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Baril'70 Anos

2018, Baril'70 Anos

Exposição Retrospectiva do pintor Fernando Baril, em homenagem aos 70 anos do artista, com mais de 200 obras em um arco de 50 anos de produção. Entre 26 de junho a 4 de setembro de 2018, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Baril’70 Anos Fernando Baril nasceu em 23 de maio de 1948, em Porto Alegre. Foi criado na capital, mais precisamente no universo judaico local, do Bonfim ao Colégio Israelita; nas férias, Capão da Canoa. Na Travessa Ferreira de Abreu, o menino curioso quis saber o movimento de senhoras na casa da vizinha, Maria Bandeira. Formada pelo Instituto de Belas Artes, ela mantinha um movimentado ateliê, com dezenas de alunas. Ali, o pequeno Fernando resolveu fazer arte e ficou por cerca de 4 anos aprendendo pintura à óleo. Logo em seguida, foi estudar desenho com outro vizinho, Vasco Prado, que atendia a uma clientela de todas as idades. Para a responder à “necessidade” do curso superior, a profissão mais perto da arte era ser arquiteto. Na Unisinos, iniciou Arquitetura em 1971, mas abandonou o curso próximo de diplomar-se. Por volta de 1972-73, ainda cursando arquitetura, surgiu em seu caminho a proposta de ensino livre do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, nos últimos dias da escola nos altos do Mercado Público e os primeiros tempos na sede da Rua Lobo da Costa. Na instituição, fez cursos de xilogravura com Xico Stockinger e pintura com Paulo Porcella. Carr University of Art and Design. Este interesse que vinha desenvolvendo pelo lírico, pelo embate livre e imprevisto com a tela, aos poucos foi transformando-se em um figurativismo ainda impreciso, em razão da sedução das imagens do mundo cosmopolita que passou a deter a atenção e o interesse do artista, por meio desta primeira inf luência viva na América do Norte. As imagens do seu início figurativo brotaram perturbadoras, em uma atmosfera escura, da penumbra ao negro total. Sua pintura era como um tipo de autoanálise, originária nos sonhos, Cruzando Jesus Cristo com Shiva, no inconsciente, também em apoio à 1996. Acrílica s/tela, 150 x 125 cm. psicanálise. Mas não demorou muito e Coleção do artista. houve a inversão: foi Baril quem passou a analisar o mundo, como um crítico mordaz e de humor contundente. Era uma vez um ovo, 2005. Acrílica s/tela, 30 x 30cm. Coleção Rosana Bonamigo. Kiss Me, 2016. Acrílica s/tela, 19 x 17cm. Coleção Rosana Bonamigo. Washington (1990): “Fernando Baril é um cronista do nosso tempo, e a pintura é o seu meio”. Afirmou este crítico que este artista não nos atinge pela excelência de sua pintura, mas “é o que ele pinta que nos atinge primeiro”: “os profundos da consciência, porém também a inconsciência dos últimos anos, as contradições e os absurdos. Mais frequentemente, o que parece ser uma caricatura é, de fato, uma crítica da visão interna dos valores da sociedade contemporânea – ou, talvez seja o caso, a falta de valores”. Caldo italiano, 2007. Acrílica sobre tela . 40 x 40cm. Coleção do artista. Em meados da década de 1970, Baril tomou conhecimento da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, em Madri, Espanha. Preparouse e foi aceito na conceituada Academia, onde foi estudar pintura em 1978, tendo como professor o mestre Manuel López-Villaseñor y López-Cano (1924-1996). Lá, viveu quase dois anos e também participou de exposições. Na volta, tomou forma o artista profissional reconhecido, que começou a expor e a viver de arte, uma proeza já para a época. Também começou a lecionar pintura em seu ateliê, ou mesmo fora, como no Atelier Livre de Porto Alegre (em 1980, na nova sede do CMC) e na Universidade de Caxias do Sul (1981). Baril já despontava então como um nome respeitado na arte no Rio do Grande do Sul, com uma produção abstrata que misturava desenho, pintura e colagem, a qual o crítico Carlos Scarinci chamou de “informalismo renovado”, um “grafismo, resultante da espontaneidade gestual” (Exposição Baril, MARGS, 1980). Logo adiante, o artista interrompeu as aulas do seu ateliê e foi atualizar-se nos Estados Unidos, em Los Angeles, na Otis College of Art and Design, e também Raio X, 2016. Acrílica s/tela, 25 x 20 cm. no Canadá, em Vancouver, na Emily Coleção Rosana Bonamigo. To Xico Stockinger, 2006. Acrílica s/tela, 100 x 50cm. Coleção particular. Ipod Raio X, 2012. Acrílica s/tela, 17 x 46cm. Coleção Carlos Jader Feldman. Em 1988, aos 40 anos, ele retornou aos EUA para morar quatro anos em Nova Iorque, em nada menos que num período efervescente do Village e da arte nas galerias do Soho. A linha de trabalho que o artista levou de Porto Alegre e consolidou em Nova Iorque, em árduo trabalho de ateliê, transformou-se em sua marca distintiva. Baril também encontrou nesta nova expressão as formas onde os seus aprendizados técnicos em pintura melhor puderam ser aplicados, desenvolvidos. Pouco antes do artista trocar a província e embarcar para a Big Apple, Eunice Grumam, crítica de arte do Jornal do Comércio, observou na célebre revista Wonderful que Fernando Baril lembrava Hieronymus Bosch, pois via em ambos uma forma similar de brotar o mundo inconsciente, havendo pontos de contato entre o “inferno boschniano das tentações cristãs e do consumismo representado por Baril” (Wonderful n.