Estêvão Boístlabo
Estêvão Boístlabo | |
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Vitória sobre os bizantinos em 1043 na Batalha de Bar | |
Príncipe da Dóclea | |
Reinado | 1040 — 1043 |
Sucessor(a) | Miguel Boístlabo |
Floruit | 1018-1043 |
Morte | 1043 |
Constantinopla | |
Sepultado em | Igreja de Santo André em Prapratna |
Dinastia | Vojislavljević |
Título(s) | Príncipe dos sérvios[1] |
Filho(s) | Goislau Predimir Miguel Boístlabo Saganek Radoslau |
Estêvão Boístlabo (em grego medieval: Στέφανος Βοϊσθλάβος; romaniz.: Stéphanos Boisthlábos; em latim: Stephanus Boisthlabus; em sérvio: Стефан Војислав; romaniz.: Stefan Vojislav[a]) foi um príncipe da Dóclea de 1040 a 1043. Ele já era desde 1018 um "toparca" entre os bizantinos mas, em 1034, liderou uma revolta fracassada que resultou em sua prisão em Constantinopla. Ele conseguiu escapar e retornou para casa para liderar uma segunda revolta, desta vez vitoriosa, que conseguiu estabelecer a independência de seu pequeno estado, que ele reinaria como "príncipe do sérvios",[1] um título que indicava que ele era o líder supremo dos sérvios.
Ele é o fundador epônimo da Dinastia Vojislavljević.
Origem e primeiros anos
[editar | editar código-fonte]Os escritores contemporâneos relatam que ele era sérvio, mas não mencionam sua genealogia. Uma fonte posterior, mais duvidosa, afirma que ele era primo do monarca anterior, João Vladimir (r. 990–1016)[b].
Tendo alcançando seu apogeu durante o longo reinado do imperador Basílio II, Império Bizantino entrou, logo após a sua morte em 1025, num consistente declínio, particularmente evidente nos Bálcãs. Lá, a eliminação da ameaça constante do Império Búlgaro e a cobrança de impostos excessivos ajudaram a fomentar movimentos de libertação do domínio bizantino.
Vojislav tinha o título de arconte e toparca das fortalezas dálmatas de Zeta e Ston.[2][3]
Na época, os assuntos dos dálmatas, croatas, sérvios e outros povos da região eram supervisionados por estrategos em Naísso, Escópia, Ragusa) e Dirráquio. Boístlabo se encontrava frequentemente com Catalaco Clazomenita, o estratego de Ragusa e, numa dessas ocasiões, raptou-o juntamente com sua corte para que ele fosse o padrinho de batismo de seu filho,[2] o que mostra uma relação próxima entre os líderes nativos e os oficiais bizantinos na zona periférica do império nos Balcãs depois da reconquista de Basílio.[3]
Revoltas
[editar | editar código-fonte]“ | ...Estêvão Boístlabo, arconte dos sérvios, que, não faz muito tempo, escapou de Constantinopla e tomou as terras dos sérvios, banindo Teófilo Erótico | ” |
Por volta de 1034 (de acordo com Escilitzes), os sérvios renunciaram ao jugo bizantino. Estêvão, possivelmente um primo do assassinado João Vladimir, organizou uma revolta durante a confusão depois da morte de Romano III Argiro. Ele foi derrotado e preso na capital entre 1035 e 1036[4] e seu reino foi entregue para o estratego Teófilo Erótico. No final de 1037 ou início de 1038, ele conseguiu escapar da prisão e retornou para Dóclea, onde organizou uma nova revolta, desta vez contra os aliados sérvios do imperador nas regiões vizinhas.[5][6]
Fazendo uso de táticas de guerrilha e criando distrações na forma de outras revoltas, ele conseguiu repelir diversas expedições enviadas para puni-lo e consolidou o controle sobre os principados de Travúnia e Zaclúmia. Assim, em 1040, seu estado já se estendia por toda a costa da Dalmácia, entre Ston, no norte, até sua capital, Escodra, na margem sul do lago de mesmo nome. Ele também mantinha cortes em Trebinje, Kotor e Bar.[7]
Guerras contra os bizantinos
[editar | editar código-fonte]O imperador bizantino Miguel IV, que estava em Tessalônica, esperava receber um carregamento de 10 kentenars de ouro (7 200 nomismas de ouro[8]) vindos do sul da Itália em 1039. Contudo, o navio que trazia a carga encalhou na costa dóclea por causa de uma tempestade no inverno de 1039-1040 e a carga foi tomada por Boístlabo, que se recusou a devolvê-la a Miguel[1][7] Furioso, o imperador, que já havia retomado Dirráquio, enviou o general Jorge Probatas para atacar Boístlabo, mas o exército bizantino não conhecia o território tão bem quanto o príncipe e acabou sendo emboscado nos cânions da região, sofrendo uma derrota total. Relata-se que o filho de Boístlabo, Radoslau, matou o comandante bizantino em combate. Cecaumeno, um estratego enviado em seguida para combatê-lo acabou sendo preso e levado para Ston.
A Revolta de Pedro Deliano em 1040-1042, que se auto-proclamou czar Pedro II da Bulgária dificultou para os bizantinos o envio de uma nova expedição contra a Dóclea, ocupando-lhes as forças por um tempo.
