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Intermidialidade 2014 – I Congresso
Internacional
Caderno de resumos
Daniella Aguiar e João Queiroz (orgs.)
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Universidade Federal de Juiz de Fora
Reitor Júlio Maria Fonseca Chebli
Vice-reitor Marcos Vinício Chein Feres
Faculdade de Letras
Diretora Profa. Dra. Neiva Ferreira Pinto
Vice-Diretor Prof. Dr. Rogério de Souza Sérgio Ferreira
Programa de Pós-Graduação em Letras – Estudos Literários
Coordenadora Profa. Dra. Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves
Vice-coordenadora Profa. Dra. Márcia de Almeida
Faculdade de Comunicação Social
Diretor Prof. Dr. Jorge Carlos Felz Ferreira
Vice-Diretora Profa. Dra. Marise Pimentel Mendes
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Coordenador Carlos Pernisa Júnior
Vice-coordenadora Christina Ferraz Musse
Instituto de Artes e Design
Diretor Prof. Ricardo De Cristofaro
Vice-Diretor Prof. Luiz Eduardo Castelões Pereira da Silva
Mestrado em Artes, Cultura e Linguagens
Coordenadora Profa. Dra. Maria Lucia Bueno Ramos
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Intermidialidade 2014 – I Congresso Internacional
Coordenação geral / Co-Chairs
Daniella Aguiar (PPG Letras – Estudos Literários, UFJF)
João Queiroz (Instituto de Artes e Design, UFJF)
Comissão organizadora / Organizing committe
Silvina Carrizo (PPG Letras – Estudos Literários, UFJF)
Ana Beatriz R. Gonçalves (PPG Letras – Estudos Literários, UFJF)
Gabriela Borges (FACOM, UFJF)
Francisco Pimenta (FACOM, UFJF)
Luiz Castelões (IAD, UFJF)
Karla Holanda (IAD, UFJF)
Mestrandos / Master degree students
Pedro Atã (IAD, UFJF)
Letícia Vitral (IAD, UFJF)
Ana Paula Vitório (FACOM, UFJF)
Lílian Moreira (FACOM, UFJF)
Graduandos / Undergraduate degree students
Mariana Salimena (IAD, UFJF)
Bruna Gonçalves (IAD, UFJF)
Letícia Rodrigues (IAD, UFJF)
Claudio Melo (IAD, UFJF)
Gabriel Souza Nunes (IAD, UFJF)
Comitê científico / Scientific committe
Claus Clüver (Indiana University Bloomington)
Lars Elleström (Linneaus University)
Jürgen E. Müller (Universitat Bayreuth)
Edson Zampronha (Conservatorio Superior de Música ‘Eduardo
Martínez Torner’)
Alfredo Suppia (Unicamp)
Luci Collin (UFPR)
Gabriela Borges (UFJF)
Luiz E. Castelões (UFJF)
Daniella Aguiar (UFJF)
João Queiroz (UFJF)
Projeto gráfico
Mariana Salimena
Letícia Rodrigues
Gabriel Souza Nunes
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Resumos / Abstracts
Conferencistas internacionais / Key-note speakers
‘From "Mutual Illumination of the Arts" to "Studies of Intermediality"’
Claus Clüver (Indiana University Bloomington)
Reflections about what we now call “the arts” date back to antiquity and have
passed through many phases, especially with regard to the relations between
visual and verbal representations (“ut picture poesis”). But the scholarly discourse
on these matters has been connected with the emergence and development of
the modern university and its organization, with the institution of departments of
modern literatures followed by art history and then also music history as
academic departments over a century ago. A seminal essay was Oskar Walzel’s
“Wechselseitige Erhellung der Künste” (Mutual Illumination of the Arts, 1917)
which suggested that literary history could profit from the model of stylistic
characteristics proposed for marking changes in art historical periods. Over the
decades, literary scholars expanded the exploration of what came to be called
the “interrelations among the arts.” In the 1940s, American scholars formed study
groups, and in the 1950s US college curricula began to include courses on
“Literature and the Other Arts.” The interest spread from the US to Europe and
spawned a number of large international conferences. The presentation will offer
an overview of the development of this interdisciplinary field without an academic
home into what came to be called “Interarts Studies” and the shift of focus away
from literature to the interrelations of non-verbal arts, and at the same time the
tendency to include among the objects of study configurations of a decidedly nonartistic nature. In the 1990s this would lead to the reconception of the “arts” as
“media” and their interrelations as “intermediality.” Tentative earlier attempts at
theorizing were now developed into full-fledged attempts at providing a theoretical
foundation for the study of intermediality (and transmediality) as a humanistic
field, as opposed to, but not entirely disconnected from, intermedial studies as
carried on by Media Studies. This presentation will highlight developments in the
German- and English-language discourse. French studies took a somewhat
different course with different concepts and emphases.
‘A Medium-Centered Model of Communication’
Lars Elleström (Linneaus University)
Intermedial studies focus on interrelations among dissimilar media products and
media types. In order to understand and conceptualize these interrelations, the
notion of medium must be methodically scrutinized. In earlier studies, I have
suggested various ways of construing the basic features of media. Building on
these ideas, I will in this talk broaden the perspective to communication at large,
including both two-way communication (“proper” communication) and one-way
communication (“expression”). On the basis of a critique of communication
models that put notions such as “message” in the center, I will delineate a new
model of communication that places mediality at the core of communication. In
this model, medium is used as a term for the intermediate entity that connects
two minds with each other; this entity is always in some way material (related to
bodies or non-bodily matter), although it cannot be conceptualized only in terms
of materiality. In brief, then, the skeleton of the model consists of three entities:
“sender’s mind–medium–receiver’s mind”.
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‘Intermediality, quo vadis?’
Jürgen Müller (Bayreuth University)
Some thirty years after its coining, Intermediality is challenging numerous
scholars at various universities or research centres all over the globe. In spite of
the fact that today intermedia processes are – more or less – taken for granted,
the notion and concept of “intermediality” as such still prove to be of great
relevance for many disciplines ranging from literary studies to communication,
media and social studies. Fortunately – as the Congresso Internacional at the
University of Juiz de Fora shows – “intermediality” must still be considered as
work in progress, which in the digital era has to meet the challenges of so-called
‘new media’ and to develop innovative and adequate axes of research. In this
paper I would like to present some aphorisms on the latest state of affairs of
intermedia studies in order to propose in a second step some central options of
future intermedia research. I shall focus on perspectives of an intermedia network
history, which will tackle the re-construction of historical functions of intermedia
processes with regard to digital ‘dispositifs’, the blurring of genre patterns, ‘new
interactivities’, the interplays between medial, technological, economic and social
vectors, as well as the making of meaning in current media networks. Thus, some
(inter-winding?) paths of future intermedia studies might be indicated.
Convidados nacionais / Brazilian Guests
Palestra / Lecture
‘Hiperliteratura e intermidialidade no ampliamento da produção literária’
Luci Collin (UFPR)
A Revolução Informacional, iniciada na década de 1990, gerando um sistema
global de expansão do espaço virtual, impôs reconfigurações às expressões
artísticas. Na literatura, vemos não só a transposição de gêneros e de formas
textuais consagrados para mídias digitais, como a criação de uma literatura
especificamente digital e muitas vezes marcada por acentuada intermidialidade.
Nossa exposição aborda conceitos como hipertexto e hiperescrita, e fenômenos
ligados às textualidades digitais como a hiperficção, a hiperpoesia, a holopoesia
e o hiperdrama, entre outros, e coloca a questão maior: em que medida a
hiperliteratura interfere no status da literatura em papel.
Palestra / Lecture
“Novas Tecnologias, Música e Interdisciplinaridade em VIA”
Luiz E. Castelões (UFJF)
Neste trabalho, a noção de "tecnologia" é redefinida para integrar procedimentos
tradicionais e novas tecnologias da composição musical. Avaliamos o impacto
das novas tecnologias (mais ou menos a partir da 2a metade do séc. XX) em
relação a diversas atividades musicais. Ao final, examinamos mais
detalhadamente o processo composicional que levou à construção
sonora/musical do projeto VIA, um projeto de vídeo-dança e músicacomputacional locativas. Sumariamente, qualquer usuário equipado com tablet
ou smartphone, com conexão a internet, teve acesso a episódios de vídeo-dança
e música computacional, enquanto se deslocava por pontos específicos da
cidade do Rio de Janeiro. Definimos a música de VIA como "reimaginação
sonora", baseada em uma metodologia computacional, e assistida pelo software
OpenMusic, de propriedades topológicas do espaço físico encontrado pela
performer e pelo usuário-fruidor.
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Mesa-redonda / Roundtable
Literatura e Intermidialidade / Literature and Intermediality
“Cadernos Vagaus ou Vagais – Blog e Livro em Wilson Bueno”
Silvina Carrizo (UFJF)
Nesse texto busco estabelecer relações entre a escrita do livro Diário Vagau e o
Blog Diário Vagau (de 2006 a 2008 ca) de Wilson Bueno. Estes “cadernos de
escritor” promovem reflexões sobre a prática da escrita, as relações dentro do
campo literário e artístico e sobre a própria modalidade de produção da escrita
literária para além do objeto livro. Interessa nesse sentido observar a forma pela
qual o Blog amplia e ressignifica os possíveis sentidos do Diário do artista ao
criar outros vínculos entre o público e o privado, produzindo um colapso nos
tempos de recepção e fruição do mesmo, inclusive quando lido agora em 2014,
quatro anos depois da morte do escritor. Também procuro entender como esses
diários ao mesmo tempo expandem e aproximam as noções de crônica, diário,
resenha e as formas de divulgação e distinção do gosto e das amizades
artísticas como categoria social.
“Sobre os procedimentos intermidiais de Michel Butor”
Marcia Arbex (UFMG)
Michel Butor empreendeu, desde muito cedo, um diálogo constantemente
renovado com as artes; colabora até hoje com a pintura, a gravura, a fotografia,
a música, com “a literatura, o ouvido e o olho”, título de um dos ensaios de
Répertoire; dedicou-se ao objeto Livro, assumindo um lugar de destaque na
interseção da tradição e da contemporaneidade, da “crítica e da invenção”.
Nossa proposta consiste em explorar a natureza intermidial de sua obra
proteiforme, a qual concentra uma infinitude de modalidades de relações entre a
escrita e a imagem que, passando pela crítica de arte, vai da transposição
intersemiótica aos livros de artista, livros-objeto e à fotoliteratura.
Sessões paralelas de comunicação I / Parallel Sessions I
Literatura / cinema
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Literature / Cinema
“Dimensões ético-estéticas do cordel em dois filmes da Caravana Farkas”
Joyce Cury (UFSCar / CAPES)
A comunicação vai apresentar possibilidades de diálogo entre materiais
extraídos da cultura popular nordestina, notadamente da literatura de cordel, e os
documentários O Homem de Couro (1969-70) e Vaquejada (1970), ambos
dirigidos por Paulo Gil Soares na experiência conhecida como Caravana Farkas
e que têm como temática aspectos da vida do vaqueiro. A partir de como a
literatura de cordel, enquanto poesia popular, é expressa na trilha musical ou na
locução desses documentários, iremos explorar dois aspectos: a relação desses
materiais populares com o que seria um imaginário do “outro de classe”
documentado pelo cineasta e a função que eles desempenham na articulação do
discurso documentário, pensando, neste caso, em como se relacionam às
demais vozes dos filmes. Cordel e cinema constituiriam uma relação
intermidiática, considerando a noção de intermidialidade proposta por Jürgen E.
Müller, sendo de nosso interesse a interação e a interferência entre as mídias
como propulsoras para a produção de novos sentidos.
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“Dramaturgia expandida: processo de significação das imagens em
movimento”
Dorotea Souza Bastos (UFOB)
Esta proposta trata da apresentação da pesquisa de doutoramento atualmente
realizada na Universidade do Algarve conjunto com a Universidade Aberta de
Portugal, que constitui uma possibilidade investigativa a respeito das questões
que envolvem a imagem técnica (FLUSSER, 2011) do cinema na era do digital,
especialmente no que diz respeito à criação de dramaturgias a partir do encontro
da imagem em movimento com as novas tecnologias.
Nesta investigação, o ato representacional da imagem (AUMONT, 2012) é visto
como processo de significação no cinema, a partir da expansão da dramaturgia
que, para além de seu conceito inicial associado à composição de peças
teatrais, é tratada como geradora de relações que compõem a cena.O processo
de criação que leva ao desenvolvimento dessas relações expande as fronteiras
da arte e também as fronteiras das tecnologias utilizadas para gerar um produto
híbrido, que possui dramaturgia original e que só existe se essa relação de
expansão de fronteiras também existir. A dramaturgia é, portanto, no contexto
apresentado nesta investigação de doutoramento, a tessitura da cena, sendo a
imagem um “mecanismo” de narrativa que compõe a dramaturgia, propondo
novas possibilidades estéticas e poéticas de criação.
“O olho que não lê, agora pode ver: Menino de Engenho para as massas
sob a ótica do Cinema Novo: Deslocamentos e/ou transposições”
Juliana Godinho Eccard (IFF/Campos) e Maria Margareth Vieira Pacheco
Rodrigues (IFF/Campos)
Propõe uma análise comparativa entre o romance Menino de Engenho de José
Lins do Rego com a adaptação cinematográfica de Walter Lima Jr que recebeu
o mesmo título. Discorre sobre os conceitos de cultura e suas vertentes, aborda
a memória relacionada à literatura e a importância de ambas para a legitimação
da cultura. Relaciona o romance de José Lins do Rego com o paralelo traçado
entre memória, cultura e literatura. Contextualiza o leitor a cerca da criação da
nova mídia denominada cinema e explica qual a proposta dos cineastas que
apostaram na produção para o Cinema Novo. Coteja as abordagens adotadas
na produção para as massas que seriam deslocamentos e/ou transposições
comparados à obra literária.
HQ / intermidialidade I
-
Comics / Intermediality I
“O arquivo de Didier: fotojornalismo e autobiografia em Le Photographe”
Daniela Palma (Unicamp)
A produção de um discurso humanitário e pacifista de cunho autobiográfico é
discutida a partir da análise da graphic novel Le Photographe (Guibert, Lefèvre,
Lemercier). O personagem-narrador experiencia a guerra no Afeganistão pela
fotografia, ao acompanhar uma caravana de ajuda médico-humanitária da
organização Médicins Sans Frontières. O arquivo de imagens do fotógrafo é a
base do tecido narrativo, uma mescla de relato autobiográfico, fotojornalismo,
literatura e quadrinhos. Nessa fusão, há a exposição da materialidade da
destruição pela guerra e, ao mesmo tempo, o testemunho das experiências de
desestabilização interior do personagem. Na leitura do romance gráfico, propõese refletir não apenas sobre as relações verbo-visuais, mas também sobre os
vários suportes, mídias, dinâmicas e tessituras envolvidos no processo de
produção, bem como a autoria tripla, que em si cria ruídos na própria concepção
de relato autobiográfico. A discussão de fundo colocada aponta, assim, para a
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indocilidade dos gêneros autobiográficos à normatização, eles funcionariam mais
como marcas sinalizadoras de caminhos convergentes e divergentes, para
pensar a produção de narrativas com foco em relatos de vida em um contexto
maior (da literatura, das artes gráficas, da fotografia etc.).
“Discurso autobiográfico, um elemento transformador das histórias em
quadrinhos”
Bernard Martoni Mansur Corrêa da Costa (IF Sudeste MG)
O presente trabalho propõe-se a relacionar o texto autobiográfico e as histórias
em quadrinhos (HQs), especificamente no gênero das graphic novel. As histórias
em quadrinhos, como conhecemos hoje, originam-se nas páginas dos jornais
norte-americano de Willian Randolph Hearst, em 1986. Nesse período, as HQs
ainda se vinculavam a temas humorísticos e uma limitada técnica gráfica devido
à baixa qualidade das impressões. Em 1978, o quadrinista Will Eisner,
influenciado principalmente pela liberdade dos quadrinhos underground da
época, lança o livro, considerado a primeira graphic novel, Um Contrato com
Deus: e outras histórias de cortiço. Esse gênero propõe narrativas mais
amadurecidas e pessoais, frequentemente vinculadas ao discurso
autobiográfico. Essa característica pode ser vista na obra de Eisner, Greg
Thompson (Retalhos) e Art Spelgelman (Maus). Em 1975, o teórico Phillipe
Lejeune apresenta O Pacto Autobiográfico, em que são estabelecidos os
critérios que definem o texto como autobiográfico. A proximidade do lançamento
dessas duas obras denota um elemento importante para entender-se a produção
das narrativas sequenciais, em particular a partir de 70. Nesse sentido, este
trabalho busca apontar a influência do texto autobiográfico nas histórias em
quadrinho e sua evolução para o desenvolvimento das graphic novel.
“História em Quadrinhos no Brasil: traduzindo a história”
Thaïs Flores Nogueira Diniz (UFMG) e Camila Augusta Pires de Figueiredo
(UFMG)
Os fatos históricos sempre mereceram a atenção de artistas que projetaram sua
visão em pinturas e outros tipos de ilustração, obras que funcionam como
traduções intersemióticas e também como documentos históricos. Não foi
diferente com a história do Brasil quando artistas, principalmente estrangeiros,
pintaram quadros memoráveis, descrevendo fatos importantes da nossa História.
Como forma de atualizá-las e trazer às crianças brasileiras o interesse pelas
obras de arte do passado, o artista brasileiro Mauricio de Sousa apropriou-se de
algumas delas e as exibiu na exposição intitulada História em quadrões, que
celebrou os 50 anos de sua carreira. O presente trabalho visa analisar
criticamente as relações intermidiáticas entre duas telas do passado – A dança
dos Tapuias, de Albert Eckhout, e Lavrador de café, de Cândido Portinari – e
suas apropriações pelo quadrinista brasileiro.