º 2, abr. 1988). Mas a visão de cronista, em Baril, talvez seja a mais forte, eis que se trata (desde cerca 1986) de uma posição crítica e consciente da realidade. Em 1990, José Neistein observou este mesmo aspecto ao apresentar o artista, no texto Boca fechada não entre mosca, 1990. do convite de sua individual Acrílica s/tela, 40 x 38cm. Coleção Rosana na Embaixada do Brasil em Bonamigo. Na volta, ele reiniciou suas aulas particulares de pintura (encerradas somente em 2017). Em 1996, na esteira do sucesso, em sua individual do Espaço Net, em Porto Alegre, Baril trouxe para a vernissagem simplesmente uma vaca de verdade. A par do humor, da diversão pura e simples, a situação de uma imensa vaca leiteira a circular por um bairro nobre da capital gaúcha era real como a vida, também absurda. Na ocasião, Luís Fernando Veríssimo apresentou o artista no convite, com esta perspectiva: “Nada é irreal na pintura de Baril. Tudo o que está lá está no mundo, quando não está na sua casa. Antes de inventar, ele faz um inventário. Mas você nunca viu coisas assim. Você nunca viu as coisas assim. Tudo é rigorosamente claro e ao mesmo tempo escrachadamente alegórico, engraçado e perturbador. Ele não é surrealista, não. Surrealista, será que existe?”. Fernando Baril é dos artistas mais ativos desde sempre; pinta em jornada Celular, s/d. Acrílica s/tela, 30 x 40cm. de trabalho como Coleção Carlos Jader Feldman. qualquer trabalhador, Baril’70 anos Chanel, 2003. Acrílica s/tela, 40 x 40cm. Coleção Rosana Bonamigo. Leão, 2015. Acrílica s/tela, 23 x 20cm. Coleção Rosana Bonamigo. da manhã à noite, pois este é o seu ofício. Em 2017, seu trabalho voltou a chamar a atenção. Na Queermuseu, uma de suas pinturas tornou-se praticamente um ícone da exposição, fechada abruptamente pela instituição que a sediou, o Santander Cultural. A obra Cruzando Jesus Cristo com Shiva (1996) agora estará na histórica remontagem da Queermuseu, no Parque Lage, Rio de Janeiro. Esta icônica obra nada mais é do que a crítica ao absurdo consumismo a que se reduziu a nossa cultura ocidental, afinal, a sociedade cristã por excelência. Nem Cristo com inúmeros braços, em referência ao deus hindu Shiva, dá conta de tamanhos absurdos, que tem a imagem do próprio Jesus como vítima da exploração consumista. Nessa perspectiva, segue o cronista Fernando Baril, preocupado em trabalhar, em fazer que sabe fazer. Esta mostra do MARGS é a volta de individual do artista na instituição. A última vez foi há 38 anos (1980). Não é totalmente uma retrospectiva, mas são apresentados trabalhos de 1979 a princípios dos anos 80, exemplificativos de sua fase abstrata. Também presentes as pinturas da fase seguinte, do seu início figurativo, do inconsciente e dos sonhos, de objetos imprecisos, seres ou pessoas em meio a escuridão. A parti daí, presente em grande número, a paulatina tomada do mundo crítico, dos ícones da vida pop, cores em profusão e do invejável domínio técnico. Ao Séc. XXI, Baril apresenta-se com formatos menores e temas mais concisos. Para quem o acompanha nos últimos 30 anos, nos mais recentes percebe-se o quanto as imagens e as situações mostradas pelo artista são “datadas”. Junto com suas cores e o humor particular, ali também estão documentados os momentos de boçalidade do avassalador “avanço” das tecnologias pessoais e no que estão sendo transformadas as pessoas. Baril está nos chamando a atenção para os absurdos, observemos. José Francisco Alves Doutor em História da Arte, membro da AICA e ICOM Penúltimas tentações de Cristo, 1989. Acrílica s/tela, 150 x 125cm. Coleção do artista. Agradecimentos Carlos Jader Feldman Gilberto Perin Marco Abreu Rosana Bonamigo Fotografias Gilberto Perin Design Gráfico José Francisco Alves Apoios Apoio Cultural Sapatos na caixa, 2007. Acrílica s/ tela. 40 x 40cm. Coleção do artista. Patrocínio Realização MUSEU DE ARTE DO RIO GRANDE DO SUL ADO MALAGOLI Praça da Alfândega, s/n.º - Centro Histórico 90010-150 Porto Alegre-RS Brasil https://www.facebook.com/margsmuseu www.margs.rs.gov.br Sapato, 2012. Acrílica s/tela, 25 x 35cm. Coleção Carlos Jader Feldman. ASSOCIE-SE À AAMARGS Associação dos Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul www.margs.rs.gov.br/aamargs/#associe-se-na-aamargs Curador José Francisco Alves 26 de junho, às 19h. Até 4 de setembro de 2018. MARGS