SeiZo Soares cria joias esculturais em madeira preciosa através de um processo artístico que explora as relações entre mente, mãos e matéria. Ele gosta especialmente da escultura em madeira porque permite experimentar diferentes estados mentais e formas de expressão criativa. Suas joias são objetos que intrigam os sentidos e transmitem beleza e significado para quem as usa.
3. Crio objetos de madeira para pessoas vestirem.
Pequenas esculturas para serem usadas como
joias.
Gosto especialmente da escultura em madeira
porque ela me permite experimentar as
relações entre mente, mãos e matéria;
Perceber – com toda a subjetividade que a
palavra traz em si - tanto nos resultados
quanto nos processos, por quais meios a mente
se expressa e como e porque ela não se
expressa.
Medos, dúvidas, desejos, as visões do mundo ao meu redor e de mim mesmo surgem antes durante e
depois do trabalho na oficina e funcionam não como temas, mas como um pano de fundo para a
ação criativa, que acontece sempre sem um desenho ou projeto, de forma livre e lúdica.
4. *
Energia e processo
O prazer do ofício na lida com o material e
com as ferramentas é um elemento central.
É na atitude de limpeza do estado mental,
do assobio da brincadeira que é trabalho que a ligação pode acontecer e a musa
manifestar-se.
Muitas vezes busco um certo estado de
“inconsciência” sobre o que estou fazendo.
Trabalhar a noite com pouca luz, agir por impulso e utilizar processos pouco controláveis são
algumas das ações para criar o campo onde estas manifestações mais profundas se concretizem. Por
outro lado, a visão da perfeição do corte, da marca a ser deixada exige disciplina e exercício.
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5. Romper a madeira fazendo-a lascar com uma faca é diferente de poli-la finamente. Cada processo e
suas marcas na matéria são a concretização de um certo tipo de energia, que nasce na mente, e
chega ao mundo real por meio do corpo e das ferramentas escolhidas.
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6. As Ferramentas
As ferramentas transformam a maneira
de agir sobre o mundo e sobre a
matéria e o modo como agimos sobre o
mundo e sobre a matéria transforma
nossa maneira de pensar.
Assim é preciso estar consciente do
significado disso. Cada nova ferramenta
que adotamos trará consigo uma nova
mente para tratar da matéria.
Gosto de uma certa restrição
tecnológica no trabalho na oficina. Tenho poucas ferramentas. A aproximação com processos mais
humanos, no sentido de serem próximos da natureza, são uma escolha, neste momento.
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7. *
Literatura, objeto e significado
Produzo poesia e alguma literatura há algumas décadas e a fotografia nasceu como uma paixão nos
anos noventa. Considero estas formas de expressão - a criação do texto para o objeto e sua
representação fotográfica - como partes essenciais do processo na minha arte joalheria.
São realmente essenciais – e não assessórios apenas - pois a escultura nasce junto com um olhar
fotográfico sobre o trabalho de composição. Um olhar que vasculha todos os ângulos na busca de
pistas para o próximo entalhe.
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A mensagem escrita remonta a maneira pela qual a mente age. O pensamento são palavras. Assim, a
poesia está – ou deveria estar... - dentro do objeto, como seu conteúdo intangível que pode vir à tona
em forma de escrita.
8. Poesia e sonho
Este trabalho nasceu do desejo culminante de realizar algo único, no sentido da autoria e da
expressividade individual. Mas
há sempre uma musa e um
professor.
A arte joalheria é para mim um
caminho na busca por
identidade e pela história a ser
contada, é um modo de agir no
mundo para a tomada de
consciência sobre ele e sobre si.
Na escultura em madeira e na
poesia encontrei minhas
matérias primas.
10. A matéria madeira
É a fonte primal da poesia.
O perfume, os desenhos que se revelam, o
comportamento diante da mão e da ferramenta
distingue-se de forma a proporcionar um novo
encontro a cada pedaço.
Em minha história – e penso que na de muitos
brasileiros – a madeira ocupa um lugar na infância, nos
brinquedos artesanais, na casa da avó e seus armários
de Imbuia, na oficina do avô e suas limas muito usadas.
A madeira é o material que fez o chamado e é das
árvores que emana o amor e o respeito por sua carne.
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Utilizo madeiras chamadas “preciosas” – por sua
raridade e qualidades estéticas - provenientes de redescoberta. Garimpo em antigas marcenarias,
móveis dispensados e outras fontes alternativas.
12. As joias
Construir uma joia é tentar trazer à tona a beleza que toda a matéria traz consigo; é parar de pensar
e pôr a mão na consistência do possível. É tornar concreto um sentimento.
A joia é um amuleto para o corpo criado em estado de concentração. Para muito além do adorno, ela
leva beleza para dentro de quem a carrega e se
comunica com os outros.
Cada peça tem seu poder, herdado da matéria
e intuído pela pessoa para quem foi feita.
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Joias levantam perguntas, intrigam os
sentidos e proporcionam prazer a quem as
carrega. Pequenos objetos duradouros e
preciosos. Para além do ornamento, a joia é um instrumento cognitivo e sensorial.
13. SeiZo Soares é professor, escritor e artista visual criador de objetos ´vestíveis´ e joias em madeira.
Trabalha em seu ateliê em Campinas, SP, em frente à Mata Santa Genebra, importante mata urbana
do país.
Desde 2007, desenvolve trabalho de pesquisa e experimentação de técnicas de escultura e arte
joalheria contemporânea.
Participou do Joya Barcelona 2013 e da Beijing International Art Jewelry Exhibition 2013.
“Joias de arte são objetos que intrigam os sentidos, que sugerem perguntas e
proporcionam prazer a quem as carrega. Pequenos objetos duradouros e
preciosos. Para além do ornamento, a joia é um instrumento cognitivo e
sensorial.”
Site: www.seizojoias.com.br
email: seizo@terra.com.br