Motrivivência
Ano XXV, Nº 41, P. 85-100 Dez./2013
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8042.2013v25n41p85
MAnIfESTOS SOCIAIS E COPA DAS
COnfEDERAÇõES nA COBERTuRA DA
fOLHA DE SÃO PAuLO1
Ivan Daniel Müller2
Lafaiete Luiz de Oliveira Junior3
Alessandra Fernandes Feltes4
Gustavo Roese Sanfelice5
RESuMO
Este artigo tem por objetivo analisar e interpretar, a relação da Copa das Confederações/
Brasil 2013 com os manifestos sociais ocorridos no país, e o viés adotado pela Folha
de São Paulo na cobertura de tais eventos. Foi analisado o jornal Folha de São Paulo
durante os dias 11 a 30 de junho de 2013. A partir da análise do jornal, chegamos as
seguintes categorias: esporte resultado, esporte economia, publicidade, questões políticas
e sociais e infraestrutura. Concluímos o jornal Folha de São Paulo durante a Copa das
Confederações veiculou diversas reportagens esportivas atreladas ao contexto social
que moldava o país e as manifestações.
Palavras-chave: Manifestações sociais; Copa das Confederações; Futebol
1
2
3
4
5
Projeto de pesquisa inanciado pela FAPERGS.
Licenciado em Educação Física pela Universidade FEEVALE. Novo hamburgo / Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail: ivanmuller@feevale.br
Graduando de Educação Física, Universidade FEEVALE. Novo hamburgo / Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail: lafaiete_junior@hotmail.com
Graduanda de Educação Física, Universidade FEEVALE. Novo hamburgo / Rio Grande do Sul, Brasil.
E-mail: alessandrafeltes@gmail.com
Doutor em Ciências da Comunicação, Professor do Programa em Diversidade Cultural e Inclusão Social da
Universidade FEEVALE. Novo hamburgo / Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: sanfeliceg@feevale.br
86
InTRODuÇÃO
Em função do cenário esportivo
brasileiro, que compreende dentre outros,
a Copa das Confederações 2013, Copa do
Mundo de Futebol FIFA/2014 e os Jogos
Olímpicos Rio /2016, a chamada década do
esporte no Brasil (2007-2016), percebe-se
a necessidade de investigar tais eventos a
partir de um viés sociocultural. Neste entremeio, o campo das mídias entra como
um delagrador de sentidos e signiicados
polimorfos, possibilitando assim discorrermos acerca dos temas citados, bem como
analisarmos o próprio papel desempenhado
por este campo, que, devido a sua grande
inluência e centralidade, permeia os demais campos.
Os eventos esportivos e suas condições, realizações e motivações, há muito
presentes em nossa cultura ocidental,
sempre estiveram associados ao período
histórico vivenciado. Com o advento da globalização e a massiicação de uma cultura
global, tais eventos, sobretudo, os já tidos
como mais importantes, Copa do Mundo de
Futebol FIFA e os Jogos Olímpicos, passam
a receber maior destaque midiático e maior
abrangência mercadológica. Sendo necessário inclusive, se encontrar nova terminologia que deinisse a proporção alcançada
pelos mesmos. Conforme Tavares (2011)
megaeventos, por sua grandiosidade ou
signiicado, são competições internacionais
que reúnem milhares de atletas em um espaço de tempo de um mês, com potencial de
impacto em diferentes setores da sociedade
e que possui signiicativa carga simbólica.
Mezzaroba, Messa e Pires (2011, p. 27)
também concordam que, os megaeventos
mobilizam diversos valores, sejam eles
simbólicos, políticos, ideológicos ou econômicos “que se mesclam ao acontecimento
esportivo em si, ampliando-o em suas signiicações para algo que extrapola em muito o
campo esportivo, para instituir-se na pauta
da dinâmica cultural mais ampla do país”.
Não diferentemente de outras épocas, os
tais megaeventos esportivos também andam
em consonância com o momento histórico
vivenciado e adequam seu funcionamento
e modo de ser ao sistema político e econômico vigente na atualidade.
Conforme evidencia Sanfelice
(2010), o campo esportivo tem cada vez
mais uma dependência do campo político,
econômico e midiático, visto que as estruturas dos campos sociais estão cada vez mais
afeitas as experiências que coniguram não
somente um domínio próprio da experiência. Pires (2011) também deixa claro que
a relação entre o chamado esporte de alto
rendimento e a mídia já esteve referida em
diversas áreas cientíicas, e que as associações entre os campos da mídia e do esporte
tornam-se mais intensas à medida que a
publicidade passa a perceber as vantagens
de explorar diversos fatores que estão postos
nesse processo.
