Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPCIS/UERJ) e investigador dos grupos CEVIS - Coletivo de Estudos sobre Violência e Sociabilidade (IESP-UERJ) e CIDADES - Núcleo de Pesquisa Urbana (PPCIS-UERJ). E-mail: daviesfr@gmail.com Supervisors: Lia de Mattos Rocha and Miquel Fernandez Gonzalez (estágio-sanduíche)
Partindo da favela como representação "problemática" da cidade latino-americana, cotejo... more Partindo da favela como representação "problemática" da cidade latino-americana, cotejo neste ensaio reflexões acerca da colonialidade presente nas interpretações sociológicas sobre o tema. Ao analisar figurações em torno das territorialidades negras, retomo a noção de quilombo sob a perspectiva de sua transmutação aos dias de hoje. Indicando aspectos de continuidade que atualizam o passado colonial, são propostas articulações em torno de temas e problemas comumente dispersos nos tempos e espaços dos enquadramentos analíticos. Desse modo, este trabalho se envolve no debate a respeito dos saberes produzidos em torno das cidades do Sul Global, levando em conta as condições em que a raça é entremeada à experiência histórica de produção desses espaços. Por meio desse esforço, busco inspirar discussões e valorizar estudos que exploram as dimensões raciais que constituem essas cidades.
O presente artigo se origina de pesquisa realizada entre 2020 e 2022 no Conjunto Jardim União, lo... more O presente artigo se origina de pesquisa realizada entre 2020 e 2022 no Conjunto Jardim União, localidade da cidade de Fortaleza-CE, Brasil. Partindo da história local, apresentamos o Conjunto como um caso possível de produção das cidades, entremeado a lógicas de ocupação articuladas a um passado colonial e a atualização de mecanismos de manutenção das desigualdades operados com base na noção de raça. Através de um exercício reflexivo de caracterização desse espaço enquanto bairro negro e quilombo urbano, consideramos os rendimentos teórico-analíticos ao se levar em conta a formação das cidades sob o prisma das experiências raciais. Explorando temas e problemas pouco trabalhados sob outras perspectivas, pretendemos contribuir para um olhar complexo e sensível em torno das territorialidades negras, indicando linhas de força que operam sobre ações políticas e formas de ordenamento.
This paper explores the relationship between the Armed Forces and the land market in Brazilian me... more This paper explores the relationship between the Armed Forces and the land market in Brazilian metropolises. Highlighting the importance of the urban dimensions of this relationship, this research sheds light on agents usually invisibilized by the literature in an attempt to understand their role in land policy. The practices, meanings, and outcomes of the Armed Forces’ involvement is reflected in the decision-making conditions that characterize Brazilian democracy. By establishing a dialogue with a well-known aphorism from Prussian strategist Carl von Clausewitz, that war is the continuation of politics by other means, we present and analyze land policies as continued by war operators. As we analyze military management practices and the commodification of public spaces, we find the city’s production dynamics are galvanized by Army generals. Beyond security, surveillance, and population control, the Armed Forces have carried out a complex set of strategies regarding the occupation of cities, fueling debates around the nature of democracy underway in contemporary Brazil.
Do legado fez-se espólio: megaeventos, violações de direitos humanos e luta social, 2020
A proposta desse artigo é apresentar e analisar três formas de gestão armada dos territórios do R... more A proposta desse artigo é apresentar e analisar três formas de gestão armada dos territórios do Rio de Janeiro, impostas pelo tráfi - co de drogas, pela milícia e pelo Exército. Apesar das diferenças entre si, tais atores são considerados centrais à segurança pública no contexto de megaeventos, o qual marcou a cidade nas últimas décadas. Estatais ou não, os regimes de poder desenvolvidos por estes agentes armados são verdadeiros obstáculos à vida carioca, principalmente, às ações cotidianas dos mais pobres. Os três apresentam elementos comuns, como o autoritarismo no controle de mercados, a regulação da circulação de corpos e territórios e o reforço às visões depreciativas sobre essa população, em especial os jovens negros. Sob as armas, são atravessadas as fronteiras do legal e ilegal para a perpetuação de suas atividades ao longo do espaço e do tempo.
