento de idéias e formas literárias, é
chamado de Pré-Modernismo.
As novidades
Embora os autores pré-modernistas ainda estivessem presos aos modelos do romance realista-
naturalista e da poesia simbolista, ao menos duas novidades essenciais podem ser observadas
em suas obras:
interesse pela realidade brasileira: os modelos literários realista-naturalistas eram essencialmente
universalizastes. Tanto na prosa de Machado de Assis e Aluísio Azevedo quanto na poesia dos
parnasianos e simbolistas, não havia interesse em analisar a realidade brasileira. A preocupação
central desses autores era abordar o homem universal, sua condição e seus anseios. Aos
escritores pré-modernistas, ao contrário, interessavam assuntos do dia-a-dia dos brasileiros,
originando-se, assim, obras de nítido caráter social. Graça Aranha, por exemplo, retrata em seu
romance Canaã a imigração alemã no Espírito Santo; Euclides da Cunha, em Os sertões, aborda
o tema da guerra e do fanatismo religioso em Canudos, no sertão da Bahia; Lima Barreto detém-
se na análise das populações suburbanas do Rio de Janeiro; e Monteiro Lobato descreve a
miséria do caboclo na região decadente do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. A exceção
está na poesia de Augusto dos Anjos, que foge a esse interesse social.
A busca de uma linguagem mais simples e coloquial. Embora não se verifique essa preocupação
na obra de todos os pré-modernistas, ela é explícita na prosa de Lima Barreto e representa um
importante passo para a renovação modernista de 1922. Lima Barreto procurou "escrever
brasileiro", com simplicidade. Para isso, teve de ignorar muitas vezes as normas gramaticais e de

2

estilo, provocando a ira dos meios acadêmicos conservadores e parnasianos.
Outras manifestações artísticas
A música assistiu, desde o lançamento da primeira gravação feita no país por Xisto Bahia, a uma
penetração nas camadas mais elevadas de manifestações até então restritos às camadas mais
populares – ritmos tais como o maxixe, toada, modinha e serenata. É o tempo em que a capital
do país, então o Rio de Janeiro, assiste ao crescimento do carnaval, ao sucesso de compositores
como Chiquinha Gonzaga e o nascimento do samba em sua versão recente.
Na música erudita, o nome representativo foi o de Alberto Nepomuceno, de composições de
“intenção nacionalista”.
Na pintura, tendo como principal foco a Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro,
vigorava o academicismo, passando despercebida a exposição feita em 1913 pelo russo Lasar
Segall. Apenas em 1917 uma forte reação à exposição de Anita Malfatti expõe o confronto que
redundaria na Semana de Arte Moderna de 1922. (vide, mais abaixo, texto de Monteiro Lobato
sobre essa exposição).
Contexto histórico
Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra Mundial, o Brasil começa a viver, a partir
de 1894, um novo período de sua história republicana. Os dois primeiros presidentes do Brasil,
após a proclamação da República, eram militares: o marechal Deodoro da Fonseca e o marechal
Floriano Peixoto. O primeiro presidente civil, o paulista Prudente de Morais, tomou posse em
1894. Com ele, teve início uma alternância de poder conhecida como "café-com-leite", que se
manteve durante as três primeiras décadas do século XX. A expressão designa a política
estabelecida, mediante acordo tácito, pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. A economia
do primeiro baseava-se na cultura e exportação do café; a de Minas Gerais, na produção de café
e de laticínios.
O advento da República acentuou ainda mais os contrastes da sociedade brasileira: os negros,
recém-libertados, marginalizaram-se; os imigrantes chegavam a razoável quantidade para
substituir a mão-de-obra escrava, - surgia uma nova classe social: o proletariado, camada social
formada pelos assalariados.
