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Buscando o Simples Pensamentos fragmentados a partir de vivências em comunidades terapêuticas para dependentes químicos Fernando Gomes Peixoto “Não faz muito tempo, vocês estavam atolados naquela velha vida podre de pecado. Haviam permitido que o mundo, que não sabe nada a respeito da vida, dissesse a vocês como viver. Enchiam os pulmões com a fumaça da incredulidade e exalavam desobediência. Todos nós já nos comportamos assim, fazendo o que queríamos, a nossa própria vontade; estávamos todos no mesmo barco. Graças a Deus, ele não perdeu a paciência nem nos exterminou. Em vez disso, com sua imensa misericórdia e seu amor extravagante, ele nos abraçou. Tirou-nos da nossa vida presa pelo pecado e nos fez vivos em Cristo. Fez tudo isso por conta própria, sem qualquer ajuda da nossa parte! Ele nos tomou para si e nos concedeu um lugar nos altos céus, na companhia de Jesus, o Messias. Não é demais?” (Ef 2:1-6 / Bíblia A Mensagem) Agradecimentos Ao Deus, o Pai, Abba, o Eterno Amor, pertenço a Ti. A todos aqueles que se mostram como são e me ensinam que viver deve ser como se vive e não como não se vive. Àqueles que decidiram ser espelhos e não se importam com os reflexos. A seres humanos que exemplificaram em si mesmos o verdadeiro sentido do amor. Aos amigos, José Milton da Silva Jr. e Luiz Cláudio Ferreira, seres únicos que não se amedrontam com a verdade e que sempre me motivam a ser o que sou simplesmente. Aos escritores Brennan Manning, Clarice Lispector, Philip Yancey, e tantos, pela coragem de escrever na contramão. Aos pastores-amigos Marcelo, Márcio, Elienai, que me mostram a liberdade de viver com Deus. E, principalmente, à minha esposa, Andréa, que sempre esteve junto, vivendo tudo e confiando no amor eterno. Apresentação Apresentar alguém, nos dias de hoje, é muito complicado. Exige do apresentador um conhecimento, tanto da escrita em si,  como do autor da obra. Bem... Quero salientar que a honra de partilhar com o Fernando Peixoto é mais do que estimulante, reconfortante,  inspirador... Seus textos elevam o "homem" a si mesmo, mostrando-o como ele é, e não como gostaria que fosse. Ao folhear cada texto, depara-se com um momento distante e ao mesmo tempo contemporâneo. Suas dores, experiências, conflitos, reações e modos de ver a vida são mostrados de uma maneira que cada leitor coloca-se no lugar dele e entende que não se trata  apenas de textos escritos a esmo,  trata-se de um ser humano, que de forma criativa mostra-se ao mundo, e isso é  encorajador. Vale a pena ler cada linha escrita e se puder aprender com ele, certamente terá sucesso no que  ele almeja: Transmitir uma experiência de vida. Luiz Claudio Ferreira Prefácio Meu intuito maior em escrever é o de viver as emoções de pronto. Sugar o máximo delas, ruminá-las ao extremo. Escrevendo, encontro novas possibilidades de ponto de vista e revivo, muitas vezes, meus entendimentos de momentos que, quase sempre, estiveram fora de mim. Busco, em escrever-te, encontrar esta nova vivência de mostrar-me sem medo do perigo do outro, pois não quero hoje preocupar-me com o dedo em riste direcionado a mim por não ser como a maioria deseja e que eu desejei ser por muito tempo. Não! Quero o sim da verdade de ser o que se pode ser na maior das minhas vontades, clareando meu mundo antes inebriado. Meu desejo pró-ativo é de ser e não deixar de ser. Arriscar e viver suavemente, afinal assim deve ser! Aqui falo de mim no limite da emoção do agora; tudo foi sentido e permanece em aprendizado contínuo, como vida contínua, sem intervalos; não paro para a tensão dos porquês ou dos não deves, vou com o livre arbítrio de conhecer-me diante das situações, sem desculpas, nem justificativas. Mas minha liberdade não é a de te atingir, é de te encontrar, de te mostrar a vida possível de dentro de uma comunidade terapêutica para dependentes químicos, dependentes estes que, como eu, vivem o hoje como seu maior presente, e buscam neste instante único, a sua própria verdade, conhecimento no outro, através de um encontro com o Pai. O que mais posso ser além deste próprio momento? E assim é que te escrevo, livre para o que quer que seja e que seja bom como bom é ser livre. Fernando Gomes Peixoto Seis de abril de 2009 Paro em frente ao portão. Procuro nos bolsos mais um cigarro, talvez o último. Encontro o maço vazio, todo amassado: -“cigarro de bêbado”. Pergunto pra ela se tem algum pra eu dar um último trago, mas o dela também acabou e não tem nada aberto por estas bandas. Deixa pra lá. Deve ser melhor assim e pior não pode ficar. Vamos entrar. Enquanto ela buzina, eu penso no que estou fazendo e o que me espera ali, mas não tem jeito, tenho que fazer. Alguém vem e abre o portão, entramos. Não sei o que sinto. Sento-me no hall da casa, um homem vem me cumprimentar com um sorriso fácil, todo o seu rosto sorri, mais tarde descobrirei que ele é pastor. Conversamos um pouco. Ele me fala que vai dar tudo certo, estou exausto e acredito nele. Sempre é bom ouvir coisas agradáveis principalmente num momento como esse onde a vida parece não ter sentido e eu não vejo nada à frente. Mostram-me a casa, não faz diferença. Não importa onde estou, mas porque estou, nunca pensei que chegaria até aqui. Não soube viver como deveria. Chegam outras pessoas, falam comigo, me perguntam coisas que eu não estou a fim de responder: - De onde vim? - Quantas vezes eu vim parar numa casa destas? Esta é minha primeira vez. Até aqui tudo bem, não parece tão ruim. Está na hora da minha mulher ir embora, só a verei daqui a quinze dias. Ela chora, eu não. Meu sentimento é oco. Reverbera em mim a culpa e estou vazio. Olho o carro saindo, aperto o peito, talvez esteja sentindo algo, talvez algum resto de um ser que está se desfazendo, sou seco. Não sei sorrir, não sei pra quê. Não sei do que adiantaria sorrir. O que me espera? O portão fecha. Estou mínimo. Não quero aquilo. Mas estou aqui. Sem desculpas. Colhendo das minhas sementes. Fruto amargo. Assim que entrei numa casa de recuperação era assim que me sentia e acredito que tenha sido sempre assim, me sentindo um coitadinho, sem atitude pra mudar ou lutar contra o que quer que fosse. Nunca acreditei em nada, mas aqui terei de me alimentar deste fruto, meu fruto, forçar na garganta pra entrar, e regurgitarei um pouco, ruminarei um pouco, engolirei novamente, será preciso digeri-lo, causará dores eu sei, depois será expelido, jogado fora, mas sentido. Ficará só o que alimenta e fortifica. E os dias passarão e eu nunca mais serei o mesmo. Procurei escrever-te sentindo e revivendo tudo. Estou em 2013 te escrevendo pra contar mais ou menos como foi minha primeira internação em uma comunidade terapêutica (CT), na época chamada “casa de recuperação”. Sentia-me além de mínimo, último. Eu estar ali era o símbolo do meu fracasso como ser humano. Esses pensamentos destrutivos fizeram com que eu não evoluísse. Já não me aceitava, motivo pelo qual busquei nas drogas a solução, ser internado então era a gota do fim. O que me fez ficar ali foi o meu medo, que só não era maior que minha autodepreciação. Aprendi muitas coisas naquele lugar. Sorvi ensinamentos cristãos, comecei a crer na possibilidade de que alguém me aceitava. A esperança que Deus colocou no meu íntimo mudou todo este meu sentimento de inadequação o qual descrevi acima. Encharquei-me da Palavra Viva e voltei a respirar. Tudo mudou desde então. Tive, ainda, outras internações, no total seis, e todas elas me ensinaram muito. Logo que se entra numa CT a sensação é a mesma que experimentei, vi muitos entrando com o mesmo sentimento, derrota, medo, estranheza e outras coisas que entendo serem normais. Contudo venho experimentando outras novidades. Não sei se por conta de tantas internações, mas comecei a não ver mais a CT como esse um monstro de mil olhos, devorador e amedrontador. Ao fim destas internações passei a entender como se vive por aqui e como se tirar o melhor proveito para a recuperação. Não tem como eu aprender com coisas que considero ruim, não entra, não tem jeito. Esta sensação de estar internado pode ser sufocante, se eu fizer dela isso. Porém, o que aprendi é que não estou internado, estou refugiado e isto faz toda a diferença. O que atrapalha é quando eu quero me sentir assim. Já fui assim e entendo quando acontece e senti a necessidade de falar sobre como me livrei disso, ou melhor, como venho me livrando, um dia de cada vez. Tudo está em escolher, eu decidir não estar, ninguém pode fazer isto por mim. Parece simples e é. Mas é pessoal, careço de saber de mim. Tenho visto as coisas assim, simples. Esta tem sido a diferença em ser e estar. Arrumando a casa Um dia acordei e disse: - “Hoje vou usar drogas!” Não, não foi assim. Vem de muito longe, lá atrás do pensamento, de coisas guardadas que eu deveria ter jogado fora e de outras, jogadas fora e que deveriam ter sido guardadas. Surge logo a imagem de Deus me pegando, como se pega pelo cangote, me tirando do meu mundinho de autossuficiência, e me trazendo pra esta casa, Ele então me sussurra dizendo: “- Olhe, vais ficar por aqui um tempo, não estarás sozinho, Eu estarei contigo, poderás aqui, ver o que o barulho lá de fora não te deixou ver. Descanse em mim e observe tudo. Mude o que precisar mudar, te ajudarei nisto também. E fique a vontade, a casa é sua”. Penso em quantas vezes Ele me procurou e eu não dei ouvido. Quantos chamados tive nas ruas, pessoas falando de suas maravilhas e eu nada fiz em relação a isso. Meus olhos focavam o nada. Não devo me esconder mais. Não há mais como não me conhecer. O amor próprio tem muito a ver com isso. Se me amo quero ser melhor. Conheço-me percebendo em que devo crescer; a identificação com meu próximo me faz igual. Estou dentro de uma comunidade terapêutica porque não posso mais fugir. Permaneço porque preciso limpar a casa e depois, arrumá-la. Vou colocando as coisas no lugar aos poucos, não há pressa, devo ter cuidado com o tempo, o tempo não é meu. Descubro logo coisas que não deveriam estar em mim, nesta casa, e me livro delas guardando em lugares de difícil acesso, fora de vista. Ainda existem algumas que não se encaixam e outras que estão faltando, procuro estas na contemplação do mundo, ouço o Deus e, no tempo certo, as dúvidas vão acabando e a casa começa a ter ordem. Todo dia é necessário espanar a poeira que aparece sem mesmo eu perceber, esta é a mais difícil, é preciso ouvir os outros e pedir ajuda do Pai, só Ele limpa definitivamente. Com as idéias no lugar, começo a me ver melhor e perceber também coisas que não precisam ser mexidas, pois estão bem onde estão. Recoloco os quadros na parede para ter um ambiente mais bonito. É hora da parte externa, pintura, acabamentos, sem esquecer a manutenção, que é primordial para a continuidade de tudo. Sim, há muito pra fazer. Porém já foi um bom começo. Movimento contrário Eu sou desconfiado, desonesto, manipulador, autossuficiente, egoísta, egocêntrico, soberbo, prepotente, arrogante, autopiedoso, medroso e, ainda sim e, principalmente, um amado do Pai. Parece muito? Pois te digo: sou isso e muito mais do que isso! Também sou bondoso, gosto da verdade, procuro ajudar os outros, tento fazer o que é certo e, acredito que meu Pai me ama. Estas coisas, todas elas, estão dentro de mim, a cada momento que vivo sou convidado a ser vários, muitas vezes algo, que nem sabia que era ou poderia ser. Como criação do Deus Todo Poderoso, portanto à sua imagem e semelhança, habita em mim todos estes, mas só vivo o que desejo viver. Ele me deu todas as possibilidades. Posso fazer o que quiser! Por que, então, alimento uma pequena parte disso e, infelizmente, a pior? Penso que alimento o que me faz viver, mas sei que não é só isso. Necessito de uma resposta-já, senão isso pode virar um novo ser além de mim. Pratico ações que, muitas vezes, terminam em arrependimento. Minha natureza me mostra o que eu não quero ser. Crio máscaras diferentes para diferentes lugares e, raramente, me dispo delas. E sou assim, pois desejo o reconhecimento do meu próximo e o que agrada o mundo é o que busco ser e nunca o que eu quero de verdade. Neste afã de ter que agradar os outros, perco minha identidade inicial de criação, unido com Deus. É impossível servir a dois senhores (MT 6:24). Querendo sempre mais do que preciso, admiro no outro suas posses e nunca estou satisfeito com o que tenho. Corro atrás de inutilidades, sensações efêmeras, num ciclo interminável de angústia e dor. Bebo da água do mundo, enquanto Jesus está ao meu lado me oferecendo a Água Viva; a água do mundo sacia meus desejos por um breve instante, depois a sede volta e a busco de novo cada vez por preços maiores, preços de vida, sempre perdendo mais e aumentando os goles, pois já não me satisfaço como antes. A Água Viva, ao contrário, sacia e alivia, transborda no coração, transforma meu eu e conforta minha alma, e não terei que buscá-la fora de mim, porquanto ela habita em mim. A água do mundo me torna insensível e a necessidade de se ter um relacionamento rico em amor torna-se piegas, fora de moda e interesseiro: meu amor vira moeda de troca. Tenho vergonha de dizer eu te amo, desconfio da bondade e honestidade de todos; se ajudo alguém, mais tarde irei cobrá-lo cheio