Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
Saltar para o conteúdo

Tarfaya

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Marrocos Tarfaya

طرفاية

Villa Bens

 
  Município  
O centro de Tarfaya visto da beira-mar
O centro de Tarfaya visto da beira-mar
O centro de Tarfaya visto da beira-mar
Localização
Tarfaya está localizado em: Marrocos
Tarfaya
Localização de Tarfaya em Marrocos
Coordenadas 27° 56′ 20″ N, 12° 55′ 35″ O
País Marrocos
Região El Aiune-Saguia el Hamra
Região (1997-2015) Laâyoune-Boujdour-Sakia El Hamra
Província Tarfaya
Características geográficas
População total (2004) [1][2] 5 615 hab.
 • Estimativa (2012) 5 925

Tarfaya (em árabe: طرفاية), oficialmente denominada Villa Bens durante o período do protetorado espanhol, é uma pequena cidade costeira do sul de Marrocos, capital da província homónima, que faz parte da região de El Aiune-Saguia el Hamra. Em 2004 tinha 5 615 habitantes[1] e estimava-se que em 2012 tivesse 5 925 habitantes.[2]

Situa-se junto ao cabo Juby, 100 km a norte de El Aiún, 213 km a sudoeste de Tan-Tan, 340 km a sudoeste de Guelmim, 400 km a sudoeste de Sidi Ifni, 540 km a sudoeste de Agadir e 985 km a sudoeste de Casablanca (distâncias por estrada).

Entre 1958, quando Espanha entregou a região a Marrocos, até 1975, quando Marrocos ocupou o Saara Ocidental, Tarfaya foi uma cidade fronteiriça com o então Saara Espanhol.

Em 2009 a companhia petrolífera irlandesa San Leon Energy assinou um contrato de exploração de gás de xisto betuminoso na chamada "Bacia de Tarfaya",[3][4] cujas reservas se estimam em 22 000 milhões de barris.[5] A companhia australiana Longreach Oil and Gás e a espanhola Repsol também têm contratos de exploração de gás na zona de Zag-Tarfaya.[6]

Em 1879, a britânica Companhia da África do Noroeste, propriedade do escocês Donald Mackenzie, estabeleceu um entreposto comercial na região após morosas negociações com os senhores locais. O entreposto foi batizado Port Victoria e dele ainda existe uma construção conhecida como "Casa Mar", atualmente em ruínas. Mackenzie conseguiu o controle duma faixa da costa entre o Cabo Juby e a Ponta Stafford, mas acabaria por vender o entreposto comercial ao sultão de Hassan I de Marrocos, depois das tribos sarauís terem pedido ajuda ao sultão para expulsar os britânicos das suas terras.[7][8]

Em 1912, Espanha negociou concessões na zona sul de Marrocos para aumentar o território que já tinham no Saara Ocidental com França, que então controlava efetivamente os assuntos de Marrocos,. Segundo o tratado hispano-francês de 27 de novembro de 1912, todas as terras a sul do rio Drá passaram a ser um protetorado espanhol. Nos termos desse tratado, Espanha comprometia-se a entregar esses territórios a Marrocos quando terminasse o protetorado, apesar da região não estar sob o controle sultão de Marrocos.[8] Oficialmente, a região de Tarfaya passou a designar-se como zona sul do protetorado de espanhol de Marrocos ou colónia de Cabo Juby, estando portanto separada administrativamente do chamado Saara Espanhol constituído pelas colónias de Rio do Ouro e Saguia el Hamra, cuja fronteira norte era o paralelo que passa a sul de Tarfaya.

A "Casa Mar", um forte construído pelo escocês Donald Mackenzie na década de 1880

Espanha só tomou posse efetiva do Cabo Juby a 29 de julho de 1916, quando o governador da colónia de Rio do Ouro, o capitão Francisco Bens, ocupou oficialmente a região. A localidade atualmente chamada Tarfaya passou então a designar-se Villa Bens e foi usada principalmente para escala de voos dedicados ao correio aéreo e aos voos para as Canárias. A partir de 1934, a companhia aérea alemã Lufthansa também usou Villa Bens como escala dos seus voos para a América do Sul.[7]

Em 1946, o território de Cabo Juby passou a fazer parte da chamada África Ocidental Espanhola, que juntou todas as colónias espanholas do noroeste de África (Saara, Cabo Juby e Ifni). Os espanhóis construíram um forte dois hangares militares.