O fato de desfrutar de bilhões de
espectadores e transformarem-se, conforme
deine Mascarenhas (2008) momentaneamente no admirado centro das atenções em
escala planetária, contribuiu decididamente
na candidatura do Brasil para sediar tais
eventos. O momento de possível ascensão
econômica do país, que se apresentava
devido ao esgotamento de mercado dos
chamados países desenvolvidos, somados
à crise econômica que rondava os EUA
em meados de 2007, e a superação da
desconiança antes enfrentada pela chegada
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013
de um partido de base sindicalista ao poder
no país, foram decisivos, sem dúvida, para
a escolha. Ainda conforme Mascarenhas,
os megaeventos têm inquestionável poder
de transformação sobre os espaços onde
são realizados e resultam ainda em clara
oportunidade para o novo modelo de planejamento e gestão das cidades, calcado na
lógica do mercado. Logo, os megaeventos
os quais o país almejou sediar, e assim o
conseguiu, seguem a mesma lógica adotada pelo governo no enfrentamento à crise
mundial, qual seja a lógica do mercado.
A Copa das Confederações, ainda
que, segundo a deinição de alguns autores, não se enquadre nos parâmetros de
um megaevento, é sim um evento prévio,
utilizado também pelo campo da mídia no
agendamento da Copa do Mundo de Futebol FIFA, visto que, ocorre cerca de um ano
antes da realização do evento principal. De
certo modo, também têm servido para que a
FIFA consiga, especialmente em se tratando
de países não desenvolvidos, exercer através de uma relativa “pressão”, a cobrança
para que os estádios que serão utilizados
na Copa do Mundo, já estejam de certa
forma “prontos”, ou encaminhados para a
posterior realização da Copa.
A Copa das Confederações realizada
no Brasil em 2013, não fugiria do esperado
se não fosse por um motivo, de certa forma
alheio as exigências da FIFA, que por sinal
não são poucas, para com o país sede. Manifestações populares eclodiram por todo o
Brasil, dias antes do início da realização do
evento. Seguindo o rumo de movimentos
sociais que haviam surgido mundo afora,
conforme deiniu Castells (2013) inicialmente no mundo árabe, e posteriormente
em países europeus. Tais movimentos,
87
ainda segundo o autor, conectados em
rede, se dispuseram contra governos que
negligenciaram o gerenciamento da crise
econômica na Europa e nos Estados Unidos
e se colocaram ao lado das elites inanceiras responsáveis pela crise, à custa de seus
cidadãos.
Obviamente no Brasil, estas manifestações e movimentos, ainda que seguindo a lógica de estarem conectadas em rede
e partirem da organização via redes sociais,
tais quais os ocorridos em outros locais
mundo afora, teve suas peculiaridades,
adquiriu seus contornos próprios. A massa
humana que se juntou aos movimentos,
e perpassou a marca de um milhão de
pessoas nas ruas em um só dia, clamou em
suma por uma reforma política, por ética,
justiça social, mas também não deixou de
atacar entidades ligadas as elites inanceiras
mundiais. Multinacionais foram alvejadas,
bancos especialmente estrangeiros, também
frequentemente izeram parte do cenário
dos ataques, e dessa forma, a própria FIFA
e a Copa das Confederações entraram no
alvo das críticas.
A grande mídia, também por vezes
alvo das manifestações, diferentemente de
outras épocas, devido especialmente ao
advento da internet e das redes sociais, não
se viu permitida a negligenciar ou mesmo
obscurecer os movimentos. Portanto, juntamente com as pautas voltadas à Copa das
Confederações, a Folha de São Paulo, jornal
de grande circulação nacional, passou a
pautar as manifestações, e assim o fez de
maneira peculiar. Sendo assim, objetivou-se
neste texto: analisar e interpretar, a relação
da Copa das Confederações Brasil 2013
com os manifestos sociais ocorridos no país,
e o viés adotado pela Folha de São Paulo
na cobertura de tais eventos.
88
Situação econômica e social brasileira que
cercou a Copa das Confederações 2013
Conforme Damo (2012) houve grandes peculiaridades em relação à escolha do
país enquanto sede da Copa do Mundo de
Futebol FIFA, e que obviamente, esse processo se diferenciou ainda do procedimento de
escolha da cidade do Rio de Janeiro, como
sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Sobretudo, o autor identiica o quão extravagante é
o fato de um país como o Brasil, carregado
de problemas sociais dos mais diversos,
sediar em tão curto espaço de tempo, dois
megaeventos, sabendo-se notadamente, que
o país terá de onerar muito dinheiro público
para setores que estão longe de serem os de
maior carência e prioridade.
O fato é que, sob o ponto de vista
dos governantes, tornar-se sede dos dois
maiores eventos esportivos do planeta, além
de mostrar o Brasil ao mundo e enveredar
pelo mesmo rumo econômico adotado por
demais países emergentes, implica fazer ver
a todos, inclusive a nós brasileiros, que somos capazes de realizar nossos projetos da
maneira correta, com êxito, na tentativa de
exorcizar de vez a alcunha do “complexo de
vira-lata”, que conforme Nelson Rodrigues
(1958) estava presente, sobretudo no futebol, mas também se fazia verdade em tantas
outras áreas.
