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Batalha de Andrasso

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Batalha de Andrasso
Guerras bizantino-árabes

Iluminura do Escilitzes de Madri mostrando as tropas de Ceife Adaulá fugindo em Andrasso
Data 8 de novembro de 960
Local Andrasso ou Adrasso, passo de Cilindro
Desfecho Vitória bizantina decisiva
Beligerantes
Império Bizantino Emirado de Alepo
Comandantes
Império Bizantino Leão Focas, o Jovem
Império Bizantino Constantino Maleíno
Ceife Adaulá
Forças
Desconhecidas 3 000 ou 30 000
Baixas
Leves Muito pesadas

A Batalha de Andrasso (Andrassos) ou Adrasso (Adrassos) foi travada no outono de 960 num passo montanhoso não identificado nos montes Tauro, entre os bizantinos liderados por Leão Focas, o Jovem e as forças do Emirado de Alepo hamadânida sob o emir Ceife Adaulá. Tomando vantagem da ausência de boa parte do exército bizantino em campanha contra o Emirado de Creta, o príncipe hamadânida invadiu profundamente Ásia Menor. Em seu retorno, contudo, seu exército foi emboscado por Leão Focas no passo e Andrasso. Ceife Adaulá escapou com dificuldade, mas seu exército foi aniquilado. Após uma série de derrotas bizantinos nos anos anteriores, essa batalha finalmente quebrou o poder do Emirado hamadânida.

Em meados do século X, após um período de expansão na fronteira oriental às custas dos emirados fronteiriços,[1] o Império Bizantino foi confrontado pelo poder do príncipe Ceife Adaulá. Em 945, Ceife Adaulá fez Alepo sua capital e logo estabeleceu sua autoridade através do norte da Síria, boa parte da Jazira e os distritos fronteiriços sobreviventes (tugur).[2] Comprometido com o espírito da jiade, o governante hamadânida emergiria como o principal inimigo dos bizantinos, que ridicularizaram-o como o "ímpio Hamadã", durante as duas décadas seguintes: pelo tempo de sua morte em 967, diz-se que lutou contra eles em mais de 40 batalhas.[3][4]

Após seu estabelecimento em Alepo, no inverno de 945–946, Ceife Adaulá recomeçou o antigo costume muçulmano de lançar raides anuais em solo bizantino. Essa primeira operação foi de pequena amplitude e foi seguida por uma troca de prisioneiros. [5][6] A guerra na fonteira oriental do Império Bizantino diminuíram por alguns anos, recomeçando apenas em 948. Inicialmente, os bizantinos foram liderados pelo doméstico das escolas (comandante-em-chefe) Bardas Focas, o Velho, mas embora foi capaz o suficiente como comandante subordinado, seu mandato como comandante-em-chefe provou-se um fracasso.[7] Em 948–950, os bizantinos conseguiram alguns sucessos, saqueando as fortalezas fronteiriças de Adata e Marache. O segundo filho de Bardas, Leão, distinguiu-se nesses anos, especialmente em novembro de 950, quando emboscou Ceife Adaulá, que antes derrotou seu pai em batalha, num passo montanhoso; Ceife perdeu 8 000 homens e por pouco conseguiu escapar.[6][8][9]

Ceife Adaulá, no entanto, rejeitou as ofertas de paz dos bizantinos e continuou seus raides. Mais importante, preparou-se para restaurar suas fortalezas fronteiriças na Cilícia e norte da Síria, incluindo Marache e Adata. Bardas Focas repetidamente tentou impedi-lo, mas foi derrotado todas as vezes, inclusive perdendo seu filho mais jovem, Constantino, que foi capturado. Em 955, os fracassos de Bardas levaram a sua substituição por seu filho mais velho, Nicéforo.[10][11] Sob a liderança capaz de Nicéforo, Leão e seu sobrinho João Tzimisces, a balança começou a pender contra os hamadânida. Em 956, Tzimisces emboscou Ceife Adaulá, mas o exército hamadânida, lutando em meio a chuvas torrenciais, conseguiu repelir os bizantinos; ao mesmo tempo, contudo, Leão derrotou e capturou Apolaseir, um primo de Ceife Adaulá, próximo de Dolique. A cidade de Adata foi saqueada novamente em 957, e Samósata em 958, depois do que Tzimisces conseguiu uma grande vitória sobre Ceife Adaulá. Em 959, Leão invadiu através da Cilícia para Diar Baquir e voltou à Síria, deixando um rastro de destruição atrás dele.[6][12][13]

Invasão e emboscada

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Soldo de Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959) e seu filho Romano II (r. 959–963)
Temas em 950. O Tema da Capadócia está ao centro da Ásia Menor, ao noroeste de Tarso
Zona fronteiriça árabe-bizantina