de justiça própria. No fundo quero ser elogiado pelo que faço e tenho, nunca pelo que sou no meu íntimo, afinal não gosto de mim. Essa agonia de buscar a aceitação do outro me frustra, tornando-me infeliz e diminuindo a minha fé em Deus e, por conseguinte, em mim. Não confio em mim mesmo. Esta maneira de viver tem me afastado de Deus. Ajo como se Ele fosse meu carrasco. Mas quando em minha busca O conheço, tudo muda. Não preciso me mascarar pra Ele, nem adianta. Meu Criador sabe como sou. Quando finjo ser outro o Pai me desconhece; Deus deseja que eu assuma meus papéis, sem medo. Ainda que me envergonhe, posso admitir: sou um dependente químico em busca de cura e só vou estar em cura se estiver em Cristo. A proximidade do Pai me torna desejoso de mudanças. Necessito praticar o que quero ser, pois assim posso começar a ser o que procuro. Não é máscara, é amor-próprio. Não gosto de ser o que comumente mostro, então busco não ser estes que não gosto; nesta prática, me habituo a ser o que almejo ser. Deste jeito me gosto e me aceito como sou: um pecador salvo pela Graça! E minhas ações devem seguir minhas crenças. Se de verdade creio, vivo esta verdade. Não há como ser diferente. Eis a identidade primeira; se já fui posso voltar a ser, não joguei fora, apenas perdi, mas a encontro novamente. Jesus escancarava sua crença e a vivia acima de tudo! Parar este ciclo de vitimismo é fundamental para seguir e crescer. As escolhas que fiz me mostraram o que não posso ser. Sigo agora com olhos em Cristo, aquele que dá a verdadeira liberdade; liberdade pra ser eu mesmo, sem culpa. “Com a chegada de Jesus, o Messias, o dilema fatal foi resolvido. Os que estão em Cristo não precisam mais viver numa nuvem escura e depressiva. Um novo poder está atuando. O Espírito da vida em Cristo, como um vento forte, limpou totalmente o ar, libertando vocês de uma tirania brutal nas mãos do pecado e da morte. ”(Rm 8:1-2/ Bíblia A Mensagem) Deus na forma que eu O concebo Tenho recebido de Deus muito mais do eu preciso. Ele me supre, nutre, salva, ensina, disciplina, restaura, ergue, encoraja, dá força, ama. Esta é a verdade: Deus me ama. Sim, o Criador de todas as coisas me conhece e me ama mesmo assim. Não preciso mentir, fingir, me esconder, afinal Ele está em todos os lugares, nada foge aos seus belos olhos. Tudo vem Dele e vai para Ele. Tudo o que faço, até mesmo se não crer, estou fazendo porque Ele me dá forças para fazê-lo. Quando eu estava usando drogas, achava que não podia viver isso. Afastei-me de Deus, vivia nas vielas, becos, casas de uso, lugares que eu não acreditava que o Dono de tudo podia estar ali. Mas Ele estava! O Deus da minha vida me olhava e chorava... A Sua compaixão é loucura, não há nada maior nem que faça acabar. Talvez fosse isso que fizesse eu não crer que Ele estava ali. Pra mim, pros meus sentimentos, pensamentos, pelas minhas concepções tacanhas e egoístas, ninguém pode ser assim. E é simples: Ele é! Deus me ama e esse amor é completo, não falta nenhum pedaço. Quando aceitei Deus na minha vida, não O conhecia, não sabia como Ele era. Ensinaram-me sobre alguém que castigava aqueles que não cumpriam seus decretos. Nunca foi assim, sempre foi por amor a mim que tudo acontecia. Deus é justo porque Deus é amor. Nada acontece sem Ele. Deus está vivo e com Ele seu filho e Seu Santo Espírito. Apesar da minha mente mundana pensar em coisas contrárias a isso, realmente creio que Jesus ressuscitou e isto tornou-se verdade em mim e já não consigo ser o mesmo depois disto. Eu experimento o amor de Deus e não há amor maior do que dar o seu único filho por aqueles que não merecem e não fazem nada por merecer. Quanta Graça! Essa verdade me transforma e me liberta. E exulto! Mas é necessário crer de todo coração, alma, força e entendimento. Como crer que o meu Deus vive e me lamentar sobre o meu viver? Quero viver este amor ou melhor seria não crer em nada! Deus está no meio da minha vida e isto extraordinário, é de arrepiar! E posso me arrepiar na presença Dele, não é emoção passageira, é a Pura Verdade. Deus está aqui e agora. E esse amor é inacreditável, não preciso fazer nada nem realizar nada. Ao aceitar que sou aceito, começo a ser o que Ele quer que eu seja. Sou filho do Pai e o filho ama o seu Pai. Que assim seja. O que posso fazer com isso, com esse amor? Posso andar nesse amor. É isso que o amor faz, me deixa desejoso de amar. Tão simples. Se eu amo a Deus é impossível não amar tudo e todos. Nesse amor o viver é simples. É suave. Quero também este amor. E busco! “É impossível comer um só” Lembro-me da propaganda do salgadinho e ligo isto a Deus. Estranho? Concordo! Às vezes Ele é estranho. Mas faz sentido quando sinto esta vontade de querer mais de Deus, cada vez mais. Não que seja insuficiente, ora, é mais que suficiente. Mas, é impossível não desejar mais desta “paz que excede todo entendimento” quando compreendo o que Deus deseja de mim. Tenho medo até de ser compulsão e sim, se for deste jeito, eu quero o mergulho. A felicidade só é real quando é compartilhada. Peco às vezes, mas não desabo em prantos intermináveis. Jesus me salvou da perfeição. As aflições acontecem, fazem parte do viver e me alegro toda hora com Ele nas suas demonstrações de amor inacreditável. E me acalmo em êxtase de felicidade. Meu sentimento é de pura liberdade em Cristo, pois nenhuma condenação há. O percebo a todo o momento. Quando as dificuldades vêm, eu vislumbro as oportunidades de crescimento colocadas a minha frente com uma simplicidade única, pela liberdade que passo a usufruir tão logo eu aceito Deus como Pai. A cada dia coloco-me a disposição de matar meus desejos mesquinhos, de não mais querer jogar minhas emoções nos outros, cheio de justiça própria, freio meus impulsos porque não quero mais ser o que os outros querem que eu seja, vou correr contra a correnteza num esforço de gratidão, pois tenho o que preciso e tenho isto todos os dias. E alegro-me de novo ao dizer-te isso: não temo mais a mim mesmo! Antes me amo, e amo tu que me lê. Não sofro de querer também ser o que agradaria a outrem. Quero sim a verdade do eu mesmo, sem maniqueísmos, nem brincar de marionetes nas mãos do que não me faz sonhar. E gosto do ser eu mesmo! Aleluia! “Confie no Eterno do fundo do seu coração; não tente resolver tudo sozinho. Ouça a voz do Eterno em tudo que fizer, aonde for. Ele manterá você no melhor caminho.“ (PV 3:5-6/ Bíblia A Mensagem) É disso que eu to falando! Por que não crer nestas possibilidades? Se me são dadas? O que Deus me oferece é o simples. E isso assusta, eu sei, já vivi assim. O simples não é fácil, mas é palpável e mais que isso, possível. Meu passado me remete a um eu sem sentido, que outrora buscava em tudo uma explicação e que vivia para que houvesse sentido em tudo. Como pude? Não pude. Então caí e agora ergo meu corpo firme de volta a razão. E sonho alegre e sem questionamentos, vivo o é-se. E é hoje e é imperdível o meu hoje. Não posso parar, a vida continua... E respiro o ar dos reticentes, esperando sempre as nuvens das possibilidades diárias. E há esperança, “grande consoladora”. E eu as agarro e continuo vivo, no meu instante único. E posso ser tudo isso! É impossível alegrar-se uma só vez com Deus! Ele não me deixa... Rsrsrsrs... Espera suave Quero humildade. Houve épocas em que evitava falar; talvez assim eu seja menos. Também quero ser menos. Estou quieto e tudo é espera, mas é espera tranquila. Já sei ser afoito, quero agora a espera e a observação. Contemplar é preciso. Escuto atrás de mim as vozes que vem da piscina e os risos da sala de TV; estou cercado de gente e estou só, te escrevendo. Tu me lês, este sou eu. E este eu está bem à espera de um dito qualquer de Deus. O meu tempo é suave. Quem sabe este não é o tempo de Deus, o tempo Dele deve ser assim. Te digo isto achando que estou sendo muito, portanto, vou agora mais devagar, como disse: -“já sei ser afoito”. Percebo-me e então paro. Deve ser assim. Mas creio em mim mais do que em outrora. As nuvens se dissipam e eu espero. “Onde senão em meu companheiro, poderei encontrar este espelho?” Retirada da filosofia “Daytop”, esta frase é repetida por todos a cada manhã na comunidade terapêutica a qual me encontro e teve nestes dias seu significado atingido e, por assim dizer, descoberto. Além disso, pude encontrar, mais uma vez, outro porque de estar aqui. Observo certo interno sofrendo em suas dificuldades e me vejo nele. Ou melhor, eu sou ele. A autopiedade foi o maior freio na minha recuperação. Tempos atrás, quando na ativa, ficava em um canto, de cabeça baixa, esperando alguém vir e perguntar o que havia comigo. Por um tempo, alguns até vinham, mas depois, ninguém mais veio. Usei álcool e outras drogas por 25 anos, joguei muitas coisas fora, deixei outras pra trás, buscava preencher o vazio que havia em mim, e preenchia. Mas não durava. Logo precisava de mais e mais até que, não suportando aquilo, decidia me internar, sem antes, claro, tentar parar sozinho, negar minha situação, fazer do meu jeito, entre outras insanidades comuns na adicção*. Aqui é inútil eu me vitimizar; e é imprescindível eu tomar a atitude de mudar. Permanecendo do jeito que entrei, vivendo os seis meses alimentando as minhas falsas e antigas idéias, me frustrarei novamente, perdendo o meu tempo, que já pode estar se esgotando. Logo, faço o movimento contrário. Só pude começar a vislumbrar esta transformação quando me vi no outro. E não gostei do que vi. Voltei a me aproximar de Deus e assim desejei ser melhor, é natural. Posso sim crescer e ter muito mais de mim mesmo. Deus me aceita como sou porque sabe que posso ser melhor. E esta verdade é para todos! Quando percebo no outro meus próprios erros e desejo mudar, mudo também minha maneira de vê-los, fazendo a vontade do Pai. Encontro Deus no outro, é fabuloso. Até parece mentira. Depois de tanta procura O encontro nos mais diversos lugares, coisas e seres, até mesmo naqueles mais impossíveis. Mas o que é impossível? Busco o simples e não quero mais que isso! Só por hoje, continuo querendo a humildade, todo dia. * Adicção é o vício, e geralmente está relacionado com drogas ilícitas. Mas a adicção pode também significar qualquer dependência psicológica ou compulsão tipo jogo (bingo, pôquer, etc), comida, sexo, pornografia, computadores, internet, vídeo games, notícias, exercício, trabalho, TV, compras e etc. Uma pessoa que é viciada não consegue controlar seu desejo por álcool ou drogas, mesmo que sinta efeitos negativos pra saúde, problemas com família e amigos, ou problemas com a polícia. A adicção a drogas é considerada uma doença como outra qualquer. É uma doença crônica, ou seja, afeta a pessoa ao longo prazo, ou acontece várias vezes. Ela acontece, pois a pessoa procura uma recompensa ou um alívio pelo uso da substância. A adicção é caracterizada pela dificuldade em controlar o comportamento, presença de fissura ou desejos, dificuldade de ficar sem a droga (abstinência), e falta de noção dos problemas causados pela droga. (fonte: http://www.quedroga.com.br) Restos de vida A casa era antiga, lembrava aquelas casas antigas francesas que mostra a frente pequena, vê-se apenas uma porta e uma janela, mas... Ao entrar percebe-se o engano, pois logo após a porta de entrada, abre-se uma bela e espaçosa sala, dois vastos quartos á direita e, ao fundo, a cozinha espalha-se na largura da sala e dos dois quartos. Quando se entra nela, avista-se já o quintal, modesto até, mas funcional e ainda, contíguo à cozinha, outro quarto e mais um banheiro. É uma boa casa. O pé direito é alto e tem duas meias águas dividindo sala e quartos de frente; cozinha e quintal, quarto e banheiro ao fundo, uma casa até bem aconchegante para se viver e tenho certeza que já se tenha vivido desta forma nela. Estou eu aqui a descrevendo como quem vai lembrando dela e flutuando por entre seus espaços, como um fantasma, observando apenas seus lugares e divisões de seus cômodos, como em um sonho talvez. Não da forma como entrava em dias outros, dias antigos, ativos, não muito atrás no tempo... Era assim: Quando chegava, cumprimentava D. Maria, dona da casa que, quase sempre, estava sentada a soleira da porta numa almofadinha. Bem pequenininha era ela, D. Maria era cansada e com longos anos marcados pelo corpo, as rugas eram espessas, não digo que tivesse muita idade, mas o tempo a tinha maltratado demasiado. Esforçava-me para passar por ela e pela estreita porta entreaberta que, aos pedaços, separava a rua da sala, eu erguia as pernas num esforço para enfim alcançar o interior daquele lugar extremo. Olhando agora a sala, anteriormente bela e espaçosa, transformara-se num depósito de coisas quaisquer, onde era tudo indefinido. O que eram as coisas, não se sabia. Eram jogadas ali como que sem importância e esquecidas, amontoadas, ao ponto de eu ter que olhar para o chão, receando não pisar em algo e também verificar se nada se mexia ali. As paredes não se sabiam de que cores eram, pois estavam escuras e sujas, além do lugar não possuir luz artificial, eu andava, buscando adaptar os olhos a claridade que vinha do quintal. Além disso, havia os cachorros. Sete. Sete no total; todos eles como farrapos de estopas usadas e encharcadas de óleo queimado. Eles eram sujos, sujos