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FACULDADE SÃO LUIZ ALEX MACEDO DE LIZ JUNIOR LUCAS NEVES LUIZ FRANCISCO FRAGA GABRIEL DEBATIN ESTRUTURALISMO Brusque 2014 FACULDADE SÃO LUIZ ALEX MACEDO DE LIZ JUNIOR LUCAS NEVES LUIZ FRANCISCO FRAGA GABRIEL DEBATIN ESTRUTURALISMO Trabalho acadêmico da disciplina de História da Filosofia Contemporânea para obtenção de nota parcial no curso de Filosofia da Faculdade São Luiz. Profº Dr. Padre Adilson Colombi Brusque 2014 INTRODUÇÃO A exposição discorre a cerca do Estruturalismo, um movimento filosófico que exerceu importante influência no pensamento contemporâneo, de modo especial por seus principais expoentes. Enquanto método ou processo o Estruturalismo faz uso do termo: Estrutura. O termo foi primeiramente utilizado no campo da linguística pelo filósofo suíço Ferdinand Saussure, que por sua vez desempenhou enorme influência na antropologia, de modo especial em Lévi-Strauss, que por meio de estudos em diversas culturas, inclusive uma pesquisa pela missão francesa no Brasil em meio a diversos grupos indígenas. Além disto, no Estruturalismo há um importante integrante que é Michael foucault, que desenvolve se pensamento estrutural semelhante ao de Saussure, pois ambos partem da linguagem para fundamentar suas ideias estruturais. Há também neste contexto intelectual o pensamento de Jacques Derrida, ao qual se desenvolverá sobre o cerne de seu pensamento no estruturalismo. Diante dos inúmeros questionamentos que o modernismo apresentou e continua a desenvolver no decurso da história, emanaram diversos movimentos que acentua a subjetividade humana. No entanto, não existe somente esta dimensão na realidade do ser humano, mas há também os aspectos que circundam a realidade subjetiva do ser humano e que desempenham de modo externos condicionamentos. Frente a um contexto marcado por uma diversidade de possibilidade e influência de estruturas convém estuda a origem, como foi se formando o pensamento estruturalista no ocidente, bem como os principais filósofos que deram um fundamentaram filosófico deste fenômeno influente na sociedade hodierna. No decurso da contemporaneidade as principais ideias do Estruturalismo desempenham uma influência no pensamento de diversos pensadores. Porém, os expoentes deste movimento foram os que de maneira mais incisiva deixaram seus pensamentos, que há na atualidade muitos estudos e pesquisas nas principais universidades. Diante desta realidade pode-se perceber a relevância de confeccionar uma pesquisa de cunho acadêmico, a fim de conhecer e comunicar o cerne do que alguns dos mais relevantes estruturalistas elaboraram na história, que fez com que outros pensadores levassem em conta a esfera que circunda a perspectiva humana e não debruçasse apenas na realidade subjetiva e pessoal do ser humano. ESTRUTURALISMO Características gerais O estruturalismo é em sua essência, uma reação conta o existencialismo. Como já estudamos, a originalidade do existencialismo está em por em evidência o valor do indivíduo, a sua independência, a sua liberdade, a sua autonomia em relação ao Estado, à sociedade, ao universal, ao geral, às leis e às estruturas. Cada é um caso a parte. Ao contrário do que sempre ensinou a filosofia clássica e grande parte da filosofia moderna, não existe uma essência humana igual para todos. Não existem também leis, estruturas e instituições que vinculem o homem a um determinado modo de agir. O que existe é somente a situação pessoal, diante da qual cada um é chamado a tomar posição e a decidir. CF. MONDIN, Battista. Curso de filosofia: os filósofos do ocidente. Trad. Benôni Lemos. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 219. Está ênfase excessiva na originalidade e na liberdade do indivíduo não podia deixar de provocar uma reação em sentindo oposto, estimulada pelo fato de que o homem no último decênio, dominado pela ciência, pela técnica e pela máquina, se vê mais lesado na sua liberdade e na sua autonomia e está deixando de ser sujeito para ser objeto. Porém, os que promoveram essa reação não foram os aristotélicos, nem os tomistas, nem os kantianos e nem os idealistas, ou seja, os tradicionais defensores das essências universais e dos princípios absolutos, mas novos filósofos, denominados estruturalistas porque colocam as estruturas como fundamento de toda a conduta humana. Ainda Nicola Abbagnano afirma que o estruturalismo é uma reação a outras três frentes: historicismo, idealismo e humanismo. Contra o historicismo, que adota uma concepção longitudinal da realidade, que é uma interpretação da realidade em termos de devir, desenvolvimento e progresso, afirma o primado da concepção transversal, que considera a realidade como um sistema relativamente constante e uniforme das relações. Contra o idealismo, o estruturalismo, afirma que a objetividade dos sistemas de relações, que, mesmo quando concebidos como modelos conceituais, ou seja, como construções científicas não se reduzem a um ato ou a uma forma subjetiva, mas tem como função fundamental explicar o maior número de fatos constatados. Por fim, contra o humanismo, ele afirma a prioridade dos sistemas em relação ao homem, das estruturas sociais em relação as escolhas individuais, da língua em relação ao falante individual e, em geral, da organização econômica ou política em relação ás atitudes individuais. Cf. ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970, p.377-378. Vários são os percussores deste movimento. Acentuam-se os mais notáveis, a saber: Ferdinand Saussure, Claude Levi-Strauss, Michel Foucault e Jacques Derrida. Limitaremos nossa apresentação na exposição dos pensamentos desses autores. No entanto, antes, é de imensa importância expor o conceito de estrutura e em que sentido eles entendem o termo e determinar o quadro epistemológico geral dentro do qual se movem as suas pesquisas. Conceito de Estrutura e origem do Estruturalismo O conceito de estrutura não é novo na história da filosofia, no passado recebeu denominações diferentes, das quais as mais comuns são forma e função, palavras estas centrais na filosofia de Platão e Aristóteles e na ciência dos pitagóricos. Tanto a filosofia como a ciência moderna fizeram um uso cada vez mais amplo de tais noções, o que, de resto, é natural, sendo a mente humana inclinada a compreender numa unidade a multiplicidade dos dados e sendo a noção mais geral de forma e função precisamente a de unidade de uma multiplicidade. Por outro lado, a lógica sempre investigou a estrutura do pensamento, e a ciência tende hoje a um grau sempre mais elevado de formalização. Nem devemos esquecer que os gestaltistas sempre fixaram sua atenção na totalidade estrutural percebida na sensação e que Husserl se esforçou por descrever as estruturas que se apresenta a intuição intelectual. MONDIN, 1985, p. 220. Hoje o termo estrutura circula hoje dentro de um intercâmbio linguístico das ciências naturais, das ciências matemáticas e das ciências históricos-sociais. Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Do Romantismo até nossos dias. São Paulo: Paulinas, 1991, p. 941. Com cuidado e cautela, em linha geral, podemos dizer, nas linhas de Piaget, que uma estrutura é “um sistema de transformações que se auto-regulam”. Em essência, portanto, afirma Giovanni Reale e Dario Antiseri, estrutura é: Um conjunto de leis que definem (e instituem) um âmbito de objetos ou de entes (matemáticos, psicólogos, jurídicos, físicos, econômicos, químicos, biólogos, sociais etc.), estabelecendo relações entre eles e especificando seus comportamentos e/ou as suas maneiras típicas de se desenvolverem. REALE; ANTISERI, 1991, p. 941. É isso que podemos dizer, em suma, sobre o conceito de estrutura de dentro das ciências. Apesar de tudo que vimos, não foram esses precedentes históricos e científicos bastante significativos que determinaram imediatamente o surgir do movimento estruturalista. As origens próximas desse movimento devem ser procuradas em outra parte, precisamente em alguns desenvolvimentos recentes do estudo da linguagem, não porém nos estudos dos filósofos, mas nos que foram feitos pelos linguistas. De fato, as origens do estruturalismo se prendem diretamente as teorias expostas por Ferdinand Srussurre como veremos mais a frente Cf. MONDIN, 1985, p. 220.. E oque nos interessa nesse estudo é o uso do conceito de estrutura na filosofia elaborados por