PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 12 •n. 31 • 2022 • ISSN: 2236-2592
LINGUÍSTICA APLICADA E PESQUISA NA ÁREA DE JAPONÊS
NO BRASIL: UM BREVE ESTADO-DA-ARTE
APPLIED LINGUISTICS AND RESEARCH IN THE JAPANESELANGUAGE AREA IN BRAZIL: A BRIEF STATE-OF-THE-ART
Renan Kenji Sales Hayashi 1
RESUMO: O presente artigo trata de uma investigação de cunho exploratório sobre
pesquisas em Linguística Aplicada com foco em estudos sobre língua-cultura japonesa
feitas no Brasil nos últimos dez anos. Interessa-nos, pois, compreender o panorama geral
de estudos formais nesse recorte epistêmico. Para conduzir esta investigação,
empreendemos um levantamento de produções a partir da plataforma CAPES sobre
programas de pós-graduação em Linguística Aplicada. Resultados apontam uma
dificuldade premente em encontrar as produções acadêmicas já defendidas, não só por
uma limitação das ferramentas de busca, bem como escassez de investigações na área.
Dessa forma, um estado-da-arte como este pode lançar luz sobre o panorama nacional de
produções, a fim de melhor compreender como tem sido conduzido o campo aplicado de
pesquisas em língua-cultura japonesa no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Linguística Aplicada. Japonês. Pesquisa Qualitativa.
ABSTRACT: This article is an exploratory investigation of researches in Applied
Linguistics, focusing on studies on Japanese language-culture carried out in Brazil in the
last ten years. Therefore, we are interested in understanding the general panorama of
formal studies in this epistemic frame. To conduct this investigation, we undertook a
survey of productions from the CAPES platform on postgraduate programs in Applied
Linguistics. Results point to a pressing difficulty in finding the academic productions
already published, due to not only a limitation of search tools, but also the scarcity of
investigations in the area. In this way, a state-of-the-art like this can shed light on the
national panorama of productions, in order to better understand how the applied field of
research in Japanese language-culture has been conducted in Brazil.
KEYWORDS: Applied Linguistics; Japanese language; Qualitative research.
1
Professor adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Atua no Departamento de Letras
Estrangeiras Modernas (DELEM – Área de Japonês). Doutor em Linguística Aplicada (UNICAMP).
Mestre em Linguística Aplicada (UnB). E-mail: renanhayashi@ufpr.br.
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Proposição inicial
A questão dos nomes próprios é aqui essencial [...]
é preciso que a assinatura do nome próprio se distinga
e não se apague facilmente do contrato ou da dívida.
Não esqueçamos que Babel nomeia uma luta pela sobrevida
do nome, da língua ou dos lábios
(Derrida, 2002, p. 39)
“O que há em um nome? ”, questiona Shakespeare na famosa peça sobre um casal
enamorado interpelado pela proibição explícita de sua união amorosa. Esta pergunta, por
mais simples que pareça, convoca dos ouvintes/leitores uma pretensa resposta. Nem
sempre objetiva e, muitas vezes, nem tão direta. Afinal, o que pode haver em um nome?
A tentativa de nomear é, antes de tudo, uma forma de inscrever e subscrever um universo
de elementos sob a mesma designação. Identificar para conhecer. Classificar para saber,
argumentam alguns. Contudo, não raro, vê-se que no percurso da construção epistêmica,
a tentativa de nomear trajetos que, à primeira vista, poderia oferecer um auxílio à profusão
de (des)caminhos que o conhecimento pode trilhar, não se mostra tão efetivo quanto
deveria. Derrida (2002), mencionado na epígrafe deste artigo, assevera que a questão da
nomeação é premente, não somente pela capacidade de articular a dimensão dos textos
em tradução – alvo central de sua discussão na obra em questão –, como também na
possibilidade da tradução conferir uma sobrevida à obra traduzida, justamente pela
passagem de uma língua à outra, entre nomes distintos.
Ainda nesse esteio, Derrida (2002, p. 41) pontua que “[...] um nome próprio
pertence e não pertence, digamos à língua, nem mesmo, precisemos agora, ao corpus do
texto a traduzir, do a-traduzir”. Se assim o for, ao voltarmos à questão shakespeariana
que abre esta subseção, nos depararemos com uma dificuldade ainda maior. Poderíamos,
pois, refletir sobre o que há em um nome e igualmente pensar o que não está em um
nome. Mais ainda, o que resiste a esse nome. Sistemática ou despretensiosamente. E assim
o que resiste não apenas à dimensão da conformação e da apreensão, como também ao
espectro da tradução – como sentencia Derrida (2002) – e da identificação de perfis
distintivos em uma profusão de contornos relativamente próximos ou profundamente
distintos. Se estivemos até aqui levantando essa questão do nome no campo da linguagem
foi precisamente porque ela não se mostra desconhecida à Linguística Aplicada
(doravante LA), como campo do saber, tampouco é uma discussão absolutamente nova.