Resumindo: de um lado, ex-escravos, imigrantes e proletariado nascente; de outro, uma classe
conservadora, detentora do dinheiro e do poder. Mas toda essa prosperidade vem acentuar cada
vez mais os fortes contrastes da realidade brasileira
Da tensão entre esses dois pólos sociais resultou, direta ou indiretamente, um panorama nada
tranqüilo, época de agitações sociais. Do abandonado Nordeste partem os primeiros gritos de
revolta: no final do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de Canudos, tema de Os sertões, de
Euclides da Cunha; nos primeiros anos do século XX, o Ceará é palco de conflitos, tendo como
figura central o padre Cícero, o famoso "Padim Ciço"; o sertão vive o tempo do cangaço, com a
figura lendária de Lampião.
Em 1904, o Rio de Janeiro assiste a uma rápida, mas intensa revolta popular, sob o pretexto
aparente de lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade, trata-
se de uma revolta contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da República. Em 1910,
há outra importante rebelião, dessa vez dos marinheiros, liderados por João Cândido, o
"almirante negro", conhecida corno Revolta da Chibata, contra o castigo corporal. Ao mesmo
tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras, sob orientação anarquista, iniciam os
movimentos grevistas por melhores condições de trabalho.
Embora as tensões sociais explodissem em focos diversos, a riqueza do país aumentava cada
vez mais: a economia cafeeira no Sudeste atingia seu período áureo, assim como a cultura e a
comercialização da borracha na Amazônia.
A rápida urbanização de São Paulo é um índice da riqueza do país, concentrada na mão dos
poucos indivíduos que compunham a elite.
Foi nesse contexto, aqui rapidamente delineado, que surgiram mudanças na arte brasileira.
Essas agitações são sintomas da crise na "Republicado café-com-leite", que se tornaria mais
evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana de
Arte Moderna.

3

Características
Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma "escola literária", apresentando individualidades
muito fortes, com estilos — às vezes antagônicos — como é o caso, por exemplo, de Euclides da
Cunha e de Lima Barreto, podemos perceber alguns pontos comuns às principais obras pré-
modernistas:
Apesar de alguns conservadorismos, o caráter inovador de algumas obras, que representa uma
ruptura com o passado, com o academismo; a linguagem de Augusto dos Anjos, ponteada de
palavras "não-poéticas", como cuspe, vômito, escarro, vermes, era uma afronta a. poesia
parnasiana ainda em vigor. Lima Barreto ironiza tanto os escritores "importantes" que utilizavam
uma linguagem pomposa quanto os leitores que se deixavam impressionar: "Quanto mais
incompreensível é ela (a linguagem), mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que
não lhe entenderam o escrito" (Os bruzundangas).
A denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário herdado do Romantismo e do
Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos
subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo.
Regionalismo, montando-se um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste com Euclides da
Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça
Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto.
Os tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os
mulatos.
Uma ligação com fatos políticos, econômicos os sociais contemporâneos, diminuindo a distância
entre a realidade e a ficção. São exemplos: Triste fim de Policarpa Quaresma, de Lima Barreto
(retrata o governo de Floriano e a Revolta da Armada), Os sertões, de Euclides da Cunha (um
relato da Guerra de Canudos), Cidades mortas, de Monteiro Lobato (mostra a passagem do café
pelo vale do Paraíba paulista), e Canaã, de Graça Aranha (um documento sobre a imigração
alemã no Espírito Santo).
Como se observa, essa "descoberta do Brasil" é a principal herança desses autores para o
movimento modernista, iniciado em 1922.
O Pré-Modernismo é uma fase de transição e, por isso, registra:
Um traço conservador
A permanência de características realista-naturalistas, na prosa, e a permanência de uma poesia
de caráter ainda parnasiano ou simbolista.
Um traço renovador
Esse traço renovador — como ocorreu na música — revela-se no interesse com que os novos
escritores analisaram a realidade brasileira de sua época: a literatura incorpora as tensões
sociais do período. O regionalismo — nascido do Romantismo — persiste nesse momento
literário, mas com características diversas daquelas que o animaram durante o Romantismo.
Agora o escritor não deseja mais idealizar uma realidade, mas denunciar os desequilíbrios dessa
realidade. Esse tom de denúncia é a inovação nessa tentativa de "pintar" um retrato do Brasil.
Além disso, dois dos mais importantes escritores da época — Lima Barreto e Monteiro Lobato —
deixaram claro sua intenção de escrever numa linguagem mais simples, que se aproximasse do
coloquial.