Imagem / palavra I
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Word / Image I
“O ateliê do artista Arlindo Daibert”
Marilia Andrés Ribeiro (UFMG) e André Melo Mendes (UFMG)
Propomos mergulhar no ateliê do artista Arlindo Daibert para desvendar o seu
trabalho de ateliê, pautado pela experimentação com diferentes técnicas, e o seu
pensamento sobre a arte, o artista, a poesia e a literatura. Tomaremos como
eixo de nossa reflexão o diálogo entre a arte e a literatura que está presente de
forma marcante na obra de Daibert, tanto nas diversas releituras que o artista faz
das obras de grandes autores como Lewis Caroll, Guimarães Rosa e Mário de
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Andrade, quanto na recriação da poesia de Murilo Mendes, que era um grande
amigo de Daibert e com o qual ele mantinha um diálogo intermidiático. No
“Caderno de Escritos” (1995) Daibert nos aponta a admiração de Murilo Mendes
por Vermeer de Delf, artistas holandês do século XVII. Pretendemos discutir a
relação intermidiática entre o poema de Murilo Mendes “Vermeer de Delf”,
publicado no livro “Poesia e Liberdade” (1945) e a pintura de Vermeer “O pintor
em seu ateliê” (1666), bem como a relação intramidiática entre as inúmeras
releituras feitas por Daibert dessa obra antológica do artista holandês. A figura
do artista no seu atelier, a partir de Vermeer, torna-se a assinatura do artista
Daibert, um artista concentrado no processo de trabalho, no fazer artístico e no
universo da arte.
“Mostrar e narrar: notas sobre o diálogo palavra-imagem em Maurice
Sendak”
João Victor de Sousa Cavalcante (UFC)
O artigo discute as relações entre palavra e imagem na obra do ilustrador
Maurice Sendak (1928-2012), notadamente o livro Where the Wild Things Are,
de modo a compreender como o diálogo traçado entre as linguagens verbal e
icônica compõe a diegese na literatura ilustrada. Historicamente, a relação entre
palavra e imagem é caracterizada por querelas políticas, marcadas por
alternâncias de poder e de modelos de representação. Com as transformações
culturais do século XX, essas relações são redimensionadas e o livro ilustrado se
apresenta como uma proposta que comunga as múltiplas potências desse
encontro. Nosso objetivo é pensar como a circularidade das imagens e a
linearidade do texto escrito convergem para uma organicidade estética no livro
de Sendak, na qual imagens e palavras se traduzem de modo intersemiótico e
compõem uma linguagem de intenso fluxo sígnico. Compreendemos a ilustração
como um modelo de resistência da visualidade que evidencia a materialidade da
obra, por meio da qual as imagens sobrevivem na interseção entre as artes
visuais e a literatura. Ancoramos nossas discussões nos estudos sobre cultura
visual, notadamente os trabalhos de Hans Belting, Georges Didi-Huberman, W.
J. T. Mitchel e Vilém Flusser, além de estudos relacionados ao livro ilustrado.
“O Silêncio das palavras em Marcel Broodhtaers”
Deborah Walter de Moura Castro (UFMG)
Nas décadas de 60 e 70, artistas conceituais largaram o pincel atrás de uma
diversidade de procedimentos, mas fazendo principalmente da escrita um de
seus principais instrumentos criativos. Tiradas da intimidade do papel, as
palavras foram colocadas em evidência promovendo uma nova leitura, atribuída
muitas vezes à qualidade intermidiática das obras, ofuscando gêneros estanques
e estremecendo categorias com trabalhos que eram quase poemas, quase
imagens. No entanto, algumas dessas obras pareciam murmurar uma escrita
abafada. As palavras pareciam sussurrar por detrás de mordaças como se a sua
função fosse ressaltar o seu mutismo ao invés de sua voz. Esta apresentação
tem como objetivo a exposição deste aspecto silencioso em textos e obras do
artista belga Marcel Broodthaers (1924-1988) na tentativa de entender como
este silêncio pode torna-se um aspecto da melancolia. A partir de A História do
Diabo e Há um futuro para a escrita?, de Vilém Flusser, e a compreensão do
termo ‘literatura da despalavra’, cunhado por Samuel Beckett, algumas
produções de Broodhtaers, como o texto ‘Investigating Dreamland’ e as obras
‘Pense-Bête’ e ‘Un coup de dés’, serão abordados tendo em mente uma poética
que traduz a palavra na própria impossibilidade de sua ausência.
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Sessões paralelas de comunicação II / Parallel Sessions II
Audiovisual / Intermidialidade - Audiovisual / Intermediality
“A trajetória do filme-revista no Brasil: um estudo de Caídos do céu (1946)”
Evandro Gianasi Vasconcellos (UFSCar)
Este trabalho tem como objetivo discutir a existência de um gênero
cinematográfico que se relaciona diretamente com aspectos do teatro de revista,
um tipo de espetáculo com elementos e convenções bem definidos de grande
sucesso no Brasil entre o final do século XIX e primeira metade do século XX,
principalmente. Através de uma revisão da produção cinematográfica brasileira,
pretendemos demonstrar a existência de uma trajetória de filmes-revista no
Brasil, que compreende filmes realizados na primeira década do século passado,
na chamada “Bela Época”, com destaque para o grande sucesso de Paz e amor
(Alberto Moreira, 1910), até as comédias carnavalescas dos anos 1930 e 1940.
A partir disso, um estudo de caso do filme Caídos do céu (Luiz de Barros, 1946),
anunciado como uma revista carnavalesca e dirigido por Luiz de Barros, cineasta
que também trabalhou muitos anos com teatro de revista, procurará identificar os
diversos pontos de contato entre os dois meios artísticos, observando aspectos
como números musicais, elenco, enredo, entre outros.
“Webséries: Uma Análise do Audiovisual Ficcional Seriado Produzido pelo
CANAL8KA”
Robson Kumode Wodevotzky (PUC-SP)
Este trabalho analisa as características do audiovisual seriado ficcional
produzido especificamente para a web. A produção de vídeos e séries para a
internet traz desafios específicos como a rivalidade com outros catalisadores de
atenção que disputam espaço na mesma janela e a predominância da
casualidade, representando possíveis mudanças no ritual de consumo com
relação a outras mídias. A própria nomenclatura, popularmente utilizada para
fazer distinguir audiovisuais deste meio, webséries, sugere uma diferenciação
deste tipo de produto dos demais. Destarte, as linguagens audiovisuais
produzidas para veiculação na web possuem características que as diferem
daquelas de meios predecessores? O texto a seguir se concentrará em uma
análise da web como meio de consumo audiovisual, numa tentativa de encontrar
especificidades que possam alterar os processos de criação. Para tanto,
analisaremos a trajetória do canal8KA, que realizou cinco webséries –
Astrolokos, 8Koisas, #E_VC?, Armadilha e Despertar -, publicadas na plataforma
Youtube.
“Ecos do Grido: como as imagens se desdobram” ?
José Guimarães Caminha (UERJ) e Carlinda Fragale Pate Nuñez (UERJ)
Os conceitos de Pathosformel, de Aby Warburg, e de imagem dialética, em
Walter Benjamin, aproximam-se, mas exigem recortes diferenciados ao
dialogarem com o tempo a partir de diferentes campos artísticos. No primeiro,
esculturas e pinturas, em aparente estado de repouso, desafiam o olhar sobre a
imagem, que carrega, além do valor de culto, as presenças do antes e do depois
do instante da obra. Em Walter Benjamin, quando a imagem está inserida no
fluxo contínuo do teatro ou do cinema, os sucessivos cortes emancipam o
conceito de montagem da obra na era da tecnologia. As performances do grito
que aparecem no documentário Grido (2006) do italiano Pippo Delbono, dão a
ver as diferentes potências daqueles gestos. Entre a prática, a recusa, a
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impossibilidade e a habilidade em fazê-lo, cada gesto ainda carrega consigo as
forças ambivalentes da representação e da performance, do teatro épico e do
pós dramático. A genealogia elaborada pelo filósofo Giorgio Agamben e cujos
tópicos aparecem em Arqueologia da Potência, de Edgardo Castro, além dos
estudos teatrais de Hans-Thies Lehmann e da imagem de George DidiHuberman constituem importantes referentes teóricos desta pesquisa.
Arte / Espaço / Cidade - Art / Space / City
“Cidade e Futebol de rua no BAixo BAhia Futebol Social”
Adriano Mattos Correia (UFMG) e Priscila Musa
Este trabalho descreve a atuação recente do BAixo BAhia Futebol Social. Tratase de uma equipe de futebol de rua, que tem como objetivo transformar as ruas
da cidade de Belo Horizonte em um campo aberto de práticas de
compartilhamento social através de um esporte de caráter coletivo e agregador:
o futebol! É uma forma de ocupar critica e politicamente a cidade e o futebol é a
linguagem adotada. Os jogos são realizados com moradores de rua, moradores
de ocupações urbanas, pessoas que cruzam os espaços de jogos, e qualquer
cidadão que queira entrar em campo.
“Poemas grafados na cidade: espaços possíveis na obra do Coletivo
Transverso”
Larissa Alberti Ramos de Freitas (CEFET-MG)
O presente trabalho procura investigar o lugar da poesia na paisagem urbana a
partir da análise de poemas de rua construídos pelo Coletivo Transverso.
Formado pelo poeta Cauê Novaes, pela poetiza e atriz Patrícia Del Rey e pela
artista plástica Patrícia Bagniewski, o Coletivo atua desde 2011 em grandes
cidades brasileiras pesquisando e desenvolvendo intervenções urbanas com a
palavra, utilizando técnicas de stencil, grafite e sticker com a finalidade de refletir
sobre as múltiplas possibilidades de socialização e construção de identidade das
cidades contemporâneas. Esse estudo analisa então trabalhos do coletivo com
a palavra poética no intuito de identificar as características do poema quando
posto em contato com o ambiente urbano. Busca-se refletir também a respeito
da função lúdica da linguagem poética diante dos espaços da racionalidade
técnica que compõem o horizonte das cidades contemporâneas, ao se
considerar a função poética como propulsora de pinturas de novas cidades,
cidades estas permeadas pelo afeto, pela troca e pelo encontro.
“Espaços e interações coletivas: da intenção do artista à ação do
espectador”
Fernanda de Oliveira Gomes (UFRJ)
Este trabalho busca lançar uma luz sobre o papel dos espaços em suas diversas
configurações nos processos de comunicação artística, levando em
consideração as relações possíveis a partir da inserção dos indivíduos em
sistemas dispositivos que privilegiam a composição de imagens em tempo real e
a formação de coletividades efêmeras. Nas diversas experimentações com
imagens em movimento, identificadas no contexto contemporâneo, podemos
identificar algumas propostas que entram em diversos tipos de interações e
contaminações, não só com os espectadores, mas também com os espaços,
culturas e contextos nos quais são inseridas. Geralmente os artistas que fazem
parte deste recorte são identificados como verdadeiros agentes, principalmente
no processo de produção e recepção de instalações interativas expostas em
espaços públicos. Cada vez mais os artistas se conscientizam dos modos de
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produção e das relações humanas possibilitadas pelas técnicas de sua época. A
arte torna estes modos de produção muito mais visíveis, possibilitando estender
suas consequências na vida cotidiana.
Teoria / metodologia
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Theory / Methodology
“O problema da análise comparativa nos estudos das adaptações”
Isadora Meneses Rodrigues (UFC)
Este texto se propõe a discutir a metodologia de análise comparativa nos
estudos das adaptações a partir de teóricos que vão refletir a posição das
imagens na sociedade contemporânea por meio da relação entre palavra e
imagem, como Vilém Flusser, W.J.T. Mitchell e Jacques Rancière. Com base
nos teóricos citados, iremos defender a ideia de que não faz mais sentido falar
em especificidade dos meios artísticos, pois o próprio estatuto da imagem
mudou e a arte passou a ser compreendida como um constante deslocamento
entre as instâncias do dizível e do visível, em que há uma justaposição caótica
das materialidades e das significações. A partir dessas considerações,
tentaremos apontar caminhos alternativos para o estudo da relação entre palavra
e imagem, tendo os estudos da visualidade e da cultura visual como base.
“Media as a cognitive niche”
Pedro Atã (UFJF) e João Queiroz (UFJF)
This work relates the notion of media with that of cognitive niche, promoting an
encounter between media studies, semiotics and cognitive science that sheds
new light on the topic of the relation between different media, and between media
and human cognition. At the basis of our approach is the Peircean conception of
mind as development of signs, which reconceives the relation between human
cognitive processes and their semiotic environment. The notion of cognitive niche
is an extension to the notion of ecological niche that emphasizes the relation
between organisms and their semiotic environment. We outline a model for
investigating and describing media, considering: (i) the capabilities a medium
offers to a potential mind -- the medium as a cognitive artefact; (ii) the rules,
conditions and possibilities for action involved when using a médium -- the
medium as a problem-space; (iii) the relationship between (i), (ii) and the broader
semiotic environment where cognition happens -- the medium as a cognitive
niche. According to our approach, media correspond to specific semiotic
environments in which cognition acts, that embed the possibility itself for such
action.
“O entre do meio: re-flexões sobre o conceito de intermedialidade”
Maurício Liesen (USP)
Este trabalho apresenta algumas considerações teóricofilosóficas sobre um
aparente pleonasmo: o conceito de intermedialidade - inter (entre) e medium
(meio). Tendo como base recentes discussões do cenário acadêmico alemão
sobre uma filosofia dos media, este texto volta-se à intermedialidade como
tradução e transição em detrimento à sobreposição e ao emaranhado de
suportes técnicos – recorrente desde que Dick Higgins, artista do Fluxus, cunhou
na década de sessenta o termo intermedia para designar o encontro entre arte,
suportes eletrônicos e cultura pop. Para tanto, os conceitos de medium e de
medialidade são inicialmente problematizados. A partir da teoria negativa dos
media delineada pelo filósofo alemão Dieter Mersch, compõe-se uma crítica ao
idealismo e ao apriorismo mediais. A sua principal tese é a de que o medium
sacrifica sua aparição no momento em que media. Ele não é produtor de sentido,
14
de percepção ou de conhecimento, mas co-media-se durante a mediação,
alterando-a. Para torna-se visível, um medium precisaria, em princípio, de um
outro medium. Por isso, a importância de se testar os limites do conceito de
intermedialidade. Como principais instrumentos epistemológicos, são
empregados a diferenciação proposta por Wittgenstein entre o mostrar e o dizer
e os conceitos benjaminianos de medium e tradução.
Imagem / palavra II
-
Word / Image II
“A presença das Artes na Comédia Humana – do “pictural” ao
künstlerroman”
Milena Guerson (UFJF)
Referências à arte, em múltiplos aspectos e meios de expressão, constituem um
fator recorrente nas narrativas de Balzac e, em geral, integram um procedimento
de composição textual. Destacam-se duas possibilidades não excludentes entre
si: a citação de nomes de artistas, obras e fatos que os circundam, conforme a
realidade histórica; o uso de vocábulos artísticos, compondo metáforas e/ou
trechos descritivos que incitam a criação de imagens mentais no leitor. As duas
possibilidades auxiliam a situar os cenários e as situações das narrativas e, em
muitos casos, conferem ao texto balzaquiano um caráter “pictural”. Mas, embora
as alusões à arte e aos artistas estejam presentes na diversidade de narrativas
da Comédia Humana, podemos elencar quatro textos em que a arte é
especificamente tomada como eixo estruturador – apesar de diferentes
gradações. Em “Sarrasine” (1830) há predomínio da escultura, enquanto “A obraprima ignorada” (1831) focaliza a pintura. “Gambara” (1837) e “Massimila Doni”
(1839) trazem uma abordagem sobre música. Em todos esses “romances de
artista” vigoram reflexões ímpares sobre os trâmites da criação, destacando-se,
apesar das respectivas ênfases dos enredos, alusões aos paralelos entre as
artes, nos moldes da “tradição horaciana” – abordagem a partir da qual os atuais
“estudos intersemióticos” têm origem.
“A fraternidade das artes: a conjunção de imagem e texto em Pedro Nava”
Ilma de Castro Barros e Salgado (UFJF)
Na esteira do símile horaciano – Ut pictura poesis – o presente trabalho objetiva
apresentar a aplicabilidade, realizada por Pedro Nava (1905-1982), de artifícios
verbais e pictóricos, ao lidar com duas artes distintas. Nesse sentido, serão
apresentados quatro procedimentos de análise: leitura de desenhos e telas
(seleção do acervo de imagens naveanas), transposição (ilustrações de obras de
seus coetâneos), verbalização do visual (a um elemento pictórico, usado como
prévia da escrituração das Memórias, segue-se um texto referencial) e
visualização do verbal (a escrita como um pincel). Todos esses procedimentos
possibilitam o pluralismo entre-artes, matizado pela linguagem do olhar do
emissor e do receptor.
“Lugares da arte em Histórias com Matisse de A S Byatt”
Erika Viviane Costa Vieira (UFVJM)
Este trabalho faz uma análise das estratégias intermidiais de A S Byatt em
Histórias com Matisse ([1993] 1994) a fim de revelar os significados da arte na
esfera do prosaico. Concentrando-se em questões relacionadas em como as
histórias de Byatt interagem com a obra do artista modernista francês Henri
Matisse 1869-1954, o conceito de ekphrasis também é discutido. Argumenta-se
ainda como a coletânia de contos de Byatt desenha conexões intermidiáticas
entre as obras de arte de Matisse e a esfera da vida cotidiana. Enfim, pretende-
15
se tratar das apropriação das obras de arte de Matisse por Byatt ao desvelar
suas estratégias formais, ou seja, o seu uso de artes visuais em sua narrativa
curta, a fim de proporcionar uma reflexão sobre o lugar e o papel da arte na vida
prosaica.
Sessões Paralelas de Comunicação III / Parallel Sessions III
Cinema / Intermidialidade
-
Cinema / Intermediality
“Tônica Dominante: relações multimodais entre sons e cores na mídia
audiovisual”
Carlos Francisco Perez Reyna (UFJF) e Eduardo Fernandes Ferreira (UFJF)
Neste trabalho propõe-se analisar as relações multimodais observadas no
emprego de cores e sons no filme ‘Tônica Dominante’ (2000), explorando as
circunstâncias de fusão das modalidades no processo de construção da
narrativa fílmica. Dessa maneira, busca-se explorar, especificamente, as
relações cognitivas estabelecidas entre a paleta de cores (visualidade) e as
músicas (sonoridade) empregadas no filme com a finalidade de comunicar o
estado psicológico do personagem protagonista através dos diversos modos da
mídia audiovisual, levando em conta as conotações relativas aos processos de
significação atribuídos a sua modalidade semiótica.