Celani (1992) já havia destacado questões a respeito da origem da LA, nos Estados
Unidos, na década de 1970, às voltas com a dificuldade de nomeação da área justamente
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pela fricção existente com o campo da Linguística. A LA, inicialmente, irrigada pela
disciplina-mãe, tateou o campo da produção de conhecimento durante algumas décadas,
até que, por fim, pudesse erigir suas próprias estruturas sólidas conferindo sustentação
autóctone à área, mediante capilaridades múltiplas e interdisciplinares, como apontaram
a própria Celani (1992) e Moita Lopes (2006), já no início da década de 1990, tanto no
Brasil, quanto em outros países. Não sem discussão, a nomenclatura da área da LA,
sobretudo pela utilização da palavra “aplicada”, apontava para um efeito de sentido um
tanto problemático.
Como se a tarefa central da LA fosse a aplicação da teoria linguística em diversos
campos de natureza prática. Sabe-se, atualmente, por um sem-número de razões e
exemplos, que esse pensamento não corresponde, nem de longe, à agenda de pesquisa da
LA, tampouco ao percurso epistemológico da área. Ainda assim, a questão do nome
reverbera as próprias dificuldades inicias do campo em se reconhecer legítimo e
referendado, o que retoma, ao menos em parte, a própria dificuldade que a Linguística –
de textura mais estruturalista – vivenciou para ser inscrita e chancelada no estatuto de
ciência e de produtora de conhecimento de relevância e validade científica.
Com efeito, a questão do nome parece se apresentar como um óbice premente não
somente na fundação do campo, como em problemáticas contemporâneas a ele ligadas.
Uma dessas dificuldades pode ser observada quando se aprofunda um percurso de análise
das produções acadêmicas relevantes dentro de um determinado recorte de
interesse/pesquisa. A título de exemplificação, pensemos em uma pesquisa que trabalhe
com produções fílmicas de animações japonesas contemporâneas – chamadas animés. O
interesse, nesse caso, pode ser em investigar o uso de um registro informal de língua
japonesa e sua respectiva tradução para o português do Brasil. Pensemos, ainda, que essa
mesma pesquisa deseje fazer um cotejo dessa tradução entre a versão oficial e reconhecida
por um estúdio de animação e a legendagem autônoma e oficiosa de entusiastas da línguacultura japonesa, a qual circula livremente na internet.
À vista disso, para levar a cabo essa pesquisa, será preciso mobilizar a partir da
LA, saberes relativos à tradução e legendagem, leitura e recepção, suporte e mídia digital,
coloquialismos, entre tantos outros. Se há pouco destacamos a expressão a partir da LA
foi precisamente para aludir ao fato de que a LA, pela própria natureza deste campo do
saber, se estrutura como um mecanismo de múltiplas capilaridades, por meio das quais
poderá dialogar e pôr em movimento um sem-número de conhecimentos de outras
disciplinas, como estas poucas – mas não somente – mencionadas acima no exemplo.
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Ocorre que, pensando especificamente no campo de estudos sobre língua-cultura
japonesa no Brasil, de forma muito sintomática, esbarramos uma vez mais na questão do
nome, ou pelo menos da nomenclatura. Explico. Analisando as produções relevantes
sobre os estudos de língua-cultura japonesa no Brasil, vê-se que, grande parte dessas
pesquisas, diretamente ou indiretamente, dialoga francamente com os pressupostos da LA
como campo do saber. Mais que isso, há um número bastante expressivo de pesquisas de
pós-graduação publicadas que participam ativamente da agenda de pesquisa da LA no
Brasil. Contudo, embora estejam contribuindo ativamente para esta agenda de pesquisa,
curiosamente, nestas mesmas pesquisas, a menção à LA não é feita. Dito de outro modo,
o nome – tão problematizado nesta introdução – é deixado de fora. Como no exemplo da
pesquisa em tradução mencionado acima, a LA se mostra como a disciplina sustentadora
e problematizadora, mas não mencionada no desenho formal da pesquisa.
Seria esse um preciosismo de nomenclatura não fossem os efeitos diretos disso na
circulação do conhecimento e o impacto direto na recepção pelo público que consome
esse tipo de produção. Em iniciativas de levantamento, por exemplo, a respeito da
produção em LA de material sobre língua-cultura japonesa no Brasil, no nível da pósgraduação, as entradas nos repositórios das universidades federais e estaduais brasileiras
é relativamente baixo, como veremos mais à frente. Se fizermos essa mesma pesquisa
para outras línguas estrangeiras, como o inglês ou o francês, obteremos invariavelmente
uma gama mais expressiva de produções, bem como uma catalogação mais objetiva e
detalhada. É digno de nota que sabemos que, proporcionalmente, o volume de estudos
relacionados à língua-cultura dos países anglófonos ou dos francófonos é bem maior.
Todavia, a questão principal é que, olhando especificamente para o viés da língua-cultura
japonesa, muito se produz a respeito, porém sem necessariamente visibilizar o campo de
saber correspondente. E isso pode ser constatado quando deixa-se de analisar somente
aquelas produções notadamente inscritas na LA e analisa-se todas aquelas que foram
produzidas em uma amostra especifica de tempo, em nosso caso, uma década, de 2012 a
2022.