Autores
EUCLIDES DA CUNHA em OS SERTÕES, revela a interpretação da realidade nacional, tendo
como inspiração seu trabalho jornalístico em Canudos.
OUTRAS OBRAS:Contrastes e Confrontos, Relatório sobre o Alto Purus e Peru versus Bolívia.
LIMA BARRETO
No estilo simples fez uma literatura militante, criou alguns personagens que se tornaram símbolo
de comportamento e valores sociais, como Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos.
OBRAS:Triste fim de Policarpo Quaresma, Numa e Ninfa, Clara dos Anjos, Recordação do
escrivão Isaías Caminha, Vida e Morte de M.J.Gonzaga de ´Sá.

4

MONTEIRO LOBATO
Considerado um contista regionalista , escritor combativo de literatura militante, apresentou a
realidade social e mental do chamado Jeca Tatu.
Foi o mais importante escritor da literatura infantil brasileira.
OBRAS: Urupês, Cidades Mortas, Negrinha.
Sítio do Picapau Amarelo, Reinações de Narizinho, Viagem ao Céu, Memórias de Emília, O
Minotauro, entre outros.
OUTROS AUTORES DO PRÉ-MODERNISMO
GRAÇA ARANHA (Canaã)
JOSE MARIA TOLEDO MALTA
AUGUSTO DOS ANJOS
Combina elementos parnasianos, simbolistas e expressionistas: preocupação formal,
musicalidade, exagero e deformação expressivos.
Sua poesia é forte, chocante, agressiva, comunica-nos a angústia da falta de sentido à vida na
decomposição e aniquilamento da carne.
EU, foi uma de suas obras, mais tarde passou a chamar-se Eu e outras poesias.
Na maior parte da obras pré-modernistas é imediata a relação entre o assunto e a realidade
contemporânea ao escritor:
►Em Triste fim de Policarpa Quaresma, romance mais importante de Lima Barreto, o escritor
denunciou a burocracia no processo político brasileiro, o preconceito de cor e de classe e
incorporou fatos ocorridos durante o governo do Marechal Floriano.
►Em Os Sertões, Euclides da Cunha fez a narrativa quase documental da Guerra de Canudos.
►Em Canaã, Graça Aranha analisa minuciosamente os problemas da fixação dos imigrantes em
terras brasileiras.
►Em Urupês e Cidades mortas, Monteiro Lobato destaca a decadência econômica dos vilarejos
e da população cabocla do Vale do Paraíba, durante a crise do café.
►Na poesia, o único poeta importante a romper com o bem-comportado vocabulário parnasiano
foi Augusto dos Anjos.

Mais conteúdo relacionado

Prémoderismo

  • 1. PRÉ-MODERNISMO O que se convencionou chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, não constitui uma "escola literária", ou seja, não temos um grupo de autores afinados em torno de um mesmo ideário, seguindo determinadas características. Na realidade, Pré-Modernismo é um termo genérico que designa uma vasta produção literária que abrangeria os primeiros 20 anos deste século. Aí vamos encontrar as mais variadas tendências e estilos literários, desde os poetas parnasianos e simbolistas, que continuavam a produzir, até os escritores que começavam a desenvolver um novo regionalismo, além de outros mais preocupados com uma literatura política e outros, ainda, com propostas realmente inovadoras. Por apresentarem uma obra significativa para uma nova interpretação da realidade brasileira e por seu valor estilístico, limitaremos o Pré-Modernismo ao estudo de Euclides da Cunha, Lima Barreto, Graça Aranha, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos. Assim, abordaremos o período que se inicia em 1902 com a publicação de dois importantes livros - Os sertões, de Euclides da Cunha, e Canaã, de Graça Aranha - e se estende até o ano de 1922, com a realização da Semana de Arte Moderna. A literatura brasileira atravessa um período de transição nas primeiras décadas do século XX. De um lado, ainda há a influência das tendências artísticas da segunda metade do século XIX; de outro, já começa a ser preparada a grande renovação modernista, que se inicia em 1922, com a Semana de Arte Moderna. A esse período de transição, que não chegou a constituir um movimento literário, chamou-se Pré-Modernismo. Nas duas primeiras décadas do século, nosso país passou por várias transformações que apontavam para