e carentes, enquanto eu ia entrando eles iam pulando e latindo talvez implorando um toque apenas que eu dava constrangido com a situação. Latiam interminavelmente, ora um, ora outro, ora todos, até que enfim paravam depois de bravos gritos de D. Maria e de seu filho que me esperava na cozinha, assim eles se deitavam de novo a espera de um outro despertar, talvez de algum carro que passasse ou alguém que cumprimentaria ela que sentada à soleira da porta ia aos poucos se desfazendo. Quando chegava a cozinha, o fogão, a geladeira, a pia, louças, talheres, pratos, restos de comida, baratas, ratos, vermes, horror, tudo era uma coisa só, um amontoado de desgraça humana. E eu estava ali naquele lugar, um lugar que não era a sua utilidade, não era o que para o qual havia sido construído. Então o que restava? Restava a mesa no canto da cozinha. Esta era cheia de restos de vida, repleta de sonhos destruídos, carregadas de insensibilidade, vazia de amor. Uma mesa, que um dia esteve rodeada de pessoas que compartilhavam a vida, hoje servia para a destruição da alma. Sentado jazia meu amigo de nome oculto, cria de D. Maria, que dividia comigo o pânico, o medo, a angústia, a ansiedade, tudo regado a muito egoísmo. Aquela era uma casa onde habitava a dor. Aquele era o lugar onde eu entregava a minha vida a qualquer emoção efêmera, nada havia além de um asqueroso horror, desvalor e desrespeito a mim e a qualquer um que ali chegasse. E quem chegasse trocava a mesma e tenebrosa indiferença. Este era o lugar da droga. O lugar onde a vida não tinha início nem fim, onde a vida era desprezada. Qualquer vida, até os cachorros sofriam! De vez em quando, em um novo despertar, eles, os cachorros recomeçavam os latidos, e ao fundo ouvi-se D. Maria agradecer a alguém que, piedosamente, lhe entregava algo de comer e que os cães é que comeriam, pois ela não tinha fome: - Que Deus te abençoe e aumente teus dias, ela dizia, com um sorriso apertado e mínimo, tirado não sei de onde e tinha aquela esperança pela sua fé, que um dia aquilo tudo acabasse e Deus a levasse para junto de si. E Deus a levaria sim. Recaída: nova oportunidade Do carro eu vou observando o mundo: pessoas apressadas, senhoras nas janelas, velhos em frente às casas velhas, velhos lares que mesmo antigos ainda permanecem de pé. Penso no tempo, este contador de histórias. Minha mulher dirige calada; está segura; não feliz. Eu continuo a olhar pela janela do carro, absorto, também não estou feliz, nem seguro, estou a caminho de mais uma tentativa, mais uma oportunidade. Direita, esquerda, segunda direita, muro baixo, é aqui. Chegamos... Ficarei por aqui por um tempo que não sei qual é, buscando me encontrar, talvez entender minha estupidez! Dói. Minha mulher chora. Procura se sentir normal. Impossível. Mas valeu a tentativa. Impossível ficar normal frente à dúvida: será que desta vez vai? São muitas perguntas. Estas mesmas perguntas são feitas por mim, que não sei o que dizer. (...) Ela vai embora. Fico eu mais uma vez. O que sinto? Não sei o que sinto. É ruim estar aqui de novo. Não queria estar aqui de novo. Deveria ter sido mais simples, como aquelas pessoas que passaram por mim, pela janela do carro. Bem mais simples. Então começa. Preciso fazer coisas que não quero neste lugar. E faço. Busco a compreensão destas coisas, começo também a buscar entendê-Lo. No início dói um pouco; é como colocar de volta o braço no lugar de onde foi deslocado; estou fora de lugar! Depois se acostuma na prática. Como eu disse dói um pouco. É como fisioterapia. Necessita-se forçar um pouco; repetir movimentos, então vai ficando mais no corpo, como o bailarino, que de tanto repetir a mesma coreografia, chega um dia que a faz sem perceber, virou vida. Importante também é gostar do que se está fazendo, é preciso alimentar-se do Pão da Vida, Aquele que transforma, a Palavra de Deus que me mostra que sou importante pra alguém. O tempo passa e, quando se está na busca, querendo achar, encontra-se e então não se quer mais parar. E o tempo passa a ser pouco. O coração tem que estar entregue para o novo. Quando as dificuldades surgem, Deus continua. Ele envia alguém que me diz o que preciso ouvir. Dói outra vez. Mas já sei que não é para a morte, assim me percebo e me aceito. Sou grato. E continua... A busca continua... E Deus continua... Ele está perto. Agora meus olhos veem à frente. Ele está na frente. Então caminho. Paliativos Outro dia vi em Fortaleza a prefeitura consertando as ruas da cidade, era a operação tapa-buracos. Ora, todos sabem que essas medidas são paliativas, quando as chuvas retornarem, os buracos voltam e muito piores. Fico pensando quantas vezes fiz isso em minha vida. Quantas vezes eu preferi paliativos a resolver problemas definitivamente. Quantos buracos que, paliativamente cobri em minha alma, espaços vazios no meu coração que mascarava com alguma emoção passageira ou pequenos momentos de falso prazer. Como adicto, usei a droga para maquiar sentimentos, fugi com medo de emoções que eram necessárias pra eu viver, cobri vazios existenciais e me transformei em alguém seco e esturricado. A dor de não ser aceito ou de me sentir menor que os outros, me fizerem comprar sorrisos, companhias e amizades que não me edificavam. Quando me frustrava com algum desejo não realizado ou com uma negativa qualquer, corria pra usar alguma coisa que me anestesiasse e causasse algum prazer fugaz, e voltava a minha realidade com mais dor ainda e querendo, muitas vezes, desistir de mim mesmo. Um dia, porém, conheci algo diferente, algo que não acabava, que andava na contramão de todas as coisas e, poderia usá-lo o quanto quisesse, porque era Eterno. Algo que não me condenava por não ser o melhor, pelo contrário, me dizia que eu podia ser o que quisesse ser. Uma possibilidade de ser feliz, uma verdade que era pra sempre. Sem paliativos. Que me mostrava que era igual a todos e que podia ser melhor do ontem. E mais, essa verdade não queria nada em troca, era de graça, bastava eu caminhar com ela e já tinha Tudo. Podia, agora, viver tranquilo, em paz, pois sabia que estava aos cuidados daquilo que realmente importa. Era o Amor de Deus! Neste Amor, não há cobrança. Há “levante e ande”, “alegre-se, pois Eu sou contigo”! Nada é maior que isso. O que quero agora é viver nesse prazer, depender desse Amor e não mais correr atrás do que não é pra sempre. Hoje eu quero Amor! E amar esse Amor é caminhar. Hoje posso caminhar! Socorro!!! Na minha vida tomei atitudes sem pensar no que estava fazendo. E como fiz isso! Fazia para buscar identificação com algum par meu que eu queria ser. Isso mesmo, não era bem visto por mim mesmo, gostaria de ser outro, que loucura! Ainda bem que mais tarde descobri que não estava só nisso. Assim, essas coisas que realizava, não significavam nada, tanto é que quando apareciam outras novas, que via nos outros, queria sê-las novamente e rapidamente modificava meu modo de ser. O pior é que seguindo determinados movimentos não pararia nunca de fazê-los, porque neste mundo os modismos são mutáveis, a todo o momento tentava ser algo que nem entendia, e quando estava perto de entendê-los, eles mudavam e lá ia eu de novo correndo atrás do vento. (...) O mais entediante é que os fazia sem entender porque, logo não ganhava nada com aquilo, nem aprendizado, nem resolvia minhas autodepreciações. Perdia meu tempo e cada vez mais me sentia vazio e sem sentido no mundo. Dentro de uma comunidade terapêutica isso acontece muito. Existe uma programação de recuperação, e esta programação possui certas dicas que podem ser muito úteis se eu entende-las. Por exemplo: o pedido de ajuda. Ele funciona se a honestidade estiver com ele. “Sozinho eu não consigo”, então eu peço ajuda. Peço ajuda pra fazer o que quero e o que não quero fazer. Até pra ajudar eu necessito pedir ajuda. Igualo-me ao meu próximo, desço de onde imagino estar e encontro meu eu verdadeiro. E não sofro por isso. Porque aceito o que sou. Usando drogas, ia aonde queria e fazia o que queria, não pedia ajuda de ninguém, ia lá e pronto, hoje, peço ajuda pra eu não ser mais quem controla tudo. É por isso que não pode ser boca pra fora. É preciso estar no hábito. Necessita ser a tentativa do controle fora de mim. Não sou mais eu que quero isso ou aquilo, sou eu que quero se for possível. O “não” perde o valor de rejeição. Vou à busca do “sim”, e Deus me dá o sim. E também posso dar ajuda, a troca é justa e não pode haver o medo de rejeitar, porque é ajuda, e quando esta é pedida estou me sujeitando ao que for; não importa, parto pro mergulho, respiro fundo e vou. Se gritar por socorro é porque já me aceito e logo aceito o meu cúmplice, eu o valorizo, pois estou junto. O sim ou o não que podem vir, eu decido o que seguir. Pra mim isto é viver na verdade de Deus. No pedido de ajuda coloco nas mãos do outro a liberdade do poder. Mas Deus me dá a liberdade de escolher. Do que mais preciso? A Graça do amor me basta! E grito: - Socorro!!! E não estou sozinho. Mais de Dona Maria Os dedos dos pés eram tortos. Não apenas pelos joanetes incríveis que possuía, mas principalmente pelas dores nas pernas que sofria. Quando andava, arrastava-se numa jornada de lá pra cá e de cá pra lá, da entrada da casa até a cozinha, sempre buscando uma posição melhor para andar; ora apoiando-se mais num pé do que no outro e vice-versa, a fim de vislumbrar segundos de alívio, de tanto fazê-lo eis que os dedos adaptaram-se a modos melhores de se posicionarem que por fim entortaram-se definitivamente. Quando findava sua jornada, sentava-se num suspiro que eu próprio, só de olhar, aliviava-me junto com ela. Descia as mãos pelas pernas até os tornozelos, fazendo expressões que gostaria de apagar de minha memória. Ela sofria, mas calava-se. Não via ali uma reclamação, o que pelo muito que passava, seria normal. Quando me via cumprimentava-me com honestidade e dava graças a Deus por eu estar vivo e aparentemente bem; ela se importava comigo. Dona Maria vivia ali há mais de 40 anos e já tivera tempos felizes naquela casa. Contava que às vezes saia pra se divertir, passava a noite inteira em serestas, chegava de manhã, era feliz! - “Ninguém mandava em mim, eu gostava daquele tempo”, ela dizia olhando o telhado da casa como se houvesse uma janela que se abrira ali para outro mundo, realizava aquele momento com um leve sorriso de canto de boca... Até que a janela se fechava e voltava ao seu presente: “- Nada mais era como antes...” Eu concordava e dava corda para que ela continuasse. E continuava, conversávamos sempre. Enquanto seu filho saia pra comprar a droga, conversávamos e parecia que a vida fazia algum sentido pra ela, podia viver em outro mundo por aqueles ínfimos instantes... Até que ele chegava. Vinha suado, ofegante, lamentando a própria vida que ele próprio havia desmontado, reclamando sempre de algo que aconteceu. Quando ouvíamos o barulho do portão, tudo mudava. Ela silenciava. Ele não permitia que ela se expressasse. Eu sempre aceitei aquilo, dolorido e hoje arrependido; eu tinha medo. Não queria me incomodar, nem a ela. E começava de novo a dor. De toda aquela imundície que ali se iniciava, talvez uma única coisa salvasse aquele lugar: A mansidão tolerante e amorosa de Dona Maria. De quando eu cobro o que preciso dar Uma vez te escrevi um poema. Dizia assim: Porque dormes tanto, minha doce amada? Será pra esquecer-se das lembranças de outrora, onde o medo sobrepujava a vida, amargurando o sonho? Mas e se dormes tanto então sonhas o tanto também. O que sonhas? Sonhas bem? Se quando acordas ainda estás cansada. Ah, minha doce amada, entrega-te ao Forte! Entrega-te Àquele que cumpre o que promete e não te desvanecerá em esperas e sortes; caminharás tranquila, esperando na Verdade. Então teus sonhos serão vastos e lânguidos espreguiçares e dormirás não mais para esquecer e sim descansar... Quando te escrevi estas palavras, vivia num mundo que era só eu. Lamentava coisas e, enquanto te via dormindo, reclamava-te, pois não percebia que quem dormia era eu. Deixava passar o tempo a ver navios a olhar pro outro, sem nunca enxergar a mim mesmo, vago e morto. Não reparava nas tuas duras labutas diárias, não só de trabalho, mas e principalmente, de sonhar sozinha sonhos que eram pra ser divididos além de carregar cargas que deveriam ter sido compartilhadas. Cobrei coisas que não nunca te dei. Esqueci-me de ti durante noites em que me entregava aos meus próprios quereres, sempre me achando correto e cheio de satisfação em mim mesmo. Quantos erros, mentiras, desonestidades, manipulações cometi a ti; desconsiderações a alguém que se doava todo o tempo, aceitando-me sempre com o coração puro, cheio de perdão e amor. Escrevo-te agora, buscando me colocar em teu lugar durante todas estas situações em que fui todo eu e nada em ti. Perdão. Não desejo ser plausível, não. Apenas hoje, desejo ser melhor comigo pra ser muito a ti. A partir destas percepções, buscarei ser homem sincero e carinhoso, compreensivo e amigo, unindo-me a ti pra sermos a tão desejada uma só carne em Cristo. Andréa, obrigado por tudo o que suportastes e suportas de mim, te agradeço pelas mudanças, crenças novas e entregas de vida que fazes a cada dia por nós e para nós. “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Eterno”. (Josué 