pensadores já citados, a saber: Ferdinand Saussure, Claude Levi-Strauss, Michel Foucault e Jacques Derrida entre outros, que voltaram-se contra o existencialismo, idealismo, historicismo e humanismo, e deram origem a um movimento de pensamento, ou melhor, de atitudes, precisamente a atitude estruturalista, apresentando soluções bem diferentes para urgentes problemas filosóficos relativo ao sujeito humano ou “eu” e ao desenvolvimento da história humana. Em poucas palavras Reale e Antiseri afirmam que: Os estruturalistas pretenderam inverter a direção em que andava o saber sobre o homem, decidindo destronar o sujeito (o eu, a consciência ou o espírito) e suas celebradas capacidades de liberdade, autodeterminação, autotranscedência, onipresentes e onideterminantes, isto é, de estruturas onívoras em relação ao “eu”. E isso a fim de tornar científicas as “ciências humanas” REALE; ANTISERI, 1991, p. 942. A atitude estruturalista não se qualifica como um conjunto de doutrinas, ele se caracteriza muito mais por uma polêmica comum mantida pelos estruturalistas contra o subjetivismo, o humanismo, o historicismo e o empirismo. O estruturalismo filosófico é um leque de propostas díspares que encontram contudo sua unidade em protesto comum contra a exaltação do eu e a glorificação do finalismo de uma história humana feita ou, de qualquer forma, guiada ou co-criada pelo homem e pelo seu esforço. De Saussure em diante a linguística, estrutural mostrou os complexos mecanismos da estrutura que é a linguagem, dentro de cujas possibilidades se move o nosso pensamento; a etnolinguística mostrou como e em que medida a nossa visão do mundo depende da linguagem que falamos; o marxismo evidenciou o peso da estrutura econômica na construção do indivíduo, de suas relações e de suas ideias; a psicanálise mergulhou nosso olhar na estrutura inconsciente que sustenta os fios dos comportamentos consciente do nosso eu; a antropologia e as ciências etnográficas põem a nu sistemas compactos de regras, valores, ideias e mitos que nos plasmam desde o nascimento e nos acompanham até o túmulo. Desse modo, o estruturalismo se configura como a filosofia que pretende construir com base em nova consciência científica (linguística, econômica, psicanalística etc.) e que, por seu turno, traz a consciência da redução da liberdade em um mundo sempre mais “administrado” e “organizado”: ele é a consciência dos condicionamentos que o homem descobre e , digamos, dos obstáculos que talvez ele próprio tenha criado e cria no caminho de sua livre e criadora inciativa. Portanto, sintetizando, podemos dizer que para o estruturalismo filosófico, a categoria ou a ideia de fundo não é o ser, mas a relação; não é sujeito, mas a estrutura. A exemplo dos entes linguísticos matemáticos ou geométricos, os homens não tem significado e não existem fora das relações que os instituem, os constituem e especificam seu comportamento. Os homens, os sujeitos, são formas e não substâncias. O humanismo e consequentemente o existencialismo, afinal existencialismo é um humanismo como afirma Sartre, exalta o homem mas não o explica. Já o estruturalismo tenta explicá-lo. Mas, explicando-o, o estruturalismo proclama que o homem está morto. E teria sido morto pelas ciências humanas. As ciências humanas não é possível sem anular a consciência do homem. Como escreveu Levi-Strauss em O pensamento selvagem: “o fim último das ciências humanas não consiste em construir o homem, mas em dissolvê-lo”. Cf.REALE; ANTISERI, 1991, p. 942. Ferdinand de Saussure Ferdinand de Saussure “Filho de uma família abastada, Ferdinand de Saussure estudou desde cedo inglês, grego, alemão, francês e sânscrito. Com o objetivo de continuar a tradição científica de sua família, em 1875, estudou física e química na Universidade de Genebra. Em 1877, aos 21 anos, Ferdinand de Saussure publicou o livro "Memória sobre as Vogais Indo-Européias" [sic]. Três anos depois o estudioso defendeu sua tese de doutorado, "Sobre o Emprego do Genitivo Absoluto em Sânscrito". Em 1881, Ferdinand de Saussure assumiu a cátedra de linguística comparada na Escola de Altos Estudos de Paris. Em 1886 tornou-se membro da Sociedade Lingüística [sic] de Paris e no ano seguinte foi para Leipzig, na Alemanha, completar seus estudos. Transferiu-se em 1891 para a Universidade de Genebra, lecionando lingüística indo-européia [sic] e sânscrito até 1906, quando passou a professor titular de linguística. Saussure foi professor na Universidade de Genebra até sua morte, aos 55 anos. Seus discípulos Charles Bally e Albert Sechehaye organizaram as anotações dos alunos de Saussure realizadas durante seus cursos universitários. Em 1915 foi publicado o já mencionado "Curso de Linguística Geral", considerado a obra fundadora da linguística moderna”. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/ferdinand-de-saussure.jhtm>. Acesso em: 28 out. 2014. é o filósofo suíço pioneiro da linguística e é muito estudado no campo da semiótica. Semiótica: “doutrina filosófica geral dos sinais e dos símbolos, especialmente das funções destes, tanto nas línguas naturais quanto nas artificialmente construídas; compreende três ramos: sintaxe, semântica e pragmática”. MICHAELIS. Dicionário prático da língua portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008, p. 790. Sem dúvida pode-se afirmar que o Estruturalismo possui suas raízes mais profundas nas teorias expostas por Saussure na sua obra intitulada Cours de linguistique générale, em português, “Curso de linguística geral”. Nesta obra, vista como um ensaio, Saussure busca tornar a linguística plenamente independente da semântica Semântica: é o “estudo da evolução do sentido das palavras através do tempo e do espaço”. MICHAELIS, 2008, p. 789. para tentar fazer dela uma ciência exata, abstrata e geral, onde esta seria capaz, portanto, de explicar a linguagem pela linguagem. MONDIN, Battista. Curso de filosofia: os filósofos do ocidente. Trad. Benôni Lemos. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 220. “[...] Ciò che caratteriza una lingua sono i rapporti che i suoi elementi hanno tra di loro. Il linguista svizzero Ferdinand de Saussure sottolineava questa idea quando affermava che una lingua è um sistema di segni. Con lui la linguistica passa de uma preoccupazione diacronica (che riguarda l’evoluzione del linguaggio) ad una preoccupazione sincronica (la quale verte sui rapporti che esistono in un determinato momento tra i diversi elementi della lingua)". “[...] O que caracteriza uma língua são as relações que os seus elementos têm entre eles. O linguista suíço Ferdinand de Saussure sublinhava esta ideia quando afirmava que uma língua é um sistema de signos. Com ele a linguística passa de preocupação diacrônica (que se refere à evolução da língua) para uma preocupação sincrônica (que incide sobre as relações que existem em um dado tempo entre os diferentes elementos da sua língua)” [tradução nossa]. MANTOY, Jacques. 50 parole chiave della filosofia contemporanea. 2. ed. Alba: Edizioni Paoline, 1977, p. 164. Saussure compreendia a linguagem não como uma sucessão de palavras correspondentes a outros tantos objetos ou ideias, mas compreendia esta como uma combinação de sons e sinais equivalentes. O valor destes se dá através de sua relação com os sinais que os precedem ou com os que os sucedem e com todo o resto do campo linguístico do qual pertencem. Neste caso, segundo Saussure, a linguística pode ser uma ciência autônoma se ela se limitar a abordar esta totalidade, bem como seus elementos, sem pôr referência às intenções dos que falam ou aos objetos designados. MONDIN, 1985, p. 220. Como resultado disso, “O seu objeto será, por isso, a linguagem em si mesma (a língua) enquanto composta de elementos formais, unidos em combinações variáveis segundo regras precisas, válidas para a comunidade lingüística [sic] enquanto complexo de convenções por ela estabelecidas a fim de possibilitar a comunicação verbal. A linguagem é considerada uma estrutura, sem nenhuma relação com as coisas e as idéias [sic]”. MONDIN, loc. cit. [grifo do autor]. Este, portanto, seria a esfera da pesquisa linguística. Determinado este, Saussure deu a seguinte definição de linguagem: “a linguagem é formada por determinados sons, os quais constituem um sistema de símbolos imediatamente entendidos por aqueles que os ouvem”. Ibid., p. 220-221. O filósofo