uma modernização de nossa vida política, social e cultural. Politicamente, vivia-se o período de estabilização do regime republicano e a chamada "política do café-com-leite", com a hegemonia de dois Estados da federação: São Paulo, em razão de seu poder econômico, e Minas Gerais, por possuir o maior colégio eleitoral do país. Embora não tivesse absorvido toda a mão-de-obra negra disponível desde a Abolição, o país recebeu nesse período um grande contingente de imigrantes para trabalhar na lavoura do café e na indústria. Os imigrantes italianos, que se concentraram na indústria paulista, trouxeram consigo idéias anarquistas e socialistas, que ocasionaram o aparecimento de greves, de crises políticas e a formação de sindicatos. Do ponto de vista cultural, o período foi marcado pela convivência entre várias tendências artísticas ainda não totalmente superadas e algumas novidades de linguagem e de ideologia. Esse período, que representou um verdadeiro cruzamento de idéias e formas literárias, é chamado de Pré-Modernismo. As novidades Embora os autores pré-modernistas ainda estivessem presos aos modelos do romance realista- naturalista e da poesia simbolista, ao menos duas novidades essenciais podem ser observadas em suas obras: interesse pela realidade brasileira: os modelos literários realista-naturalistas eram essencialmente universalizastes. Tanto na prosa de Machado de Assis e Aluísio Azevedo quanto na poesia dos parnasianos e simbolistas, não havia interesse em analisar a realidade brasileira. A preocupação central desses autores era abordar o homem universal, sua condição e seus anseios. Aos escritores pré-modernistas, ao contrário, interessavam assuntos do dia-a-dia dos brasileiros, originando-se, assim, obras de nítido caráter social. Graça Aranha, por exemplo, retrata em seu romance Canaã a imigração alemã no Espírito Santo; Euclides da Cunha, em Os sertões, aborda o tema da guerra e do fanatismo religioso em Canudos, no sertão da Bahia; Lima Barreto detém- se na análise das populações suburbanas do Rio de Janeiro; e Monteiro Lobato descreve a miséria do caboclo na região decadente do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. A exceção está na poesia de Augusto dos Anjos, que foge a esse interesse social. A busca de uma linguagem mais simples e coloquial. Embora não se verifique essa preocupação na obra de todos os pré-modernistas, ela é explícita na prosa de Lima Barreto e representa um importante passo para a renovação modernista de 1922. Lima Barreto procurou "escrever brasileiro", com simplicidade. Para isso, teve de ignorar muitas vezes as normas gramaticais e de
  • 2. estilo, provocando a ira dos meios acadêmicos conservadores e parnasianos. Outras manifestações artísticas A música assistiu, desde o lançamento da primeira gravação feita no país por Xisto Bahia, a uma penetração nas camadas mais elevadas de manifestações até então restritos às camadas mais populares – ritmos tais como o maxixe, toada, modinha e serenata. É o tempo em que a capital do país, então o Rio de Janeiro, assiste ao crescimento do carnaval, ao sucesso de compositores como Chiquinha Gonzaga e o nascimento do samba em sua versão recente. Na música erudita, o nome representativo foi o de Alberto Nepomuceno, de composições de “intenção nacionalista”. Na pintura, tendo como principal foco a Escola Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, vigorava o academicismo, passando despercebida a exposição feita em 1913 pelo russo Lasar Segall. Apenas em 1917 uma forte reação à exposição de Anita Malfatti expõe o confronto que redundaria na Semana de Arte Moderna de 1922. (vide, mais abaixo, texto de Monteiro Lobato sobre essa exposição). Contexto histórico Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra Mundial, o Brasil começa a viver, a partir de 1894, um novo período de sua história republicana. Os dois primeiros presidentes do Brasil, após a proclamação da República, eram militares: o marechal Deodoro da Fonseca e o marechal Floriano