SIGraDi 2016, XX Congress of the Iberoamerican Society of Digital Graphics
9-11, November, 2016 - Buenos Aires, Argentina
A influência dos dispositivos portáteis de leitura no design do livro digital
The influence of portable reading devices on the digital book design
Maurício Elias Dick
Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil
mauricioedick@gmail.com
Alice Teresinha Cybis Pereira
Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil
acybis@gmail.com
Berenice Santos Gonçalves
Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil
berenice@cce.ufsc.br
Milton Luiz Horn Vieira
Universidade Federal de Santa Catarina, Brazil
milton@cce.ufsc.br
Abstract
To be presented, digital books usually require portable reading devices. Given this relationship, understanding their technology
is necessary for the proper design of the digital book. So, this article aims to identify the technological characteristics of
portable reading devices that influence the digital book design. The study was developed from a literature research and a
systematic review. After these procedures, it was inferred that the choice of the technology relies on the main focus of the
publication, whether it is interactivity or continuous reading. Furthermore, the technology influences the choice of the digital
book format which determines its design possibilities.
Keywords: Design; Technology; Digital book; E-reader; Tablet
Introdução
A difusão da internet e o aprimoramento da tecnologia
ampliou o acesso à informação a partir dos meios digitais.
Esse desenvolvimento tecnológico propiciou o surgimento de
novas plataformas de interação, como os tablets
(computadores de mão) e smartphones (celulares
multifuncionais), nos quais não se faz mais necessário o uso
de um suporte físico fixo, como acontece com os
computadores de mesa. Entram em cena dispositivos com
telas maiores, sensíveis ao toque, que permitem grande
interação, assim como tecnologias que proporcionam conforto
para a leitura de textos extensos, como artigos e romances.
Nesse contexto ressurge o livro digital, cujo acesso se
popularizou devido a estas recentes inovações tecnológicas,
expandindo sua oferta e alterando a maneira como o usuário
interage com eles. Segundo Royo (2008), o Design Digital
depende da tecnologia para criar sua linguagem e possuir
espaços para atuar. Desse modo, a compreensão da
tecnologia a ser utilizada é estritamente necessária para o
desenvolvimento de um bom projeto de Design, uma vez que
é necessário reconhecer quais são as possibilidades e
limitações, bem como as potencialidades oferecidas pelo
meio.
Dessa forma, este artigo tem por objetivo identificar as
características tecnológicas dos dispositivos portáteis de
leitura que influenciam no design do livro digital. Assim,
buscou-se compreender as peculiaridades das tecnologias
empregadas, suas finalidades e limitações.
O estudo desenvolveu-se a partir de uma pesquisa
bibliográfica, complementada por uma revisão sistemática de
literatura, visando fornecer um conhecimento das pesquisas
mais recentes realizadas acerca do tema
O Livro Digital e a Tecnologia
De modo a compreender a relação entre a tecnologia e o livro
digital, é importante em um primeiro momento entender o
conceito deste artefato. Em uma definição recente, Flatschart
(2014) afirma que o livro digital é um livro que pode ser lido
em dispositivos computacionais, contendo normalmente
textos e imagens, e, não raro, recursos de multimídia e
interatividade.
A partir de uma visão mais técnica, Procópio (2010) propõe a
divisão do livro digital em três dimensões. Para ele, o assunto
envolve o software leitor, que é o aplicativo que proporciona a
leitura do livro; o dispositivo de leitura (suporte físico), que
pode ser portátil ou não; e o livro em si, ou seja, o conteúdo.
No que tange o suporte físico, virtualmente qualquer aparelho
computacional com uma tela poderia ser usado como um
dispositivo de leitura de livros digitais (Gall, 2005), porém,
neste artigo, foca-se nos dispositivos portáteis de leitura, os
quais são estudados mais detalhadamente a seguir.
