Este documento resume um estudo de caso sobre a influência da televisão no uso de gírias por alunos do 2o ano do Ensino Fundamental. O estudo aplicou questionários com alunos e pais para entender quais mídias e programas eles mais consomem. Em seguida, realizou atividades em sala de aula sobre o significado e uso de gírias, incluindo conversas e construções escritas. O objetivo foi mostrar que é possível trabalhar com as crianças para que compreendam melhor o que assistem e reflitam sobre
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Samira versaofinal
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
CENTRO INTERDISCIPLINAR DE NOVAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO
SAMIRA SGARABOTTO SILVA
AS GÍRIAS QUE A TV ENSINA:
um estudo de caso com alunos do 2º ano dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental
PORTO ALEGRE
2010
2. SAMIRA SGARABOTTO SILVA
AS GÍRIAS QUE A TV ENSINA:
um estudo de caso com alunos do 2º ano dos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Especialista em Mídias
na Educação, pelo Centro Interdisciplinar de
Novas Tecnologias na Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
CINTED/UFRGS.
Orientadora:
Valéria Machado da Costa, Msc
PORTO ALEGRE
2010
3. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto
Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Aldo Bolten Lucion
Diretora do Centro Interdisciplinar de Novas Tecnologias na
Educação: Profa. Liane Margarida Rockenbach Tarouco
Coordenador(as) do curso de Especialização em Mídias na
Educação: Profas. Rosa Vicari e Liane Margarida Rockenbach Tarouco
4. Agradecimento
Agradeço ao meu marido Fúlvio por entender as horas de convívio que
abdiquei para realização do trabalho e por me apoiar a fazer uma entrega as
pesquisas para que fosse possível alcançar os resultados esperados, assim
como aos alunos que participaram desta experiência e se mostraram dispostos
a alcançar os resultados que eram propostos.
De maneira especial agradeço também todo o auxílio que recebi da
orientadora Valéria que se mostrou presente em todo o processo de construção
deste trabalho.
5. RESUMO
A criança, antes de ingressar na escola já passou por uma formação
educacional realizada pela família, mas também pelas mídias que tem acesso.
De maneira especial encontra-se a mídia da televisão, que seduz e educa,
influenciando atitudes, preferências e a linguagem das crianças principalmente.
Frente a isto os adultos que acompanham o crescimento e desenvolvimento da
criança devem estar atentos e dispostos a interagir com o que é aprendido
nesta mídia que normalmente ocupa um lugar de destaque nos lares e é
ignorado dentro da escola. Através de um trabalho realizado sobre “As gírias
que a TV ensina”, foi possível verificar que a grande maioria da turma do 2°
ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do município de Caxias do Sul,
demonstra preferência em assistir programas humorísticos como o “Pânico na
TV” e consequentemente reproduzem no seu cotidiano as gírias aprendidas
nele. Baseado nesta influência foi desenvolvido com alunos, questionamentos,
conversas, pesquisas com eles e seus pais e construções escritas que
auxiliaram na reflexão sobre o uso das gírias no cotidiano, assim como a
verificação da postura dos pais e professores que participam da aprendizagem
deles. Tais atividades foram analisadas com base em um referencial teórico
pesquisado e que nortearam o estudo e a conclusão de que não é possível
negar a influência da televisão na aprendizagem das crianças e que o que é
aprendido através dela necessita ser discutido pelos adultos que cercam a
criança que está em formação.
Palavras – chave: televisão – criança – educação – pais – escola
6. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 7
1.1 METODOLOGIA ....................................................................................... 8
2 MÍDIAS NA EDUCAÇÃO ...................................................................... 10
2.1 HISTÓRICO DA TELEVISÃO ..................................................................... 14
3 TV E EDUCAÇÃO ................................................................................. 18
3.1 PROGRAMAÇÃO PARA CRIANÇAS EM CANAL ABERTO NO DOMINGO ............. 24
4 TRABALHANDO AS GÍRIAS COM ALUNOS DO 2ºANO DOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL .......................................................... 28
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 41
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 44
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS ................................... 47
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO PARA OS PAIS .......................................... 48
7. 1 INTRODUÇÃO
A mídia eletrônica de modo geral envolve seus usuários que adquirem neste
contato conhecimento e informação através de uma ação prazerosa e sedutora
(MORAN, 2007).
A televisão, com uma penetração de 97,2% nos lares da zona urbana e de
84,2% nos lares da zona rural (IBGE, 2009), é a mídia mais utilizada pela população
brasileira de modo geral. Neste contexto se faz necessário um olhar direcionado
para ela a fim de perceber e entender a influência que esta representa, uma vez que
aproxima a realidade vivida com o restante do mundo por meio de uma combinação
“convidativa as percepções auditivas e visuais através das imagens, sons, cores e
movimentos” (SCHEMES, 2002).
E é exatamente esta combinação que atrai os olhares curiosos das crianças.
A criança por encontrar-se em fase de amadurecimento e desenvolvimento recebe
influência da TV na sua aprendizagem. Ao realizar a ação de assistir televisão e
assim conhecer pessoas reais e personagens interpretados expande os modelos a
serem seguidos e copiados nas ações e rotinas do seu cotidiano. Nesta ótica é que
surge a necessidade de um acompanhamento e esclarecimento do que é visto por
parte de um adulto, ou seja, dos pais e da escola.
A televisão por entreter e informar a família, segundo Turra (2008) ocupa um
lugar de destaque na casa e na própria família. É de responsabilidade, então, dos
pais acompanharem as escolhas e a classificação indicativa sobre o que é assistido
pelos filhos assim como uma posterior conversa orientada. Da mesma maneira
encontra-se a escola, cuja postura deve ser a de ouvir, discutir e assim orientar para
uma escolha consciente, crítica e coerente do que será assistido.
8. 8
O trabalho que se apresenta analisou a experiência sobre as gírias que a TV
ensina tendo em vista que os 22 alunos de sete a nove anos do município de Caxias
do Sul observados reproduzem no seu cotidiano imitações de linguagens e ações
que assistem na televisão, em especial em programas humorísticos como o “Pânico
na TV”. Percebe-se que muitas destas imitações não têm seus significados
conhecidos pelos alunos.
Frente a isto a questão que se mostrou como problema a ser analisado foi a
de que tendo em vista a importância da televisão no cotidiano das crianças, seria
possível trabalhar a linguagem das mesmas diante da influência de programas como
o “Pânico na TV”?
O estudo realizado para este trabalho baseou-se na hipótese de que apesar
da forte presença das gírias advindas de programas como o Pânico na TV na
linguagem das crianças, é possível trabalhar com elas no sentido de minimizar esse
efeito.
Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é mostrar que é possível
realizar atividades com essas crianças de modo a auxiliá-las na compreensão das
gírias utilizadas e assim fazê-las refletir e repensar o seu uso no cotidiano. Os
objetivos específicos são:
● Realizar um levantamento estatístico, por meio de questionário, para
verificação sobre que mídias os alunos observados têm mais acesso nas
suas residências.
● Perceber a posição dos pais frente às escolhas televisivas dos filhos.
● Vivenciar atividades que demonstrem a influência de tais gírias na
prática do cotidiano dos alunos observados.
● Construir, junto aos alunos, um entendimento do significado das gírias e
assim ampliar o conhecimento e linguagem dos alunos.
1.1 Metodologia
Esta é uma pesquisa qualitativa e quantitativa, que objetiva, através de
atividades realizadas com os alunos, estudar sobre a sua postura diante do
conteúdo assistido na televisão, notadamente o referente ao programa humorístico
9. 9
Pânico na TV. Para tanto, foram seguidas as seguintes etapas: antes de iniciar as
atividades em sala de aula, foi realizada uma observação sobre a turma onde foi
possível detectar a utilização de gírias feita pelos alunos na sua linguagem.
Posteriormente em sala de aula houve o preenchimento de um questionário
(Apêndice A) que buscava verificar a que mídia os alunos tem mais acesso em casa,
assim como a programação preferida e as companhias para assistir tais programas.
Ainda em sala houve conversas e transmissão do programa mais assistido,
construções escritas sobre as gírias utilizadas na linguagem oral e reflexão sobre a
utilização destas no cotidiano. Houve neste período a participação dos pais em um
preenchimento de um questionário (Apêndice B) semelhante ao dos alunos para
verificação da visão dos pais sobre a mídia mais utilizada por seus filhos.
O trabalho foi organizado em quatro capítulos, além da presente introdução.
No capítulo dois, “Mídias na Educação”, será apresentado um estudo para perceber
os diferenciais no ensino que esta representa, com foco especial para a televisão.
No capítulo três, “TV e Educação”, será apresentado um estudo focado nas
influências da televisão na aprendizagem da criança, a postura dos pais e da escola
frente a isto. No capítulo quatro “Trabalhando as gírias com alunos do 2ºano dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental” são apresentados os resultados de uma
experiência que se baseou nas gírias usadas na escola e aprendidas na televisão,
realizado com uma turma do 2º Ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, de
uma Escola Estadual de Caxias do Sul, acompanhados de uma análise à luz dos
pressupostos teóricos mencionados nos capítulos anteriores e, no capítulo cinco,
"Considerações Finais", são apresentadas as principais conclusões obtidas da
conjugação entre pressupostos teóricos e experiência prática desenvolvida.
10. 2. MÍDIAS NA EDUCAÇÃO
A criança, antes de ingressar na escola já passou por vários contextos que
proporcionaram a formação da sua educação inicial, mas em especial o convívio
com a família e com as mídias. Através do contato com as mídias a criança aprende
a conhecer e a se informar de maneira prazerosa, pois esta é uma ação motivada
pela sedução e envolvimento feito pela mídia (MORAN, 2007).
Mesmo durante o período escolar a mídia mostra o mundo de outra
forma - mais fácil, agradável, compacta - sem precisar fazer esforço.