Quando Marrocos obteve a independência em 1956, reclamou a retrocessão do Cabo Juby, nos termos do tratado de 1912, um pedido a que Espanha não deu resposta imediata. Seguiu-se um período de confrontos militares entre Espanha e tropas irregulares marroquinas que ficou conhecido como Guerra de Ifni, que terminou com a assinatura dos acordos de Angra de Cintra a 2 de abril de 1958, nos termos dos quais Espanha cedeu oficialmente o cabo Juby a Marrocos.

Em 1975, Tarfaya foi a principal base da Marcha Verde, o movimento de ocupação do então Saara Espanhol por parte de Marrocos, que contribuiu decisivamente para o abandono daquele território por parte de Espanha. Junto a Tarfaya estiveram então acampados cerca de 350 000 participantes na Marcha Verde.[9]

Monumento em memória de Antoine de Saint-Exupéry em Tarfaya
O ferribote Assalama, encalhado em 30 de abril de 2008 ao largo de Tarfaya

Aéropostale e Saint-Exupéry

[editar | editar código-fonte]

O aeródromo de Cabo Juby, situado junto à atual Tarfaya, foi uma escala importante para os voos entre Toulouse e Saint-Louis do Senegal da lendária companhia aérea francesa Aéropostale, fundada em 1927. Nesse mesmo ano, o piloto e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry foi nomeado chefe de escala em Cabo Juby, onde permaneceu 18 meses, durante os quais escreveu o romance Courrier sud ("Correio do Sul") e negociou com as tribos mouras insubmissas a libertação de pilotos que tinham sido detidos após acidentes ou aterragens forçadas.[10]

Em 2004 foi inaugurado em Tarfaya um museu dedicado à memória da Aéropostale, criado pela associação "Mémoire d'Aéropostale", uma fundação cujos principais patrocinadores são a municipalidade de Toulouse e a Airbus. Numa das praias de Tarfaya existe também um monumento em memória de Saint-Exupéry.[9]

Naufrágio do Assalama

[editar | editar código-fonte]

Em 2008 esteve iminente uma tragédia de grandes proporções quando o ferribote Assalama, operado pela companhia espanhola Naviera Armas, encalhou ao largo de Tarfaya com 113 passageiros, 30 tripulantes e 60 automóveis a bordo. O navio fazia a ligação entre Tarfaya e Puerto del Rosario, na ilha de Fuerteventura nas Canárias, desde 10 de dezembro de 2007, apesar dos frequentes incidentes técnicos devido às condições do porto de Tarfaya e aos problemas do navio. O Assalama já tinha tido três acidentes ao longo dos seus 42 anos de idade e tinha estado arrestado em Las Palmas entre junho e setembro de 2007 por não cumprir as normas de segurança, sendo posteriormente posto sob bandeira panamiana, alegadamente para poder voltar a ser autorizado a navegar.[11]

A 30 de abril de 2008, grandes vagas fizeram o navio adernar e começar a ser empurrado para terra. Os passageiros alegam que teria ocorrido uma tragédia se os pescadores de Tarfaya e a marinha marroquina não tivessem acorrido a salvá-los, pois o Assalama só dispunha de dois botes salva-vidas obsoletos e só um deles foi lançado ao mar com 30 passageiros. O acidente provocou o derramamento de 80 000 litros de fuelóleo que provocou graves prejuízos à indústria de pesca local. Dois anos depois do acidente, os passageiros ainda não tinham recebido qualquer indemnização pelas perdas de bagagens e veículos.[11][12]

