Júlia da Costa
Júlia da Costa | |
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Nome completo | Júlia Maria da Costa |
Nascimento | 1 de julho de 1844 Paranaguá |
Morte | 12 de julho de 1911 (67 anos) São Francisco do Sul |
Residência | São Francisco do Sul |
Nacionalidade | Brasileira |
Cônjuge | Comendador Francisco da Costa Pereira (1871) |
Ocupação | Poetisa e escritora |
Magnum opus | Flores dispersas |
Júlia Maria da Costa (Paranaguá, 1 de julho de 1844 — São Francisco do Sul, 12 de julho de 1911) foi poetisa brasileira e escritora de um livro e crônicas-folhetins.
Reconhecida como a primeira mulher paranaense a publicar um livro, sua obra inaugural, "Flores Dispersas", foi lançada em 1867. Júlia é uma figura importante na história literária do Paraná e do Brasil, sendo uma das primeiras autoras do país a alcançar esse feito, o que a posiciona como uma precursora da literatura feminina no Brasil.[1]
Além de suas poesias, que frequentemente expressavam melancolia e reflexões sobre a condição humana, Júlia da Costa também escreveu crônicas e artigos para jornais e revistas. Entre seus textos, destacam-se comentários sociais e críticas que abordavam temas como a moda, os eventos da época e a vida cotidiana. A escritora era uma mulher à frente de seu tempo, abordando em sua obra temas que questionavam o papel e os limites impostos às mulheres na sociedade do século XIX.
Enfrentou dificuldades ao buscar uma voz em uma época em que a produção intelectual era dominada por homens.[2] Uma de suas citações mais famosas exemplifica isso:
"Ser inteligente é um fardo muito pesado para uma mulher"
A escrita de Júlia Costa frequentemente abordava temas de saudade e tristeza, características do movimento romântico, ao qual pertencia.
Além disso, Júlia era uma figura conhecida na sociedade de sua época, promovendo eventos culturais e literários, como bailes e saraus, onde se destacava por suas opiniões políticas e por sua participação ativa em debates públicos, incluindo a Guerra do Paraguai e a Monarquia.[3]
Embora tenha nascido no Paraná, Júlia viveu a maior parte de sua vida na ilha de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, onde escreveu grande parte de sua obra. Sua influência foi significativa tanto no Paraná quanto em Santa Catarina, e ainda hoje, é lembrada em nomes de ruas e alamedas, como a famosa Alameda Júlia da Costa em Curitiba.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Filha de Alexandre José da Costa e Maria Machado da Costa, Júlia Maria da Costa, demonstrava desde jovem talento literário e um espírito independente. Aos 26 anos, permanecia solteira, o que era incomum para a época.[3]
Casou em 28 de outubro de 1871, em São Francisco do Sul por conveniência e imposição familiar, com um homem rico e trinta anos mais velho, o Comendador Francisco da Costa Pereira, chefe do Partido Conservador da cidade, e viúvo de Anna Maria do Carmo, nascido e batizado na antiga freguesia de São Pedro do Couto de Caparica, arcebispado de Braga, província do Minho, Portugal. Júlia da Costa amava o poeta Benjamim Carvalho d´Oliveira, conhecido como Carvoliva, o qual era cinco anos mais novo. Correspondia-se com ele quase que diariamente durante o namoro e, quando casada, em segredo.[4]
Em uma das cartas, que eram colocadas em esconderijos diversos, tais como o oco de uma velha árvore, Júlia sugeriu uma vez que os dois fugissem, mas Carvoliva acaba por não corresponder mais. Desiludida, Júlia passou a escrever, febrilmente, poemas cada vez mais desesperançados e melancólicos, começou a frequentar mais e mais saraus e festas, a pintar os cabelos de negro (em uma época em que somente meretrizes e artistas o faziam), a pintar o rosto, a usar muitas joias, a participar de campanhas políticas e a publicar em jornais e revistas, tornando-se uma lenda viva em sua pequena cidade.[5]
O casamento com o Comendador também gerou muitas especulações e rumores. Há relatos de que Júlia teria sofrido ofensas do marido, que era 30 anos mais velho, e algumas fontes sugerem que ele teria instalado uma amante na casa onde viviam. [3]