Ela fala do cotidiano, dos sentimentos, das novidades. A mídia
continua educando como contraponto à educação convencional,
educa enquanto estamos entretidos (MORAN, 2007).
Segundo Fisherkeller (2009), o processo dialético e múltiplo da auto
identidade da criança está também relacionado com os experimentos que esta
vivencia com a mídia de maneira geral, uma vez que dependendo das circunstâncias
de vida, elas encontram uma oferta ampla ou restrita de diferentes tipos de mídias e
isto consequentemente exerce uma influência sobre como elas compreenderão suas
experiências com as mídias.
Para o autor “quais as mídias que estão disponíveis para as crianças em
casa é um ponto muito pertinente, porque o acesso material a todas as mídias,
especialmente àquelas mais recentes, está relacionado às condições sócio
econômicas da família” (FISHERKELLER, 2009, p. 278), e as crianças constroem
uma percepção de si mesmas baseadas nisto, assim como na negociação do tempo
disponibilizado a elas para o uso das mídias em casa. A conversa da família sobre
as diferentes mídias ressalta o autor, também contribui para a maneira como a
criança usa e avalia esses meios e a posição que esta ocupa como usuário.
Observa-se, no estudo denominado “Digital Life”, realizado pela União
Internacional de Telecomunicações (2006), que a nível mundial a população, em
11. 11
especial as menores de dezoito anos, passa mais horas utilizando meios de
comunicação digital como a internet do que a televisão, por exemplo.
No contexto escolar, Correia (2010) explica que as escolas estão passando
por uma adaptação para entender e assim fazer a utilização das mídias, uma vez
que é necessário equipar “o ambiente escolar e transformar salas de aula
tradicionais em laboratórios de informática e outros ambientes, em sala da TV escola
ou em laboratórios multidisciplinares.” Feito estas adaptações a utilização das
mídias virá acompanhada de fácil acesso e qualidade no seu uso em sala de aula,
uma vez que a “escola precisa exercitar as novas linguagens que sensibilizam e
motivam os alunos” (MORAN, 2007).
Para Correia (2010), o acesso às mídias no ambiente escolar permite que se
percebam novos recursos para a educação, seu manuseio estimula a criatividade,
conhecimento, planejamento e organização no processo ensino aprendizagem.
Democratizar o acesso à informação e ao conhecimento no contexto
escolar apresenta-se como o novo desafio para a educação (para
aqueles que se predispõem a lidar com a educação) e, ao mesmo
tempo, é uma nova maneira de articular o aluno, o professor, a
informação e o conhecimento (CORREIA, 2010).
Ao mesmo tempo em que o homem, de modo geral, descobre e interage
com as mídias que estão a sua volta ele torna-se produto deste processo de
construção e transformação que ela possibilita e causa. Assim, “A escola nesse
âmbito é o palco da produção e reprodução dessas descobertas, é o espaço onde o
fazer tecnológico deve por excelência gerar novas expectativas e proporcionar cada
vez mais a investigação e a necessidade de renovação do saber” (BANHO, 2010).
A dificuldade na aceitação do uso das mídias na educação, porém, encontra-
se no distanciamento da proposta educacional com a realidade vivida pelos alunos
na sociedade atual. Desconsidera-se com esta negação, conforme Martinsi (2002),
que a aprendizagem do aluno acontece em todos os contextos vividos por ele, nas
interações que este faz com objetos, pessoas, nas situações que se apresentam no
cotidiano e no seu contexto. É nestas interações que ele cria e modifica sua maneira
de atuar e conviver no meio em que vive.
Por isso, a utilização das mídias nas escolas depende de como esta é vista
por seus colaboradores: como um lugar de transmissão do conhecimento ou como
12. 12
um lugar desafiador que provoca mudanças? De acordo com a Educnet (2008), o
uso de tais recursos só valida a aprendizagem quando seu manuseio é integrado à
linguagem da escola, uma vez que esta pode proporcionar inovações nas atividades
das escolas além de acompanhar as transformações sociais. Desta maneira é
possível proporcionar “ao aluno os meios necessários para aprender a obter a
informação, para construir o conhecimento e adquirir competências, desenvolvendo
simultaneamente o espírito crítico.”
Mídias só podem servir de fonte de acesso ao conhecimento se
forem integradas, dentro ou fora da escola, no quadro de um projeto
ou de uma metodologia. […] É urgente definir uma nova função da
escola na sociedade atual. A questão mais importante é a de saber
como vamos fazer uma educação democrática para todos ou, pelo
menos, para uma maioria. […] Devemos construir um discurso sobre
a nova função da escola na sociedade tecnológica e criar práticas
novas (JACQUINOT 1995 apud EDUCNET, 2008).
Martinsi (2002) explica, dentro deste contexto que
As tecnologias de informação e comunicação podem favorecer a
constituição de uma teia entre a escola e o cotidiano no qual o
indivíduo atua, configurando novos caminhos para ele interagir e
desenvolver suas constantes compreensões sobre o mundo e sobre
a sua cultura.
Neste processo, o uso das mídias para o autor requer a prática que propicie
a aprendizagem e a vivência “de processos criativos, com diálogos e interações
múltiplas” (MARTINSI, 2002), em um ambiente inovador e assim interessante para o
professor que pode fazer uso de recursos que tragam para a vivência curricular a
proximidade com a realidade do aluno e para o aluno um recurso que permite e
solicita a sua participação e interação constantemente (BANHO, 2010). Assim, será
possível auxiliar no desenvolvimento da autonomia do aluno enquanto sujeito da sua
aprendizagem e permitir uma interação entre o professor e o aluno neste processo
construtivo do saber que caracteriza o ensino escolar (CORREIA, 2010).
As tecnologias, para Moran (2007), contêm um nível de informação variado e
completo e através do contato com elas é possível o aluno facilitar o acesso e busca
por conceitos, principalmente. Porém, é na escola que o aluno irá aprender a
trabalhar com estas informações, a “interpretá-las, relacioná-las, hierarquizá-las,
contextualizá-las, só as tecnologias não serão suficientes. O professor o ajudará a
questionar, a procurar novos ângulos, a relativizar dados, a tirar conclusões.”
13. 13
Com esta união entre mídias e escola, o aluno aproxima o conteúdo
programático com a sua realidade e com isto adquire um maior entendimento sobre
o que estuda e torna-se um investigador e transformador da realidade em que vive e
“certamente os resultados desses processos para a sociedade é mais evidente de
uma forma positiva do que tornar este aluno um mero consumidor de tecnologias”
(BANHO, 2010).
Fisherkeller (2009, p. 272) afirma que é comum a criança utilizar as mídias
também para ver o que é “legal” e assim fazer escolhas por certo roteiro sobre o que
“seguir”, pois “não há como escapar da cultura do consumismo e de todos os
sistemas da mídia comercial que promovem e mantêm, tanto localmente como
globalmente” e percebendo a TV de modo especial, Schemes (2002) ressalta que
mesmo não dispondo de mecanismos próprios de recompensas e sanções, ela
possui o poder de orientar o comportamento.
É pertinente ressaltar que o deslumbramento com o computador e com a
internet remete ao pensamento, segundo Moran (2007) de que mídias como a
televisão e o vídeo já estão ultrapassados e assim sua linguagem já foi dominada e
os recursos que estes representam já seriam totalmente conhecidos. Mas, é preciso
entender que
A informação e a forma de ver o mundo predominante no Brasil
provêm fundamentalmente da televisão. Ela alimenta e atualiza o
universo sensorial, afetivo e ético que crianças, jovens e grande
parte dos adultos - levam para sala de aula. Como a TV o faz de
forma mais despretensiosa e sedutora, é muito mais difícil para o
educador contrapor uma visão mais crítica, um universo mais mais
abstrato complexo e na contra mão da maioria como a escola se
propõe a fazer (MORAN, 2007).
A televisão apresenta-se como a mídia de maior influência direta sobre os
seus usuários e consequentemente isto reflete também na educação escolar, ou
seja, no processo formal de ensino e de aprendizagem. Por este motivo pais e
professores devem mostrar-se conscientes sobre isto para que possam desta
maneira “educar para a mídia, ensinando seus filhos e alunos a desenvolverem uma
visão cada vez mais crítica dos conteúdos veiculados na tela da TV” (SCHEMES,
2002).
14. 14
2.1 Histórico da televisão
Segundo Valim (1998) a idéia de trabalhar com imagem está relacionada à
história da civilização, uma vez que já nos tempos primitivos o homem deixava suas
impressões em forma de desenho para que desta maneira gerações posteriores
pudessem aprender e reverenciar.
O autor explica que a televisão trouxe consigo algumas características do
cinema, porém, a proximidade com o tempo presente, a oportunidade de estar
próximo ao telespectador, deram a este a possibilidade de se tornar o meio mais
poderoso de transmissão de informações, idéias e ideais.
A história da televisão deve-se também a grandes matemáticos e físicos,
que entregaram para as ciências humanas um grande e poderoso veículo
comunicativo. Valim (1998) ressalta que, desde o início do século XIX, havia o
interesse em conseguir transmitir imagens a distância e foi com o invento de
Alexander Bain, em 1842, que se obteve a transmissão telegráfica de uma imagem,
atualmente conhecido como fax.
em 1924 Baird transmitiu contornos de objetos a distância e no ano
seguinte fisionomias de pessoas. Já em 1926 Baird fez a primeira
demonstração no Royal Institution em Londres para a comunidade
científica e em seguida assinou contrato com a BBC para
transmissões experimentais. Neste primeiro momento, havia
definição de apenas 30 linhas e era mecânico. (GRUPO VIRTUOUS,
2010, p. 1).
De acordo com Meddi (2010), “Na década de 1950 surgiram os primeiros
aparelhos em cores no mundo. No Brasil, o sistema de transmissão colorida só
chegaria oficialmente em 1972.”
