Bandeira da Nova Holanda
Bandeira da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais | |
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Descrição | listrada horizontalmente em vermelho (ou laranja), branco e azul, com o monograma GWC ao centro[nota 1] |
A bandeira da Nova Holanda, também conhecida como a bandeira do Brasil Holandês, foi a bandeira utilizada pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais para os territórios que estiveram sob seu controle no Brasil. Durante a ocupação Holandesa, não foi concedido uma bandeira própria ao Brasil, sendo arvorada apenas as bandeiras de seus colonizadores e governantes.
História
[editar | editar código-fonte]Durante os 24 anos anos do domínio holandês, entre 1630 e 1654, as capitanias conquistadas no Brasil utilizaram a bandeira das Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (em neerlandês: Geoctrooieerde Westindische Compagnie - GWC). Essa bandeira era composta pela bandeira da República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, listrada horizontalmente em vermelho (ou laranja), branco e azul, com a inclusão do monograma GWC da companhia ao centro.[2][3][4][5]
A variação do laranja ou vermelho na bandeira se deve ao fato de que a marinha holandesa entre 1588 e 1630 sempre exibia a bandeira do Príncipe (Prinsenvlag), listrada em laranja, branco e azul, e, depois de 1663, sempre a bandeira dos Estados Gerais (Statenvlag), listrada em vermelha, branca azul, com ambas as variantes da bandeira sendo utilizadas durante o período de 1630-1662.[6]
É possível que as próprias Prinsenvlag e Statenvlag tenham sido utilizados no Brasil: no livro Diário de um soldado da Companhia das Índias Ocidentais, o soldado Ambrósio Richshoffer registra o uso da bandeira do príncipe,[7] bem como menciona o uso de suas cores no traje de alferes.[8]
Nas representações pictóricas do Brasil Holandês, como mapas, gravuras, pintura das batalhas, raramente se encontram elementos nas imagens que remetam especificamente à Companhia das Índias Ocidentais (como o monograma da Companhia),[9] sendo as bandeiras representadas apenas pelas faixas tricolores. Em algumas poucas gravuras, encontram-se o referência a companhia ou de seus comandantes, por meio de brasões ou monogramas nos adornos das ilustrações.[10]
A bandeira era arvorada nos cimos de fortes, nos mastros e popas dos navios, bem como empunhadas nos campos de batalha pelo alferes (vaendrager).[11] As bandeiras nos mastros e nas popas navios também serviam para identificar as embarcações em combate, as almirantas e vice-almirantas e mesmo a orientação tática de um ataque.[12]
Bandeira de Maurício de Nassau
[editar | editar código-fonte]Bandeira do Conde Maurício de Nassau no Brasil | |
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Representação de José Wasth Rodrigues, no livro de Clóvis Ribeiro, da bandeira do Brasil Holandês (atribuído ao governo de Maurício de Nassau). | |
Descrição | listrada em vermelho, branco e azul, com o monograma de Maurício de Nassau ao centro |
Representação alternativa, conforme cartucho da prancha 45 de Rerum per octennium in Brasilia. |
No livro Brazões e Bandeiras do Brasil escrito pelo jornalista Clóvis Ribeiro em 1933, o desenho que ilustra a bandeira do Brasil Holandês foi elaborado por José Wasth Rodrigues e apresenta o monograma "CIMD" em ouro sobre a faixa branca (ao invés do símbolo da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais), e uma coroa de conde na faixa vermelha acima do monograma.[13] Essa ilustração da bandeira, no entanto, não se encontra nas referências citadas por Ribeiro: no almanaque alemão Der Geöfnete Ritter-Plaz (Hamburgo, 1702) há apenas a bandeira tricolor das Províncias Unidas,[14] enquanto no livro Rerum per octennium in Brasilia (Amsterdam, 1647) de Gaspar Barléu, as bandeiras holandesas são representadas nas gravuras sem qualquer inscrição,[15] com exceção da prancha nº 45 (intitulada Quarta batalha naval, ferida entre Cunhaú e o Rio Grande), onde há bandeira holandesa com o monograma IM ao centro no cartucho da figura.[16].
Enquanto a bandeira da Companhia das Índias Ocidentais é relativamente bem documentada, não se encontra registros da bandeira tricolor com o monograma IM ou CIMD em livros ou diagramas de bandeiras publicados entre o século XVII e XIX.[4][5]
Todavia, é certo que a obra de Clóvis Ribeiro popularizou tal desenho como bandeira do Brasil Holandês, sendo o mesma reproduzido posteriormente por vários autores.[17][18]
Monograma de Nassau
[editar | editar código-fonte]O desenho do monograma CIMD encimado pela coroa de conde aparece, em um contexto diferente, no frontispício da obra de Barléu[15] sendo associada a figura de Maurício de Nassau,[19][20] que administrou o domínio neerlandês no Brasil, durante 1637-1644, em nome da Companhia das Índias Ocidentais.
O significado de tal monograma não é conhecido, embora é certo que as iniciais "IM" se refiram a Iohannes Mauritius, isto é, João Maurício, por serem também representadas na pintura Zacharias Wagener, Molher negra, e em outros objetos, como uma cadeira de mármore dada como presente por Nassau.[21]
Segundo o arquivista alemão Rolf Nagel, o "I" e o "M" do monograma significam "IOHANNES MAURITIUS", e fazem indicação ao nome do titular da bandeira; enquanto e "C" e "D" são suas qualidades pessoais "COMES" e "DOMINUS", devendo o monograma ser lido como "COMES IOHANNES MAURITIUS DOMINUS".[19].
