Ciro Inácio Marcondes
Doutor em Comunicação pela linha Imagem e Som no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília. Entre 2014-15, realiza o Doutorado-Sanduíche no Centre des Recherches Interdisciplinaires sur les Mondes Ibériques Contemporains (CRIMIC) na Université Paris IV-La Sorbonne, em Paris. É mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB). Possui graduação em Letras - Português, licenciatura pela Universidade de Brasília (2005). Edita o website www.raiolaser.net, especializado em crítica de histórias em quadrinhos. Tem experiência nas áreas de Literatura, Cinema e Histórias em Quadrinhos, com ênfase em cinema silencioso, na obra de Mário Peixoto, nos temas do silêncio, da imagem e da poesia. Atualmente leciona no Mestrado Profissional Inovação em Comunicação e Economia Criativa, e na Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Brasília. Em 2021 publicou seu primeiro livro, "ZIP - Quadrinhos e Cultura Pop" (Editora Metrópoles). Entre 2021 e 2022 realiza pesquisa de pós-doutorado na University of Cambridge, na Faculty of Modern and Medieval Languages and Linguistics. Publicou em revistas como International Scientific Journal of Sapientia University, Eco-Pós, Rebeca, Revista da Socine, Cerrados, InTexto, Mídia e Cotidiano, Razón y Palabra, FAMECOS e Antílope.
PhD in Communication for the Image and Sound line in the Postgraduate Program of the Faculty of Communication of the University of Brasília. Between 2014-15, he holds a Doctorate-Sandwich at the Center des Recherches Interdisciplinaires sur les Mondes Ibériques Contemporains (CRIMIC) at the Université Paris IV-La Sorbonne in Paris. He holds a master's degree from the Postgraduate Program in Literature of the Department of Literary Theory and Literatures of the University of Brasília (UnB). He holds a degree in Letters - Portuguese, a degree from the University of Brasília (2005). He publishes the website www.raiolaser.net, specialized in comic book criticism. He has experience in the areas of Literature, Cinema and Comics, with emphasis on silent cinema, the work of Mário Peixoto, and the themes of silence, image and poetry. Currently teaches in the Professional Master's Degree in Innovation in Communication and Creative Economics, and in the School of Communication of the Catholic University of Brasilia. In 2021 he published his first book, "ZIP - Comics and Pop Culture" (Editora Metrópoles). Between 2021 and 2022 he carries out postdoctoral research at the University of Cambridge, at the Faculty of Modern and Medieval Languages and Linguistics. He has published in Journals such as the International Scientific Journal of Sapientia University, Eco-Pós, Rebeca, Revista da Socine, Cerrados, InTexto, Mídia e Cotidiano, Razón y Palabra, FAMECOS and Antílope.
PhD in Communication for the Image and Sound line in the Postgraduate Program of the Faculty of Communication of the University of Brasília. Between 2014-15, he holds a Doctorate-Sandwich at the Center des Recherches Interdisciplinaires sur les Mondes Ibériques Contemporains (CRIMIC) at the Université Paris IV-La Sorbonne in Paris. He holds a master's degree from the Postgraduate Program in Literature of the Department of Literary Theory and Literatures of the University of Brasília (UnB). He holds a degree in Letters - Portuguese, a degree from the University of Brasília (2005). He publishes the website www.raiolaser.net, specialized in comic book criticism. He has experience in the areas of Literature, Cinema and Comics, with emphasis on silent cinema, the work of Mário Peixoto, and the themes of silence, image and poetry. Currently teaches in the Professional Master's Degree in Innovation in Communication and Creative Economics, and in the School of Communication of the Catholic University of Brasilia. In 2021 he published his first book, "ZIP - Comics and Pop Culture" (Editora Metrópoles). Between 2021 and 2022 he carries out postdoctoral research at the University of Cambridge, at the Faculty of Modern and Medieval Languages and Linguistics. He has published in Journals such as the International Scientific Journal of Sapientia University, Eco-Pós, Rebeca, Revista da Socine, Cerrados, InTexto, Mídia e Cotidiano, Razón y Palabra, FAMECOS and Antílope.