No Brasil, Amorim (2008, p.1) aponta
que a televisão foi inaugurada em 18 de setembro de 1950, na
capital São Paulo, através da TV Tupi canal 3. A televisão teve seus
primeiros anos marcados pela fase de aprendizagem, tanto técnica
quanto artisticamente. Os recursos eram primários, fazia-se uso de
equipamentos mínimos, suficientes para manter a estação no ar e a
maior parte dos profissionais trabalhava de acordo com os
conhecimentos que haviam adquirido no rádio, cinema ou teatro.
Mesmo nessas condições, a televisão foi se impondo e se
15. 15
expandindo. Em 1953, já existiam mais quatro emissoras, duas no
Rio de Janeiro (RJ) e duas outras em São Paulo (SP).
Neste período, ressalta Amorim (2008), a permanência no ar era curta (em
geral, das 18 às 22h) e a programação era bastante diferenciada. Transmitia-se
dramaturgia, musical, humorismo, jornalismo, programas infantis, esportes e
variedades.
De acordo com Lira (2009, p. 1) “os anos 60 trouxeram renovações que
alteraram profundamente o comportamento da televisão. As novidades tecnológicas
permitiram mais agilidade e alcance da informação”. Neste período, dois gêneros de
programas fizeram com que este meio de comunicação se tornasse um fenômeno
entre os telespectadores: o programa de auditório e as telenovelas.
Mas para Amorim (2008, p. 1), “as primeiras grandes conquistas técnicas da
televisão, no Brasil, foram às transmissões em rede via satélite (1970) e a
transmissão a cores (1972)”. A primeira conquista citada possibilitou encurtar a
distância entre o país e o restante do mundo, atingindo de maneira imediata um
número maior de pessoas, com informações transmitidas em tempo real e isto trouxe
credibilidade ao que era transmitido. Porém, este também foi um período marcado
pela ditadura militar e com isso houve forte repressão da informação e a televisão
sofreu uma rígida censura, uma vez que era mostrado ao público somente o que
interessava ao regime vigente.
Já nos anos 80, com o fim da censura militar, houve uma preocupação em
retomar a participação do público em programas jornalísticos, a fim de resgatar uma
consciência coletiva, promovendo a discussão de idéias e opiniões. O
esclarecimento tornou-se interesse em programas de debates, juvenis, de
entrevistas e em programas femininos (TV GAZETA, 2009).
A partir dos anos 90, Amorim (2008, p. 1) explica que “houve uma
continuação a novidades na televisão em nível de expansão, de técnica e de
conteúdo. Outras redes surgiram, o sistema de TV a cabo cresceu e diversas
emissoras independentes em VHF ou UHF foram inauguradas”.
Com isso o número de televisores em residências também foi expandindo.
Segundo dados do IBGE (2009), em 2001, 88,4% das residências da zona urbana e
16. 16
52% das residências da zona rural possuíam aparelhos de televisão. Em 2009, estes
dados subiram para 97,2% nas residências da zona urbana e 84,2% nas residências
da zona rural.
Esta crescente sobre os números de televisores nas residências deve-se
também ao fato de que a programação televisiva foi crescendo e, segundo Pillar
(1998), se formando com programas variados e com diferentes níveis de qualidade.
A distribuição dos programas em horários planejados, divulgados pela emissora
durante a sua programação, é conhecida como grade horária. Souza (2004) explica
que através dela é possível o telespectador memorizar os horários de programação
e assim programar-se para assistir o que deseja.
a televisão talvez esteja numa porcentagem acima dos 70% em
poder de penetração e seu poder de influência é tão amplo ao ponto
de formar uma geração de pessoas que não gostam e não sabem
pensar por si mesmos. Os meios de comunicação, e a TV em
particular, vieram transformar radicalmente as condições do processo
de socialização. Hoje a televisão é o primeiro e maior (no sentido de
amplitude e alcance) contato das pessoas, especialmente das
crianças, com o mundo externo (SCHEMES, 2002).
Signorielli (2009) ressalta que a televisão é a mídia central da cultura de
massa e desempenha um distinto papel no ambiente de aprendizagem vivido de
maneira constante pela nação. Para Signorelli (2009, p. 207) “no ambiente de
multimídia de hoje, as crianças entre oito e dezoito anos gastam, em média, seis
horas e meia por dia com diferentes mídias”, sendo que ao menos três destas horas
são destinadas em assistir televisão.
não restam dúvidas de que os aparelhos eletro-eletrônicos de
comunicação trazem o mundo para perto de nós, mas principalmente
a televisão (por causa de sua popularidade), funciona como uma
“janela” para o mundo, ampliando os universos culturais de crianças,
jovens e adultos. Mas a sua influência não se limita apenas ao
“universo cultural.” Especialmente a TV, por ser o principal meio de
comunicação de massa, tem contribuído muito para as mudanças
sociais verificadas principalmente nos hábitos, costumes e valores da
sociedade e, consequentemente da família, de maneira especial nas
crianças e adolescentes (SCHEMES, 2002).
Grande parte da popularidade da televisão está no fato de ela reunir uma
combinação que atrai de maneira convidativa as percepções auditivas e visuais
através das imagens, sons, cores e movimento. Consequentemente torna-se atrativa
e animada, explica Schemes (2002).
17. 17
Fischer (apud PILLAR, 1998, p. 29) afirma que a criança, em especial, gosta
de ver TV porque esta fala a sua linguagem e possui uma comunicação
“entrecortada, dinâmica, não linear, em mosaico” e assim como a própria criança, é
capaz de mudar rapidamente de assunto.
Nesta percepção é que se torna necessário envolver a educação neste
contexto informacional e conseguir desta maneira captar as mudanças ocorridas na
sociedade e assim “envolver o aluno nessa gama de descobertas, e mais ainda, que
ele aprenda a utilizar cada vez mais as tecnologias para o seu desenvolvimento
como cidadão” (BANHO, 2010).
18. 3. TV E EDUCAÇÃO
Scheibe (2009) afirma que crianças são atraídas de maneiras diferentes
pelas mídias. Uma questão de interesse neste estudo sobre crianças e mídias
refere-se à aprendizagem. O autor explica que existem quatro principais maneiras
que podem apresentar probabilidade de aprendizagem na criança:
A primeira é a Experiência Direta, isto é, “aprendizagem por meio do
condicionamento operante” (SCHEIBE, 2009, p. 87), no qual a criança executa o
comportamento e assim, se for recompensada, será provável que repetirá tal ação e,
se for punida, será menos provável tal repetição. Este comportamento não receberá
reforço direto da mídia, porém, Scheibe (2009, p. 88) explica que
[...] as respostas negativas ou positivas dos pais e / ou iguais a
alguma coisa que a criança faz depois de aprendê-la por meio da TV
pode muito bem influenciar a probabilidade de que a criança faça
novamente.
A segunda é a Aprendizagem pela Observação que “envolve o aprendizado
ao assistir alguém executar o comportamento e então imitá-lo” (SCHEIBE, 2009, p.
87). Na vida real esta imitação, segundo o autor, refere-se a um genitor ou irmãos
mais velhos e em relação às mídias, imitando direta e imediatamente o que veem.
A terceira é a Aprendizagem Simbólica onde “para crianças mais velhas a
maior parte do aprendizado se dá pela linguagem escrita ou falada; geralmente nos
é dito para fazer (ou não fazer) alguma coisa e por quê.” (SCHEIBE, 2009, p. 88).
Para o autor, aplica-se em relação ao uso da mídia para adquirir informação e a
interpretação que fazem das mensagens e a compreensão da mídia de maneira
geral.
E na quarta, a Aprendizagem Cognitiva,
[...] o aprendizado se baseia nas informações que as crianças já
possuem e na sua compreensão global das questões envolvidas. Na
aprendizagem cognitiva, existe uma série de questões que entram
19. 19
em jogo, incluindo a fase do desenvolvimento, a habilidade cognitiva
e as informações disponíveis. (SCHEIBE, 2009, p. 88).
Antes da televisão e do cinema, os modelos a serem copiados no que se
refere a comportamento eram os que incluíam a própria realidade do indivíduo. Mas,
com o surgimento e expansão da televisão e de outras mídias audiovisuais, Scheibe
(2009) ressalta que houve uma abertura maior nos modelos a serem conhecidos e
copiados, que inclui pessoas reais e personagens interpretados. “Uma vez que a
televisão passou a fazer parte da vida diária das crianças, o potencial para a
aprendizagem cognitivo-social por meio da observação e imitação dos
comportamentos dos outros cresceu exponencialmente” (SCHEIBE, 2009, p. 89).
No estudo da teoria cognitivo-social, é importante perceber a importante
relação entre o observador (criança) e o observado (personagem da mídia). Scheibe
(2009) explica que os meninos geralmente fazem a opção por seguir modelos
masculinos, já as meninas não relacionam esta opção com o sexo, podendo seguir
modelos femininos, mas também masculinos.
A teoria Cognitiva - Desenvolvimental de Piaget, explica, segundo Scheibe
(2009), que as crianças constroem sua compreensão de mundo através de
processos de assimilação e acomodação. Nesta concepção o desenvolvimento
infantil ocorre através de estágios.
Conforme a criança se desenvolve, sua compreensão do mundo não
apenas se amplia gradualmente como é qualitativamente diferente
nas diferentes idades. Piaget acreditava que este processo se
desenrolava naturalmente e que todas as crianças avançavam em
direção a estes estágios na mesma ordem e aproximadamente nas
mesmas idades (SCHEIBE, 2009, p. 91).
O autor explica ainda que Piaget descreveu os estágios da criança em
relação à compreensão de mundo físico, mas que sua teoria pode ser aplicada “à
compreensão das informações sociais fornecidas pela mídia e as diferenças
previsíveis de interpretação do conteúdo da mídia que as crianças fazem em
diferentes idades” (SCHEIBE, 2009, p. 91).
