Clonagem humana
Clonagem humana é o processo de produzir uma cópia geneticamente idêntica de um ser humano. O termo é empregado para se referir à clonagem de humanos produzida artificialmente, sendo que ele não é empregado para se referir ao nascimento de gêmeos idênticos, cultura de tecidos ou a cultura de células humanas.
Existem dois tipos comumente discutidos da clonagem humana: a clonagem terapêutica e a clonagem reprodutiva. A clonagem terapêutica envolve a clonagem de células de um adulto para uso em medicina e é uma área ativa de pesquisa, enquanto a clonagem reprodutiva implicaria fazer clones humanos. Clonagem reprodutiva ainda não foi realizada e é ilegal em muitos países.
Em maio de 2013, uma equipe de cientistas norte-americanos da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon, sob a coordenação do Dr. Shoukhrat Mitalipov, conseguiu pela primeira vez clonar embriões humanos e obter células tronco embrionárias,[1] através de uma técnica chamada de transferência nuclear, que deu origem no passado à ovelha Dolly e outros animais.[2] O feito, publicado na revista "Cell", poderá ajudar no tratamento do Mal de Parkinson e da diabetes.[3]
História
[editar | editar código-fonte]Apesar de a possibilidade da clonagem humana ter sido objeto de especulação por grande parte do século XX, cientistas e políticos começaram a tomar o assunto a sério por volta da década 60. O vencedor do Prêmio Nobel e geneticista Joshua Lederberg defendeu a clonagem e a engenharia genética em um artigo no American Naturalist em 1966 e, novamente, no ano seguinte, no Washington Post.[4] Essa discussão acendeu um debate com o bioeticista conservador Leon Kass, que escreveu na época em que "a reprodução programada do homem o desumaniza". Outro prêmio Nobel, James D. Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA, discutiu o potencial e os perigos da clonagem em um artigo de 1971.[5]
Atualmente, a tecnologia da clonagem de mamíferos, embora longe de ser confiável, chegou a um patamar no qual muitos cientistas são conhecedores das técnicas envolvidas, a literatura é acessível, e a aplicação das técnicas não são tão difíceis e caras quanto no passado. Por esse motivo, D. Lewis Eigen argumentou que as tentativas de clonagem humana serão realizadas nos próximos anos e que talvez algumas já podem até terem sido iniciadas.[6]
Tentativas de clonagem humana
[editar | editar código-fonte]- Dr. Panayiotis Zavos, um médico de fertilidade norte-americano, revelou em 17 de janeiro de 2004 em uma conferência de imprensa em Londres que ele havia transferido um embrião recém-clonado para uma mulher de 35 anos de idade. Em 4 de fevereiro de 2004, verificou-se que a tentativa não funcionou e que a mulher não havia engravidado.[7][8]
- Severino Antinori anunciou em 2006 ter feito em 2003 três clones humanos.[9]
Implicações éticas
[editar | editar código-fonte]Defensores da clonagem terapêutica acreditam que a prática poderia fornecer células geneticamente idênticas para a medicina regenerativa, e tecidos e órgãos para transplante. Essas células, tecidos e órgãos não provocariam uma resposta imune, não necessitando, assim, o uso de drogas imunossupressoras,[10] e também auxiliariam no tratamento de doenças graves como cancro, doença cardíaca e diabetes, bem como melhorias no tratamento de queimaduras e na cirurgia plástica reconstrutiva.[11]
Com relação com a clonagem com fins reprodutivos, alguns proponentes da área alegam que ela poderia auxiliar casais inférteis a ter filhos com pelo menos uma parte de seu DNA.[12]
Legislação atual
[editar | editar código-fonte]Nações Unidas
[editar | editar código-fonte]Em 17 de dezembro de 2001, a Assembleia Geral da ONU começou a elaborar uma convenção internacional contra a clonagem reprodutiva dos seres humanos. Uma ampla coalizão de países, incluindo Espanha, Itália, Filipinas, Estados Unidos, Costa Rica e a Santa Sé, procurou estender o debate a proibição de todas as formas de clonagem humana, pois na sua opinião, a clonagem terapêutica humana viola a dignidade humana. Como não foi possível chegar a um consenso, em Março de 2005, foi adotada a Declaração das Nações Unidas sobre a Clonagem Humana[13] a qual pedia pela proibição de todas as formas de clonagem humana, mas essa declaração não é obrigatória aos países membros.
