RESUMO O presente artigo visa a entender o lugar de Bernardo Carvalho no campo literário brasilei... more RESUMO O presente artigo visa a entender o lugar de Bernardo Carvalho no campo literário brasileiro e no espaço literário mun-dial. O ponto de partida é a análise de um dos seus romances, O sol se põe em São Paulo. Em seguida, depois de se depreen-der a estrutura do romance, busca-se relacioná-la com o suposto projeto literário do escritor, evidenciado em seus textos de crítica. Nota-se, assim, da leitura do conjunto, a ênfase do autor a referências literárias modernistas internacionais. Finalmente, analisa-se a recepção desse projeto literário cosmopolita na França, um dos centros da literatura mundial onde a obra do autor tem sido traduzida. A hipótese é de que tanto a construção do romance quanto essas referências explícitas são formas do autor brasileiro cosmopolita se inserir no espaço literário mundial e, ao mesmo tempo, combater a literatura brasileira marcadamente heterônoma, estabelecendo, assim, uma competição com seus pares locais. ABSTRACT This article intends to place the author Bernardo Carvalho both in the Brazilian literary field and the world literary space. We start analyzing one of his novels, O sol se põe em São Paulo. In the following, after apprehending the novel structure, we try to connect it to the supposed writer' s literary project, presented in his texts of literary criticism. It will be revealing the author' s quotations of literary texts and authors from the international modernist canon. Finally, we analyze the reception of Carvalho' s cosmopolitan work in France, one of the centers of the world literary space and where many his novels were translated and published. Our hypothesis is that both the novel construction and those references are forms that the Brazilian cosmopolitan writer finds to put himself in a world literary space and, at the same time, to fight in Brazilian literary field, strongly heteronymous, establishing then a competition with his local pairs.
RESUMO: O presente artigo visa a refletir sobre algumas obsessões estéticas na obra de João Gilbe... more RESUMO: O presente artigo visa a refletir sobre algumas obsessões estéticas na obra de João Gilberto Noll, perceptíveis nos contos de A máquina de ser (2006). A partir da análise de três narrativas da coletânea e do diálogo com a fortuna crítica do autor, sugere-se a permanência de traços geracionais na sua produção mais atual. PALAVRAS-CHAVE: João Gilberto Noll; Literatura Brasileira Contemporânea; Conto Brasileiro; Geração. ABSTRACT: This essay is an interpretation of some aesthetical obsessions in the literary work of João Gilberto Noll, present in the short stories of A máquina de ser (2006). Through both the analysis of three short stories of this book and the dialogue with some critics of his work, one suggests the permanence of generation marks on his contemporary writings. Minha proposta neste artigo não é a de explorar as rupturas empreendidas pela narrativa de João Gilberto Noll, papel que a crítica já vem cumprindo de modo exemplar. Meu objetivo, antes, é apreender algumas obsessões estéticas do autor, presentes nas ideias de interstício e " momentos decisivos ". A partir daí, sugiro a permanência de traços geracionais, isto é, da geração em que Noll se formou como escritor, na sua produção mais atual. Inicio com a análise dos três primeiros contos da coletânea A máquina de ser (2006). Trata-se de narrativas breves, escritas em primeira pessoa. Tematicamente, estabelecem-se relações e encontros nada convencionais entre, por exemplo, pais e filhos, narrador e personagens, entre quem vê e quem é visto. Além disso, e em aparente contradição com a minha hipótese, os narradores põem em xeque a experiência vivida. Questionam não só a idéia de aprendizado através de gerações, como também noções estabelecidas de convívio humano: nos contos, o mais distante pode ser o mais próximo e vice-versa. Esses dois aspectos aparecem tanto em " O nome do filho " , a segunda narrativa da coletânea, quanto em " Nado livre " , que a sucede. Ademais, há nos três contos pastiches de liturgias católicas, que ganham caráter profano, como acontece em outros textos de Noll: no primeiro conto, há a via-sacra e suas estações, representados pelo ator que é perseguido por uma câmera – espécie de cruz; no segundo, está implícita no título a inversão de um dos nomes mencionados, juntamente com o movimento ritualístico do sinal da cruz cristão: em vez do Pai, o Filho; e no terceiro, sugere-se o sacramento do batismo, com sangue e champanhe. Por fim, ao lado desses questionamentos, está presente também, nos três contos, a mesma problematização da ideia de literatura como produtora de sentidos inequívocos a partir de gêneros consagrados: os textos indicam nada mais do que caminhos, possibilidades de leitura, que nunca compõem uma totalidade e que não levam a uma moral da história. Na obra de Noll, estamos na contramão de uma literatura centrada na figura do autor ou no que se conta, isto é, nos significados, pois o autor aposta, sobretudo, nos jogos significantes e na indeterminação dos sentidos, lançando mão do eufemismo, figura de linguagem que desloca o sentido 'original' do vocábulo ou da expressão, atenuando a sua força; 1 Professor Doutor Universidade São Paulo (USP)
Apesar do seu caráter disciplinar, foi nos congressos da Associação Brasileira de Literatura Comp... more Apesar do seu caráter disciplinar, foi nos congressos da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) ao longo dos anos 1990 que se deu um diálogo interessante dos estudos literários com os estudos culturais. Tal diálogo contou, também, com muitos adversários, críticos que prezavam, entre outros, os valores da chamada ―civilização ocidental‖ e defendiam o cânone e a especificidade do texto literário. Analiso neste artigo um conjunto de discursos de agentes representativos desses polos em confronto. Meu objetivo é apreender avanços e retrocessos de uma relação profícua que, entretanto, foi sendo abandonada no processo de profissionalização e especialização da área.