Assim, em especial as crianças menores de quatro e cinco anos, é preciso
considerar que elas “têm dificuldade para compreender integralmente a natureza da
televisão e o seu conteúdo.” (SCHEIBE, 2009, p. 92). A compreensão da diferença
20. 20
entre realidade e fantasia em crianças de dois ou três anos não é real. O autor
explica que esta “compreensão” é um fingimento e na realidade “elas ficam muito
mais confusas quanto a uma coisa ser real ou apenas ficção na televisão”
(SCHEIBE, 2009, p. 92).
As crianças que se encontram no estágio pré-operacional têm tendência a
acreditar que as demais pessoas sabem as mesmas coisas que elas e têm
dificuldade de compreensão sobre falsas crenças ou sonhos.
Não causa surpresa, então, que as crianças pequenas fiquem
confusas com as histórias da mídia que enfatizam as diferentes
compreensões que os personagens têm de alguma coisa que
aconteceu, ou que incluem personagens que parecem ser bons, mas
que realmente são maus e vice-versa (SCHEIBE, 2009, p. 92).
Em vista disso, o referido autor (2009, p. 93) evidencia que a criança
pequena tem facilidade em realizar uma interpretação errada das histórias contadas
pela mídia, “que estão centradas em julgamento sobre as intenções de um ator, ou
quando alguém quebra as regras para conseguir um resultado mais positivo e justo.”
Uma criança que permanece várias horas diante da TV absorve
como uma esponja tudo o que é apresentado, ante a redundância
verbal do veículo, não lhe sobra alternativa a não ser a emudecida
inércia. Durante o tempo todo postada diante do foco hipnótico, ela é
desestimulada a falar, dialogar ou desenvolver qualquer atividade
motora. Vygotski, neurologista e psicólogo russo, fez estudos na área
da linguística, e comprovou que a criança necessita de uma
inteligência prática de interação com o meio para desenvolver
plenamente a habilidade da fala. Isso se dá por meio da manipulação
de instrumentos, demonstrações e brincadeiras. Nas crianças
pequenas essas atividades práticas são de particular importância,
uma vez que são estimuladoras do seu desenvolvimento linguístico e
emocional. (MACHADO apud PILLAR, 1998, p. 74).
Observando a formação da linguagem da criança em relação a este
contexto, percebe-se que “a linguagem humana, sistema simbólico fundamental na
mediação entre sujeito e objeto de conhecimento, tem, para Vigotsky, duas funções
básicas: a de intercâmbio social e a de pensamento generalizante.” (OLIVEIRA,
1992, p. 27). Ou seja, segundo a autora, a linguagem além de auxiliar na
comunicação entre as pessoas tem o papel de simplificar e generalizar o mundo em
que se vive.
21. 21
O pensamento verbal é ressaltado por Oliveira (1992) como um processo
histórico-cultural internalizado pelo indivíduo ao longo do seu processo de
desenvolvimento. “É o grupo cultural onde o indivíduo se desenvolve que vai lhe
fornecer, pois, o universo de significados que ordena o real em categorias
(conceitos), nomeadas por palavras da língua desse grupo.” (OLIVEIRA, 1992, p.
28).
Através da interação imediata e espontânea, conforme estudos realizados
por Vigotsky (apud OLIVEIRA, 1992, P.32), com o mundo real, a linguagem vai
sendo internalizada e passa a adquirir a função de um instrumento de organização
do conhecimento, uma vez que ela vai se formando no cotidiano da criança. Já os
“conceitos científicos” da linguagem na concepção de Vigotsky são aqueles
adquiridos em situações formais e organizados do conhecimento, ou seja, os
processos de instrução escolar (OLIVEIRA, 1992).
Embora os conceitos científicos e espontâneos se desenvolvam em
direções opostas, os dois processos estão intimamente relacionados.
É preciso que o desenvolvimento de um conceito espontâneo tenha
alcançado certo nível para que a criança possa absorver um conceito
científico correlato (OLIVEIRA, 1992, p. 32).
Machado (apud PILLAR, 1998, p. 72) explica que a linguagem é uma
tecnologia e pode-se dizer que talvez seja a mais avançada de todas as praticadas
pelo homem. “A linguagem é uma tecnologia que possibilita exteriorizar em palavras,
gestos, sons, algo que só existe no pensamento.” Pillar (1998) explica ainda que as
linguagens verbais e visuais não se encontram separadas como se imagina, pois a
linguagem verbal está permeada de imagens.
apesar de toda a tecnologia informativa cheia de recursos cada vez
mais sofisticados, em muitas famílias de nosso século já não existe
mais tempo para o diálogo. O pouco tempo que restou, devido a
vários fatores, é dividido com a TV que além de interferir no conteúdo
das conversas, colocou um “esparadrapo” na boca de todos, criando
um monólogo televisual. Quanto maior for o grau de interesse pelo
que está sendo apresentado na TV, menos amistoso as pessoas se
sentem a respeito de uma interrupção. É preciso lembrar, todavia
que as mensagens televisuais atuam por impregnação, agindo sobre
o inconsciente e o imaginário, que distrai e cativa a pessoa,
paralisando, por assim dizer sua capacidade de ação e reflexão.
Talvez seja esta a razão por que há tantas famílias que no "horário
nobre" estão demasiado fascinadas com o que assistem que não têm
tempo para ouvir, falar ou atender aos pedidos (SCHEMES, 2002).
22. 22
Não há como negar que “são os pequenos atos de amor demonstrados a
cada dia, cheios de apoio e orientação, que fazem uma enorme diferença na vida da
criança” (SCHEMES, 2002). Todavia, a mídia é um dos maiores obstáculos e a mais
poderosa influência, que na maioria das vezes, vai diretamente contra a educação
das crianças.
Atualmente Turra (2008) lembra que a televisão tornou-se um objeto
indispensável para a maioria das famílias. Nestes lares, é possível perceber a
televisão em um lugar de destaque e assim ocupando um lugar de poder na família,
tornado-se uma companhia e até cuidadora das crianças em casa por segurar estas
por um longo período de tempo à sua frente.
Barry (1994) ressalta que as crianças devem ter muito bem estabelecidas as
horas que poderão ser dedicadas para assistir a televisão. Uma vez estabelecidos
esses limites deve-se sempre levar em consideração o tempo dedicado à família,
dentro do tempo da criança de assistir seus programas, ou seja, a família precisa
assistir junto a um programa. É importante ainda, segundo Barry (1994), que estes
momentos venham seguidos por uma discussão ou trocas de ideias sobre os temas
assistidos. Desse modo a televisão passa a ser uma experiência compartilhada por
toda a família.
[...] pode-se permitir que a criança escolha os programas que serão
assistidos, a cada semana, essa escolha pode ser uma ocasião em
que os pais participaram da tomada de decisões, não para imporem
vontades, mas para ajudar a criança a optar por determinados
valores (BARRY, 1994, p.400).
Napolitano (1999) chama a atenção para as frequentes críticas feitas nas
escolas por professores e alunos sobre a televisão e a entrega acrítica que estes
fazem em seus lares para a sua programação. Isto acontece, segundo o autor, pelo
fato de se viver um fenômeno contemporâneo denominado midiabilidade, que
implica no domínio da mídia sobre o campo social.
Todos, professores e alunos estão sujeitos à ação da mídia.
O fenômeno da midiabilidade implica a dificuldade em estabelecer
fronteiras definidas entre a experiência enraizada nas relações
sociais mais tradicionais e aquela vivida ‘através’ da mídia,
incorporando valores e comportamentos dos seus tipos e
personagens (NAPOLITANO, 1999, p. 12).
23. 23
Tendo em vista um trabalho escolar com o material da televisão, torna-se
necessário que o professor pense e reflita sobre o grau de midiabilidade dos
envolvidos na proposta, bem como “incorpore o material veiculado pela TV como
possibilidade de conhecimento” (NAPOLITANO, 1999, p. 13).
A escola, segundo Turra (2008), deve buscar formar alunos criativos e mais
humanizados e juntamente com a família formar cidadãos críticos frente aos meios
de comunicação de massa, como a televisão. Com esta postura, Turra (2008)
mostra que é possível contribuir na formação de cidadãos conscientes, capazes de
discernir o que é bom ou não para eles. O trabalho em conjunto entre família e
escola possibilita ao aluno/filho construir uma visão crítica e consciente garantindo a
oportunidade de realizar uma escolha coerente sobre o que é oferecido.
Mas, ao afirmar e garantir o papel fundamental que a escola tem neste
processo é necessário perceber que:
[...] há uma excessiva preocupação em formar o espectador crítico.
Acho que é uma meta desejável e necessária. Mas é preciso investir,
antes, em algo de base. A formação do próprio professor crítico. O
professor ainda está muito abandonado, mal informado, mal
preparado. É nele que se precisa investir. O professor precisa
aprender a ver televisão, a analisar a TV a partir daquilo que gosta
de ver, por que gosta o que mais o prende na TV, o que a TV ensina
o que ele pretende com a TV. Esse é para mim o ponto de partida
para a formação do espectador crítico (FISCHER apud PILLAR,
1998, p. 40).
Neste contexto, várias frentes de estudos surgiram. Marshall Macluhan
(apud NAPOLITANO, 1999, p.19) afirma que a TV “estimularia a articulação entre o
visual, o auditivo e o oral na comunicação humana. Esta nova era substituiria o
império do livro e da palavra escrita como privilegiado para a transmissão de
mensagens e conhecimentos.” Tal teoria não se concretizou!
Outra percepção acabou sendo hegemônica nos países de Terceiro Mundo.
“Para estes a televisão, a comunicação e a cultura de massa como um todo se
afirmaram como fatores de desestímulo do aprendizado da palavra escrita, do
pensamento abstrato e do aprendizado escolar” (NAPOLITANO, 1999, p. 19).
