Papers by Lucilene Reginaldo
História Geral da África. África e suas diásporas. Vol. X. Vanicléia Silva Santos (ed.) Brasília: UNESCO., 2023
Irmandades sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa Ifigênia e Santo Eles... more Irmandades sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa Ifigênia e Santo Elesbão foram fundadas em diferentes regiões do Atlântico luso-africano desde meados do século XVI. Essas devoções católicas tinham entre africanos e seus descendentes os devotos mais fervorosos. A devoção ao Rosário, a mais popular dentre todas, foi instituída no século XIII, num contexto de combate às heresias modernas. No contexto de estabelecimento dos portugueses na África e, ao mesmo tempo, do tráfico de africanos para a Europa e Américas, o culto ao Rosário conquistou a preferência da população de escravizados, libertos e das populações de cor livres. Neste texto, destaco a importância das irmandades como espaços associativos e seu papel na criação e propagação das devoções negras, com atenção especial ao culto de Nossa Senhora do Rosário. Evidencio ainda a especial vinculação da devoção ao Rosário com os Angolas, identidade constituída no tráfico atlântico e na diáspora com origem na África-Central.
Denunciar a exclusão da população negra das instituições de ensino superior, sobretudo nas de mai... more Denunciar a exclusão da população negra das instituições de ensino superior, sobretudo nas de maior prestígio, foi uma bandeira vigorosa na luta pelas cotas raciais na atualidade. A presença dos estudantes negros na Universidade de Coimbra, no século XVIII, não nega uma exclusão histórica, mas permite desnaturalizar a ausência deles do ensino superior durante o período escravista. Essa presença antiga no mundo acadêmico não se prende às teias da falácia meritocrática, invocada vez ou outra nas trajetórias excepcionais. Pelo contrário, mostra como a racialização e o racismo impossibilitaram, no mínimo, dificultaram e, finalmente, apagaram a presença destes sujeitos em Coimbra – e outras prestigiosas universidades da Europa e do Brasil – nos fazendo acreditar que eles nunca estiveram lá.
Afro-Ásia, 2022
O artigo toma como fio condutor a trajetória do príncipe Nicolau de Água Rosada para analisar a c... more O artigo toma como fio condutor a trajetória do príncipe Nicolau de Água Rosada para analisar a conjuntura do tráfico de escravos em Angola e Congo. Em 1845, ele foi como emissário para Lisboa depois de um tratado antitráfico firmado entre Portugal e seu pai, o rei Henrique II. Permaneceu cerca de dois anos em Portugal, e no seu retorno a Angola tornou-se funcionário da administração colonial. Água Rosada alcançou notoriedade ao se manifestar publicamente contra um tratado de vassalagem assinado pelo rei Pedro V em 1859. Paradoxalmente, foi acusado de ser aliado dos portugueses, sendo assassinado em 1860 por africanos contrários ao avanço da presença europeia no baixo Congo. Nicolau nunca se pronunciou contra ou a favor do tráfico de escravos. No entanto, sua trajetória só pode ser entendida a partir de uma perspectiva que situe o tráfico como elemento central da geopolítica da África Centro-Ocidental.
Afro-Ásia, 2022
Às vezes te sinto como avó, outras vezes te sinto como mãe. Quando te sinto como neto me sinto co... more Às vezes te sinto como avó, outras vezes te sinto como mãe. Quando te sinto como neto me sinto como sou. Quando te sinto como filho não estou me sentindo bem eu, estou me sentindo aquele que arrancaram de dentro de ti. À Africa-Oliveira Silveira O s textos reunidos neste dossiê derivam da jornada "A Abolição do Tráfico Transatlântico de Africanos Escravizados: os 170 Anos da Lei Euzébio de Queirós", evento online promovido pela Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (RHN), entre 31 de agosto
Indigenous and Black Confraternities in Colonial Latin America
OS ROSÁRIOS DOS ANGOLAS: IRMANDADES NEGRAS, EXPERIÊNCIAS ESCRAVAS E IDENTIDADES AFRICANAS NA BAHIA SETECENTISTA , 2005
As irmandades do Rosario na Bahia, desde as primeiras fundacoes em meados do seculo XVII, ate o f... more As irmandades do Rosario na Bahia, desde as primeiras fundacoes em meados do seculo XVII, ate o final do seculo XIX, foram, em sua maioria absoluta, controladas por africanos angolas e seus parceiros crioulos. Este fenomeno indica uma valorizacao deste espaco por parte dos angolas, mais do que por qualquer outro grupo de africanos. A identificacao com as confrarias catolicas aponta para a importância do catolicismo na Africa Central e, ao mesmo tempo, ressalta este elemento como fundamental na constituicao de uma identidade particular dentro da comunidade escrava e da sociedade baiana em geral. Esta tese tambem discute esta identificacao na experiencia dos escravos no Reino, sugerindo uma perspectiva de investigacao da historia da devocao ao Rosario, das confrarias negras e da identidade angola ao longo do seculo XVIII e circulando por tres continentes. Abstract
Revista da Associação Brasileira de Pesquisador s Negr s - ABPN, 2021