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Dreyer, a partir de três vértices que compõem uma axiologia do cinema silencioso. Em primeiro lugar, o gesto, que disputa com a imagem o privilégio de fundar a expressão silenciosa. Em segundo lugar, o rosto, atuando ora como “buraco negro” deleuziano, e ora como código semiológico através de uma sintagmática demonstrada nos procedimentos fílmicos. Por fim, somos levados a uma análise da morte no filme como aporia derridiana. O corolário teórico que norteia esta abordagem são as ideias de Antonin Artaud para o cinema.
que os estudos acerca da criatividade no contexto
educacional têm focalizado o aprimoramento de
habilidades cognitivas e afetivas. Para tanto, a
adoção de um currículo escolar que desperte
o interesse e o prazer do aluno pelo ato de
aprender por meio de uma educação criativa e
a adoção de práticas educacionais que levem
em consideração características dos alunos e
o acesso às tecnologias digiatais de informação
e comunicação, constituem elementos de um
ambiente escolar favorável à realização escolar
e produção criativa. Metodologicamente, a
pesquisa é descritiva tendo como procedimento
a pesquisa bibliográfica e, ainda, a apresentação
e análise qualitativa de relatos de práticas
pedagógicas desenvolvidas em uma escola
pública do Distrito Federal. Por fim, buscou-se
destacar, nos estudos apresentados, a estreita
relação entre criatividade e autonomia intelectual,
enfatizando a sua importância e necessidade
para o desenvolvimento humano, uma vez que
o ato de criar configura-se como condição para
pensar. Pensar com liberdade, pensar por si
mesmo, propiciando desta forma que o sujeito
tenha a oportunidade de expressar suas ideias.
Keystone, tem um fundamento na violência. Ou em duas
violências: a primeira, a violência física das trombadas e
pontapés que seu personagem Carlitos desfere em seus
antagonistas; e a segunda, a violência motora, do movimento
incessante pelo campo cinematográfico e através dos planos.
Propomos uma análise desta dupla valência da violência em
Chaplin como princípio fundador da poesia cinematográfica
silenciosa: como esta violência motora e física se transforma em
balé? Será analisada a trajetória de Chaplin em seus primeiros
curtas por meio de uma reconstrução narrativa e histórica do
cinema, em busca do nascimento da poesia fílmica.
XX. Com base em revisão bibliográfica de autores tanto desta época
quanto contemporâneos, analisa não apenas o termo documento fotográfico, mas também o contexto histórico, social e cultural deste
período e como o advento do novo medium foi marcado por uma
enorme diversidade de práticas com diferentes propostas éticas e
estéticas que oscilavam, muitas vezes de maneira paradoxal, entre a
noção de documentação fotográfica fundada na ideia de fotografia
como prova – já que esta seria um registro direto e objetivo da realidade – e o conceito de “fotografia artística” como produto unicamente
da criação pictórica e pessoal do seu autor.
“Produção de TV” ou “Produção Audiovisual”
nos cursos de Comunicação Social necessitam
avançar nas técnicas pedagógicas para
que o discente se sinta mais à vontade para
aprender os conteúdos e desenvolver as
atividades práticas demandadas pelo mercado
de trabalho. Partindo do princípio que o roteiro
de um produto audiovisual é ferramenta básica
para uma boa produção, selecionou-se itens
importantes para a estruturação básica de um
roteiro de filme publicitário e, a partir de um
exercício prático, os discentes trabalharam na
correção de textos de colegas de turma e na
instrução das devidas correções melhorando,
assim, a formação acadêmica e profissional de
cada envolvido no processo. Por outro lado, a
proposta traz uma experiência que pode ser
interessante a quem tenha intenção de produzir
conteúdo audiovisual utilizando um padrão de
roteiro profissional e que irá facilitar o processo
de gravação e edição do vídeo. Capítulo para o livro "Comunicação, Mídias e Educação 3 Atena Editora 2019", organizado por Marcelo Pereira da Silva.
This article discusses how the themes of catastrophe and tragedy followed the development of film narrative and were transformed by it, from studies on the films "Intolerance" by D.W. Griffith, and "Sunrise" by F.W. Murnau. Published in the book L'Imaginaire de la Catastrophe dans la Communication et les Arts, by L'Harmattan.