A evolução dos dispositivos portáteis de leitura
O livro digital não é um assunto novo, embora o mercado em
si esteja se iniciando nestes últimos anos (Procópio, 2010;
Pinsky, 2013). Nesse sentido, a origem de seus suportes
específicos para leitura remonta às décadas de 1940 e 1960,
ainda que apenas de maneira conceitual (Procópio, 2010;
Wilson, 2001).
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Entretanto, apenas durante a década de 1980, foram
desenvolvidos alguns dos primeiros dispositivos portáteis de
leitura de livros digitais, que obtiveram sucesso limitado
devido à ergonomia pobre em termos de conforto de leitura
de seus aparelhos e à falta de um canal apropriado de
distribuição de conteúdo (Wilson, 2001).
Figura 1: Dois principais tipos de dispositivos portáteis de leitura:
híbridos (tablets) e dedicados (e-readers). Fonte: adaptado de
Olivarez-Giles (2016) e Ellington (2012).
Sabendo-se, portanto, da existência de diferentes tipos de
dispositivos portáteis de leitura, é importante analisar suas
tecnologias, uma vez que as características específicas dos
dispositivos exigem do designer uma atenção relativa ao
suporte (Gruszynski, 2010), sendo necessário que se
compreenda seus requisitos e limitações, os quais são
fundamentais no momento da projetação do objeto de
Design.
Segundo Wilson (2001), ainda em meados da década de
1990 surgiram suportes com tela sensível ao toque, porém a
partir de 1998 foi lançada a segunda geração de dispositivos
portáteis de leitura de livros digitais. Além da habilidade de
armazenar múltiplos títulos, já presente em seus
predecessores, esses novos dispositivos se tornaram As Diferentes Tecnologias e Suas
multifuncionais e proporcionavam uma experiência mais
confortável por meio de telas coloridas, sensíveis ao toque e Limitações
com maiores resoluções, além de mimetizar aspectos da A tecnologia presente nos dois tipos de equipamentos
supracitados é claramente distinta. Ainda que haja exceções,
metáfora do livro (Wilson, 2001).
a grande maioria dos dispositivos de leitura dedicados se
Todavia, esses dispositivos portáteis de leitura de livros utiliza do papel eletrônico, ou tinta eletrônica, enquanto os
digitais não obtiveram grande sucesso no mercado, uma vez dispositivos de leitura híbridos utilizam telas de cristal líquido
que eram considerados um tanto quanto difíceis de usar ou (LCD), sensíveis ao toque.
ofereciam poucos itens populares para leitura (Rich; Stone,
2008). Além disso, havia incompatibilidade de formatos, o que Papel eletrônico – dispositivos de leitura dedicados
impossibilitava a leitura de um livro digital criado para um (e-readers)
determinado dispositivo em outro diferente (Farbiarz; Nojima,
Os dispositivos que possuem telas que se utilizam da
2003).
tecnologia do papel eletrônico têm esse nome por causa da
sua aparência de tinta comum sobre o papel. Seu princípio de
A chegada do dispositivo portátil de leitura Kindle da empresa funcionamento é simples e advém de uma fusão de princípios
americana Amazon no ano de 2007 – com sua tecnologia de químicos, físicos e eletrônicos, como afirma a empresa
papel eletrônico e grande oferta de conteúdo – e, em 2010, o americana Eink (2015), uma das fabricantes da tecnologia. O
lançamento do tablet iPad da também americana Apple papel eletrônico é feito de milhões de microcápsulas de tinta
(Figura 1) – trazendo excelente experiência do usuário – preta e branca, as quais possuem cargas elétricas distintas
alavancaram novamente o mercado (Santos, 2010; Lopes, (Strickland, 2008), como mostra a Figura 2.
2011; Pinsky, 2013).
Desde então, o mercado dos dispositivos portáteis de leitura
tem se caracterizado por duas principais vertentes: os
dispositivos dedicados (e-readers) – exemplificados pelo
Amazon Kindle – e os dispositivos híbridos (tablets, como o
Apple iPad), tendo evoluído basicamente em termos
tecnológicos. É importante notar que os dispositivos
dedicados têm esta nomenclatura em função da sua
dedicação principal à leitura de livros digitais, enquanto os
dispositivos híbridos são assim chamados devido ao seu
caráter multifuncional.