Peixoto. O primeiro presidente civil, o paulista Prudente de Morais, tomou posse em 1894. Com ele, teve início uma alternância de poder conhecida como "café-com-leite", que se manteve durante as três primeiras décadas do século XX. A expressão designa a política estabelecida, mediante acordo tácito, pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. A economia do primeiro baseava-se na cultura e exportação do café; a de Minas Gerais, na produção de café e de laticínios. O advento da República acentuou ainda mais os contrastes da sociedade brasileira: os negros, recém-libertados, marginalizaram-se; os imigrantes chegavam a razoável quantidade para substituir a mão-de-obra escrava, - surgia uma nova classe social: o proletariado, camada social formada pelos assalariados. Resumindo: de um lado, ex-escravos, imigrantes e proletariado nascente; de outro, uma classe conservadora, detentora do dinheiro e do poder. Mas toda essa prosperidade vem acentuar cada vez mais os fortes contrastes da realidade brasileira Da tensão entre esses dois pólos sociais resultou, direta ou indiretamente, um panorama nada tranqüilo, época de agitações sociais. Do abandonado Nordeste partem os primeiros gritos de revolta: no final do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de Canudos, tema de Os sertões, de Euclides da Cunha; nos primeiros anos do século XX, o Ceará é palco de conflitos, tendo como figura central o padre Cícero, o famoso "Padim Ciço"; o sertão vive o tempo do cangaço, com a figura lendária de Lampião. Em 1904, o Rio de Janeiro assiste a uma rápida, mas intensa revolta popular, sob o pretexto aparente de lutar contra a vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade, trata- se de uma revolta contra o alto custo de vida, o desemprego e os rumos da República. Em 1910, há outra importante rebelião, dessa vez dos marinheiros, liderados por João Cândido, o "almirante negro", conhecida corno Revolta da Chibata, contra o castigo corporal. Ao mesmo tempo, em São Paulo, as classes trabalhadoras, sob orientação anarquista, iniciam os movimentos grevistas por melhores condições de trabalho. Embora as tensões sociais explodissem em focos diversos, a riqueza do país aumentava cada vez mais: a economia cafeeira no Sudeste atingia seu período áureo, assim como a cultura e a comercialização da borracha na Amazônia. A rápida urbanização de São Paulo é um índice da riqueza do país, concentrada na mão dos poucos indivíduos que compunham a elite. Foi nesse contexto, aqui rapidamente delineado, que surgiram mudanças na arte brasileira. Essas agitações são sintomas da crise na "Republicado café-com-leite", que se tornaria mais evidente na década de 1920, servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana de Arte Moderna.
  • 3. Características Apesar de o Pré-Modernismo não constituir uma "escola literária", apresentando individualidades muito fortes, com estilos — às vezes antagônicos — como é o caso, por exemplo, de Euclides da Cunha e de Lima Barreto, podemos perceber alguns pontos comuns às principais obras pré- modernistas: Apesar de alguns conservadorismos, o caráter inovador de algumas obras, que representa uma ruptura com o passado, com o academismo; a linguagem de Augusto dos Anjos, ponteada de palavras "não-poéticas", como cuspe, vômito, escarro, vermes, era uma afronta a. poesia parnasiana ainda em vigor. Lima Barreto ironiza tanto os escritores "importantes" que utilizavam uma linguagem pomposa quanto os leitores que se deixavam impressionar: "Quanto mais incompreensível é ela (a linguagem), mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito" (Os bruzundangas). A denúncia da realidade brasileira, negando o Brasil literário herdado do Romantismo e do Parnasianismo; o Brasil não-oficial do sertão nordestino, dos caboclos interioranos, dos subúrbios, é o grande tema do Pré-Modernismo. Regionalismo, montando-se um vasto painel brasileiro: o Norte e o Nordeste com Euclides da Cunha; o vale do Paraíba e o interior paulista com Monteiro