24:15c) Como falar? Como posso falar de alguém sem julgá-lo, criticá-lo ou mesmo elogiá-lo demasiadamente? Derramar elogios a qualquer ser humano pode ser deveras prejudicial. Naturalmente eu, como tal, costumo ver mais falhas do que virtudes e quando sou elogiado, mostro alguém bem complicado. Quanto às virtudes, dificilmente as valorizo adequadamente; Deus observa tanto uma quanto outra, mas principalmente o que faço com elas. Aqui, te escrevendo, tentarei ser assim, quero andar na contramão e não estou com medo de parecer com Ele, tomara que pareça, o que seria ótimo, é apenas um exercício de fazer o que o Pai faria. Quero olhar o belo que existe em tudo, e que deixo sempre de lado. Falhas costumam me deixar autopiedoso, com baixa autoestima, me colocando em posição de vítima. Antes, deviam ser lições e força para agir diferente. Enquanto fico vivendo e revivendo o erro, alimento o inaceitável, estanco meu crescimento e tudo em minha volta perece junto comigo, saio do Caminho. Outro dia ouvi que, – “só conseguimos prosseguir se o futuro der novo significado ao passado.” Esta frase ficou nos meus pensamentos por dias e dias, sem eu saber o que aquilo tinha a me dizer. Eis que me saltam aos olhos quando percebi alguém que consegue viver isso! É um cara que conheci há algum tempo. Veja bem, nem o conheço a fundo, mas sei que sua vida era de infâmia, lamento e tristeza e hoje foi transformada em vida, força e alegria. Sim, Deus faz novas todas as coisas. Alguém que não valorizava a vida, as pessoas e o mundo e vivia de acordo com suas próprias vontades, de repente passa a acreditar em si mesmo, e acreditar que existe um Deus que é Pai. Na vida, fazemos coisas que aos olhos humanos são imperdoáveis, entretanto, Deus não vê assim. O Criador vê o que eu faço após o engano. Para Ele o que importa é a volta ao Caminho e não a saída dele. Alegro-me ao ver um amigo que me mostra que para mudar o mundo, preciso primeiro mudar a mim mesmo vivendo isso com integridade e amor. E me diz que é possível, respingando em quem está em volta e assim segue-se adiante, mas também me diz que não é fácil, e sei que Deus está por trás disto! Mas não precisa ser fácil, precisa ser possível. É do jeito Dele. Hoje ele é a referência do possível e da mudança que eu também posso ter! De quem eu falo? Acho desnecessário dizer, pois posso eu mesmo ser ele, se quiser. Vejo-me no outro e passo a ser ele, se quiser. Atitudes é que fazem a diferença. Não importa de onde elas vêm e, muitas vezes, vem de alguém que o mundo diz ser impossível, e o impossível não existe. Existe o Deus! Alegro-me nesta vida que me dá esperança e caminha fácil na estrada. E louvo a Deus por me possibilitar participar desta vida. Eu paro pra continuar a caminhar Mas e quando as adversidades vêm? Faço isso: eu paro. Apesar de todas as minhas vontades me induzirem a ir em frente, eu paro. Mesmo eu achando com uma certeza inabalável que estou fazendo o que devo fazer, eu paro. Até quando todos me dizem, - faça o que tu queres, - eu paro. Aprendi que meus melhores pensamentos me levaram pra lugares onde não deveria ter ido. Aprendi, também, que minha natureza é falha e por isso, meu umbigo é sempre minha primeira intenção. Aprendi, ainda, que não sou dono da verdade e que as coisas podem ser agradáveis se não forem do meu jeito. Então... Eu paro pra olhar em volta e ver além do que vejo no primeiro instante. Eu paro pra pensar melhor do que pensei outrora. Eu paro pra não mostrar meu eu que só critica, julga e tira conclusões sempre em torno de mim mesmo. Há muita coisa acontecendo. E o propósito é bom, sempre. Mas é preciso parar pra ver. Olhar com olhos livres. Hoje, paro pra continuar a caminhar. Impressões de mim mesmo Deus já faz o suficiente pra mim. Se eu caio, eu levanto. Mas me acomodo nisto: jogo nas mãos Dele o que é pra eu fazer. O que preciso que Deus faça pra mim além do que já foi feito na cruz? Já fui justificado e ainda sim continuo vivendo como um pobre coitado, lamentando coisas feitas, lacrimejando por tudo, enquanto já deveria ter cometido a atitude de me levantar e seguir. Novas possibilidades permitidas a mim são deixadas pra trás. Não é preciso recomeçar e sim dar continuidade. Tudo o que já vivi serve como impulso, não como freio. Muitas são as frases pra me levantar, falta eu levantar. É um processo. Como posso dizer que sou justificado se vivo mostrando tristeza e dor? Fui daqueles que era o que lia, e sempre li muito e de tudo, ficava jogando frases de efeito na cara das pessoas com uma certeza da verdade em cada uma delas, apenas por achá-las bonitas e de impacto, mas poucas vezes vivi o que elas diziam, assim não podia ter a experiência do que podiam ser realmente. Algum tempo depois lia outra coisa e já mudava de novo meu modo de ver o mundo, tudo tornava-se diferente e mais uma vez essa nova impressão de mundo era o que me bastava e não aceitava o contrário disso. Estas impressões de mundo eram meu medo de pensar por mim mesmo. Meus pensamentos sempre foram de liberdade, por um mundo melhor, baseava-me em sensibilidade, sofrendo pelos outros, mas basicamente por não aceitar-me como era. Nunca partilhei estes sentimentos. Queria sempre viver a vida dos outros, nunca a minha. Tempos atrás escrevi um texto de teatro para um festival de esquetes, montamos a peça e apresentamos, o texto foi até premiado, mas o mais importante foi o que os jurados me disseram sorrindo: - “Isto é a sua biografia?”. Também sorri. Sorri de nervoso que fiquei ao ver como eles me viam, e eu não me percebia, eu brinquei dizendo que não, pois a personagem tratava-se de uma mulher, na hora pensei na possibilidade de que o que dissera era verdade, mas só pensei, àquela época ainda vivia atrás de agradar outros em detrimento de mim mesmo. Só que mais tarde percebi que ela era eu. O nome da peça era “Vida Perdida”, e contava a história de uma mulher que se imaginava dentro de seu apartamento à procura da sua vida que, de tão bagunçada, encontrava-se perdida. O apartamento era seu interior e o que encontrava eram pedaços de coisas que não se encaixavam. Sim, era absurdo. Mas nem tanto. O monólogo decorria tranquilo nesta busca quando enfim ela se deparava com uma ou outra coisa que mostrava a forma como ela encarava a tal vida e como justificava atitudes que acabaram levando-a até aquele exato instante. Ela negava tudo o que estava acontecendo, transferia culpas, nada do que havia feito podia ter causado aquilo pelo qual estava passando. Na verdade, Lúcia como a chamei, não se conhecia, vivia num mundo onde se escondia de si mesmo, pois não tinha coragem sequer de olhar-se no espelho. Enfim, ela descobre que tudo havia sido causado por ela mesma, desesperada tenta correr para resgatar-se e pedir perdão a si mesmo, queria de volta a vida, a qual ela própria havia negligenciado; começa então a encontrar-se num retorno a realidade, onde talvez, ela pensara, não pudesse voltar. Ali naquele momento eu havia me encontrado, mas, não percebera isso. Estava de frente comigo mesmo, olhando pra atriz, e assistindo no teatro a história da minha própria vida, escrita por mim mesmo, a derrocada de alguém que não se aceitava, não se conhecia, que tinha medo dos seus sentimentos e estava indo para um fim que poderia ser a morte. Mas Deus não havia desistido de mostrar-me como sou. Acredito nesta oportunidade que Ele me dá na sua eterna misericórdia. Eu posso me modificar a partir de aceitar o Amor do Pai e começar a me amar. Começo a não me amedrontar comigo mesmo e entender que meus pensamentos podem ser bons. Torno-me viável. E continuo mais uma vez a caminhar. Na vida, muitas coisas são ditas, algumas falam de como devo me aceitar não me comparando, pois “quem se compara não se aceita”, ou até que “a dificuldade está em mim”, tudo isso de nada serve se eu não viver cada um desses ditos. O que escrevi em “Vida Perdida” me revela, eu falando de mim mesmo, porém como uma máscara, numa roupagem que transfigura no outro o que sou na verdade. Mas Deus é, desmascarando-me, até que, enfim, resolvo me aceitar e perceber que posso ser melhor do que isso. Vivo o possível e não corro mais de mim mesmo. E sonho com as novas possibilidades todos os dias! Na minha vida tive medo de mostrar quem eu era de verdade por não me achar adequado. Aqui, aprendi a ter coragem de ser eu mesmo! Sempre quis ser o melhor, pois quase sempre me achava inadequado. Aqui, aprendi que posso ser o que quiser e que é belo ser diferente. Na minha vida tentei viver da maneira que eu achava que era melhor, sempre tentando agradar os outros. Aqui, também aprendi que as coisas não são como eu quero e não há problema nenhum nisso. Na minha vida sempre quis ter a última palavra, porque queria sempre ter alguma coisa a dizer. Aprendi também por aqui, que posso dizer muito quando me calo. Na minha vida, procurei ser alguém importante, pois queria ser reconhecido. Aqui, finalmente aprendi que todas as pessoas são valorosas. Neste lugar Deus me mostrou quem eu sou, sem subterfúgios, sem máscaras, sem nada escuso. Mostrou-me o que eu era e o que eu poderia ser. Mostrou-me que as pessoas eram difíceis. Iguais a mim. E me deu escolhas. Eu escolhi a Verdade que encontrei por aqui. Hoje, encaro o medo com coragem; O inadequado como diferente; Amo os outros como a mim mesmo; Me calo quando quero ser demais; E sou importante, pois sou filho de Deus. Aqui, nesta Comunidade Terapêutica, aprendi a ser grato e a viver o simples, um dia de cada vez. E quero mais! Quero aprender sempre e mais! Graças a Deus nunca vai parar. Continuo sendo um amontoado de coisas. E posso viver com isso. Vida perdida? Só por hoje não! Observação recíproca A observação dentro de uma comunidade terapêutica é fundamental. Tanto observar outro interno, como observar aquele que experimenta o que preciso. Conselheiro, facilitador, monitor, obreiro, líder, qualquer nome que se dá a estes servidores é menos importante que a função que eles exercem. E a função é de observar para colaborar com o meu crescimento, para que eu tenha um bom aproveitamento dos dias passados por estas bandas. Eu, como interno que observa o líder, ou o nome que for, sou o que mais aproveito. Ele é a autoridade e é passível de erros como qualquer um e não tem essa de obreiro bom ou ruim pelos erros ou acertos que cometem o que importa é a motivação dentro disso. Esta autoridade colocada por Deus necessita encontrar algo entre o excesso e a inércia, mais conhecido por amor. Ora o amor compartilha tudo. O sentimento do monitor é o de se colocar na figura do observado e relaxar nesta posição, importante já ter experiência de observado, a empatia funciona sempre, lembrando que Deus está perto. Ele é a referência, a marca do possível. O facilitador, sendo ele também um adicto, demonstra sua fragilidade de pecador, mas junto a isso a força de um servo salvo pela graça. O conselheiro faz da sua atividade uma doação, não quer nada em troca, já teve a troca, e é grato por isso. Mas percebe, com sua experiência, a vivência do aluno, trazendo para si um aprendizado com este. E também está à disposição de expor-se a tudo e a todos, experenciando novas trocas de conhecimento, nunca deixando de colocar suas práticas de vida à vista de qualquer um. Contudo, não há modelo. Há sim alguém que queira, apesar de tudo, igualar-se ao outro, sabendo que numa CT, a empatia é a mola para o autoconhecimento que impulsiona para a mudança e o desenvolvimento humano essencialmente. Sem deixar de ser aluno, ensina com seu viver e aprende com prazer. E eu, também observador, monitoro-me mediante a visão que tenho dos meus iguais, unindo-me a necessidade de transformação. Não maior nem menor. Há a comunhão de seres, onde a reciprocidade de experiências é o motor principal na busca com algo maior que todos: O encontro da liberdade com Deus! Recaída dois Alguém viu a minha vida por aí? A minha vida alguém viu? Ela estava por aqui, em algum lugar... Eu a sinto perto, mas não consigo ver... E o que aconteceu aos meus olhos? Não enxergo nada! O que eu fiz de mim? Meu Deus!!! Tudo estava tão bem, eu caminhava bem e de repente, as coisas ficaram estranhas... Onde é que tá todo mundo? Tem alguém aí? Eu preciso de alguém. (...) Toda vez que retornei a uma comunidade terapêutica, me sentia como isso aí. Não sabia de mim. Não tinha perspectiva. Ao recair, o chão some e surto com questionamentos em busca de identidades perdidas. Não busco mais o emotivo passageiro, estou de volta ao meu próprio medo, minha própria insegurança, e surgem mais. Por que estou aqui? Pra quê estou aqui? Pode parecer claro até demais pra ti, que me lê, mas muito mais que isso e isso também são os desejos reprovados! Nada está claro! Não há respostas que conseguem me satisfazer, pergunto por perguntar. Não quero a resposta que é sempre contra mim. Não me movo a favor. Este reinício de estar onde meus medos são confrontados, leva-me até momentos de angústia, chegando ao colapso da fuga eminente, o terror afronta a Verdade e quero sair de qualquer forma deste lugar. Então chega a escolha. Este momento é crucial pro resto todo. O todo que me espera após a escolha e pode ser qualquer todo. Vida ou morte. Mas é saudável. Assusto-te? Leia de novo