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Trancista

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Ilustração "Cultura Trançada" de autoria da pesquisadora Luane Bento dos Santos. Desenho realizado no programa Paint no mês de março de 2023.

Trancista/e ou Trançadeira afro é uma palavra usada para nomear o ofício/ocupação de mulheres, em sua maioria negras, que têm como atividade trançar cabelos crespos, cacheados, lisos e anelados com diferentes técnicas de penteados artesanais afro.[1][2][3]

No Brasil, a atividade de trancista afro é extremamente vinculada às políticas de afirmação da identidade negra, da negritude e do orgulho negro. O uso de tranças e outros penteados afro artesanais ocorre para pessoas negras por diversos motivos desde pela transição capilar, bem como para reafirmar a identidade negra e valorizar as raízes culturais africanas.[4]

O espaço destinado para a execução do trabalho das trancistas afro pode ser os salões de beleza étnico ou afro, suas residências ou a casa de seus clientes. Geralmente, na preparação e confecção dos trançados, elas costumam gastar cerca de 4 a 12 horas.[carece de fontes?]

No Brasil a ocupação de trancista ou trançadeira afro não é regulamentada pelos órgãos oficiais. [5]Esta atividade laborativa pode ser considerada ofício por ser transmitida de geração em geração e ser aprendida em contextos familiares e em espaços de sociabilidades negras e não apenas em cursos formativos para trancistas [1].

A falta de reconhecimento pelos órgãos governamentais[6] não impede que um expressivo contingente de mulheres e homens negros exerçam esta atividade laborativa e se articulem politicamente na luta por seus direitos. De tal modo, que na atualidade, a partir de suas articulações políticas as trancistas conseguiram garantir nos calendários municipais e estaduais o dia da trancistas. As cidades de Uberlândia (MG), Rio de Janeiro (RJ), Macaé (RJ) [7]Carapicuíba (SP)[1], Belém (PA)[2], Mogi das Cruzes (SP)[3] , Nova Friburgo (RJ)[8], Valparaíso de Goiás (GO)[4], Diadema (SP), Salvador (BA), Piracicaba [9] São Paulo (SP) e os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais têm em seus calendários oficiais o dia da trancista.[10][11][12]

A arte de trançar cabelos pode ser vista em vários países com população afrodiaspórica: Venezuela, Colômbia, Argentina, Cuba, Estados Unidos e Uruguai.[13] Na realidade, todos os países que receberam africanos e africanas escravizados no período colonial, bem como países que recebem na atualidade africanos e africanas imigrantes. Ou seja, a cultura de entrelaçar cabelos com penteados artesanais afro está disseminada em várias partes do globo.

Ainda vale mencionar mulheres negras, tais como: Idalice Moreira Basto[14] (Afro Dai, RJ) na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Negra Jhô em Salvador (BA), Penha Nascimento em São Paulo (SP); Betina Borges em Belo Horizonte (MG), Ana Akini (DF), Laodicéia Nascimento (DF), Claudia Talita (RJ), Layla Maryzandra (DF), Roseane Líbano (RJ), Gabriela Azevedo (RJ), Michelle Reis (BA) que atuam na disseminação da cultura das tranças e promoveram eventos (festivais, concursos de beleza e desfiles) de valorização da arte das tranças e indumentária afro e africana [1]. Os blocos afro como Ilê Aiyê em Salvador (BA) e Agbara Dudu (RJ) também sã o promotores desta estética negra. Além disso, os salões de beleza afro/ étnico são os Quilombos Urbanos[15] que podemos encontrar essas trabalhadoras ofertando o serviço de trançar cabelos.

Cabe mencionar que no universo acadêmico algumas pesquisadoras e pesquisadores se dedicaram a investigar o universo dos ofícios e ocupação das trancistas, trançadeiras e os estilos dos penteados afro nas diversas áreas do conhecimento desde Educação, Antropologia Social, Matemática, História, Jornalismo, Geografia, Administração, Ciências Sociais e Patrimônio Cultural. Podemos citar os seguintes nomes que escreveram monografias, trabalhos de conclusão de cursos e artigos: Anne Karine Cherrin de Souza, Aline Ferraz Clemente.[16]

Na pós-graduação temos as dissertações de mestrado de: Elisa Hipólito do Espirito Santo[17], Luane Bento dos Santos[18], Ana Paula Medeiros Teixeira dos Santos[19], Mariane Valério de Paula[20], Eufrásia Nahako Songa[21], Jorlânia Carolina Cândido Souza[22], Nickson Deyvis da Silva Correia[23] .

As teses de doutorado sobre a temática das trancistas e trançadeiras são das seguintes pesquisadoras: Luane Bento dos Santos, Raissa Lennom[24] e Daniela Alexandre Ferreira. Vale dizer que no universo acadêmicos, as pesquisas sobre o trabalho das trancistas e a beleza das tranças estão concentradas no campo da Antropologia Social, Etnomatemática e Relações Raciais.

Além dos trabalhos acadêmicos, na atualidade, também há produções audiovisuais (curta-metragem, documentários e filmes) dedicados a estética dos penteados trançados, são eles: Memórias Trançadas[25], O que cabe em um trançado[26], Abebé[27], Enraizadas[28], Espelho, Espelho Meu!, Trança nagô: a arte e história, Ancestralidade das Tranças no Rio de Janeiro. Comemoração do Dia da Pessoa Trancista, Caminhos Trançados de São Paulo.