Figura 2: Funcionamento da tecnologia de papel eletrônico. Fonte:
adaptado de Eink (2015).
Um conjunto de eletrodos é disposto abaixo do suporte da
tela e, segundo Strickland (2008), quando esse conjunto
emite uma determinada carga positiva ou negativa, ele repele
ou atrai as partículas de tinta, empurrando-as para o topo da
microcápsula ou puxando-as para baixo. Ainda, cargas
precisas permitem a utilização de diversos tons de cinza.
Desta maneira, juntos, centenas de eletrodos e milhares de
microcápsulas geram os textos e imagens no papel
eletrônico.
Devido a sua maneira de funcionamento, estas telas não
utilizam energia elétrica para manter um texto ou imagem, a
não ser quando ocorre a mudança da informação mostrada.
Sendo assim, a autonomia de bateria destes dispositivos é
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ampla. Além disso, a legibilidade no papel eletrônico é
considerada muito boa, uma vez que a informação mostrada
é estática (e não atualizada constantemente), o ângulo de
visão é grande – devido ao contraste uniforme – e não há
emissão de luz própria, somente a reflexão da luz do
ambiente (Amazon, 2015).
Por outro lado, os dispositivos de leitura dedicados ainda
possuem em sua maioria telas de papel eletrônico
monocromáticas – ainda que já existam displays de papel
eletrônico coloridos, seu uso ainda não é difundido –
limitando os aspectos estéticos e ergonômicos de um projeto
gráfico. Além disso, apesar de possuírem melhor legibilidade
em ambientes muito claros, as telas de papel eletrônico não
podem ser lidas em locais sem iluminação, uma vez que
esses displays não emitem luz, salvo se o dispositivo possuir
luz embutida. Também, alguns dispositivos de leitura
dedicados não são sensíveis ao toque, possuindo navegação
por manipulação indireta – por meio de botões – dificultando
a navegação e a interação do usuário com as ferramentas
interativas disponíveis. Outra desvantagem, sob a ótica da
interação, é a baixa taxa de atualização da tela, o que impede
que sejam executadas interações rápidas ou suaves.
Porém, a leitura neste tipo de tela não é favorável em locais
onde a luz do ambiente é muito clara, devido ao brilho na
superfície do display (Patrick, 2010). Além disso, por possuir
iluminação própria, os dispositivos equipados com telas LCD
podem causar fadiga ocular (devido à emissão constante de
luz) e acabam consumindo mais energia, resultando em uma
menor autonomia de bateria. Todas estas restrições acabam
por influenciar na mobilidade do usuário e limitando o seu uso
a determinados ambientes, fator que pode condicionar alguns
aspectos do projeto gráfico da interface, como pode ser visto
na Figura 3.
Cristal líquido (LCD) – dispositivos de leitura
híbridos (tablets)
Telas de cristal líquido são utilizadas atualmente em uma
grande variedade de dispositivos, tais como televisões,
computadores, smartphones, entre outros. O mesmo se Figura 3: Comparação da visualização de uma tela LCD e um display
papel eletrônico em um ambiente externo. Fonte: David Derrico
aplica à grande maioria dos dispositivos de leitura híbridos de
(2010).
(tablets).
Por possuírem telas sensíveis ao toque (touchscreen), a
Para o funcionamento de uma tela de LCD, é necessária a maioria dos dispositivos híbridos permite – assim como
combinação de quatro fatores: luz polarizada, cristal líquido, alguns dispositivos dedicados – a navegação por meio da
corrente elétrica e substâncias transparentes que conduzam utilização do toque dos dedos, podendo ser multitoque, o que
eletricidade (Electrónica, 2015). É importante notar, porém, se se refere a uma superfície com a capacidade de
que cristais líquidos não emitem luz. Sua base de iluminação reconhecer a presença de dois ou mais pontos de contato.