Este artigo fala sobre como os temas da catástrofe e da tragédia acompanharam o desenvolvimento da narrativa cinematográfica e foram transformados por ela, a partir de estudos a respeito dos filmes “Intolerância”, de D.W. Griffith, e “Aurora”, de F.W. Murnau. Publicado no livro L’Imaginaire de la Catastrophe dans la Communication et les Arts, da L’Harmattan.
rádio e a TV envolvem potenciais de comunicação que ainda serão bastante
explorados pelos estudantes e professores. Por outro lado, com o contexto atual de
interação e evolução constante, as telas dos smartphones e mídias de sinalização
digital, conhecidas como Digital Signage ou Media Digital Out Of Home (MDOOH)
ganham espaço. O mercado para essas mídias é crescente e, pelo campo
acadêmico, é perceptível a necessidade de mais pesquisas para que docentes e
discentes se apropriem cada vez mais deste tipo de veiculação de informação e,
consequentemente, haja um benefício nos processos de aprendizagem.
(Jean Giraud) lançou uma história que,
pode-se dizer, revolucionaria as histórias
em quadrinhos. Totalmente “silenciosa”,
sem inferências gráficas a textos e sem
falas, Arzach investia em um universo
profundamente onírico e que realizava
um aproveitamento máximo da imagem
muda para desenvolver um sofisticado
sistema de declinação icônica. A partir
de autores como Barthes, Groensteen e
Chion, além de uma comparação com
o cinema silencioso, procuramos neste
artigo pensar os efeitos da ausência quase
total da palavra escrita em Arzach e seus
desdobramentos para uma etiologia dos
quadrinhos mudos.
Dreyer, a partir de três vértices que compõem uma axiologia do cinema silencioso. Em primeiro lugar, o gesto, que disputa com a imagem o privilégio de fundar a expressão silenciosa. Em segundo lugar, o rosto, atuando ora como “buraco negro” deleuziano, e ora como código semiológico através de uma sintagmática demonstrada nos procedimentos fílmicos. Por fim, somos levados a uma análise da morte no filme como aporia derridiana. O corolário teórico que norteia esta abordagem são as ideias de Antonin Artaud para o cinema.
que os estudos acerca da criatividade no contexto
educacional têm focalizado o aprimoramento de
habilidades cognitivas e afetivas. Para tanto, a
adoção de um currículo escolar que desperte
o interesse e o prazer do aluno pelo ato de
aprender por meio de uma educação criativa e
a adoção de práticas educacionais que levem
em consideração características dos alunos e
o acesso às tecnologias digiatais de informação
e comunicação, constituem elementos de um
ambiente escolar favorável à realização escolar
e produção criativa. Metodologicamente, a
pesquisa é descritiva tendo como procedimento
a pesquisa bibliográfica e, ainda, a apresentação
e análise qualitativa de relatos de práticas
pedagógicas desenvolvidas em uma escola
pública do Distrito Federal. Por fim, buscou-se
destacar, nos estudos apresentados, a estreita
relação entre criatividade e autonomia intelectual,
enfatizando a sua importância e necessidade
para o desenvolvimento humano, uma vez que
o ato de criar configura-se como condição para
pensar. Pensar com liberdade, pensar por si
mesmo, propiciando desta forma que o sujeito
tenha a oportunidade de expressar suas ideias.
Keystone, tem um fundamento na violência. Ou em duas
violências: a primeira, a violência física das trombadas e
pontapés que seu personagem Carlitos desfere em seus
antagonistas; e a segunda, a violência motora, do movimento
incessante pelo campo cinematográfico e através dos planos.
Propomos uma análise desta dupla valência da violência em
Chaplin como princípio fundador da poesia cinematográfica
silenciosa: como esta violência motora e física se transforma em
balé? Será analisada a trajetória de Chaplin em seus primeiros
curtas por meio de uma reconstrução narrativa e histórica do
cinema, em busca do nascimento da poesia fílmica.
XX. Com base em revisão bibliográfica de autores tanto desta época
quanto contemporâneos, analisa não apenas o termo documento fotográfico, mas também o contexto histórico, social e cultural deste
período e como o advento do novo medium foi marcado por uma
enorme diversidade de práticas com diferentes propostas éticas e
estéticas que oscilavam, muitas vezes de maneira paradoxal, entre a
noção de documentação fotográfica fundada na ideia de fotografia
como prova – já que esta seria um registro direto e objetivo da realidade – e o conceito de “fotografia artística” como produto unicamente
da criação pictórica e pessoal do seu autor.