então: é saudável sim! E exclamo essa possibilidade! E continuo em meio às dores. Minha reação é o que importa, pergunto atrás de querer saber, mesmo que não importe a resposta, pois naquele momento qualquer coisa dita não supre a falta de mim mesmo, sem norte. Mas pergunto. Reajo. Reagir é preciso dentro do sofrimento, é quando ele se torna dádiva e escolho que seja assim. Tenho a escolha! Como Jó, reclamo que aquilo não é pra mim, que não sou merecedor disso tudo, até que enfim, relaxo e entrego-me Aquele que pode tudo. Engulo meu eu destruído pra continuar. E vou mancando. Vou devagar e vivo. Meu manquejar assumido me aproxima do Deus que me ama. E me acolho e me amo junto ao Amor Maior. E já virou vida. Olha só... É vida de novo! Virou vida rica e abundante graça. As perguntas continuam e me enlaçam de repente outra vez. Mas já passou o medo. Olho agora na direção zero. Ponto zero contínuo. Aqui e agora. E já me basta tudo isso! A vida torna a me cercar, regozijo. E basta por um dia. Do meu grande dia! Identidade Algumas pessoas dizem como eu sou. Sempre ouvi dizer que não devo me preocupar com que os outros falam ou pensam sobre mim. Também dizem que minha vida não é da conta de ninguém; e talvez não seja mesmo. Acredito que não preciso me incomodar com o que os outros pensam, mas sei que preciso refletir sobre tal coisa. De que forma estou me mostrando ao mundo? Será que pareço com o que penso que sou, ou será que penso que sou o que pareço ser? Qual a minha identidade? É importante eu ouvir o que outros têm a dizer. Qualquer um pode estar certo, e isso é bom! Já fui visto de várias formas e é provável que me mostre diferente a todo o momento, mas não posso deixar minha identidade em dúvida. Sou um amontoado de coisas, isso eu já sei e vivo com isto. A incoerência é uma prática minha. Meus hábitos é que me definem. Meus pensamentos são vivos e descontrolados às vezes. Aborreço-me, perco a paciência, não tolero algumas coisas, porém, são atitudes que não precisam estar arraigadas a mim, não precisam ser meu reflexo. Sou um bocado de coisas, já disse… Se o outro me olha como alguém que é aborrecido e me informa isso, mesmo que de forma equivocada, reflito imediatamente na possibilidade de sê-lo realmente. Também com a intolerância, vigio-me para não ser assim, todavia se alguém me caracteriza desta forma, vou logo aos meus botões, e analiso: – Será? Não fico incomodado com estas coisas, sei que são inerentes a mim como criatura humana, porém não vou me permitir ser o que não quero. Me amo e preciso amar o próximo também, assim não relaxo em ser algo ruim, pois não quero ter a identidade de algo afastado de Deus. Quero ser o melhor possível, mesmo que não o seja. Mas procuro mostrar-me como gostaria de ser. Busco no Caminho, ando, tropeço e me levanto, pois tenho mãos que me apóiam.          .  Corrigindo-me vou ao intuito de ver o Deus que pode fazer todas as coisas. Até o dia que Ele quiser que eu seja assim…  Buscando o simples Quero a paz! Buscando o simples caminho solto pela estrada de Deus. Minhas preocupações são diferentes e são do tamanho delas. Almejo pequenos motivos de ser bem menos do que era. Mas preciso me domar, cuidar da fera que vive como a espreita. Ás vezes me encontro com ela, tal fera mostra-me que o outro está ao lado e não o quero. Logo cuido pra não libertá-lo Prefiro a liberdade de não mais me culpar por ser ou não ser, deixo Hamlet na sua dúvida e meu desejo é preciso, nada mais que isso. Ontem explodi quando o ela não foi de acordo com minhas necessidades e valores, a fera tomou lugar do simples e o egoísmo mostrou-se forte. Este simples me basta na medida em que não suporto mais do que além dele. Feri mais uma vez o ela e mais adiante o Espírito me disse pra voltar e reconsiderar; aceitei e de imediato o perdão pedi, não podia deixar pra depois. Não há tempo a perder. Hoje me percebo e logo volto e a volta imediata diminui a conseqüência que virá sem piedade, luto menos comigo mesmo. Ando menos com o erro, o rechaço o quanto antes me for possível e fica a verdade isto é simples. Busco o simples no dia de hoje e isto é tudo o que tenho. E gosto! Respiro do meu momento único no agora e grandes coisas recebo do Poder Superior que me ama e sugere-me amar e me alivio. Amo-me além do que mereço e entrego aos outros a mesma quantidade. Descubro a limitação e não me jogo mais ao chão com lamúrias denegríveis. Gosto do descobrir limites. Paro e volto a mim mesmo e não fico à beira, evito a redundância do meu ser, pois retorno as mesmas coisas. O que Deus me dá, recebo com a sensação de agrado, é a Graça que eu não fiz nada pra ter. Não critico meu eu, e quando me ultrapasso busco logo o sentido maior que vem Dele, do Pai que nunca se esquece de ensinar o filho que o dia tem seus momentos de estranheza e de emoções explodidas sem sentido. Ontem quando explodi e sai do que quero ser, atingi o ela que não queria, percebi que preciso negar-me ainda mais, pois não preciso de nada além da percepção de um Deus que está próximo e não deixa de cuidar do que é seu. “Aba, pertenço a ti.“ (Ct 7:10) E quero viver esta verdade. Digno, eu? Nas minhas vivências em comunidades terapêuticas, observando pessoas com as mais diversas dificuldades, me deparo com alguém que não se acha digno de Deus. E me identifico. Eu já me senti assim e hoje quando percebo alguém que está passando pelo mesmo dilema lamento e pergunto a mim mesmo: Mas e quem é digno? E respondo: Ninguém e todo mundo! Eu não sou, pois não faço nada pra merecê-lo e ao mesmo tempo sou, pois sou justificado pela graça do meu Pai misericordioso. Mas, infelizmente, se eu não compreendo esta graça eu paro, começo a retroceder e fica difícil encontrar o retorno. Ele é o Caminho! Meu primeiro encontro, com a palavra de Deus, foi numa casa de recuperação e ali me disseram que eu tinha que fazer muitas coisas pra Deus me dar a salvação. Estes ensinamentos distorcidos, apesar das boas intenções, me tornaram mais legalista, difamador e condenador do que eu já era, distanciando-me desse amor incondicional, pois nunca me achava suficientemente bom para merecer a vida eterna. E nunca serei bom o bastante, a graça liberta-me do que nunca serei e não me pede pra ser nada além do que sou: Um pecador salvo pela Pura Misericórdia Divina. Posso continuar meu caminho, me arrependendo de erros cometidos porque já tenho e não para ter o perdão. Aqui, neste lugar no qual me observo no outro, decido confiar em Deus pra tornar a confiar em mim e detonar o gatilho da esperança adormecida em meu coração. Os sonhos retomam a possibilidade que o próprio Pai me dá. Não é preciso retroceder, é preciso caminhar, seguir em frente e perceber que o Amor de Deus é o que basta e tudo já foi feito por Ele e a única coisa que posso fazer por isto é Lhe ser grato por me dar mais do que preciso e mereço. Não quero mais ser o que nunca fui Ainda quero ser menos. Minha imperfeição te incomoda? Então preciso ser menos em ti, ter tua vida menos em mim. Observo-me, não me culpo. Encontro o erro e sobreponho fé em vida nova. Mudança bruta. Em renovo, esqueço de mim e vou ao outro me esmerando pra não torná-lo refém de meus receios. Assim cuido com escrúpulo do que vem. E eu já logo os conheço, uma vez que são todos eles meus eus e já foram vividos e sei pra onde isso me leva. Repenso a emoção e claramente vejo o “de novo” estar ali, em loucura de desejo de o ser novamente. -Aquieta-te, passado, tua vez já passou, deixa-me ser agora. Não quero mais ser o que nunca fui. O autoconhecimento me salva do esquecimento do que fui antes pra ser verdadeiro de mim pra mim mesmo. Lembro-me de que eu fui e não tornarei a ser se me voltar ao eu primeiro de criação unida com Deus. Esta verdade me anima e faz-me reforçar e esforçar-me no Caminho. Não mais o medo, antes o cuidado por causa do autoconhecer. Quietude que me entrega à sensatez. O silêncio fundamenta-se aqui como essência em desejar controlar-me. E quero menos ainda. Já é bom o que há agora na minha mente buscadora. Ajudo-me, me confio, vou além sem confusão e me delicio em ver coisas antigas com outro olhar, olhar mais limpo e aprazível. O outro me mostra o seu jeito de ser e eu ando com ele. Da forma que for sou igual a este ser que compartilha vida, toda a vida, não há julgamentos no ser da vida de ninguém, da minha parte uno-me ao que for e cresço nisto. E pode ser minha a possibilidade, posso sê-lo também em minha vida. Sim, ser o outro. Sou igual, posso ser qualquer coisa. E crio palavras novas, sentimentos novos pra mim e salto para o novo mundo descoberto. E a palavra nova é V-I-D-A. E tu dizes que já conhece vida, não, não a minha VIDA. O mundo que sempre esteve lá desde O Sempre! O Sempre estava lá e eu não O via. Hoje não há como não O ver. O Sempre e o mundo, mundo criado pra mim e por mim descoberto, através Dele. O Tudo já está aqui e eu quero ser cada vez menos pra cada vez Ele ser mais. Quanta paz! O Pai me deixa ser. Sou mais por ser menos, já que sendo menos sou mais porque sendo menos sou mais com Ele. E tenho loucuras em pensamentos explicativos visto que já quero te mostrar minha felicidade em não ser nada. E tu me entendas como quiser, tens esta liberdade, mas não fui eu quem te deu. Esta ação é tua! Entenda-me do jeito que for agradável a ti, não me deixe ser desagradável. Tu, com teu discernimento, transforma o desagradável em agradável. A liberdade que tu tens é tua somente. Faço assim com a minha: vivo nela. E não me ultrapasso, desta maneira sou diligente comigo e contigo. Não esqueço que minha vida compartilha a tua, a ti que me lês agora e busca compreender-te a partir do que está a tua frente. São mais que palavras, são verdades atrás de minha pretensão em externar o eu mais meu possível. É Deus que eu busco. Não busco o retorno Dele, mas o meu! Meu caminho é o de volta ao Criador. Perto está o Senhor! Ressocializando-me Penso em ressocialização. Idéias de conquistas, benefícios de recuperação, olho no futuro e tantas outras coisas e me afobo. Eu quero tudo! Sou assim, me animo com as poucas coisas, as mais simples pra mim são estupendas, quero sempre mais de tudo. E nisso, querendo mais desta vida, encontro a ressocialização aqui neste lugar, neste agora, onde no meu escrever vou retornando a mim mesmo, encontrando o ser novo que hoje habita meu eu e que passa pra trás o outro que antes me destruía. Ressocializo comigo e contigo que me lê e pretendo ir fundo nesta redescoberta íntima e pública. Eu me encontro. Na CT, sempre é tempo pra socializar de novo: Com minhas visitas, por exemplo, tão esperadas, retorno ao seio delas, busco o novo com elas, mostro que de novo estou de volta e quero fazer parte, me engajo. O telefone toca, logo levanto abrupto e contente e, se chamam meu nome, o coração pulsa e penso que estou já no meu recomeço. Se creio nisto, o torno em verdade. Minhas alegrias afobadas e estupendas. Sinto que já estou de volta, recupero o fôlego e anseio pela visita em casa, estou voltando, é como minha primeira vez, estou vivo de novo e caminho em gratidão Àquele que me dá todas as coisas. De volta a CT, suspiro e repenso no que podia ter feito melhor, poderia ser mais eu e tudo é novo se eu tornar meus momentos assim. Não sou mais como antes, é revigorante renascer e sonhar com vida nova. Depois que o meu tempo terminar por aqui, quando vou definitivamente embora, refaço o mesmo caminho, mas apenas o caminho é igual, eu nunca mais serei o mesmo. Deve ser assim! Estou de volta às pessoas e elas, talvez, ainda sejam as mesmas, e o que cabe a mim é vive-las e amá-las como parte de mim. Se antes eu não era assim, agora sou! Necessito delas e elas de mim, e continuarei a renascer todos os dias, a partir das novas descobertas que terei. E estou na sociedade novamente e reencontro o eu em vários lugares, nos cantos da casa, nas esquinas e me reconheço. E se sou novo realmente, meus caminhos também serão novos, afinal, já sei daquelas esquinas... Retomo a vida sem pressa, agora não posso ser afoito. A reclamo como minha e luto por ela. A vida ontem perdida, retoma a essência e com fúria investe contra mim e não posso voltar atrás, então tenho que ser bem pensado. E há novidades. O meu novo eu é a novidade, mas também é desconfiança. A desconfiança é cria minha e vivo com ela, mas não a alimento, mato-a de fome! Assim torna-se segurança que também é cria minha, faço tudo por ela. Vou nutri-la e isso é pra sempre. Ressocializar é conviver com o outro dentro de mim. E a autoaceitação está junto a tudo isso. Necessito conviver amigavelmente comigo mesmo, afinal vou encontrar-me sempre e todo dia. A pergunta surge: - O que vou fazer com este ser importuno? Resposta: -Perdoá-lo e aceita-lo! Enfim... Hoje agradeço pelos meus pensamentos um pouco mais claros. Havia muito tempo que não me permitia pensar coisas minhas. Localizava idéias a partir de outros pensadores, escritores, amigos e as assumia como minhas e então criava minha personagem. O tempo perdido foi imenso. Porém, vejo agora a mudança positiva quando olho pra trás e percebo que não conseguia ser eu porque não me sentia bem, porque não conseguia conviver comigo mesmo. Quero agora, ter estas lições de vida, de erros e falhas, como trampolim para saltos