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Tons salmódicos

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A forma como se popularizou os tons salmódicos (em partitura).

Tons Salmódicos, também chamados de Modos Eclesiásticos, são as fórmulas usadas para recitação dos Salmos (salmodia) e cânticos bíblicos.[1] No que tange à organização do repertório de Canto Gregoriano, utiliza-se, via de regra, oito tons, donde o termo mais genérico de origem grega "octoeco".[2]

Ver artigo principal: Octoeco
Modo Protus plagal em notação daseiana (século X).

Os modos dominaram a música Ocidental por mais de mil anos, sua utilização foi consideravelmente reduzida a partir do Século XVI, quando a música passou a ser tonal, cuja divisão é, basicamente, Tom Maior e, seu relativo, Tom menor.[3]

Sua origem se dá na Grécia antiga com Pitágoras e Aristóxenes, contudo sua divisão com nomenclaturas étnicas é posterior.[3] Boécio (475-526), em seu Instutione musica, é o primeiro a publicar a ordem na qual conhecemos hoje ao instituir o sistema de oitava completa e abandonar o sistema grego de Tetracordes, além de aplicar a forma ascendente aos modos (antes usava-se de maneira descendente).[4]

A partir do seculo IV, a Igreja Católica, por meio de Ambrósio começa a se utilizar dos modos para inserção de cânticos na liturgia, surge assim o Canto ambrosiano. A partir do século VI, o papa Gregório I, organiza e unifica o sistema de cânticos usados em liturgias diversas na Europa, dando início ao Canto Gregoriano.[5]

Em 1547, Henrique de Glaureanus, em sua obra Dodecachordon, adiciona os modos Eólio e Jônio,[5] ambos nas formas autêntica e plagal, totalizando assim 12 modos.[4]

A ordem utilizada na antiguidade não é a mesma utilizada na Idade Média e dias atuais. Inicialmente recebiam nomes em grego relacionando-os com sua posição escalar, contudo, a partir do século X, receberam nomes de antigas escalas gregas e, hoje, são utilizados de forma completamente diferente.[6]

Antes de receber as nomenclaturas étnicas, pelas quais são conhecidos nos dias de hoje, os modos recebiam as nomenclaturas gregas, transliteradas em latim, com base em sua ordem numérica: Protus (primeiro), Deuterus (segundo), Tritus (terceiro) e Tetrardus (quarto), tendo em vista outro aspecto da construção sonora, posteriormente descoberto, passaram a ter oito modos e receber as terminologias atuais.[7]

Entre as sete notas de um modo, duas tem maior relevância em relação às demais; é a nota final (a atual tônica), que dá tonalidade e resolução ao modo, e a tenor (atual dominante), a qual serve como corda de recitação da Salmodia.[8]

Ao todo há quatro modos divididos nas formas Autêntica e Plagal, a qual começa quarta justa abaixo.[2] A nota Si bemol é o único acidente permitido, e em todos os modos pode haver alternância entre Si bequadro (natural) e Si bemol, sem alterar a qualidade do modo.

Protus, atual Dórico

Atualmente conhecido como Dórico, o Protus autêntico era o primeiro modo. Termina na nota Ré, como segue: Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó Ré.

Também já fora chamado pelo nome de Primus Gravis, é tido como um modo contemplativo, dado seu ressoar discreto e introspectivo.[9]

O modo Protus plagal (Hipodórico), se inicia a partir da nota Lá: Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá.

Deuterus, atual Frígio

Atualmente conhecido como Frígio, o Deuterus autêntico termina na nota Mi, como segue: Mi Fá Sol Lá Si Dó Ré Mi.

Este talvez seja o modo que mais se distancia das escalas da música contemporânea. Deuterus já fora conhecido pela nomenclatura de Tertius Mysticus, pois seu ressoar estático dá a ele um caráter místico.[10]

O modo Deuterus plagal (Hipofrígio), se iniciava a partir da nota Si: Si Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si.

Tritus, atual Lídio

Atualmente conhecido como Lídio, o Tritus autêntico termina na nota Fá, como segue: Fá Sol Lá Si Dó Ré Mi Fá.