Este artigo explora parte dos resultados da investigação de doutorado realizada pelo autor dedica... more Este artigo explora parte dos resultados da investigação de doutorado realizada pelo autor dedicada às formas de governo e situações de disputa na preparação de Deodoro como uma das "regiões olímpicas" para os Jogos de 2016 sediados no Rio de Janeiro. Entre outras características, a localidade é marcada por intensa e dispersa presença das organizações do Exército Brasileiro, condensando ali o maior aquartelamento da América Latina. Em anos que antecederam o torneio, a proposta de criação de um "parque verde" em Realengo sob iniciativa de moradores organizados foi inviabilizada pelo comando militar responsável pela área pretendida, que, ao invés disso, apresentou um projeto de condomínio residencial a ser construído e vendido por fundação e bancos privados ligados ao Exército e geridos por superiores da corporação. De general para general, mudanças e disputas em torno do terreno revelaram dinâmicas possíveis de produção do espaço no contexto dos megaeventos, e que para além dele constituem parte da vida política brasileira contemporânea, marcada pela participação cada vez maior de agentes militares em posições de liderança na administração estatal.
Este artigo analisa alguns dos impactos sobre o tecido associativo das favelas do Rio de Janeiro ... more Este artigo analisa alguns dos impactos sobre o tecido associativo das favelas do Rio de Janeiro após a implementação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), em 2008. Destacamos nessa investigação as possibilidades de produção da “crítica” – entendida nos termos de Boltanski (2013) – por moradores das favelas do Batan e do Borel, na zona oeste e norte da cidade, respectivamente. Os dados analisados foram produzidos com base na etnografia de “reuniões comunitárias” organizadas nessas localidades, onde moradores e gestores públicos (civis e militares) se encontram e negociam desde demandas pontuais à gestão cotidiana da vida nessas áreas. Assim, analisamos as situações de aliança, disputa, julgamento e outras formas de controle realizadas no escopo desses encontros. Nessas dinâmicas, refletimos sobre os recursos que são validados e deslegitimados por esses processos, produzindo formas de fala e de silenciamento no contexto de “pacificação” dessas localidades e de suas populações.
O “subúrbio carioca” possui delimitação territorial bastante
consensual na produção acadêmica, qu... more O “subúrbio carioca” possui delimitação territorial bastante consensual na produção acadêmica, que faz referência a um conjunto de bairros atravessados pelas linhas de trem, simbolicamente distante do que seria o “centro” da cidade e indexado à pobreza, subalternidade e classes populares. No campo das representações, entretanto, os pesquisadores mobilizam uma multiplicidade de olhares e afetos em torno da categoria, fazendo com que os conteúdos e formas de suas textualizações se apresentem variados. Este artigo discute os usos e deslocamentos da noção de subúrbio carioca nas ciências sociais, com foco especial na produção etnográfica. Sua análise ressalta a elaboração de escritas alegóricas sobre esse espaço do Rio de Janeiro, que permitem tanto descrever eventos como realizar afirmações culturais ou mesmo ideológicas, constituindo narrativas que buscam desestabilizar as fronteiras físicas e simbólicas da cidade.
Este artigo apresenta e analisa a mobilização motivada pela Transolímpica em seu percurso previst... more Este artigo apresenta e analisa a mobilização motivada pela Transolímpica em seu percurso previsto por Magalhães Bastos, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. Entrevistas, documentos e registros de reuniões envolvendo moradores e agentes do “Estado” entre 2012 a 2015 destacam as estratégias e gramáticas articuladas por uma comissão local interessada em impedir a demolição de centenas de casas no bairro. Por meio desse caso, as dinâmicas e técnicas de governo da “cidade olímpica” são colocadas em questão, chamando atenção para a complexidade desses processos e a combinação in situ de projetos religiosos e seculares, trançados em contextos locais e através de determinadas relações de poder.