Objetivamos, portanto, propor um estudo sobre as produções de pesquisa em nível
de pós-graduação – mestrado e doutorado especificamente na área de LA. Dessa forma,
empreendemos um percurso de levantamento e análise de todos os programas de pósgraduação em LA no Brasil. A partir desse levantamento, destacamos dissertações e teses
que tratassem de língua-cultura japonesa no Brasil.
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Para manter o foco de análise, elegemos a seguinte pergunta de pesquisa: quais
foram as temáticas de pesquisa mais recorrentes em produções acadêmicas relevantes,
em LA, na área de língua-cultura japonesa no Brasil? Propusemos este arranjo inicial, a
fim de iniciar a discussão a respeito da área de estudos japoneses no Brasil, mais
especificamente, a partir da LA. Destarte, para levar a cabo essa proposta de investigação,
iniciamos com uma consulta ao site institucional da CAPES, buscando os programas de
pós-graduação em LA. A pesquisa resultou em quatro programas de pós-graduação2 com
níveis de mestrado e doutorado – UNICAMP, UNISINOS, UECE e PUC/SP –, dois com
apenas nível de mestrado – UnB e UNITAU – e um com mestrado e doutorado em LA
interdisciplinar – UFRJ. Além disso, buscamos dentre todos os programas de pósgraduação em Estudos da Linguagem/Letras/Linguística das 69 (sessenta e nove)
universidades federais aqueles que tivessem área de concentração em LA. Esse
procedimento será melhor explicitado na subseção de procedimentos metodológicos da
presente investigação.
À vista disso, para conduzir essa pesquisa, fizemos uma estruturação que se inicia
com uma problematização direta dos dados coletados. Em seguida, destacamos os
procedimentos metodológicos que nortearam este artigo. Posteriormente, apresentamos
nossos resultados de análise que foram identificados e interpretados com base não só na
proposição teórica desta investigação, como também no fio metodológico adotado. Por
fim, encaminhamos a discussão para horizontes de pesquisa que possam auxiliar a
organização dos estudos e possíveis encaminhamentos para questões levantadas por
ocasião deste manuscrito.
2
Aqui um ponto de atenção importante. Nesse primeiro momento, buscamos os programas de pósgraduação cuja certificação fosse marcadamente em LA. Excetuamos, portanto, aqueles programas de pósgraduação em Linguística, com desdobramento em Linguística Aplicada, para efeito de sistematização do
estudo, justamente por eles subordinarem a LA – como área aplicada – aos estudos teóricos, no caso a
Linguística. Nesses casos, uma vez mais, a questão da nomenclatura se mostrou um óbice que dificultou
traçar um panorama claro e objetivo de produções de pesquisas de língua-cultura japonesa em LA. Por isso,
para efeito de análise transversal, em uma segunda parte do estudo, foi preciso levar em conta também as
áreas de concentração e linhas de pesquisa que contemplavam a LA inscrita nas áreas da
Linguística/Letras/Estudos Linguísticos.
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Percurso de pesquisa
Nosso interesse em estudar as diversas produções, em nível de pós-graduação,
nasce, em parte, da curiosidade em conhecer o que nossos colegas pesquisadores da LA
estão produzindo de conhecimento relevante na área de língua-cultura japonesa no Brasil.
Além disso, existe a premente necessidade de recomendar estudos da área para alunos da
graduação e pós-graduação, que estão em início de percurso, a fim de obterem boas
práticas de investigação. Ocorre que essa iniciativa esbarra na sintomática dificuldade em
encontrar tais pesquisas, além de uma certa pulverização das informações que poderiam
auxiliar em uma pesquisa exploratória. Explico.
Notas metodológicas
O presente estudo iniciou fazendo uma consulta à plataforma da CAPES, com os
programas de pós-graduação registrados e classificados oficialmente. Conforme já
mencionado, foram encontrados seis programas de pós-graduação dedicados à
investigação na área de LA. Contudo, esse tipo de filtro presente na plataforma CAPES
não é acurado, como veremos a seguir. Por mais que ele elenque quais programas estão
sedimentados na área de LA, a mesma plataforma eclipsa aqueles cuja proposta esteja na
área de Linguística ou Estudos Linguísticos, com área de concentração em LA. Dito de
outra forma, a pesquisa apenas pela plataforma CAPES oculta programas de pósgraduação em LA, alguns deles de excelência, como o da UFMG – sob o frio rótulo de
pós-graduação em Estudos Linguísticos ou Estudos da Linguagem.