“Inland Empire de David Lynch: paradigma de intermidialidade no cinema
contemporâneo”
Miguel Angel Lomillos (UFMA)
O objetivo deste trabalho (que forma parte de uma ampla pesquisa de pósdoutorado sobre o cinema de autor nas mídias digitais) é analisar Inland Empire
(2006), de David Lynch em função dos processos intermidiáticos e dos
processos de significação que a configuram como uma obra síntese tanto do
universo lynchiano quanto do assim denominado pós-cinema ou cinema pósmoderno. Essa obra chave de Lynch parece guiar-se, com mais determinação
ainda que outros trabalhos autorais e vanguardistas do cinema contemporâneo,
pela condição do “entre”, das “passagens”, da transversalidade de dispositivos,
agenciamentos e sistemas simbólicos: no espaço-tempo da diegese (entre a
Califórnia e Lodz), nos deslocamentos de identidade da figura feminina, nos
registros de imagem e som (épico, teatral, cinematográfico, televisivo, circo,
conto, performance, videoarte, etc.). O embasamento teórico nos autores da
intermidialidade (Jurgen E. Muller, F. Jost, A. Petho, S. Mariniello, A. Gaudreault
e os pesquisadores do CRI, etc.) bem como nos teóricos do cinema, da estética
e das novas mídias (Bazin, Rancière, Casetti, Bellour, Rodowick, Hansen,
Mulvey, González Requena, etc.) nos ajudará a perscrutar as particularidades do
texto lynchiano feito por uma intrincada rede de suportes, materialidades, artes e
mídias.
“The Radiophonic Imaginary and Intermedial Relations in Early Cinema in
Latin America”
Ana M. Lopez (Tulane University)
That radio and early sound cinema throughout the world were inextricably
intertwined industrially has been amply documented. Yet, beyond some recent
efforts to situate the predominance of musical performance in sound cinema in
Latin America as a vehicle for nostalgic aural identification associated with the
schisms of modernity and urbanization, little attention has been devoted to how
16
radiophonic practices impacted the narrative practices of early sound cinema.
This essay explores the diegetic presence and imprint of “radio” – as a
presentational and performative practice—on early sound cinema in Latin
America. It will also explore the narrative work of radio as a diegetic element in
early sound cinema (primarily in Mexico, Argentina and Brazil). The radiophonic –
either as physical presence, as narrative device, or as invoked in representational
practices—served to develop new forms of narrative continuity for the emerging
sound cinemas of the continent.
Synergistically, radio and the early sound
cinema, developed an intermedial narrative platform that hinged on affect
(sentimentality, banality and melodrama) and performance as its key registers.
"Intermidialidade na teoria clássica do cinema: entre a identificação e o
essencialismo"
Alfredo Suppia (Unicamp)
Esta comunicação pretende revisitar alguns textos-chave da teoria clássica do
cinema, com o objetivo de rever a controvertida clivagem entre as vertentes
formalista e realista no pensamento cinematográfico. Nesse sentido, esforços
de aproximação do cinema em relação a outras artes (identificação) e de
singularizacao da arte cinematográfica (essencialismo) se alternam, por vezes
num mesmo autor, conotando características intermidiaticas no pensamento
cinematográfico primevo e clássico que acenam com a desconstrução da
clivagem entre formalismo e realismo. Riciotto Canudo emerge aqui como autorchave para a revisão dessa bifurcação, já apontada como simplificadora e
enviesada em algumas ocasiões, porém muito difundida entre os estudos de
cinema.
Literatura / Intermidialidade / Modernismo
Modernism
-
Literature / Intermediality /
“‘Poeta d’Orpheu Futurista e tudo’: O multimidiático Almada Negreiros”
Carla Cristina de Araújo (UFMG – CAPES)
A comunicação oral que se pretende apresentar propõe uma reflexão sobre as
relações interartes e sobre as modalidades de intermidialidade, propostas por
Irina Rajewski, na obra do multiartista português Almada Negreiros, que foi
poeta, contista, dramaturgo, pintor, desenhista, caricaturista, vitralista, tapecista,
ator, coreógrafo, bailarino, figurinista, dentre outras habilidades. Nenhum outro
nome, ao que parece, foi mais significativo do que o dele para representar a
poliaptidão para as artes. Além de sua criação artística, foi também ensaísta,
crítico de arte e estudioso da matemática e da geometria, o que o levou a criar
parte de sua obra com base nos cálculos. Surgiu no meio artístico português nos
primeiros anos do tumultuado século XX e teve papel fundamental nas
renovações literárias e artísticas que mudaram o cenário social e cultural de seu
País, de modo a fazer com que acompanhasse as mudanças que já ocorriam na
Europa. Uma breve reflexão sobre sua atuação artística em Portugal está,
portanto, diretamente relacionada aos estudos interartes e às modalidades das
relações intermidiáticas.
“Plasticidade Barroca em Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral: Imagem
de Brasilidade”
Irineide Santarém André Henriques (UFJF)
Este artigo tem por objetivo analisar algumas obras de Tarsila do Amaral como
se esta tivesse elementos da arte barroca e fosse uma plasticidade da obra
17
literária de Oswald de Andrade que tinha como proposta um resgate de
valorização da brasilidade. Uma vez que o movimento modernista do qual fazem
parte faz apologia ao que pertence a cultura eminentemente brasileira e que
foram desprezados como literatura e arte plástica.
Observa-se que as
produções artísticas no modernismo surgem com torção e contorção do discurso
político-social vigente. Houve uma re-significação na literatura e nas artes tanto
no estilo barroco quanto no movimento modernista. A relação entre barroco e
brasilidade é fundamentada em Haroldo de Campos na sua obra Metalinguagem
e outras metas. O barroco somente foi reconhecido como arte no século XIX com
os parâmetros de Heirinch Wölfflin, historiador de arte, pois denunciava, em seu
texto, suas telas e esculturas as imperfeições humanas, labirintos, o erotismo e
um jogo entre: o bem e o mal, vida e morte, belo e feio.
“1914: Tinta...fala... passagem...tipo...testemunho e...fisionomia.”
Marcus Alexandre Motta (UERJ)
A presente comunicação indaga alguns trabalhos de arte como testemunhos, ou
fisionomias, de uma data, 1914, a partir de uma distância, ou estranheza,
delineada no destino histórico da própria data. Nesse sentido, se destacam os
seguintes trabalhos de arte: a) o poema “O Guardador de Rebanhos” de Alberto
Caeiro (heterônimo pessoano), 1914, com o seu recuo para antes do
pensamento; ou seja: uma sutura entre ideia e palavra, vida e pronúncia; b) a
novela “ Na Colônia Penal” de Franz Kafka, 1914, na envergadura de uma
máquina tipográfica; ou seja, o chão da memória: inscrição e corpo, dorso e
palco; c) a “Caixa” e a “Pharmacie” de Marcel Duchamp, 1914, na medida da
beleza da indiferença; ou seja, o contra-hábito da mudez e da coisa, do aceno e
da ironia; d) a “Porte–Fenetre a Collioure” de Matisse, 1914, e na medida de
“fazer-vir”, ou o de “deixar-partir” (ou de abandonar ali), a pintura nela e por ela
mesma; ou seja, aspiração à liberdade, e a descoberta (chegadas e portanto
partidas, abandonos): espelho e mundo, mancha e signo.
Teatro / Audiovisual
-
Theather / Audiovisual
“Richard III: The villain in Shakespeare’s play and in Loncraine/McKellen’s
film”
Glória Maria Guiné de Mello (UFOP)
William Shakespeare’s play Richard III depicts Richard, Duke of Gloucester, as a
villain capable of the most terrible crimes against whoever can be a threat to his
plans of becoming king of England. His deformed body is used as an excuse for
his evil actions once he is not fit for love as his brother, King Edward IV. This
paper is an attempt to show how Richard’s villainy is characterized both in the
play and in Richard Loncraine’s/Ian McKellen’s 1995 film, based on Lars
Elleström’s model for understanding intermedial relations, mainly considering the
two qualifying aspects of media. The film emerges as an outstanding example of
adaptation and intermediality as it transforms Richard into a tyrant, a ruthless
dictator of the 1930’s, speaking Shakespeare’s words.
“Tradução transcultural no filme “O”: Othelo ontem e hoje”
Ádria Graziele Pinto (UNISC) e Ana Cláudia Munari Domingos (UNISC)
O artigo discute a relação intersemiótica entre o filme O, dirigido por Tim Blake
Nelson e escrito por Brad Kaaya (2001), e a obra Othelo – The Moor of Venice,
de Shakespeare, contemplando o conceito de tradução transcultural a partir dos
estudos de Thaïs Flores Nogueira Diniz. O filme analisado rompe com o ideal
utópico de fidelidade e, consequentemente, faz com que a transposição
18
audiovisual seja vista como uma criação independente e legítima. Defendendo
uma concepção de adaptação que ultrapassa a mera duplicação e considerando
os diálogos possíveis entre os signos verbais do drama e o cinema, a análise é
centrada nos protagonistas - Othello e Odin, e salienta as inúmeras
particularidades correspondentes a cada personagem, a partir da leitura de
estudiosos como Frank kermode, Jan Kott e Martin Lings. A figuração do herói
do teatro elisabetano é contrastada com a do herói contemporâneo apresentado
pelo filme, sobretudo na permanência/distorção das questões de ordem
existencial das personagens e seu contexto social. A produção O transfere a
história clássica para o contexto contemporâneo, adaptando elementos
referenciais e apostando no dialogismo das obras, fazendo com que o tripé
“traição-ciúme-vingança” seja perpetuado e dirigindo-se ao espectador hodierno.
“Beckett Intermídia: literatura, teatro, audiovisual”
Gabriela Borges (UFJF)
Samuel Beckett tem uma extensa obra artística que perpassa diversos meios.
Este trabalho pretende abordar o projeto Beckett on Film, produzido pelo Gate
Theatre Dublin e Blue Angel Films em 2001 e que promove um diálogo entre as
linguagens literária, teatral, cinematográfica e televisual. Nosso objetivo é
analisar detalhadamente a transcriação da obra Ohio Impromptu dirigida por
Charles Sturridge e protagonizada por Jeremy Irons no papel de Listener e
Reader. A problematização deste trabalho se baseia no conceito de transcriação
elaborado por Haroldo de Campos na passagem de um texto poético de um meio
para o outro. Sendo assim, a análise se centra na discussão sobre as
potencialidades da tecnologia digital na exploração dos aspectos técnicoexpressivos desta obra que discute as condições de produção e recepção de um
texto poético, além de refletir sobre os aspectos intermidiáticos que compõem a
transcriação.
Sessões Paralelas de Comunicação IV / Parallel Sessions IV
Fotografia / intermidialidade - Photography / Intermediality
‘Fotonovela e fotorreportagem: a relação texto/imagem e a ideia de
narratividade’
Angelo Mazzuchelli Garcia (UFMG)
A fotorreportagem é uma das especificidades do fotojornalismo. O fotojornalismo
moderno tem origem nas revistas ilustradas alemãs das décadas de 1920 e
1930. À fotorreportagem não interessava a imagem isolada, mas uma sequência
de imagens (fotografias) com o intuito de obter uma lógica narrativa. Uma
fotorreportagem deveria ter começo e fim. Já as fotonovelas, surgem na Itália,
em meados da década de 1940. Atribui-se sua origem aos resumos de filmes –
combinados com fotogramas dos mesmos – veiculados na mídia impressa (bem
como aos folhetins do século XIX). Originalmente vinculadas a outro tipo de
mídia – o cinema –, as fotonovelas tornam-se, posteriormente, um novo meio
para a veiculação de histórias originais. "Fotonovela e fotorreportagem: a relação
texto/imagem e a ideia de narratividade" traça um paralelo entre os conceitos de
fotonovela e de fotorreportagem.
“Intermidialidade no Fotolivro Brasileiro”
Ana Paula Vitório (UFJF)
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O trabalho concentra-se na investigação de fenômenos de intermidialidade em
fotolivros contemporâneos brasileiros. O estudo contempla a descrição e análise
dos aspectos formais e semântico-pragmáticos das obras Sí por cuba (2005), de
Tatiana Altberg, Silent Book (2012) de Miguel Rio Branco e Nossos dias
parecem noite (2014), editado por Cícely Salamunes. Apesar de desenvolvidos
na América Latina desde o inicio do século XX, apenas na última década, os
fotolivros tornaram-se objeto de estudo entre pesquisadores das artes e da
comunicação. No cenário mundial, também são escassas as tentativas de
sistematização do meio apesar das comprovadas contribuições para o
desenvolvimento da fotografia e artes visuais nos últimos 90 anos. Os fotolivros
constituem exemplos paradigmáticos de intermidialidade que relacionam
diversos sistemas semióticos como fotografia, design gráfico, sistema verbal e
tipografia. Nos casos analisados observamos, como relevantes aspectos das
relações midiáticas, a apropriação de elementos da comunicação poética
(presença de sistema rítmico e desenvolvimento de figuras de retórica como
metonímia e metáfora); e as associações referenciais que ocorrem de maneira
particular em cada obra com a pintura, arquitetura, música e cinema.
“Translating architecture to photography: a Peircean approach”
Letícia Vitral (UFJF) e João Queiroz (UFJF)
Here we describe an intersemiotic translation from architecture to photography.
As one of the possible interfaces for displaying and analyzing intermidiatic
concepts, photobooks will be used in this work as the object of studies where
intersemiotic translation takes part. Architectural photography can go further than
simply recording the visuality of a building, having the capacity to communicate
facts and improve our personal perception about the roles architecture can play
in our society and in an urban environment. This paper focus on how these
characteristics can influence in the way a person perceives the form and the
space of a specific building and the ideology it were intend to speak for. Decisive
properties in the photographic medium such as (i) the depth of field, (ii) the
contrast and the brightness, (iii) the color spectrum, (iv) the choice of what should
the included in the frame and what should not be included, (v) the angle of lens
and the (vi) printing process will be analyzed as the main characteristics in a
translation from the architectural signs to the photographic ones.
Música / intermidialidade
-
Music / Intermediality
“Koji Kondo e a construção da trilha sonora para Super Mario Bros®”
Nícola Pasolini da Rocha (UFES) e Marcus Vinicius Marvila das Neves
(UFES)
A indústria dos videogames e jogos eletrônicos vive hoje um crescimento
exponencial. O sucesso desta indústria foi conquistado pouco a pouco ao longo
da segunda metade do século XX por mentes inovadoras e profissionais
dedicados ao ramo da programação e diversas outras áreas pertinentes à
realização de um game. A música desempenha um papel fundamental na
consolidação desta indústria e cultura, porém ainda são poucos os estudos
científicos destinados a investigar as composições para jogos eletrônicos. Koji
Kondo, sem dúvidas, é um dos pioneiros e principais nomes quando o assunto é
composição e design de som para jogos, compondo ao longo das três últimas
décadas trilhas sonoras que ficaram eternizadas na história dos videogames
pelos clássicos da Nintendo®. Este trabalho pretende apresentar os resultados
parciais da investigação da trilha sonora elaborado por Kondo para o primeiro
jogo Super Mario Bros®.
20
“Música, vídeo, narrativas de espetáculos transmidiáticos”
Cláudio Manoel Duarte de Souza (UFRB)
O termo “espetacular” é atribuição corriqueira para vários acontecimentos, além
dos artísticos. Rubim (2005, pag.12), ao vasculhar a origem semântica do termo
- spetaculum - recupera-o como aquilo que “atrai e prende o olhar e a atenção”,
parecendo reforçar a idéia de sua aplicabilidade aberta e vasta. Esse conceito
denota que o olhar e a atenção são os elementos primários que elegerão a
imagem como a base espetacular. É o “sentido rei” de Requena (apud RUBIM,
2005) sobre o qual o sujeito se instala como o espectador. O espetácular
contemporâneo artístico (e midiático) têm se conectado a três grandes vertentes.
Uma delas diz respeito à convergência midiática, fazendo com que as narrativas
dialoguem entre si; a outra vertente diz respeito às formas/formatos de
exposição e de modos de consumo, já que um mesmo produto de expande
através de diferentes redes de acessibilidade, reformatando ele próprio,
adequando-se (seu formato) ao suporte (janela); por último, em um campo mais
periférico à estética, está o modelo de negócio, de sobrevivência desses
produtos simbólicos, como mercadorias da cultura, em um modelo transmidiático
de consumo. Essas várias características são refletidas mas intensamentes
quando pensamos em narrativas transmidiáticas que envolvem vídeo e música,
em espetáculos streamings.
“O Teatro Mágico”: um olhar antropofágico sobre as novas tecnologias?
Cristiano Otaviano (UFJF / UFSJ)
O presente trabalho é um recorte da pesquisa que desenvolvo a respeito do
grupo “O Teatro Mágico” no Doutorado em Estudos Literários, na Faculdade de
Letras da UFJF. Aqui, tentar-se-á analisar o uso que a banda faz da internet e
das redes sociais sob duas perspectivas. Em primeiro lugar, situando-a em
relação a três movimentos que, no século XX, propuseram o “deglutir” do novo
como forma de renovação da arte: o Movimento Antropofágico, o Tropicalismo e
a Poesia Concreta. Em segundo lugar, na busca por pensar a “tecnofagia”
proposta pelo grupo, o trabalho trará uma pequena análise dos potenciais e
desafios trazidos – para a música e para a literatura – pelas novas tecnologias.
No final desta parte, tentaremos observar o quanto tais potenciais e desafios se
refletem na produção musical d“O Teatro Mágico”.
Imagem / palavra III
-
Word / Image III
“A natureza-morta: uma reflexão poética e fotográfica”
Maria Adélia Menegazzo (UFMS)
Nascida como um gênero da pintura holandesa do século XVI, a natureza-morta
atendia tanto a um gosto meramente decorativo, quanto à necessidade de
reflexões profundas sobre a efemeridade da presença humana no mundo.