  1. a b c BENTO DOS SANTOS, LUANE. «TRANCISTA NÃO É CABELEIREIRA!: IDENTIDADE DE TRABALHO, RAÇA E GÊNERO EM SALÕES DE BELEZA AFRO NO RIO DE JANEIRO». Consultado em 25 de março de 2024 
  2. «Dia da Trancista: Tranças exaltam autoestima e beleza na comunidade - Voz das Comunidades». 6 de junho de 2023. Consultado em 25 de março de 2024 
  3. «A história inspiradora de uma Trancista profissional - Sebrae». sebrae.com.br. Consultado em 25 de março de 2024 
  4. «As trancistas, a cultura ancestral e a beleza negra». Gama Revista. Consultado em 25 de março de 2024 
  5. Paz, Dindara (29 de novembro de 2023). «Em Salvador, trancistas buscam regulamentação da profissão». AlmaPreta. Consultado em 25 de março de 2024 
  6. JORNALISMO, ALMA PRETA (29 de novembro de 2023). «Em Salvador, trancistas buscam regulamentação da profissão». ALMA PRETA JORNALISMO. Consultado em 22 de abril de 2024 
  7. «LEI ORDINÁRIA - 5230/2024». Câmara Municipal de Macaé. 20 de agosto de 2024. Consultado em 26 de outubro de 2024 
  8. «Lei Municipal nº 4.951, de 24 de maio de 2023». Câmara Municipal de Nova Friburgo. 25 de maio de 2023. Consultado em 21 de abril de 2024 
  9. «Lei n° 10.101, de 1° de julho de 2024». Piracicaba (SP). 01 de julho de 2024. Consultado em 26 de outubro de 2024  Verifique data em: |data= (ajuda)
  10. «Dia da Profissão de Trancista é comemorado em Uberlândia/MG». Diretoria de Estudos e Pesquisas Afrorraciais. 18 de janeiro de 2023. Consultado em 25 de março de 2024 
  11. «Dia da Pessoa Trancista é comemorado neste domingo com exposições, mostra de filmes e roda de samba». Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - prefeitura.rio. 4 de junho de 2022. Consultado em 25 de março de 2024 
  12. Diadema, Prefeitura de. «Julho das Pretas é celebrado no Clara Nunes» 
  13. Santos, Luane Bento (29 de julho de 2022). «"Trancista não é cabeleireira!": identidade de trabalho, raça e gênero em salões de beleza afro no Rio de Janeiro». Biblioteca Virtual da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Consultado em 21 de abril de 2024 
  14. «A grande dama da beleza negra: Quem foi Idalice Bastos, a estrela deixada pelo». Site Mundo Negro. 6 de junho de 2022. Consultado em 22 de abril de 2024 
  15. Gomes, Nilma Lima (2019). Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. [S.l.]: Autêntica Editora 
  16. «Tranças Afro – a Cultura do Cabelo Subalterno». Centro de Estudos Latino-Americanos Sobre Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo. Consultado em 26 de outubro de 2024 
  17. SANTOS, Elisa Hipólito do Espírito (21 de novembro de 2023). «Preciosa: a trajetória de uma trancista angolana em São Paulo e a racialização dos processos migratórios». Repositório Digital de Teses e Dissertações da USP. Consultado em 21 de abril de 2024 
  18. SANTOS, Luane Bento dos. «PARA ALÉM DA ESTÉTICA: UMA ABORDAGEM ETNOMATEMÁTICA PARA A CULTURA DE TRANÇAR CABELOS NOS GRUPOS AFRO-BRASILEIROS». Plataforma Sucupira. Consultado em 21 de abril de 2024 
  19. SANTOS, Ana Paula Medeiros Teixeira dos (31 de março de 2017). «Tranças, turbantes e empoderamento de mulheres negras: artefatos de moda como tecnologias de gênero e raça no evento Afro Chic (Curitiba-PR)». Repositório Institucional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (RIUT). Consultado em 21 de abril de 2024 
  20. PAULA, Mariane Valério de. «Fazer e pensar tranças: técnicas e gestos de uma arte dos cabelos». Biblioteca Virtual da UFSC. Consultado em 21 de abril de 2024 
  21. SONGA, Eufrásia Nahako. «(Re)significações das tranças e outros penteados em Angola: as moças das tranças na "Praça Nova" da cidade do Lubango». Repositório Institucional da UFG. Consultado em 21 de abril de 2024 
  22. SOUZA, Jorlânia Carolina Cândido. «CONVERGÊNCIAS ENTRE A ETNOMATEMÁTICA E A METODOLOGIA DE RECONHECIMENTO DE SABERES: POTENCIALIZAR IDENTIDADES NEGRAS. (A CULTURA DAS TRANÇAS PARA ALÉM DA ESTÉTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS)». Consultado em 21 de abril de 2024 
  23. «Dissertação "A ETNOMATEMÁTICA DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA: possíveis contribuições na aprendizagem de Matemática e cultura afro-brasileira dos estudantes da Educação Básica"». PORTAL DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA. 11 de setembro de 2023. Consultado em 26 de outubro de 2024 
  24. SOUSA, Raissa Lennon Nascimento (13 de junho de 2023). «Entrelaces da resistência: comunicação e práticas emancipatórias de mulheres negras trançadeiras da Amazônia». Repositório Institucional da UFPA. Consultado em 21 de abril de 2024 
  25. SANTOS, Luane Bento dos (4 de setembro de 2022). «Memórias Trançadas: um filme sobre tranças e pessoas trançadas». Site Medium. Consultado em 21 de abril de 2024 
  26. «[FILME] O QUE CABE EM UM TRANÇADO». REVISTA CONTINENTE. 29 de março de 2022. Consultado em 21 de abril de 2024 
  27. «Abebé' curta amazonense dialoga sobre a valorização da estética negra». Portal a Crítica. Consultado em 21 de abril de 2024 
  28. Claire, Marie (25 de junho de 2020). «"Enraizadas": filme sobre origem das tranças no Brasil será exibido em festival». Revista Marie Claire. Consultado em 21 de abril de 2024