24. 24
Umberto Eco (apud NAPOLITANO, 1999, p. 19), por outro lado, “afirmou que
a televisão nada mais fez do que afastar leitores superficiais de leituras superficiais,
não devendo ser creditada a ela o fator determinante da crise da palavra escrita”.
Desta forma, ainda conforme Napolitano (1999, p. 20), se a TV faz parte de
um fenômeno contemporâneo e não se apresenta como culpada da crise da palavra
escrita, ela “se apresenta como um meio onde o domínio dos códigos escritos não é
fundamental para a recepção básica das mensagens veiculadas”, o que facilita o
contato dos seus conteúdos com qualquer tipo de telespectador.
Moran (2002) explica que a televisão retrata situações da vida e do presente
de maneira impactante e sedutora, diferentemente da escola que se utiliza de uma
linguagem distante e intelectualizada e assim mais cansativa. A visão de que a TV
entretém enquanto a escola educa já não convence mais. Para o autor, é por não
demonstrar o caráter educativo que a TV o faz de maneira rápida, competente e em
longo prazo.
A escola, segundo Moran (2002), precisa observar o que está acontecendo
nos meios de comunicação e mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os alunos,
ajudando-os a perceberem os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre
cada assunto. Fazer re-leituras de alguns programas em cada área do
conhecimento, partindo da visão que os alunos têm, e ajudá-los a avançar de forma
suave, sem imposições nem maniqueísmos.
3.1 Programação para crianças em canal aberto no domingo
Souza (2004) evidencia que mesmo com os avanços tecnológicos, as redes
de televisão aberta não permitem que o telespectador escolha a programação para
assistir nos horários que desejar. Para ele “atualmente o horário é pré-definido pelas
emissoras que divulgam a programação nos jornais e também nos intervalos dos
programas” (SOUZA, 2004, p. 57).
A distribuição dos programas, na grade de horário, “é resultado das
pesquisas de audiência e da estratégia de cada rede” (SOUZA, 2004 p. 57), e os
objetivos de cada uma delas varia de acordo com o tipo de telespectador que deseja
atingir, assim, com a sua cultura, costumes e expectativas.
25. 25
No caso das preferências apresentadas pelas crianças pelos programas de
TV, estas vão variar de acordo com a sua idade, os interesses no momento e o que
é oferecido em termo de programação, explica Pillar (1998). Na programação
apresentada aos domingos, a preferência é por aquelas que mostram um show de
variedades, composto por diferentes quadros em especial os humorísticos. Para a
autora “a criança pode prestar atenção aos programas, mas ela assimila a
informação de uma forma diferente, de acordo com a sua idade, com seus medos,
com seus interesses” (PILLAR, 1998, p. 70).
Um gênero em especial, de preferência das crianças ao domingos assistido
na televisão é o humorístico, caracterizado pelo humor, definido no Dicionário
Aurélio (2004) principalmente por mostrar-se como uma forma de entretenimento e
de comunicação humana para fazer com que as pessoas riam e se sintam felizes.
Morgan afirma que:
[...] as crianças e jovens são um foco especialmente importante [...]
porque estão em estágios de desenvolvimento e formação passando
por transformações dramáticas na sua compreensão da sociedade e
de si mesmos, são altamente suscetíveis a influências externas e
têm probabilidade de ter menos experiências no mundo real para
embasar as suas interpretações do que assistem na televisão
(MORGAN, 2009, p. 191).
É necessário, de acordo com Knowles (2009), perceber a mídia como fonte
principal de informação dos adultos sobre os adolescentes e crianças, reconhecendo
as obrigações com este público.
Segundo a pesquisa realizada pelo ANDI (2006, p.85),
[...] tal situação põe o debate em torno da regulação e da
Classificação Indicativa em uma posição de destaque, na medida em
que este é o instrumento que deveria fornecer elementos para que os
pais e a sociedade em geral se posicionem frente à exposição das
crianças e dos adolescentes à produção midiática.
Ainda de acordo com as pesquisas de ANDI (2006), percebe-se que ao
mostrar de maneira clara os conteúdos, potenciais e riscos associados à
26. 26
programação, são oferecidos o direito de escolha da sociedade em relação às
programações mais adequadas para o público mais jovem, em especial.
Tal norma foi regulamentada pelos artigos 74, 75 e 76 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) com o objetivo de evitar a
exibição de programas não recomendáveis ao público infanto-juvenil
em horários acessíveis a estes. Esta mesma lei, em seu artigo 254,
proíbe a transmissão, por intermédio de rádio ou televisão, de
espetáculos em horários diversos do autorizado ou sem aviso de sua
classificação (ANDI, 2006, p. 24).
Através do entendimento sobre a importância da Classificação dos
programas, é possível, de acordo com a pesquisa ANDI (2006), ampliar o poder de
escolha das famílias sobre o conteúdo e/ou a faixa etária atribuída pelo Estado e
assim permite que os pais decidam se os filhos poderão ou não assistir. Assim como
considerar as próprias crianças e adolescentes como público-alvo e desta maneira
estimulá-los a entrar em contato com uma programação apropriada a suas faixas
etárias.
A pesquisa ANDI (2006) relata a explicação sobre o significado das
classificações etárias obrigatórias na abertura das programações:
Tendência de Indicação 18 anos:
Tendem a ser considerados como “inadequados para menores de 18
anos” filmes, programas, jogos e diversões públicas que contenham:
Sexo explícito, Pornografia, Violência excessiva (assassinato, tortura,
estupro, suicídio, mutilação, exposição detalhada de cadáveres),
Apologia à violência, Consumo explícito e repetido de drogas ilícitas
Apologia ao consumo de drogas
Em se tratando de programa destinado à televisão, esta tendência
representa também classificação da obra não recomendada para
antes de 23h e no caso de conteúdo pornográfico, para antes das 24
horas (ANDI, 2006, p. 30).
Tendência de Indicação de 16 anos:
Tendem a ser consideradas como “inadequadas para menores de 16
anos” obras que contenham: Relação sexual, Nudez e carícias
íntimas, Violência detalhada (assassinato, agressão física, tortura,
estupro, mutilação, abuso sexual)
Consumo explícito de drogas ilícitas, Indução ao uso de drogas.
27. 27
Em se tratando de programa destinado à televisão, esta tendência
representa também classificação da obra não recomendada para
antes de 22 horas (ANDI, 2006, p. 31).
Tendência de Indicação de 14 anos:
Tendem a ser consideradas como “inadequadas para menores de 14
anos” obras que contenham: Nudez, Relação íntima (inclui
masturbação), Linguagem (gestos e palavras) obscena e degradante
repetida e em excesso, Violência (agressão física e verbal,
assassinato, tortura, suicídio), Consumo de drogas ilícitas, Consumo
explícito e repetido de drogas lícitas.
Em se tratando de programa destinado à televisão, esta tendência
representa também classificação da obra não recomendada para
antes de 21 horas (ANDI, 2006, p.31).
Tendência de Indicação de 12 anos:
Tendem a ser consideradas como “inadequadas para menores de 12
anos” obras que contenham: Nudez velada, Insinuação de sexo,
Linguagem e gesto obsceno, Erotismo, Exposição de pessoas em
situação constrangedora ou degradante, Narração detalhada de
crime e atos agressivos, Agressão física ou verba (exemplo:
assassinato velado e maus-tratos de animais), Exposição de cadáver
Insinuação de consumo de drogas lícitas e ilícitas. Em se tratando de
programa destinado à televisão, esta tendência representa também
classificação da obra não recomendada para antes de 20 horas
(ANDI, 2006, p. 31).
Tendência de Indicação de 10 anos: “Tendem a ser consideradas como
‘inadequadas para menores de 10 anos’ obras que contenham: linguagem
depreciativa e obscena ameaça agressões físicas ou verbais, insinuação de
consumo de drogas” (ANDI, 2006, p. 32).
Livre: “A análise não aponta inadequações. Exibição livre” (ANDI, 2006, p.
32).
Segundo Gomes (2008), a repetição do que é assistido na vida real por
crianças e adolescentes é maior, assim o reforço a atitudes, valores e preferências
também. A televisão brasileira, para Gomes (2008), vale-se da criatividade para
desenvolver programas que se mostrem atrativos para o público e para o mercado
publicitário.
28. 4 TRABALHANDO AS GÍRIAS COM ALUNOS DO 2º ANO DOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
A proposta de trabalho sobre “As Gírias que a TV Ensina” foi realizada com
22 alunos com idade entre sete a nove anos do 2º Ano dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, no período de 18 a 29 de outubro, totalizando dez períodos de
dedicação. A escola onde foi desenvolvida a proposta é da rede pública, localizada
no centro de Caxias do Sul e atende a alunos de classe média. Neste contexto,
buscou-se verificar a freqüência com que os alunos assistem a programas de
televisão que têm em seu conteúdo o uso constante de gírias, pois há personagens
de programas humorísticos de canal aberto que fazem uso destas nos quadros que
apresentam encontrando-se assim acessíveis de serem assistidas por todos, o uso
destas mostra-se repetitivo em algumas situações vividas na rotina da turma.
Nesta turma foi realizado um estudo de caso, o qual pode ser definido como
“[...] uma estratégia de investigação que examina um fenômeno em seu estado
natural, empregando múltiplos métodos de recolha e tratamento de dados sobre
uma ou algumas entidades (pessoas, grupos ou organizações)” (MENDES apud
CASTILLO, 2002).
O procedimento que possibilitou a organização da experiência foi:
1º Passo: Autorização da escola para realização da pesquisa com a turma
do 2º Ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
2º Passo: Solicitação escrita enviada aos pais para receber a autorização de
participação de seus filhos em uma pesquisa sobre as gírias aprendidas na
televisão.
3º Passo: Observação do comportamento e linguagem utilizada pelos
alunos.