Enquanto vanitas, tinha como função lembrar que os prazeres e as aparências
são passageiras; enquanto memento mori, induzia à reflexão sobre a vida e a
morte, atingindo em ambas as formas e o caráter alegórico. Desde os primórdios
da fotografia, o modelo é a pintura, e o tema da natureza-morta aparece tanto
em clássicos como Talbot e Bayard, quanto nos modernos Rodchenko e CartierBresson. Na poesia modernista brasileira, já se tornou clássica a leitura de
“Maçã”, de Manuel Bandeira, como uma natureza-morta cubista. Nosso trabalho
pretende investigar as configurações que o tema encontra na poesia
contemporânea de Ana Martins Marques e Paulo Henriques Britto, bem como em
21
fotografias de Robert Frank e Francesca Woodmann e em vídeos de Sam Taylor
Wood, enfatizando seu caráter alegórico e narrativo.
“Arlindo Daibert e GSV: um intenso trabalho de citação”
Maria do Carmo de Freitas Veneroso (UFMG)
Abordando o foco desse evento na pesquisa sobre as relações entre as artes,
nesse trabalho abordarei a obra do artista plástico nascido em Juiz de Fora,
Arlindo Daibert, a partir das relações que ele estabelece com textos literários. Na
sua leitura do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, Daibert
afasta-se do conceito tradicional de ilustração, aproximando-se mais do tradutor,
utilizando as técnicas e os estilos gráficos mais adequados a cada caso. Serão
focalizadas algumas obras pertencentes a essa série que intertextualiza com o
livro de Guimarães Rosa, entre elas as xilogravuras Maria Mutema e Pacto, e as
obras em técnica mista, Sem título, n. 8 e Riobaldo. Na sua rede intertextual
Daibert tece aproximações entre as obras citadas e a iconografia da literatura de
cordel, e também a das cartas de tarô. Outra referência utilizada pelo artista são
as vinhetas e mapas desenhados por Poty para a primeira edição do livro de
Rosa. É com um intenso trabalho de citação que Daibert cria seu GSV, citando
Rosa, citando o cordel, citando Poty, citando as cartas de tarô, se apoderando
das imagens não como modelos inspiradores, “fontes”, e sim como “citações
deformadas” (Barthes).
“Intermedial relations in Clara and Mr. Tiffany”
Miriam de Paiva Vieira (UFMG)
The novel Clara and Mr. Tiffany (2011), by Susan Vreeland, blends reality and
fiction to tell about the life and career of the designer Clara Driscoll, the chief of
women’s department at Tiffany Studios, in the hectic fin-de-siècle New York City.
Within art nouveau themes – the stylization of nature shapes and the conflict
generated by the hasty and accelerated growth of big cities – the author makes
vast use of ekphrasis, an intermedial tool borrowed from Greek rhetoric.This
paper aims at relating the highly pictorial saturated narrative of the novel to the
characteristic nature/city dichotomy of the art nouveau movement. To delve into
the novel which blends reality to fiction, I count on the notion of Künstlerroman
proposed by Solange Oliveira. The notions of Intermediality proposed by Irina
Rajewsky, along with the definition of ekphrasis by Claus Clüver, will be used as
theoretical support. To set the art nouveau movement within its historical
moment, I will rely on Walter Benjamin.
Sessões Paralelas de Comunicação V / Parallel Sessions V
HQ / Intermidialidade II
-
Comics / Intermediality II
“The (hi)story behind the veil: a reading of Marjane Satrapi’s Persepolis”
Ruan Nunes (UERJ)
As we understand that the graphic novel narrates partly through means of
illustrations and that it also draws readers’ attention visually and spatially “to the
act, process, and duration of interpretation”, Marjane Satrapi’s Persepolis
exemplifies the way postmodern works of art foreground the importance (and the
role) of images and illustrations. While Linda Hutcheon does not mention graphic
novels (or comics) in her often quoted The Politics of Postmodernism, we would
like to use her understanding of text-image tensions to explore the fact that
“postmodern artists and their art are implicated in a very particular historical and
22
ideological context – which they are more than willing to signal”, as in her very
own words. Therefore, Persepolis offer a second seeing, a re-vision of codes
regarded as natural while narrating a girl’s coming of age as well. This paper
aims at analysing how the concept of graphic narratives and autographics,
proposed respectively by Chute & DeKoven (2006) and Whitlock (2006), apply to
the very specific case of Persepolis, because, as put by Gillian Rose (2011),
these artistic forms of representation are intimately bound into social power
relations. In Persepolis, images and text work together to narrate a girl’s search
for identity.
“‘Você nos livrará da tirania de William Shakespeare?’ Hamlet na HQ Kill
Shakespeare”
Sirlei Santos Dudalski (UFV)
As peças de William Shakespeare têm sido infinitamente adaptadas para as
mais diversas mídias. Sabe-se que a história das adaptações e apropriações
colocam em questão a bardolatria, uma vez que proporcionam a desmistificação
do conceito de autoria. Inúmeros são os quadrinhos que adaptam, citam ou ao
menos fazem alusão ao autor, para mencionarmos somente este tipo de arte
sequencial. Kill Shakespeare é uma história em quadrinhos canadense escrita
por Anthony Del Col e Conor McCreary e ilustrada por Andy Belanger que vem
sendo publicada desde 2010. A HQ dialoga intensamente com várias peças
shakespearianas, apresentando uma miscelânea de personagens e citações
provindas da obra do Bardo. Nela, ninguém menos do que Hamlet, chamado de
shadow king, é o escolhido para acabar com a tirania de Shakespeare, porém há
personagens que consideram Shakespeare um grande herói, e até mesmo um
Deus. No presente trabalho, pretende-se analisar a saga da personagem Hamlet
na HQ Kill Shakespeare, inspirada naquela que é a mais famosa e admirada
peça do drama inglês, levando em conta a especificidade da mídia em que está
inserida e suas relações com o texto-fonte, conhecido detentor de grande
autoridade cultural.
“Webcomics interativos e teorias do hipertexto: uma proposta de diálogo”
Maiara Alvim de Almeida (UFJF)
Pode-se definir, sucintamente, histórias em quadrinhos como narrativas
sequenciais contadas utilizando-se tanto elementos gráficos e textuais. Sua
trajetória está intimamente ligada ao suporte impresso – sejam esse tanto
jornais, onde surgiram, quanto álbuns dos mais variados materiais, tamanhos e
preços. Nas últimas décadas, nota-se o surgimento de histórias em quadrinhos
veiculadas através de páginas da internet: as webcomics. Entretanto, apesar de
serem feitas e lidas em um ambiente rico em possibilidades e recursos a serem
incorporados à composição da narrativa, nota-se que maior parte dessas
histórias apresentam-se de maneira tradicional, próxima das histórias impressas.
Uma exceção seriam as obras do site MS Paint Adventures, da autoria de um
americano chamado Andrew Hussie, cuja proposta é apresentar webcomics em
que o leitor possui um papel fundamental na determinação do rumo da história –
um dos diversos fatores que lhes atribui um caráter hipertextual. Sendo assim,
proporemos no presente trabalho uma leitura das publicações do supracitado
website à luz das teorias do hipertexto. Em nosso arcabouço teórico, traremos
considerações de teóricos como Landow (1997) e Murray (2003), apontando
características desses webcomics que nos permitiriam enxergá-las como obras
hipertextuais.
Arte / Novas Mídias - Art / New Media
23
“Releitura de Austen: da mocinha do século XIX à vlogueira do século XXI”
Maria Inês Freitas de Amorim (UERJ)
O romance Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 1813), da escritora
inglesa Jane Austen, pode ser considerado um dos mais lembrados da história
da literatura. Mesmo passados mais de dois séculos de sua publicação, a
narrativa apresenta discussões que repercutem até os dias atuais, como o papel
social da mulher e críticas a uma sociedade que privilegia aparências. A obra já
foi adaptada diversas vezes nos mais variados formatos: para o cinema, como
série de televisão ou releitura em outras obras literárias. A primeira tentativa de
adaptação com base na Internet é a web série O Diário de Lizzie Bennet (The
Lizzie Bennet Diaries, 2013) veiculado em canal do youtube.com. A web série
também conta com perfis das personagens em redes sociais, como Twitter,
Facebook e Tumblr, possibilitando interação com o público. A produção conta
com cem episódios e "contemporanealiza" a narrativa, apresentando a cada
episódio uma postagem do vlog da protagonista. O presente trabalho busca
analisar que elementos da narrativa literária foram preservados na adaptação
para a web série, levando-se em consideração as contextualizações necessárias
para a manutenção da verossimilhança.
“Blogs: problema da literatura enquanto arte à luz da teoria estética de
Adorno”
Bruno Lima Oliveira (UERJ/FAPERJ)
É comum os estudos críticos sobre literatura contemporânea referirem-se ao
retorno do autor. Sua participação midiática, em feiras literárias, congressos,
palestras e lançamentos de livros, além da crescente hibridização de
autobiografia e ficção, ainda suscitam teses interessadas em discutir o que
propicia a chamada autoficção e em questionar até que ponto seria válido falar
em um novo "realismo", a partir das considerações de Hal Foster. Este trabalho
pretende caminhar na contramão do que vem sendo estudado atualmente pela
Academia, no sentido de que não visa compreender a produção literária deste
século extraliterariamente, ou seja, as respostas que se quer alcançar para
explicar a autoficção não se encontram apenas em nossa sociedade do
espetáculo, mas, sobretudo, no próprio texto e, mais particularmente, em uma
outra mídia ─ os blogs. Será a partir da análise do labor literário na internet que
se conseguirá problematizar, à luz da teoria estética de Theodor Adorno, a
própria literatura enquanto arte. Um novo conceito de narrador, de autor e da
própria literatura são possíveis de se teorizar ao comparar a produção literária
contemporânea praticada na internet com aquela publicada e editada em outro
veículo midiático, seja em livros do século passado como deste século XXI.
“Hipermídia e arte-educação: uma abordagem interdisciplinar do ensino de
arte”
João Vicente dos Santos Adário (UFPB)
O avanço tecnológico em diversos setores, sobretudo na Internet, fez avançar as
pesquisas das relações de interação Homem-Computador (HCI), as quais
também já vem sendo exploradas no ensino da arte, e com muitos bons
resultados. Assim, este artigo trata das possíveis implicações que a inserção
desta mídia, juntamente com as inovações tecnológicas de informação, interação
e comunicação que ela traz consigo, podem ter no processo de
ensino/aprendizagem da arte. Primeiramente, procura-se tecer algumas
reflexões acerca desse ambiente hipermidiático, apontando alguns avanços
qualitativos que as interfaces hipertextuais podem incorporar ao processo
24
pedagógico, bem como ressalvas sobre esse mesmo uso. Por fim, é relatado os
pontos mais importantes de uma pesquisa, a qual estudou as possibilidades de
utilização dessa mídia digital interativa como ferramenta de ensino de arte, na
tentativa de resgatar o interesse de se conhecer e aprender a história da arte. A
pesquisa fundamentou-se no desenvolvimento de uma metodologia de
ensino/aprendizagem utilizando a linguagem hipertextual aplicada à arteeducação. Desta metodologia, foi concebido um ambiente digital interativo, cujo
conteúdo destina-se tanto para a auto-aprendizagem quanto a oferecer uma
alternativa auxiliar de ensino ao professor de arte em sala de aula.
Artes Cênicas / Intermidialidade - Performing Arts / Intermediality
“Processos de Criação da Companhia de Dança Contemporânea da UFRJ
no contexto da Ciência & Arte”
Ana Earp (UFRJ), André Meyer (UFRJ), Sara Cohen (UFRJ ) e Luciano
Saramago (UFRJ)
”Anatomia dos Contatos” é um espetáculo da Companhia de Dança
Contemporânea da UFRJ que une ruídos eletroacústicos, sonoridades
desconstruídas, guitarra estruturada e percussão sinfônica com a exploração
poética dos contatos e apoios do movimento corporal. Juntamente com a
pesquisa e produção deste espetáculo, a companhia fará o pré-lançamento da
performance multimidia 3D “Landscapes” na Semana Nacional de Ciência e
Teconologia-2014.
O
uso
da
tecnologia
3D
na
performance
multimidia“Landscapes” é fruto da parceria entre o Laboratório de Imagem e
Criação em Dança - EEFD UFRJ, o Laboratório de Multimídia - ECO UFRJ e o
Lab 3D - Laboratório de Realidade Virtual - COPPE UFRJ. A Companhia de
Dança Contemporânea da UFRJ conta como o patrocínio dos Editais PRÓCULTURA E ESPORTE 2014 e PIBIAC 2013 e auxílio financeiro da FAPERJ
através do Edital de Difusão e Popularização da Ciência 2012.
Referências:
MEYER, André. Dança e Ciência: Rio de Janeiro: UFRJ, 2012.
http://fenix3.ufrj.br/50/teses/d/CCS_D_AndreMeyerAlvesDeLima.pdf
“Temas de Dança – o desafio de produzir arquivo em dança”
Flavia Meireles
O grupo de pesquisa Temas de Dança se dedica, desde 2011, a criar modos de
pesquisar e produzir material de pesquisa em dança atuando em encontros
presenciais e em produção digital (textual e audiovisual). O grupo se reuniu
impulsionado pela necessidade de conceber um modo de acesso e de produção
de arquivos culturais de dança no Brasil, aliando teoria e prática, afeto e
intelecto. A questão desta comunicação é: como produzir arquivo numa atividade
tão pouco conforme ao arquivamento (que requer estabilidade e
reprodutibilidade) como a dança? que mídias sao apropriadas? Ou ainda, como
performar um arquivo? Percebemos que a cultura digital vem oferecer novos
instrumentos para enfrentar esse desafio de “encarar” o arquivo, criando outras
formas de acessá-lo. O grupo de pesquisa pensa/age documentando suas ações
e problematizando a noção de arquivo digital e, inversamente, buscando captar o
que a cultura digital aponta como caminho para performar um arquivo.
“Um novo teatro no hibridismo mutante das novas tecnologias”
Eliane Lisboa (UFCG)
A evolução tecnológica sempre influenciou os caminhos da arte teatral, de modo
que a cada época histórica um novo patamar tecnológico se esboça, obrigando a
25
arte do teatro a redescobrir sua essencialidade, enquanto absorve e incorpora as
novas descobertas. Talvez nunca antes, no entanto, a arte teatral viveu
momento de tamanho descompasso entre sua essencialidade e o uso de novas
tecnologia, ao ponto de se questionar atualmente o sentido mesmo do caráter de
presença cênica,
até então considerado como o atributo definidor da
teatralidade. Grande número de experimentações vem jogando o espectador
frente a telas, múltiplos planos de luz, projeções, conexões em rede, onde o ator
encontra-se ainda “ao vivo”, mas numa sala ao lado, num espaço paralelo, outra
vezes contracenando mesmo com um seu eu virtual. Diante disso a arte teatral
se pergunta quais são os limites destas experimentações, sem que se rompam
os parâmetros do teatral. Este estudo, apoiado nas análises de Béatrice PiconVallin e Érika Fischer Lichte, entre outros estudiosos, aborda este momento de
transformações e questionamentos, em que a arte teatral, cada vez mais híbrida,
se “desconhece” no seu próprio fazer.
Sessão de Pôster I / Poster Session I
“TV em múltiplas plataformas: A narrativa transmídia em telenovelas
brasileiras”
Camila Augusta Pires de Figueiredo (UFMG)
Nos últimos anos, temos observado uma crescente utilização da narrativa
transmídia como estratégia de marketing para as telenovelas brasileiras. Sob
esse prisma, a narrativa se desdobra através de múltiplas plataformas; várias
mídias convergem e se entrelaçam para contar uma única história. Para
examinar as novas dinâmicas midiáticas em jogo nesse cenário, propomos um
breve panorama histórico a respeito da utilização de ferramentas transmídia nas
novelas brasileiras, com ênfase em um caso recente: a novela Cheias de
charme, de Isabel de Oliveira e Filipe Miguez, que foi ao ar em 2012 pela Rede
Globo. Examinaremos o processo transmidiático que disseminou a sua narrativa
em vários vídeos no YouTube, sites, blogs de personagens, redes sociais e
livros. Com isso, espera-se contribuir para a compreensão das mudanças e dos
efeitos dessa grande interação entre mídias no ambiente televisivo no Brasil,
tanto no que concerne ao modo como o conteúdo é produzido e disseminado
quanto à maneira como é recebido e acessado pela audiência.
“Ficção seriada e transmidiação: apontando desdobramentos de Game of
Thrones”
Lucas Gamonal Barra de Almeida (UFJF), Paloma Rodrigues Destro Couto
(UFJF), William C. Gonçalves (UFJF)
É bastante notória a força da produção audiovisual norte-americana em todo o
globo. Seus produtos midiáticos, especialmente em cinema e televisão, ganham
grande repercussão e fãs ao redor de todo o mundo, garantindo que as
narrativas então formatadas acabem por percorrer outros caminhos, nos mais
diversos espaços e mídias. A série Game of Thrones pode ser apontada como
atual e importante retrato desse contexto. Baseada nos livros de George R. R.
Martin, tornou-se um dos principais produtos da rede televisiva HBO, com
grande número de espectadores e admiradores, capazes de levar seus
elementos a outros mundos, extrapolando os limites da ficção seriada. Partindo
dessa observação, temos como objetos da pesquisa a exposição Game of
Thrones: The Exhibition e a cidade de Dubrovnik, na Croácia, que se coloca em
condição de cenário-celebridade e vem sendo transformada em razão da
visitação turística dos fãs da série. Temos que a transmidiação vem, cada vez
mais, tornando-se tendência na prática comunicacional, especialmente quando
26
tratamos de obras ficcionais, que buscam em outras plataformas a expansão de
seu conteúdo, oferecendo novas experiências, gerando mais consumo e atraindo
novos fãs.
“Pedro Almodóvar, realizador de mulheres, e incursões intersemióticas”
Juliana Cravo Domingos (CEFET-MG)
No final da década de 1990, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar se propôs
uma experiência artística até então inédita em sua carreira: adaptar para o
cinema uma obra literária. A obra escolhida foi o romance policial Carne Viva, da
escritora britânica Ruth Rendell. Mais de uma década depois, o cineasta repetiu
a experiência adaptando Tarântula, romance policial do francês Thierry Jonquet.
