Sergio Miceli
Sergio Miceli Pessôa de Barros (Rio de Janeiro, 16 de maio de 1945) é um sociólogo, escritor e professor brasileiro,[1] membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).[2]
Sergio Miceli | |
---|---|
Nome completo | Sergio Miceli Pessôa de Barros |
Nascimento | 16 de maio de 1945 (79 anos) Rio de Janeiro, RJ |
Residência | São Paulo |
Nacionalidade | Brasil |
Cônjuge | Heloisa André Pontes |
Alma mater | Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro |
Ocupação | sociólogo, professor, escritor |
Biografia
[editar | editar código-fonte]TRajetória acadêmica
[editar | editar código-fonte]Nascido na cidade do Rio de Janeiro, graduou-se em Ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em 1967.[3][4][5]
Mudou-se para cidade de São Paulo, para fazer seu mestrado na Universidade de São Paulo (USP), onde obteve a titulação no ano de 1971, com A Noite da Madrinha - Ensaio sobre a Indústria Cultural no Brasil, sob a orientação de Leôncio Martins Rodrigues.[6] A dissertação era a primeira a falar de indústria cultural dentro da sociologia da USP e foi um marco para disciplina.[7] Seguindo a tradição de Florestan Fernandes as pautas dos projetos eram até então voltadas para os processos industriais, sindicais e conflitos entre o Brasil agrário e o moderno, segundo a dialética materialista de Karl Marx.[8]
Ainda em 1971, tornou-se professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), onde permaneceu até 1986.[9]
Em 1978, obteve dupla titulação no doutorado, pela USP, orientado por Leôncio Martins Rodrigues, e pela École des hautes études en sciences sociales, sob a orientação de Pierre Bourdieu, com a tese Intelectuais e Classe Dirigente no Brasil, 1920-1945.[9][10][11][12] A tese de doutorado foi inovadora, pois pela primeira vez um sociólogo via os intelectuais brasileiros segundo seus aspectos objetivos da vida material, condições sociais e trajetórias desses autores, atrelados às obras produzidas.[13][14]
Miceli apresentou as premissas do filósofo, antropólogo e sociólogo Pierre Bourdieu à USP em um momento em que as teorias de Karl Marx estavam em alta na universidade.[15] Foi o responsável pelo fortalecimento da sociologia da cultura no âmbito paulista e de setores antes pouco privilegiados, como a sociologia da arte.[16]
Defendeu sua tese de livre-docência, A Elite Eclesiástica Brasileira, 1890-1930, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1986.[17]
Tornou-e professor da USP a partir de 1989, mesmo ano em que se deu a publicação da História das Ciências Sociais no Brasil (vol.1, 1989; vol.2, 1995), obra coletiva que coordenou no Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (IDESP) e que reuniu pesquisadoras e pesquisadores como Lilia Schwarcz, Mariza Corrêa, Heloisa Pontes, Maria Arminda do Nascimento Arruda, Fernando Limongi e Maria Hermínia Tavares de Almeida, entre outros.[18][9]
Foi professor visitante da Escola Nacional de Antropologia e História do México, da Universidade da Flórida (1987-1988), da Universidade de Chicago (1991 - 1992), da Universidade Stanford (2001-2002) e da École des Hautes Études en Sciences Sociales (2004-2005).[9][11][19][20]
Atualmente é docente nos cursos de pós-graduação da Universidade de São Paulo.[21]
Foi secretário executivo da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Ciências sociais (Anpocs), entre 1983 e 1988.
Também é comendador da República e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).[22][23]
Vida pessoal
[editar | editar código-fonte]Sergio Miceli é casado com a antropóloga Heloisa André Pontes.[24]
Publicações
[editar | editar código-fonte]Sergio Miceli é autor ou coautor de mais de 40 livros. Também organizou coletâneas, destacando-se A economia das trocas simbólicas, de Pierre Bourdieu, e escreveu inúmeros artigos. [25]
Livros (lista parcial)
[editar | editar código-fonte]- A noite da madrinha. Perspectiva, 1972.[26]
- Poder, sexo e letras na República Velha: estudo clínico dos anatolianos, Perspectiva, 1977.[27]
- Estado e cultura no Brasil, Editora Difel, 1984.[28]
- Política cultural comparada, Fundação Nacional de Artes (FUNARTE), 1985.[29]
- Imagens Negociadas. Retratos da Elite Brasileira (1920-40). Companhia das Letras, 1996.[30]
- A economia das trocas linguísticas, Editora da Universidade de São Paulo. Companhia das Letras, 1996.[31]
- O que ler na ciência social brasileira, Editora Sumaré, 1999.[32]
- Intelectuais à brasileira, Companhia das Letras, 2001.[33]
- Nacional estrangeiro: história social e cultural do modernismo artístico em São Paulo, Companhia das Letras, 2003.[34][35]
- A elite eclesiástica brasileira: 1890-1930, Companhia das Letras, 2009.[36]
- Vanguardas em retrocesso: ensaios de história social e intelectual do modernismo latino-americano, Companhia das Letras, 2012.[37]
- Cultura e sociedade: Brasil e Argentina, Editora da Universidade de São Paulo, 2014.[38]
- Sonhos da periferia, Editora Todavia, 2018.[39]
- Retratos latino-americanos: a recordação letrada de intelectuais e artistas do século XX, Editora SESC, 2019.[40]
- A Força do Sentido. São Paulo : Perspectiva, 2022.