29. 29
4º Passo: Aplicação dos instrumentos de coleta de dados.
5º Passo: Análise qualitativa buscando uma interpretação e compreensão
sobre o tema em questão.
Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram:
• Observação da realidade da turma.
• Questionário para os alunos (Apêndice A).
• Questionário para os pais (Apêndice B).
• Conversa informal com os alunos sobre os seus programas preferidos
na televisão.
• Questionamento sobre o que os alunos assistem neste programa e
costumam utilizar no seu dia a dia.
• Assistir com os alunos pequenos trechos do programa mais assistido
na turma e realizar ao longo da atividade uma conversa sobre os
significados das gírias vistas.
• Escrita de um pequeno texto fazendo uso por escrito das gírias e
realização, posterior, da leitura oral para identificação das gírias
utilizadas. Verificar no decorrer desta atividade a aceitação deste tipo
de linguagem em produções escritas.
• Construir um “dicionário das gírias” com exemplos e significados que
os alunos entendem que elas têm, a fim de perceber o sentido com
que as gírias são aplicadas nas conversas informais.
• Reescrever o texto utilizando sinônimos para as gírias. Comparar os
dois textos e analisar a diferença entre eles.
• Analisar os significados dados às gírias que fazem parte do cotidiano e
fazer combinações sobre situações que elas não devem ser utilizadas
para manter a boa convivência.
O período de observação possibilitou perceber que a turma que realizou a
proposta de trabalho sobre as “Gírias que a TV Ensina” é formada por 13 meninos
de sete a nove anos, sendo dois repetentes, nove meninas de sete a oito anos e
uma Professora formada em Pedagogia que leciona na escola há oito anos. Todos
os alunos estão alfabetizados, lendo com clareza e estruturando a escrita de textos.
30. 30
Os alunos participantes encontram-se na fase da Aprendizagem por Observação,
com a linguagem já estruturada, capaz de comunicar, simplificar e generalizar o
mundo em que vivem (SCHEIBE, 2009; OLIVEIRA, 1992).
A coleta de dados iniciou com a entrega aos alunos de um questionário para
que fosse possível verificar a que mídias eles têm maior acesso quando estão em
casa, podendo assim detectar as ofertas e disponibilidade de diferentes tipos de
mídias existentes em suas casas. O resultado obtido encontra-se no Gráfico 1:
Gráfico1: As mídias mais utilizadas pelos alunos
Também é interessante notar que apesar das pesquisas apontarem um
crescimento do consumo da mídia digital, conforme a pesquisa Digital Life citada no
capítulo 2, estas são sempre um retrato de uma realidade em um determinado
contexto que não pode ser generalizada.
Ao verificar a “popularidade” da televisão entre os alunos, foi possível
comprovar na mesma entrevista através da pergunta: “Que tipo de programa você
costuma assistir aos domingos?” que aos domingos 80% dos alunos desta turma
buscam assistir a programas que mostram como foco principal o gênero humorístico
e deste modo, o programa mais lembrado entre eles foi o “Pânico na TV”. Este
programa está no ar desde 28 de setembro de 2003 e faz parte da programação de
domingo da Rede TV.
31. 31
Inicialmente, o programa tinha duração de uma hora e era exibido às
18h00. Porém, devido à popularidade e ao número de anunciantes e
patrocinadores que foi ganhando, o programa passou a ter duração
de duas horas. Um problema com o Ministério Público fez com que o
horário de exibição também fosse alterado. Atualmente, o programa
vai ao ar das 20h30 às 22h30 todos os domingos, além de passar a
contar, recentemente, com uma reprise editada para uma hora de
duração que vai ao ar todas as sextas-feiras por volta das 23h30
(GOMES, 2008, p. 2).
Neste tipo de programa, Gomes (2008) explica que a característica principal
é o envolvimento com a própria mídia, sejam com imitações, paródias, assumindo
um papel de interventor e criador sobre o que foi assistido ou comentado em outro
momento.
Pânico na TV é derivação óbvia do nome do programa de rádio. Esta
associação tenta transpor para a versão televisiva o reconhecimento
e a audiência que o Pânico já havia adquirido. O nome do programa
de rádio, por sua vez, parece também uma derivação (mas desta vez
com ares de trocadilho) um pouco óbvia do nome da emissora em
que vai ao ar, a Jovem Pan. Porém, um exercício reflexivo mais
atencioso, pode nos levar para além destas relações óbvias.
Podemos de início, perceber que o trocadilho com o nome da
emissora já pode assinalar a proposta de fazerem referência a
elementos do universo midiático com fins de brincar, inverter, re
significar. A obviedade das derivações entre os nomes também pode
nos indicar algo da opção estética ou estilo do grupo: a sugestão de
pouco elaborado, de tosco, de ‘qualquer um poderia fazer’ (GOMES,
2008, p. 3).
De maneira geral, 70% da turma costuma assistir televisão no período da
noite neste dia da semana, conforme informação dada pelos alunos no questionário
aplicado, respondendo a pergunta “Em que horário, aos domingos, você mais
assiste televisão?”. Nestes momentos, 84% dos alunos responderam que, na sua
maioria, assistem televisão sozinhos ou na companhia dos irmãos, quando
questionados com a pergunta “Você costuma assistir televisão, aos domingos, na
companhia de quem?”.
Com o resultado do questionário aplicado aos alunos em mãos, realizou-se
uma roda de conversa com eles sobre os programas de suas preferências. Este foi
um momento marcado por euforia, pois todos mostraram desejo em falar e comentar
sobre o que assistem normalmente. Em um primeiro momento, eram muitos os
programas verbalizados: desenhos, novelas, seriados... até que o aluno “A”
32. 32
comentou sobre o que havia assistido no dia anterior (um domingo) no programa
“Pânico na TV”.
Ele disse: “Ontem o Vesgo e o Prateado estavam na praia procurando o
Antônio Nunes”. Esta frase foi suficiente para que os gestos que identificam este
personagem fossem reproduzidos de maneira quase unânime na turma.
A partir de então o foco da conversa passou a ser os quadros deste
programa, pois todos queriam contribuir para que a conversa se estendesse.
A maneira sedutora com que a televisão atrai seus telespectadores e a
linguagem espontânea que utiliza é que a torna atraente, merece atenção da escola
a fim de discutir seu conteúdo e ajudar o aluno a perceber o que de positivo e de
negativo há no que é transmitido, uma vez que é papel da escola auxiliar na
construção de cidadãos críticos e conscientes, além de perceber a linguagem como
uma tecnologia e talvez a mais avançada existente (MORAN, 2002; TURRA, 2008;
MACHADO, 1998).
Algumas verbalizações sobre o programa foram:
Aluno “F”: “É engraçado quando aparece o cavalo dando o coice!”
Aluno “G”: “O Bola costuma dizer: Ah vá é memo?”
Aluno “H”: “O Charles ataca os famosos para dançar e falar a muleke!”
Ao longo da conversa os alunos foram questionados sobre a posição de
seus pais frente a este tipo de programa assistido por eles. Houve respostas como:
Aluno “B”: “Meu pai diz que eu tenho que ir dormir às nove horas. Ele sabe
que eu ligo a TV no meu quarto e fico assistindo, mas se eu ficar lá ele não dá bola”.
Aluno “C”: “Meu pai fica trocando de canal e às vezes deixa lá. Minha mãe
diz que é tudo uma bobagem”.
Aluno “D”: “Meu irmão depois da janta me chama e a gente vai pro nosso
quarto assistir o Pânico e na hora de dormir minha mãe vem desligar a TV, dar boa
noite e não fala nada do programa”.
33. 33
Ao perceber o fascínio dos alunos por este tipo de programa é necessário
vivenciar na prática um trabalho coletivo entre família e escola que auxilie na
construção de uma postura crítica deste público infantil frente à televisão e com isto
criar a chance de escolhas coerentes sobre o que é oferecido (TURRA, 2008), uma
vez que se percebe neste contexto que a televisão torna-se uma companhia para as
crianças por um longo período de tempo e por assim dizer uma cuidadora que
exerce uma forte influência na educação destes e é causadora direta da falta de
diálogo entre as famílias (SCHEMES, 2002; TURRA, 2008).
Neste dia da conversa foi enviado para casa um questionário sobre este
assunto a fim de verificar a opinião dos pais sobre a mídia mais utilizada por seus
filhos em casa. É pertinente ressaltar que houve colaboração de 100% dos pais dos
alunos da turma, uma vez que todos responderam e enviaram o questionário de
volta para a escola. O resultado alcançado está presente no Gráfico 2:
Gráfico 2: As mídias que os pais percebem que seus filhos mais utilizam em casa
Os pais nesta pesquisa demonstraram, na sua maioria, com 85%, concordar
com seus filhos sobre o gênero que mais os agrada: humorístico, ao responderem a
pergunta “Que tipo de programação seu filho costuma assistir aos domingos?”.
Porém, 70% dos pais relataram que o programa favorito assistido em casa, aos
domingos, é, na maioria das vezes, “As Aventuras do Didi”, ao responder a mesma
pergunta citada anteriormente. Afirmaram de maneira unânime (100% dos pais) que
costumam verificar a programação escolhida e assistida pelos filhos e que estes
costumam sim assistir a programas sozinhos, quando responderam as seguintes
34. 34
perguntas ”Você costuma verificar a censura dos programas assistidos pelo seu
filho? e Seu filho costuma ver TV sozinho?”.
Seguir a orientação sobre a indicação da programação assistida por estas
crianças de sete a nove anos é mostrar perceber a influência desta mídia sobre o
público (ANDI, 2006), mas, ao analisar a programação relatada pelas crianças e por
seus pais, percebe-se que não há um consenso sobre o que é assistido. Os pais, ao
afirmarem que seus filhos assistem a programas como “As Aventuras do Didi”
confirmam, de certa maneira, que a classificação indicativa escolhida é a livre, que
não aponta inadequações, mas, ao ouvir os alunos caracterizarem o programa
“Pânico na TV” como o eleito deste dia da semana, nota-se que assistir a programas
de classificação indicativa de 14 anos é comum nestes lares.