é a luz fornecida por uma lâmpada ou um conjunto de LEDs
Segundo Stevens (2011), as telas touchscreen permitem que
por trás da tela.
o usuário literalmente toque no que ele vê, diferentemente da
Portanto, telas de LCD possuem uma luz constante, onde a manipulação por meio de mouses e teclados nos
intensidade varia de acordo com o bloqueio da luz que brilha computadores de mesa. Nesse sentido, é importante dar
através do painel frontal. Sendo assim, estes displays podem atenção ao fato de que a mão humana não é precisa como
ser lidos em ambientes de pouca luminosidade, além de um mouse. Sendo assim, as áreas passíveis de interação
possuir uma alta taxa de atualização, o que possibilita com o usuário devem ser planejadas para isso, possuindo
tamanhos adequados. Também, é importante prever áreas
respostas rápidas aos comandos, facilitando a interação.
que se tornarão obscuras devido ao bloqueio da mão ou
Além disso, esses displays, em dispositivos de leitura regiões que serão de difícil alcance, uma vez que a mão que
híbridos, proporcionam a visualização de milhões de cores e, usuário realizará a interação poderá também estar segurando
de uma maneira geral, possuem uma boa resolução de tela, o dispositivo (Figura 4).
proporcionando nitidez e riqueza de detalhes. Apesar da
maioria das telas LCD possuir um ângulo de visão
relativamente pequeno, já existem modelos, como o IPS (InPlane Switching) que possuem ângulos de visão maiores,
mais brilho e resolução e quantidade de cores ainda maiores
– displays utilizados no iPad, da americana Apple, por
exemplo (Apple, 2015; Brandrick, 2010; Mod, 2010;
Pctechguide, 2015).
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função de recorrência na área do conhecimento das Ciências
Sociais Aplicadas, escolheram-se as bases Scopus, Web of
Science e Science Direct.
Figura 4: Áreas afetadas pela manipulação por toque. Fonte: autores
com base em Stevens (2011).
Realizando-se a pesquisa e aplicando-se os critérios de filtro,
a base Scopus retornou 9 resultados, a Web of Science, 5
resultados e a Science Direct, 63 resultados, totalizando 77
estudos. Os resultados foram então exportados ao
gerenciador de referências Mendeley Dekstop, onde foram
excluídos aqueles que estivessem duplicados ou incompletos,
restando 67 estudos. Após a leitura dos títulos e resumos,
excluíram-se os artigos inacessíveis: por não terem acesso
gratuito via rede UFSC, estarem em outro idioma senão
português, inglês ou espanhol, ou cujas temáticas estavam
fora do escopo da pesquisa. Restaram-se então, cinco artigos
cujas contribuições iam ao encontro à temática deste estudo.
Estes são discutidos a seguir.
Além disso, alguns dispositivos híbridos permitem que os
elementos gráficos da tela reajam à orientação do suporte no
espaço, alterando o leiaute do projeto e até mesmo
permitindo a animação de objetos conforme o usuário altera a
posição do aparelho (Stevens, 2011).
Contribuições dos estudos da revisão sistemática
Em suma, o conjunto das características dos dispositivos
híbridos permite ao usuário uma grande interatividade, com
ótima qualidade de imagem, respostas precisas e rápidas e
uma navegação fácil e intuitiva (Lopes, 2011),
proporcionando uma experiência imersiva e satisfatória.
Estudos Recentes Sobre as Tecnologias
dos Dispositivos Portáteis de Leitura de
Livros Digitais: uma Revisão Sistemática
De modo a identificar recentes conhecimentos produzidos
sobre o tema desta pesquisa, foi realizada uma revisão
sistemática de literatura, que seguiu as etapas de Mendes,
Silveira e Galvão (2008). Como a revisão sistemática foi parte
integrante deste estudo, buscou-se responder à seguinte
questão: quais são os estudos mais recentes que tratam
sobre as tecnologias dos dispositivos portáteis de leitura de
livros digitais?