Uma novidade na cinematografia do cineasta espanhol, a adaptação
cinematográfica de obras literárias não é nem novidade, nem campo de debates
passivos e desde os primórdios do cinema as migrações narrativas e estéticas
entre ele e outras artes tem sido alvo de discussão. A iniciativa de Almodóvar,
conhecido como cineasta autoral, enuncia a densidade de um fenômeno
amplamente observado através do último século, inicialmente à luz da literatura
comparada e dos estudos da tradução, e posteriormente da tradução
intersemiótica. Este trabalho discute os vínculos interartes a partir das
adaptações Carne Trêmula e A pele que habito, buscando observar como se
processa a migração semiótica em Almodóvar.
“A Ditadura na adaptação de Milagre na cela para o filme A freira e a
tortura”
Dênis Sebastião Ramos Firmino (UFU)
A pesquisa tem como corpus o texto teatral do dramaturgo Jorge Andrade,
intitulado Milagre na Cela (1977) e a adaptação deste para o filme A freira e a
tortura (1983) do cineasta Ozualdo Candeias. Ambas as obras foram concebidas
na ditadura militar brasileira. O texto de Andrade e o filme de Candeias, retratam
os arbítrios e violências acometidas contra os cidadãos considerados
subversivos. No enredo das obras, às relações de poder entre as principais
personagens são a força motriz que conduzirá o desenrolar de ações de ambas
as tramas. A partir destas distintas formas ficcionais (textual e imagética), a
pesquisa visará compreender o processo da adaptação tendo como objetivo
geral responder a pergunta: Quais são os ressignificados estabelecidos ao se
processar a adaptação do texto de Milagre na Cela para o filme A Freira e a
Tortura? Os estudos se pautarão em teorias que estejam à luz da literatura, do
teatro e do cinema. O contexto em que estavam inseridos os autores também
será apreciado. Pelos estudos comparados de literatura com outras artes,
objetiva-se também apontar os pontos de convergência ou oposição que
compõem os objetos da pesquisa para identificar se o filme preserva a
intencionalidade crítica do texto teatral.
“A Intermiadilidade no Documentário Nathacha”
Ana Paula Romero Andrade (UFJF)
O trabalho é embasado no conceito de subcategorias de intermidialidade
empregado por Irina Rajewsky em seu artigo "Intermediality, Intertextuality, and
Remediation: A Literary Perspective on Intermediality" de 2005. Onde apresenta
o cruzamento de fronteiras midiáticas (referências intermidiáticas, onde textos de
uma mídia só, citam ou evocam outra mídia, e transposição midiática, onde há a
transformação de um texto composto em uma mídia em outra mídia) no
documentário, em produção, Nathacha. Esse processo se dá através da
utilização de ilustrações e fanzines como texto “fonte” para a produção do “texto-
27
alvo” (documentário). Tendo como essência o processo criativo entorno da
personagem Nathacha. Uma vampira criada pelo artista Hernando Rocha Vitor
no início da década de 1990 em Congonhas/MG.
“Translation priorities: Lewis Carroll’s Alice seen from different
perspectives”
Lílian Moreira (UFJF) & João Queiroz (UFJF)
Alice’s Adventures In Wonderland and Through the Looking Glass And What
Alice Found There, Lewis Carroll’s most famous books, have been widely
intersemiotically transposed throughout the last 150 years. A number of
illustration, plays, ballets, songs, movies, TV shows and others was made by
renowned and lesser known artists. Two notable examples seem to have
escaped more usual analysis: a famous TV series by Jim Henson, The Muppet
Show, aired from 1976 to 1981, featuring puppets and a human guest, in which
an episode from the fifth season starred Brooke Shields playing Alice in 1980;
and 1988 film with a blend of stop motion animation by multiple prize winner
Czech director Jan Švankmajer, called Neco z Alenky. We intend to compare
these transpositions of Alice’s stories, in which translators choose seemingly
distinct characteristics of the books, but both of fundamental importance to the
source: (i) The oneiric ambience in which the story is set and the permissiveness
that it creates, allowing nonsense, amorality and lack of objective, and (ii) Various
linguistic games used in a humorous environment.
“Transcriação e ressignificação dos super-heróis DC Comics pela
websérie Porta dos Fundos”
Hellen Ovando da Camara Nogueira (UFSCar)
O artigo busca discutir a inserção de elementos e personagens de histórias em
quadrinhos, de expressão internacional, no cenário cultural brasileiro atual como
componente para a construção de narrativas de humor pelo canal Porta dos
Fundos, do YouTube, observando os processos de migração e transcriação,
realizados no decorrer do processo de composição dos episódios. Serão
analisados os episódios Batman: the dark knight erects; Setor RH: Super
Gêmeos e Robin. Serão abordados, no estudo, conceitos referentes ao modelo
webserie, a partir de suas similaridades com a narrativa seriada presente na
televisão, com o objetivo de entender a constituição do formato presente na web,
(MACHADO, 2005; PALOTINI, 1998; CALABRESE 1988; ECO, 1989; JENKINS,
2008) assim como aportes teóricos sobre os processos adaptativos de
elementos e universos narrativos entre mídias diferentes, buscando apreender a
redefinição dos componentes da narrativa primeira em um novo texto.
(HUTCHEON, 2006; SANDERS, 2008; CAMPOS, 2013) Por fim, será analisado
o modo como os personagens conhecidos e amados pelo público web são
colocados em situações – nada heróicas – contudo, irônicas e paródicas, sendo
ressignificados e transformados, por meio da comicidade, (PROPP, 1992;
BERGSON, 2004) em promotores de crítica ao cotidiano social e cultural
brasileiro da contemporaneidade.
“Gertrude Stein --- transcriação intersemiótica”
Claudio Melo (UFJF), Bruna Gonçalves (UFJF), Mariana Salimena (UFJF),
Daniella Aguiar (UFJF), João Queiroz (UFJF)
Gertrude Stein's work is almost unknown in Brazil. Her disrespect to Aristotelian
markings, linked to schematic continuities (crise-climax, beginning-medium-end,
development of characters-intrigue-catharsis), substituted by radical cubist
experiments, clearly prevented a wide dissemination of her work among us. The
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beginning of her experimental work is marked by “Three Lives” (1909), a book of
three short stories, “The Good Anna”, “Melanctha”, and “The Gentle Lena”, about
three different servants. The theme is banal and ordinary; events are substituted
by the internal life of characters; the narrative structure is episodic and cyclic,
specially in the first and in the last stories. Beyond that, the stories don’t have
climax and the ‘realism of the composition’ is more importante than the ‘realism of
the characters’, lessons learned from Cézanne. Here we focus on the graphic
intersemiotic translation of the short stories “The Good Anna” and “The Gentle
Lena”, by this group. The technical difficulties for graphic intersemiotic translation
of Stein's work are remarkable, demanding a special kind of “creative translator“.
Our approach is specially interested in what can be considered a creative
transcreation of relevant formal aspects of Stein stories. Our aim is to presente
parcial results and explore similarities and diferences between three different
graphic intersemiotic approaches.
“Vídeoteatro: em busca de um conceito”
Juliana Lins Ferreira (UFCG) e Eliane Lisboa (UFCG)
Quando se fala de vídeoteatro, estudiosos tanto de teatro quanto de vídeo ainda
não chegaram a um consenso exato do que é esta mídia híbrida e como ela
deveria ser elaborada. Ainda não existe uma linguagem precisa do vídeoteatro e
muitas das produções atuais só se encaixam dentro de “teatro” ou de “vídeo”,
nunca dos dois juntos, como uma mídia verdadeiramente hibridizada. Por esta
razão, esta pesquisa tenta chegar mais perto da definição do vídeoteatro, bem
como fazer um experimento do mesmo, testando fundir técnicas e exigências de
ambas as artes, tomando como base o monólogo final da Megera Domada, de
Shakespeare, de forma que o produto obtido seja, de fato, uma combinação de
vídeo com teatro sem que uma das artes se sobreponha à outra. Para a análise
teórica, uma mídia híbrida similar que já possui uma definição sobre sua
linguagem foi analisada: a vídeodança, de acordo com Guilherme Schulze. A
partir desta, e do estudo sobre o que é teatro do ponto de vista de Peter Brook e
o que é vídeo ao ver de Arlindo Machado e Christine Mello, pode-se chegar a
uma conclusão do que possivelmente é o vídeoteatro e o que o caracteriza como
tal.
“Literatura Marginal em rede: Novas formas de movimentos sociais”
Gracinda Vieira Barros (UFJF)
Em uma sociedade conectada em rede, a expressão da subjetividade está
presente em novos territórios e a literatura vem se apresentando em novos
suportes. Autores e leitores contemporâneos são aproximados pela virtualização
da atividade literária e pelos perfis nas redes sociais, dessa forma, o livro
impresso não é mais o único difusor de ideias e conceitos. Escritores das
periferias urbanas, como Ferréz e Sérgio Vaz mantêm, além de sua produção
impressa, blogs e perfis virtuais onde divulgam seus trabalhos e suas
intervenções políticas, como a Cooperifa e a 1daSul. Para Manuel Castells, esse
novo espaço de trocas é significativo, pois, é interagindo com vários ambientes
que os indivíduos criam seus significados e, em cenas culturais como a
Literatura Marginal Contemporânea, onde a democratização da arte e a crítica da
sociedade são temas fundamentais, o alcance da internet se torna ainda mais
emblemático, pois torna o acesso aos bens culturais, as reflexões e
principalmente os movimentos sociais ainda mais democráticos.
“A literatura da era digital”
Mírian Gomes de Freitas (UFF / IF SUDESTE MG)
29
No panorama atual das relações entre literatura e mídia, a internet surgiu como
um novo meio para a criação e a divulgação da obra literária. Partindo desse
pressuposto, este estudo pretende construir reflexões pertinentes acerca do
impacto do espaço cibernético
sobre as produções literárias atuais e sua
veiculação ao ambiente digital, assim como também, a relação do autor hoje
com seus leitores através da Web, em um panorama que envolve a
comunicação interativa pelos blogs, e-mails, coletivos literários, sites, etc. A
discussão desse estudo abordará ainda a questão da importância e do papel dos
livros impressos e digitais, delineando escritores das gerações de hoje e de
ontem, e suas diferenças em relação ao processo de criação literária.
“Marionetes Virtuais: arte, corpo e tecnologia em interseção poética”
Flavia Cardoso de Almeida Cruz Acker (UFRJ) e Doris Clara Kosminsky
(UFRJ)
Esta pesquisa teórico-prática está voltada para a interseção entre arte, corpo e
tecnologia, trilhando o caminho possível da dança. É proposto um diálogo
interdisciplinar de criação interativa a partir do ambiente “Marionetes Virtuais”,
onde a captura e processamento da imagem, em tempo real, participam da
metodologia para o desenvolvimento coreográfico. Com a vivência nesse
ambiente criou-se, por meio do espelhamento da imagem do corpo físico, uma
nova imagem, que chamamos de marionete virtual. No processo de construção
coreográfica, em que os movimentos da marionete são determinados pelos do
corpo físico, inverte-se o foco: o próprio corpo físico é, também, manipulado pelo
corpo da marionete. A tecnologia, além de imprimir alterações no espaço e no
modo de pensar e criar, abre vias para distintas interações entre linguagens,
percepções e trabalhos teóricos, tais como o balé clássico, estudos de Laban e
de Bachelard. Detalha-se todo o processo criativo utilizado na construção de
duas obras-instalações expostas em 2013: “Caixinha de Joias” e “Marionetes
Virtuais”, baseadas no ambiente produzido.
“Estratégias de leitura de e-books versus livro tradicional: uma análise
comparativa”
Alessandra Bento Pereira Fernandes de Oliveira (UERJ), Fátima Ribeiro de
Castro (UERJ) e Grazielle Aleixo Reis (UERJ)
O presente trabalho tem por objetivo analisar comparativamente as estratégias
de leitura utilizadas em sala de aula na aplicação do livro tradicional e livros
online. Para tanto, usaremos como base teórica as autoras Ingedore Koch,
Isabel Solé, Ângela Kleiman e demais críticos que reflitam sobre o papel do texto
como lugar de interação de sujeitos sociais. Por fim, pretende-se refletir sobre
como as estratégias de leitura viabilizam a coexistência de diferentes suportes
de um texto.
“O homem pós-orgânico em Be Right Back”
Larissa Albertti Ramos de Freitas (CEFET-MG), Luciana Campos de Faria
(CEFET-MG), Tereza Cristina Brandão Godói Godinho (CEFET-MG)
O presente trabalho procura investigar como a interface entre o humano e o
maquínico estabelecida em Be Right Back , episódio um da segunda temporada
da série inglesa Black Mirror, apresenta uma fronteira indefinida entre o real e o
virtual, a tecnologia e a humanidade. A narrativa constrói um pensamento
reflexivo em torno do desejo humano, a partir de sua relação com a morte, e das
ilimitadas soluções tecnológicas desenvolvidas para se alcançar tal desejo,
traçando os efeitos possíveis dessas imbricações. A partir dessas problemáticas,
esse estudo propõe pensar o corpo, a tecnologia e as relações humanas no
30
contexto da “pós-modernidade” e, para tal, serão caros alguns conceitos como
“ciberespaço” e “pós-orgânico”. É importante ressaltar que o objetivo deste texto
é fazer circular algumas ideias e possibilidades de leitura crítica sobre Be Right
Back, entendendo que a perspectiva escolhida não busca se impor, mas dialogar
com os transbordamentos de sentidos florescentes no filme.
“Experiência, semiformação e narração na aurora da cultura digital”
Alessandro Eleutério de Oliveira (IF SUDESTE MG)
Em tempos de profundas transformações sociais, econômicas, políticas e
culturais - em meio ao impávido das novas tecnologias -, esse estudo almeja
efetivar a análise das novas formas agregacionais e comunicacionais que são
engendradas na Internet. Nessa acepção, investigamos sítios como o Orkut, o
Facebook e o YouTube, tendo em vista a compreensão das manifestações dos
sujeitos que são expostas nesses ambientes ciberespaciais, o que permite a
comunicação e o compartilhamento de suas experiências de vidas no lócus
virtual. Nossa hipótese diz respeito ao intento dos chamados internautas de
estabelecerem vínculos socioculturais em tempos de acirramento do
individualismo consumista e da postura performática como estilo de vida.
Somam-se a isso a desorientação, a fragmentação e o desenraizamento que se
impõem às relações humanas. Nossa análise é iluminada pelo referencial teórico
fornecido pelos conceitos destilados das obras dos filósofos da Teoria Crítica,
principalmente Walter Benjamin Theodor Adorno e Max Horkheimer. Como
resultado, podemos perceber que as tentativas de aderência das pessoas ao
real - por meio do espaço virtual - se dão no interior de um turbilhão de
modernidade. Por um lado, esse turbilhão pode gerar o fortalecimento do
processo semiformativo. Pode outro lado, pode gerar uma ressignificação da
narrativa experiencial.
“Universities resort to online journalism: Comparisons between two
educational systems”
Lucas Mendes de Paiva (Infnet Institute)
The online journalism has been the subject of analysis and research in the last
years and tends to be one of the most promising fields, both for researchers and
professionals. The media conglomerates and institutions have been adjusting the
way they communicate with their stakeholders. Hence, this article seeks to
analyze the current stage of online and institutional journalism, going deeper into
the online news of two different universities. Has the digital been changing the
way universities communicate with their audiences? To approach this question I
analyzed the homepages and online news production of Juiz de Fora Federal
University, in Brazil, and of Aarhus University, in Denmark. To draw a comparison
between them, their homepages were analyzed for 15 days. For researchers,
setting a parameter such as a timeframe for sampling comparison is important to
achieve truthful results. Moreover, some variables are also important to make an
analysis of online news content, such as story topics, number of links, and use of
multimedia. The criteria of newsworthiness, recurring themes, use of sources,
and hyperlinks were taken into account. The outcome has shown some
differences and might be useful for both institutions to improve the way they
interact with their audiences.
“A Digitalização da Vida e Práticas de arte tecnológica”
Tiago Rubini (UFJF)
Com o advento da informática e a descoberta do DNA, as entidades orgânicas
passaram a ser contempladas como blocos de informação, análogos a
31
softwares. Com isso, diversas incursões fáusticas da tecnociência permearam a
nossa subjetividade. As fisionomias dos nossos rostos, por exemplo, podem ser
lidas e catalogadas por via de técnicas biométricas e utilizadas para diversos
fins. A nossa intimidade e hábitos são transcritos em templates e algoritmos por
interfaces da rede de computadores, que compulsoriamente comodifica e
vigiando nossas identidades digitais. O presente trabalho visa trazer à tona
trabalhos de artistas e coletivos que lidam com a questão da arte tecnocientífica
pelo viés do apoderamento político. Alguns pressupostos teóricos caros a este
viés são as ideias de tecnotopia x tecnofobia colocada pelo antropólogo Gustavo
Lins Ribeiro, os corpos ciborgues de Donna Haraway, a dualidade analógico x
digital analisada por Paula Sibília e Eugene Thacker e a problematização das
performatividades de gênero propostas pela teoria queer, que abarca autoras
como Beatriz Preciado e Judith Butler.
‘Zoeira “never ends”: criatividade e memória afetiva na produção de
eventos fakes’
Alessandra Maia (UERJ / FAPERJ) e Pollyana Escalante (UERJ)
Entendido, de modo geral, como um ato de zoeira, a febre de eventos fakes no
Facebook serviu para demonstrar certa nostalgia por parte dos criadores e dos
que confirmaram presença. A maioria dos eventos faz referência a produtos
culturais de entretenimento que foram sucesso nas décadas de 1980, 1990 e
2000, alguns exemplos são: Festival da boa vizinhança, Pagode na Cohab no
maior astral, Encontro dos Power Rangers vermelhos, Visita orientada à Ilha de
Lost. Acredita-se que o consumo/produção de eventos fakes pode ser crucial
para despertar a criatividade e a memória afetiva (FREIRE FILHO, 2013) dos
que interagem nesses eventos, que são como comunidades de gostos
(AMARAL, 2013). Nota-se, assim, elementos constituintes da cultura participativa
(JENKINS, 2008; SHIRKY, 2011). Desse modo, surgem questões como: quais
seriam as motivações para criar tal evento (crítica a um fato social ou por
diversão) e se a pessoa que "confirma presença" em um evento fake
compreende o código, isto é, identificou a piada presente na sua construção? A
fim de investigar essas questões, criar-se-á um questionário qualitativo online
especificamente para os participantes desses eventos, por esta razão os
mesmos serão distribuídos em eventos, cerca de dez, com mais de 30 mil
participantes.