- Lira mensageira: Drummond e o grupo modernista mineiro. Todavia, 2022.[41]
Prêmios e títulos
[editar | editar código-fonte]- 2012 – Prêmio Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) 2011 de Orientador da Melhor Tese de Doutorado em Sociologia do Brasil (Dmitri Cerboncini Fernandes).[42]
- 2010 – Ganhador da Ordem do Rio Branco.[43]
- 2010 – Eleito membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC).[23]
- 2005 – Ordem Nacional do Mérito Científico - Classe Comendador, Presidência da República/Ministério da Ciência e Tecnologia.[44]
- 2004 – Escolhido para a Cátedra Sergio Buarque de Holanda, Maison des Sciences de l'Homme.[45]
- 2001 – Fellow, Center for Advanced Studies in the Behavioral Sciences, Palo Alto, Califórnia.[20]
- 1992 – Professor-Titular de Sociologia, USP.[3]
- 1988 – Prêmio de melhor obra em Ciências Sociais para o livro A elite eclesiástica brasileira, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).[17]
- 1981 – Bolsa para o Projeto The Sociology.[46]
Referências
- ↑ «SÉRGIO MICELI». Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «Membros da Academia Brasileira de Ciências». Academia Brasileira de Ciências. Consultado em 11 de novembro de 2014. Arquivado do original em 11 de novembro de 2014
- ↑ a b «Sergio Miceli». Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «Rio de Janeiro». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «Sergio Miceli». Todavia. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «A noite da madrinha: e outros ensaios sobre o éter nacional (2005)». Universidade de São Paulo. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Rocha, Ricardo (9 de dezembro de 2020). «O historiador e o sociólogo: Nicolau Sevcenko e Sérgio Miceli». Antíteses (26). 498 páginas. ISSN 1984-3356. doi:10.5433/1984-3356.2020v13n26p498. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Ianni, Octávio (1996). «A Sociologia de Florestan Fernandes». Estudos Avançados (26): 25–33. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141996000100006. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ a b c d Pinheiro, Fernando Antonio; Jackson, Luiz Carlos. Sergio Miceli. Sociedade Brasileira de Sociologia.
- ↑ «Sérgio Miceli». Companhia das Letras. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ a b «Sergio Miceli». Festa Literária Internacional de Paraty. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «Acordo de cooperação entre a FAPESP e a École des Hautes Études en Sciences Sociales». Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 25 de novembro de 2019. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945)». Biblioteca da Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Miceli, Sérgio (7 de Fevereiro de 1999). «Um intelectual do sentido». Folha de S. Paulo. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Miceli, Sergio (abril de 2003). «Bourdieu e a renovação da sociologia contemporânea da cultura». Tempo Social (1). ISSN 0103-2070. doi:10.1590/s0103-20702003000100004. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Quemin, Alain (2019). «A contribuição de Pierre Bourdieu para a sociologia da arte (França e Brasil)» (PDF). Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS). Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ a b Miceli, Sérgio (1985). «A elite eclesiastica brasileira : 1890-1930» (PDF). Universidade Estadual de Campinas. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Schwartzman, Simon. «História das Ciências Sociais no Brasil». Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Belém, Euler (27 de novembro de 2020). «Sergio Miceli parece julgar autores mais pela "posição" social do que pela qualidade literária». Jornal Opção. R7. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ a b «Sergio Miceli». Universidade Stanford. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Morales, Carlos (2013). «Miceli, Sergio. Vanguardas em retrocesso. São Paulo: Companhia das Letras, 2012». Revista de História (São Paulo) (Universidade de São Paulo). Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Hey, Ana Paula; Rodrigues, Lidiane Soares; Hey, Ana Paula; Rodrigues, Lidiane Soares (2017). «Elites acadêmicas: as ciências sociais na Academia Brasileira de Ciências». Tempo Social (3): 9–33. ISSN 0103-2070. doi:10.11606/0103-2070.ts.2017.125964. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ a b «SERGIO MICELI PESSÔA DE BARROS». Academia Brasileira de Ciências. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Rosatti, Camila (2020). «GÊNERO E CULTURA NAS CIÊNCIAS SOCIAIS BRASILEIRAS: DEPOIMENTO DE UMA PESQUISADORA COM NOME PRÓPRIO». Revista Pós Ciências Sociais (Universidade Federal do Maranhão). Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Sergio Miceli Pessoa de Barros. Portal de Dados. FFLCH-USP.