1 Neste ensaio, testamos uma hipótese – fruto de uma refl exão ainda em curso – que se contrapõe ... more 1 Neste ensaio, testamos uma hipótese – fruto de uma refl exão ainda em curso – que se contrapõe a duas afi rmações correntes em parte da crítica literária brasileira a respeito da produção fi ccional contemporânea, a saber: 1) a de que atualmente não há lutas, tensões e disputas em torno de projetos estéticos; 2) e a de que a escrita literária está totalmente subsumida à lógica do mercado. A nosso ver, apesar da persistência do que alguns entendem ser o " fantasma do realismo " , de um lado, e do medo do mercado, de outro, o campo literário brasileiro tem-se tornado cada vez mais autônomo, vol-tando uma atenção maior para os meios de expressão e para as modifi ca-ções operadas na linguagem e criando princípios estéticos, formas de recep-ção e estratégias de legitimação e prestígio no interior do próprio campo. Não que, em graus diversos, dependências simplesmente deixem de existir. Em todo o caso, se dos fi ns dos anos de 1950 até pelo menos o fi nal da década de 1970 – isso para fi carmos em um período não tão longínquo e não mencionarmos as redes de dependência ao longo da Era Vargas (Mice-li, 1979) – era estreita a relação da literatura com projetos políticos deriva-dos de diversas vertentes ideológicas à disposição; a partir daí, de 1980 em diante, os autores vão aos poucos se " libertando " do que é externo à prática literária e apostando suas fi chas na própria literatura, o que tende a aumen-tar os seus investimentos para o ingresso nessa pequena sociedade, assim como os seus ganhos, suas perdas e suas frustrações. As relações entre a literatura e a realidade brasileira passam a engendrar, portanto, a fi gura do escritor que vive somente para sua obra, modelo a ser perseguido por aqueles que escrevem fi cção, e que representaria um " avanço " do ponto de vista social e cultural em nosso país. Essa mudança que buscamos detectar pode ser resultado da abertura democrática, que redefi ne o papel das utopias e das resistências, e deixa o espaço livre para, no caso de alguns autores, a crença apenas no que con-sideram o literário. Nesse caso, a literatura deixa de se ocupar dos projetos
RESUMO: nO pRESEntE aRtigO, analiSaMOS O ROMancE Cidade de deus, dE paUlO linS, EnfatizandO O SEU... more RESUMO: nO pRESEntE aRtigO, analiSaMOS O ROMancE Cidade de deus, dE paUlO linS, EnfatizandO O SEU hiBRidiSMO dE fORMaS E RitUaiS qUE pOdERí- aMOS chaMaR dE aRcaicOS OU pRé-MOdERnOS cOM OUtROS da cUltURa dE MaSSa cOntEMpORânEa. a hipótESE é a dE qUE OS pRiMEiROS OpERaM nO RO- MancE dE MOdO dESlOcadO, pERvERtidO, aO paSSO qUE OS últiMOS SERãO OS MEdiadORES dOS víncUlOS dOS pERSOnagEnS cOM a REalidadE SOcial.