“Escutando a cidade: o espaço urbano experenciado pelos seus sons”
Claudia Holanda (COPPE/UFRJ)
Assim como a música, os sons do ambiente mediam significados e
transformações culturais, tecnológicas e econômicas de uma sociedade.
Revelando dinâmicas dos espaços, a paisagem acústica é reflexo do território. O
trabalho proposto, ainda em andamento no doutorado na Coppe/UFRJ, se
desdobra em dois resultados: a pesquisa sobre a percepção do som da cidade e
a elaboração de mapa sonoro. Por estar passando por amplas transformações
estruturais, a região portuária do Rio de Janeiro é o território onde a pesquisa e o
mapa serão desenvolvidos. Mapas sonoros são ferramentas onde convergem
tecnologias e conhecimentos nos campos do design, linguagem de
programação, geo-localização, gravação, produção e difusão sonora, com o
objetivo de documentar a cultura acústica de determinado espaço. São
instrumentos multimídia, que comportam conteúdos digitais sonoros, visuais e
textuais. A cultura ocidental, muito atrelada à visualidade, torna rotineiro o ato de
negligenciar a natureza invisível do som e de perceber sua atuação em nós.
Partiremos da ideia de que o som é uma forma de experenciar o mundo. Para
32
realização da proposta, partiremos do conceito pioneiro de paisagem sonora de
Murray Schafer e da ideia de territorialidade acústica de Brandon La Belle, entre
outros pesquisadores do campo de estudos ‘sound studies’ e sonologia.
“Circuit bending: o som do faça você mesmo”
Joceles Bicalho Felix (UFES) e Marcus Vinicius Marvila das Neves (UFES)
Circuit Bending é a modificação de circuitos eletrônicos visando a criação de
instrumentos musicais. Este artigo abordará como a experimentação e a escuta
se tornaram elementos fundantes no processo de modificação de circuitos (ou
brinquedos) e construção “ luthierismo” através da estética do DIY (do it
yourself). Tais ações se dão a partir da necessidade de se descobrir timbres e
sonoridades dos instrumentos construídos. Deste modo, passa a existir
novamente uma interação de maior intensidade entre o compositor/construtor,
seu instrumento e a sonoridade que ele produzirá. Porém, a finalidade dessa
interação agora é justamente o desinteresse por um possível limite e grau de
previsibilidade que o objeto construído possa lhe oferecer. Assim, também
refletiremos como, do processo de montagem até a execução do objeto
construído, as possibilidades sonoras que os instrumentos podem trazer para o
compositor são sempre mediadas pelo alto índice de imprevisibilidade e
aleatoriedade que é peculiar ao bending. Para tal usaremos autores como
Caesar (2006; 2010; 2013), Ghazala (2005), Fernandez e Iazzetta (2011),
Campesato (2006).
“Análise de contextos do Documentário Radiofônico 3000 anos de
Jerusalém”
Guilherme Lunhani (UFJF)
Entre cinema de ficção e cinema documentário, existe um largo corpo
bibliográfico que abre espaço para pensarmos o uso da imagem e do som para
além de suas premissas mais básicas; no entanto, pouco tem-se discutido se um
documentário sem imagens pode ser considerado um documentário. De fato
existem os documentário radiofônicos – gênero de programas ligados a
presentividade da oralidade– mas ainda compreendidos pela ótica do jornalismo
de reportagem. Através da análise de um audio-clip (ou melhor, sua Abertura) da
peça radiofônica 3000 anos de Jerusalém, verificaremos a possibilidade de uma
Música como Documentário (ou vice-versa), elaborada a partir de uma reflexão
que envolve não apenas Música e Rádio, mas também um ferramental
emprestado da linguística. Ao final discutiremos se alguma asserção de mundo
pode ser feita como nos documentários clássicos e se existem recursos retóricos
para se atingir esse objetivo.
“Relações intermídias: “corações de mãe, arpões, sereias e serpentes””
Leonardo Davino
Depois de Hélio Oiticica promover o desrecalque das cores da pintura, seja
através dos relevos espaciais, seja através do parangolé, dois desafios se
instalaram: primeiro, qual é o lugar da pintura ainda hoje? Segundo, e talvez
mais radical, o que é ser pintor? Daí desdobram-se outras questões: como pintar
um corpo depois que o próprio corpo tornou-se mídia da pintura? São a partir de
possíveis encaminhamentos de respostas a essas perguntas que penso aqui a
obra pictórica de Adriana Varejão, em especial, naquilo que ela nos oferece em
sua Série de Pratos. As figuras míticas das sereias, das mulheres aquáticas são
retomadas na promoção de uma historiografia crítica da presença imanente do
corpo da mulher. Desse modo, um prato de Adriana Varejão é tanto o alguidar
cabralino no trabalho de catar a figura justa e exata, quanto o alguidar de
33
umbanda, polissincrético no culto da recriação de extratos variados. As obras
figuram como a teatralização dessas mulheres cujas carnes arrancadas de seus
pontos historicamente localizáveis são oferecidas à parede da memória do
expectador tornado participante do banquete porque estranha a obra na obra.
Tudo isso para recompor via montagem um autorretrato mestiço da artista.
“O processo de criação artística instituído como diálogo entre linguagens”
André Araujo (Centro Universitário Una) e Wagner Moreira (CEFET-MG)
Este artigo relata a experiência de um projeto artístico, realizado durante um
intercâmbio na Alemanha, em que foram propostas experiências estéticas
relacionadas ao território e a paisagem, a partir de um diálogo entre poesia e
artes plásticas e de um pensamento sobre a intermidialidade, considerando-se aí
as traduções intersemióticas que nos permitem discutir aspectos também
dastecnologias. Para tanto, escolhemos como objeto de estudo a imagem do
amorna poesia de Sebastião Nunes, especificamente o livro Antologias
Mamalucas e a poesia de Charles Bukowski com o livro O amor é um cão dos
diabos.
“Eu e o Mar: do conto à videoarte”
Danilo França (CEFET-MG) e Siane Paula de Araújo (UFMG)
Este trabalho apresenta uma proposta de análise da videoarte Eu e o Mar de
Siane Araújo e Danilo França. Esta obra foi produzida através de um processo
criativo que envolveu a tradução intersemiótica do conto Eu e o Mar de Danilo
França para a videoarte homônima que apresenta o entrelaçamento de distintos
códigos artísticos, como a dança, a literatura, o cinema e a música. Interessando
para a análise em como os autores se apropriam destas distintas linguagens
para a produção do vídeo, opta-se pela semiótica de Peirce e pela Teoria
Corpomídia de Katz e Greiner como principais instrumentais teóricos de análise.
Nota-se que o “corpo”, enquanto mídia de si mesmo na-da obra, se torna um
espaço virtual de atravessamento em múltiplas relações entre as artes.
“O artista e a produção de imagens de si como performance no videoclipe”
Marcio Silva Peixoto (UFC)
A pesquisa que se segue surge em meio à problemática da auto-enunciação no
gênero audiovisual do videoclipe, em produções onde as fronteiras entre autor e
ator se diluem em processos de produção de imagens de si. Pretende-se
analisar as relações existentes entre os corpos físico e imagético do artista e o
dispositivo por meio do estabelecimento de analogias com a videoarte. A
videoarte é uma forma de produção artística bastante caracterizada pelo
narcisismo, onde o corpo era, usualmente, trabalhado como objeto da obra, e
onde, em seu contexto de surgimento, estas eram utilizadas como formas de se
experimentar, tencionar e conhecer as propriedades e a própria linguagem do
vídeo. Não sendo mais a linguagem do vídeo um universo completamente
obscuro para os realizadores, em que níveis operam a relação artista/dispositivo,
hoje, em um gênero como o videoclipe? Para responder as questões recorrentes
ao longo do trabalho, suscitarei dos escritos de Arlindo Machado e André
Parente sobre o gênero videoclíptico e sobre as experiências artísticas com a
linguagem do vídeo, assim como Renato Cohen, em suas discussões sobre a
Linguagem da Performance.
“Da videoarte ao youtube: a imagem videográfica como forma de ver a
cidade”
Lícia Maria Costa Fajardo Cerqueira (UFJF)
34
Esta comunicação oral aborda o surgimento da imagem videográfica como meio
de expressão em um cenário onde complexos aparelhos de gravação eram os
únicos capazes de representar a realidade tal como é, através de imagens. O
vídeo, associado a outras linguagens, permitiu ao artista, a partir da década de
sessenta, experimentar novas formas de documentar a realidade urbana. Com a
evolução destes equipamentos e sua incorporação em outros dispositivos, a
câmera tornou-se comum nas mãos de muitos, que passaram a utilizá-la como
meio de gravação de acontecimentos diversos. Ao mesmo tempo, o surgimento
e evolução da internet criaram um ambiente altamente receptivo ao novo
produtor de imagens e, com a emersão das plataformas de compartilhamento de
vídeo, locais onde estas poderiam ser arquivadas e recuperadas a qualquer
tempo; a construção de obras baseadas em fragmentos de outras tornou-se uma
nova prática.
“Luis Alvarez e o olhar videográfico na construção do cotidiano”
Pedro Henrique Cândido da Silva (UFC)
Esse trabalho busca refletir sobre o lugar do banal e do cotidiano na obra do
artista belga Luis Alvarez, mais especificamente no vídeo The couch, contido em
seu projeto In dreams, no qual o artista constrói uma espécie de narrativa
fragmentada de suas memórias pessoais. In dreams é um projeto
essencialmente fotográfico, mas que funciona como uma espécie de painel
risomático de imagens - fotografia e vídeo - no qual Luis parece inventar, através
de suas memórias mais intimas, uma existência pela imagem. Busco
compreender que implicações o uso de uma estética do banal e do comum
trazem para a obra, bem como sua potencia política. Investigo ainda a
construção de um comum através do vídeo, entendido aqui como uma forma que
pensa. Para tal, não me proponho uma análise minuciosa de cada imagem, mas
busco a potencia dos seus encontros e fissuras. Parto dos estudos de Jacques
Rancière sobre estética e política, Giorgio Agamben e sua ideia de
contemporâneo, além das reflexões de Philipe Dubois a respeito da estética
videográfica.
O processo de tradução de Habita-me se em ti transito para o formato
locativo
Guilherme Rezende Landim (UFJF)
A proposta desta comunicação é analisar e buscar compreender a concepção da
estética fílmica de Habita-me se em ti transito a partir de sua modificação da
linguagem audiovisual, no suporte de telas de cinema para o formato de um filme
locativo, para ser visto por meio de gadgets nos locais onde foi gravado. O filme
em formato digital com aproximadamente 22 minutos tem a temática voltada à
população em situação de rua em Juiz de Fora – MG. O documentário faz parte
da pesquisa de dissertação “A linguagem audiovisual no GPS filme: a
experiência estética de Habita-me se em ti transito” e encontra-se na etapa de
desenvolvimento do material locativo, o qual será disponibilizado por meio de
Códigos QR2 nos locais onde foi gravado. Desta forma o usuário que quiser vêlo poderá acessar o link escaneando o código que direciona ao vídeo no
youtube. Partindo da ideia de que “uma tradução intersemiótica é,
primordialmente, uma operação semiótica, i.e., é uma operação com signos” (ver
Hodgson, 2007; Gorlée, 2005, 1994: 10; Petrilli, 2003; Stecconi, 1999; Plaza,
1987) os signos analisados serão tanto visuais quanto sonoros. A análise se
dará com base em questões relacionadas aos recursos da fotografia fílmica, do
ritmo da montagem e do som, perpassando pontos da decupagem fílmica.
35
“E se a gente nunca se entregar?”
Letícia de Oliveira Rodrigues (UNICAMP)
A presente pesquisa aborda como os sonhos, complexos personificados,
agregam no processo criativo em dança. Neste contexto, é notável a potência
cênica que os sonhos podem nos oferecer. Se os decuparmos, detalharemos
bases para toda a construção cênica como figurinos, cenários, música, dança e
características psicológicas das personagens. Dos processos que tive no
decorrer da pesquisa de mestrado, alguns caminhos que trilhei foram-me úteis
para a criação. Percebi que, ao fazer o figurino, ou pintar, ou desenhar esses
sonhos, ou os arquétipos, ou seus elementos, mais contato e comunicação tinha
com eles. Para o processo criativo da pesquisa me foquei em repetidos três
sonhos que tive em diferentes épocas. Dos sonhos dei o nome a três arquétipos
que, para mim, representavam: Oxum, a Velha e Xangô. A opção pela criação
em vídeo-dança teve como alicerce a plenitude das imagens oníricas e o fazer
artístico com veracidade e sinceridade – em referência a Tarkovsky. O vídeodança trançará essas três imagens arquetípicas sonhadas e os sonhos e
devaneios consequentes deste cavoucar catártico.
“O diálogo entre a dança contemporânea e a poluição urbana na
linguagem cinematográfica”
Sheyna Teixeira Queiroz (UFRJ)
O trabalho consiste no estudo das relações entre a dança e o meio urbano,
especificamente, a poluição urbana (sonora, ambiental e visual), tendo como
base os Fundamentos da Dança de Helenita Sá Earp (nos parâmetros
Movimento, Espaço e Forma, Dinâmica e Tempo) aplicados a concepção
estética da linguagem cinematográfica e aos movimentos da dança para o vídeo;
e seus princípios filosóficos na construção dos sentidos e sentimentos gerados e
geradores do processo. Seguindo esses princípios pesquisamos as
possibilidades do corpo no espaço urbano, as relações com meio construído
(formas, cores, materiais/texturas) e a dinâmica entre gestos e os sons da
cidade; as relações de tempo através do transito, da pressa, da
incomunicabilidade, do lugar e da importância da imagem para comunicação nos
grandes centros industriais. Da simplicidade para complexidade na construção
do roteiro a-linear e nos movimentos da dança abstrata e expressiva, ou seja,
que não pretende descrever sentidos concretos para o entendimento literal da
imagem, mas imagens, sentidos e sensações próprias do inconsciente,
relacionados e interpretados conforme experiências de cada espectador. No
sentido de contemporaneidade, a dança é construída através de laboratórios
temáticos e roteiros e improvisações, deixando abertas as possibilidades de
movimentos de acordo com as relações do presente.
“Carta aos baianos: mídia, urbanidades e retratos de uma cidade
imaginada”
Rafael Luiz Zen e Célia Maria Antonacci Ramos
Partindo do documento Carta aos Baianos, notícia nacional em 2013 na qual
moradores da cidade de Brusque/SC ameaçam migrantes vindos do nordeste do
país, o estudo teve como objetivo analisar em Benedict Anderson o conceito de
comunidade imaginada como ponto de partida para a abordagem do sentimento
de pertencimento, bem como contrastar os achados com o conteúdo do fanzine
"Eu, You, Eles" de autoria do proponente deste estudo, produzido na disciplina
“O Urbano e suas Intersemioses” , do curso de mestrado em Artes Visuais da
UDESC, durante o segundo semestre de 2013. Os resultados levaram à
abordagem da ambiência como proposta possível às cidades contemporâneas
36
em um ambiente que não negue o conflito, mas que tenha como ponto de
planejamento a construção de espaços de convivência pensados a partir da
construção de atmosferas urbanas – levando em consideração a conexão entre
mídias visuais e textuais no contexto da formação psicológica e filosófica da
cidade. A partir de uma prática intermídias (onde aplicou-se as abordagens
empíricas e científicas entre a produção poética e as narrativas urbanas),
encontrou-se na visualidade urbana um campo possível de pertencimento e
despertencimento.
“Diálogo entre cinema e literatura: roteiro cinematográfico é literatura?”
Francisco Malta (UERJ)
Este trabalho tem como finalidade discutir o valor de um roteiro cinematográfico
como texto literário. Partindo do processo de criação em si, sendo o mesmo o
elemento que transforma a palavra em imagem. Questões como a estruturação
da sua narrativa e as diferenças que permeiam o processo de construção da
história para o cinema e a literatura entrarão em pauta. Como corpus será
utilizado: O invasor, roteiro escrito por Marçal Aquino, pensado originalmente
para o cinema e posteriormente transformado em romance. O objetivo é mesclar
teoria e prática na criação de roteiro para o universo cinematográfico,
constituindo assim o elo que liga o não verbal ao audiovisual, o leitor ao
telespectador.
“Quincas Borba: narrativa literária e narrativa fílmico”
Maria Cristina G. B. de Lima (UFJF) e Glivan P. Ribeiro (UFJF)
A narrativa apresenta como característica central a criação de ilusões e
habilidades que conduzem as impressões contrárias. Possibilita a sociedade a
ver-se e, assim reelaborar-se, oferecendo meios próprios na criação de
personagens mascarados e com a destreza de artifícios críticos. Insinua o
irônico pessimismo nas farsas, de um dizer não dizendo, mas fala nas
entrelinhas, prevendo o jogo entre a verdade e a mentira existentes entre os
homens. Já o filme, realizado por Roberto Santos, atravessa um percurso
bastante original na adaptação do romance. Há um clima de depressão e
frustração que atravessa toda a sequência de cenas. Machado critica o
comportamento humano afirmando que a razão humana é um instrumento débil
e corrompido sendo capaz de penetrar apenas nas aparências e criar erros. O
homem passa a ser visto como um ser devorador e, neste ser fraco vivem ainda
restos de uma grandeza que nos imobiliza de respeito. A linguagem dos
personagens expressa às visões de mundo no contexto sócio-histórico. O
romance retrata a crise de identidade cultural, avalia o processo de
fragmentação do homem moderno expressado através de sentimentos do sujeito
que precisa e busca se adaptar a nova realidade.