Com efeito, para obtermos dados mais confiáveis foi necessário empreender uma
pesquisa exploratória manual que investigasse cada um dos programas na área de
Letras/Linguística/Estudos da Linguagem. Tarefa nada fácil, uma vez que foi preciso
acessar a plataforma institucional de cada universidade, procurar pela aba da pósgraduação, atentar-se ao programa de nosso interesse e fazer a classificação a partir das
informações obtidas. Sobre isso, um ponto de destaque, que merece bastante atenção, é o
fato de que a Associação de Linguística Aplicada do Brasil – ALAB – não dispõe
oficialmente de um canal que informe quais são os programas de LA presentes nas
universidades brasileiras, tampouco os profissionais e pesquisadores envolvidos nesse
campo do saber. Por mais que não represente uma entidade de classe, é espantoso que
uma associação de cunho nacional não tenha organizado, mesmo para seus associados, os
dados de pesquisas publicadas, linhas de pesquisa, universidades e professores15
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pesquisadores da área. Nesse sentido, aquela problemática que aventamos na introdução
deste artigo, o que há em um nome, ganha proporção maior justamente porque a uma
associação que, dentre outras atribuições, busca organizar e pôr em evidência o nome da
área, não o faz, deixando pulverizados e dispersos dados relativos às variadas produções
com o lastro da LA. Ainda assim, envidamos esforços para encontrar nas universidades
brasileiras, programas de pós-graduação que tivessem área do conhecimento em LA, para,
em havendo, investigar as produções dos discentes no tocante a estudos de língua-cultura
japonesa no Brasil. Levando-se em consideração a quantidade elevada de instituições
públicas – federais e estaduais – optamos por investigar somente no escopo das
universidades federais, resultando, mesmo assim, em 69 universidades para pesquisa e
catalogação.
Dados gerados
Destacamos que, tendo em vista o escopo deste estudo, além das universidades
estaduais, deixamos de fora os programas cuja proposta fosse do tipo mestrado
profissional, uma vez que o propósito desse tipo de pós-graduação, no mais das vezes,
não dialoga plenamente com o encaminhamento da pesquisa do tipo stricto sensu. De tal
forma, de um quadro geral de investigação a respeito da presente situação dos programas
de pós-graduação em LA, temos as seguintes sistematizações:
Quadro 1: Programas de Pós-Graduação em LA no Brasil em 2022
UF
Sigla
Nome do programa
Código
SP
UNICAMP
Linguística Aplicada
33003017043P7
5
5
SP
UNITAU
Linguística Aplicada
33021015007P1
4
-
SP
PUC-SP
33005010023P2
5
5
DF
UnB
53001010078P2
4
-
RJ
UFRJ
31001017085P3
4
4
CE
UECE
Linguística Aplicada
22003010008P6
5
5
Linguística Aplicada
42007011013P1
5
5
RS UNISINOS
Linguística Aplicada e
Estudos da Linguagem
Linguística Aplicada
Interdisciplinar
Linguística Aplicada
Nota/Mestrado Nota/Doutorado
Fonte: site oficial da CAPES – sistematização nossa
Imperioso ressaltar que, no momento de redação deste artigo, o programa de pósgraduação em LA da UNISINOS está em risco de fechamento, tendo em vista decisões
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relacionadas à governança da instituição de vínculo, que é privada. Portanto, é possível
que este quadro se altere, quando da resolução por encerrar ou não as atividades deste
programa, o que causa pesar na comunidade acadêmica qualquer que seja o programa de
pós-graduação que encerre sua vida útil, alterando significativamente a dimensão
acadêmica dos colaboradores, professores-pesquisadores e discentes envolvidos. Nesse
sentido, temos neste quadro uma mirada parcial das pesquisas produzidas em LA, no
recorte da pós-graduação. Contudo, conforme mencionado, foi necessário empreender
uma pesquisa individualizada em cada universidade federal, tendo em vista que a
ferramenta de busca da CAPES não está calibrada para atingir as subcategorias de área
de concentração e linhas de pesquisa. À vista disso, após laboriosa pesquisa e
sistematização dos dados coletados, temos a seguinte disposição:
Quadro 2: Áreas de Concentração e Linhas de Pesquisa em LA de universidades federais brasileiras em
20223
SIGLA
Programa
Área de
Concentração
UFAL
Linguística e
Literatura
Estudos
Linguísticos
Linguística
Aplicada e
Processos TextualEnunciativos
Discurso:
Sujeito,
História e
Ideologia
UFBA
Língua e
Cultura
Linguagem e
Interação
Linguagem,
Cognição e
Discurso
Linguística
Aplicada
Linguística
Linguística
Aquisição,
Desenvolvimento e
Processamento da
Linguagem
Descrição e
Análise
Linguística
Letras
Linguística e
Transculturalidade
Linguística
Aplicada e
Estudos de
Fronteira
Estudos de
língua(gens) e
discurso
Linguística
Aplicada
Ensino/
Aprendizagem de
Línguas
Estrangeiras
UFC
UFGD
Estudos
Linguísticos
UFMG
UFRGS
Letras
Estudos da
Linguagem
Linhas de Pesquisa
Linguística
Aplicada
Estudos da
Tradução
Análises
textuais,
discursivas e
enunciativas
Teoria e Análise
Linguística
Aquisição de
Línguas,
Tradução e
Acessibilidade
Práticas
Discursivas e
Estratégias de
Textualização
-
-
Linguística
Aplicada
-
-
Linguagem e
Tecnologia
Plurilinguismo,
Políticas
Linguísticas e
Educação
Bilíngue
Psicolinguística
Sociolinguística
3
As universidades federais UFJ, UFR, UFSB, UFRB, UFOB, UFCA, UNIVASF, UFAPE, UFDPar,
UFERSA, UFRA, UNIFAL-MG, UNIFEI, UFABC, UFRRJ, UFVJM, UFCSPA não possuem programas
de pós-graduação na área de Letras/Linguística/Estudos Linguísticos/Estudos da Linguagem. Não foi
possível investigar dados da UNIFESSPA, uma vez que o sistema estava inacessível durante todo o
processo de tessitura do presente artigo.