“Produção de TV” ou “Produção Audiovisual”
nos cursos de Comunicação Social necessitam
avançar nas técnicas pedagógicas para
que o discente se sinta mais à vontade para
aprender os conteúdos e desenvolver as
atividades práticas demandadas pelo mercado
de trabalho. Partindo do princípio que o roteiro
de um produto audiovisual é ferramenta básica
para uma boa produção, selecionou-se itens
importantes para a estruturação básica de um
roteiro de filme publicitário e, a partir de um
exercício prático, os discentes trabalharam na
correção de textos de colegas de turma e na
instrução das devidas correções melhorando,
assim, a formação acadêmica e profissional de
cada envolvido no processo. Por outro lado, a
proposta traz uma experiência que pode ser
interessante a quem tenha intenção de produzir
conteúdo audiovisual utilizando um padrão de
roteiro profissional e que irá facilitar o processo
de gravação e edição do vídeo. Capítulo para o livro "Comunicação, Mídias e Educação 3 Atena Editora 2019", organizado por Marcelo Pereira da Silva.
This article discusses how the themes of catastrophe and tragedy followed the development of film narrative and were transformed by it, from studies on the films "Intolerance" by D.W. Griffith, and "Sunrise" by F.W. Murnau. Published in the book L'Imaginaire de la Catastrophe dans la Communication et les Arts, by L'Harmattan.
Este artigo fala sobre como os temas da catástrofe e da tragédia acompanharam o desenvolvimento da narrativa cinematográfica e foram transformados por ela, a partir de estudos a respeito dos filmes “Intolerância”, de D.W. Griffith, e “Aurora”, de F.W. Murnau. Publicado no livro L’Imaginaire de la Catastrophe dans la Communication et les Arts, da L’Harmattan.
rádio e a TV envolvem potenciais de comunicação que ainda serão bastante
explorados pelos estudantes e professores. Por outro lado, com o contexto atual de
interação e evolução constante, as telas dos smartphones e mídias de sinalização
digital, conhecidas como Digital Signage ou Media Digital Out Of Home (MDOOH)
ganham espaço. O mercado para essas mídias é crescente e, pelo campo
acadêmico, é perceptível a necessidade de mais pesquisas para que docentes e
discentes se apropriem cada vez mais deste tipo de veiculação de informação e,
consequentemente, haja um benefício nos processos de aprendizagem.
(Jean Giraud) lançou uma história que,
pode-se dizer, revolucionaria as histórias
em quadrinhos. Totalmente “silenciosa”,
sem inferências gráficas a textos e sem
falas, Arzach investia em um universo
profundamente onírico e que realizava
um aproveitamento máximo da imagem
muda para desenvolver um sofisticado
sistema de declinação icônica. A partir
de autores como Barthes, Groensteen e
Chion, além de uma comparação com
o cinema silencioso, procuramos neste
artigo pensar os efeitos da ausência quase
total da palavra escrita em Arzach e seus
desdobramentos para uma etiologia dos
quadrinhos mudos.
elementos básicos constituintes deste cinema: a imagem, o silêncio e a poesia. Entre
seus objetivos principais estão investigar a natureza das relações mediáticas entre
som e silêncio, fala e silêncio, escrita e silêncio, imagem e palavra. O que ocorre, na
percepção humana, quando um medium (a banda sonora) é retirado de outro medium
(o cinema sonoro), gerando, por antecipação, o cinema silencioso? Trabalhamos com
a hipótese de que o silêncio técnico do filme, associado a propriedades específicas da
imagem, gera uma frequência (um medium que ocorre não na materialidade, mas na
percepção) poética, mergulhando o espectador em estado cognitivo diferente. Neste
caso, portanto, a poesia não é forma literária ou artística, mas sim ontologia. Para
realizar esta investigação foram adotados alguns procedimentos metodológicos: o
“hologramático”, que prevê um corpus e um material de investigação policêntricos; o
“fragmento”, que encerra o conteúdo em pequenas porções dispersas, mas completas
em si; a “iconologia dos movimentos”, para se pensar a história da arte por meio das
relações entre imagens; o “método erótico”, que valoriza a aproximação entre sujeito e
objeto; e a “razão poética”, meta-método que propõe uma heurística por meio da
poesia. Através deste procedimento, investigamos inúmeros filmes silenciosos e
também sonoros, como O vagabundo, Os vampiros, O boulevard do crime, O gabinete
das figuras de cera, Ivan o terrível, Moana with sound, A ponte, Fantômas, Retrato de
um homem jovem, entre outros. Como a poesia se adapta diferentemente em cada
contexto mediático, cada análise constituiu um universo em si de cruzamento dos
temas principais do trabalho. Isso também justifica a presença de análises dos
pintores René Magritte e Claude Monet. Circundando os temas por meio desta
investigação hologramática, chegamos à ideia de que a frequência poética se
manifesta de maneira semelhante em media que compartilham a imagem e o silêncio,
como a pintura e o cinema silencioso, e que todos eles fazem parte de um mesmo
fenômeno de percepção.