Dados climatológicos para Tarfaya
Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Ano
Temperatura máxima recorde (°C) 31 28 33 39 26 28 36 30 34 38 35 28 39
Temperatura máxima média (°C) 19 19 20 21 21 22 22 23 23 23 22 20 21
Temperatura mínima média (°C) 13 13 14 15 16 17 18 18 18 17 16 13 16
Temperatura mínima recorde (°C) 5 6 9 8 12 12 15 13 13 11 10 6 5
Precipitação (mm) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 0 40
Dias com chuva 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 4
Fonte: Weatherbase [13]

Notas e referências

[editar | editar código-fonte]
  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em castelhano cujo título é «Tarfaya», especificamente desta versão.
  • Le Guide Vert - Maroc (em francês). Paris: Michelin. 2003. p. 354. 460 páginas. ISBN 978-2-06-100708-2 
  • Ellingham, Mark; McVeigh, Shaun; Jacobs, Daniel; Brown, Hamish (2004). The Rough Guide to Morocco (em inglês) 7ª ed. Nova Iorque, Londres, Deli: Rough Guide, Penguin Books. p. 654-655. 824 páginas. ISBN 9-781843-533139 
  1. a b Royaume du Maroc - Haut-Comissariat au Plan. «Recensement général de la population et de l'habitat 2004» (PDF). www.lavieeco.com (em francês). Jornal La Vie éco. Consultado em 10 de março de 2012 
  2. a b «Sahara Occidental: Les villes les plus grandes avec des statistiques de la population». gazetteer.de (em francês). World Gazeteer. Consultado em 10 de março de 2012 
  3. «Exploration pétrolière irlandaise à Tarfaya, frontière du Sahara». www.wsrw.org (em francês). Western Sahara Reource Watch. 30 de junho de 2009. Consultado em 10 de março de 2012 
  4. «Tarfaya Oil Shale Update - Hydraulic Connectivity Established». www.londonstockexchange.com (em inglês). Bolsa de Valores de Londres. 13 de janeiro de 2012. Consultado em 10 de março de 2012. Arquivado do original em 9 de agosto de 2012 
  5. «Georges Soros s'intéresse au schiste bitumeux marocain». www.bladi.net (em francês). 29 de janeiro de 2011. Consultado em 10 de março de 2012 
  6. Rial, Mohamed (30 de janeiro de 2012). «Tarfaya Découverte d'énormes potentialités gazières». www.thrmagazine.info (em francês). THR - magazine du tourisme et du développement durable au Maroc. Consultado em 10 de março de 2012. Cópia arquivada em 10 de março de 2012 
  7. a b «Petite Histoire de Tarfaya». cole.zzl.org (em inglês). L'école citoyenne. 11 de maio de 2008. Consultado em 10 de março de 2012. Arquivado do original em 7 de outubro de 2008 
  8. a b «El sultán confirmó a Londres la soberanía acababa en el río Draa - El Sahara occidental era independiente de Marruecos». elpais.com (em espanhol). Jornal El País. 12 de novembro de 1978. Consultado em 10 de março de 2012. Cópia arquivada em 10 de março de 2012 
  9. a b Tarfaya Travel Guide (em castelhano, inglês e alemão). www.tarfaya.es. Página visitada em 10 de março de 2012
  10. Vega, Luis de (21 de outubro de 2007). «Tarfaya El desierto de Saint-Exupéry». www.abc.es (em espanhol). Jornal ABC. Consultado em 10 de março de 2012 
  11. a b «La respuesta al pasaje del ´Assalama´». www.laopinioncoruna.es (em espanhol). Jornal La Opinión A Coruña. 18 de abril de 2010. Consultado em 10 de março de 2012. Cópia arquivada em 10 de março de 2012 
  12. «La Marine Royale évaque un ferry qui avait chaviré avec à bord 113 passagers». www.bladi.net (em francês). 30 de abril de 2008. Consultado em 10 de março de 2012. Cópia arquivada em 22 de agosto de 2010 
  13. «Dados meteorológicos de Tarfaya». www.Weatherbase.com (em inglês). Canty and Associates LLC. Consultado em 10 de março de 2012 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Tarfaya
Wikivoyage
Wikivoyage
O Wikivoyage possui o guia en:Tarfaya