Foi pelo menos dentro dessa lógica,
a maior exigência feita pela FIFA durante
o anúncio do país como sendo sede da
Copa do Mundo de 2014. Conforme relata
Damo (2012), Joseph Blatter com dedo em
riste pronunciou que: “O comitê executivo
da FIFA decidiu dar a responsabilidade,
não só o direito, mas a responsabilidade
de organizar a Copa Mundial da FIFA de
Futebol 2014 ao Brasil”, ou seja, icou evidenciado nos próprios discursos, tanto do
comitê organizador da FIFA, quanto de seus
dirigentes, e também durante a fala posterior
ao anúncio, do então presidente Lula, que
o Estado brasileiro assumiria a responsabilidade pelo “dar certo” a Copa do Mundo
FIFA, ainda que, conforme o próprio nome
relata, tratar-se há de um evento particular,
teoricamente organizado por uma entidade
privada, qual seja, a própria FIFA.
Obviamente, a escolha desse caminho na visão do então governo Lula,
que vai desde a candidatura do país para
sediar eventos de tal porte, até o papel de
aceitar as duras exigências feitas pela FIFA,
especialmente por tratar-se de um país não
desenvolvido, passou pelo ideal de seguir os
trilhos econômicos dos demais países tidos
como potências mundiais, para um modelo
econômico que conforme Castells (2013)
está centrado no crescimento a qualquer
custo, modelo neodesenvolvimentista como
o Chinês e tantos outros, que enveredam por
um caminho autodestrutivo com o objetivo
de sair da pobreza.
No contexto da globalização econômica, David harvey também evidencia
em A Produção Capitalista do Espaço, que a
lógica adotada pelo governo brasileiro não
está diferente da dos demais países envoltos
nesse mesmo contexto.
Nos anos recentes, em particular, parece haver um consenso geral emergindo
em todo mundo capitalista avançado:
os benefícios positivos são obtidos pelas cidades que adotam uma postura
empreendedora em relação ao desenvolvimento econômico. Digno de nota
é que esse consenso, aparentemente,
difunde-se nas fronteiras nacionais e
mesmo nos partidos políticos e nas ideologias (hARVEY, 2005, p. 167).
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013
Ainda conforme uma analogia do
autor, devido ao fato de o Comitê Olímpico Internacional (COI) e da Federação
Internacional de Futebol Associado (FIFA)
disporem de eventos, que podem ser
considerados como tipos especiais de mercadorias culturais, lhes permite um poder
monopolista e o direito de tirar vantagens
na negociação com os países interessados
em receber tais eventos.
Segundo Ribeiro e Santos Junior
(2013) surge no Brasil, sendo que os megaeventos têm papel crucial nesse sentido,
uma nova forma de padrão de governo nas
cidades, fundado na governança empreendedora e aprofundamento da mercantilização das cidades. Conforme os autores, esse
fato nasce devido ao ciclo de estabilidade e
prosperidade econômica apresentada pelo
país, combinado com a existência de ativos
urbanos passíveis de serem espoliados e integrados aos circuitos de valorização inanceira internacionalizados, que contrariam
dessa forma, a lógica de regular as forças
de mercado para torná-las compatíveis com
a promoção do direito a cidade. Dentro do
exposto, os autores apontam o fato de o
Brasil estar vivenciando um momento, em
que o Estado intervém fortemente na economia, sob a hegemonia do capital inanceiro
internacional e nacional e sua lógica, em
um padrão que poderia ser deinido como
Keynesianismo neoliberal.
Portanto, dentro da lógica econômica proposta pelo governo brasileiro, as
cobranças impostas pela FIFA, mesmo que
nos pareçam exageradas, não se mostram
absurdas ao contexto mundial, ainda que,
icasse evidenciado que gastos públicos
iriam se fazer necessários em áreas de pouca, relativa, ou nenhuma necessidade, como
a construção de estádios de futebol por
89
exemplo, o governo acatou as condições
e imposições elegidas por essa entidade
internacional privada. Obviamente, o governo tratou logo de focar a atenção, desde o
princípio das negociações, no dito “legado”
que seria deixado pelos megaeventos no
país, e para isso, contou com uma grande
aliada interessada em todo esse processo,
a grande mídia. Conforme aponta Sanfelice
(2010, p. 140):
A globalização faz com que o campo
dos medias se torne dependente dos
demais campos. O campo econômico e
político têm uma relação, estabelecendo os ganhos inanceiros, sendo estes
que o sustentam. Sem uma economia
forte todos perdem. O desenvolvimento
da mídia está diretamente relacionado
com o econômico e tecnológico, sendo
que estes estão diretamente relacionados com os aspectos formativos do homem contemporâneo.
Já Esteves (1998) destaca que os
campos sociais, para irmarem seus objetivos e interesses, recorrem ao campo dos
media. Sendo assim, percebe-se interesse
em ambas as partes, tanto da mídia, quanto do governo e da iniciativa privada, em
valorizar as ações voltadas a candidatura, à
airmação dos legados que serão deixados,
e ao agendamento dos megaeventos esportivos no âmbito Brasileiro.