A conversa posterior sobre a programação assistida pelos filhos mostrou-se
na resposta de 88% dos pais como inexistente e não houve explicações no espaço
que seguia quando feito aos pais a pergunta “Você costuma conversar com seu filho
sobre o que ele assiste na televisão? Se não, por quê?”.
A ação de assistir televisão deve ser estabelecida e bem entendida pela
criança assim como o acompanhamento dos pais frente ao que é escolhido para
assistir, ou seja, é importante e necessário que os pais que participaram desta
pesquisa revejam suas posturas sobre fazer companhia para seus filhos enquanto
estes assistem aos programas para assim poderem conversar e discutir sobre os
temas assistidos. Momentos como estes além de contribuir para a integração da
família auxiliam na construção de valores destas crianças, como afirma Barry (1994).
Na segunda-feira que sucedeu a proposta de trabalho, houve uma retomada
sobre a programação preferida. A professora (autora deste trabalho) começou a
conversa utilizando gírias que escuta no cotidiano da turma, como: “Que bom..., Aí,
meu filho!, É disso que o Brasil gosta!, Eu não intindi o que ele falo!” Os alunos
começaram a rir da postura e da verbalização feita pela professora. Ao serem
questionados sobre o que viram e ouviram, demonstraram entender a mensagem
dita. A professora explicou que este tipo de palavras e gestos ela percebe entre eles
nas conversas e eles afirmaram a existência destas gírias no seu cotidiano.
35. 35
Percebe-se que os alunos analisados utilizam a televisão para perceber e
seguir o que se mostra como “legal” e assim estar de acordo com a cultura do
consumismo proposta pelas mídias, além de seguir modelos que incluem pessoas
reais e personagens interpretados. É o conjunto de imagens, sons, cores e
movimento que torna a TV atrativa e influente entre os telespectadores, contribuindo
para as principais mudanças nos hábitos, costumes e valores da sociedade de modo
geral, mas em especial entre as crianças (FISHERKELLER 2009; SCHEIBE, 2009;
SCHEMES, 2002).
Em seguida, os alunos foram convidados a assistir pequenos trechos do
programa “Pânico na TV”. Ao perceberem o que iria ser assistido os alunos foram
tomados por uma euforia, carregada de comentários e risadas. Esta atividade foi
encerrada com uma conversa, onde a professora procurou questionar os alunos
sobre os atrativos do programa. Neste momento houve destaque, por parte dos
alunos, dos personagens que ali apareceram: Vesgo, Sílvio, Prateado, Dumbo,
César Polvilho, Charles... seguidos do comentário que eles eram engraçados e de
algumas gírias que os caracterizam. É pertinente comentar que o apelo sexual feito
no programa e as poucas roupas utilizadas pelas mulheres não foram comentadas
pelos alunos, parece que este tipo de abordagem não é o que se encontra como
foco da atenção deles. Tal característica sobre o conteúdo percebido pelos alunos
do programa deve-se ao fato de que, conforme Pillar (1998), a atenção e
assimilação do conteúdo assistido mudam de acordo com a idade, medos e
interesses das crianças.
Após esta etapa, os alunos realizaram uma produção escrita utilizando estas
gírias que fazem parte de conversas informais entre eles. O objetivo desta atividade
era verificar a aceitação deste tipo de linguagem em produções escritas. Torna-se
necessário explicar antes das produções, que os alunos estão aprendendo a
estruturar seus textos, que têm em média entre três e quatro pequenos parágrafos.
Houve certa dificuldade em colocar no papel as gírias que são verbalizadas com
tanta naturalidade. O aluno “E” comentou que “parece que essas palavras não
combinam com os textinhos. A seguir, os textos1 dos alunos “E” e “F”:
As gírias que foram utilizadas encontram-se assinaladas com um traço abaixo delas.
1
36. 36
Texto do aluno “E”:
O Menino
Numa manhã o menino escutou o relógio despertar assim: Ah
muleke!
Ele pulou da cama, se trocou, pegou a mochila, se olhou no espelho
e disse:
- Que bom...
Na sala encontrou o colega Lucas e disse:
- Beleza! Tá sabendo, legal!
Então os dois foram para a sala onde a profe estava esperando.
Texto do aluno “F”:
Os Amigos
Gabriel um dia chegou atrás do Pedro e disse: Ronaldo!!!
Pedro viu que era o amigo e saiu correndo atrás dele gritando: Ah
muleke!
Então os dois chegaram na sorveteria e compraram um sorvete.
Gabriel disse:
- O sorvete de chocolate está uma delícia!
E Lucas respondeu:
- Ah vá! É memo?!
E os dois comeram o sorvete.
Após a produção dos textos os alunos foram convidados a fazer a leitura oral
para os colegas, para assim ser feita uma análise coletiva sobre os significados e a
estrutura do texto com o uso das gírias. Houve risadas durante as leituras quando as
gírias eram verbalizadas, porém, os alunos concordaram com a idéia do Aluno “E”
de que não é boa a idéia de fazer produções escritas utilizando as gírias. A
linguagem espontânea mostrou-se não combinar com a linguagem científica, formal
e organizada da escola (OLIVEIRA, 1992).
37. 37
Com a última leitura realizada, foi solicitado aos alunos que verbalizassem
as gírias que conhecem e usam quando estão conversando ou brincando com um
amigo para que fosse feita a cópia delas no quadro e em seguida fosse dada uma
explicação simples sobre cada uma delas.
Foi construído assim, um Dicionário das Gírias, com o objetivo de perceber o
sentido com que as gírias são aplicadas nas conversas informais entre os alunos. A
ideia inicial era fazer o seu registro nos computadores da escola para que pudesse
ser um trabalho de troca entre alunos de diferentes escolas e assim ampliado o
trabalho. Porém, a fonte da sala de computador encontra-se queimada e assim,
tivemos que fazer este registro em um álbum de papel. Cuidamos, neste processo,
para deixar espaços para que o álbum possa receber novas informações ao longo
do tempo. Cada aluno produziu uma cópia deste dicionário e a professora fez um em
tamanho maior para ficar na sala de aula da turma.
O Quadro 1 mostra os termos presentes no dicionário.
Quadro 1: Dicionário das Gírias do 2° B
Gíria Significado para a turma
Ah vá! É memo?! É verdade?
Ah muleke! Que legal!
Aí, meu filho! Olha bem!
Antônio Nunes! Brincadeira de força.
Beleza! Tá sabendo, lega! Tudo bem!
É disso que o Brasil gosta! Está certo!
Eu não intindi o que ele falo! Ficou confuso!
Falha no engano! Está errado!
Hum Boiola! Brincadeira de “bixa”
Jesus! Cuidado!
Peitinho! Brincadeira com amigo.
Que bom... Legal!
Ronaldo! Hei você!
Tá ouvindo? ... Lady Gaga! Brincadeira de dança
Torna-se necessário chamar atenção para a inocência dos alunos, ao
identificar o significado que eles atribuem para as gírias que utilizam. Fica evidente
38. 38
neste caso a reprodução que estes fazem sobre o que aprendem na mídia. As
poucas experiências vividas e por encontrarem-se em estágios de desenvolvimento
em formação são aspectos que tornam as crianças telespectadoras que reproduzem
o que assistem e se mostra atrativo e criativo. É necessário perceber que as mídias
atraem crianças, jovens e adultos pela ampla diversão que podem proporcionar e
pela facilidade de entendimento sobre os seus conteúdos, atingindo qualquer tipo de
telespectador e oportunizando interpretações que diferem de acordo com a idade e
experiências vividas. (MORGAN, 2009; GOMES, 2008; SCHEMES, 2002;
NAPOLITANO, 1999).
Após a construção do dicionário os alunos foram convidados a reescrever o
texto feito nas primeiras etapas da coleta de dados, trocando as gírias pelos
significados atribuídos a elas ou similares. O resultado alcançado é mostrado nos
textos dos alunos “E” e “F”.
O Menino
Numa manhã o menino escutou o relógio despertar assim: Que legal!
Hora de acordar!
Ele pulou da cama, se trocou, pegou a mochila, se olhou no espelho
e disse:
- Legal...
Na escola encontrou o colega Lucas e disse:
- Tudo bem?
Então os dois foram para a sala onde a profe estava esperando.
Texto do aluno “F”
Os Amigos
Gabriel um dia chegou atrás do Pedro e disse: Hei você!
Pedro viu que era o amigo e saiu correndo atrás dele gritando: Que
legal! É você!
Então os dois chegaram na sorveteria e compraram um sorvete.
Gabriel disse:
- O sorvete de chocolate está uma delícia!
E Lucas respondeu:
39. 39
- É verdade?
E os dois comeram o sorvete.
Alguns alunos realizaram a leitura oral dos textos reescritos e todos
concordaram que a escrita melhorou sem o uso das gírias.
Esta afirmação feita pelos alunos da turma abriu espaço para uma conversa
sobre quando e onde as gírias podem ser verbalizadas e gesticuladas sem
apresentar problemas nem conflitos com as pessoas que estão por perto. Houve
alunos que explicaram que em casa os pais não gostam que certas gírias sejam
utilizadas, estes são filhos únicos ou irmãos mais velhos na família. Percebe-se que
a utilização deste tipo de linguagem é mais frequente, nas crianças da turma, entre
os alunos que possuem irmãos mais velhos ou ficam em casa um período de tempo
sozinhos. Este segundo grupo forma a maioria da turma.