“Notas sobre leitura de cinema”
Fernando Arantes Ferrão (UERJ)
A presente pesquisa (em andamento) baseia-se no "diário de campo" da Oficina
Leitura e Cinema, atividade que vem sendo desenvolvida no âmbito do LerUerj
(projeto extensionista de estímulo à leitura –ILE/UERJ) por solicitação de um
grupo de alunos da UNATI (Universidade da Terceira Idade/UERJ). Seu objetivo
é elaborar um modelo didático capaz de habilitar indivíduos para os exercícios
da leitura e da interpretação de audiovisuais, por meio de exercícios de
percepção e de atenção para elementos imagéticos em projeções de filmes,
além de leituras de textos de referência e de debates nos quais os participantes
experimentam recontar, resenhar, criticar, etc. Vanoye e Goliot-Lété,Deleuze e
37
Paulo Freire constituem-se nos autores estudados, tanto para as atividades da
oficina, como para o desenvolvimento da pesquisa. Entretanto é
fundamentalmente à luz da teoria dialógica bakhtiniana que se busca investigar a
“compreensão responsiva ativa” nas dinâmicas com esse grupo. Bakhtin auxilia
ainda nas análises das construções composionais, dos estilo e dos temas de
cada película escolhida. A experiência do reconhecimento de referentes e de
intertextualidades nos textos fílmicos, ativa (ou reativa, recoloca) cada
participante frente a estes objetos coloridos e barulhentos, diante dos quais
normalmente nos deixamos encantar e nos silenciamos.
“A Culpa é das estrelas?”
Patrícia de Paula Aniceto (UFJF)
Considerando que a Literatura entrelaça um diálogo com as variadas mídias,
este artigo tem como objetivo analisar a relação e a interação entre as seguintes
mídias: Literatura, Cinema e Internet com enfoque na obra A culpa é das
estrelas, de John Green. Partindo dessa análise, pretende-se apresentar o
processo da criação, da reconstrução e da recepção da referida obra. Estas são
as principais proposições que, aqui, discutiremos.
“As relações entre pintura, fotografia e cinema na obra de David Lynch”
Alan Eduardo dos Santos Góes (UFC)
Este trabalho pretende investigar quais são as relações existentes entre as
diversas formas artísticas exploradas pelo cineasta norte-americano David
Lynch. O diretor, além do cinema, também opera em diferentes plataformas,
como a pintura, a fotografia, o desenho e a música. Quais construções se
mantêm e se transformam nessas linguagens? Quais contribuições o artista traz
para a desterritorialização de tais formatos? E de que modo podemos
caracterizar a arte contemporânea, como um estilo, a partir das discussões
presentes nos trabalhos do artista em relação a outros cineastas
contemporâneos? Essas são as indagações nas quais iremos nos debruçar ao
longo da pesquisa para que possamos compreender tanto a obra de David
Lynch quanto os principais conceitos referentes à arte contemporânea. Para
isso, lançaremos mão de discussões recorrentes na obra de Lynch, como os
conceitos de cinema independente e surrealismo no cinema. As questões
estéticas propostas por Ferraraz sobre o diretor nos ajudarão a entender o
universo do artista. Também recorreremos às discussões sobre o conceito de
contemporâneo para que as implicações acerca da arte contemporânea tornemse mais claras. O desafio será relacionar Lynch e tais noções como conjuntos
que se entrecruzam, explorando novas possibilidades de criação, fruição e
existências no mundo.
“Sujeito e mídia na autoficção literária e fílmica”
Julia Scamparini (UFF)
A análise que proponho apresentar insere-se na perspectiva dos estudos em
intermedialidade e é parte de uma investigação mais ampla sobre autoficções
literárias e fílmicas. No romance Divórcio (2013) e no documentário Histórias que
contamos (2012) constatam-se diversas dimensões de como vimos lidando com
as novas (e velhas) tecnologias e as formas como os sujeitos vem se
posicionando discursivamente com relação às e nas mídias literatura e cinema,
refletindo sobre (e usando) a dupla palavra - imagem. O sujeito que hoje “entra”
na tela e no papel leva à investigação de como atualmente se pensa a escrita
(registro, memória) pela palavra e pela imagem; como a mescla entre ficção e
realidade se relaciona com o discurso da intimidade, próprio de obras
38
autoficcionais; e como as novas possibilidades abertas para a atuação, troca, e
invenção dos indivíduos deslocam a própria identidade do gênero (romance /
documentário), bem como noções clássicas de recepção e análise a ele
relacionados, abrindo espaço para o exercício da subjetividade.
Sessão de Pôster II / Poster Session II
“O roteiro e a partitura: Aproximações e deslocamentos no Cinema
Shadow de Laura Lima”
Débora Salles (UFRJ)
Esse artigo pretende analisar o trabalho Cinema Shadow/Segundo desenvolvido
por Laura Lima em 2012 no Rio de Janeiro: um projeto de 100 horas de
filmagens sem pré-gravação, edição ou pós-produção. As ações e imagens
desse filme foram definidas previamente por um roteiro “aberto” ou processual,
que lidava com o acaso e o imprevisto, pactuando com uma imprevisibilidade
das situações propostas. O texto, denominado de partitura pela artista, explorava
uma certa liberdade poética e instaurou algo semelhante a um híbrido de vídeo e
performance delegada. Nesse contexto, discutiremos as semelhanças e as
diferenças entre o roteiro cinematográfico clássico – e suas possibilidades
criativas – e a partitura desenvolvida para a obra em questão. O objetivo aqui é
discutir as potencialidades da escrita técnica, da prosa e da poesia para a
instrução do movimento e indagar como elas se apresentam nesse filme.
Partindo dos conceitos de partitura – e as possíveis aproximações do trabalho da
artista com a música – e do roteiro de cinema, a ideia aqui é indagar de que
maneira a partitura dessa obra se apresenta ou não como um script para o filme.
O cinema fantástico e a neurociência: aproximações sobre recepção e
consciência
Pedro Carcereri (UFJF)
Através de um estudo ainda em fase bastante inicial, pretende-se relacionar
pesquisas sobre consciência com a recepção de um tipo de cinema específico: o
cinema fantástico. Nos utilizaremos de conceitos como “membros fantasmas” de
V.S. Ramanchandran; estudos de consciência humana e animal de Gerald
Edelman; e do conceito de “fantasmas no cérebro” de Mark Pizzato. Associando
esses conceitos e nos utilizando como estudo de caso do cinema fantástico,
tentaremos traçar um ensaio sobre como esse tipo de cinema afeta de forma
característica a consciência de quem o assiste. Podemos então dessa maneira,
traçar um pequeno esboço de como esse gênero se desenvolve melhor ou pior
em certos públicos e como que determinadas plateias reagem ou não aos
estímulos desencadeados.
Entre sons e imagens: grãos da memória em Paranoid Park, de Gus Van
Sant
Gabriela Santos Alves (UFES) e Marcus Vinícius Marvila das Neves (UFES)
Quer-se, neste trabalho, discutir o filme Paranoid Park (2007), do cineasta
americano Gus van Sant, a partir da relação entre som e imagem, que por sua
vez potencializa o acesso à memória do personagem principal do filme, Alex.
Nessa linha, os overlappings temporais impostos à narrativa desvelam aos
poucos as lembranças de um crime que não se materializa pelo grão da voz mas
sim pela materialidade escolhida para a construção imagética e sonora dessa
memória, na qual o grão, flutuando entre o ótico e o óptico, nos presentifica
frente ao jovem personagem. Assim, através de Bergson (1999) e sua teoria da
memória, Walter Benjamin (1996) com sua ideia de narrativa e trauma, Caesar
39
(2013) e Chion (1994; 2011) como interlocutores na relação som e imagem,
investigaremos como a granulosidade se impõe como recurso para o ato de
lembrar e esquecer.
“A escrita imagética e cinematográfica de Lúcio Cardoso”
Cinthia Lopes de Oliveira (UFJF)
Lúcio Cardoso, escritor mineiro nascido em 1912, produziu vasta obra, incluindose além dos romances e contos literários, crônicas para jornal, diários e escritos
de confissão, roteiros para cinema e teatro, além de ter se dedicado às artes
plásticas nos últimos anos de sua vida. Investigar e refletir sobre as formas e
técnicas de produção deste escritor tão eclético permitir desvendar o
entrelaçamento entre esses diversos meios de produção. Além de ampliar a
significação de sua obra e possibilitar o estudo das influências de sua linguagem,
por vezes cinematográfica, refletindo uma obra simbólica e rica em referências.
“A combinação de mídias e a referência intermidiática em Diários de
motocicleta”
Sancler Ebert (UFSCar)
O objetivo deste trabalho é refletir sobre o uso de referências fotográficas e a
incorporação de fotografias no filme Diários de motocicleta (Walter Salles, 2004).
A obra que conta a juventude de Ernesto Che Guevara quando o mesmo
atravessou a América Latina com o amigo Alberto Granado, possui três
diferentes fenômenos intermidiáticos (RAJEWSKY). Por ser baseado nos diários
de viagem de Che e Granado, o filme opera uma transposição midiática. Mas o
que nos interessa aqui é a combinação de mídias realizada por Salles quando o
mesmo incorpora fotografias impressas de Che e Granado (fotografadas durante
a viagem retratada na obra) nos créditos finais do longa metragem. Buscamos
refletir se ao usar essas fotografias, o diretor acaba por modificar o material
fílmico. Também procuramos entender como a utilização de cenas em preto e
branco (o restante do filme é em cores), que referenciam o trabalho de Walker
Evans, grande fotógrafo da Depressão americana, nos anos 30, transforma o
material fílmico. Salles opera uma referência intermidiática ao retratar
personagens reais olhando diretamente para a câmera, em seus ambientes de
trabalho e convívio e fotografados em preto e branco, como Evans fazia em seus
retratos.
“As matrizes literárias da teleficção”
Higor Everson Araujo Pifano (UERJ)
O romance-folhetim, gênero que invadiu os rodapés dos jornais no século XIX e
constituiu as bases de grandes clássicos da literatura mundial, traz consigo
marcas da tragédia grega e do melodrama, que fizeram esse gênero ultrapassar
os limites temporais da história da literatura e hoje se integra aos recursos
midiáticos e à performance teatral para dar origem a tramas que se desenrolam
diariamente na tela da televisão de milhares de telespectadores durante meses,
em especial na América Latina, perpetuando a literatura de entretenimento
através no formato de telenovelas, principal representante da teleficção, que
possui uma linguagem narrativa que mantém as matrizes folhetinescas e se
impõe como uma nova modalidade textual dentro do universo do entretenimento
e da literatura industrial, o folhetim eletrônico.
“Múltiplas Telas - Jogos Massivos como meio de expansão de Seriados
Televisivos”
André Emilio Sanches (UFSCar)
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A franquia midiática Jornada nas Estrelas (Star Trek) teve sua última série
televisiva finda em 2005. Entretanto, algo que poderia ser enxergado como o fim
de um universo ficcional audiovisual, muito embora ainda vivo em outros
suportes como o literário, acabou tornando-se o estopim para a migração deste
universo para um outro suporte, uma outra mídia. Aproveitando-se da existência
de um grupo grande de fãs engajados, foi lançado em 2010 um MMOG (Mass
Multiplayer Online Game, ou Jogo Multijogador Online Massivo) que não apenas
é ambientado no universo da franquia, como também o expande, adicionando
acontecimentos e personagens à cronologia canônica já estabelecida. Propõe-se
então uma análise dessa nova possibilidade narrativa, suas vantagens e
desvantagens, bem como os desvios em relação ao universo padrão, haja vista
que uma das mecânicas do jogo permite a criação de histórias, sob o formato de
missões, pelos próprios jogadores para que outros as vivenciem.
“Entre as imagens e as palavras: a religiosidade em Clarice Lispector”
Paula Campos de Castro (UFJF) e Elizabeth Hallack Cobucci Perobelli
(Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora)
O presente trabalho busca analisar a intertextualidade no texto literário A hora
da estrela de Clarice Lispector e sua transposição fílmica. Narrado por Rodrigo
S. M., que dialoga com o leitor sobre seu estilo de narrativa, apresenta como
personagem-protagonista a alagoana Macabéa que, após a morte de seus pais,
aos dois anos de idade, fora criada por uma tia beata que muito lhe batia. O filme
com toda certeza, consegue captar a personalidade de Macabéa, seu espaço
social e seu espaço psicológico, principalmente. Para uma análise mais
profunda, é necessária a contextualização do enredo em seu tempo histórico,
década de 1970, pois seus personagens de certa forma representam a
sociedade brasileira de então: capitalista, burguesa, hipócrita e discriminadora,
que exclui a mulher como ser pensante, decisivo e transformador. Nessa obra,
ao contrário de suas obras anteriores, apesar de não se afastar da ficção
introspectiva, Lispector incursiona pela temática social e religiosa e apresenta
traços de uma autobiografia. Nada é gratuito, nem mesmo os nomes dos
personagens. No texto, a autora revela, disfarçadamente, a origem judia e o
quanto a religião era forte e presente nela.
“Entre telas e letras: amor e sexo n’A Cidade de Ulisses, de Teolinda
Gersão”
João Felipe Barbosa Borges (IFF / UFJF) e Mayelli Costa Ferreira (IFF)
Neste estudo, são discutidas as relações entre afetividade e ciência, e também
entre Literatura, Artes Plásticas e História, no campo do romance português
contemporâneo, focalizando a obra A cidade de Ulisses (2011), de Teolinda
Gersão. Pretendemos, assim, investigar como a subjetividade e os afetos
influem no processo de construção do conhecimento, pela análise da narrativa
da personagem principal. Esta, um artista plástico de renome internacional, na
tentativa de apresentar em uma exposição a cidade de Lisboa ao mundo,
reconta, paralelamente à história da cidade, sua própria história, a partir de seus
impulsos afetivos, rompendo com a ideia imperiosa e dominante da razão nos
âmbitos da Arte e da Ciência. Logo, analisaremos não só as questões de afetos
e efeitos entre os corpos físicos das personagens, mas também a afetividade
que liga um homem à sua escrita; e ainda a afetividade entre os corpos
discursivos que estabelecem o que chamamos de sexo estrutural, ou seja, a
hibridização de gêneros, autores e mídias diversas na malha ficcional: literatura,
pintura e escultura são apenas as mais recorrentes. Em suma, o romance abre
41
novos horizontes para a produção do saber, abordando a emotividade como
coparticipante do processo de construção do conhecimento.
“Intersemiotic Translation of the Fantastic Chinese Bestiary of El libro de
los Seres Imaginarios by Jorge Luis Borges”
Mariana Salimena (UFJF) e João Queiroz (UFJF)
The phenomenon of intersemiotic translation or recreation literature (source sign)
> graphic illustration (target sign) are well known and exhaustively analyzed.
Jakobson defines the phenomenon as "transmutation or interpretation of verbal
signs by means of signs of non verbal sign systems" (Jakobson 1969). This
paper presents and describes the intersemiotic translation of El libro de los Seres
Imaginarios, by Jorge Luis Borges, more specifically of the bestiary chapter
Chinese Fauna. Written in collaboration with Margarita Guerrero, the book was
initially published in 1957 under the title of Manual de Zoología Fantástica, and
afterwards it was expanded and republished under the title of El Libro de los
Seres Imaginarios. In this paper, we identify the formal aspects of the literary
source-sign considered more relevant. After, we submit these sctructures to
graphic recreations guided by the construction of fantastic characters in the
aesthetic domain of pixel art and 8 bit video games.
“Persépolis: duas mídias para uma mesma história”
Danielle Fullan (UFMG) e Márcia Arbex Enrico (UFMG)
Pretende-se apresentar as pesquisas iniciais do trabalho de conclusão do curso
de Letras (Bacharelado em Francês) na Universidade Federal de Minas Gerais.
Buscamos compreender à luz da teoria da intermidialidade (RAJEWSKY, 2005)
os aspectos intermidiáticos da bande dessinée Persépolis, de Marjane Satrapi.
Discutiremos também as relações entre a transposição da BD para o cinema,
analisando suas especificidades e as consequências do encontro entre essas
duas mídias. No caso do nosso objeto de estudo, Persépolis, ao mesmo tempo
em que modifica o suporte material, e lida com as diferenças entre uma mídia e
outra, evoca no filme aspectos característicos da bande dessinée. Essa relação
merece ser estudada, pois não que diz respeito apenas ao cinema e a BD, mas
se configura como um traço das produções contemporâneas.
“(Escre)Ver é uma fábula: as histórias vendadas de Cao Guimarães”
Diego Rezende (UFJF)
Abordagem do processo criativo do cineasta e artista plástico Cao Guimarães a
partir do livro Histórias do não ver (2013) elucidada pelos conceitos de
suspensão (Jonathan Crary) e de indiferenciação (MD Magno). O uso que Crary
faz do termo suspensão, atrelado à percepção, é um modo de aludir a um sujeito
que vai além da modalidade do sentido único da visão, incluindo também formas
sensoriais irredutivelmente heterogêneas (como audição e tato). Magno
descreve a indiferenciação como uma disponibilidade de considerar todas as
diferenças encontradas no Haver (Nova Psicanálise) – contrapondo-se de modo
radical ao Ser construído pela filosofia clássica. No livro, Cao Guimarães, por
meio da fotografia e da escrita, conta que pediu a alguns amigos que o
“sequestrassem” e, de vendas nos olhos, o levassem a lugares desconhecidos
(em Belo Horizonte, São Paulo, Madri, Londres e Barcelona) com o objetivo de,
segundo ele, ver o mundo de outras formas, para além do embotamento da
visão diante dos outros sentidos. Assim, pretende-se pensar a relação, a
transação, entre os processos – escrita e fotografia – sob a perspectiva da
suspensão e da indiferenciação na experiência vivida pelo artista.
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“Tradução Intersemiótica de ‘O Poeta Comedor de Leões no Covil de
Pedra’-- 施氏食獅史”
Guilherme de Oliveira Silva (UFJF), Chia Yu Lu (UFJF), Mariana Salimena
(UFJF), João Queiroz (UFJF)
Neste trabalho, traduzimos intersemioticamente o poema ‘O Poeta Comedor de
Leões no Covil de Pedra’ (施氏食獅史, em chinês tradicional). A tradução do
poema partiu de um exame direto do texto, em 2 versões chinesas, e
comparação com duas traduções (inglês e francês), ambas de caráter cognitivodiscursivo. O resultado, uma série de imagens baseadas em um pequeno acervo
de componentes gráfico-cromáticos, se deteve na sucessão temporal dos
eventos. A sequência de cortes abruptos, e estrutura rítmica variável, tentam
compensar a perda mais significativa do signo-fonte linguístico traduzido que é a
ambiguidade baseada nas variações tonais da mesma unidade fonêmica.
