Nonada - Jornalismo Cultural
O Nonada (anteriormente denominado Nonada - Jornalismo Travessia) é um veículo de jornalismo independente que entende a cultura para além da produção artística. Em atividade desde 2010 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, a empresa entende que é papel do jornalismo ecoar as múltiplas vozes que formam a cultura, com enfoque em pautas sobre processos culturais, políticas culturais, urbanismo e memória, diversidade e direitos humanos. Em 2019, fundou o Observatório de Censura à Arte, que mapeia casos de censura recentes no Brasil. Ao longo de sua história, já recebeu prêmios e reconhecimentos como o Prêmio Agente Jovem da Cultura – MinC (2012), o Edital Sesc Cultura Convida – projeto Cartografias da Censura à Arte (2020) e o Edital Criação e Formação – Fundação Marcopolo e Sedac/RS – projeto Revista Nonada, sobre viver de cultura (2021).
Linha editorial
[editar | editar código-fonte]Cultura ou travessia. Guimarães Rosa não viveu tempo suficiente para criar uma palavra que matasse a charada. O Nonada – Jornalismo Cultural tenta ser uma espécie de resposta para essa dúvida. Travessia é, antes de tudo, amadurecimento. Trata-se de um caminho que precisa ser superado para fornecer sentido a uma existência. Nós acreditamos que o jornalismo cultural precisa amadurecer para vencer os obstáculos que os cercam. E talvez o principal deles seja lidar com as suas diferenças de concepções.
Uma dicotomia fundada por intelectuais alemães no século XVIII entre os termos Zivilization e Kultur ainda pode ser utilizada para expressar a oposição entre jornalismo versus jornalismo cultural. Mesmo que todo o jornal impresso diário seja um conjunto de elementos simbólicos, a maior parte dele trata de aspectos materiais e econômicos próximos à noção de civilização. Já o jornalismo cultural poderia se aproximar da noção de cultura ao expressar ideias, valores e as formas de expressão artísticas de determinados grupos sociais. O problema é que devido a todo um processo contemporâneo de comercialização e a criação da ideia do bem cultural – observada na grande proliferação de prestação de serviços por meio de cadernos culturais – o jornalismo cultural se vê mais próximo da noção de Zivilization.
O Nonada entende essa dicotomia intrínseca ao jornalismo que cobre a cultura e pretende aprender e refletir sobre isso. Por que delimitar a cultura quando ela é viva, pulsante e em constante transformação? Quando ela é plural? Aprendemos ao longo desses anos que a diversidade e a profundidade nos assuntos são essenciais para continuarmos existindo: aprendemos sim na prática e em conjunto, a partir das diversidades de visões das pessoas que compõem a equipe. E isso demorou tempo e muita reflexão. [1]
Formada por jornalistas, a equipe continua aprendendo e descobrindo novas formas de cultura. Cultura popular, cultura LGBTQIA+, cultura feminista, cultura quilombola. O Brasil é esse mosaico infinito de expressões, e é isso que buscamos conhecer cada vez mais e representar em nossas matérias. Cultura para além do sinônimo estrito de obra artística. Cultura como o conjunto de elementos que representam as mais variadas formas de viver.
