Preta Ferreira
Preta Ferreira | |
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Nascimento | Janice Ferreira Silva 1984 Bahia |
Cidadania | Brasil |
Etnia | negros |
Ocupação | cantora, compositora, atriz, produtora cinematográfica, ativista, escritora, realizadora de cinema |
Janice Ferreira da Silva, mais conhecida como Preta Ferreira (Bahia, 1984), é uma defensora dos direitos humanos, ativista por moradia, multiartista e escritora brasileira.[1][2] Foi presa em 2019, por mais de 100 dias, por ser atuante no Movimento Sem Teto do Centro (MSTC) e na Frente de Luta por Moradia (FLM) da cidade de São Paulo, Brasil.[3][4][5][6] Tornou-se um símbolo da criminalização dos movimentos sociais e defensores dos direitos humanos no Brasil.[7][8] Sua prisão mobilizou Angela Davis e Papa Francisco em sua defesa pública.[9][10][11][12][13][14][15] Recebeu o Prémio Dandara da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (2019) e prêmio de atuação no Festival de Cinema de Gramado.[16][17][18]
Seu livro, Minha Carne - diário de uma prisão, contou com a participação de Conceição Evaristo, Maria Gadú, e Erica Malunguinho, além de Davis e do Papa Francisco.[19][14][15][20][21] Ela é personagem retratada na obra A ocupação, de Julián Fuks.[22][23]
Percurso
[editar | editar código-fonte]Baiana, Preta nasceu Janice Fereira da Silva, terceira de oito filhos de sua mãe, Carmen Ferreira da Silva.[20] Saiu da Bahia na adolescência e se mudou para São Paulo, onde desde cedo, trabalhou para ajudar na complementação da renda familiar.[24] Formou-se em publicidade e fez carreira como cantora e produtora de elenco.[21] Além de cantora, é compositora, atriz e produtora.[20]
A luta em movimentos sociais que batalham por moradia aos sem-teto se construiu junto com a carreira artística.[21]
É uma das lideranças da Ocupação 9 de Julho, no centro de São Paulo, onde vivem centenas de famílias que não têm acesso à moradia – um dos diretos fundamentais do ser humano, previsto na Constituição Federal brasileira de 1988.[25]
Activismo
[editar | editar código-fonte]Tornou-se ativista aos 14 anos, altura em que foi morar com a mãe em São Paulo e entrou em contacto com o Movimento Sem Teto. Juntamente com a mãe e o irmão lidera a Frente de Luta por Moradia. [26][27]
Em 2019, após a derrocada do edifício Wilton Paes de Almeida que havia sido ocupado pelo Movimento de Luta Social por Moradia, vários lideres de movimentos de moradia são presos.[20][28] Entre eles, Preta Ferreira que, no dia 24 de Junho, foi detida, acusada de extorsão e associação criminosa, pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) da Polícia Civil. A mãe, Carmen Silva, líder do Movimento Sem Teto do Centro, e o irmão, Sidney Ferreira da Silva, também são presos. [29][30][27]
No tempo em que esteve detida nunca foram apresentadas provas que comprovassem a sua culpa.[25][31]
Ficou 108 dias presa na Penitenciária Feminina de Sant'Anna, durante os quais escreveu seu primeiro livro, Minha Carne, sobre a sua experiência na prisão.[8][20][26]
Obras
[editar | editar código-fonte]Preta Ferreira é autora do livro Minha Carne - Diário de uma prisão. [32][33] A obra contou com textos escritos por Angela Davis, Conceição Evaristo, Maria Gadú, Erica Malunguinho, entre outros, além de uma carta de Papa Francisco.[14][15][19][20][21]
Participação
[editar | editar código-fonte]Preta e sua mãe, Carmen Silva, são personagens do livro de ficção heterotópica de Julián Fuks, A ocupação.[22]
Filmografia Seleccionada
[editar | editar código-fonte]- 2019 - "Minha Carne", Clipe musical (atriz).[34]
- 2020 - Receita de Caranguejo, curta-metragem (atriz).[34]
- 2020 - Cidade Pássaro, longa-metragem (atriz e diretora).[34]
Prémios e reconhecimentos
[editar | editar código-fonte]- 2019 - Prémio Dandara da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. [35][16]
- 2020- Prémio especial do júri do Festival de Cinema de Gramado pela actuação em Receita de Caranguejo [17][18]
Referências
- ↑ Annoni, Gabriela Moreira (2019). «Produção do espaço e gênero : um olhar sobre as mulheres de Gesteira no processo de construção do Plano Popular do Reassentamento Coletivo.». Monografia de Arquitetura e Urbanismo - UFOP. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ Santana, Bianca. 2019. "Prefácio". In: Federici, Silvia. Mulheres e caça às bruxas. Boitempo Editorial.