Chegou-se à conclusão de que as brincadeiras sugeridas pelas gírias,
aquelas acompanhadas das expressões: “Antônio Nunes, Peitinho, Hum Boiola”,
têm a intenção de machucar ou ofender quem escuta e devem ser substituídas por
outra brincadeira independente do local onde se encontram os alunos.
Através desta conversa, foi possível verificar que as crianças da turma
assistem e absorvem o que é transmitido mesmo sem entender totalmente o
significado do que é apresentado.
Por fim, observou-se nos dias que sucederam a proposta de trabalho que as
gírias continuaram a fazer parte da comunicação entre as crianças, mas veio
acompanhada em algumas situações da lembrança sobre o que elas significam,
mostrando assim que de certa forma os alunos aceitaram ampliar seu vocabulário.
Mesmo percebendo que tais gírias podem ser substituídas em conversas e
brincadeiras, mas optando pelo seu uso, os alunos demonstram fazer uma entrega
acrítica ao que aprendem e lhes é apresentado na televisão. Por este motivo é que o
papel da escola continua sendo o de buscar formar alunos críticos e assim capazes
de perceber o que é bom ou ruim. Isto será percebido ao longo do tempo, o
amadurecimento e as escolhas cada vez mais conscientes sobre o que é oferecido
podem tornar-se um hábito a uma nova postura (NAPOLITANO, 1999; TURRA,
2008). Neste contexto apresenta-se também a necessidade da participação dos pais
40. 40
sobre as escolhas do que assistir ou em conversas posteriores sobre o que foi
selecionado para ser assistido (MACHADO apud PILLAR, 1998; BARRY 1994).
Afinal, não há como negar a influência da televisão e o papel de destaque que ela
demonstra ter no ambiente de aprendizagem, seja na escola ou fora dela
(SIGNORIELLI, 2009).
41. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A percepção de que a mídia faz parte da vida da criança desde antes do seu
ingresso na escola e que através da televisão, em especial, ela entra em contato
com o mundo e assim aprende e interage, trazendo para a sua realidade esta
bagagem, foram aspectos pesquisados e analisados ao longo do trabalho. Assim
como a importância da presença atuante dos pais e da escola sobre esta
aprendizagem sedutora vivida pela criança frente à televisão. (MORAN, 2007;
SIGNORIELLI, 2009; SCHEMES, 2002; TURRA, 2008; NAPOLITANO, 1999;
PILLAR, 1998).
A turma do 2º Ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental que realizou a
experiência analisada sobre “As Gírias que a TV Ensina” é formada, como já
mencionado, por alunos com idade entre sete a nove anos, de classe média e que
possuem acesso livre a diferentes tipos de mídia, mas que demonstraram, de acordo
com o questionário, utilizar mais a televisão. Através desta constatação, não se
mostra como novidade a realização de imitações feita por eles, de modo especial na
linguagem.
A proposta de trabalho sobre “As Gírias que a TV Ensina” desenvolveu
atividades que envolviam uma temática conhecida e que faziam parte daquelas que
se mostraram como preferência na turma. As gírias utilizadas na linguagem pelos
alunos foram aprendidas no programa humorístico “Pânico na TV”, uma vez que
estes relataram serem telespectadores frequentes deste programa.
Ao tornar tais gírias assunto a ser desenvolvido em sala de aula, alguns
“tabus” tiveram que ser rompidos, pois como professora é preciso confessar que é
natural e espontâneo criticar este tipo de programação escolhida, uma vez que o
conteúdo e a classificação indicativa não correspondem a faixa etária dos alunos.
Porém, ao perceber a escola como ambiente de aprendizagem, formadora de
cidadãos críticos e participantes na sociedade em que vivem entende-se que a
função desta é trazer para dentro da instituição temas vividos fora dela e assim
42. 42
auxiliar na construção de conceitos que favoreçam escolhas coerentes sobre o que
assistir.
De modo especial, se for feita uma reflexão sobre a idade destas crianças,
uma vez que se encontram em formação e por isso receptoras e repetidoras do que
as atrai mesmo que o entendimento da mensagem não seja completo. Nestes tipos
de programa é o conjunto humorístico que chama a atenção e sugere uma
reprodução no cotidiano da vida.
Este tipo de reflexão sobre o que a criança de sete a nove anos escolhe
para assistir em casa deve ser feita também pelos pais, uma vez que devem
acompanhar e conversar sobre as escolhas feitas e assistidas. A utilização desta
mídia como cuidadora é comum uma vez que a criança hipnotiza-se frente ao que
lhe chama atenção, deixando os pais tranquilos por saberem onde seus filhos estão
e por assim dizer, seguros. Tal atitude acaba facilitando a liberdade de escolha de
programação das crianças em casa e a negligência dos pais para elas.
A criança precisa de zelo por parte dos adultos que a cercam para garantir
que receba os cuidados necessários que a sua formação necessita. Por este motivo
é que se mostra importante criar uma parceria entre a família e a escola.
A hipótese de que é possível trabalhar com as gírias no sentido de minimizar
seus efeitos na linguagem foi comprovada parcialmente. Alcançou-se a percepção
entre os alunos de que há uma divisão distinta entre a linguagem oral e escrita, ou
seja, nem tudo que se mostra bom para ser verbalizado tem o mesmo efeito quando
é escrito. Foi possível perceber que ao escrever eles procuravam um sentido
coerente para a formulação das frases que formaram seus textos. Com isto
percebeu-se amadurecimento no que se refere à linguagem escrita dos alunos, uma
vez que procuraram não seguir certas “modas” para construir seus escritos. É
preciso destacar também que houve uma diminuição de verbalização das gírias que
se mostraram ofensivas a atitudes, assim como um resgate ao que elas significavam
quando foram verbalizadas, seguidas de uma repreensão feita pelas próprias
crianças. Porém, nas conversas informais, a utilização das gírias por parte destes
alunos mostrou-se natural, elas parecem caracterizar uma conversa ou brincadeira
atrativa entre eles, este aspecto mostrou-se como um resultado esperado não
alcançado.
43. 43
Mesmo não fazendo uma substituição destas gírias na linguagem oral, foi
possível perceber que a temática trabalhada gerou discussão e reflexão, além de
perceber o entusiasmo dos alunos em trazer para o estudo na sala de aula um tema
que normalmente faz parte somente de uma breve conversa antes de iniciar a aula.
Por este motivo é que trabalhar com temáticas que influenciam atitudes,
preferências e a linguagem continuará a ser desenvolvido ao longo do trabalho
escolar, pois a aceitação a esta programação e suas influências no cotidiano
poderão ser conhecidas pelos alunos e desta maneira evitar uma entrega acrítica ao
que é assistido.
Em atividades futuras com este tipo de temática, porém, será buscada uma
parceria mais direta com a família que incentive e cobre uma participação e uma
tomada de atitude frente ao que está sendo estudado, uma vez que se mostrou no
questionário respondido pelos pais que não ocorre uma conversa e assim pode-se
afirmar, um real acompanhamento sobre as escolhas assistidas e ao que é
aprendido nos momentos de lazer em casa.
O modelo de educação vivido atualmente traz para os muros escolares este
compromisso assim como a busca pela conscientização dos pais para as
responsabilidades que são de deveres seus. Correta esta obrigação não é, porém
estes alunos necessitam ser assistidos e orientados com compromisso para o seu
crescimento e amadurecimento que garanta a sua formação de maneira integral.
A televisão tendo como principal intuito entreter acaba de maneira sedutora
educando e doutrinando quem a assiste, em especial, as crianças, de maneira
prazerosa e eficaz. Isto sugere uma reflexão sobre a prática docente, sobre a
sedução educacional que é preciso resgatar dentro da escola. As mídias, quando
utilizadas como aliadas no processo de construção de ensino-aprendizagem
facilitam, inovam e tornam próximo dos alunos muitos dos assuntos discutidos e que
devem ser aprendidos.
44. REFERÊNCIAS
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Disponível em: <http://www.ead.unicamp.br/trabalho_pesquisa/Pesq_estcaso.htm>.
Acesso em 13 dez. 2010.
47. APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS:
1. Numere de 1 a 7 as mídias que você mais utiliza, sendo a 1 a mais utilizada e
a 7 a menos:
( ) Computador
( ) Televisão
( ) Celular
( ) Rádio
( ) Livros
( ) DVD
( ) Outros
2. Em que horário, aos domingos, você mais assiste televisão?
( ) Manhã
( ) Tarde
( ) Noite
( ) Não assisto TV aos domingos
3. Que tipo de programa você prefere assistir aos domingos?
( ) Esportivo
( ) Humor
( ) Desenho
( ) Seriados
( ) Outros___________________________________________
4. Você costuma assistir televisão, aos domingos, na companhia de quem?
( ) Pais
( ) Irmãos
( ) Amigos
( ) Sozinho
48. 48
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO PARA OS PAIS:
1. Quais as mídias seu (a) filho (a) tem livre acesso em casa?Numere de 1 a 7 a
que ele mais utiliza, sendo a 1 a mais utilizada e a 7 a menos:
( ) Computador
( ) Televisão
( ) Celular
( ) Rádio
( ) Livros
( ) DVD
( ) Outros. ___________________________________
2. Que tipo de programação seu (a) filho (a) costuma assistir aos domingos?
( ) Esportivo. QUAL (IS)?________________________
( ) Humor. QUAL (IS)?________________________
( ) Desenho. QUAL (IS)?________________________
( ) Seriados. QUAL (IS)?_______________________
( ) Outros. QUAL (IS)?________________________
3. Você costuma verificar a censura dos programas assistidos pelo (a) seu (a)
filho (a)?
( ) Sim
( ) Não
Se não, por quê?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
________
4. Seu filho costuma ver TV sozinho?
( ) Sim
( ) Não
5. Você costuma conversar com seu (a) filho (a) sobre o que ele (a) assiste na
televisão?
( ) Sim
49. 49
( ) Não
Se não, por quê?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________