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Ensino e
Aprendizagem
de Língua
Estrangeira/
Segunda Língua
Libras
Linguística
Linguística
Aplicada
Estudos do Campo
Discursivo
Ensino e
Aprendizagem
de Língua
Portuguesa
UFT
Letras
Ensino e Formação
de Professores de
Línguas e de
Literatura
Teoria, análise
linguística e
diversidade cultural
em contexto de
formação
Ensino de
literatura e
letramento
literário
Práticas
discursivas em
contextos de
formação
Linguística
aplicada a
contextos de
formação
UFU
Estudos
Linguísticos
Estudos em
Linguística e
Linguística
Aplicada
Teoria, descrição e
análise linguística
Linguagem,
sujeito e
discurso
Linguagem,
ensino e
sociedade
-
UFSC
Fonte: Sistematização nossa.
Do exposto, podemos depreender que do universo inicial de apenas sete
universidades envolvidas com pesquisa em LA, pudemos ampliar o horizonte de análise
a partir de uma pesquisa mais detalhada a respeito dos programas de pós-graduação,
sobretudo, observando as áreas de concentração e as linhas de pesquisa. Uma vez mais, é
somente a partir da nomeação da área, frente a outros tantos campos do saber, que
podemos rastrear as pesquisas e obter informações e dados mais acurados acerca do que
se investiga a partir desta perspectiva epistemológica. Aqui, é imperioso destacar que o
mecanismo de busca inicial, qual seja, do site institucional da CAPES, deixou de fora, na
pesquisa de programas de pós em LA, ao menos três universidades que estão diretamente
envolvidas com a agenda de investigação aplicada – qual seja, UFMG, UFSC e UFU -,
duas delas de reconhecida qualidade e produção de pesquisas de ponta. A UFMG, por
exemplo, tem nota 7 na avaliação quadrienal da CAPES de 2017, havia ficado invisível
na busca inicial, o que revela uma área cinza não incluída mesmo no veículo responsável
por sua validação e classificação. Em outras palavras, um nome que não carrega os seus.
Uma vez feita essa investigação, partimos para análise dos bancos de teses e
dissertações que tais programas envolvidos com a LA produziram nos últimos dez anos,
crivo temporal que adotamos no presente estudo. A pesquisa revelou uma tendência digna
de nota e que já havia sido preconizada por autores da área. Uma mudança de paradigma
tem colocado na agenda de pesquisa questões mais centradas na realidade brasileira, com
foco em uma pesquisa engajada e socialmente relevante. Moita Lopes (2006, p. 85) já
havia apontado que “[...] [fazer] pesquisa é um modo de construir a vida social ao tentar
entendê-la”. Assim, muitos estudos circunscritos à LA têm adentrado na seara da tentativa
de compreensão da vida contemporânea, mesclando teorias e conhecimentos relacionados
18
PERcursos Linguísticos • Vitória (ES) •v. 12 •n. 31 • 2022 • ISSN: 2236-2592
à teoria queer e a sexualidade não-conformativa, pesquisa em teoria feminista e,
sobretudo, temos visto com entusiasmo uma virada de chave em direção à pesquisa de
textura notadamente antirracista e decolonial. Pautas de pesquisa que o próprio Moita
Lopes (2006) já havia chamado atenção. Ocorre que nessa análise preliminar de 2012 a
2022, as pesquisas também têm assumido uma faceta muito mais transgressiva
(PENNYCOOK, 2006), articulando, sem o rubor inicial da LA ainda ligada à Linguística,
propostas de análise muito mais dinâmicas e descoladas da ideia engessada de disciplina
ou teoria circunscrita. Olhando especificamente para os estudos da área de japonês
espalhados pelas universidades mencionadas nos quadros 1 e 2, evidenciamos uma
pluralidade de articulações teórico-metodológicas que só é possível precisamente por
conta da natureza in/transdisciplinar da LA. Se principiarmos pelas teses de doutorado
defendidas na área de LA, entre 2012 e 2022, teremos, de fato, uma amostra pouco
expressiva. Foram apenas 04 teses produzidas, assim distribuídas:
Quadro 3: Teses defendidas em LA – 2012-2022
Nível
Instituição
Referência
Campos do saber articulados com a LA
Doutorado
UNICAMP
Hayashi (2020)
Psicanálise
Análise do Discurso
Filosofia
Doutorado
UNICAMP
Almeida (2018)
Animação
Multiletramentos
Cultura Popular
Doutorado
UFMG
Sekino (2015)
Tradução
Cognição
Doutorado
PUC-SP
Ninomiya (2012)
Tradução
Linguística Sistêmico-
Abordagem
Processual
Gramática
Funcional
Fonte: Sistematização nossa.