Austrália
[editar | editar código-fonte]A Austrália havia proibido a clonagem humana.[14] Entretanto, em dezembro de 2006, um projeto de lei legalizando a clonagem terapêutica e a criação de embriões humanos para pesquisas com células-tronco foi aprovada pela Câmara dos Deputados. A clonagem terapêutica agora é legal em algumas partes da Austrália, dentro de certos limites e sujeito aos efeitos da legislação estadual.
União Europeia
[editar | editar código-fonte]A Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina proíbe a clonagem humana em um de seus protocolos adicionais, mas este protocolo só foi ratificado pela Grécia, Espanha e Portugal. A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, proíbe expressamente a clonagem humana reprodutiva. A carta é compulsória para todos os países e instituições membros da União Europeia.
Estados Unidos
[editar | editar código-fonte]Várias tentativas foram feitas para banir todo o tipo de clonagem humana (em 1998, 2001, 2004 e 2007), mas divisões políticas internas impediram que as propostas se tornassem lei. Em Março de 2010, foi introduzido um projeto de lei que proibia o financiamento federal para a clonagem humana.[15] Essa lei não impede a investigação em instituições privadas, como as universidades, que recebem verbas tanto do setor privado quanto do público. Atualmente, não existem leis federais que proíbam a clonagem, mas existem alguns estados que o fazem.[16]
Reino Unido
[editar | editar código-fonte]Em janeiro de 2001, foi aprovada a lei de Fertilização Humana e Embriologia a qual permite a utilização de embriões na investigação em torno de células-tronco, permitindo assim a clonagem terapêutica. No entanto, em 15 de novembro de 2001, um grupo pró-vida ganhou uma apelação na Suprema Corte do Reino Unido que derrubou a regulamentação e efetivamente deixou todas as formas de clonagem não regulamentadas. Eles esperavam que o Parlamento preenchesse esta lacuna com uma legislação proibitiva.[17][18] O resultado disso é que o Parlamento foi rápido ao passar o Ato sobre Clonagem Reprodutiva Humana, que proíbe explicitamente a clonagem reprodutiva. A lacuna legislativa remanescente em relação à clonagem terapêutica foi fechada quando os tribunais de apelação reverteram a decisão anterior da Suprema Corte.[19]
A primeira licença foi concedida em 11 de agosto de 2004 para investigadores da Universidade de Newcastle, que lhes permitam investigar tratamentos para diabetes, doença de Parkinson e doença de Alzheimer.[20]
Na cultura popular
[editar | editar código-fonte]A clonagem é um tema recorrente na ficção científica. Exemplos incluem os romances Os Meninos do Brasil, de Ira Levin e Um Desfile de Espelhos e Reflexões de Anatoly Kudryavitsky. No teatro, a peça R.U.R. (1920) de Karel Čapek, obra onde a palavra "robô" (criada por seu irmão Josef, ver: Irmãos Čapek)[21] surge pela primeira vez e, onde os "robôs" não eram mecânicos e sim, "orgânico-sintéticos" (mais assemelhados com os clones humanos).[22] Na televisão, a animação Star Wars: The Clone Wars, a série canadense Orphan Black , Kyle XY e a telenovela brasileira O Clone, de 2001, abordaram o tema. No cinema, filmes como Replicant, A Ilha, Æon Flux. A franquia de videogames Metal Gear Solid também gira em torno do conceito de clonagem e modificação genética. Não apenas a clonagem genética, mas também a cópia de todas as memórias da mente do clonado para a do clone, são abordadas nos filmes de ficção científica como é o caso de O Sexto Dia, de 2000, com Arnold Schwarzenegger. Blade Runner de 1982, apresenta o replicante, que é mais próximo do clone humano do que o robô (mecânico) atual.