A solidão se tornou cada vez maior depois da morte de seu marido, que a habituara a receber catarinenses ilustres em banquetes e saraus, em um dos quais esteve presente o Visconde de Taunay. Viúva, afastada das festas, Júlia da Costa fechou-se em casa com manias de perseguição. Durante o tempo em que permaneceu enclausurada, planejou escrever um romance e, para tanto, confeccionou grandes painéis de seda coloridos que representavam cenas campesinas, personagens, flores, paisagens de romance e intermináveis tapeçarias que espalhou pelas paredes.[6]
Zahidé Lupinaci Muzart (2001, p.15) oferece detalhes sobre a vida da poetisa: "Lendo suas cartas à família e, sobretudo, as de amor, vemos delinear-se uma personalidade muito interessante: forte, decidida, às vezes audaciosa, antes de mais nada, porém, uma mulher que se antecipou à sua época e que, por isso, muito sofreu. Nascida em um tempo cheio de preconceitos e tabus, e vivendo em uma cidade muito pequena, seu espírito ansioso de liberdade evade-se no sonho, na poesia, nas cartas."[7]
Disputas Regionais e Legado
[editar | editar código-fonte]A história de Júlia da Costa foi também marcada por disputas regionais que emergiram após sua morte, em debate sobre qual estado deveria reivindicar sua herança literária. Enquanto alguns defendiam que Júlia pertencia à cultura paranaense por ter nascido e iniciado seus estudos em Paranaguá, outros afirmavam que ela deveria ser considerada catarinense, já que passou a maior parte de sua vida em São Francisco do Sul, onde desenvolveu a maior parte de sua obra e participou da vida social e política da região.
Essa disputa ganhou força em um contexto de tensões regionais entre os estados do Paraná e de Santa Catarina no início do século XX, especialmente durante a Guerra do Contestado (1912-1916).[8][9]
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Muzzillo, Camila. 1001 ruas de Curitiba. Organizado por Camila Muzzillo. Curitiba. Artes & Textos. 2011. 240p GAZETA DO POVO.
- WOELLNER, Adélia Maria. A voz da mulher na literatura. 2007. Disponível em Revista Unioeste [10]
- IPPUC. Nome de Rua. Disponível em Ippuc.
Referências
- ↑ «PodParaná #149: Quem foi Júlia da Costa, considerada a primeira poetisa do Paraná». G1. 22 de setembro de 2023. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 10 de dezembro de 2023
- ↑ «Quem foi: Júlia da Costa | Curitiba Space - Sinta a sua cidade». Curitiba Space. 1 de setembro de 2016. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2024
- ↑ a b c «Conheça a história da poeta Júlia da Costa na Revista Helena». Biblioteca Pública do Paraná. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 14 de abril de 2024
- ↑ «Poetisa Julia da Costa, personalidade importante da nossa cultura». 1 de julho de 2022. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 29 de setembro de 2024
- ↑ «Júlia da Costa - Disciplina - Lingua Portuguesa». www.portugues.seed.pr.gov.br. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 8 de agosto de 2022
- ↑ «Túmulo de Júlia da Costa é "descoberto" | Gazeta do Povo». web.archive.org. 11 de dezembro de 2017. Consultado em 29 de setembro de 2024. Arquivado do original em 11 de dezembro de 2017
- ↑ Muzart, Zahidé Lupinacci. «A liberdade na arte». Biblioteca Pública do Paraná. Consultado em 30 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 10 de junho de 2024
- ↑ «JÚLIA DA COSTA – UM GRANDE IDEAL DA POESIA PARANAENSE». 6 de julho de 2024. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 29 de setembro de 2024
- ↑ Cultural, Toca (22 de agosto de 2023). «Estreia do Curta "JÚLIA DA COSTA" será dia 26 de agosto, em Curitiba». Toca Cultural. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 29 de setembro de 2024
- ↑ Woellner, Adélia Maria (2007). «A Voz da Mulher na Literatura». Revista de Literatura, História e Memória (3): 09–34. ISSN 1983-1498. doi:10.48075/rlhm.v3i3.1175. Consultado em 29 de setembro de 2024. Cópia arquivada em 27 de setembro de 2024