Do quadro acima, vê-se como teses que pertencem a um mesmo âmbito
epistemológico podem se delinear de diferentes formas. Em Sekino (2015), temos uma
tese que aborda o processo tradutório, sobretudo na fase da pós-edição, do par linguístico
português-japonês. Partindo da teoria da relevância, a pesquisadora traz à baila
problematizações a respeito da competência tradutória e do esforço cognitivo no afazer
de passagem entre línguas. Já em Ninomiya (2012), ainda no campo da tradução, assevera
a estrutura temática, a partir dos estudos da Linguística Sistêmico-Funcional, como uma
das tônicas para compreender o processo tradutório de textos literários no par japonês19
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português. Ainda que abordem o mesmo campo, Sekino (2015) e Ninomiya (2012)
puderam traçar caminhos diferentes justamente, conforme aponta Pennycook (2006, p.
75), por conta do não “[...] estabelecimento de uma epistemologia fixa e normativa, mas
sim com uma procura de novos enquadramentos de pensamento e conduta”. No mesmo
esteio, vê-se Hayashi (2020) e Almeida (2018), defendendo teses pelo mesmo programa
de pós-graduação em LA com aportes teórico-metodológicos bem distintos. Tal distinção,
dentro da LA, fica ainda mais patente se observarmos as dissertações de mestrado
defendidas pelos programas dos quadros 1 e 2. Para esta sistematização, foram levados
em consideração as fichas de indexação presentes nas versões finais das dissertações
depositadas nos repositórios institucionais, bem como as palavras-chave que constavam
nos resumos e abstracts dos respectivos arquivos disponíveis. À vista disso, entre 2012 e
2022, foram contabilizadas 16 (dezesseis) dissertações defendidas em programas de pósgraduação em LA, com as seguintes articulações:
Quadro 4: Dissertações defendidas em LA – 2012-2022
Nível
Instituição
Referência
Campos do saber articulados com a LA
Mestrado
PUC-SP
Barboza (2021)
Análise de
Discurso
Francesa
Interdiscurso
Cenografia
Mestrado
UFRJ
Guedes (2020)
Tradução
Jogos
Eletrônicos
Visual Novels
Mestrado
UnB
Oliveira (2019)
Ideogramas
Vocabulário
Mestrado
UnB
Silva (2019)4
Mestrado
UNICAMP
Souza (2018)
Fan Fiction
Sem
Informação
Gêneros
Textuais
Mestrado
UnB
Nishihata (2017)
Crenças
Sem
Informação
Análise do
discurso
Baixo
aproveitamento
Mestrado
UFSC
Yamamoto (2015)
Sintaxe
Mestrado
UnB
Hayashi (2015)
Crenças
Mestrado
UnB
Yonaha (2015)
Crenças
Mestrado
UnB
Umetsu (2015)5
Sem
Informação
Mestrado
UECE
Tavares (2014)
Interlíngua
Mestrado
UECE
Holanda (2013)
Material
Didático
Jogos
Eletrônicos
Sem
Informação
Autonomia
Teoria
Gerativa
Materiais
didáticos
Português
Lingua de
Herança
Sem
Informação
Análise de
Erros
Abordagem
Comunicativa
Clivagem
Gêneros
Textuais
Imigração
Sem
Informação
Partícula wa e
ga
Livro didático
4
Essa dissertação consta como defendida, mas não há acesso a dissertação em sua versão final no
repositório institucional da Universidade de Brasília – UnB. Portanto, não há como apontar a indexação.
5
Idem (ver nota de rodapé nº4).
20
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Mestrado
UECE
Marques (2013)
Tradução
Competência
Tradutória
Mangá
Mestrado
UnB
Nascimento (2013)
Crenças
Aquisição
Aprendizagem
Mestrado
UnB
Oliveira (2013)
Crenças
Estratégias de
aprendizagem
Ideogramas
Mestrado
UnB
Pinheiro (2013)
Jogos Teatrais
Identidade
Histórias
antigas
japonesas
Fonte: sistematização nossa.
Nesse sentido, se organizássemos os campos do saber mobilizados juntos à LA
nessas dissertações mencionadas, em que a mesma dissertação – por conta da textura
in/transdisciplinar – pode aparecer contabilizada mais de uma vez, teríamos um esboço
delineado da seguinte forma:
Quadro 5: Ilustração das temáticas envolvidas nas
pesquisas em LA na área de japonês
Dissertações defendidas entre 2012-2022
Crenças
Tradução
Gramática/Vocabulário
Análise do Discurso
Materiais/Livros Didáticos
Mangá
Jogos
Gêneros textuais
Autonomia
Sintaxe
Aquisição/Aprendizagem
Teatro
Fonte: sistematização nossa.