História
[editar | editar código-fonte]O Nonada surgiu em 2010 dentro da faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ao longo dos anos, passou a integrar o jornalismo profissional. Ao longo de 10 anos, se aprofundou na intersecção entre cultura e direitos humanos, alcançando prêmios e reconhecimentos como o Prêmio Ari de Jornalismo e a inclusão no mapa do Jornalismo Independente. [2]. Além do jornalismo, também promove eventos culturais na cidade de Porto Alegre, como saraus e sessões de cinema. [3] O veículo também realiza cursos com foco em jornalismo, escrita criativa e cultura, em espaços como o Santander Cultural.[4]
Na área do jornalismo, o Nonada vem estreitando o laço com outros veículos e participando de redes. Em 2020, foi selecionado para o programa Diversidade nas Redações, da Énois Conteúdo, com financiamento do Google Initiative.[5] Em 2021, publicou, com os veículos participantes do programa, uma reportagem na Folha de S. Paulo sobre cotas no funcionalismo público.[6] No mesmo, ano, foi um dos veículos selecionados para um curso pela Fundación Gabo.[7]
Em 2020, o Nonada lança sua primeira revista impressa na área do jornalismo cultural, em uma edição especial distribuída gratuitamente em Porto Alegre e região.[8]
Lista de prêmios e reconhecimentos:
- Prêmio Agente Jovem da Cultura – MinC (2012)*
- Prêmio Ari de Jornalismo – menção honrosa (2016)
- Prêmio Ages Amigo da Escrita categoria imprensa – finalista (2018)
- Edital Sesc Cultura Convida – projeto Cartografias da Censura à Arte (2020)*
- Prêmio Trajetórias Culturais LAB POA – categoria Livro e Literatura (2020)*
- Prêmio Trajetórias Culturais LAB POA – categoria Memória e Patrimônio (2020)*
- Edital Criação e Formação – Fundação Marcopolo e Sedac/RS – projeto Revista Nonada, sobre viver de cultura (2021)
*Prêmios direcionados a pessoa física e recebidos pelos editores do Nonada
Observatório de Censura à Arte
[editar | editar código-fonte]O Observatório de Censura à Arte é um projeto de cunho jornalístico criado pelo Nonada e voltado a mapear os casos de censura às expressões artísticas no Brasil desde o episódio do Queermuseu, escolhido como marco devido à repercussão emblemática.[9][10] Entre as principais conclusões do relatório, que é atualizado mensalmente conforme novos casos são apurados, está a presença de obras e/ou artistas de todas as regiões de país entre as vítimas de censura. Em comum, as obras censuradas têm como temáticas a nudez, questões feministas, antirracistas e relativas à comunidade LGBT, além de críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Só em 2019, o Observatório de Censura à Arte registrou pelo menos 23 denúncias de cerceamento da liberdade artística no país. Parte considerável delas envolvia a temática LGBTI+.[11]
O Observatório considera como censura obras que “visam alterar, modificar, silenciar e interditar manifestações de produção simbólica”, segundo os critérios da professora da USP. Maria Cristina Castilho Costa. A iniciativa segue preceitos jornalísticos de apuração e checagem para a catalogação e continua recebendo denúncias.[12]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Mídias Alternativas em Alta, Jornal do Comércio/RS, 06 de março de 2017
- ↑ Viana, Natália. «Mapa do Jornalismo Independente». Agência Pública
- ↑ «Cinemateca Capitólio promove sessão de "Twin Peaks"». GZH. 12 de maio de 2017. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ «Curso de jornalismo alternativo propõe criação de veículos independentes». Coletiva.net - Tá todo mundo aqui. 12 de abril de 2016. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ «Diversidade nas Redações – Énois | Laboratório de Jornalismo». Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ «Apagão de dados e ausência de leis de cotas promovem desigualdade racial nos serviços públicos municipais». Folha de S.Paulo. 7 de maio de 2021. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ FNPI (20 de maio de 2021). «Seleccionados al programa de formación 'Innovación y periodismo local en América Latina'». Fundación Gabo (em espanhol). Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ Povo, Correio do. «Nonada lança revista impressa gratuita sobre viver de cultura». Correio do Povo. Consultado em 3 de julho de 2021
- ↑ «Censura artística no Brasil regista mais de 30 casos em dois anos». www.dn.pt. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ «Censura às artes: é possível no Brasil?». www.folhape.com.br. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ Continente, Revista. «Políticas culturais, as minorias e o ódio à democracia». Revista Continente. Consultado em 25 de maio de 2021
- ↑ RS, Literatura (8 de setembro de 2020). «Observatório de Censura à Arte registra mais de 50 casos em um ano». Literatura RS. Consultado em 25 de maio de 2021