Como apresentado anteriormente, os atuais dispositivos
portáteis de leitura – como o Kindle e o iPad – são compactos
e leves, mas possuem diferentes tipos de tecnologia
empregados em suas telas. Dessa forma, como afirmam
Liesaputra e Wittem (2012), o tamanho, o tipo e a qualidade
das diferentes telas afetam diversos aspectos da leitura
digital, tais como a velocidade de leitura e o tempo de
concentração.
Nesse sentido, diversos autores apontam vantagens e
desvantagens de cada tipo de tecnologia. Em seu estudo,
Choi et al. (2014) afirmam que o papel eletrônico possui
vantagens como o baixo consumo de energia e o alto
contraste visual. Além disso, por se tratar de uma tecnologia
reflexiva – e não transmissiva – a leitura se torna mais
agradável aos olhos, qualidade também verificada por
Dougherty (2010). Isso se dá em função da ausência de uma
fonte luminosa por detrás da tela, justifica o autor, permitindo
a visualização em uma grande variação de condições de
iluminação, incluindo a luz solar direta. Para ele, tem-se no
dispositivo de leitura dedicado uma experiência de leitura
similar à do papel, somada à potencialidade de atualização
instantânea da informação ali contida.
Inicialmente, foram estabelecidos eixos de termos relevantes
ao estudo, sendo eles: o suporte (os dispositivos), o objeto (o
livro digital), as diferentes tecnologias e o próprio termo
“tecnologia”, de modo a limitar a pesquisa apenas aos
aspectos tecnológicos. A seguir, foram geradas alternativas Por outro lado, Liesaputra e Wittem (2012) apontam que o
de termos relacionados para a definição do algoritmo de papel eletrônico requer iluminação extra para leitura em
pesquisa.
ambientes escuros, além de limitar-se apenas a opções
monocromáticas, em concordância com os apontamentos
Para a sua definição, as palavras de um mesmo eixo foram mais recentes de Choi et al. (2014). Para os autores, o uso da
ligadas pelo operador “OR”, pois eram sinônimos, e os termos monocromia é um problema crítico à apresentação de
de eixos diferentes se conectaram pelo operador “AND”. Este imagens coloridas, fotografias e gráficos, porém não é
então definiu-se assim: “(("e-reader" OR "ereader" OR significante à leitura textual.
"electronic reader" OR "tablet") AND ("ebook" OR "e-book")
AND ("e-ink" OR "eink" OR "LCD") AND technology)”, a ser Ainda, o estudo de Liesaputra e Wittem (2012) aponta que as
pesquisado em títulos, resumos e palavras-chave.
telas de papel eletrônico não são adequadas para apresentar
Antes de iniciar a pesquisa, definiu-se ainda que só seriam
investigados artigos de revistas científicas e conferências,
com acesso gratuito via rede UFSC e publicação nos últimos
cinco anos à época da revisão (de 2010 a 2015). Por fim,
selecionaram-se as bases de dados a serem consultadas. Em
multimídias interativas, em função da sua baixa taxa de
atualização, não permitindo ao usuário, por exemplo, alternar
entre páginas de maneira ágil.
No que tange a tecnologia empregada nos dispositivos de
leitura híbridos (tablets) – as telas de LCD e OLED (organic
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light emitting diode) – Choi et al. (2014) afirmam que estas
consomem mais energia e podem causar fadiga visual, em
função de sua característica transmissiva, necessitando uma
fonte de luz por detrás do suporte, o que resulta em uma
baixa legibilidade em ambientes bastante iluminados, como
meios externos, por exemplo. Desse modo, conforme os
autores, estas tornam-se mais apropriadas a leituras rápidas.
de leitura
híbridos
(tablets)
comandos, facilitando
a interação;
Renderização de
multimídias (tais como
vídeos, animações,
áudios) e recursos
interativos de modo
efetivo;
Leitura em ambientes
energia;
Podem causar fadiga
visual;
Mesmo ajustados à
máxima luminosidade, há
baixa legibilidade em
ambientes muito
iluminados, como meios
externos.