Conforme alertado por Domingues,
Betarelli Junior e Magalhães (2011) é muito
provável que o Brasil passe a ter visibilidade
em função da realização desses megaeventos esportivos, porém, difícil é mensurar
os benefícios econômicos que os mesmos
trarão, visto que estes envolvem obras de
infraestrutura urbana, reformas/construção
de estádios, luxos turísticos, etc. Ainda segundo os autores, ao citarem Barclay (2009),
90
Madden (2006) e Porter (1999), alertam para
o fato de que geralmente os organizadores
de tais eventos, costumam dimensionar e
divulgar saldos positivos em relação aos
investimentos realizados:
A metodologia mais frequentemente utilizada nos estudos de impactos
de eventos esportivos é a análise de
insumo-produto, que pode estimar
os efeitos diretos e indiretos desses
eventos na economia. Alguns autores
consideram, entretanto, que os efeitos
multiplicadores obtidos superestimam
os efeitos reais, pois a metodologia
utiliza hipóteses de oferta ilimitada de
fatores de produção, não lida com os
efeitos de substituição nem custos de
oportunidade. Além disso, haja vista
que os multiplicadores estão baseados
numa estrutura de produção vigente da
economia, não capta as mudanças que
a realização do evento esportivo pode
provocar nas relações produtivas. Existem também casos em que o método de
insumo-produto não é capaz de captar
certos vazamentos durante o evento esportivo (e.g. lucros ganhos pelo evento
pode não luir para a economia local,
mas para os acionistas estrangeiros)
(DOMINGUES, BETARELLI JUNIOR E
MAGALhãES, 2011, p. 3).
quando se trata de justiicar a importância da condição conquistada pelo
Brasil com o direito de sediar esses eventos
esportivos, Pires (2011) destaca que são
exaltadas as possibilidades de melhorias
gerais na infraestrutura do país, aeroportos,
mobilidade urbana, hospedagem, serviços,
turismo, etc. Porém, o autor alerta para o
fato de que impactos econômicos diferem-se
de legados econômicos, visto que os
primeiros, são benefícios de curto prazo,
6
ligados a números de empregos em obras
de infraestrutura e na realização dos jogos,
por exemplo, e os segundos, são benefícios
de longo prazo, e que portanto, são difíceis
de serem mensurados.
A Copa das Confederações, conforme já apontado, além de servir de agendamento midiático para a Copa do Mundo de
Futebol, serve também como um referencial
para a FIFA veriicar o andamento das obras,
mais objetivamente, as ligadas à construção
dos estádios. Se em 2010 a projeção de
gastos públicos para com a Copa do Mundo
era de R$ 10,1 Bilhões, segundo apontam
Domingues, Betarelli Junior e Magalhães
(2011) seguindo dados fornecidos pelo
Ministério do Esporte, em 2013 esse gasto
está orçado em cerca de R$ 33 Bilhões
conforme dados divulgados pela própria
Folha de São Paulo6, fazendo referências
a outros dados, também divulgados pelo
Ministério do Esporte. Apesar do atraso de
diversas obras, os estádios de futebol estão
entre as primeiras a serem concluídas, sendo
que várias outras, principalmente as ligadas
à mobilidade urbana, estão ainda mais atrasadas, ocorrendo que muitas, sequer icarão
prontas para o período em que irá ocorrer
a Copa do Mundo.
Domingues, Betarelli Junior e
Magalhães (2011) buscando referência em
diversos autores, aponta que não foram
encontradas correlação na construção de
estádios esportivos e desenvolvimento econômico regional, bem como, em uma análise
da Copa do Mundo 2006 na Alemanha
percebeu-se que as expectativas estavam
sobrevalorizadas e que os custos de infraestrutura e promoção foram signiicativos.
Site Folha de São Paulo: http://folha.com/no1297264 (acesso em 23/09/2013 às 15:20hs)
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013
à parte a Copa das Confederações,
mas também nem tão alheia a ela e ao seu
contexto geral, em 11 de Junho, dias antes
ao início da competição, um movimento
organizado via rede social, intitulado Movimento Passe Livre (MPL), seguindo ao que
já havia acontecido em Porto Alegre e Rio
de Janeiro, com aproximadamente 11 mil
pessoas, se deslocou à Avenida Paulista,
para protestar contra o reajuste da tarifa do
transporte público decretado pelo prefeito
Fernando haddad e pelo governador Geraldo Alckmin dias antes. houve depredação
de patrimônios públicos e privados.
A abordagem relativa à Copa das
Confederações e a própria Copa do Mundo 2014 passaram, portanto, a partir do
ocorrido, a serem pautadas de maneira
diferente, visto que a opinião pública se
mostrou bastante descontente com as exigências feitas pela FIFA, especialmente no
que se refere aos estádios de futebol. Tal
descontentamento se mostrou muito consistente nos protestos e nas manifestações,
que se intensiicaram durante a Copa das
Confederações e que tomaram inclusive,
o entorno de diversos estádios de futebol,
antes e depois da realização dos jogos do
evento. A seguir evidenciamos alguns dados relativos a análise do Jornal Folha de
São Paulo à partir do dia 12 de Junho, dia
que sucedeu as primeiras manifestações
de maior porte em São Paulo e durante
o período que compreendeu a Copa das
Confederações 2013.