Este artigo apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões comunitárias ... more Este artigo apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões comunitárias organizadas e dirigidas
pelos comandos militares das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Estado do Rio de Janeiro. Foram analisados símbolos,
valores e temas suscitados nesses eventos, para o qual convergem diferentes representantes das esferas pública, privada e
de base local a fim de constituir no cenário cotidiano dessas favelas verdadeiros rituais de “pacificação”. Conforme a pesquisa
aponta, existem regularidades e formalidades que buscam conduzir a produção de novos valores morais e também renovar
velhos mecanismos de controle sobre as dinâmicas políticas desses espaços. Nesse escopo, a “pacificação” tem revelado mais
permanências do que rupturas no processo de “promoção de cidadania” aos moradores de favelas.
A paz que queremos seguir? Etnografando reuniões comunitárias organizadas pelos comandos das UPPs
O texto apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões “comunitárias” or... more O texto apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões “comunitárias” organizadas e dirigidas pelos comandos militares das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Através de relatos etnográficos foram analisados símbolos, valores e temas suscitados nesses eventos, para o qual convergem diferentes representantes da esfera pública, privada e de base local a fim de constituir no cenário cotidiano dessas favelas verdadeiros rituais de "pacificação". Conforme a pesquisa aponta, existem regularidades e formalidades que buscam conduzir a produção de novos valores morais e também renovar velhos mecanismos de controle sobre as dinâmicas políticas desses espaços. Nesse escopo, a "pacificação" tem revelado mais permanências do que rupturas no processo de "promoção de cidadania" aos favelados
Partindo da favela como representação "problemática" da cidade latino-americana, cotejo... more Partindo da favela como representação "problemática" da cidade latino-americana, cotejo neste ensaio reflexões acerca da colonialidade presente nas interpretações sociológicas sobre o tema. Ao analisar figurações em torno das territorialidades negras, retomo a noção de quilombo sob a perspectiva de sua transmutação aos dias de hoje. Indicando aspectos de continuidade que atualizam o passado colonial, são propostas articulações em torno de temas e problemas comumente dispersos nos tempos e espaços dos enquadramentos analíticos. Desse modo, este trabalho se envolve no debate a respeito dos saberes produzidos em torno das cidades do Sul Global, levando em conta as condições em que a raça é entremeada à experiência histórica de produção desses espaços. Por meio desse esforço, busco inspirar discussões e valorizar estudos que exploram as dimensões raciais que constituem essas cidades.
O presente artigo se origina de pesquisa realizada entre 2020 e 2022 no Conjunto Jardim União, lo... more O presente artigo se origina de pesquisa realizada entre 2020 e 2022 no Conjunto Jardim União, localidade da cidade de Fortaleza-CE, Brasil. Partindo da história local, apresentamos o Conjunto como um caso possível de produção das cidades, entremeado a lógicas de ocupação articuladas a um passado colonial e a atualização de mecanismos de manutenção das desigualdades operados com base na noção de raça. Através de um exercício reflexivo de caracterização desse espaço enquanto bairro negro e quilombo urbano, consideramos os rendimentos teórico-analíticos ao se levar em conta a formação das cidades sob o prisma das experiências raciais. Explorando temas e problemas pouco trabalhados sob outras perspectivas, pretendemos contribuir para um olhar complexo e sensível em torno das territorialidades negras, indicando linhas de força que operam sobre ações políticas e formas de ordenamento.
This paper explores the relationship between the Armed Forces and the land market in Brazilian me... more This paper explores the relationship between the Armed Forces and the land market in Brazilian metropolises. Highlighting the importance of the urban dimensions of this relationship, this research sheds light on agents usually invisibilized by the literature in an attempt to understand their role in land policy. The practices, meanings, and outcomes of the Armed Forces’ involvement is reflected in the decision-making conditions that characterize Brazilian democracy. By establishing a dialogue with a well-known aphorism from Prussian strategist Carl von Clausewitz, that war is the continuation of politics by other means, we present and analyze land policies as continued by war operators. As we analyze military management practices and the commodification of public spaces, we find the city’s production dynamics are galvanized by Army generals. Beyond security, surveillance, and population control, the Armed Forces have carried out a complex set of strategies regarding the occupation of cities, fueling debates around the nature of democracy underway in contemporary Brazil.