não irá tratar de uma simples coleção de palavras, mas de uma totalidade (sendo característica própria da filosofia), na qual cada elemento é entendido somente em relação com o todo. Os sons das palavras são plenamente indeterminados se considerados fora da sua integração num sistema fonológico. Todavia cada língua faz cortes diferentes entre as séries de sons pronunciados e pronunciáveis. Por isso, se o fluxo de som significante é tratado à base de um sistema, ele pode ser analisado dentro de um número limitado de elementos recorrentes em um número limitado de combinações. Ibid., p. 221. Aquilo que é essencial no pensamento de Saussure foi organizado por Lévi-Strauss em quatro pontos: 1) o método fonológico procura passar dos fenômenos linguísticos cônscios Cônscio: “que conhece bem o que faz ou o que lhe cumpre fazer; consciente”. MICHAELIS, 2008, p.216. para as suas infraestruturas incônscias; 2) os termos não devem ser tratados como independentes (em outras palavras, a análise deve se basear nas relações entre os termos; 3) o método fonológico trata a linguagem como um sistema, mostrando que existem sistemas fonológicos concretos e descobrindo as suas estruturas; 4) finalmente procura ele, seja pelo método indutivo ou dedutivo, chegar ao conhecimento de leis gerais e à formulação de relações necessárias. MONDIN, op. cit., p. 221. A antropologia também se serviu do esquema estruturalista elaborado por Saussure, sendo considerado como uma grandiosa sugestão para o estudo e a solução de problemas dentro desta área. Vale observar que existem dois tipos de antropologia científica (diferentes da antropologia filosófica): a física e a cultural. A física estuda a origem e evolução do ser humano a partir de dados fisiológicos e biológicos. A cultural visa estudar as relações sociais das instituições, dos costumes, dos cultos religiosos, das associações, entre outros. Tais fenômenos incluem, muitas vezes, estruturas, isto é, formam um sistema. Por isso, foram justamente os antropólogos culturais que, apropriando-se do método estruturalista, aplicaram-no ao estudo do homem. E um grande expoente de tal trabalho foi justamente Cláude Lévi-Strauss. Claude Lévi-Strauss O filósofo Claude Lévi-Strauss nasceu em Bruxelas em 1908, mas viveu em Paris, após deixar a Faculdade de Direito em 1931, inicia seus estudos filosófico, decidindo se dedicar à antropologia, se desligando das propostas idealistas. Cf. REALE; ANTISERI, 1991, p. 944. Começou a atuar como antropólogo em uma missão francesa, que fez com que viajasse para o Brasil a fim de auxiliar o governo de São Paulo a fundar sua universidade em 1934. Formou-se em Filosofia pela École Normale Supérieure de Paris. Discutia na universidade de São Paulo temas e problemas, como totemismo e os sistemas de classificação de povos primitivos. Além disto, realizou estudos de campo com índios brasileiros de vários grupos, entre eles o barroco, o cadiueu, o nhambiquara e tupi-caraíba. Retorna para a França onde serviu ao exército nos dois primeiros anos da Segunda Guerra Mundial. Em 1941, viaja para a América Central, chegando depois aos Estados Unidos, onde lecionou na New School for Social Research, entrando em contato com a escola antropológica dos Estados Unidos, que é fortemente influenciada por Frans Boas (1858-1942), bem como pelo grupo dos linguistas que eram liderados e impucionados por Roman Jakobson (1896-1982). Cf. OS PENSADORES. Lévi- Strauss: A noção de estrutura em etnologia, Raça e história, Totemismo hoje. Traduções de Eduardo P. Graeff, Inácia Canelas, Malcom Bruce Corrie. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985, p. VIII. Conhecendo o funcionalismo de Rdcliffe-Brown e de Malinowski, que estudavam as funções que os fatos humanos desenvolvidos no interior de cada cultura. Começou a tomar como fundamental o estudo de estruturas inconscientes e gerais encontráveis em qualquer sociedade. REALE; ANTISERI, 1991, p. 944. Suas principais obras são: Antropologia estrutural; O pensamento selvagem (1962), O cru e o cozido (1964); A origem das maneiras à mesa. Cf. MONDIN, 1985, p. 222. Seu pensamento na corrente do estruturalismo se fundamenta a partir da formulação de Saussure, que afirma a língua sendo estruturas fonéticas, tornando possíveis as palavras e os significados. Outra influência recebida faz referência a Gestalt, o fazendo perceber que o conceito de estrutura não se esgota na alusão ao caráter sistemático de um objeto á de uma totalidade irredutível a soma das partes. Logos2, 315. Segundo Levi- Strauss o estruturalismo não é propriedade exclusiva da língua, mas é comum as manifestações culturais. Ele desenvolve este pensamento a partir de seus estudos com diversas culturas primitivas. O contato com estas culturas revelou a ele que todos os fenômenos culturais possuem sua origem no inconsciente, passando através da linguagem para o consciente. Cf. MONDIN, 1985, p. 222. Para o filósofo Strauss não há qualquer identidade do estruturalismo com a realidade social, segundo ele a realidade social é apenas a matéria prima utilizada para construir os modelos que tornam manifesta a própria estrutura social. Além disto, esclarece que é necessário considerar algumas condições para afirmar um modelo e nomear como estrutura, entre os principais são: possuir um caráter de sistema, pertencer a um grupo de transformações, previsibilidade e exaustividade. Logos 318 O método estrutural aplicado por Strauss é de cunho antropológico cultural com um caráter duramente cientifico, semelhando-se com outras ciências experimentais. Seu estruturalismo, bem como demais ciências experimentais incide o objetivo de “isolar certas propriedades numa dada série de fenômenos e em tentar estabelecer relações definidas entre elas”. Cf. MONDIN, op. cit. , p. 222. Lévi-Strauss verifica no livro As estruturas elementares do parentesco de 1949, que a linguística se apresenta como ciência em condição de proporcionar um profundo estudo rigoroso a cerca das relações necessárias que pela primeira vez uma ciência social formulou este fenômeno humano. Ele conseguiu analisar relações e estruturas constantes subjacentes à variedade e a complexidade diversa dos sistemas de parentesco. Além disto, expõe que o sociólogo se encontra em situação semelhante a do linguista fonólogo, pois os fonemas e os termos de parentesco são elementos de significado. Porém, só conseguem tal significado na condição de integrarem-se em sistemas. Cf. REALE; ANTISERI, 1991, p. 942. Ele também tratou a cerca de uma implicação, entendendo que não se deve elaborar uma diferenciação fundamental entre cultura e natureza, assim a cultura pode ser tratada da mesma forma objetiva que a natureza. Não só os aspectos conscientes da vida humana se deve explicar pelos inconscientes, mas também que a liberdade é um produto do determinismo. Segundo Strauss, deveríamos, enquanto seres humanos, aceitar que os mitos pensam a si mesmos nos homens, os quais não tomam conhecimento deste fato. Os mitos são a linguagem da sociedade. Para a sociedade pode ser compreendida do mesmo modo que Aristóteles, após do pensamento que a humanidade é um continuo devir, sabendo que no pensamento aristotélico este movimento só é possível por haver um substrato que permanece inalterado. Diante disto, o estruturalista busca como defesa do seu estruturalismo antropológico, “trazer à luz o substrato espiritual que torna possível o devir humano”. Cf. MONDIN, op. cit., p. 224. Michel Foucault Nasceu em Poitiers aos 15 de outubro de 1926. Estudou medicina, filosofia, psicologia e história em vários países da Europa – França, Alemanha, Polônia, Suíça e outros. Seus primeiros livros tratavam da história da medicina, como a História da loucura (1960) e O nascimento da clínica (1963). Ele pretendia, com isso, não fazer uma história cronológica da medicina, mas uma história crítica, estabelecendo quais as condições primordiais e estruturais do desenvolvimento da medicina. É da história da medicina que Foucault construiu uma análise estrutural da cultura humana ocidental. Foucault é considerado um estruturalista por dois motivos: I – Considera a análise estrutural da linguagem de Saussure não como um modelo a transferir para outros campos, como fez Lévi-Strauss, mas como um método a ser retomado e desenvolvido no campo da própria linguagem. Por isso ele consolidou uma análise da linguagem