maiores, saltos seguros de coragem. Na comunidade terapêutica, encontrei porto seguro para me identificar com meus pares e crescer junto a eles e, principalmente, entender que isso tudo, passado por aqui, não foi obra do acaso, mas sim de uma mão poderosa e amável que faz tudo ser diferente. Que transforma a dor em aprendizado e enaltece os que, como eu, outrora foram discriminados. A CT hoje é o refúgio onde vivo na paz desta Força Enaltecedora, onde encontro a solidariedade e o acolhimento para seguir em frente. Aqui somos todos iguais e por sentir isso, transfiro meu amor aos demais, fora daqui. Meu novo caminho é vislumbrado nos momentos em que as situações ocorrer cotidianamente, quando retorno e vejo que todos temos diferenças e se quero que as minhas sejam respeitadas, devo respeitar todas as outras, sem distinção. E é bom! E este olhar suaviza meu viver, pois é muito mais fácil aceitar o outro quando me aceito, e creio nisto! Estas palavras escritas por mim aqui neste espaço, é o que eu venho sentindo e vivendo dentro de uma comunidade como esta. E me pego às vezes rindo sozinho lembrando que há tempos atrás este seria o último lugar em que eu pensaria em vir para me encontrar. Mas Deus transforma tudo o que for preciso, afinal, Ele faz novas todas as coisas. “Assim, podemos ter certeza de que cada detalhe em nossa vida de amor a Deus é transformado em algo muito bom.” (Rm 8:28 / Bíblia A Mensagem). Afinal, quem sou eu afinal? Precisei voltar a te escrever e aqui estou. Não sei mais se pode dar certo, mas vou tentar de novo. De volta ao início, refaço meu caminho que, para os outros, foi certeiro, mas a mim, não passou de falácias e soberbas, muita teoria, verdades que só serviam a todos, menos a mim. Nego-me desde sempre, não sei como consegui por tanto tempo enganar-me. Ainda continuo achando que enanava só a mim mesmo, um alguém que nunca soube realmente quem era. Meu medo retorna e já não sei mais se posso qualquer coisa. Não sei bem o que fazer. Penso em afastar-me das pessoas, ficar sem dizer nada, talvez seja fuga, mas estou repleto de vazios. Não desejo mal algum a quem quer que seja, não sou, mas pratico a todo momento este mal, com todos ao meu redor. Falso, manipulador, enganador, fraco e vil, cheguei a um lugar que não desejava. Não compreendo como ainda tem gente que me ama. Deve ser este o amor de Deus: Inexplicável. Queria dar este amor, não tirar ou receber apenas. Queria ser pra alguém. Acredito que tenho um porque de viver ainda e deve ser este: Ser pra alguém... E engulo o choro, pois acho que nem devo chorar. Vou tentar o mínimo, somente um algo bem pequeno que pelo menos me tire destas encrencas e que me permita vitimizar-me menos também. Preciso parar com esses caminhos carentes de bem, vazios de Deus. Não estou bem, mas sei que não é pra sempre. Tá difícil reestabelecer este contato com o Todo. Mas é preciso ser feito e logo. Não posso ser assim, aprendi que todo o dia foi me dado, antes mesmo de acontecer, ele já é, está lá aguardando eu recomeçar. Preciso de ajuda pra prosseguir e mais uma vez te peço esta ajuda, a ti que me lê. Preciso-te! Onde foi que deixei de buscar o que sempre afirmei ser o meu alvo? Quando voltei a olhar pro outro com olhos de crítica e esquecer que eu mesmo devo ser o meu crítico? O mais interessante em tudo isso, é que eu sempre soube estar errando o caminho e mesmo assim continuei nele. Mesmo sem querer! Quanta coisa pra rever! Afinal, quem sou eu pra querer duvidar da verdade dos outros se a minha própria verdade é a mais pura dúvida? Não estou aqui querendo ser o nada. Mas de que adianta saber como é ser e não ser? Estou atrás do fio da meada. O início. Eu sei que existe, pois já foi vivido e sentido, penso que dentro de mim ele se esconde como o outro que sempre quis estar na frente de tudo e de todos!!! Luta sem fim! E mais ainda, será que este outro foi criado por mim mesmo, ou nasci com ele? Se nasci com ele, quando comecei a duvidar dele e quando passei a criar o eu que preciso ser? Como viver sem esbarrar no outro? Me resta a luta, luta comigo mesmo. E sei que dirás: - Todos lutamos! Mas ninguém luta a batalha ninguém. Outros dirão ainda, e em tese, que é preciso se render. Às vezes essas afirmações aumentam ainda mais minhas dúvidas. Render-me seria não mais lutar e deixar que Ele lute por mim, porém, acho que devo me render a aceitar a Força que Ele me dá pra lutar, a Força de Vontade de sempre olhar na direção da esperança. A Força do Bem. E mudando para o que estou sentindo agora, estou vivendo no silêncio das palavras não ditas e que deveriam ser expulsas, colocadas a par do outro. Talvez ainda possa ser outra tentativa de fazer diferente, mas sem resultados perceptíveis a princípio. Talvez a espera da minha atitude. Não sei por onde vou, nem onde dará esta minha busca pelo entendimento das coisas. Precisava, apenas um pouco, expressar o agora que vive sobre mim. E já sei que posso estar sendo muito! O simples que me escapou de mim como alvo, pode voltar a ser o sentido de vida plena, mas, pra isso, terei de encontrar-me de novo, redescobrir o prazer de não ser. E ainda assim mesmo sou! Querendo não ser... Admito! Tem coisas que são inaceitáveis. Seguramente, eu sou uma delas. Porém, vou lutando e aceitando-as, a meu modo... É um processo lento, mas que se torna eficaz à medida que luto. E isso já faz toda a diferença... Não controlo nada! Isso já me faz livre... Palavras repetidas são boas, pois funcionam repetidas vezes. Pensamento que me vem à cabeça neste-já: se aceito o inaceitável, como eu fora intolerável? Buscando não ser o que sempre vem á frente do pensamento, admito que prefira, hoje, parar pra pensar antes de falar. Falo demais! Meu falar que quase sempre diz sobre o que eu quero dos outros e não o que eu quero de mim. Falar de mim pro outro traz a este a visão de si mesmo me observando. O outro é igual a mim! Quando olho diferente disto estou sendo ou soberbo ou autopiedoso, ou eu mesmo... Se quero fazer a vontade de Deus devo amar. Não pode ser sacrificio e sei que Ele não deseja isto de mim. Amar a Deus não é pra ser um suplicio... “Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei diante do Deus altíssimo? Apresentar-me-ei diante dele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” Miquéias 6:6-8 “Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembleias solenes não me exalarão bom cheiro. E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso.” Amós 5:21-24 “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.” Mateus 9:13 Como me apresentarei diante do meu irmão? Tenho que ser esta verdade! Faço-me companheiro de luta, seu parceiro de angústias, de vitórias, mas principalmente semelhante. O que sucede a um, sucede ao outro. Cria-se a possibilidade de esperançar, de manter-se ativo na vida sabendo o que é possível. Todos nós somos passiveis de viver qualquer coisa, isso é Graça! Busco sair da arrogância de espírito que aos poucos me torna, depois de tantas tentativas, decepcionado e frustrado. Ao mesmo tempo fujo da autopiedade, pois sei quem eu sou e isso sempre acabou em soberba. Vou ainda ao simples, até mesmo em escrever-te, de novo, simples, e querendo que seja pra sempre, tomara! Refaço meus passos, ato fundamental pra entender por onde caminhei. Retomo a alegria da liberdade. Ajo! O amor que vem Dele, leva-me a mim e então ao outro e então ao Deus Todo Poderoso em Amar. “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22:37-40 “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. E o escriba lhe disse: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.” Marcos 12:29-33 “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” João 13:35 Esperar, esperançar, esperar agindo. Paro para continuar seguindo. Ser grato a Deus é ir ao outro que é sempre participante do meu viver. Afinal que direito tenho eu de fazer o que não quero que façam a mim? Admito: Preciso amar! Andréa Uma declaração de amor a ti Cada dia que passa confio mais no que Deus pode fazer apesar das circunstâncias e de tudo o que fiz. Penso na colheita... Imagina se fosse colher tudo que plantei!? A misericórdia Dele não deixa, porém agora vejo que é muito mais que isso! Lembrando Miró da Muribeca: “-Deus não dorme na guarita”*. (Ilusão de ética – do livro homônimo) Não posso deixar que minta as escrituras. Sim, colho o que planto, mas pela Sua compaixão, “... Ele torna novas todas às coisas...” (Ap 21.5) O que eu poderia pagar com dor e infâmia, pago com alegria em ver o poder de Deus agindo a favor da minha mulher e por consequência em mim. Aleluia! Olho as novas coisas com visão de plena mão de Deus nelas. E não é fantasia. Num mundo onde mudar significa seguir a modismos, encontro ao meu lado a pessoa que vai de encontro a estas toadas. Quando a predominância é o afastamento ao relacionamento considerado desacertado pelo mundo, ela vem e corre ao encontro com amor, sim, e amor incondicional. Chora às vezes, pois é duro andar na contramão, mas vai. Queria ir assim, como ela foi e vai e continua indo. Eu não desisto, pois sei que Deus está aqui junto e ela caminha chegado e me ajuda a andar também na contramão. Pra quem irei? Irei sempre ao Deus que torna novas todas as coisas! Irei ao amor à ela, amor que me aproxima Dele. *(Ilusão de ética – do livro homônimo) Apesar de... Reverto o caminho. Mas não vou ao início. Volto ao começo de algo que estava indo bem e, depois de um tempo, nem sei ainda a razão, perdeu-se e tudo foi irradiando estranheza e passou ao já conhecido. Silêncio e solitude!? Perdi-os. Foi lá quando tudo esparramou pelo chão, tudo que havia se convertido, transmutado em leveza, abalroou e rebentaram os portões, as grades que aguilhoavam palavras que seriam vociferadas e que, até então, não haviam sido ditas... (...) Após, nada mais significava travar, prender. -Azar, dizia eu, agora nada mais importa! Como antes eu jazia... Morto outra vez em minhas certezas... Eu novamente jazia... O apóstolo Paulo diz aos Coríntios – “Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.”. (II Coríntios 12:09-10 - bíblia online) Deixei o outro retomar o domínio, outro esse, que já se sabia era habilidoso, sim já era sabido. Se faz inescusável relatar os reveses a partir disto: Tentativas de fingir o que a todos estava à mostra; insistentes buscas de enganar meu chegado, enganando outra vez a mim mesmo; manipulação desenfreada; prepotência; arrogância; autopiedade e principalmente autossuficiência, tudo regado a muita desonestidade. Onde Ele estava?! Me perguntam, ou eu pergunto a mim mesmo querendo que perguntem outros. Ou a melhor pergunta seria onde eu estava??? Mais tempo perdido, mais do mesmo. O Pai estava onde sempre esteve, oras, ao meu lado, me olhando e chorando possivelmente. Ele é assim, Deus se comove com aquele que erra e é sempre assim. Sempre haverá aquela mão segurando pra eu não ir tão fundo ou para puxar se lá eu tiver chegado. “... a minha graça te basta...”. Saio do meu equilíbrio quando penso diferente disso: Deus me basta! Seu amor e misericórdia constantes, me bastam! Acho-me pequeno por não ter tudo que quero, ou não ser aquilo que vejo por aí, numa aniquilação lenta e doentia de não me aceitar, então almejo mostrar que sou mais e nessa vou além e chego ao orgulho: do autopiedoso ao orgulhoso, assim fácil, enquanto Ele diz “... a minha graça te basta...”, assim, simples! A reação proativa é paradigma seguro, abraçar a autopiedade não me dará forças para erguer-me, muito antes, pelo contrário, ela satura o que já encargo e, adotar a autossuficiência atocaia a decepção e a frustração que logo em seguida, sem falhas, virão para mais uma vez mostrar-me que não sou o que aspiro ser. Louvo ao Eterno por não ter medo de devanear a cerca de mim. Ajudo-me, tocando-me. Qualquer escolha agora deve ser para frente. Retorno pra encontrar-me onde fiquei a ver navios fantasmas e não vou mais além de mim mesmo. Agora é aceitação minha e pró-Ele, passos calmos e silêncio... Busco agora ouvir, tardar em falar e tardar em irar-me. (cf. Tiago 1:19) Buscando amar o próximo como a mim mesmo A busca não começa nem termina, ela é como Deus é. Nasço querendo-a. Ainda vivo no simples compreendido que estava atrás do pensamento. Joguei pra frente e tornei-me este. Mas tão de repente perdi o fio condutor do propósito e agora me refaço e traço o novo mais simples ainda, agora vou de mim pra ti, diretamente, vou agora ao outro, que é tu mesmo, meu parceiro de mundo e vida, àquele que me faz estar em amor com o Todo. Deus se faz presente no meu relacionamento contigo. E quero amar-te! Deus é o amor do mundo! Relaciono-me contigo e assim retomo o simples e vou mais que isso, quero a tua influência. É besteira dizer que os outros não influenciam emoções em mim, influenciam sim! Mas eu defino como me influencio e não posso criticá-lo se me gerou bem ou mal, não me pertence o direito de ir ao outro e desejar como deve ser o seu modo de influenciar-me. Já estou começando a confiar a mim novas palavras leves, por enquanto serão leves, mas posso, ás vezes, pesar um pouco, mas não quero que tu me carregue, são só palavras entregues ao mundo e ao Deus que tudo suporta de mim, pois é todo em amor. E não me condeno. Quem sou eu pra isso. Entrei