Do legado fez-se espólio: megaeventos, violações de direitos humanos e luta social, 2020
A proposta desse artigo é apresentar e analisar três formas de gestão armada dos territórios do R... more A proposta desse artigo é apresentar e analisar três formas de gestão armada dos territórios do Rio de Janeiro, impostas pelo tráfi - co de drogas, pela milícia e pelo Exército. Apesar das diferenças entre si, tais atores são considerados centrais à segurança pública no contexto de megaeventos, o qual marcou a cidade nas últimas décadas. Estatais ou não, os regimes de poder desenvolvidos por estes agentes armados são verdadeiros obstáculos à vida carioca, principalmente, às ações cotidianas dos mais pobres. Os três apresentam elementos comuns, como o autoritarismo no controle de mercados, a regulação da circulação de corpos e territórios e o reforço às visões depreciativas sobre essa população, em especial os jovens negros. Sob as armas, são atravessadas as fronteiras do legal e ilegal para a perpetuação de suas atividades ao longo do espaço e do tempo.
Este artigo explora parte dos resultados da investigação de doutorado realizada pelo autor dedica... more Este artigo explora parte dos resultados da investigação de doutorado realizada pelo autor dedicada às formas de governo e situações de disputa na preparação de Deodoro como uma das "regiões olímpicas" para os Jogos de 2016 sediados no Rio de Janeiro. Entre outras características, a localidade é marcada por intensa e dispersa presença das organizações do Exército Brasileiro, condensando ali o maior aquartelamento da América Latina. Em anos que antecederam o torneio, a proposta de criação de um "parque verde" em Realengo sob iniciativa de moradores organizados foi inviabilizada pelo comando militar responsável pela área pretendida, que, ao invés disso, apresentou um projeto de condomínio residencial a ser construído e vendido por fundação e bancos privados ligados ao Exército e geridos por superiores da corporação. De general para general, mudanças e disputas em torno do terreno revelaram dinâmicas possíveis de produção do espaço no contexto dos megaeventos, e que para além dele constituem parte da vida política brasileira contemporânea, marcada pela participação cada vez maior de agentes militares em posições de liderança na administração estatal.
Este artigo analisa alguns dos impactos sobre o tecido associativo das favelas do Rio de Janeiro ... more Este artigo analisa alguns dos impactos sobre o tecido associativo das favelas do Rio de Janeiro após a implementação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), em 2008. Destacamos nessa investigação as possibilidades de produção da “crítica” – entendida nos termos de Boltanski (2013) – por moradores das favelas do Batan e do Borel, na zona oeste e norte da cidade, respectivamente. Os dados analisados foram produzidos com base na etnografia de “reuniões comunitárias” organizadas nessas localidades, onde moradores e gestores públicos (civis e militares) se encontram e negociam desde demandas pontuais à gestão cotidiana da vida nessas áreas. Assim, analisamos as situações de aliança, disputa, julgamento e outras formas de controle realizadas no escopo desses encontros. Nessas dinâmicas, refletimos sobre os recursos que são validados e deslegitimados por esses processos, produzindo formas de fala e de silenciamento no contexto de “pacificação” dessas localidades e de suas populações.
O “subúrbio carioca” possui delimitação territorial bastante
consensual na produção acadêmica, qu... more O “subúrbio carioca” possui delimitação territorial bastante consensual na produção acadêmica, que faz referência a um conjunto de bairros atravessados pelas linhas de trem, simbolicamente distante do que seria o “centro” da cidade e indexado à pobreza, subalternidade e classes populares. No campo das representações, entretanto, os pesquisadores mobilizam uma multiplicidade de olhares e afetos em torno da categoria, fazendo com que os conteúdos e formas de suas textualizações se apresentem variados. Este artigo discute os usos e deslocamentos da noção de subúrbio carioca nas ciências sociais, com foco especial na produção etnográfica. Sua análise ressalta a elaboração de escritas alegóricas sobre esse espaço do Rio de Janeiro, que permitem tanto descrever eventos como realizar afirmações culturais ou mesmo ideológicas, constituindo narrativas que buscam desestabilizar as fronteiras físicas e simbólicas da cidade.