MÉTODO
A presente pesquisa caracteriza-se
como descritiva/quantitativa/qualitativa,
tendo como corpus o jornal Folha de São
91
Paulo analisado durante os dias 11 de junho
ao dia 1 de julho em todo o seu exemplar,
categorizando a cobertura da Copa das
Confederações/2013. Foram analisadas 21
edições do jornal, contemplando todos seus
cadernos, considerando como unidade de
signiicados (Bardin, 2011) textos, imagens,
publicidade, editoriais, painéis, matérias,
títulos, linha de apoio e outros canais,
aproximando-se das seguintes categorias:
1) Esporte resultado: representa aspectos relativos a disputa do esporte em si, considerando aspectos
técnicos, táticos e físicos.
2) Esporte economia: representa o esporte enquanto negócio, discutindo investimentos, patrocinadores,
licitações e despesas relativas ao
futebol/ Copa do Mundo e Copa
das Confederações.
3) Esporte infraestrutura: apresenta
aspectos relativos a criação, restauração e aumento de aeroportos, estádios, vias, hotéis, como demanda
de verba, inanciamento, projetos
de reforma ou de construção, etc.
para a Copa das Confederações e
Copa do Mundo de futebol.
4) Questões políticas e sociais: apresenta aspectos relativos a política e
manifestações sociais ocorridas no
Brasil, vinculadas a Copa das Confederações e Copa do Mundo de
Futebol.
5) Publicidade: retrata as publicidades veiculadas nos jornais com motivação da Copa das Confederações
ou Copa do Mundo de Futebol e
desmembra-se nos inanciadores
do evento esportivo e também dos
apoiadores da Folha de São Paulo.
92
Os dados foram apresentados através da estatística descritiva representado por
percentuais e analisados qualitativamente
conforme descrição abaixo.
As peculiaridades relativas à cobertura
midíatica da Copa das Confederações 2013
por conta do Jornal folha de São Paulo
O Movimento Passe Livre (MPL)
havia agendado nova manifestação para
o dia 13 de Junho, dois dias após levarem aproximadamente 11 mil pessoas à
Avenida Paulista. O Jornal Folha de São
Paulo trouxe em seu editorial, do dia 13
de Junho, frente a percepção de que novas
manifestações ocorreriam, uma cobrança
quanto a uma intervenção mais enérgica
por parte do Estado, intitulado “Retomar
a Paulista”. Desse modo, o governo de
São Paulo aciona a tropa de choque da
polícia militar determinando que os manifestantes não cheguem até a Avenida
Paulista. Com o avanço dos manifestantes,
inicia-se confrontos, onde a polícia utiliza-se de disparos de bala de borracha e gás
lacrimogênio. Centenas de pessoas são
gravemente feridas, e entre elas, jornalistas. Sem perceber, estava dado o estopim
para que, através das redes sociais, onde
os acontecimentos foram resigniicados,
diversas manifestações fossem agendadas
país afora em solidariedade ao Movimento
Passe Livre de São Paulo e contrários a
demasiada opressão policial.
Aconteceu também no Brasil. Sem que
ninguém esperasse. Sem líderes. Sem
partidos nem sindicatos em sua organização. Sem apoio da mídia. Espontaneamente. Um grito de indignação contra
o aumento do preço dos transportes
que se difundiu pelas redes sociais e
foi se transformando no projeto de esperança de uma vida melhor, por meio
da ocupação das ruas em manifestações
que reuniram multidões em mais de
350 cidades (CASTELLS, 2013, p. 178).
A Folha de São Paulo, conforme
também apontado por Pires (2011), citando inclusive demais autores nacionais,
apresenta boas análises críticas em relação
às questões políticas e sociais, econômicas
e políticas que se relacionam aos eventos
esportivos e se apresenta bastante imparcial
e rigorosa na exposição dos fatos relativos
a esses eventos.
Inicialmente, frente à eclosão das
manifestações na cidade de São Paulo, por
parte do Movimento Passe Livre, o Jornal
Folha de São Paulo optou por adotar uma
postura um tanto quanto conservadora, condenando a ação dos protestos e solicitando
uma repressão maior por parte da polícia,
em relação ao mesmo, conforme denuncia
o editorial do dia 13 de Junho. Tal postura
se modiicou claramente após os atos de
utilização excessiva de poder coercitivo por
parte da polícia, fato que inclusive resultou
em centenas de pessoas feridas, dentre elas,
jornalistas da própria Folha. No editorial do
dia 14, um dia após clamar por atitudes mais
enérgicas do estado, a Folha declara ser necessário sabermos conviver com protestos,
e que os mesmos toniicam a democracia.
Dois motivos para tal mudança se
apresentam como mais coerentes e possíveis de serem veriicados, sendo que o primeiro inclui o fato de que o próprio jornal
e mais especiicadamente seus jornalistas,
tenham sido vítimas dos abusos policiais
que foram exorbitantes e descabidos. Logo,
não há como se colocar defensor de uma
postura abusiva, que sequer respeita o
direito da cobertura midiática, que muito
93
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013
provavelmente estava lá, para condenar as
manifestações e defender a ação policial,
conforme se evidenciou nas próprias opiniões dos leitores da Folha no dia 13 de
Junho (caderno principal, seção opinião),
que criticavam duramente o fato do Jornal
tratar os manifestos com muita hipocrisia.