Dos quadros 4 e 5 anteriores, é possível depreender uma tendência importante
acerca das pesquisas em LA na área de japonês. Um vulto de investigações tem trabalhado
muito detidamente com crenças de ensino-aprendizagem, além de material didático,
tradução e perspectivas de aquisição de língua japonesa, problematizando a gramática e
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o vocabulário. Nesse ponto, destacamos que essa proposição de pesquisa, conduzidas nas
respectivas universidades, têm encontrado cada vez mais respaldo em sua condução, não
só pela seriedade na construção do conhecimento, mas, sobretudo, pela observância de
aspectos de ética em pesquisa com seres humanos.
Com a virada na agenda da área de LA, o sujeito inscrito no processo passou a
ficar cada vez mais em evidência, conforme já havia apontado Leffa (2006), Zozzoli
(2006) e Celani (2005). Contudo, essa centralidade na pesquisa deve ser acompanhada de
procedimentos éticos e comprometidos com a qualidade dos dados, bem como com
produção do conhecimento. Todavia, antes de tudo, devem ser pautados no esforço de
evitar danos e prejuízos aos participantes de pesquisa. À vista disso, por mais que se
observe uma pluralidade de temáticas de pesquisa, o que se pode apontar como ponto em
comum entre a maioria delas – consoante com a própria preocupação da LA – é o destaque
com procedimentos de textura ética. Nishihata (2017), Hayashi (2015), Yonaha (2015),
Nascimento (2013) e Oliveira (2013), por exemplo, tiveram em suas pesquisas
participantes que se dispuseram a contribuir com os respectivos estudos mediante um
rigoroso e elaborado protocolo de pesquisa qualitativa, lançando mão de instrumentos de
geração de dados que garantiam a salvaguarda da identidade dos participantes, ao tempo
em que estavam amparados pelo termo de consentimento livre e esclarecido.
Barboza (2021), por outro lado, empreende uma pesquisa em que a centralidade
do papel de gênero no Japão é absolutamente repensada e problematizada a partir de um
fenômeno de proporção considerável ocorrido em uma rede social. Nessa ocasião,
representações de feminino e papel social são trazidas à baila e questionadas pela
linguagem, a partir de um prisma da Análise do Discurso que contempla justamente essa
agenda de pesquisa da qual falava Moita Lopes (2006) e Pennycook (2006), tudo isso
com uma preocupação no sujeito implicado nas questões analisadas.
Se, neste ponto, trouxemos este destaque às considerações éticas em pesquisa com
seres humanos foi precisamente por compreender esse encaminhamento como parte
irredutível da pesquisa em LA, qualquer que seja a temática ou articulação. Paiva (2005,
pp. 48-49) assevera as boas práticas de pesquisa em investigações em LA, a saber: a)
privacidade e confiabilidade; b) segurança; c) integridade da pesquisa; e d) rigor na
metodologia. Da mesma forma, Celani (2005) considera como imperativo nas pesquisas
qualitativas em LA, como estas organizadas no quadro 4, encaminhamentos éticos e
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procedimentos baseados em sólidos códigos de conduta, a fim de assegurar não só a
validade da pesquisa, como também a construção cooperativa do conhecimento, com
consequente disseminação dos frutos obtidos das oportunidades de interação. Com efeito,
independentemente dos campos do saber articulados com a LA, o que se depreende em
comum é prática de investigação sempre pautada da dimensão ética de pesquisa com seres
humanos, a partir do ideário central articulado pela LA como uma área socialmente
comprometida e engajada.
À vista disso, mesmo as pesquisas, como de Guedes (2019), Oliveira (2019),
Souza (2018), Holanda (2013) e Marques (2013), que não tratam efetivamente de um
estudo de caso com seres humanos, ou uma etnografia em campo com um determinado
grupo social, mesmo nessas, conforme pode ser evidenciado na leitura dos textos,
perpassam as boas práticas em pesquisa em LA, ainda que lidem com uma materialidade
mais objetiva, como jogos eletrônicos, textos didáticos ou a escrita de fãs na internet.
Nesse sentido, as pesquisas em LA na área de japonês têm colocado em cena não
só a natureza indisciplinar da LA, como também a parte indissociável da ética em
pesquisa. É digno de nota, contudo, que nosso estado-da-arte provisório se volta
exclusivamente para pesquisa da área de japonês circunscritas à LA. O que não quer dizer
que entre 2012 e 2022 somente estas pesquisas tenham sido produzidas. Cumpre lembrar
que a Universidade de São Paulo (USP), possui desde 1996, o programa de pós-graduação
em Língua, Literatura e Cultura Japonesa, no nível do mestrado. Com três linhas de
pesquisa, a saber: a) Culturas em contatos: inserção e decodificação; b) Texto literário:
tradução e estudos críticos; e c) Teoria e análise linguística em suas dimensões diacrônica
e sincrônica, este curso de pós-graduação publica, em volume e qualidade, as pesquisas
consideradas referências não só no Brasil, como também na América Latina, recebendo
inclusive professores visitantes de outros países, como EUA, além do próprio Japão.