Este artigo apresenta e analisa a mobilização motivada pela Transolímpica em seu percurso previst... more Este artigo apresenta e analisa a mobilização motivada pela Transolímpica em seu percurso previsto por Magalhães Bastos, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. Entrevistas, documentos e registros de reuniões envolvendo moradores e agentes do “Estado” entre 2012 a 2015 destacam as estratégias e gramáticas articuladas por uma comissão local interessada em impedir a demolição de centenas de casas no bairro. Por meio desse caso, as dinâmicas e técnicas de governo da “cidade olímpica” são colocadas em questão, chamando atenção para a complexidade desses processos e a combinação in situ de projetos religiosos e seculares, trançados em contextos locais e através de determinadas relações de poder.
Este artigo apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões comunitárias ... more Este artigo apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões comunitárias organizadas e dirigidas
pelos comandos militares das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Estado do Rio de Janeiro. Foram analisados símbolos,
valores e temas suscitados nesses eventos, para o qual convergem diferentes representantes das esferas pública, privada e
de base local a fim de constituir no cenário cotidiano dessas favelas verdadeiros rituais de “pacificação”. Conforme a pesquisa
aponta, existem regularidades e formalidades que buscam conduzir a produção de novos valores morais e também renovar
velhos mecanismos de controle sobre as dinâmicas políticas desses espaços. Nesse escopo, a “pacificação” tem revelado mais
permanências do que rupturas no processo de “promoção de cidadania” aos moradores de favelas.
A paz que queremos seguir? Etnografando reuniões comunitárias organizadas pelos comandos das UPPs
O texto apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões “comunitárias” or... more O texto apresenta reflexões acerca dos processos de regulamentação das reuniões “comunitárias” organizadas e dirigidas pelos comandos militares das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Através de relatos etnográficos foram analisados símbolos, valores e temas suscitados nesses eventos, para o qual convergem diferentes representantes da esfera pública, privada e de base local a fim de constituir no cenário cotidiano dessas favelas verdadeiros rituais de "pacificação". Conforme a pesquisa aponta, existem regularidades e formalidades que buscam conduzir a produção de novos valores morais e também renovar velhos mecanismos de controle sobre as dinâmicas políticas desses espaços. Nesse escopo, a "pacificação" tem revelado mais permanências do que rupturas no processo de "promoção de cidadania" aos favelados
Um resumo de apresentação da tese. Esse texto foi lido na cerimônia de defesa de doutorado, reali... more Um resumo de apresentação da tese. Esse texto foi lido na cerimônia de defesa de doutorado, realizada no dia 07/08/2017 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Nesta tese são analisadas as formas de governo que produziram a “região olímpica de Deodoro”, uma... more Nesta tese são analisadas as formas de governo que produziram a “região olímpica de Deodoro”, uma das quatro áreas escolhidas para a realização de disputas esportivas durante os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Nos enquadramentos de espaço e tempo cadenciados pela “região olímpica”, esta investigação dá destaque a agenciamentos, técnicas e pensamentos articulados às práticas de gestão de populações e territórios, entendidas como dinâmicas necessariamente territorializadas e coprodutivas, realizadas por meio das interações com os governados. Para acompanhar esses processos, são analisados documentos oficiais, reportagens e peças publicitárias sobre Deodoro e os Jogos, além de entrevistas e observações de encontros e reuniões entre Prefeitura, Exército e grupos de moradores organizados. Concentrando o maior aquartelamento militar da América Latina, a “região de Deodoro” deixa em destaque as condutas dos comandantes da corporação castrense, que nas preparações para o megaevento alçaram investimentos nos campos da segurança e defesa, e também por meio das políticas de incentivo a atletas de alto rendimento. Outras formas de governo se combinam e também entram em conflito para a produção desse espaço e, nesse sentido, o objetivo desta investigação é entender as justificativas, os efeitos, os limites e os arranjos que constituíram os modos de “transformação” dessa “região”.
