Carlos Ortiz
Carlos Ortiz (Jambeiro (São Paulo), 31 de julho de 1910 - 1995) foi um escritor, cineasta e crítico de cinema brasileiro. [1]
Religioso e escritor
[editar | editar código-fonte]Formado em teologia no Seminário de Taubaté, chegou a atuar como pároco no interior de São Paulo. No início da década de 1940 abandonou a vida religiosa e mudou-se para a capital paulista. [2] Foi casado com Marília de Souza Grassi (1930-2001), com quem teve três filhos; Georgette Ortiz, Rui Blás Ortiz e Renan Ortiz; e três netos; Bruna Romanelli Ortiz, Lígia Romanelli Ortiz e Leonardo Próspero Ortiz.
Interessado em assuntos judaicos, publicou uma "Antologia judaica" (1948) em parceria com Jacob Guinsburg e traduziu diretamente do iídiche (1949) o romance "A Mãe", de Sholem Arsch. [3] Conhecedor de várias línguas, inclusive grego e latim, foi também o tradutor brasileiro (1947) de "A Grande conspiração: a guerra secreta contra a Rússia Soviética", dos jornalistas norte-americanos Michael Sayers e Albert E. Kahn.
Crítico de cinema
[editar | editar código-fonte]Por volta de 1945, Ortiz começou a interessar-se por cinema, tornando-se ferrenho defensor da produção brasileira, como crítico, professor, teórico e, mais tarde, também como realizador. Ajudou a criar o seminário de cinema do MASP e escreveu crítica na Folha da Manhã (1948-52), de onde acabou sendo demitido por pressão do comércio cinematográfico. Escreveu também no jornal Notícias de hoje (1952-54) e eventualmente na revista Fundamentos, órgãos ligados ao Partido Comunista Brasileiro. [4]
Publicou livros de divulgação sobre a atividade cinematográfica, entre os quais uma "Cartilha do cinema" (1949, título da coluna que manteve durante anos na Folha da Manhã) e "A Montagem na arte do cinema" (1955). Em "O Romance do gato preto" (1953), uma das primeiras tentativas de história do cinema brasileiro, fixou como 5 de novembro 1907 a data em que teria acontecido a primeira filmagem no país, pelo português Antônio Leal; embora mais tarde tenham sido comprovadas filmagens bem anteriores, isto fez com que, nos anos 1950, o 5 de novembro tenha sido instituído como dia do cinema brasileiro. [5]
Carlos Ortiz teve destacada participação na política cinematográfica do Brasil. Em 1951, foi o primeiro presidente da APC (Associação Paulista de Cinema), tendo como colegas de diretoria nomes como Oduvaldo Vianna, Rodolfo Nanni, Galileu Garcia e Bráulio Pedroso. Em 1952, foi um dos principais articuladores do I Congresso Paulista do Cinema Brasileiro e, alguns meses depois, do I Congresso do Cinema Nacional, ao lado de Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany. [6]
Cineasta
[editar | editar código-fonte]Como cineasta, Carlos Ortiz iniciou sua carreira em 1950, em plena era dos grandes estúdios, escrevendo e dirigindo o filme independente "Alameda da Saudade, 113", um melodrama realista filmado em locações, baseado num episódio policial ocorrido em Santos. [7]
Em seguida, contratado por alguns meses pela Cinematográfica Maristela, foi roteirista e assistente de direção de Meu destino é pecar, de Manuel Peluffo; e atuou como ator coadjuvante em O Comprador de Fazendas, de Alberto Pieralisi. Mais tarde, no Rio de Janeiro, voltou à direção com "Luzes nas sombras" (co-dirigido por Heládio Fagundes), um filme de ficção sobre a luta contra o câncer, lançado em 1953, com participação dos atores Hélio Souto e Herval Rossano. [8]
A partir da metade dos anos 1950, abandonou a carreira cinematográfica, voltando a residir com a família no interior paulista e dedicando-se ao magistério, primeiramente em Santos e mais tarde em São José dos Campos.
Em 1981, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo publicou o livro "Carlos Ortiz e o cinema brasileiro na década de 50", organizado por Carlos Eduardo Ornelas Berriel. [9]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- 1946: "Romance de um pároco", Editora Brasiliense.
- 1948: "Antologia judaica" (com Jacob Guinsburg), Editora Rampa.
- 1949: "Cartilha do cinema", Editora Iris.
- 1953: "O Romance do gato preto: uma história breve do cinema", Casa do Estudante do Brasil.
- 1954: "O Argumento cinematográfico e sua técnica", Editora Iris.
- 1955: "A Montagem na arte do filme", Editora Iris.
Nota: Luiz Felipe Miranda, em seu "Dicionário de cineastas brasileiros", cita ainda dois outros títulos: "Dicionário do cinema brasileiro" e "O Roteiro e sua técnica", mas estes livros provavelmente nunca foram publicados.
Filmografia
[editar | editar código-fonte]- 1950-51: "Alameda da Saudade, 113", Lotus Filmes.
- 1951-53: "Luzes nas sombras" (co-direção Heládio Fagundes), Brasfilmes.
Referências
- ↑ «RAMOS, Fernão e MIRANDA, Luiz Felipe: "Enciclopédia do cinema brasileiro", Editora SENAC, São Paulo, 2000, pp. 407-408». Consultado em 9 de junho de 2010
- ↑ Principais dados biográficos extraídos de: MIRANDA, Luiz Felipe: "Dicionário de cineastas brasileiros", Art Editora, São Paulo, 1990, p. 246
- ↑ «"O Editor é o menino", reportagem da revista Carta Capital de 02/04/2009». Consultado em 9 de junho de 2010
- ↑ «MELO, Luis Alberto Rocha: "Argumento e roteiro: o escritor de cinema Alinor Azevedo", dissertação de mestrado, UFF, 2006, pp. 284 e seguintes». Consultado em 9 de junho de 2010
- ↑ «MELO SOUZA, José Inácio de: "Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema", editora SENAC, São Paulo, 2004, p. 76». Consultado em 9 de junho de 2010
- ↑ «CATANI, Afrânio Mendes: "O romance do gato preto: Carlos Ortiz e a história do cinema brasileiro", Estudos de Cinema Socine vol. VII, pp. 295-303». Consultado em 10 de junho de 2010
- ↑ «Resenha crítica do filme por Rafael de Luna, da Associação Cultural Tela Brasilis». Consultado em 9 de junho de 2010
- ↑ SILVA NETO, Antônio Leão da: "Dicionário de filmes brasileiros - longa metragem", ed. do autor, 2009, p. 604
- ↑ «Bibliografia básica sobre cinema brasileiro, por Arthur Autran (UFSCar) e Glênio Póvoas (PUCRS)». Consultado em 9 de junho de 2010