Como segundo motivo, podemos
ressaltar o fato social desempenhado pelas
redes, e mais especiicadamente as redes
sociais via internet e também pelas demais
mídias alternativas, que davam ampla
cobertura aos acontecimentos ocorridos,
impossibilitando qualquer mascaramento
por parte de qualquer mídia que assim o
pretendesse. A própria opinião dos leitores
antes citada, embora por vezes também
demonstrada conservadora, em sua maioria
clamava por uma cobertura imparcial, e
que, sobretudo não classiicasse os manifestantes simplesmente como vândalos.
Prontamente, era necessário, a um Jornal
do calibre e importância da Folha de São
Paulo, que preze pela imparcialidade e rigor
na exposição dos fatos, erradicar a postura
reacionária do editorial do dia 13 de Junho,
Esporte Resultado
Categorizações
Questões Políticas e
Sociais
Publicidade
Infraestrutura
e, no dia seguinte, exibir um editorial que
destacasse a importância dos manifestos
frente a um país que se preze, democrático.
De maneira geral, a cobertura
midiática em relação aos megaeventos e
mais especiicadamente em relação à Copa
do Mundo de Futebol FIFA 2014, antes do
início da Copa das Confederações, centrava suas reportagens em questões ligadas
especialmente aos legados econômicos,
questões de infraestrutura, e construção dos
estádios de futebol, sendo que, não diferentemente de outras mídias, com o início da
competição, a Folha de São Paulo passou a
centrar sua atenção e suas reportagens em
relação ao esporte na questão desempenho
e resultados, obviamente em sua maioria
ligados a Seleção Brasileira de Futebol. Conforme aponta Guazelli (2010) atualmente é
indiscutível a identiicação do futebol como
o esporte mais popular do Brasil, e a Seleção
Brasileira de Futebol como a representação
máxima da identidade nacional, logo,
visualiza-se a percepção que as mídias e os
veículos de comunicação têm desses fatos,
e a maneira como se utilizam os mesmos.
70
168
46
60
129
Esporte Economia
94
No gráico acima, sob a análise que
compreendeu o período em que ocorreu a
Copa das Confederações 2013 e também as
manifestações sociais ocorridas a partir do
dia 12 de Junho de 2013, observamos que
168 inferências no Jornal Folha de São Paulo
foram da categoria Esporte Resultado, 129
estiveram atreladas as questões Políticas e
Sociais, 70 ligadas ao Esporte Economia,
60 foram de publicidade e outras 46 fazem
referência a Infraestrutura, evidenciando
a importância dada ao Esporte Resultado
durante o período que compreendeu as
manifestações sociais mais intensas no país,
e a Copa das Confederações.
12,4%
7,2%
6,2%
5,1%
11,3%
12,4%
12,4%
Questões
Políticas e
Sociais
Esporte
Resultado
16,5%
9,3%
7,2%
O gráico acima expõe o percentual das reportagens do Jornal Folha de
São Paulo e o foco das mesmas nos dias
posteriores aos jogos da Seleção Brasileira
de futebol durante a Copa das Confederações. Percebe-se que, posteriormente aos
jogos iniciais da Seleção e o então início
da superação de desconiança que havia em
torno do rendimento da equipe, a cobertura
em relação às questões Políticas e Sociais
se mostrava maior que as relacionadas ao
Esporte Resultado. Porém, a partir do terceiro jogo, a cobertura jornalística começou
a dar ampla ênfase às questões ligadas ao
Ao longo da competição, diversas
foram as reportagens voltadas às questões
políticas e sociais, sendo que, muitas das
reportagens esportivas inclusive, estavam
atreladas ao contexto social. Mas, o que
surpreende é o fato de que o desempenho
em campo por parte da Seleção Brasileira de
Futebol ao longo da competição começou
a receber destaque maior com o avanço às
fases inais e, sobretudo, a oportunidade do
Brasil sagrar-se campeão, em oposição às
questões políticas e sociais.
01/Jul (Final)
27/Jun (Semifinal)
23/Jun (3º Jogo)
20/Jun (2º Jogo)
16/Jun (1º Jogo)
Esporte Resultado, embora as manifestações, continuavam se mostrando extremamente relevantes, sobretudo nos arredores
dos estádios que sediavam os jogos inais da
competição e da Seleção Brasileira.
Portanto, de forma geral, embora
vivenciando um período único na história
do país, ligado a manifestações sociais,
sobretudo conectadas e organizadas via
redes, tanto o Jornal como um todo, quanto
o caderno de esportes obviamente, centraram suas reportagens nas questões ligadas
ao Esporte Resultado.
