Alzira Rufino
Alzira Rufino | |
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Nome completo | Alzira dos Santos Rufino |
Nascimento | 6 de julho de 1949 Santos, São Paulo, Brasil |
Morte | 26 de abril de 2023 (73 anos) Santos, SP |
Ocupação | ativista política, enfermeira, escritora |
Principais trabalhos |
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Alzira dos Santos Rufino (Santos, 6 de julho de 1949 – Santos, 26 de abril de 2023) foi uma enfermeira, escritora e ativista política brasileira atuante no Movimento Negro e no Movimento de Mulheres Negras.[1] É referência na luta contra a violência à mulher e a favor dos direitos dos negros[2] e se autointitulava “batalhadora incansável pelos direitos da mulher, sobretudo da mulher negra”.[3] Foi a primeira escritora negra a ter seu depoimento registrado pelo Museu de Literatura Mário de Andrade, de São Paulo.[1]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Alzira Rufino nasceu em 6 de julho de 1949, no bairro do Macuco da cidade de Santos, no estado de São Paulo. Quando criança, Rufino trabalhou com seu irmão vendendo sacos vazios de cimento, peixe e palhas de tábua, e com sua mãe, catadora de café.[2] Apesar da infância pobre, sua mãe mantinha o firme propósito de que seus filhos tivessem educação formal, por isso Rufino nunca negligenciou seus estudos. Aos sete anos, foi incentivada por uma professora a escrever um diário para expressar seus sentimentos, marcando o início do seu interesse pela escrita.[4] Recebeu seu primeiro prêmio de redação na 3ª série do ensino fundamental.[2] Aos quatorze anos recebeu um prêmio de poesia na Santa Casa de Misericórdia de Santos,[2] onde, aos dezessete anos, começou a trabalhar como auxiliar de cozinha e faxineira.[5] Estudou em diversas escolas, como Parque Infantil Patrícia, Colégio Estela Maris e Colégio Cidade de Santos, mudando-se mais tarde para a cidade de São Paulo a fim de se formar em Enfermagem.[2]
No fim dos anos 70, começou a se envolver em diferentes frentes de movimentos políticos e sociais, e na década de 80 passou a frequentar eventos do movimento de mulheres negras. Assim, em março de 1985, organizou a Primeira Semana da Mulher da região da Baixada Santista. Em 1986, fundou o Coletivo de Mulheres Negras da Baixada Santista, um dos mais antigos grupos em prol da emancipação de mulheres negras na sociedade brasileira.[1][4][5][6]
Em 1987, organizou o livro Eu, mulher negra com poesias de sua autoria e partiu em busca de editoras para conseguir publicá-lo, sendo recusada por todas. Assim, decidiu fazer uma autopublicação, lançando seu livro em 1988. Seu livro teve uma boa aceitação crítica e Rufino foi convidada pelos organizadores da III Feira Internacional do Livro Feminista, no Canadá, como palestrante.[4][7] Neste mesmo ano, criou o Coral Infantil Omó Oiá e o Grupo de Dança Afro Ajaína.[1]
Em 1990, fundou a Casa de Cultura da Mulher Negra, uma organização não governamental com o propósito de contribuir para o desenvolvimento profissional de mulheres negras, além de oferecer apoio jurídico e psicológico para vítimas de violência doméstica, sexual e de racismo.[1][4] Pelo reconhecimento a seu trabalho, Alzira Rufino foi homenageada como Mulher do Ano, em 1991, no Rio de Janeiro, pelo Conselho Nacional da Mulher Brasileira.[1][4] Em 1992, recebeu o título de "Cidadã Emérita" da Câmara Municipal de Santos, sendo a primeira mulher negra a receber essa homenagem na região.[5] Entre os anos de 1995 e 1998, exerceu a função de coordenadora da Rede Feminista Latino-Americana e do Caribe contra a Violência Doméstica, Sexual e Racial, na sub-região Brasil.[4]
Em 2005, foi uma das 52 mulheres brasileiras indicadas para o Projeto 1000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz 2005.[8]
Desde 1991, edita a Revista Eparrei, voltada para a cultura negra.[1]
Costuma se autodesignar "feminegra", para explicar seu papel na luta pelo feminismo negro.[4] Além disso, é seguidora das tradições do candomblé,[1] se tornando uma ialorixá.[5]
Prêmios
[editar | editar código-fonte]- 1991 - Mulher do Ano - Conselho Nacional da Mulher Brasileira (Rio de Janeiro)[4]
- 1992 - Cidadã Emérita - Câmara Municipal de Santos[5]
- 2009 - IV Prêmio África Brasil - Centro Cultural Africano[9]
- 2014 - Medalha Ruth Cardoso - Conselho Estadual da Condição Feminina e Assembleia Legislativa de São Paulo[10]
- 2016 - Prêmio Dandara - Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (CMPDCN) e Coordenadoria de Promoção da Igualdade Racial e Étnica (Copire) da Prefeitura de Santos[11]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Antologias
[editar | editar código-fonte]- Finally...Us: Contemporary Black Brazilian Women Writers. Colorado: Three Continent, 1995. ISBN 9780894107894
- Cadernos Negros 19. São Paulo: Quilombjhoje; Ed. Anita, 1996[12]
- Cadernos Negros 21. São Paulo: Quilombhoje; Ed. Anita, 1998[12]
- Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. v. 2, Consolidação. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. ISBN 9788570419040
Contos e crônicas
[editar | editar código-fonte]- Qual o quê. Santos: edição da autora, 2006.