RESUMO O presente artigo visa a entender o lugar de Bernardo Carvalho no campo literário brasilei... more RESUMO O presente artigo visa a entender o lugar de Bernardo Carvalho no campo literário brasileiro e no espaço literário mun-dial. O ponto de partida é a análise de um dos seus romances, O sol se põe em São Paulo. Em seguida, depois de se depreen-der a estrutura do romance, busca-se relacioná-la com o suposto projeto literário do escritor, evidenciado em seus textos de crítica. Nota-se, assim, da leitura do conjunto, a ênfase do autor a referências literárias modernistas internacionais. Finalmente, analisa-se a recepção desse projeto literário cosmopolita na França, um dos centros da literatura mundial onde a obra do autor tem sido traduzida. A hipótese é de que tanto a construção do romance quanto essas referências explícitas são formas do autor brasileiro cosmopolita se inserir no espaço literário mundial e, ao mesmo tempo, combater a literatura brasileira marcadamente heterônoma, estabelecendo, assim, uma competição com seus pares locais. ABSTRACT This article intends to place the author Bernardo Carvalho both in the Brazilian literary field and the world literary space. We start analyzing one of his novels, O sol se põe em São Paulo. In the following, after apprehending the novel structure, we try to connect it to the supposed writer' s literary project, presented in his texts of literary criticism. It will be revealing the author' s quotations of literary texts and authors from the international modernist canon. Finally, we analyze the reception of Carvalho' s cosmopolitan work in France, one of the centers of the world literary space and where many his novels were translated and published. Our hypothesis is that both the novel construction and those references are forms that the Brazilian cosmopolitan writer finds to put himself in a world literary space and, at the same time, to fight in Brazilian literary field, strongly heteronymous, establishing then a competition with his local pairs.
RESUMO: O presente artigo visa a refletir sobre algumas obsessões estéticas na obra de João Gilbe... more RESUMO: O presente artigo visa a refletir sobre algumas obsessões estéticas na obra de João Gilberto Noll, perceptíveis nos contos de A máquina de ser (2006). A partir da análise de três narrativas da coletânea e do diálogo com a fortuna crítica do autor, sugere-se a permanência de traços geracionais na sua produção mais atual. PALAVRAS-CHAVE: João Gilberto Noll; Literatura Brasileira Contemporânea; Conto Brasileiro; Geração. ABSTRACT: This essay is an interpretation of some aesthetical obsessions in the literary work of João Gilberto Noll, present in the short stories of A máquina de ser (2006). Through both the analysis of three short stories of this book and the dialogue with some critics of his work, one suggests the permanence of generation marks on his contemporary writings. Minha proposta neste artigo não é a de explorar as rupturas empreendidas pela narrativa de João Gilberto Noll, papel que a crítica já vem cumprindo de modo exemplar. Meu objetivo, antes, é apreender algumas obsessões estéticas do autor, presentes nas ideias de interstício e " momentos decisivos ". A partir daí, sugiro a permanência de traços geracionais, isto é, da geração em que Noll se formou como escritor, na sua produção mais atual. Inicio com a análise dos três primeiros contos da coletânea A máquina de ser (2006). Trata-se de narrativas breves, escritas em primeira pessoa. Tematicamente, estabelecem-se relações e encontros nada convencionais entre, por exemplo, pais e filhos, narrador e personagens, entre quem vê e quem é visto. Além disso, e em aparente contradição com a minha hipótese, os narradores põem em xeque a experiência vivida. Questionam não só a idéia de aprendizado através de gerações, como também noções estabelecidas de convívio humano: nos contos, o mais distante pode ser o mais próximo e vice-versa. Esses dois aspectos aparecem tanto em " O nome do filho " , a segunda narrativa da coletânea, quanto em " Nado livre " , que a sucede. Ademais, há nos três contos pastiches de liturgias católicas, que ganham caráter profano, como acontece em outros textos de Noll: no primeiro conto, há a via-sacra e suas estações, representados pelo ator que é perseguido por uma câmera – espécie de cruz; no segundo, está implícita no título a inversão de um dos nomes mencionados, juntamente com o movimento ritualístico do sinal da cruz cristão: em vez do Pai, o Filho; e no terceiro, sugere-se o sacramento do batismo, com sangue e champanhe. Por fim, ao lado desses questionamentos, está presente também, nos três contos, a mesma problematização da ideia de literatura como produtora de sentidos inequívocos a partir de gêneros consagrados: os textos indicam nada mais do que caminhos, possibilidades de leitura, que nunca compõem uma totalidade e que não levam a uma moral da história. Na obra de Noll, estamos na contramão de uma literatura centrada na figura do autor ou no que se conta, isto é, nos significados, pois o autor aposta, sobretudo, nos jogos significantes e na indeterminação dos sentidos, lançando mão do eufemismo, figura de linguagem que desloca o sentido 'original' do vocábulo ou da expressão, atenuando a sua força; 1 Professor Doutor Universidade São Paulo (USP)
Apesar do seu caráter disciplinar, foi nos congressos da Associação Brasileira de Literatura Comp... more Apesar do seu caráter disciplinar, foi nos congressos da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) ao longo dos anos 1990 que se deu um diálogo interessante dos estudos literários com os estudos culturais. Tal diálogo contou, também, com muitos adversários, críticos que prezavam, entre outros, os valores da chamada ―civilização ocidental‖ e defendiam o cânone e a especificidade do texto literário. Analiso neste artigo um conjunto de discursos de agentes representativos desses polos em confronto. Meu objetivo é apreender avanços e retrocessos de uma relação profícua que, entretanto, foi sendo abandonada no processo de profissionalização e especialização da área.
