Teodoro Tritírio
Teodoro Tritírio | |
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Morte | 636 |
Nacionalidade | Império Bizantino |
Ocupação | general |
Religião | Cristianismo |
Teodoro Tritírio (em grego medieval: Θεόδωρος Τριθύριος; romaniz.: Theódoros Trithýrios; m. 636), também citado em fontes não-gregas apenas como Sacelário[1] ou Alçacalar (al-Saqalar) no relato de Atabari,[2] foi um oficial do século VII que serviu como sacelário (i.e., tesoureiro do estado) e comandante militar durante os últimos anos do reinado do imperador Heráclio (r. 610–641). Talvez ele possa ser identificado com Jurja ibne Taudura, um oficial bizantino que converteu-se ao islamismo durante os conflitos contra os árabes no Oriente.[3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Duas fontes armênias (Sebeos e Vardanes) descrevem-no como um eunuco confiável, informação possivelmente correta a julgar por seu primeiro ofício conhecido, o de sacelário, posição ocupada por eunucos. Uma fonte siríaca (a Crônica de 1234) menciona-o como patrício, porém as fontes não-gregas fazem uso pouco preciso de termos latinos, não deixando claro se o termo foi aplicado de forma técnica ou não.[1] Walter Kaegi sugere que é possível que ele também serviu como cubiculário.[4]
Em 634, o imperador Heráclio (r. 610–641) enviou seu irmão Teodoro para lutar contra os árabes na Palestina, onde foi derrotado na Batalha de Ajenadaim, travada no vale de Elá. Após a retirada, Teodoro alegou que o casamento do irmão com sua sobrinha Martina foi a causa da derrota do Império Bizantino, e envolveu-se numa discussão com Heráclio, que o destituiu e mandou a Constantinopla. Com sua ausência, Tritírio foi nomeado mestre dos soldados do Oriente, com Vaanes como colega[1][5][6] e comandante supremo das tropas;[7] Andreas Stratos, porém, sugeriu que Tritírio era comandante supremo.[8] Heráclio instruiu-o a acautelar-se de emboscadas árabes e evitar confrontá-los.[9][a]
Walter Kaegi, mesmo embora ressaltando que há precedentes no século VI, considera que a nomeação de Tritírio como general das tropas na Síria ressalta os problemas financeiros enfrentados por Heráclio e a necessidade do governo de assegurar aos soldados o compromisso com seu pagamento regular e integral dos fundos prometidos, bem como a distribuição regular de provisões e forragem para seus cavalos. A nomeação procurava assegurar o estreito controle fiscal numa situação de risco potencial e fluxos incalculáveis de dinheiro aos soldados, numa espécie de padrão de responsabilidade fiscal.[10]
Em 635, lutou com Vaanes contra os árabes e com sucesso derrotou-os próximo de Emesa. Em 26 de maio de 636, de Edessa ou Emessa, uniu suas forças com as de Vaanes, Nicetas e Jabalá. Suas tropas avançaram através do Vale do Beca e então cruzou as colinas de Golã e acampou em ou próximo de Jilique.[7] Suas tropas sofreram um revés em 16/23 de julho[11] e o exército inteiro foi derrotado na Batalha de Jarmuque de 20 de agosto pelas forças de Calide ibne Ualide; Tritírio e Vaanes pereceram.[12][13]
Vários foram os motivos que levaram os bizantinos a sofreram uma derrota fragorosa em Jarmuque. Dentre estes pontos pode se destacar o desentendimento entre os vários comandantes que participaram na batalha. Heráclio, de certo, supervisionou todas as operações na Síria a partir de sua base em Antioquia, enquanto era aconselhado por um pequeno grupo de conselheiros, dentre eles seu irmão Teodoro e Nicetas. Era esse grupo que, então, traçava todas a estratégia a ser seguida contra os invasores. No entanto, é sabido mediante relatos preservados nas fontes que Tritírio não possuía um bom relacionamento com seus co-comandantes, sobretudo Nicetas e seu superior Vaanes.[14]
Ver também
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Precedido por Teodoro |
Mestre dos soldados do Oriente 634 — 636 |
Sucedido por Conquista muçulmana da Síria |
Precedido por Desconhecido[b] |
Sacelário 634 — 636 |
Sucedido por Filágrio |
Notas
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- [a] ^ Para Walter Kaegi, Heráclio encorajou suas tropas na Síria e depois Egito a evitarem confrontos com os invasores com intuito de ganhar tempo para saber mais sobre os árabes islamizados. Pretendia-se descobrir suas vulnerabilidades e tentar decapitar seus líderes ou usar a diplomacia para seduzir líderes, clãs ou tribos importantes a desertarem.[9]
- [b] ^ Antes de Tritírio aparecer como sacelário há menção nas fontes a um eunuco que ocupou o posto em 632, porém seu nome é incerto. Na ocasião ele pagou o salário dos soldados que guardaram a fronteira com os árabes, mas recusou-se a pagar os árabes pró-bizantinos que ajudaram-os. Como consequência, os árabes uniram-se a seus companheiros árabes contra os bizantinos em Gaza.[15] Antes dele quem ocupou o posto foi Constantino.[16]
Referências
- ↑ a b c Martindale 1992, p. 1279.
- ↑ Atabari 1992, p. 132.
- ↑ Shoshan 2016, p. 88, nota 42.
- ↑ Kaegi 1992, p. 112.
- ↑ Kajdan 1991, p. 2039.
- ↑ Kaegi 2003, p. 260–261.
- ↑ a b Kaegi 1992, p. 119.
- ↑ Stratos 1980, p. 65.
- ↑ a b Kaegi 2003, p. 237.
- ↑ Kaegi 1992, p. 35.
- ↑ Kaegi 1992, p. 120.
- ↑ Martindale 1992, p. 161; 1279-1280.
- ↑ Kaegi 1992, p. 278.
- ↑ Kaegi 1992, p. 129; 132.
- ↑ Martindale 1992, p. 1448; 1486.
- ↑ Martindale 1992, p. 1486.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Atabari (1992). Friedmann, Yohanan (trad.), ed. The History of Atabari (Tarikh al-rusul wa'l-muluk) Vol. XII The Battle of al-Qadisiyyah and the Conquest of Syria and Palestina. Nova Iorque: Imprensa da Universidade Estadual de Nova Iorque
- Kaegi, Walter E. (1992). Byzantium and the Early Islamic Conquests. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia
- Kaegi, Walter Emil (2003). Heraclius: emperor of Byzantium. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-81459-6
- Kajdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-504652-8
- Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). «Theodorus 164 qui et Trithyrius». The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-20160-8
- Shoshan, Boaz (2016). The Arabic Historical Tradition and the Early Islamic Conquests - Folklore, tribal lore, Holy War. Londres e Nova Iorque: Routledge
- Stratos, Andreas Nikolaos (1980). Byzantium in the Seventh Century: 634-641. Amesterdã: Adolf M. Hakkert
- Mortos em 636
- Bizantinos envolvidos nas guerras bizantino-árabes
- Generais de Heráclio
- Bizantinos mortos em batalha
- Cubiculários do Império Bizantino do século VII
- Sacelários do século VII
- Conquista muçulmana da Síria
- Patrícios do Império Bizantino do século VII
- Mestres dos soldados do Oriente
- Edessa (Mesopotâmia)
- História de Emesa
- Eunucos do Império Bizantino do século VII