“Autobiografia e teatro em Mauro Rasi”
Leonardo Ramos de Toledo (UFJF)
Este trabalho propõe uma discussão sobre as possibilidades das “escritas de si”
no teatro, a partir da análise da trilogia autobiográfica do dramaturgo paulista
Mauro Rasi, composta pelas peças A cerimônia do Adeus, A estrela do lar e
Viagem a Forli. Criado com o objetivo da encenação, o texto teatral também
pode ser publicado e lido, fato que problematiza questões relativas à recepção
dessas obras. Nesse contexto, o presente estudo tenta distinguir convergências
e peculiaridades das duas modalidades, sobretudo na interação do texto com o
leitor/espectador. Diante desse panorama, pretende-se debater o conceito de
“autobiografia” aplicado ao teatro, sob a perspectiva teórica de Philippe Lejeune.
A partir da noção de “pacto autobiográfico”, desenvolvida pelo crítico francês,
tornaria-se possível a abordagem de questões complexas, como a relação entre
autor e obra, sua transposição para a cena e a experiência do expectador.
“Os corpos em Nuno Ramos e Claire Denis - da Experiência Interior ao
Resto”
Diego Ferreira (UERJ)
O estudo pretende analisar as relações eróticas estabelecidas entre
personagens e excrementos no ensaio literário Ó, de Nuno Ramos, e no filme
Nenette e Boni, de Claire Denis. As figuras de linguagem do corpo "abandonado"
- o suor, o sangue, o sêmem - serão estudadas sob a perspectiva da noção de
Resto da psicanálise: sintomas de que o discurso [o corpo] não se completa. O
tema será norteado, portanto, pela ação dos personagens que se realizam na
incompletude, na eterna busca de si próprios: existimos, afinal, para além dos
limites do corpo, da pele? Como fio condutor na análise das obras supracitadas
serão utilizados os conceitos de Erotismo e Experiência Interior, de Georges
Bataille. A pesquisa evoca questionamentos presentes na filosofia
contemporânea: o descentramento do sujeito e a dissolução do eu.
“O potencial comunicativo do rosto: uma relação entre obra artística e
política em Rancière”
Agatha de Souza Azevedo (UFMG) & Ângela Cristina Salgueiro Marques
(UFMG)
O objetivo deste artigo é explorar, à luz das reflexões de Jacques Rancière
acerca da política das imagens, o potencial de subjetivação e de dissenso
presente em retratos fotográficos de jovens de periferias parisienses, produzidos
pelo artista francês JR. Acreditamos que esse potencial pode ser examinado a
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partir de uma análise que considere o rosto do sujeito marginalizado como modo
de “aparecer” de um sujeito em espaços públicos marcados pela ordem
consensual e pela exclusão. Os rostos que emergem na superfície das
fotografias de JR tornam possível distinguir pequenos gestos, inflexões, caretas
e peculiaridades que questionam, interrogam, interpelam e convocam os
espectadores para além de uma legibilidade domesticada e que direcione o olhar
para sentidos previamente estabelecidos, ou seja, para além da indignação, da
pena, da culpabilização dos pobres e de sua condenação. Por meio da análise
de imagens produzidas por JR para o projeto "Portrait of a generation" (2004),
pretendemos explicitar algumas dimensões políticas derivadas do modo como
jovens que, a princípio “não teriam rosto” são construídos como sujeitos a partir
da produção de imagens que dificultam o legendamento e criam hiatos e
dissonâncias entre seu “aparecer” e o registro consensual de sua exposição
diante dos habitantes de Paris.
“Escritor-jornalista: o personagem conceitual como categoria de análise
da obra de Graciliano Ramos”
Hideide Brito Torres (UFJF)
O artigo pretendeu discutir a maneira como Graciliano Ramos enxerga o ofício
de jornalista a partir da construção de seus personagens em Angústia. Para
contrapor nossa percepção, escolhemos a crônica O romance de Jorge Amado
na qual elabora não só uma crítica do livro, mas também da condição da
literatura nos anos de 1930. Utilizamos o conceito de personagem conceitual, de
Gattari e Deleuze, para refletir acerca de como os personagens de Angústia
permitem adentrar à reflexão de Graciliano Ramos acerca do jornalista em seu
contexto histórico. Trabalhamos a perspectiva da interdisciplinaridade a partir da
ideia de zonas de confraternização, de Alfredo Pucheu, e de afetos, em Deleuze.
Colocamos assim, em diálogo, ao menos três campos de saber: a literatura e o
jornalismo, em presença da filosofia.
“Intersecções entre jornalismo e arte na cobertura da morte de Eduardo
Campos”
Regis Falcão (UESPI) e Tamires Ferreira Coêlho (UFMG)
Este trabalho analisa imagens veiculadas na galeria de fotos do portal do Diário
de Pernambuco (DP) acerca da morte e do velório de Eduardo Campos,
candidato à presidência da República e ex-governador de Pernambuco. Partimos
do conceito de “poeta-fotógrafo” (ROCHE, 1982) na tentativa de compreender o
fotojornalista a partir de um lugar de fala complexo que envolve os campos
comunicacional e artístico. O dispositivo fotográfico, que torna tempos visíveis
(BENJAMIN, 1989; DIDI-HUBERMAN, 1992), é fruto da sensibilidade do sujeito
“foto-expectante”, mas também “do gesto e do imaginário” que o constituem
(LISSOVSKY, 2012, p. 24). Mais do que registros jornalísticos velozes para uma
cobertura online, as fotografias do DP materializam o imaginário de um estado
enlutado: em lugar de focar na dor da família do político, muitas fotos registram a
dor de anônimos amontoados no local do velório, segurando flores, bandeiras e
fotos de Campos. As imagens parecem captar momentos espontâneos (não
posados), provocando sensações, despertando emoções, indo muito além da
representação barthesiana. Assim, a interpretação artística que sintetizou o
acontecimento ganhou também aspectos apelativos e performativos, chamando
atenção e legitimando o meio de comunicação em sua cobertura, aumentando os
acessos do portal.
“Intermidialidade: arte como instrumento do discurso mercadológico”
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Anelise de Freitas (UFJF)
A publicidade, em vários contextos, apropria-se da obra de arte para expor e
gerar desejo sobre seus produtos. Dessa forma retira da arte, no caso a
literatura, de sua zona de conforto canônica. O trabalho observará algumas
questões, como a banalização ou democratização da literatura dentro desse
contexto discursivo; a linguagem da propaganda e necessário também será
articular sobre a arte de consumo, que notoriamente é amparada pela indústria
cultural e pelo capitalismo, que transformou a arte em algo frívolo, em
mercadoria, acabando também por transformá-la em objeto de consumo. A
intermidialidade será analisada através de estudos de caso, em que peças
publicitárias e produtos de marketing utilizam-se da literatura.
“O retrato da marca: um estilo artístico adaptado à linguagem dos
artefatos
industrializados”
Débora Veríssimo Costa
Propomos uma reflexão sobre o uso da plasticidade do Retrato, desde a
antiguidade até o século XXI, nos situando no circuito da produção em massa e
seriada, voltada para os bens de consumo no século atual. Nesta investigação,
assumiremos a comunicação como um meio propício à produção de
conteúdos/formas, também interpretados como os “media”, segundo a
perspectiva de Nicklas Luhman (2005). Em diálogo, encontraremos nas
discussões de Giorgio Agamben (2009) o conceito de “dispositivo” como um
outro viés profícuo às reflexões que propomos, nos voltando para aquilo que o
autor define como um “conjunto heterogêneo linguístico e não linguístico”. Serão
selecionadas determinadas marcas de produtos que se utilizam da composição
do retrato, como uma chancela em suas embalagens, na tentativa de nos
aproximarmos daquilo que Rafael Cardoso (2012) descreve como um “repertório
discursivo”, ou seja, um conjunto de enunciados que se encadeiam ao longo da
história. Por último, arriscaremos identificar um estilo artístico como perpetuação
de uma fórmula do Retrato, no universo das marcas.
“Dança e intermidialidade na educação básica”
Edna Christine Silva (PUC-SP)
Este artigo pretende apontar e analisar a existência de experiências em dança e
intermidialidade entre os trabalhos de professores de dança da rede municipal
de ensino de Juiz de Fora. A disciplina dança está presente há dezoito anos
nessa rede, sendo oferecida como disciplina da parte diversificada como aponta
a Lei de Diretrizes e Bases - LDB. A dança na escola é uma disciplina recente
que vem ampliando seu espaço nas escolas brasileiras após a publicação da
LDB em 1996 e dos PCNs, em 1997. A rede municipal de ensino de Juiz de Fora
desenvolve várias ações de formação continuada para os professores que atuam
em suas escolas e instiga como proposta de trabalho a interlocução entre as
diversas disciplinas do universo escolar, artísticas ou não. A proposta é que a
dança atue interdisciplinarmente alargando o processo de ensino aprendizagem
na comunidade escolar. Para a análise dos trabalhos, será questionado qual o
conhecimento que possuem sobre intermidialidade; por que fizeram essa
escolha para as construções coreográficas e como acontece esse diálogo na
escola com as outras disciplinas e professores participantes.
“Pensando autoria nos processos de criação colaborativos nas redes
digitais”
Iara Cerqueira Linhares de Albuquerque (PUC-SP)
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Esse artigo tem como objeto de estudo pensar sobre a autoria nos processos de
criação colaborativos nas redes digitais, reavaliando a pertinência da palavra
“autoria” na realidade virtual. O objeto aqui tomado para investigar a
transmediação na qual tal problema se expressa trata-se do espetáculo
CORPOLHARES, montagem feita pelo Grupo HIS Contemporâneo de Dança em
Salvador/Bahia. O espetáculo ao apontar para essas discussões de corpo e
autoria em caminha com o pensamento Agambeniano de não se deixar cegar
pelas luzes e conseguir entrever nestas a sua ínfima obscuridade. O objetivo
proposto é o diálogo entre arte e ciência, ampliando o entendimento em relação
às discussões de corpo e paradoxo produzido pela promessa de democratização
que as redes trouxeram reconfigurando o próprio conceito de democracia e de
compartilhamento. Na continuação, CORPOLHARES reflete de forma prática
em relação à massificação dos corpos, a imagem e a superexposição de corpos
femininos e masculinos. A reflexão se apoiará biopoliticamente sobretudo na
Teoria Corpomídia (KATZ&GREINER) para investigar o papel do corpo em uma
possível transformação de consumidores em colaboradores e na proposta de
subjetividade de Nikolas Rose (2011).A Teoria Corpomídia facilita pensar e
refletir corpo e gênero além do biológico, em trocas permanentes e continuas,
em contaminação pelos ambientes por onde circula.
“Fricções ‘entre’: Corpo, tecnologias e a arte da videoperformance”
Camila Mozzini (UERJ)
Desde o manifesto futurista de 1909, as portas do sensível se tornaram
permeáveis à prática da performance como possibilidade de criação artística
(GOLDBERG, 2006). A história da performance emerge em sintonia com um
crescente desejo de se criar um contato mais direto com o público. Neste
cenário, o papel do objeto de arte é deslocado em prol da afirmação do corpo
como matéria criativa. Se uma genealogia da performance nos desloca ao início
do século XX, é a partir da segunda metade deste período que tal premissa
corpórea passa a ser problematizada em diversos campos do saber: as práticas
da performance foram se imbricando a outras composições de corporeidade
criadas a partir das atuais tecnologias de captação de som e imagem, de edição
e projeção, além das técnicas de programação computacional. O corpo
fisicamente palpável se torna passível de ubiquidade (VAZ, 2010; WEISSBERG,
2010): que outras materialidades de corpo estão em jogo na
contemporaneidade? O presente resumo traz as videoperformances “Theme
Song” (1973), de Vito Acconci, e “Boxing” (1977), de Ion Grigorescu, como uma
estratégia de mapeamento reflexivo das atuais formas de produção de corpo e
presença (GUMBRECHT, 2010) na videoperformance a partir de sua imbricação
às atuais tecnologias digitais.
“Videojogo e filme: a intermidialidade começa pelos trailers”
Jerônimo Teixeira Strehl (UNIP) e Solange Wajnman (UNIP)
No processo comunicacional cada mídia interfere e modifica o regime de
produção e recepção através de processos híbridos e ressignificações mútuas –
conforme noção de intermidialidade (GUMBRECHT, 1998, 2010; DINIZ; VIEIRA,
2012; MÜLLER, 2012). Nosso objetivo é justamente compreender essas noções
no primeiro contato com videojogo: através do trailer – entendido como
montagem curta de cenas escolhidas para anunciar ao mercado um produto
audiovisual. Igualmente ocorre ao filme, assumindo que este é quase tudo que
se encontra como vídeo, tornando-se metáfora para imagem em movimento
(PAECH, 2011). Nesse ponto têm-se a maior aproximação possível entre
videojogo e filme. Portanto, nada mais justo que buscar a intermidialidade
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presente nesse momento que nos encontramos apenas como observadores
(CRARY, 2012). Para isso, o corpus proposto é o trailer do videojogo “Dead
Island” (2011), mostrando os últimos instantes de uma garotinha e o desespero
de sua família tentando ajudá-la. Numa edição extremamente elaborada e
incomum para videojogos, provoca inesperada ressonância emocional para o
estilo de jogo proposto – ação em primeira pessoa. Nele vislumbra-se diversas
técnicas cinematográficas, especialmente narrativa não-linear, em ordem inversa
entremeada por diversos cortes, agindo como flashbacks (analepse) e
flashforwards (prolepse) de si mesmo, aliado a tocante trilha musical incidental
externa a diegese.
“The Sims 3: avatar e autobiografia no jogo”
Danielle de Macedo Leite (UFJF)
Este artigo apresenta um breve histórico do gênero autobiográfico e as
modificações do seu conceito a partir da evolução tecnológica, o surgimento do
ciberespaço e do avatar digital. É apresentado, ainda, o que é avatar, seus
variados tipos e modos de interação dentro dos jogos digitais. Por fim, é feita
uma breve análise da autobiografia e do avatar dentro do jogo The Sims 3. Hoje,
observa-se, que a autobiografia passou a ser criada não só através da escrita,
mas também por meio da representação de si, com o auxílio dos avatares, sem
necessariamente ter que escrever sobre si para que os outros identifiquem a sua
personalidade. As caracterizações dos personagens virtuais nestes ambientes
de simulação acabam relevando a sua autobiografia, seja ela real ou não, mas
que certamente irá despertar no outro uma ideia de si.
“Intermidialidade e tipografia urbana”
Tainá Caldas Novellino
Introdução - A diversidade da paisagem tipográfica dos centros urbanos
proporciona uma série de experiências visuais e informacionais. Na capital
paulista, as tags ou pichações carregam tipografias únicas no mundo, como
forma de expressão e transformação da cultura material de um povo, além de
levantar discussões sobre mídias que utilizam o espaço urbano como suporte e
linguagem, tornando-as valioso objeto de estudo intermidiático. Objetivo Investigar a produção dos tags urbanos buscando traçar um perfil dos lugares
(ambientes) escolhidos e construção tipográfica sob o olhar da intermidialidade.
Métodos - Será feita uma organização cronológica do "pixo" no Brasil, para fim
de comparação histórica com os dias atuais, através de um infográfico que
demonstre os principais tags em lugares estratégicos da capital paulista.
Pichações políticas dos anos 60 e a influência do movimento punk na cidade de
São Paulo na década de 80 poderão ser comparadas à auto afirmação ou
reconhecimento social contidos nas pichações contemporâneas. Tem-se, então,
uma apresentação imagética que permitirá relacionar o muro, a tinta e a
tipografia como suportes midiáticos urbanos.
‘Produção de doc-poesia: If, de Rudyard Kipling’
Érica Ignácio da Costa (UFPR) e Ines Saber de Mello (UFPR)
Esta pesquisa busca apoiar-se nos estudos interartes e intermídias para
fundamentar a criação de um doc-poesia do poema If, de Rudyard Kipling. A
capacidade criativa da transformação de um texto-fonte com diferentes mídias
pode expandir sua possibilidade interpretativa. Neste caso, utilizamos o cinema,
a dança e a poesia para criar uma nova manifestação artística, a qual
nomeamos de doc-poesia, e em que as três artes são igualmente importantes. O
corpo coreográfico e as novas tecnicidades revelam uma potencialidade para
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expressar discursos além do que pode ser dito. Ao cruzar teoria e prática é
possível pensar e testar o corpo a partir de pontes entre as artes. Portanto,
trabalhar a dança e o cinema como possibilidade artística e interpretativa de um
texto escrito pode ser algo muito rico em novos estudos. O desafio da pesquisa
foi trabalhar o poema If pelo viés da corporeidade, pois o poema não deve
apenas significar algo, e sim ser algo. A coreografia vira teoria; o corpo, mídia; a
dança e o cinema, poesia.
“Jornalismo e Literatura se entreolham: quando o império dos fatos
encontra a subjetividade artística”
Olívia Scarpari Bressan
Jornalismo e Literatura travam muitas vezes uma relação antitética: o primeiro é
o império dos fatos, a letra em favor da objetividade; o segundo é o terreno fértil
para a imaginação, a palavra que expressa subjetividade artística. No entanto,
quando escritores se forjam jornalistas (e vice-versa), acabam por modernizar o
texto da imprensa, além de injetarem elementos da linguagem jornalística na
ficção e na poesia. A partir da segunda metade do século XX, esse processo de
hibridização das duas formas de expressão de linguagem atingiu um ponto
crucial com o movimento do New Journalism. Capitaneado por Tom Wolfe e
Truman Capote, tratava-se de uma corrente de escritores que elaboravam
reportagens, compondo-as com técnicas narrativas próprias da ficção, muitas
delas emprestadas da produção realista do século XIX. No Brasil, a mesma
verve jornalístico-literária tomou a revista Realidade e fez de João Antônio e
Edilberto Coutinho poetas do cotidiano, tramado por meio de captação
etnográfica e de técnicas de História Oral na abordagem dos fatos. Anos depois,
qual o grau de relação entre Literatura e Jornalismo no cenário cultural atual?
Este trabalho pretende traçar um histórico da prosa jornalístico-literária e discutir
sobre sua presença e transformações nos dias de hoje.
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realização
patrocinio
apoio
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