Lobato; o Espírito Santo com Graça Aranha; o subúrbio carioca com Lima Barreto. Os tipos humanos marginalizados: o sertanejo nordestino, o caipira, os funcionários públicos, os mulatos. Uma ligação com fatos políticos, econômicos os sociais contemporâneos, diminuindo a distância entre a realidade e a ficção. São exemplos: Triste fim de Policarpa Quaresma, de Lima Barreto (retrata o governo de Floriano e a Revolta da Armada), Os sertões, de Euclides da Cunha (um relato da Guerra de Canudos), Cidades mortas, de Monteiro Lobato (mostra a passagem do café pelo vale do Paraíba paulista), e Canaã, de Graça Aranha (um documento sobre a imigração alemã no Espírito Santo). Como se observa, essa "descoberta do Brasil" é a principal herança desses autores para o movimento modernista, iniciado em 1922. O Pré-Modernismo é uma fase de transição e, por isso, registra: Um traço conservador A permanência de características realista-naturalistas, na prosa, e a permanência de uma poesia de caráter ainda parnasiano ou simbolista. Um traço renovador Esse traço renovador — como ocorreu na música — revela-se no interesse com que os novos escritores analisaram a realidade brasileira de sua época: a literatura incorpora as tensões sociais do período. O regionalismo — nascido do Romantismo — persiste nesse momento literário, mas com características diversas daquelas que o animaram durante o Romantismo. Agora o escritor não deseja mais idealizar uma realidade, mas denunciar os desequilíbrios dessa realidade. Esse tom de denúncia é a inovação nessa tentativa de "pintar" um retrato do Brasil. Além disso, dois dos mais importantes escritores da época — Lima Barreto e Monteiro Lobato — deixaram claro sua intenção de escrever numa linguagem mais simples, que se aproximasse do coloquial. Autores EUCLIDES DA CUNHA em OS SERTÕES, revela a interpretação da realidade nacional, tendo como inspiração seu trabalho jornalístico em Canudos. OUTRAS OBRAS:Contrastes e Confrontos, Relatório sobre o Alto Purus e Peru versus Bolívia. LIMA BARRETO No estilo simples fez uma literatura militante, criou alguns personagens que se tornaram símbolo de comportamento e valores sociais, como Policarpo Quaresma e Clara dos Anjos. OBRAS:Triste fim de Policarpo Quaresma, Numa e Ninfa, Clara dos Anjos, Recordação do escrivão Isaías Caminha, Vida e Morte de M.J.Gonzaga de ´Sá.
  • 4. MONTEIRO LOBATO Considerado um contista regionalista , escritor combativo de literatura militante, apresentou a realidade social e mental do chamado Jeca Tatu. Foi o mais importante escritor da literatura infantil brasileira. OBRAS: Urupês, Cidades Mortas, Negrinha. Sítio do Picapau Amarelo, Reinações de Narizinho, Viagem ao Céu, Memórias de Emília, O Minotauro, entre outros. OUTROS AUTORES DO PRÉ-MODERNISMO GRAÇA ARANHA (Canaã) JOSE MARIA TOLEDO MALTA AUGUSTO DOS ANJOS Combina elementos parnasianos, simbolistas e expressionistas: preocupação formal, musicalidade, exagero e deformação expressivos. Sua poesia é forte, chocante, agressiva, comunica-nos a angústia da falta de sentido à vida na decomposição e aniquilamento da carne. EU, foi uma de suas obras, mais tarde passou a chamar-se Eu e outras poesias. Na maior parte da obras pré-modernistas é imediata a relação entre o assunto e a realidade contemporânea ao escritor: ►Em Triste fim de Policarpa Quaresma, romance mais importante de Lima Barreto, o escritor denunciou a burocracia no processo político brasileiro, o preconceito de cor e de classe e incorporou fatos ocorridos durante o governo do Marechal Floriano. ►Em Os Sertões, Euclides da Cunha fez a narrativa quase documental da Guerra de Canudos. ►Em Canaã, Graça Aranha analisa minuciosamente os problemas da fixação dos imigrantes em terras brasileiras. ►Em Urupês e Cidades mortas, Monteiro Lobato destaca a decadência econômica dos vilarejos e da população cabocla do Vale do Paraíba, durante a crise do café. ►Na poesia, o único poeta importante a romper com o bem-comportado vocabulário parnasiano foi Augusto dos Anjos.