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Teodoro Tritírio

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados, veja Teodoro.
Teodoro Tritírio
Morte 636
Nacionalidade Império Bizantino
Ocupação general
Religião Cristianismo

Teodoro Tritírio (em grego medieval: Θεόδωρος Τριθύριος; romaniz.: Theódoros Trithýrios; m. 636), também citado em fontes não-gregas apenas como Sacelário[1] ou Alçacalar (al-Saqalar) no relato de Atabari,[2] foi um oficial do século VII que serviu como sacelário (i.e., tesoureiro do estado) e comandante militar durante os últimos anos do reinado do imperador Heráclio (r. 610–641). Talvez ele possa ser identificado com Jurja ibne Taudura, um oficial bizantino que converteu-se ao islamismo durante os conflitos contra os árabes no Oriente.[3]

Tremisse de Heráclio (r. 610–641)
Vista sobre o local da batalha de Jarmuque

Duas fontes armênias (Sebeos e Vardanes) descrevem-no como um eunuco confiável, informação possivelmente correta a julgar por seu primeiro ofício conhecido, o de sacelário, posição ocupada por eunucos. Uma fonte siríaca (a Crônica de 1234) menciona-o como patrício, porém as fontes não-gregas fazem uso pouco preciso de termos latinos, não deixando claro se o termo foi aplicado de forma técnica ou não.[1] Walter Kaegi sugere que é possível que ele também serviu como cubiculário.[4]

Em 634, o imperador Heráclio (r. 610–641) enviou seu irmão Teodoro para lutar contra os árabes na Palestina, onde foi derrotado na Batalha de Ajenadaim, travada no vale de Elá. Após a retirada, Teodoro alegou que o casamento do irmão com sua sobrinha Martina foi a causa da derrota do Império Bizantino, e envolveu-se numa discussão com Heráclio, que o destituiu e mandou a Constantinopla. Com sua ausência, Tritírio foi nomeado mestre dos soldados do Oriente, com Vaanes como colega[1][5][6] e comandante supremo das tropas;[7] Andreas Stratos, porém, sugeriu que Tritírio era comandante supremo.[8] Heráclio instruiu-o a acautelar-se de emboscadas árabes e evitar confrontá-los.[9][a]

Walter Kaegi, mesmo embora ressaltando que há precedentes no século VI, considera que a nomeação de Tritírio como general das tropas na Síria ressalta os problemas financeiros enfrentados por Heráclio e a necessidade do governo de assegurar aos soldados o compromisso com seu pagamento regular e integral dos fundos prometidos, bem como a distribuição regular de provisões e forragem para seus cavalos. A nomeação procurava assegurar o estreito controle fiscal numa situação de risco potencial e fluxos incalculáveis de dinheiro aos soldados, numa espécie de padrão de responsabilidade fiscal.[10]

Em 635, lutou com Vaanes contra os árabes e com sucesso derrotou-os próximo de Emesa. Em 26 de maio de 636, de Edessa ou Emessa, uniu suas forças com as de Vaanes, Nicetas e Jabalá. Suas tropas avançaram através do Vale do Beca e então cruzou as colinas de Golã e acampou em ou próximo de Jilique.[7] Suas tropas sofreram um revés em 16/23 de julho[11] e o exército inteiro foi derrotado na Batalha de Jarmuque de 20 de agosto pelas forças de Calide ibne Ualide; Tritírio e Vaanes pereceram.[12][13]

Vários foram os motivos que levaram os bizantinos a sofreram uma derrota fragorosa em Jarmuque. Dentre estes pontos pode se destacar o desentendimento entre os vários comandantes que participaram na batalha. Heráclio, de certo, supervisionou todas as operações na Síria a partir de sua base em Antioquia, enquanto era aconselhado por um pequeno grupo de conselheiros, dentre eles seu irmão Teodoro e Nicetas. Era esse grupo que, então, traçava todas a estratégia a ser seguida contra os invasores. No entanto, é sabido mediante relatos preservados nas fontes que Tritírio não possuía um bom relacionamento com seus co-comandantes, sobretudo Nicetas e seu superior Vaanes.[14]

Precedido por
Teodoro
Mestre dos soldados do Oriente
634636
Sucedido por
Conquista muçulmana da Síria
Precedido por
Desconhecido[b]
Sacelário
634636
Sucedido por
Filágrio


[a] ^ Para Walter Kaegi, Heráclio encorajou suas tropas na Síria e depois Egito a evitarem confrontos com os invasores com intuito de ganhar tempo para saber mais sobre os árabes islamizados. Pretendia-se descobrir suas vulnerabilidades e tentar decapitar seus líderes ou usar a diplomacia para seduzir líderes, clãs ou tribos importantes a desertarem.[9]


[b] ^ Antes de Tritírio aparecer como sacelário há menção nas fontes a um eunuco que ocupou o posto em 632, porém seu nome é incerto. Na ocasião ele pagou o salário dos soldados que guardaram a fronteira com os árabes, mas recusou-se a pagar os árabes pró-bizantinos que ajudaram-os. Como consequência, os árabes uniram-se a seus companheiros árabes contra os bizantinos em Gaza.[15] Antes dele quem ocupou o posto foi Constantino.[16]

Referências

  1. a b c Martindale 1992, p. 1279.
  2. Atabari 1992, p. 132.
  3. Shoshan 2016, p. 88, nota 42.
  4. Kaegi 1992, p. 112.
  5. Kajdan 1991, p. 2039.
  6. Kaegi 2003, p. 260–261.
  7. a b Kaegi 1992, p. 119.
  8. Stratos 1980, p. 65.
  9. a b Kaegi 2003, p. 237.
  10. Kaegi 1992, p. 35.
  11. Kaegi 1992, p. 120.
  12. Martindale 1992, p. 161; 1279-1280.
  13. Kaegi 1992, p. 278.
  14. Kaegi 1992, p. 129; 132.
  15. Martindale 1992, p. 1448; 1486.
  16. Martindale 1992, p. 1486.
  • Atabari (1992). Friedmann, Yohanan (trad.), ed. The History of Atabari (Tarikh al-rusul wa'l-muluk) Vol. XII The Battle of al-Qadisiyyah and the Conquest of Syria and Palestina. Nova Iorque: Imprensa da Universidade Estadual de Nova Iorque 
  • Kaegi, Walter E. (1992). Byzantium and the Early Islamic Conquests. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Kajdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxônia: Imprensa da Universidade de Oxônia. ISBN 0-19-504652-8 
  • Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). «Theodorus 164 qui et Trithyrius». The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-20160-8 
  • Shoshan, Boaz (2016). The Arabic Historical Tradition and the Early Islamic Conquests - Folklore, tribal lore, Holy War. Londres e Nova Iorque: Routledge