A título de ilustração, se considerarmos apenas metade do tempo de análise que
adotamos para este artigo, ou seja cinco anos, de 2012 a 2016, a produção da pósgraduação em Língua, Literatura e Cultura Japonesa poderia ser medida pela quantidade
de egressos, que precisam defender uma dissertação de metrado. Assim sendo, temos a
seguinte distribuição por ano:
Quadro 6: Números de dissertações defendidas na Pós-Japonês (USP)
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Número de egressos da Pós-Graduação em Japonês (USP)6
2012
2013
2014
2015
2016
Total
04
04
07
06
12
33
Fonte: sistematização nossa.
Do quadro acima, é possível depreender o vulto expressivo de pesquisas
produzidas em língua, literatura e cultura japonesa. Embora não sejam declaradamente
em LA – alvo central de investigação deste artigo – estas pesquisas contribuem,
sobremaneira, para a criação e a manutenção de uma episteme local e amparada de
estudos sobre a língua-cultura japonesa no Brasil. Também é imperioso recordar que
fizemos um recorte de análise enfatizando somente as universidades federais, tendo em
vista o número alto de unidades espalhadas pelo país. Contudo, atualmente no Brasil,
temos centros de estudos e de formação de professores e pesquisadores de língua japonesa
em vários estados e, alguns deles, em universidades estaduais. Com efeito, atualmente
temos cursos de graduação – licenciatura e bacharelado – na área de japonês na USP,
UFRJ, UFRGS, UNESP – Assis, UnB, UERJ, UFPR e UFAM. Cada unidade, à sua
maneira, contribui com estudos na área de japonês, embora mais detidos na área da
graduação.
À vista disso, procuramos investigar, pelo prisma da LA, quais foram as principais
investigações empreendidas no espaço temporal de 2012-2022, a fim de obtermos um
quadro geral, ou um estado-da-arte provisório, das pesquisas e das tendências mais
recorrentes de produção de conhecimento. Este quadro não se pretende inconteste ou
mesmo permanente, uma vez que as pesquisas estão em constante elaboração e a
produção de novos saberes depende da alternância de gerações e constante renovação.
Esse estudo buscou traçar um panorama, como um mapa provisório, do que já foi feito,
com vistas a compreender como os últimos dez anos foram para a LA e a área de japonês.
6
Fonte: < https://ppgllcj.fflch.usp.br/egressos/quadro>, acesso em julho de 2022.
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Alinhavos finais
Se retornarmos à pergunta que conduziu este estudo, qual seja, quais foram as
temáticas de pesquisa mais recorrentes em produções acadêmicas relevantes, em LA, na
área de língua-cultura japonesa no Brasil?, veremos a partir das sistematizações feitas,
tanto de teses de doutorado, quanto de dissertações de mestrado, como a área de LA no
tocante à língua-cultura japonesa tem potencial de expansão. A área de tradução desponta
como um terreno fértil, explorado tanto pelo aspecto cognitivo, quanto pelo aspecto
literário, como mostram Sekino (2015), Ninomiya (2012) e Marques (2013).
Uma vertente que tem bastante expressividade é a pesquisa em crenças, conforme
apontam os estudos de Nishihata (2017), Hayashi (2015), Nascimento (2013) e Oliveira
(2013). O que chama atenção, neste ponto é que, embora tenham recortes relativamente
diferentes, as dissertações de mestrado produzidas em LA entre 2012-2022 chamam
atenção pelo rigor com os protocolos de pesquisa de qualitativa em ciências humanas.
Ponto que coaduna em muito com a própria tendência asseverada por autores da área da
LA, como Celani (2005) e Paiva (2005). Nesse sentido, as pesquisas aqui elencadas
convergem em dois pontos com as tendências observadas na literatura mais teórica: 1)
uma maior preocupação com saberes locais, explorando questões a partir de uma textura
muito coesa, mas sem perder o lastro da in/interdisciplinaridade da LA; 2) a inserção do
sujeito de pesquisa na centralidade do processo pressupõe um cuidado com as boas
práticas de produção de conhecimento, o que pode ser identificado nas obras analisadas
neste estudo.
De tal forma, deste estado-da-arte provisório, extraímos, apesar da pouca amostra,
uma possibilidade de leitura que dialoga com franqueza com as propostas mais recentes
relacionadas à agenda de pesquisa em LA, em que saberes locais, fortalecimentos de
sujeitos e proposições de leituras mais críticas de casos específicos têm obtido cada vez
mais espaço nos liames das pesquisas nos campos do ensino-aprendizado, aquisição de
L2, escolha de material didático e abordagem de ensino. Vislumbramos um longo
caminho e múltiplas possibilidades de articulação a partir da LA. Esperamos refazer, em
breve, este estado-da-arte e contar com mais pesquisas na área de japonês com o nome e
sobrenome da LA feita no Brasil.
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