1 Neste ensaio, testamos uma hipótese – fruto de uma refl exão ainda em curso – que se contrapõe ... more 1 Neste ensaio, testamos uma hipótese – fruto de uma refl exão ainda em curso – que se contrapõe a duas afi rmações correntes em parte da crítica literária brasileira a respeito da produção fi ccional contemporânea, a saber: 1) a de que atualmente não há lutas, tensões e disputas em torno de projetos estéticos; 2) e a de que a escrita literária está totalmente subsumida à lógica do mercado. A nosso ver, apesar da persistência do que alguns entendem ser o " fantasma do realismo " , de um lado, e do medo do mercado, de outro, o campo literário brasileiro tem-se tornado cada vez mais autônomo, vol-tando uma atenção maior para os meios de expressão e para as modifi ca-ções operadas na linguagem e criando princípios estéticos, formas de recep-ção e estratégias de legitimação e prestígio no interior do próprio campo. Não que, em graus diversos, dependências simplesmente deixem de existir. Em todo o caso, se dos fi ns dos anos de 1950 até pelo menos o fi nal da década de 1970 – isso para fi carmos em um período não tão longínquo e não mencionarmos as redes de dependência ao longo da Era Vargas (Mice-li, 1979) – era estreita a relação da literatura com projetos políticos deriva-dos de diversas vertentes ideológicas à disposição; a partir daí, de 1980 em diante, os autores vão aos poucos se " libertando " do que é externo à prática literária e apostando suas fi chas na própria literatura, o que tende a aumen-tar os seus investimentos para o ingresso nessa pequena sociedade, assim como os seus ganhos, suas perdas e suas frustrações. As relações entre a literatura e a realidade brasileira passam a engendrar, portanto, a fi gura do escritor que vive somente para sua obra, modelo a ser perseguido por aqueles que escrevem fi cção, e que representaria um " avanço " do ponto de vista social e cultural em nosso país. Essa mudança que buscamos detectar pode ser resultado da abertura democrática, que redefi ne o papel das utopias e das resistências, e deixa o espaço livre para, no caso de alguns autores, a crença apenas no que con-sideram o literário. Nesse caso, a literatura deixa de se ocupar dos projetos
RESUMO: nO pRESEntE aRtigO, analiSaMOS O ROMancE Cidade de deus, dE paUlO linS, EnfatizandO O SEU... more RESUMO: nO pRESEntE aRtigO, analiSaMOS O ROMancE Cidade de deus, dE paUlO linS, EnfatizandO O SEU hiBRidiSMO dE fORMaS E RitUaiS qUE pOdERí- aMOS chaMaR dE aRcaicOS OU pRé-MOdERnOS cOM OUtROS da cUltURa dE MaSSa cOntEMpORânEa. a hipótESE é a dE qUE OS pRiMEiROS OpERaM nO RO- MancE dE MOdO dESlOcadO, pERvERtidO, aO paSSO qUE OS últiMOS SERãO OS MEdiadORES dOS víncUlOS dOS pERSOnagEnS cOM a REalidadE SOcial.
Uploads
Papers by Jefferson Mello