em colapso por não seguir no simples, pensei ter dominado este que devia me dominar. Voltei a querer ser o que não sabia ser. Então volto, mas não volto ao ZERO, número daquilo que não é nada, volto ao ponto de onde reencontro o meu eu bonito que emerge e crê nas possibilidades. E sobre buscar o amor ao próximo como a mim mesmo, defino como estar em amor ao Deus único que me ensina como fazê-lo todo dia e continua a ser, Ele é o amor, então minha busca é como atingir o Amor Maior, acredito que assim possa acertar meu alvo. Estando no caminho da busca por atingir, já não estou no caminho de não atingir e assim vou acertando. Você que me lê, não siga a mim, siga o seu caminho, se for como o meu, nos encontraremos em breve. Liberto-me do outro eu que vive em mim, não o transformando em um eu menor que meu eu desejado. Olho-o de baixo, pois já sei quem ele pode ser. Respeito o outro dentro de mim. E me importo com ele. Cuido dele. Existo assim: dois eus, um que sou eu querendo a liberdade do simples, e outro que deseja tudo! “O que existe de mais divino nessa vida é que sou humano” Deus atua no meu humano ser, no falho e no que pensa ter certeza de tudo! Influência do novo Vou cambaleando, errando, manquejando, porém andando e vivendo. Vou me entregando, buscando viver melhor. E isto está em todas as coisas, inclusive aceitando meu claudicar, estou agora na vontade de ir a tudo com o amor que eu exijo tanto. Procuro aprender coisas pra ajudar os outros e de repente me deparo comigo mesmo. Aprendo quem sou eu! E preciso de ajuda! Continuo querendo ir ao outro, quando percebo estou frente a frente comigo mesmo. Já vivi isso: -...o outro é meu espelho... Sou semelhança e isso é o que me leva de volta pra Deus. O ciclo se refaz em mim. A minha morte espera pela minha vida. E a morte já foi agora é a vida que está na vanguarda. Vou ao meu chegado para me encontrar e em mesmo sentido à Deus. Achei algo que me remete a alegria do novo. Sim, descobri-me novamente no outro. É um fruto púbere, ainda verde, no pé, não está nem de vez ainda. Mas é fruto! Na vontade de não atingir com potência excessiva, apresento-me com determinação acalmada, é hora de entender o que está acontecendo. Não vou arranca-lo antes da hora. O amadurecimento é necessário. Estava há tempos querendo este entendimento, e feliz, cuido pra não ser demais. Escaldado, contenho minha euforia... Escolho por uma reforma, minha reforma, mas devagar, mas firme, com olhos fixos, empenhado. Colido com a “Água Viva” de Clarice e percebo novo entendimento do “renasço”! Revivo me alimentando do meu próprio ser, este que me dá as informações elementares para o agora vigente. Ainda não posso colher-me, preciso me alimentar mais desta árvore que me dá vida. Estou novo! Respiro e paro. Entrego-me a mim mesmo, honesto rigorosamente para identificar o que precisa de remodelação. Talvez alguns pontos de vista rígidos, que agora pedem novas ponderações. As escolhas que fiz são de minha responsabilidade. Vou agora ao que me cerca e a todo tempo me influencia; retomo o que notava esquecido, quando me lembro de como tudo me influenciou. Uma mesma influência pode me levar a escolhas diversificadas. O poder de Jesus está em mim quando digo não aos desejos e vontades que aparecem na minha caminhada. Só estando com ele posso fazer desse jeito. Fazer o que Jesus fez, somente entendendo a Graça como alimento, meu alimento único, que faz repetir e produzir novas sementes para novos frutos. Cuido da criação de Deus, ou seja, do meu corpo e de tudo que me cerca, do tudo que está aliado a mim, ocupo-me com coisas que valem a pena. Amo tudo que posso. Cerco-me do que me agrada e tudo me agrada. Vejo o melhor no todo, há o melhor, o possível. Busco-o com vontade firme e calma. Busco o amor. Amor a mim! Amor ao outro! Amor ao Todo! Nada pode ficar fora, sou dentro. O ide é a partir de mim! “Pregue o evangelho em todo tempo, se possível use palavras”. (Francisco de Assis) O ide começa em mim mesmo! Preciso antes de ir alguém, ir a mim mesmo e portar a Verdade. Meu autoconhecimento, necessário pra este ide, me mostra como sou. Mas quem sou eu se não a imagem do Criador? Não posso fugir disso, eu sou o que mostro às pessoas, não adianta palavras de impacto, da mesma forma que olho os outros, os outros me olham. Que imagem é a minha? Devo levar a imagem Dele no meu ide ao meu próximo. E este ide é sempre, “...em todo tempo...” Penso agora no que eu faço por Deus. Ele já fez tudo por mim... Outra vez percebo que mesmo já tendo feito tanto e todo o necessário para que eu viva e viva muito bem obrigado, Ele continua fazendo, este é o modo do Seu amor. Quando aceito esse amor, desmorono. Muitas questões surgem e penso mais ainda: Nunca vou conseguir fazer o que Ele merece, eu, que sempre miro o meu merecimento. Pra onde eu estou olhando? Por que faço coisas pra Deus? Por que quero fazer coisas pra Deus Será que faço pela lei ou por amor? “As palavras que digo não são meros adendos ao seu estilo de vida, como a reforma de uma casa, que resulta em melhora de padrão. Elas são o próprio alicerce, a base de sua vida. Se vocês puserem essas palavras em prática, serão como pedreiros competentes, que constroem sua casa sobre a solidez da rocha. A chuva cai, o rio avança e o vento sopra forte, mas nada derruba aquela construção. Ela está fundamentada na rocha. (Mt 7:24-25) E mais, “Se vocês me amam, demonstrem esse amor, fazendo o que eu disse a vocês. (João 14:15) Verdadeiro cristão? Quantas vezes tenho a oportunidade de empreender o ide a mim mesmo negando fazer o que sei que me causa mal e não faço? Quantas vezes procurei meu próprio prazer ao invés de estar com um alguém que precisava de um simples abraço, assim como eu muitas vezes preciso? Quantas vezes não me coloquei no lugar de qualquer um, ficando a olhar para o centro da minha própria vontade, fingindo não saber? E, apesar todo esse meu egocentrismo, dissimulação, egoísmo, o Pai ainda está aqui, meu olhando e me colocando em pé pra mais uma tentativa, me mostrando outra oportunidade. O que posso fazer com tudo isso? Posso mergulhar nesse amor, fazer como Ele faz! Acreditar! O Pai acredita em mim porque sabe que posso ser como Ele. Como acreditar nesse Amor e não ser amável. Meu ide começa no meu amor por mim, no meu desejo de estar mais perto de Deus, e para estar mais perto Dele, preciso estar mais perto do outro. Eis a Graça! O milagre nosso de cada dia Toda a vida de Jesus foi um milagre. Desde seu nascimento, sua vida, até sua morte e ressurreição. Outro dia li que, segundo os evangelhos, Jesus praticou 35 milagres em seu tempo na terra. Olhei cada um atentamente. Porém, senti falta de alguns que, toda vez que me deparo com eles, me assombro e, muitas vezes, esqueço que são a verdadeira missão pela qual Deus despiu-se de Sua Glória e resolveu habitar entre nós como homem. Quando veio a terra, Jesus ansiava em me encontrar, Ele decidiu ir a pecadores como eu: – “… Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes.” (Mateus 9:12) E foi. Foi de encontro com as normas vigentes, para ir de encontro com a vida. O que são, além de milagres, as atitudes tomadas pelo filho de Deus quando, por exemplo, deu com a mulher samaritana no poço de Jacó e contra todas as famigeradas críticas da época, resolveu lhe dar a água viva, sem nada lhe dizer além da verdade com amor. E quando foi colocado à prova pelos fariseus que queriam incriminar a mulher adúltera, e Ele decide não condená-la, mas ao invés disso mostra que a vida está acima da lei. E, ainda, quando no calvário, atulhado de dor e angústia, empenha-se em ouvir o bom ladrão que, arrependido, pede para lembrar-se dele no paraíso, e de pronto o consola dizendo que sem demora estarão juntos na casa de seu Pai, e ainda em seguida perdoa aqueles que o estão aniquilando. “Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.” (João 14:12) Acredito que milagres acontecem todos os dias e estão ali, próximos e possíveis a mim: Quando vou ao outro antes mim; Quando rejeito minhas repugnantes vontades centradas em um ego apodrecido pelo desejo de querer ser aprovado por todos; Quando decido não condenar o outro só porque ele foi contra as minhas ideias; Quando não condeno a mim mesmo cada vez que erro muitas vezes batendo na mesma tecla; Quando me defronto com a ira estampada na cara do meu semelhante e não devolvo na mesma moeda, ao contrário, sereno-me para não piorar tudo cheio de justiça própria. Quando não vou atrás de fazer as mesmas coisas na crença que terei resultados diferentes; E também é um milagre quando eu freio minha recorrente correria disposto a presenciar uma semente germinando, um pássaro pousando nos fios elétricos ou uma árvore trocando as folhas no outono. A natureza talvez seja o maior milagre de Deus, uma vez que ela é a corroboração da promessa de renovação em apocalipse 21:5.* O assombro da vida nova todo dia. E é todo dia! Eis o maior assombro… O lixo que guardo no bolso, ao invés de dispensá-lo de qualquer maneira na rua, sou eu indo ao meu chegado com desejo de ter com ele um mundo melhor. E já é! “O Mestre usa a vida e a vida usa tudo”. Tanto ontem como hoje, as ações a favor da vida são vistas como rebelião ao estabelecido. Ainda são poucos os que vivem vasculhando as possibilidades de ser o melhor possível. Mas poucos são alguns e acredito nestes pequenos bocados. Não vou atrás do impossível, é força jogada no mato. Nada mais que isso! Afinal, o impossível me é possível assim que o realizo. *“…eis que faço novas todas as coisas… “ Há muito para fazer, muito para tornar-me. Inverter o que eu quero pra mim em direção ao meu igual faz a vontade daquele que viveu o impossível praticável. O Filho do homem indicou como eu deveria proceder frente às circunstâncias que surgem a todo momento e que me oportuniza a andar na contramão da mesmice lastimável do meu apetite pelo ter. Curas, prodígios, milagres, assombros, dádivas, graça, podem estar ao meu alcance, quando vou ao meu próximo percebendo a igualdade que nos achega, aprendendo a fazer o que eu gostaria que me fizessem. O tempo E começo a reavivar lembranças e hábitos antigos. Retomo os processos do tempo em que tinha a vida como vida simplesmente. Estive antes de agora e também depois deste tempo vetusto, um hiato, momentos desesperados em aflição de esperar. Falo assim porque passei por estas estranhezas e, vivo, revivo-as no meu momento máximo: meu agora! Que é só meu, mas de vez em quando, participo a ti um pouco dele, pra encontrar-te, gosto de ter tua companhia. E festejo por isso, pois meu pensamento viaja e reaprende com o outrora e, a cada retorno, devolve um pouco mais de mim. E é grande a minha festa! Viajo hoje no ontem, e mantenho meus pés firmes no chão, o Pai não abandona a sua promessa, promessa feita antes de tudo, antes de mim, desde sempre. A Promessa é de Vida, não de morte! Deus é sempre. E o meu tempo, este, é de pensamento livre, não me prendo aos que esperam o tempo, tempo este que tem hora pra ser, hora-agora. E sou. Nada mais que este simples acontecimento. Vou sendo aqui, o ontem e o hoje. Vivo o tempo que existe. Como é viver o tempo que será? Deste não quero, é afoitamento aflito, receoso, desprovido de paz. O tempo que fora, já não existe, pois não arde mais, o tempo vivo é agora e claramente o agora é. Não vou à frente nem ando pra trás, assim vou sendo. Entenda o que espero: nada espero. Tu entendes? Não espero que entendas. Espero eu de mim mesmo. Espera tu de ti mesmo. Há muito pra se ser por este tempo-já. Se eu perder o olhar daqui, posso deixar de ser e terminar por viver fora de mim novamente. É mais que não devo, eu não quero. Quero aproveitar tudo que tenho aqui e deleitar-me na Verdade. O que ainda tenho que esperar? É muito o que eu tenho que viver no meu já, mal dou conta! Se quiser mais vira correria e volta à espera. E me basto nisso, isso que é indispensável e relevante! O tom da conversa Não sei mais como falar. Não sei mais e, talvez nunca soubesse o que é certo. Conversar, além do trivial, virou inferno e não quero isso! Procuro encontrar uma nova maneira de lidar com isso. Temo-me... Não sei ser leve, e busco o leve que me parece tão distante... - mas o vejo, distante, ainda o vejo com os olhos das possibilidades, pois acredito nestas. Minha luta sempre será a favor, não sou contra e quase sempre foge ao meu controle o divagar. Acredito no sim destas possibilidades e tenho dificuldades em aceitar/entender quando não é assim. Não desisto e não vou chorar o leite derramado, corro dos meus medos, mas enfrento-os em seguida. Não mais como ontem, enxergo adiante o possível que a mim e a ti é dado. Mas como te trabalha por isso? Responda-me, é a ti que falo, a ti que me lê. Necessito da tua cumplicidade de tentar ter algo de entendimento de ti mesmo. Assim podes ter entendimento do resto;  resto que é tudo. Carrego milhares de nãos que me entregaram durante toda esta minha pequena vida. Expurgo-os de mim todo o tempo, não os vivo, não os desejo, mas eles vem sorrateiros daqueles que não se possibilitam às possibilidades. O que faço? Faço de impulso como sempre, ainda tenho minhas verdades, contudo volto do erro e retomo o quero ser. É verdade o que quero ser. Regozijo em meus