No começo do verão de 960, Ceife Adaulá viu uma oportunidade de reverter seus revezes recentes e restabelecer sua posição: as melhores tropas do exército bizantino, e o doméstico Nicéforo Focas, deixaram o fronte oriental para uma expedição contra o Emirado de Creta.[14] A missão de confrontar o emir recaiu sobre Leão Focas, que segundo os cronistas bizantinos foi nomeado como doméstico do Ocidente após a ascensão de Romano II em novembro de 959 (com Nicéforo sendo nomeado doméstico do Oriente) e a pouco derrotou um raide magiar na Trácia em um audaz ataque noturno em seu acampamento.[15][16] O cronista árabe cristão do século XI Iáia de Antioquia, contudo, relata que Leão foi nomeado doméstico do Oriente, e que permaneceu no fronte oriental em 859-960, liderando raides nos domínios hamadânidas até a invasão de Ceife Adaulá.[17]

Como líder de uma força de cavalaria — os números relatados nas fontes varia de 3 000 a 30 000[18][19] — Ceife Adaulá invadiu o território bizantino, e avançou sem oposição até tão longe quanto a fortaleza de Carsiano, capital do tema homônimo. Lá, ele e seu exército saquearam a fortaleza e massacraram a guarnição; eles pilharam e incendiaram a região circundante e seus assentamentos e levaram muitos prisioneiros.[20] Próximo ao fim do outono, Ceife Adaulá finalmente começou sua viagem e volta levando muito butim e prisioneiros. O historiador bizantino contemporâneo Leão, o Diácono dá um relato vívido do príncipe hamadânida, que, exaltado pelo sucesso de seu raide e cheio de auto-confiança, acelerou para frente e para trás ao lado de suas tropas a cavalo, uma égua "de extraordinário tamanho e velocidade", jogando para o alto sua lança e pegando-a novamente com impressionante destreza.[21][22]

No meio tempo, Leão Focas, pesadamente superado pelo exército árabe, decidiu confiar novamente em suas táticas de emboscada, e ocupou uma posição na retaguarda árabe, esperando seu retorno.[23][24] Leão se reuniu com as forças restantes das províncias adjacentes, incluindo o Tema da Capadócia sob seu estratego, Constantino Maleíno, e ocupou o passo estreito de Cilindro nos montes Tauro orientais. As tropas bizantinas ocuparam o forte local, e esconderam-se ao longo dos lados íngremes do passo.[25] Segundo cronista árabe Abulféda, isso era o mesmo passo que Ceife Adaulá cruzou ao começar sua expedição, e muitos de seus comandantes aconselharam-o contra usá-lo no retorno; no entanto, o príncipe hamadânida, confiante de sua habilidade e julgamento, se recusou a ouvir qualquer conselho, procurando conseguir para si toda a glória da expedição.[26]

Em 8 de novembro de 960, o exército hamadânida entrou no passo, onde, segundo Leão, o Diácono, "tiveram que se agrupar em lugares muito estreitos e difíceis, quebrando suas formações, e tiveram que cruzar a seção íngreme cada um da melhor maneira possível". Uma vez que toda a força árabe, incluindo seus trens e cativos, estava no passo, com a vanguarda já próximo do final sul, Leão Focas deu o sinal para o ataque. Com as trombetas tocando, os soldados bizantinos gritaram e atacaram as colunas árabes, ou jogaram pedras e troncos de árvores ladeira abaixo. A batalha subsequente foi um derrota completa. Muitos árabes foram mortos — Leão, o Diácono afirma que seus ossos ainda eram visíveis no sítio anos depois — e muitos mais foram feitos cativos — João Escilitzes escreve que foram levados tantos prisioneiros que as cidades e fazendas estavam cheias de escravos. Todos os cativos cristãos foram liberados e o butim recuperado, enquanto o tesouro e bagagem de Ceife Adaulá foram capturados.[26][27][28] O príncipe hamadânida quase não conseguiu escapar; Teófanes Continuado alega que ele foi salvo quando um renegado bizantino, chamado João, deu-lhe seu próprio cavalo para escapar,[29] enquanto Leão, o Diácono relata que ele jogou moedas de ouro e prata para trás para retardar seus perseguidores.[30]

Segundo o cronista siríaco do século XIII Bar Hebreu, da grande expedição que ele reuniu, Ceife Adaulá retornou a Alepo com apenas 300 cavaleiros.[31][32] Vários dos muitos líderes hamadânidas distintos caíram ou tornaram-se cativos nessa batalha. Algumas fontes árabes citam a captura dos primos de de Ceife Adaulá, Apolaseir e Abu Firas Hamadani, mas muitos cronistas e estudiosos modernos colocam esses eventos em ocasiões diferentes (em 956 para Apolaseir, e 962 para Abu Firas).[33][34] o cádi de Alepo, Abu Huceine de Raca, foi levado prisioneiro ou caiu em batalha segundo relatos diferentes, enquanto Bar Hebreu também relata as mortes dos comandantes "Hamide ibne Namus" e "Muça-Saia Cã".[32][35] Leão Focas libertou os prisioneiros bizantinos após dar-lhes provisões, e levou o butim e os prisioneiros árabes para Constantinopla, onde celebrou um triunfo ao Hipódromo.[36][37] De fato, a Batalha de Andrasso fez uma profunda impressão entre os contemporâneos, provocando explosões de celebração no império, e tristeza e lamento nas cidades sírias; é mencionada por todos as fontes históricas do período, e confirmada no tratado bizantino contemporâneo Sobre Escaramuças como um dos exemplos principais de uma emboscada bem-sucedida.[38]