- Alzira Rufino uma ativista feminegra. Santos: edição da autora, 2008.
Ensaios
[editar | editar código-fonte]- A mulher negra tem história. Em coautoria com Nilza Iraci e Maria Rosa Pereira. Santos: edição da autora, 1987.
- Articulando. Santos: edição da autora, 1987.
- Mulher negra: uma perspectiva histórica. Santos: edição da autora, 1987.
- O poder muda de mãos, não de cor. Santos: edição da autora, 1996.
- Violência contra a mulher – uma questão de saúde pública. Anais do II Encontro Nacional de Entidades Populares. Santos: Casa de Cultura da Mulher Negra, 1998 (organizadora).
- O Livro da Saúde das Mulheres Negras. Organização de Jurema Werneck, Maisa Mendonça e Evelyn C. White. Pallas, 2000.
- Violência contra a mulher – um novo olhar. Anais do Seminário “Violência Intrafamiliar, Mulher e Saúde”. Santos: Casa de Cultura da Mulher Negra, 2000 (organizadora).
- Vocês não podem adiar mais os nossos sonhos... In: Revista Estudos Feministas. Florianópolis: CFH/CCE/UFSC, v. 10, nº 1, 2002. p. 215-218.
- Configurações em preto e branco. In: Racismos contemporâneos. Organização de Ashoka e Takano. Rio de Janeiro: Takano Cidadania, 2003.
Livros infantis
[editar | editar código-fonte]- Muriquinho, piquininho. Santos: edição da autora, 1989.
Poesia
[editar | editar código-fonte]- Eu, mulher negra, resisto. Santos: edição da autora, 1988.
- Bolsa poética. Santos: Demar, 2010.
Romance
[editar | editar código-fonte]- A mulata do sapato lilás. Santos: edição da autora, 2007.
Citações
[editar | editar código-fonte]Coerente com a luta contra o racismo e em favor das mulheres negras, as citações (frases) de Alzira remetem sempre à autoestima, à valorização da etnia e à luta, até que esteja extinta toda e qualquer forma de opressão, discriminação e preconceito contra o povo negro.
- Mulheres negras: produzam o show e assinem a direção!
- Quem está na chuva é para se secar!
- Se poder é bom, mulher negra quer poder.
- Não acredito em poder intelectual, político ou cultural, sem o poder econômico.
- O possível, estamos fazendo agora; o impossível demora um pouco mais!
- 1+1 é sempre mais que 2.
- O poder tem que mudar de mãos, cor, gênero e classe na ótica da teoria coletivista afrocentrada.
- Sou negra Ponto Final.
- Eu, mulher negra, resisto.
Morte
[editar | editar código-fonte]Morreu em 26 de abril de 2023, em Santos/SP, estava internada no hospital Ana Costa e a causa da morte não foi divulgada.[13]
Referências
- ↑ a b c d e f g h «Alzira Rufino (1949 – )». Mulher 500 anos atrás dos panos. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 11 de novembro de 2019
- ↑ a b c d e «Alzira Rufino». Jornal Vicentino. 14 de maio de 2007. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 29 de outubro de 2018
- ↑ «Alzira dos Santos Rufino». Literafro. 24 de setembro de 2019. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 18 de novembro de 2019
- ↑ a b c d e f g h Lopes, Nei (2019). Afro-Brasil Reluzente: 100 personalidades notáveis do século XX. São Paulo: Nova Fronteira. 456 páginas. ISBN 9788520944820
- ↑ a b c d e Vilas-Bôas, Iêda (1 de março de 2020). «Alzira Rufino: "Se poder é bom, mullher negra quer poder"». Xapuri socioambiental. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 3 de junho de 2020
- ↑ Hesse, Flavia (23 de julho de 2003). «Mulheres em Destaque». WMulher. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 8 de outubro de 2007
- ↑ «Our Lives – Vol. 2, Issue 5/6 – Summer/Fall 1988». RiseUp. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 3 de junho de 2020
- ↑ «Assembléia receberá brasileiras indicadas para o Nobel da Paz 2005». Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. 20 de setembro de 2005. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 3 de junho de 2020
- ↑ «Prêmio África-Brasil tem participação amapaense». Portal Geledés. 25 de maio de 2009. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2017
- ↑ «DECRETO Nº 57.913, DE 27 DE MARÇO DE 2012». Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. 27 de março de 2012. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 3 de junho de 2020
- ↑ «Primeira edição do Prêmio Dandara reconhece mulheres 'guerreiras'». Prefeitura de Santos. 9 de março de 2016. Consultado em 3 de junho de 2020. Cópia arquivada em 3 de junho de 2020
- ↑ a b Antônio, Carlindo (2005). «Cadernos Negros: esboço de análise» (PDF). Repositório da Produção Científica e Intelectual da Unicamp. Consultado em 3 de junho de 2020
- ↑ «Morre Alzira Rufino, fundadora e diretora da Casa de Cultura da Mulher Negra de Santos, SP». G1. 27 de abril de 2023. Consultado em 27 de abril de 2023