A historiadora Lucilene Reginaldo narra a sua trajetória acadêmica na graduação na PUC-S... more A historiadora Lucilene Reginaldo narra a sua trajetória acadêmica na graduação na PUC-SP e na pós-graduação na PUC-SP e na Unicamp, destacando origens familiares, influências intelectuais e acadêmicas. Analisa seus estudos em História da África e o papel dos intelectuais negros e negras nas mudanças na historiografia. Avalia o seu papel como docente e acadêmica negra
Oxford Research Encyclopedias African History, 2021
André do Couto Godinho was born in 1720 in the Brazilian captaincy of Minas Gerais, in the town o... more André do Couto Godinho was born in 1720 in the Brazilian captaincy of Minas Gerais, in the town of Mariana, and died in the Kingdom of Kongo, probably around 1790. Born not only a slave but the slave of a slave, he went on to obtain his freedom, becoming literate, later studying at a university, and nally going on to serve as a missionary in Africa. Between the beginning of his life, in Brazil, and its end, in Africa, he spent a number of years in Portugal, in the cities of Coimbra and Lisbon. While his life story is certainly extraordinary, it provides a window into the possibilities of, and strategies for, social and geographic mobility of free and freed black people in di erent parts of the Portuguese Empire during the second half of the 1700s. Retracing André Godinho's footsteps is an exercise in micro-history, a technique that, when used as a counterpoint to a more global analysis, o ers fresh insights into familiar subjects, with the seemingly insigni cant details of an individual life raising questions that would have gone unnoticed in a strictly macroscopic analysis. André's path in life, as a free man of color helps understand the larger historical contexts that de ned the possibilities, choices, and limitations of his personal history. Godinho's story provides insights into African descendants' possibilities for social ascension, also clarifying the limitations imposed by emerging social hierarchies based on skin color and slave origin.
RÉ, Henrique Antonio; SAES, Laurent Azevedo Marques de; VELLOSO, Gustavo (Org.) História e Historiografia do Trabalho Escravo no Brasil: Novas Perspectivas., 2020
As diferenças entre os africanos parecem ter sido evidentes aos olhos de muitos que viveram e reg... more As diferenças entre os africanos parecem ter sido evidentes aos olhos de muitos que viveram e registraram suas observações sobre as sociedades escravistas nas Américas e, particularmente, na porção de colonização portuguesa. É curioso constatar que essas diferenças não ocuparam lugar de destaque na historiografia da escravidão até muito recentemente. Hoje, entretanto, o desinteresse pelas origens africanas dos cativos são águas passadas na historiografia brasileira. Mais ainda, nas últimas décadas, há certo reconhecimento entre os estudiosos das várias inovações aportadas por esta frente de investigação aos estudos sobre a escravidão no Brasil e nas Américas. Buscando reconhecer particularidades e tendências, este artigo apresenta um panorama, que não ambiciona a completude – tarefa inglória
e, certamente, pouco sensata – dada a quantidade de trabalhos produzidos nas últimas décadas. Nesta empreitada, tomo como referência publicações expressivas da produção acadêmica, considerando especialmente a centralidade de algumas temáticas na produção recente, notadamente: a família, as formas de sociabilidade, a rebeldia, e o tráfico.
Folha de São Paulo, 2019
A autora revisita a polêmica sobre o racismo nas obras infantis de Monteiro Lobato
Salvador da Bahia. Retratos de uma cidade atlântica, 2016
Jornal da UNICAMP, 2018
Nos primeiros dias de abril de 2016, as dependências do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas... more Nos primeiros dias de abril de 2016, as dependências do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp amanheceram com a seguinte pichação: “Aki (sic) não é senzala! Tirem os pretos da Unicamp já!”. Infelizmente não era a primeira ocorrência, no dia 7 de março do mesmo ano, outros rabiscos de cunho racista já tinham espantado o mesmo Instituto: numa de suas paredes, a expressão “White Power” apareceu ladeada por um símbolo que faz referência à famigerada Ku Klux Klan (KKK). Não é mera coincidência o fato de estas pichações ocorrerem no início do ano letivo, o primeiro da vigência das cotas raciais nos Programas de Pós-Graduação do IFCH, aprovadas em 11 de março de 2015 pela Congregação do mesmo instituto. As pichações soavam como uma reação daqueles que acreditavam que as cotas estariam usurpando algo que concebiam como direito histórico e exclusivo, violando, ao mesmo tempo, uma espécie de hierarquia natural que definia previamente quais lugares deviam ser ocupados por brancos e negros na sociedade brasileira. Nesta lógica, o lugar esperado, desejado e possível para os negros seria a senzala, não a universidade. A pichação de abril de 2016 tinha uma referência direta à história, talvez por isso, tenha me debruçado sobre ela com mais vagar. A despeito da torpeza, ela me parece boa para pensar!