Após o desastre, Ceife Adaulá precisava de tempo para recuperar sua força, mas logo Nicéforo Focas retornou vitorioso de Creta no verão de 961, recomeçou a ofensiva no Oriente. Os bizantinos capturaram Anazarbo na Cilícia, e seguiram uma deliberada política de devastação e massacre para remover a população muçulmana. As tentativas de Ceife Adaulá para frear o avanço bizantino na Cilícia falharam, e Nicéforo, com um exército de relatados 70 000 homens, tomou Marache, Sisium, Dolique e Mambije, assegurando os passos ocidentais sobre os montes Antitauro. Ceife Adaulá enviou seu exército ao norte sob Nadja para encontrar os bizantinos, mas Nicéforo ignorou-os. De fato, o general bizantino levou suas tropas ao sul e em meados de dezembro, subitamente apareceram diante de Alepo. Lá, derrotaram um exército improvisado diante das muralhas da cidade. Os bizantinos atacaram a cidade e saquearam-a, exceto a cidadela, que continuou a resistir. Os bizantinos partiram no começo de 963, tomando boa parte da população consigo como cativa.[39][40]

Em 963, após a morte do imperador Romano II, Nicéforo virou sua atenção à luta de poder que viu-o ascender o trono imperial.[41] As derrotas nos anos anteriores, e particularmente a ocupação de Alepo, provocaram um grande golpe no poder e autoridade de Ceife Adaulá. Ao mesmo tempo, o príncipe hamadânida também sofreu de declínio físico, com o início da hemiparesia, bem como o agravamento de distúrbios intestinais e urinários, que confinaram-o a uma liteira. A doença limitou a habilidade de Ceife Adaulá para intervir pessoalmente nos assuntos de seu Estado; ele logo abandonou Alepo a cargo de seu camareiro, Carcuia, e passou a maior parte dos seus últimos anos em Maiafarquim, deixando seus tenentes seniores para lidar com o fardo da guerra contra os bizantinos e as várias rebeliões que cada vez mais ocorreram em seus domínios.[40][42]

No outono de 964, Nicéforo, agora imperador, fez campanha no Oriente. Mopsuéstia foi sitiado e resistiu, mas Nicéforo retornou no ano seguinte, invadiu a cidade e deportou seus habitantes. Em 16 de agosto de 965, Tarso foi cercada por seus habitantes. A Cilícia tornou-se uma província bizantina, e Nicéforo recristianizou-a.[39][43] Em meio a rebeliões e raides bizantinos tão longe quanto a Jazira, Ceife Adaulá morreu em Alepo em fevereiro de 967.[44][45][46] Seu filho e sucessor Sade Adaulá, enfrentou constante tumulto interno, e ele não assegurou sua própria capital até 977. Por esse tempo, o Emirado de Alepo estava quase sem poder e tornou-se zona de contenção entre bizantinos e o novo poder do Oriente Médio, o Califado Fatímida do Egito.[47]

Referências

  1. Treadgold 1997, p. 479–484.
  2. Bianquis 1997, p. 105.
  3. Bianquis 1997, p. 106–107.
  4. Schlumberger 1890, p. 119–121.
  5. Schlumberger 1890, p. 132.
  6. a b c Bianquis 1997, p. 107.
  7. Whittow 1996, p. 322–323.
  8. Schlumberger 1890, p. 132–133.
  9. Treadgold 1997, p. 487, 489.
  10. Schlumberger 1890, p. 133–134.
  11. Treadgold 1997, p. 492.
  12. Schlumberger 1890, p. 134–136.
  13. Treadgold 1997, p. 492–493.
  14. Schlumberger 1890, p. 136.
  15. Treadgold 1997, p. 494–495.
  16. Talbot 2005, p. 70–72.
  17. Lilie 2013, Leon Phokas (#24423).
  18. Schlumberger 1890, p. 139.
  19. Treadgold 1997, p. 495.
  20. Schlumberger 1890, p. 139–140.
  21. Talbot 2005, p. 74.
  22. Schlumberger 1890, p. 40.
  23. Talbot 2005, p. 72–74.
  24. Stouraitis 2003, Capítulo 2, esp. nota 2.
  25. Schlumberger 1890, p. 142.
  26. a b Schlumberger 1890, p. 142–143.
  27. Talbot 2005, p. 74–75.
  28. Wortley 2010, p. 241.
  29. Lilie 2013, p. Ioannes (#23093).
  30. Talbot 2005, p. 75.
  31. Schlumberger 1890, p. 143.
  32. a b Budge 1932, p. 184.
  33. Schlumberger 1890, p. 143–144.
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  35. Schlumberger 1890, p. 144.
  36. Talbot 2005, p. 75–76.
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