É interessante notar que, no que tange a fadiga visual em
com pouca iluminação;
telas LCD, Lin, Wu e Cheng (2013) afirmam que esta também
Visualização de
é causada por fatores independentes da característica
milhões de cores.
transmissiva da tecnologia. A saber, direção do texto,
tamanho da tela e tamanho do caractere, elementos que
também influenciam no tempo de leitura e na acurácia da
mesma.
A partir do exposto, é possível inferir que a escolha da
tecnologia a ser utilizada como suporte ao livro digital
Nesse sentido, em seu estudo, Benedetto et al. (2014) depende fortemente do foco principal dessa publicação.
realizaram testes comparativos entre diferentes configurações Tipicamente, os dispositivos de leitura híbridos (tablets)
de luminosidade em uma tela LCD e variações no nível de possuem uma tela mais rápida e capaz de uma taxa de
iluminação do ambiente para determinar sua influência na atualização maior, o que os tornam mais adequados à
fadiga visual. Após a análise dos resultados, os interatividade – utilizando-se principalmente de recursos
pesquisadores apontam que não somente a intensidade de multimídia e da interação com o usuário.
luminosidade da tela de um dispositivo pode influenciar no
fenômeno, mas também a iluminação do ambiente. Desse Por outro lado, os dispositivos de leitura dedicados (emodo, ajustes tanto da luminosidade interna dos dispositivos readers) possibilitam uma melhor legibilidade e maior
quanto externa (do ambiente) podem resultar na prevenção autonomia de bateria, sendo mais apropriados à leitura
do cansaço visual, bem como na economia da energia – e por contínua, cujo foco se dá na concentração e absorção do
consequência, maior autonomia de uso.
conteúdo.
Por fim, Lisaputra e Wittem (2012) apontam que diversas
pesquisas têm sido realizadas – em parte por interesses
comerciais – no desenvolvimento de dispositivos de leitura
que sejam acessíveis, portáteis, duráveis, fáceis de usar,
legíveis, confortáveis e com grande capacidade de
armazenamento e autonomia de bateria. Desse modo,
caminha-se em direção ao desenvolvimento constante das
tecnologias, de modo a sobrepor suas atuais fragilidades e
consolidar suas qualidades frente aos diferentes tipos de
demandas do ambiente digital.
Discussões
Além disso, a tecnologia, além de já possuir suas próprias
limitações e restrições, influencia no tipo de livro digital a ser
desenvolvido, que, por sua vez, também determina quais
serão as possibilidades de projeto permitidas ao designer.
Sendo assim, em projetos de livros digitais a serem
desenvolvidos para dispositivos dedicados (e-readers), as
decisões de design tendem a enfatizar as relações de
hierarquia e consistência dos elementos que compõem a
publicação, uma vez que leiaute, aspectos tipográficos e até
mesmo configurações de cor e imagem podem ser alteradas
conforme as características do dispositivo, dos aplicativos de
leitura ou conforme as preferências do leitor.
Com o intuito de resumir as vantagens e desvantagens dos
diferentes tipos de dispositivos portáteis de leitura apontadas
na literatura, elaborou-se o Quadro 1 a partir dos autores Por outro lado, ao se projetar livros digitais para dispositivos
híbridos (tablets), o designer tem total controle sobre os mais
pesquisados nas revisões realizadas.
variados aspectos do projeto gráfico, além da melhor
utilização de recursos interativos e multimídia. Entretanto, ao
Quadro 1: Vantagens e desvantagens dos dispositivos portáteis de
optar por este dispositivo, o projetista pode limitar a
leitura. Fonte: autores a partir da revisão integrativa.
compatibilidade da publicação com a multiplicidade de
Vantagens
Desvantagens
dispositivos (portáteis ou não).
Dispositivos Baixo consumo de
energia;
de leitura
dedicados
Alto contraste;
(e-readers)
Boa visualização sob
luz solar direta;
Leitura mais
confortável aos olhos.