Em 1042, o zupano da Sérvia (um título subordinado e que demonstra a suserania bizantina[7]), "bano da Bósnia" e "príncipe de Hum" Ljutovid, recebeu uma grande quantidade de ouro e prata para apoiar os bizantinos na deposição de Boístlabo.[9] Ljutovid marchou contra a Dóclea em 1043, mas também foi emboscado e derrotado por Vojilau na colina de Klobuk,[10] em Konavli (que era na época parte da Travúnia). Ele se aproveitou da vitória e anexou a maior parte da Zaclúmia e da Travúnia.
O novo imperador, Constantino IX, decidiu atacar a Dóclea com o exército do Tema de Dirráquio e dos temas vizinhos. Comandado por Miguel Anastácio, suas forças foram derrotadas e, assim, Boístlabo assegurou a independência da Dóclea.[11]
Anos finais
[editar | editar código-fonte]Boístlabo reinou em paz até a sua morte em 1043. Ele deixou a esposa e cinco filhos - Goislau , Predimir, Miguel Boístlabo, Saganek e Radoslau[12] -, e foi enterrado na Igreja de Santo André em Prapratna, uma cidade entre Bar e Ulcinj.
A Dóclea permaneceu como o centro do estado sérvio, que já havia substituído (em termos de liderança) a Sérvia, uma posição que ela manteve por poucos anos sob o governo de Miguel enquanto os demais principados sérvios se uniam com a Sérvia sob o comando de Bolcano.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Estêvão Boístlabo Nascimento: ? Morte: 1043
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Títulos reais | ||
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Precedido por: Teófilo Erótico como Estratego da Sérvia |
Príncipe da Dóclea 1040-1043 |
Sucedido por: Miguel I |
Vago Último detentor do título: João Vladimir
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Príncipe dos sérvios 1018-1043 | |
Cargos políticos | ||
Nova criação | Toparca de Zeta e Ston (vassalo bizantino) 1018-1034 |
Sucedido por: Teófilo Erótico |
Notas
[editar | editar código-fonte]- [a] ^ Seu nome é Vojislav (em grego: Βοϊσθλάβος). Ele adicionou o título criado por ele de Stefan, baseado na palavra grega Στέφανος (Stephanos), que significa "coroado". Kekaumenos também o chama de "Boístlabo, o Diocleciano"[13] e "Tribúbio, o Sérvio" (Τριβούνιος ό Σέρβος),[14] um nome que se translitera para o latim como Stephanus Boisthlabus e em português como "Estêvão Boístlabo". Na Crônica do Padre da Dóclea, o autor se refere a ele como Dobroslav.
- [b] ^ João Escilitzes[1] João Zonaras,[15] Jorge Cedreno,[16] Miguel Glica,[17] e Cecaumeno[14] o chamam de "sérvio" (Σέρβος). De acordo com a Crônica do Padre da Dóclea (de confiabilidade duvidosa), Boístlabo nasceu no mês de abril em Brusno, filho do tio de João Vladimir, o knyaz Dragomir (r. 1016-1018), e uma filha do zupano da Ráscia, Ljutomir (é possível que seja uma corruptela de Ljutovid,[18] um adversário de Boístlabo) e foi criado na Bósnia por sua mãe.[5] Seu pai foi sucedido por João em 1016 e reinou até ser morto pelos habitantes de Kotor em 1018.[19]
Referências
- ↑ a b c d Escilitzes, 408-9
- ↑ a b Kekaumenos, ed Litavrin, 170-2
- ↑ a b Paul Magdalino, Byzantium in the year 1000, p. 124
- ↑ Vizantološki institut SANU, „Vizantijski izvori za istoriju naroda Jugoslavije (III tom)“ (fototipsko izdanje originala iz 1967), Beograd 2007 ISBN 978-86-83883-09-7
- ↑ a b Fine, p. 203
- ↑ The Serbs, p. 25
- ↑ a b c The early medieval Balkans, p. 206
- ↑ Tibor Živković, „Portreti srpskih vladara (IX-XII)“, Beograd 2006 ISBN 86-17-13754-1
- ↑ The legend of Basil the Bulgar-slayer, p. 42-43
- ↑ Marko Vego, Naselja bosanske srednjevjekovne države, Svjetlost, 1957. Google Books
- ↑ Cedreno II, col. 275.
- ↑ The early medieval Balkans, p. 213
- ↑ Kekaumenos 108.11-12
- ↑ a b Kekaumenos 104.14
- ↑ Zonaras 17.20.7
- ↑ Cedrenus, ed. Bonn, II, p. 526
- ↑ Glica 594.3-7
- ↑ http://www.scribd.com/doc/18757181/Tibor-Zivkovic-Forging-Unity
- ↑ Fine, p. 202
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Escilitzes, João (1973). Ioannis Scylitzae Synopsis historiarum. [S.l.]: De Gruyter. ISBN 3-11-002285-0
- Stephenson, Paul (novembro de 2006). «Partial Translation of Chronicle of the Priest of Duklja». .Mac. Consultado em 3 de dezembro de 2007. Arquivado do original em 14 de maio de 2011
- Ćorović, Vladimir (2005). «Срби између Византије, Хрватске и Бугарске». Илустрована историја Срба (em sérvio). 1. Belgrado: Politika: Narodna knjiga. ISBN 86-331-2521-8
- Fine, John Van Antwerp (1983). The Early Medieval Balkans: A Critical Survey from the Sixth to the Late Twelfth Century. [S.l.]: University of Michigan Press. ISBN 0-472-08149-7
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Monarcas da Terra Sérvia» (em inglês). Serbian Unity Congress. Consultado em 20 de novembro de 2013
- «Fatos sobre Stefan Voislav, monarca dos sérvios» (em inglês). Consultado em 20 de novembro de 2013