95
Ano XXV, n° 41, dezembro/2013
social. O próprio campo tem a capacidade
de acelerar e desacelerar o seu funcionamento e o de outras instituições a partir
da mediação simbólica, quando este se vê
ameaçado por qualquer desordem. Essa aceleração ou desaceleração dos campos é fruto das construções discursivas do campo dos
media. Ao tematizar determinado acontecimento, e consequentemente enquadrá-lo,
o campo midiático oferta-se como um “termômetro social”.
Por ser um mediador de disputas
entre os diversos campos sociais, o campo
dos media apresenta-se como sendo de
suma importância, e em função disso, conforme aponta Rodrigues (2000), os demais
campos tornam-se coautores de sua própria
história, muitas vezes regida pela lógica
midiática, que, deriva sentidos aos mais
diversos campos sociais.
Segundo o autor, por esse campo
funcionar de maneira contínua, ele confunde-se até mesmo com o pulsar da vida
168
145
Esporte Resultado
129
Questões Políticas
e Sociais
75
0
Folha de São
Paulo
Caderno de
Esportes
50 100 150 200
Acima identiicamos que, tanto o
Caderno de Esportes quanto o Jornal como
um todo, ofereceram maior cobertura em
relação ao Esporte Resultado em detrimento
das questões Políticas e Sociais durante
o período que compreendeu o início das
maiores manifestações no país e a Copa das
Confederações.
Fato é que, as diversas manifestações Brasil afora, e o número massivo de
pessoas participantes mostrando seu descontentamento frente a diversos problemas
políticos e sociais enfrentados em nosso
país, obrigou as mídias de forma geral,
a modiicarem suas formas habituais de
cobertura relativa a um evento semelhante
à Copa das Confederações, ainda que a
Folha, assim o fez de forma sútil conforme
evidenciaram os dados coletados. Embora
Esteves (1998) deina que, a autonomia do
campo dos media está relacionada à palavra
pública, e que tal campo legitima-se da sua
dupla vertente de informar e ser informada,
e que com base nesse escoramento social é
que se veriica a autonomização e a consolidação do campo dos media, percebemos
que o assunto de maior relevância para o
público leitor, não foi o que recebeu maior
destaque midiático.
Segundo demonstrado pela própria
Folha, durante o período em que ocorreu
a Copa das Confederações, o assunto mais
comentado pelos leitores e de maior interesse durante tais semanas, mensurados
através de mensagens enviadas ao Jornal
e expostas em percentagem no painel do
leitor, foram sempre às manifestações ou
assuntos políticos ligados as mesmas.
96
Percebe-se, ainda, o lado ambíguo
que o próprio futebol possui em relação
aquilo que costumeiramente deine-se como
sendo sua identidade, pois, se por um lado,
tal esporte é denunciado, principalmente
pelos não adeptos do futebol, como sendo
alienante e refúgio para esconder as mazelas
do país, ou como meio político utilizado
para enaltecer nosso ego e amordaçar
nossas desgraças, como nos famosos espetáculos de pão e circo da era romana, por
outro, se mostrou propulsor de reivindicações na maioria dos manifestos que tomaram o país, sendo a entidade FIFA e demais
multinacionais voltadas ao patrocínio da
mesma, extremante criticados, conforme
evidencia a foto do Caderno Cotidiano do
dia de 19 de Junho:
fonte: Folha de São Paulo - dia 19/06/2013.
Conforme aponta a imagem, manifestantes depredam painel ligado ao agendamento da Copa do Mundo de Futebol 2014
no Brasil. Em relação à mídia, o espaço deinido, o viés adotado e a signiicação das reportagens em relação ao assunto é que irão
deinir essa possibilidade de junção entre o
futebol e a conscientização política. Sendo
que, embora se ressaltou durante a Copa
das Confederações diversas reportagens
esportivas atreladas ao contexto social que
moldava o país e as manifestações, também
icou claro, conforme antes já descrito, que
a maioria das reportagens da Folha de São
Paulo, contrariando inclusive a maioria da
opinião dos leitores, se voltou a destacar o
esporte resultado e não as questões políticas
e sociais. Podemos atrelar ainda, não como
maneira de forjar uma identidade ao futebol,
mas calcado nas observações empíricas,
que o desempenho favorável da Seleção
Brasileira em um momento em que não se
esperava isso da mesma contribuiu para
delinear o caminho adotado pela mídia.
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Ano XXV, n° 41, dezembro/2013
50
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30
20
10
0
13
11
12
12
Questões
Políticas e
Sociais
7
10
7
5
Esporte
Resultado
Conforme aponta Sanfelice (2010),
O sujeito tem nas construções simbólicas
realizadas pelo campo midiático uma forma
de tomar conhecimento do mundo e dos
signiicados que são evanescentes. Embora
o campo midiático estivesse ofertando
maior relevância a Copa das Confederações,
isso não diminuiu em si o ímpeto adotado
pelos manifestantes, que se evidenciou
nos arredores dos campos de futebol que
sediaram os jogos inais da competição,
com manifestações fortes, contidas através
da força coercitiva do Estado. O gráico
acima evidencia que, em quatro edições
apenas, durante todo o período da Copa
das Confederações, as reportagens de cunho
social estiveram em maior número que as
reportagens ligadas ao esporte resultado.