Quando usado com Si bemol, este modo se assemelha muito à tonalidade Fá Maior usada na música contemporânea.[10]

O modo Tritus plagal (Hipolídio), se iniciava a partir da nota Dó: Dó Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó.

Tetrardus, atual Mixolídio

Atualmente conhecido como Mixolídio, o Tetradus autêntico Termina na nota Sol, como segue: Sol Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol.

Também chamado de Septimus Angelicus, é o mais agudo dos modos. Tem um ressoar "alegre" e entusiasta.[11]

O modo Tetrardus plagal (Hipomixolídio), se iniciava a partir da nota Ré: Ré Mi Fá Sol Lá Si Dó Ré.

O Tonus Peregrinus acompanha antífonas de modalidade peculiar, a qual não se aplica aos outros tons salmódicos.[12] Um exemplo no qual esse tom é utilizado é a antífona Deus autem noster.[13]

Esse tom é reservado aos salmos que não são precedidos de antífona. Outros tons similares a este sao: o Tom Pascal, usado no tempo pascal, e o Tom dos Defuntos, usado na liturgia dos defuntos.[14]

Forma de utilização

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Antifonário em uma igreja alemã.

Geralmente, cada Salmodia é precedida e seguida de uma antífona.[1] A melodia se inicia com a nota tenor do modo e finda com a doxologia Gloria Patri.[15]

A formula terminativa da primeira parte do tom salmódico é chamada de cadência média, e a segunda parte é chamada cadência final.[16]Estas cadências são constituídas por um ou mais acentos e, na maior parte das vezes, por sílabas de preparação. Com o intuito de suavizar a transição entre a salmodia e a antífona, alguns tons salmódicos possuem terminações diferentes, chamadas Differentiæ.[1]Para cada um dos modos existe um tom simples e um ornado, sendo que o ornado é semelhante ao simples mas com mais ornamentação.

Apesar da rigidez dos tons salmódicos, é possível encontrar, em algumas peças de canto gregoriano, modulações, transposições e outras anomalias modales.[17] Assim como na música contemporânea, é possível encontrar modulação tonal (um tanto raro, contudo há peças com tal modulação como, por exemplo, o Kyrie Stelliferi Conditor Orbis) e modulação modal (esta mais comum).[18]

Referências

  1. a b c The Editors of Encyclopædia Britannica. «Psalm Tone.». In: Encyclopædia Britannica, inc. Encyclopædia Britannica (em inglês) 
  2. a b Jeppesen, Knud (1992). Counterpoint: The polyphonic Vocal Style of the Sixteenth Century. New York: Dover Publications Inc. p. 59. ISBN 9780486270364 
  3. a b Dourado, Henrique A. (2004). Dicionário de termos e expressões da música. São Paulo: Editora 34. p. 209. ISBN 9788573262940 
  4. a b Los modos eclesiásticos. Portal da Universidade de Alicante.
  5. a b Dourado, 2004, p. 210.
  6. Jeppesen, 1992, p. 61.
  7. Cardine, Eugene (1989). Primeiro ano de Canto Gregoriano. São Paulo: Attar Editorial. p. 43 
  8. The Parish Book of Chant. (PDF). Washington D.C.: The Church Music Association of America. 2012. p. 312 
  9. Heckenlively, Lura F. (1950). The Fundamentals of Gregorian Chant. Tournai: Desclée & Co. p. 40-41 
  10. a b Heckenlively, 1950 p. 44.
  11. Heckenlively, 1950 pp. 49-50.
  12. Cardine, 1989, p.46.
  13. Monges Beneditinos de Solesmes (1961). Liber Usuallis. (PDF). Tournai: Desclée & Co. p. 160 
  14. Cardine, 1989, p. 46.
  15. The tones of the Psalms. Portal ccwatershed.org (em inglês).
  16. Warfield, Patrick; Burkholder, J. Peter (29 de agosto de 2017). «Gregorian Chant». History and Literature of Music I. Indiana University School of Music 
  17. Queiroz, Flávio J. G. (2006). «Canto gregoriano, modos eclesiásticos: o que aprendemos com os nossos livros de teoria musical» (PDF). Ictus. 7 (0): 113-136. ISSN 2238-6599 
  18. Heckenlively, 1950 pp. 52-53.

Ligação externa

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