Dispositivos Respostas rápidas aos
Necessidade de
iluminação extra para
ambientes escuros;
Monocromia;
Baixa taxa de atualização
de tela, sendo
desfavorável à
apresentação de
multimídias interativas.
Maior consumo de
Assim, o Quadro 2 sintetiza a relação entre as características
das tecnologias dos dispositivos portáteis de leitura e o
design de livros digitais.
Quadro 2: Implicações das diferentes tecnologias de dispositivos
portáteis de leitura para o design do livro digital. Fonte: elaborado
pelos autores.
Livros digitais
projetados para
Livros digitais
projetados para
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dispositivos de leitura
dedicados (e-readers)
dispositivos de leitura
híbridos (tablets)
Leiaute
Fluído
Fixo ou fluído
Objetivo do
livro digital
Leitura contínua com
foco na concentração e
absorção do conteúdo.
Leitura rápida,
renderização de
multimídias e interação
com o usuário.
Decisões de Limitadas
design
Relações de hierarquia
e consistência dos
elementos tipográficos e
compositivos.
Múltiplas
Controle sobre os
variados elementos
gráficos (tipografia, cor,
composição)
Uso de mídias estáticas Uso de mídias dinâmicas
(texto e imagens).
(vídeos e animações).
Limitações
Interatividade,
experiência do usuário
e definições de leiaute.
Compatibilidade com a
multiplicidade de
dispositivos.
Ergonomia
Em dispositivos touchscreen, é importante observar
as áreas de obstrução pela mão do usuário e as
áreas de fácil, médio e difícil alcance.
É importante destacar que as implicações apresentadas neste
estudo consideram polos distintos de livros digitais, porém, no
entremeio existe uma multiplicidade de tipos de livros digitais
que resultam na combinação dos pontos expostos, como
livros digitais de leiaute fluído para dispositivos de leitura
híbridos ou livros de leiaute fixo em formato ePub, cuja
compatibilidade de dispositivos é ampla.
A matriz busca relacionar o grau de controle sobre o design
visual (eixo vertical) com o objetivo publicação (eixo
horizontal). Dessa forma, na parte superior do eixo vertical,
onde o controle sobre o design visual é prioritário no
desenvolvimento do livro digital, recomenda-se projetar para
dispositivos híbridos (tablets), independente do objetivo da
publicação (foco na leitura contínua ou na interação e
multimídia) a partir do uso de mídias estáticas ou dinâmicas.
Por outro lado, na parte inferior do eixo vertical, onde o
controle sobre o design visual não é prioritário no
desenvolvimento do livro digital, o dispositivo recomendado
varia de acordo com o objetivo da publicação. Assim,
observa-se que a projetação para dispositivos híbridos é
recomendada para a maioria dos tipos de livros digitais, uma
Figura 5: Matriz para definição de suporte portátil para o livro digital.
vez que esses suportes são mais versáteis. De toda forma,
Fonte: elaborado pelos autores.
existem situações em que os dispositivos dedicados são mais
adequados.
Finalmente, de modo a auxiliar os designers na definição de
suporte portátil para o livro digital – a partir da coesão dos
resultados deste estudo – elaborou-se a matriz apresentada
na Figura 5.
Portanto, ressalta-se que na matriz existem zonas de
intersecção entre ambos os dispositivos e zonas exclusivas,
dependendo das relações estabelecidas entre os eixos.
Dessa forma, é importante notar que no momento da
definição do suporte, o designer deve também levar em
consideração as vantagens e desvantagens de cada tipo de
dispositivo, apresentadas anteriormente neste estudo,
juntamente do contexto de uso e os futuros usuários/leitores
do projeto.
Considerações Finais
A partir da revisão teórica acerca da evolução histórica dos
dispositivos portáteis de leitura de livros digitais, assim como
das finalidades e limitações das diferentes tecnologias destes
suportes, foi possível identificar a influência das
características tecnológicas no design do livro digital.