acertos e os deixo fortes para me alimentar deles depois, quando precisar, e como os preciso e, aos poucos deixam de ser grandiosidades e tudo vira aleluia! Deixo-os a minha frente, sempre, ao toque da minha Mão. E os erros? Estes são colocados à parte, nunca esquecidos, pois lembra-los me mostra o que mesmo não querendo ser, posso ser: - meu instinto traiçoeiro. Sou este que busca a maturidade dos erros, e olho meus acertos e vitorias em luta com algo que nunca foge de mim, é este agora tentado acertar. Minha busca em acertar caminha difícil. Venho levando surras do ser que habita em mim e não deseja parar, pelejo pra não deixa-lo mostrar-se. Quero-te como comparsa da minha crença que quer crer no que tu crê! Vou a ti com ganas de te ter junto, "dois e melhor que um". Um pode segurar o outro. Precisamos de nós mesmos! Preciso te encontrar e não te temer. Desejo-te perto. A conversa é nossa melhor arma pra alcançar o que podemos e não mais que isso. E é só isso: o que podemos. Não vou a ti para o não, vou contigo para o sim do muito que somos e tanto temos ainda a almejar. Somos nós que podemos! E quem nos disser que não, libertamo-lo para dizê-lo o que lhe aprouver, mas não aceitaremos o que não quisermos! Que faça bom proveito! Nós temos o nosso! “…Porque jesus é tudo o que deus queria nos dizer…”* ”aquele que é a palavra tornou-se carne e viveu entre nós”. (João 1:14) “e disse-lhes: “vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas”“. (Marcos 16:15) Ruminando o ide, fico buscando entender pra onde estou indo. Tanta avidez por ter, querer, portar, possuir, mas quase nunca por ser, achar-se, encontrar-se, estar, existir, viver. Tantos olhos compridos para o outro catando erros, falhas, desmentidos, incoerências… Enquanto eu sou tudo isso e mais um pouco. Tempo perdido buscando no outro o que esteve sempre em mim. Necessito ir ao outro com o amor que deveria ser a única coisa que devesse a todos (Rm 13:8), inclusive a mim, mas vou ao outro querendo que este seja menos que eu; Nem ao menos igual!!! Critico, detalho erros com a maestria de alguém que figura-se perfeito… E nunca serei… Se primeiro não vou a mim com amor, não poderei nunca ir ao meu próximo para dar-lhe um amor que não tenho. Quero sempre reparar na falta deste meu correspondente e me esqueço de que ele me é análogo. É imprescindível que eu entre pra dentro de mim e contemple este Deus que acolho em Seu Santo Espírito, Espírito esse que me indica meus próprios enganos. Deus governa minha vida quando minhas escolhas estão de acordo com o amor que ele me sugere. Se albergo Seu amor tenho que ser amável. Vou a mim com desejo entusiasmado de após, ir ao outro. Torna-se necessário que eu vá a mim, me reconheça, me defina, para que possa ir ao outro. E vivo pra isto, esta é minha missão e não preciso ir muito longe, a vida me dá missões a todo o momento, contigo, que me lê e comigo mesmo! Eu posso ir a todos simplesmente vivendo, importa nisso, o que estou transmitindo de mim até elas. Para vivenciar o Deus que coabita em mim, tenho que aliar-me ao meu chegado, ser o só corpo que se designa em igreja, que não só está no templo construído para encontros, mas no templo que precisa ser o meu corpo. Fico ainda com a pergunta: - como estou vendo o outro antes de definitivamente ir a ele? Essa resposta tá em mim. Aceitar-me como sou me faz descobrir meu amor ao outro. Em várias passagens da bíblia, pessoas falam de Jesus como alguém que tinha autoridade no que falava. (mateus 7:28-29) Tenho duas ideias pontuais pra essa autoridade ser reconhecida em Jesus. Primeira, era que ele acreditava no que estava falando. Ora, se eu falo de algo que eu verdadeiramente acredito, vou falar com toda a verdade que posso baseada nesta crença. E Jesus cria assim. Mas o segundo ponto eu acho mais importante ainda: -Jesus era o que ele dizia. Volto ao versículo em destaque: ”aquele que é a palavra tornou-se carne e viveu entre nós”. (joão1:14) Quando me deparo com situações em que preciso escolher amar ou julgar, nesta tomada de decisão já identifica o meu ide. Se estou buscando amar, já não estou odiando, e isso já faz muita diferença. Faz-se necessário fazer aos outros o que eu gostaria que fizessem a mim. ( Mateus 7:12) A vida é essa caminhada. Basta eu caminhar! O próximo está toda hora diante de mim. Deus me fez semelhante a ele e fez assim a todos, essa história de ter é conversa fiada, sou igual em ser, não em ter. O ter é terreno, não vale nada, não será levado pra eternidade. Se eu acho que alguém tem que mudar pra que eu o aceite, com certeza, estou precisando mudar a mim mesmo. Eu sou o único que posso mudar. Deus me deu tudo o que eu preciso pra amar. Não sou merecedor deste amor que é loucura. Não faço nada pra tê-lo e é porque consinto com este amor é que faço alguma coisa. É porque já tenho, não para ter e me sinto falto se não der de volta. Aceitar-me como sou me fez descobrir meu amor ao outro. O que tenho feito por esse amor? *Bíblia de estudo facilitado / notas de Philip Yancey e Tim Stafford; traduzido por Daniel Faria. — São Paulo: Mundo Cristão, 2013. Título original: New Student Bible. ISBN 978-85-7325-915-5 Vivências do hoje relembrando meu ontem. Minhas práticas foram acordadas comigo mesmo, entre eu e aquele outro, a fim de retomar um processo construtivo dentro de mim. Prioridades junto aquele que é o todo em si mesmo. Regozijo! Aleluia!!! Neste instante-já, vivido poderosamente no momento-agora, vislumbro outra vez a esperança, o possível. Meu só por hoje vai além do tempo e instaura o segundo, que cresce em minuto e retumba nas horas. Meu dia vai aos poucos se fazendo e eu me faço junto com ele, longe da ganância de ser mais do que sou e principalmente estar em felicidade com este ser agora total. Muito bom é saber que se pode ser o que se é. E basta! E é muito, sim, muito mais do que imaginava. Sou todo e, sempre fui todo em legitima existência, cônjuge da verdade, que pode vir de mim ou de ti, não importa. Quero te falar que estou em ferocidade existente, querendo vida! E a tenho! Encharco-me dela o com vigor dos guerreiros que não desistem e vão além do que podem seus mais sonhados esforços, vão pela fé, esta sem tamanho e intuitiva. Eu vou pela fé. Compartilho contigo que vou de olhos abertos para tudo e com a mente ávida pelo todo. Deus é o todo! A inspiração é infinita, pois não busco o que é longe de mim, procuro o que me é dado todo dia, a cada manhã, agora mesmo, aqui. Antes, queria o que não tinha e deixava de lado o maior de todos os presentes. O momento-já. Inspiração Lispectoriana de “Agua Viva”. Quero a água viva! A Graça que o Pai me dá, sempre esteve aqui, por um tempo a vislumbrei, mas me perdi em afoitamentos de entender o que é mais simples que tudo. O Amor farto é indestrutível, é imensurável, e que é loucura, torna-me simples com o que sou e tenho. Nada mais posso querer! E se quiser é futuro e o futuro não é meu! Um pouco de fé (depois de ver o filme homônimo) O medo do infortúnio se torna pior do que o próprio infortúnio – [ditado iídiche] - Eu devia ter... Eu podia ter... Não! Eu tenho! E quero! Esta é a base da minha vida? Tem também o medo de perder... Estou de punhos fechados, segurando o que tenho e sempre querendo amealhar (palavra nova) mais? Ou estou de mãos abertas e, entenda-se aqui “mente aberta”, buscando ser compreensivo com tudo que me rodeia sem querer nada além do aprendizado? Firmado na rocha, alicerçado em Deus, quando? Sinto prazer em ouvir, sentir, tocar Nele. (-E toco Nele quando toco meu semelhante.) Mas, e de onde me vem estes pensamentos que eu considero nos outros um erro e em mim notas de alguém que é humano? Só meu erro é humano!?!(espanto) Até quando, Cláudio? Limpo de quê, Cláudio Ferreira? E agora sofro porque não respondes meus chamados... Veja nem te chamei de Luiz! Descubro os verdadeiros amigos, aqueles em que posso ser o que for sem precisar criar histórias de controle de mim mesmo. Deus é assim, homens e mulheres também! Isto é bom. O pastor disse “- Não posso abrir de Deus”. Paráfrase de alguém que ele conheceu. E porque abriria? Mas abro e não abro. Esta minha liberdade... O louco disso tudo é que sempre quero mais Dele, gosto de tudo que vem Dele. Gosto de escrever tudo Dele com letra maiúscula. Superstição? Não sei e nem sei se importa, não estou aqui querendo entender. Mas sou efêmero. Mas quem não é? Medo de perder Mão fechada e mão aberta Qual a minha glória? Fazer pelos outros!? O único olhar deve ser para cima. E para ver “pra cima”, careço de olhar ao lado, à frente, ao próximo... E amor vem junto, já posso sossegar agora! O amor coloca tudo em pratos limpos e dá o consolo de que preciso pra não ser o que o meu ser outro quer ser. (!?) Descobri o símbolo da dúvida!? Das coisas que me foram dadas... Ou... Da Graça! E ainda continuo a falar do mesmo. Mesmo esse que não me sai da lembrança. E não me chateio por isso. Lembrar me mantém no caminho. São passarinhos que me sobrevoam e os deixo descansar sobre minha cabeça e inundar meus pensamentos. Quero que morem em meu coração. Quero que se aninhem. Também quero mais voos. Afinal sempre é bom ter boas coisas em mente. Minhas buscas permanecem no simples, no amor a mim e ao próximo. Nada mudou e, estas buscas resultam sempre em Deus. É verdade que nada é muito, melhor eu dizer “quase” nada mudou, ou então não estaria te escrevendo outra vez. Às vezes fico querendo passar disso pra outra fase, como se crescer fosse ultrapassar etapas, talvez deixa-las pra trás, mas me é impossível, tudo isso é sempre e sempre será, devo ser simples, nunca estar apenas! Etapas são acumuladas. E aprendo agora, escrevendo, catando milhos sem sentido. E alegro-me, simplesmente... É disto que quero falar-te. Não preciso de justificativas para alegrar-me. Por acaso, alegrar necessita explicação? Parece-me que sim. Casos diversos emergem no meu pensamento agora quando reflito nisso. Quantos já me inquiriram: -“Está tão alegre hoje, o que foi que te aconteceu”? Muitas vezes respondo:- “Nada”. Mas não basta. Tem que haver algo. Insistem! Já não me basta apenas viver pra estar alegre e por esta mesma condição de eu estar vivo? Mas tudo bem, aqui justifico o porquê de estar assim e na esperança de manter-me assim. E se alguém esperar por novas histórias acerca desse objeto, será desconcertado, pois, é enredo vetusto, que não devo nunca jamais esquecer-me e não sofro em repeti-lo. Gosto! É a Graça. O que mais pode ser dito? É pela Graça! Nada pode ser acrescido a isto. A Graça é na medida certa, mesmo eu querendo, de vez em quando, incrementá-la um pouco. Algo natural, a partir de um ser humano falho como eu, cheio de dúvidas a cerca de tudo e do Todo, comumente querer reclamar, murmurar, me incomodar por isto ou aquilo não ser como eu quero ou não estar da forma como desejaria que estivesse. Quero quase sempre mais. E não é só isso! Muitas vezes também quero menos, bem menos! Na enganosa noção de cristianismo que me assola às vezes, descubro-me imerecido de tudo. Como se seguir ao Cristo deva me diminuir ao ponto de não ser nada. Todas as duas ponderações não são em mim satisfatórias. Já as experimentei demasiado para dizer isso sem medo. Este sou eu. Tanto desejar mais ou querer ser menos, não são pretensões de Deus. A Graça do Pai elimina de mim tais necessidades. Ela me basta!(não resisti em colocar esta afirmação em destaque) Se A recebo elimino minhas reiteradas querências de comparar-me ao outro ou então de me sentir indigno de ser o que quer que eu seja. O Deus da Graça me ama e não preciso fazer nada por isso. Tudo já foi feito. O que mais posso dizer? Sim, erro diversas vezes, falho, tropeço, manquejo e sigo alegre, mesmo cheio de dores, cicatrizes, incertezas, medos, mas que não tira de mim o que tenho guardado no coração: Deus me ama! (lá estou eu de novo descontrolado) E nada muda isso, nem meu manquejar, nem minha tentativa de ser perfeito, nada! Meu nome está escrito no livro da vida! Sei o que me espera. A vida me espera. E te digo isto mais uma vez, se eu caio levanto-me e vou em frente, pois sei o que foi feito por mim na Cruz! E se creio nisso como posso não estar alegre, isso sim não faz sentido!? Busco amar a Deus como Ele me ama e, Nele, amar meu próximo, mesmo que não receba deste a volta e mesmo que isso não faça sentido. E alegro-me nisso! Perto está o Senhor. E isto não termina Nunca vai acabar. A vida não é finita enquanto eu estou a vivê-la. Não quero mais do que tenho, quero o mais que me é possível. E vou lento e tranquilo, sabendo que o Bem está aqui, junto. Sobre o fim? Há os que buscam entender e já terminaram de viver. Não quero entender. Não vou além do que preciso e já estou muito. Minhas frases soltas não se alongam, pois não estou pronto para o depois que é mistério e dá sentido a tudo. Posso perder a respiração e me afoitar em riscos desnecessários. Tenho a vírgula e o ponto que me libertam pra ser mais sem cair no que não posso conter. Vou lento e tranquilo, hoje não tenho mais pressa em ser. Alivio meus anseios um por um, todo dia. E sobre como irei terminar isto que sou eu? Não termina. Dou uma pausa e respiro para depois continuar. E assim continuo... Fernando Gomes Peixoto Buscando o Simples 67 | Página 68 | Página 1