Sinopse: Há muito a categoria "subúrbio carioca" perdeu sua força analítica nos estudos das ciênc... more Sinopse: Há muito a categoria "subúrbio carioca" perdeu sua força analítica nos estudos das ciências sociais. Contudo, continuou sendo operada por agentes diversos, como gestores, movimentos sociais, moradores, empresários, pesquisadores etc. como meio de enquadrar populações, categorizar territórios e justificar desiguais distribuições de recursos pela cidade. A novidade nesse cenário foi que nos últimos anos houve o acionamento crescente da noção por coletivos artísticos e culturais como estratégia de combate a estereótipos e de fortalecimento a pleitos por políticas públicas mais justas. O vídeo "Possíveis subúrbios cariocas" busca fornecer algumas chaves de leitura sobre as contemporâneas políticas e poéticas que mobilizam o termo, abordando de forma ampla as dinâmicas, disputas e alianças que conformam o Rio de Janeiro. O intuito é que o material sirva de recurso didático para professores e pesquisadores, alcançando em especial o público formado por estudantes do ensino médio e de cursos de graduação.
Nesta entrevista, o professor e pesquisador Thiago Allis, por meio de sua análise sobre as experi... more Nesta entrevista, o professor e pesquisador Thiago Allis, por meio de sua análise sobre as experiências acumuladas em sua trajetória profissional, apresenta um conjunto de observações, proposições e perspectivas sobre o fenômeno turístico nas grandes cidades contemporâneas. São abordados temas como a relação entre turistas e moradores, os impactos da adoção do modelo de negócio da Airbnb (airbnbzação) na dinâmica imobiliária urbana e os benefícios analíticos decorrentes da priorização do tema das mobilidades nos estudos urbanos. Como proposta teórico-metodológica para essas investigações, Allis valoriza o diálogo entre diferentes campos de conhecimento e enfatiza a importância de uma postura atenta às “frestas” urbanas, explorando tópicos ocultos e frequentemente tratados como zonas de interstício, mas que merecem igualmente uma abordagem investigativa cuidadosa.
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co de drogas, pela milícia e pelo Exército. Apesar das diferenças
entre si, tais atores são considerados centrais à segurança pública
no contexto de megaeventos, o qual marcou a cidade nas últimas
décadas. Estatais ou não, os regimes de poder desenvolvidos por
estes agentes armados são verdadeiros obstáculos à vida carioca,
principalmente, às ações cotidianas dos mais pobres. Os três apresentam elementos comuns, como o autoritarismo no controle de
mercados, a regulação da circulação de corpos e territórios e o reforço às visões depreciativas sobre essa população, em especial os
jovens negros. Sob as armas, são atravessadas as fronteiras do legal
e ilegal para a perpetuação de suas atividades ao longo do espaço e
do tempo.
às formas de governo e situações de disputa na preparação de Deodoro como uma das "regiões
olímpicas" para os Jogos de 2016 sediados no Rio de Janeiro. Entre outras características, a
localidade é marcada por intensa e dispersa presença das organizações do Exército Brasileiro,
condensando ali o maior aquartelamento da América Latina. Em anos que antecederam o torneio, a
proposta de criação de um "parque verde" em Realengo sob iniciativa de moradores organizados foi
inviabilizada pelo comando militar responsável pela área pretendida, que, ao invés disso, apresentou
um projeto de condomínio residencial a ser construído e vendido por fundação e bancos privados
ligados ao Exército e geridos por superiores da corporação. De general para general, mudanças e
disputas em torno do terreno revelaram dinâmicas possíveis de produção do espaço no contexto dos
megaeventos, e que para além dele constituem parte da vida política brasileira contemporânea,
marcada pela participação cada vez maior de agentes militares em posições de liderança na
administração estatal.
consensual na produção acadêmica, que faz referência
a um conjunto de bairros atravessados pelas linhas de trem,
simbolicamente distante do que seria o “centro” da cidade
e indexado à pobreza, subalternidade e classes populares.
