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Programa Nuclear Paralelo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O, na época, ex-presidente Lula visitando o Projeto do Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (LABGENE), no Centro Experimental Aramar, local da fabricação dos geradores de vapor.[1]

Em 1979 teve início o Programa Nuclear Paralelo, desenvolvido pela Marinha e apoiado pelo IPEN/CNEN-SP (antigo IEA) com o objetivo de desenvolver um submarino de propulsão nuclear. O objetivo do programa era assegurar ao país o domínio completo do ciclo do combustível nuclear, preferencialmente através do uso de tecnologias desenvolvidas no país. As três armas dedicaram-se a opções diversas, mas só a Marinha pareceu estar em condições de realizar atividades em escala industrial.

O programa nuclear paralelo brasileiro nasceu das frustrações de um acordo nuclear com o qual o governo brasileiro almejava atingir, senão a independência, pelo menos a autonomia no setor. Pressionados por interesses comerciais, os alemães concordaram em vender ao Brasil o ciclo completo do combustível nuclear, incluindo itens sensíveis como o enriquecimento de urânio e o reprocessamento de plutônio, através dos quais os militares poderiam chegar à fabricação de bombas atômicas. Sob protesto dos Estados Unidos, a Alemanha obrigou o Brasil a assinar, em 1976, um acordo tripartite com a Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena, Áustria.

Esse acordo de salvaguardas, assim como o acordo nuclear, era inédito: estipulava que os controles internacionais se estenderiam também sobre qualquer desenvolvimento posterior de tecnologias adquiridas dos alemães. As 'salvaguardas tecnológicas', se aplicadas à risca, implicariam também em submeter a inspeções da agência quaisquer instalações ou setores nacionais que entrassem em contato com qualquer elemento trazido pelo acordo com a então Alemanha Ocidental.

Em menos de cinco anos após a assinatura do acordo surgiu um forte consenso - não apenas entre os tradicionais críticos da comunidade científica - de que o acordo com a Alemanha, na verdade, interrompia o desenvolvimento da tecnologia nuclear brasileira. Forte impacto sobre os militares causou o fato de que o país, embora desenvolvesse com os alemães um sistema de enriquecimento de urânio por jato centrifugado (o jet nozzle) - de eficiência contestada por cientistas e técnicos - continuava fortemente dependente do estrangeiro para o fornecimento de combustível nuclear (e sujeito a pressões, como a Holanda mostrou ao presidente Geisel em 1977/78).

Uma das primeiras medidas para contornar essa restrição foi a remoção do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, o Professor Hervásio de Carvalho, que não era considerado um incentivador da tecnologia nacional. Logo após o início do governo Figueiredo, um grupo integrado, entre outros, pelo Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, o Coronel José Alberto Albano Amarante e Cláudio Rodrigues, superintendente do IPEN, em São Paulo conseguiu sua remoção, substituindo-o pelo Dr. Rex Nazaré Alves.[2]

Outra medida adotada foi a aceleração do esforço tecnológico próprio, através do envio de pesquisadores brasileiros ao exterior. Entre 1979 e 1983 foram concedidas 700 bolsas para cientistas brasileiros estudarem na França, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha e na Argentina. Os estudantes eram civis e militares. Desse grupo, retornaram ao Brasil 55 doutores, 396 mestres e 252 especialistas em áreas como segurança de reatores, materiais nucleares, ampliação de técnicas nucleares, infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento, além de recursos humanos.

"Conseguimos uma incrível evolução e montamos um programa autônomo por causa da criatividade dos nossos pesquisadores", disse um dos coordenadores do programa. O programa nuclear paralelo, por isso mesmo, possuía um nível excepcionalmente elevado de autonomia tecnológica, estimada em até 80% - resultado principal do casamento entre militares determinados em dominar o ciclo do combustível nuclear com técnicos do setor. A ida do programa para supervisão militar propiciou o incentivo a independência cada vez mais forte.

O Programa Nuclear Paralelo começou a se tornar público em 1986, quando uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo revelou a existência de cisternas e covas na Serra do Cachimbo, uma delas com 320 metros de profundidade, para a realização de testes nucleares. Nas investigações do Ministério Público e do Congresso que se seguiram à denúncia, descobriu-se a existência de contas bancárias secretas que eram conhecidas dentro do Programa Nuclear Paralelo pelo nome de Delta.[3]

Em setembro de 1987, o presidente José Sarney anunciou o domínio ciclo do urânio no país, alcançado pelos pesquisadores envolvidos no programa. Em 1988, a Nuclebrás é extinta e o programa é incorporado às pesquisas oficiais. O controle de Angra 1 e do canteiro de obras de Angra 2 e 3 foi transferido para a estatal Furnas. Com a venda da Eletrobrás Furnas foi criada a Eletrobras Termonuclear ou Eletronuclear, uma estatal sem vínculos à CNEN, que gere as atividades em Angra, ainda obedecendo aos acordos firmados com a Alemanha (através da Siemens).

Na entrevista que deu ao programa Fantástico, da Rede Globo, José Sarney contou que, ao assumir o governo, descobriu que havia instalações nucleares na Serra do Cachimbo, no oeste do estado do Pará. O ex-presidente afirmou que o assunto era "segredo de Estado", e por isso não podia ser divulgado. Também em entrevista ao programa, José Luiz Santana, que substituiu Rex Nazaré Alves na presidência da CNEN, afirmou que mais de 50 equipes chegaram a ser mobilizadas para fazer a bomba, artefato que teria potência equivalente às ogivas nucleares lançadas pelos Estados Unidos no Japão.[carece de fontes?]

Só em 1990 foi fechado um túnel construído clandestinamente para a realização de testes nucleares na Serra do Cachimbo. O presidente Fernando Collor de Mello, em ato público no início de setembro, colocou simbolicamente uma pá de cal sobre a entrada do buraco e ordenou sua destruição (haveria uma suposta detonação de um "artefato nuclear" no dia 7 de setembro do mesmo ano). Os militares esconderam do presidente a existência de um segundo túnel, que estava pronto para um "teste", túnel esse que foi destruído alguns meses depois.

Notas e referências

  1. (em português) Defesanet - Presidente Lula garante prioridade ao programa nuclear da Marinha. Acessado em 2 de Novembro de 2010.
  2. Patti, Carlo (2014). «O programa nuclear brasileiro». FGV. FGV CPDOC. Consultado em 2 de agosto de 2024. O programa nuclear da Marinha teve início em 8 de março de 1979. No entanto, o programa paralelo teve início em 1977, com o tenente-coronel José Alberto Albano do Amarante, da Força Aérea. Amarante era doutor em física, e, naquela época, havia muita expectativa de enriquecer urânio usando laser 
  3. Patti, Carlo (2014). «O programa nuclear brasileiro». FGV. FGV CPDOC. Consultado em 2 de agosto de 2024. O programa nuclear da Marinha teve início em 8 de março de 1979. No entanto, o programa paralelo teve início em 1977, com o tenente-coronel José Alberto Albano do Amarante, da Força Aérea. Amarante era doutor em física, e, naquela época, havia muita expectativa de enriquecer urânio usando laser 

Ligações externas

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