O Navio Negreiro
O Navio Negreiro | |
---|---|
Ilustração de um navio negreiro | |
Autor(es) | Castro Alves |
Idioma | português |
País | Brasil |
Lançamento | 1870 |
O Navio Negreiro (Tragédia no Mar) é um poema de Castro Alves e um dos mais conhecidos da literatura brasileira. O poema descreve com imagens e expressões terríveis a situação dos africanos arrancados de suas terras, separados de suas famílias e tratados como animais nos navios negreiros que os traziam para ser propriedade de senhores e trabalhar sob as ordens dos feitores.
Foi escrito em São Paulo, datada de 18 de abril de 1868,[1] quando o poeta tinha vinte e dois anos de idade, e quase vinte anos depois da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos, em 4 de setembro de 1850.
O navio negreiro é composto de seis partes, com um total de 34 estrofes e alterna métricas variadas para obter o efeito rítmico mais adequado a cada situação retratada no poema.
Publicação
[editar | editar código-fonte]Os versos d'O Navio Negreiro foram publicados na obra Os Escravos, obra que o poeta tencionava publicar contendo, ainda, uma parte final com versos românticos sob o título "A Cachoeira de Paulo Afonso" e que chegou a ser publicada separadamente em 1876 e desta forma até as edições comemorativas do cinquentenário do poeta.[1]
Afrânio Peixoto, na edição de sua Obras Completas de Castro Alves, informa que sua versão fora feita de acordo com manuscrito pertencente ao cunhado do poeta, Augusto Álvares Guimarães e cópia mantida por sua irmã e esposa deste, Adelaide, e que fora publicado originalmente na edição número 200 do Jornal da Tarde, em 23 de junho de 1870.[1] Ele informa, ainda, que em 1880 foi feita por Serafim José Alves, no Rio de Janeiro, uma edição intitulada "Vozes d'África - Navio Negro (Tragédia no Mar)" e edições seguintes, onde "o poema vem sendo reproduzido com absurdas e profundas alterações, na ordem das estrofes, a saber: 1 a 11; seguem-se 16 a 23; seguem-se 12 a 15; seguem-se 24 a 34. A divisão em partes, ou cantos, também foi modificada".[1] Em sua edição Peixoto diz restituir a ordem originalmente publicada em 1870 e confirmada pelo manuscrito obtido com a família.[1]
Análises e crítica
[editar | editar código-fonte]Segundo Manuel Bandeira este poema, junto a "Vozes d'África", deveria pertencer ao livro Os Escravos e que ambos são os "poemas em que o Poeta atingiu a maior altura de seu estro".[2] Completa sua análise informando que nele "evoca o Poeta os sofrimentos dos negros na travessia da África para o Brasil. Sabe-se que os infelizes vinham amontoados no porão e só subiam ao convés uma vez ao dia para o exercício higiênico, a dança forçada sob o chicote dos capatazes", situação que Castro Alves sublimou nos versos:[2]
"Era um sonho dantesco!... o tombadilho,
que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar!...
Tinir de ferros, estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
(...)
E ri-se a orquestra irônica e estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais..."
Bandeira termina sua análise desta poesia falando de seu desfecho: "O poema conclui com três oitavas reais, num misto de revolta e tristeza ao assinalar que a bandeira emprestada «para cobrir tanta infâmia e covardia» era o pendão brasileiro".[2]
"Inspiração" em Heine
[editar | editar código-fonte]Ainda no século XIX foi feita alusão de que o poeta teria feito ali uma "versão, ou transposição, ou reminiscência" dos versos de Henri Heine em "O Negreiro"; já em 1896 Múcio Teixeira rebateu tais "insinuações" na seu livro "Vida e obras de Castro Alves", corroborado por Afrãnio Peixoto: "Além de uma cena terrível do tráfico de escravos (que nem Heine, nem Castro Alves, inventaram) a ideia que domina nos dois é o contraste trágico da dança dos desgraçados, ainda a chicote, para distração da nostalgia que os fazia morrer. Certamente realidade contada por algum negreiro, que inspirou a ironia de Heine, como a piedade de Castro Alves."[1]