Este artigo discute a história das irmandades que congregaram escravos e libertos africanos e seu... more Este artigo discute a história das irmandades que congregaram escravos e libertos africanos e seus descendentes em Portugal, no século XVIII. Para tanto, leva em consideração um panorama mais geral da história e da historiografia da escravidão e da presença africana em Portugal. Busca compreender o contexto de surgimento e as singularidades das irmandades de negros no cenário das confrarias leigas portuguesas. E, finalmente, destaca com especial atenção, a importância destas organizações na configuração da vida comunitária e na defesa dos interesses das populações liberta e escrava.
Afro-Latin American Religious Expressions and Representations Representaciones y expresiones religiosas afrolatinoamericanas, 2009
O século XVIII corria a mais de sua metade quando o franciscano Frei Jaboatão, com um notável ent... more O século XVIII corria a mais de sua metade quando o franciscano Frei Jaboatão, com um notável entusiasmo, registrou o grande interesse que a participação em certas irmandades despertava entre os escravos e libertos. Corretamente observou que as devoções mais populares entre estes foram a Senhora do Rosário e São Benedito, o santo preto de Palermo. Devoções menos populares, mas nem por isso de menor importância, foram adotadas pelas populações de cor: Santa Ifigênia, Santo Elesbão, Santo Rei Baltazar, Santo Antônio de Categeró, entre os santos negros; assim como diferentes invocações de Cristo e de Nossa Senhora. Neste artigo trato da história das irmandades negras na Bahia setecentista, e de modo particular discuto as devoções aos santos negros, como um aspecto importante dessa experiência religiosa e associativa. Acredito que a história das devoções negras sugere novas questões e dialoga com antigas e novas interpretações sobre a formação de uma experiência religiosa católica afro-americana. Para tanto, em breves linhas, contextualizo as associações leigas na dinâmica da vida eclesiástica no Império Português para, em seguida, destacar a presença das irmandades e confrarias de africanos e seus descendentes na Bahia.
En el siglo XVIII las cofradías con invocación a la Virgen del Rosario o a los santos negros Beni... more En el siglo XVIII las cofradías con invocación a la Virgen del Rosario o a los santos negros Benito, Ifigenia y Elesban –limitándose a las devociones más populares– fueron numerosas en distintas localidades del mundo atlántico. Llama también la atencion la identificación de estas devociones con los esclavos, libertos y sus descendientes negros libres. Creo que la popularidad de estas invocaciones entre los negros no se puede explicar solo por la historia de la expansión de instituciones católicas y el empeño de sus agentes. En este artículo quiero demostrar que los africanos y sus descendientes han intervenido de manera decisiva en este proceso. En otras palabras, su papel fue fundamental en el proceso de propagación y de popularización de las devociones y de las hermandades negras. Para ilustrar este proceso me dedicaré a la historia de las hermandades devociones negras en dos territorios del imperio portugués atlántico: el reino de Portugal y las tierras conquistadas de Angola.
O fio condutor deste texto é a trajetória de um homem de cor livre nascido na vila de Mariana, no... more O fio condutor deste texto é a trajetória de um homem de cor livre nascido na vila de Mariana, no ano de 1720, tendo falecido no Reino do Congo, em data desconhecida, provavelmente no último decênio do século XVIII. Entre as Minas Gerais e o Reino do Congo, vários anos vividos em Coimbra e Lisboa demarcaram a trajetória de André do Couto Godinho. A narrativa, aparentemente excepcional, não se restringe entretanto a episódios da vida pessoal de Godinho, ao contrário, trata de coletivos mais amplos, constituindo-se, quiçá, em uma “janela privilegiada” para o mundo dos homens de cor livres em diferentes localidades do Império português, na segunda metade dos Setecentos. Assim, ao seguir os passos de André Godinho, focalizo contextos históricos que dão sentido e podem, ao mesmo tempo, ser reinterpretados à luz das possibilidades, escolhas e limitações que constituíram sua história pessoal.
Book Reviews by Lucilene Reginaldo
Revista Afro-Ásia, 2021
Resenha do livro Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual.
Possibilidades nos dias da destru... more Resenha do livro Beatriz Nascimento, quilombola e intelectual.
Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo: Editora Filhos da África,
2018. 488 p.
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Papers by Lucilene Reginaldo
e, certamente, pouco sensata – dada a quantidade de trabalhos produzidos nas últimas décadas. Nesta empreitada, tomo como referência publicações expressivas da produção acadêmica, considerando especialmente a centralidade de algumas temáticas na produção recente, notadamente: a família, as formas de sociabilidade, a rebeldia, e o tráfico.
Book Reviews by Lucilene Reginaldo
Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo: Editora Filhos da África,
2018. 488 p.
e, certamente, pouco sensata – dada a quantidade de trabalhos produzidos nas últimas décadas. Nesta empreitada, tomo como referência publicações expressivas da produção acadêmica, considerando especialmente a centralidade de algumas temáticas na produção recente, notadamente: a família, as formas de sociabilidade, a rebeldia, e o tráfico.
Possibilidades nos dias da destruição. São Paulo: Editora Filhos da África,
2018. 488 p.