- ↑ Miceli, Sergio (1982). A noite da madrinha. [S.l.]: Perspectiva
- ↑ Miceli, Sergio (1977). Poder, sexo e letras na República Velha: estudo clínico dos anatolianos. [S.l.]: Editora Perspectiva
- ↑ Miceli, Sergio (1984). Estado e cultura no Brasil. [S.l.]: Difel
- ↑ Miceli, Sergio (1985). Política cultural comparada. [S.l.]: FUNARTE
- ↑ Sorá, Gustavo. Imagens negociadas. Retratos da elite brasileira (1920-40) (resenha). Mana 3 (1), abril de 1997.
- ↑ Bourdieu, Pierre; Miceli, Sérgio (1996). Economia das Trocas Lingüísticas, A. [S.l.]: EDUSP
- ↑ Miceli, Sergio (1999). O que ler na ciência social brasileira: without special title. [S.l.]: Editora Sumaré
- ↑ Miceli, Sergio (2001). Intelectuais à brasileira. [S.l.]: Companhia das Letras
- ↑ Miceli, Sergio (2003). Nacional estrangeiro: história social e cultural do modernismo artístico em São Paulo. [S.l.]: Companhia das Letras
- ↑ Maia, João Marcelo Ehlert. Nacional estrangeiro. História social e cultural do modernismo artístico em São Paulo. (resenha). Mana 10 (1), abril de 2004.
- ↑ Miceli, Sergio (2009). A elite eclesiástica brasileira: 1890-1930. [S.l.]: Companhia das Letras
- ↑ Miceli, Sergio (2012). Vanguardas em retrocesso: ensaios de história social e intelectual do modernismo latino-americano. [S.l.]: Companhia das Letras
- ↑ Miceli, Sergio; Pontes, Heloisa (2014). Cultura e sociedade: Brasil e Argentina. [S.l.]: EDUSP
- ↑ Miceli, Sergio (10 de janeiro de 2018). Sonhos da periferia. [S.l.]: Editora Todavia S.A
- ↑ Miceli, Sergio; Myers, Jorge (14 de janeiro de 2020). Retratos latino-americanos: a recordação letrada de intelectuais e artistas do século XX. [S.l.]: Edições Sesc SP
- ↑ Machado, Ricardo. Drummond e o modernismo mineiro. A incontornável relação entre as elites políticas e os intelectuais modernistas. Entrevista especial com Sergio Miceli, ihu.unisinos.br, 19 Abril 2022
- ↑ «Teses premiadas em 2011». MEC. 17 de setembro de 2020. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Bassi, Flavio (1 de maio de 2012). «Saberes na encruzilhada: experiências e sentidos da indigenização da "cultura" no Brasil e no Pacífico». Primeiros Estudos (2). 166 páginas. ISSN 2237-2423. doi:10.11606/issn.2237-2423.v0i2p166-188. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ «Membros do Conselho Consultivo do CEDES condecorados com admissão à Ordem Nacional do Mérito Científico». Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Angotti-Salgueiro, Heliana (2005). «A construção de representações nacionais: os desenhos de Percy Lau na Revista Brasileira de Geografia e outras "visões iconográficas" do Brasil moderno». Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material (2): 21–72. ISSN 0101-4714. doi:10.1590/S0101-47142005000200003. Consultado em 1 de maio de 2021
- ↑ Bastos, Elide Rugai; Botelho, André (2010). «Para uma sociologia dos intelectuais». Dados (4): 889–919. ISSN 0011-5258. doi:10.1590/S0011-52582010000400004. Consultado em 1 de maio de 2021
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Entrevista com Sergio Miceli, por Helena Maria Bousquet Bomeny. Projeto Cientistas sociais de países de Língua Portuguesa: histórias de vida. FGV-CPDOC, 10 de fevereiro de 2012.
- REQUENA, Brian Henrique de Assis Fuentes. A invenção do intelectual: a trajetória do sociólogo brasileiro Sergio Miceli. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/455114465/A-invencao-do-intelectual-a-trajetoria-do-sociologo-brasileiro-Sergio-Miceli
- REQUENA, Brian Henrique de Assis Fuentes. Bourdieu sou eu (ou quase). Revista CULT, ed. 166, p. 42-47, março de 2012. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/455116891/Bourdieu-sou-eu-ou-quase
- Nascidos em 1945
- Naturais da cidade do Rio de Janeiro
- Alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
- Alunos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
- Sociólogos do estado do Rio de Janeiro
- Professores do estado do Rio de Janeiro
- Escritores do estado do Rio de Janeiro
- Professores da Universidade de São Paulo
- Membros da Academia Brasileira de Ciências
- Ciência e religião
- Professores eméritos da Universidade de São Paulo