COnSIDERAÇõES fInAIS
Se a abordagem midiática inicial
dava conta de expor as vantagens e os legados que seriam decorrentes do fato de o país
sediar tais Megaeventos, foi principalmente a
partir da eclosão das manifestações e da importância que as mesmas adquiriram frente
à nação como um todo, que se modiicou
mais profundamente tal divulgação em relação a esses eventos. Especialmente no que
Dia 21
Dia 20
Dia 16
Dia 15
se refere à Copa do Mundo FIFA, e a clara
intencionalidade da mídia em evidenciar o
tamanho dos gastos públicos, sobretudo os
utilizados na construção de estádios, e no
atraso das obras de infraestrutura das cidades,
as quais seriam de fato, os maiores legados
econômicos deixados no país.
Ainda que, durante o período da
Copa das Confederações, por diversas vezes
as reportagens de cunho esportivo foram
permeadas por questões sociais e políticas,
dessa forma vinculando o assunto futebol
as manifestações populares que eclodiram
no país, também se evidenciou pelo número
de reportagens voltadas ao esporte resultado, que a Folha de São Paulo claramente
preferiu rumar e apontar o foco principal
do Jornal a competição em si, deixando em
segundo plano as manifestações populares,
em oposição a predominância de interesse
da população, fato que se evidenciou
através das mensagens enviadas ao jornal
e expostas no caderno painel do leitor,
inclusive com percentagens ilustradas nas
edições dominicais.
Válido reiterar, conforme bem exposto por Castells (2013), a importância das
redes sociais não só como forma de organização dos movimentos que de lá, eclodiram
para as ruas, mas pela quase imperceptível
imposição e direcionamento que a mesma
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oferece aos meios de mídia mais tradicionais, como no caso em questão, do Jornal,
que já não pode simplesmente obscurecer
fatos, ou ingir que nada está acontecendo.
Como forma de responder sutilmente aos movimentos que ocorreram no país,
onde diversas vezes o nome da instituição
apareceu sendo veiculada há práticas lucrativas e sinônimo de dinheiro público mal
investido, a própria FIFA com um comunicado oicial, anunciou posteriormente que
para a Copa do Mundo no Brasil em 2014,
os ingressos terão os valores mais populares
de toda a história das Copas.
Fica o alerta, portanto, de que os
Megaeventos que se realizarão dentro em
breve no país, também poderão servir de
fagulha para que novamente se acenda a
chama da conscientização política e social
do povo brasileiro, e da necessidade de se
reivindicar em massa, para que as mudanças
efetivamente aconteçam. Pode que, os legados econômicos, antes prometidos, sequer
sejam cumpridos. Pode que o investimento,
antes tido como de boa parcela por parte da
iniciativa privada, seja na verdade, em sua
maioria um investimento público, e que, diferentemente do que a sociedade brasileira
clamava, tais investimentos estejam longe
de serem feitos nas áreas de maior carência
social, e que por sinal, sejam em sua maioria investidos em estádios de futebol. Pode
ainda, que alguns desses estádios, sequer
conseguirão suprir com as despesas que as
estruturas dos mesmos irão requerer em um
período pós Copa, sendo assim designados
elefantes brancos.
Isso tudo não deveria, mas ainda
está dentro do tolerável para um país que
trilha os rumos do modelo neodesenvolvimentista, e conforme já descrito, segundo
Castells (2013), enveredam por um caminho
autodestrutivo com o objetivo de sair da
pobreza. Afora todo esse despautério, se os
Megaeventos no país, suscitarem consigo os
gritos de clamores há muito tempo estancados do povo brasileiro, embora longe de
deixarem um legado econômico, deixarão
no Brasil justamente em sua antítese, na
comprovação de que não fazem cumprir
aquilo que prometem, um legado social,
afinal, aprendemos a sair de casa para,
se não contê-los, pelo menos demonstrar
descontentamento, se não para transformar
efetivamente o Brasil em um país melhor,
ao menos tentar fazê-lo, pois, sofrer calado
frente aos absurdos cometidos pelos nossos
ilustres representantes, temos certeza que
todo o povo brasileiro já está farto, falta o
grito, o estopim e a luta para que futuramente se efetivem mudanças.
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100
DEMOnSTRATIOnS AnD COnfEDERATIOnS CuP COvERAgE On
fOLHA DE SÃO PAuLO
ABSTRACT
The aim of this article is to analyze and interpret the relation of 2013 Confederations Cup
in Brazil with the demonstrations which happened in the country, and the bias adopted
by Folha de São Paulo in the coverage of such events. The newspaper Folha de São
Paulo’s issues from 11 to 30 July, 2013 were analyzed. From the newspaper’s analysis,
we have obtained the following categories: sport result, sport economy, publicity, social
issues and infrastructure. We have reached the conclusion that the newspaper Folha de
São Paulo has published various sports reports connected with the social context which
molded the country and the demonstrations.
Keywords: Demonstrations; Confederations Cup; Football.
Recebido em: outubro/2013
Aprovado em: novembro/2013