No campo das representações, entretanto, os pesquisadores
mobilizam uma multiplicidade de olhares e afetos em
torno da categoria, fazendo com que os conteúdos e formas
de suas textualizações se apresentem variados. Este artigo
discute os usos e deslocamentos da noção de subúrbio carioca
nas ciências sociais, com foco especial na produção
etnográfica. Sua análise ressalta a elaboração de escritas
alegóricas sobre esse espaço do Rio de Janeiro, que permitem
tanto descrever eventos como realizar afirmações culturais
ou mesmo ideológicas, constituindo narrativas que
buscam desestabilizar as fronteiras físicas e simbólicas da
cidade.
pelos comandos militares das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Estado do Rio de Janeiro. Foram analisados símbolos,
valores e temas suscitados nesses eventos, para o qual convergem diferentes representantes das esferas pública, privada e
de base local a fim de constituir no cenário cotidiano dessas favelas verdadeiros rituais de “pacificação”. Conforme a pesquisa
aponta, existem regularidades e formalidades que buscam conduzir a produção de novos valores morais e também renovar
velhos mecanismos de controle sobre as dinâmicas políticas desses espaços. Nesse escopo, a “pacificação” tem revelado mais
permanências do que rupturas no processo de “promoção de cidadania” aos moradores de favelas.
co de drogas, pela milícia e pelo Exército. Apesar das diferenças
entre si, tais atores são considerados centrais à segurança pública
no contexto de megaeventos, o qual marcou a cidade nas últimas
décadas. Estatais ou não, os regimes de poder desenvolvidos por
estes agentes armados são verdadeiros obstáculos à vida carioca,
principalmente, às ações cotidianas dos mais pobres. Os três apresentam elementos comuns, como o autoritarismo no controle de
mercados, a regulação da circulação de corpos e territórios e o reforço às visões depreciativas sobre essa população, em especial os
jovens negros. Sob as armas, são atravessadas as fronteiras do legal
e ilegal para a perpetuação de suas atividades ao longo do espaço e
do tempo.
às formas de governo e situações de disputa na preparação de Deodoro como uma das "regiões
olímpicas" para os Jogos de 2016 sediados no Rio de Janeiro. Entre outras características, a
localidade é marcada por intensa e dispersa presença das organizações do Exército Brasileiro,
condensando ali o maior aquartelamento da América Latina. Em anos que antecederam o torneio, a
proposta de criação de um "parque verde" em Realengo sob iniciativa de moradores organizados foi
inviabilizada pelo comando militar responsável pela área pretendida, que, ao invés disso, apresentou
um projeto de condomínio residencial a ser construído e vendido por fundação e bancos privados
ligados ao Exército e geridos por superiores da corporação. De general para general, mudanças e
disputas em torno do terreno revelaram dinâmicas possíveis de produção do espaço no contexto dos
megaeventos, e que para além dele constituem parte da vida política brasileira contemporânea,
marcada pela participação cada vez maior de agentes militares em posições de liderança na
administração estatal.
consensual na produção acadêmica, que faz referência
a um conjunto de bairros atravessados pelas linhas de trem,
simbolicamente distante do que seria o “centro” da cidade
e indexado à pobreza, subalternidade e classes populares.
No campo das representações, entretanto, os pesquisadores
mobilizam uma multiplicidade de olhares e afetos em
torno da categoria, fazendo com que os conteúdos e formas
de suas textualizações se apresentem variados. Este artigo
discute os usos e deslocamentos da noção de subúrbio carioca
nas ciências sociais, com foco especial na produção
etnográfica. Sua análise ressalta a elaboração de escritas
alegóricas sobre esse espaço do Rio de Janeiro, que permitem
tanto descrever eventos como realizar afirmações culturais
ou mesmo ideológicas, constituindo narrativas que
buscam desestabilizar as fronteiras físicas e simbólicas da
cidade.
pelos comandos militares das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Estado do Rio de Janeiro. Foram analisados símbolos,
valores e temas suscitados nesses eventos, para o qual convergem diferentes representantes das esferas pública, privada e
de base local a fim de constituir no cenário cotidiano dessas favelas verdadeiros rituais de “pacificação”. Conforme a pesquisa
aponta, existem regularidades e formalidades que buscam conduzir a produção de novos valores morais e também renovar
velhos mecanismos de controle sobre as dinâmicas políticas desses espaços. Nesse escopo, a “pacificação” tem revelado mais
permanências do que rupturas no processo de “promoção de cidadania” aos moradores de favelas.