Objeções religiosas
[editar | editar código-fonte]A Igreja Católica Romana, sob o papado de Francisco, condenou a prática da clonagem humana, afirmando que ela representa uma "grave ofensa à dignidade da pessoa, bem como à igualdade fundamental de todos os povos".
Os muçulmanos sunitas consideram que clonagem humana é proibida pelo Islã.[23]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ «Cientistas americanos conseguem clonar embriões humanos». O Globo. Consultado em 15 de maio de 2013
- ↑ «Embryonic stem cells: Advance in medical human cloning». BBC News. Consultado em 15 de maio de 2013
- ↑ «Cientistas obtêm células-tronco de embrião humano clonado». Folha de S Paulo. Consultado em 15 de maio de 2013
- ↑ Joshua Lederberg. (1966). Experimental Genetics and Human Evolution. The American Naturalist 100, 915, pp. 519-531..
- ↑ Watson, James. "Moving Toward a Clonal Man: Is This What We Want?" The Atlantic Monthly (1971)
- ↑ Lewis D. Eigen (2010). «Scriptamus, Human Clones May Be Among Us Now! Who Is Ready?»
- ↑ «Human clone attempt fails». Daily Mail. London
- ↑ «Human cloning attempt has failed». BBC News. 4 de fevereiro de 2004
- ↑ Agencia Estado (11 de novembro de 2006). «Médico diz que três clones humanos "vivem bem" na Europa». Arquivado do original em 19 de abril de 2013
- ↑ Lanza RP, Chung HY, Yoo JJ; et al. (2002). «Generation of histocompatible tissues using nuclear transplantation». Nat. Biotechnol. 20 (7): 689–96. PMID 12089553. doi:10.1038/nbt703
- ↑ [https://web.archive.org/web/20130502125744/http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/elsi/cloning.shtml#organsQ Arquivado em 2 de maio de 2013, no Wayback Machine. Cloning Fact Sheet
- ↑ Scientists Prepare To Clone a Human; Experiment Aims to Help Infertile. Washington Post, March 10, 2001
- ↑ [|url=http://www.un.org/law/cloning/]
- ↑ Prohibition of Human Cloning for Reproduction Act 2002 Arquivado em 7 de junho de 2009, no Wayback Machine. National Health and Medical Research Council, 12 June 2007
- ↑ «H. R. 4808 Stem Cell Research Advancement Act of 2009 -- SEC. 498F. Prohibition Against Funding For Human Cloning». 10 de março de 2010
- ↑ «Human Cloning Laws». National Conference of State Legislatures (NCSL). Janeiro de 2008
- ↑ SD Pattinson (2006). «Medical Law and Ethics». Sweet & Maxwell. ISBN 9780421889507
- ↑ «Campaigners win cloning challenge». London: BBC News. 15 de novembro de 2001. Consultado em 6 de setembro de 2008
- ↑ «Lords uphold cloning law». BBC News Online. London. 13 de março de 2003
- ↑ «HFEA grants the first therapeutic cloning licence for research». HFEA. 11 de agosto de 2004. Consultado em 6 de setembro de 2008. Arquivado do original em 13 de janeiro de 2009
- ↑ Alan David Kaye, Richard D. Urman (17 de agosto de 2017). «Perioperative Management in Robotic Surgery». Cambridge University Press, (em inglês). Consultado em 29 de agosto de 2020
- ↑ Kate Devlin (18 de outubro de 2018). «Turned On: Science, Sex and Robots». Bloomsbury Publishing (Google Livros) (em inglês). Consultado em 29 de agosto de 2020
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 29 de março de 2019. Arquivado do original em 27 de abril de 2006