- ↑ Silva, Mariana Amalia de Carvalho Castro e (28 de julho de 2021). «Estar em campo: Notas etnográficas para um artesanato pandêmico». REVISTA ZABELÊ- DISCENTES PPGANT/ UFPI (1): 139–153. ISSN 2764-0787. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ «Preta Ferreira (Janice Ferreira da Silva)». Front Line Defenders. 4 de novembro de 2019. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ Sudré, Lu. «"Onde está a Justiça?", diz Preta Ferreira, presa há mais de 70 dias sem provas». Brasil de Fato. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ Simões, Nataly. «Conheça Preta Ferreira, líder de movimento por moradia presa desde junho». Alma Preta Jornalismo. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ CartaCapital (12 de janeiro de 2020). «Memória da resistência: a criminalização das lideranças da moradia». CartaCapital. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b «Preta Ferreira». Geledés. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ Dos Santos, Simone Borges; Sampaio, Alan Da Silva (17 de dezembro de 2020). «A LIBERDADE DA FILÓSOFA ANGELA DAVIS». Revista Ideação (42). 356 páginas. ISSN 2359-6384. doi:10.13102/ideac.v1i42.5071. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ Martinelli, Flávia. «Angela Davis visita Preta Ferreira: "Quero saber como posso ajudar"». mulherias.blogosfera.uol.com.br. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ Redação da Marie Clarie (19 de outubro de 2019). «Angela Davis critica Bolsonaro e destaca Marielle e Preta Ferreira como símbolos de liberdade». Marie Claire. Consultado em 4 de maio de 2022
- ↑ «Os diários de Preta Ferreira e Angela Davis escritos na prisão». Quatro Cinco Um: a revista dos livros. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ Vasconcelos, Câe. «Preta Ferreira estreia como escritora com 'Minha Carne', livro sobre seus dias de cárcere». br.noticias.yahoo.com. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ a b c Sudré, Lu. «"Minha carne" é um grito de liberdade, diz Preta Ferreira sobre lançamento de livro». Brasil de Fato. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ a b c Wesley, Elena. «Minha Carne: Preta Ferreira construiu moradias populares, foi encarcerada e, agora, quer reduzir pena de presas com leitura». www.uol.com.br. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ a b «Projeto de Resolução». alerjln1.alerj.rj.gov.br. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b Disner, Elton. «2020». 49° Festival de Cinema de Gramado. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b «Preta Ferreira é premiada no Festival de Gramado. 'Tentaram me silenciar, voltei gritando'». Rede Brasil Atual. 28 de setembro de 2020. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b «Preta Ferreira estreia como escritora com 'Minha Carne', livro sobre seus dias de cárcere». Ponte Jornalismo. 18 de janeiro de 2021. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ a b c d e f Casarin, Rodrigo. «Diário da prisão: Preta Ferreira mostra o Brasil que nunca saiu da ditadura». www.uol.com.br. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ a b c d Ferreira Silva, Adriana (18 de setembro de 2020). «Preta Ferreira lança memórias em que descreve os dias de aflição na prisão». Consultado em 4 de maio de 2022
- ↑ a b Lehnen, Leila (2022). «Occupied Spaces, Occupied Texts: Literary Heterotopias and the Right to the City» (em inglês). ISSN 1931-8006. Consultado em 5 de maio de 2022
- ↑ Coelho, L. R. (2022). “Era Najati quem eu buscava nas páginas”: o eu e o outro em A ocupação, de Julián Fuks. Nau Literária, 17(3), 54–74.
- ↑ B, CADERNO (19 de abril de 2021). «Pedra e Ar». CadernoB. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b «A militante, cantora e atriz Preta Ferreira fala de racismo na série de entrevistas "Um Certo Alguém"». Noite dos Museus. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b Veiga, Gustavo (8 de agosto de 2020). «Preta Ferreira, activista afroamericana: "En Brasil, cada 23 minutos muere un George Floyd". | Lidera el Movimiento sin Techo del Centro». PAGINA12. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b F.B (15 de julho de 2019). «"O sonho do 'pobre feliz' é viver no centro da cidade, perto do trabalho"». EL PAÍS. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Líder sem-teto presa há 67 dias em SP pede habeas corpus ao STJ». G1. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ Betim, Felipe (15 de julho de 2019). «Ocupação 9 de julho pende entre apoio de vizinhos abastados e perseguição do Estado». EL PAÍS. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «SP prende líderes de movimentos de moradia por suspeita de aluguéis ilegais». noticias.uol.com.br. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «Preta, Sidnei e Maria do Planalto serão soltos». Sindicato dos Bancários de SP. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ Ferreira, Preta (11 de dezembro de 2020). Minha carne: Diário de uma prisão. [S.l.]: Boitempo Editorial. ISBN 9786557170205
- ↑ «Boitempo Editorial». www2.boitempoeditorial.com.br. Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ a b c «Preta Ferreira». MUBI (em inglês). Consultado em 3 de maio de 2021
- ↑ «A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RESOLVE: Art. 1º. Fica concedido o Prêmio Dandara para Janice Ferreira da Silva, conhecida com Preta Ferreira.». 15 de outubro de 2019
Ligações Externas
[editar | editar código-fonte]- Podcast Pela Cidade, com Preta Ferreira, no projeto LabCidade da FAU-USP
- Rede TVT | Giro Nordeste: entrevista a Preta Ferreira (2021)