DOSSIÊ: POTÊNCIAS DOS QUADRINHOS
Organizadores: Dr. Alexandre Linck Vargas (UNISUL) e Dr. Ciro Inácio Marcondes (UCB)
Desde os anos 1970, quando a intelectualidade por fim descobriu os quadrinhos, são publicados estudos com a pretensão de desvendar linguagens, gramáticas, sistemas dos quadrinhos. Ainda que se ateste a inegável contribuição teórica e analítica, a tradição dos estudos de quadrinhos, fortemente influenciada ainda hoje pelo estruturalismo, construiu-se a partir de uma metodologia bastante restrita: era preciso apreender o objeto, isolar suas unidades, apontando sua funcionalidade no todo para então, após a dissecação, recompor um corpo universal a todos os quadrinhos, de modo que cada elemento testemunhe o quão é necessário ou contingente. Os limites desse procedimento evidencia-se na proliferação dos resultados e seus desacordos. Questões que seriam supostamente sanadas, como o que são os quadrinhos, quais são seus elementos fundamentais e o que delimita aquilo que é ou não uma história em quadrinhos permanecem em aberto.
As múltiplas definições de quadrinhos jamais foram apaziguadas, a incapacidade de se chegar a um elementar dos quadrinhos mostrou-se insistente, e com razoável facilidade pode-se contrapor exceções a qualquer universalização dos recursos que caracterizam aquilo que é ou não uma história em quadrinhos. Mesmo Thierry Groensteen, na introdução de O Sistema dos Quadrinhos, no tópico “A definição inencontrável”, ao avaliar qual seria a essência dos quadrinhos, atestará a aporia da missão. Daí sua aposta no dispositivo espaçotópico e na artrologia restrita e geral, tentativas parciais de não mais estudar o objeto quadrinhos a partir de sua imobilização e desmembramento, mas por sua relação e acontecimento.“Da minha parte, estou convencido que não é abordando as HQs ao nível do detalhe que poderemos, ao preço de uma ampliação progressiva, chegar numa descrição coerente e fundamentada da sua linguagem. Proponho o contrário: que os abordemos do alto, ao nível de suas articulações maiores” (GROENSTEEN, 2015, p. 13).
Caminhos semelhantes tomaram Charles Hatfield em Alternative Comics ao pensar os quadrinhos a partir de suas tensões e Maaheen Ahmed em Openness of Comics ao pegar emprestado o conceito de obra aberta de Umberto Eco para teorizar estruturas flexíveis aos quadrinhos. Observa-se, portanto, que o estudo dos quadrinhos contemporâneo traz consigo, por vezes de maneira esquizofrênica, uma vontade de potência. Conceito nietzschiano, potência enquanto poder-vir-a-ser, que aplicado ao estudo dos quadrinhos significa uma virada metodológica. Não se trata mais de colocar o quadrinho sobre a mesa de autópsia, mas de abordá-lo em sua plena vitalidade. Aqui reconhece-se traços do método de Aby Warburg, para quem as imagens deveriam ser pensadas não pela exclusividade ou simples sequencialidade, mas por sua serialidade, capacidade sintomática de estabelecer relações múltiplas, anacrônicas e imprevisíveis. Hannah Miodrag em Comics and Language faria percurso parecido ao criticar o elogio ao sequencial enquanto pressuposto de transparência narrativa, ao passo que Christopher Pizzino em Arresting Development denunciaria o olhar organicista sobre os quadrinhos que por meio de um discurso Bildungsroman, isto é, discurso que organiza e valida uma adultidade progressiva, acaba por ocultar toda sorte de forças e contraforças.