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Sendo assim, foi possível constatar que os dispositivos de
leitura dedicados – representados pelos e-readers –
proporcionam uma leitura mais confortável aos olhos,
apresentando boa visualização em ambientes externos. Por
outro lado, suas telas necessitam iluminação em ambientes
escuros, são geralmente monocromáticas e apresentam
baixa taxa de atualização, o que as tornam desfavoráveis ao
processamento de mídias dinâmicas e à interação.
Consequentemente, os livros digitais projetados a estes
dispositivos tendem a focar-se na leitura contínua e fazer uso
de mídias estáticas, permitindo ao projetista menor controle
sobre o design visual.
Já os dispositivos de leitura híbridos (tablets e smartphones,
por exemplo) permitem respostas rápidas a comandos – o
que facilita a interação – e possuem telas que possibilitam a
visualização de milhões de cores, além do processamento
efetivo de mídias dinâmicas e multimídias, mesmo em
ambientes com pouca iluminação. No entanto, em função da
tecnologia LCD, as telas destes dispositivos podem causar
fadiga visual, apresentam maior consumo de energia e
possuem baixa legibilidade em ambientes externos. Assim, os
livros digitais projetados para estes aparelhos tendem a focarse na leitura rápida, na interação e no uso de multimídias,
resultando em um maior controle sobre os aspectos visuais
do projeto.
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diretamente ligada à tecnologia e ao meio digital, o estudo do
<http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2003/www/pdf/200
livro digital é uma área em desenvolvimento constante e que
3_NP04_farbiarz.pdf>. Acesso em: 02 maio 2015.
tanto seus conceitos, quanto formatos ainda mudam
Flatschart, Fabio. (2014). Livro Digital etc. Brasport.
rapidamente de acordo com os avanços tecnológicos. Assim,
as implicações apresentadas neste estudo não são Gall, James E. (2005). Dispelling Five Myths about E-books.
Information Technology and Libraries. [S.l.], v. 24, n. 1.
permanentes e, conforme a tecnologia se desenvolve, podem
Disponível
em:
haver mudanças nos apontamentos trazidos.
<http://www.ala.org/ala/mgrps/divs/lita/ital/volume242005/numbe
r1march/gall.pdf>. Acesso em: 01 abr 2015.
Ainda, observa-se que futuros aprimoramentos aos atuais
Gruszynski, A. (2010). O papel do design na comunicação: uma
dispositivos portáteis de leitura de livros digitas apontam para
discussão acerca do livro. Comunicação & Sociedade. Brasil,
evoluções tecnológicas que caminham em direção a telas de
ano
31,
n.
52.
Disponível
em:
<https://www.metodista.br/revistas/revistaspapel eletrônico coloridas, bem como aos dispositivos de
ims/index.php/CSO/article/view/1170/1582>. Acesso em: 30
leitura híbridos com telas de OLED ou até mesmo de LCD
maio 2015.
estereoscópicas (3D). Somadas a essas evoluções
tecnológicas, o designer deve estar atento aos aspectos Liesaputra, Veronica; Witten, Ian H. (2012). Realistic electronic
books. International Journal of Human-Computer Studies, v. 70,
relacionados ao design de interação e à usabilidade móvel,
n. 9, p. 588–610.
de modo a criar experiências inovadoras de leitura e
interação com o livro digital.
Lin, Hsuan; Wu, Fong-Gong; Cheng, Yune-Yu. (2013). Legibility and
visual fatigue affected by text direction, screen size and
character size on color LCD e-reader. Displays, v. 34, n. 1, p.
Por fim, além da observância dos fatores tecnológicos,
49–58.
recomenda-se o estudo de estratégias de integração do
usuário/leitor na projetação do livro digital, tal como aponta o Lopes, Airton. (2011). A era dos tablets. Info Exame, [S.l.], n. 302.
Inovação.
estudo de Rodrigues (2016), uma vez que o desenvolvimento
de produtos digitais deve levar em conta, além da tecnologia, Mendes, Karina Dal Sasso; Silveira, Renata Cristina de Campos
Pereira; Galvão, Cristina Maria. (2008). Revisão integrativa:
o usuário e seu contexto.
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