não no campo dos fenômenos, mas dos enunciados. II – Foucault centraliza seu pensamento nas sociedades evoluídas e modernas do Ocidente, assim como Lévi-Strauss. Na Arqueologia do saber, Foucault passa de uma pesquisa estrutural das atividades e formas de cultura para um estudo sistemático da linguagem segundo os critérios estruturalistas. No entanto, o objeto de suas pesquisas não são os fonemas, mas os enunciados, que são analisados para fazer uma análise pura dos eventos culturais, de forma relacional, a fim de descobrir a unidade que está na sua origem. Para delimitar o campo de sua pesquisa, Foucault estabelece duas importantes distinções; análise da língua e análise de enunciados: a primeira se refere às regras que possibilitam a formação dos enunciados, e constitui, portanto, o conjunto dos enunciados possíveis. Já a segunda diz respeito ao enunciado em ato, ao enunciado que se refere a um fato da realidade concreta. O filósofo opta, portanto, pela análise estrutural dos enunciados e determina que sua tarefa: não se pode voltar senão para coisas ditas, para elementos significantes traçados ou articulados e mais precisamente, para aquela singularidade que os fez existir, que os oferece ao olhar, à leitura, a uma eventual reativação, a mil usos ou transformações possíveis, não, porém, como as outras coisas. Ela pode referir-se somente a performances verbais realizadas, uma vez que analisa ao nível da sua existência. FOUCAULT, Michel. Archeologia del sapere. Milão, 1971, p. 126-127. Ele se propõe, portanto, a fazer uma análise fenomenológica dos enunciados, uma descrição das coisas ditas, precisamente enquanto ditas. Ele pretende fazer com a linguagem o que Husserl fez com o pensamento e Heidegger em relação ao ser, mais exatamente em relação ao Dasein. Vale ressaltar que Foucault não está relacionado com o atomismo linguístico como no Círculo de Viena. A proposta de Foucault é estruturalista, numa procura da explicação do agrupar-se de certos enunciados em unidade. Para ele, essa unidade de tudo aquilo que pode ser expresso linguisticamente em enunciados constitui o arquivo, que é a lei daquilo que pode ser dito, o sistema que governa o aparecimento dos enunciados como eventos singulares. É como se fosse o logos grego. E daí que vem o termo “arqueologia do saber”. Cf. MONDIN, 2005. p. 225-230. Jacques Derrida É considerado um pós-estruturalista, por levar à radicalidade a teoria estruturalista. O termo pós-estruturalismo, portanto, não quer determinar uma nova corrente filosófica, mas apenas a radicalização do estruturalismo. Retoma a abordagem nietzschiana da genealogia, questionando a moralidade ocidental, bem como a teoria heideggeriana da valorização ontológica da linguagem, assumindo uma postura anti-dogmatista e anti-positivista. É marcante, no entanto, o fato do pós-estruturalismo de Derrida não aceitar verdades absolutas sobre o mundo, de modo que caia num relativismo onde a verdade depende do contexto histórico da época do indivíduo em questão. Derrida afirma que estrutura é sinônimo de presença, pois tudo aquilo que, na história da metafísica, sugeriam o fundamento da realidade, eram termos que expressavam a presença: essência, existência, substância, sujeito... A estrutura, portanto, é o caráter ontológico que sustenta a realidade, não como fundamento propriamente dito, mas como um evento. Cf. DERRIDA. Jacques. A estrutura, o signo e jogo no discurso das ciências humanas. 1978, p. 270-280. REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970. DERRIDA. Jacques. A estrutura, o signo e jogo no discurso das ciências humanas. 1978. FOUCAULT, Michel. Archeologia del sapere. Milão, 1971. MANTOY, Jacques. 50 parole chiave della filosofia contemporanea. 2. ed. Alba: Edizioni Paoline, 1977. MONDIN, Battista. Curso de filosofia: os filósofos do ocidente. Trad. Benôni Lemos. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1985. OS PENSADORES. Lévi- Strauss: A noção de estrutura em etnologia, Raça e história, Totemismo hoje. Traduções de Eduardo P. Graeff, Inácia Canelas, Malcom Bruce Corrie. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Do Romantismo até nossos dias. São Paulo: Paulinas, 1991.