Pensar as potências dos quadrinhos implica, portanto, em uma recusa a qualquer organização da HQ, tentativa de qualificá-la enquanto organismo fechado, para, de outro modo, abrir-se à uma cartografia dos corpos móveis, imagens rizomáticas, “corpo sem órgãos”, espaço de entradas e saídas, tempos e contratempos, ou seja, devires, pelos quais afetos e perceptos agenciam-se sensivelmente na materialidade dos quadrinhos. Em outras palavras, os quadrinhos tornam-se potentes quando voltam-se contra qualquer projeto de identidade universal e sinalizam insistentemente um ir além, ponto de fuga ontológico.
Diante dessa emergência e sua atualidade, o dossiê "Potências dos Quadrinhos" convida todos os pesquisadores e pesquisadoras de diferentes disciplinas a contribuir com produções inéditas que refletem e problematizam as questões colocadas ao estudo dos quadrinhos.
O prazo final de submissão é 10 de novembro.
O ato de comunicar por meio de imagens sequenciais é muito antigo. Mais antigo até do que a própria escrita. Seu modelo comunicacional está inscrito ao longo da História em tapeçarias, pirâmides, iluminuras, pinturas neoclássicas, etc. A eclosão de sua forma moderna no século XIX apenas libertou um potencial já prenhe em inúmeras culturas humanas, fazendo as histórias em quadrinhos se tornarem uma vastíssima cultura dos mass media, alcançando local de protagonismo nas formas de comunicação contemporâneas.
A pesquisa sobre quadrinhos há muito deixou para trás as primeiras obras de referência. Quadrinhos e arte sequencial, de Will Eisner, e Desvendando os quadrinhos, de Scott McCloud, importantes pioneiros, estão hoje mais no anedotário da teoria do que em sua linha de frente. A recente tradução para o português de O sistema dos quadrinhos, de Thierry Groensteen, obra do final dos anos 1990, mas de fundamental referencial narratológico, ajudou a impulsionar o novo boom de estudos sobre quadrinhos no Brasil. Juntam-se a isso pesquisas avançadas, tanto no campo da linguagem, quanto na análise representacional, quanto ontológica, quanto em estudos culturais ou de gênero. Nomes mundiais emergem sinalizando caminhos para a pesquisa em quadrinhos: Robert C. Harvey, Paul Gravett, Ann Miller, Bart Beaty, David Carrier, Charles Hatfield, etc. Do lado francófono, trabalhos pioneiros como os de Fresnault-Deruelle e Benoît Peeters juntam-se a historiografias atualizadas e estudos variados como os de Thierry Smolderen e Henri Garric. No Brasil, atualmente centenas de pesquisas em pós-graduação estão sendo realizadas na área. Aos trabalhos consistentes e já históricos de nomes como Waldomiro Vergueiro e Moacy Cirne somam-se projetos promissores como as recentes pesquisas de Alexandre Linck Vargas e Maria Clara Carneiro.
A presença maciça da cultura de quadrinhos nas formas comunicacionais contemporâneas é muito evidente. As maiores bilheterias do cinema atual são adaptações de quadrinhos. Mas isso não significa que o meio se restrinja a um conteúdo ainda infanto-juvenil ou mainstream. Além de estarem presentes em laureados romances gráficos, reportagens de guerra, intensas autobiografias e todo tipo de histórias impressas, os quadrinhos viraram também moeda comum na Internet, nas mais diferentes plataformas, e dão continuidade à sua longa tradição de comentário político e sátira social. Esta publicação tem por objetivo estender este momento fértil para os quadrinhos privilegiando tanto uma reflexão sobre o campo em si e suas dimensões política e ontológica, quanto a pormenorização destes aspectos em análises de obras individuais, quanto análises discursivas e narratológicas, problematizando a linguagem e o meio em si.
Como sempre, a seção “Livres” aceitará artigos sobre os mais diversos temas que abordem os fenômenos comunicacionais e o campo da pesquisa em comunicação.
Editor: Frederico Feitoza
Co-editor para esta edição: Ciro Inácio Marcondes
Latindex LIVRE DIADORIM
E-ISSN 2446-6190
DOI 10.19174
REVISTA B2 (Qualis CAPES 2015)