Outra hipótese é que o monograma signifique "Iohannes Mauritius Comitis Dillenburgum", ou seja, "João Maurício, conde de (Nassau-)Dillenburg",[22] sendo Dillenburg a cidade natal de Maurício de Nassau. A última prancha, de número 55, do Rerum per octennium in Brasilia é dedicada à cidade de Dillenburg, sendo a figura adornada com o brasão de Nassau.
Notas
Referências
- ↑ Zara, Louis (1954). Blessed is the Land. New York: Crown Publishers. p. 234
- ↑ Ribeiro 1933, p. 32 "No Brasil Hollandez (1630-1654), as capitanias conquistadas arvoraram durante 24 annos a bandeira das Províncias Unidas da Hollanda, composta de tres faixas horizontaes, vermelha a de cima, branca a do meio e azul a terceira, tendo ao centro o monogramma da Companhia das Indias Occidentaes."
- ↑ Kalff 1889, p. 232.
- ↑ a b Aubin 1737, p. 13.
- ↑ a b Titus van der Laars (1913), Wapens, vlaggen en zegels van Nederland (em neerlandês), Amesterdão, Wikidata Q106206589
- ↑ Waard, C. de (1900). «De Nederlandsche vlag». Het Vaderland
- ↑ Richshoffer 1897, p. 179 "Vendo isso os outros içaram promptamente a bandeira do Principe..."
- ↑ Richshoffer 1897, p. 2 "N'esta occasião coube-me a honra de conduzir a bandeira de nossa companhia até os transportes; não que o merecêsse, mas porque d'entre todos era o mais vistosamente trajado, e levava ao lado uma espada prateada e no chapéo plumas de côres de laranja, branca e azul."
- ↑ Ferreira 2019, p. 160.
- ↑ Ferreira 2019, p. 103.
- ↑ Ferreira 2019, p. 99.
- ↑ Ferreira 2019, p. 87.
- ↑ Ribeiro 1933, p. seguinte a 36, Prancha 4.
- ↑ «Der meisten Nationen und Regenten Schiff-Flaggen und einige andere See-zeichen». Der geöfnete See-Hafen (em alemão). Hamburg: Schiller. 1700
- ↑ a b Gaspar Barléu (1647), Rerum per octennium in Brasilia et alibi gestarum, sub præfectura illustrissimi Comitis I. Mauritii Nassaviæ &c. comitis, historia (em latim) 1 ed. , Amesterdão: Joan Blaeu, OCLC 66882625, Wikidata Q59420426
- ↑ «Quartum prælium Coniovian inter et fluvium Rio Grande», Amesterdão, Rerum per octennium in Brasilia (em latim), 1647, Wikidata Q59826162
- ↑ Coimbra 2000, p. 219.
- ↑ Luz 2005, p. 55.
- ↑ a b Nagel 1979, p. 27.
- ↑ Coimbra 200, p. 223.
- ↑ Monteiro, Carolina; Odegard, Erik (11 de setembro de 2020). «Slavery at the Court of the 'Humanist Prince' Reexamining Johan Maurits van Nassau-Siegen and his Role in Slavery, Slave Trade and Slave-smuggling in Dutch Brazil». Journal of Early American History (em inglês) (1): 3–32. ISSN 1877-0223. doi:10.1163/18770703-01001004. Consultado em 27 de março de 2021
- ↑ «Nieuw Holland arms». www.hubert-herald.nl. Consultado em 29 de março de 2021
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Aubin, Nicolas (1737), «Planche 21», La connoissance des pavillons ou bannieres que la plûpart des nations arborent en mer (em francês), Haia: Jacques van den Kieboom, OCLC 65506395, Wikidata Q105745865
- Clóvis Ribeiro (1933), Brazões e Bandeiras do Brasil, Illustrator: José Wasth Rodrigues, São Paulo: São Paulo Editora, OCLC 1297560, Wikidata Q105417680
- Coimbra, Raimundo Olavo (2000). A bandeira do Brasil: raízes histórico-culturais 3 ed. Rio de Janeiro: IBGE
- Nagel, Rolf (Agosto 1979). «A Bandeira de Maurício de Nassau». Mensário do Arquivo Nacional. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional. pp. 26–28. ISSN 0045-2726
- Ferreira, Victor Bertocchi (2019). O pincel de Marte: as representações pictóricas da guerra entre neerlandeses e ibéricos no Atlântico (1621-1669) (Tese de Mestrado em História Social). São Paulo: Universidade de São Paulo. doi:10.11606/D.8.2020.tde-03032020-171934
- Kalff, S. (1899). «'t "Verzuimd Brasil"». De gids: nieuwe vaderlandsche letteroefeningen. 63: 191-233
- Luz, Milton (2005). A História dos Símbolos Nacionais. Brasília: Senado Federal. 210 páginas
- Richshoffer, Ambrósio (1897), Diario de um soldado da Companhia das Indias Occidentaes (1629-1632), traduzido por Alfredo de Carvalho, Recife: Tipografia Universal, Wikidata Q106243329