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Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina Distorções midiáticas do movimento Punk em tempos de autoritarismo político Regina Rossetti 1 David Santoro Junior 2 Resumo: Este artigo discute as distorções midiáticas da imagem do punk durante o período da ditadura militar no Brasil. Trata das origens do movimento punk no Brasil, apresenta suas ideias e práticas políticas e analisa matérias publicadas na revista Veja entre os anos de 1977 a 1986. O resultado mostra uma inadequação entre o ideário político do punk e sua imagem divulgada pela revista Veja. Palavras-chave: comunicação; jornalismo; punk. Abstract: This paper discusses the media distortions of punk image during the period of military dictatorship in Brazil. Deals with the origins of punk movement in Brazil, presents his policy ideas and practices and analyzes articles published in Veja magazine between the years 1977 to 1986. The result shows a mismatch between the political punk ideology and its image released by Veja magazine. Keywords: communication, jounalism; punk. Introdução Segundo Bivar (2001), o punk foi influenciado por movimentos urbanos como o existencialismo do pós-guerra, a geração beat dos anos 50 e os hippies dos anos 60. Da filosofia existencialista herdou a contestação política e o pessimismo em relação ao futuro. Os Beats nos anos 50 tinham em comum com os punks o gosto por roupas escuras e a preferência pela esquerda, ambos movimentos eram formados por estudantes miilistas e letrados que buscavam uma forma de viver fora dos padrões estabelecidos. Para Gallo (2010), em relação ao movimento hippie, embora, ambos fossem movimentos alternativos de contestação da sociedade burguesa capitalista, o punk não acredita que o amor supere a força. O punk é visceral seu discurso denunciava a podridão da Prof. Drª. do PPGCOM da USCS Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Email: rossetti.regina@uol.com.br 1 2 Mestre em Comunicação pela USCS Universidade Municipal de São Caetano do Sul. E-mail: davidsantoro@ig.com.br 1 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina sociedade, o lema "Faça você mesmo" significa que se você não tomar iniciativa, ninguém fará nada por ti. O movimento punk também possui semelhanças conceituais com o futurismo e o dadaísmo, que são o rompimento com os valores do passado para criação do novo e a adoção do caos e o imperfeito como linguagem. O rock foi o meio de maior influência para o punk, nos anos 70, as bandas eram virtuosas, com cantores e músicos técnicos, havia um afastamento entre os músicos e o público devido ao conhecimento musical. Para O’Hara (2005), o punk rompia com a barreira que separava plateia dos músicos, que foi traduzido na camiseta que Jhonny Rotten usava, que dizia: Eu odeio Pink Floyd. O punk-rock era simples e a forma de cantar era agressiva como um grito ou urro, igual ao sugerido por Mario de Andrade em “Ode ao Burgues”, as letras eram politizadas, tratavam do cotidiano, das dúvidas e incertezas dos jovens. Para Garnet (2002), o primeiro Álbum dos Sex Pistols, de 1977, é o grande marco da cultura, além de ser referencia para o início do movimento. O Punk não morreu, é uma resposta aqueles que achavam que o movimento era apenas uma onda, o uso desta mensagem, foi a maneira de mostrar que os ideais punks eram verdadeiros. Para Caiafa (1985), o punk se reinventou no início dos anos 80, surgiram novas bandas como a americana Dead Kennedys e a Escocesa Exploited, que impulsionaram o movimento. No Brasil as principais bandas desta fase são: Cólera, Garotos podres e Ratos de Porão, que são referências para o estilo mundial. Para Bivar (2001), no final dos anos 90 houve uma nova revigoração do punk-rock com o trabalho de bandas como Green Day e Offspring, no Brasil as bandas desta geração influenciadas foram: Chico Science e a Nação Zumbi e os Raimundos. Expoentes expressivos como os Sex Pistols e The Clash, foram incorporados pela indústria musical inglesa, no Brasil, representantes como a Plebe Rude, Legião Urbana e Camisa de Vênus, foram promovidos e explorados comercialmente por grandes gravadoras. Garotos Podres, Cólera e Ratos de Porão apostaram no circuito alternativo e foram mais autênticos, no final da 2 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina década de 90, todos perderam espaço porque o discurso estava saturado devido a alta exposição nos meios midiáticos. Origens do punk no Brasil Mendonça (2002) relata que a crise do petróleo em 1973 afetou o setor financeiro nacional, o que ficou conhecido como “Milagre econômico”. Com isso, setores como a classe média e a burguesia ficaram descontentes com o governo, e, nas eleições para o Senado, elegeram candidatos do MDB, partido de oposição à ARENA, que representava o governo do general Ernesto Geisel. Este se viu pressionado e apresentou um plano de redemocratização, que seria lento e seguro para os militares, o qual conduziria o país à democracia. Padrós e Gasparotto (2009), relatam que em 1979 o presidente João Batista Figueiredo apresentou ao congresso o projeto de anistia que foi aprovado por 206 votos a favor contra 201, em 28 de agosto de 1979. Os movimentos sindicalistas fortaleceram-se devido ao grande arrocho salarial e condições de trabalho precárias e organizaram paralizações importantes no Rio Grande do Sul e São Paulo na região do ABC. A democracia era praticada em grupos como: associações de bairro, pais e mestres, sindicatos e com o ressurgimento da União dos Estudantes (UNE). Segundo Tureta e Duarte (2008), o Corinthians teve uma iniciativa que ficou conhecida como Democracia Corinthiana, que contribuiu para a discussão sobre redemocratização brasileira. Para Padrós e Gasparotto (2009), O movimento Diretas foi uma emenda constitucional proposta pelo Deputado Dante de Oliveira, que propunha eleições diretas para presidente em 1985 e mobilizou milhares de pessoas, os comícios foram liderados por Ulisses Guimarães, Franco Montoro e Tancredo Neves e apoiado por artistas como: Toquinho e Gozaguinha. A emenda não foi aprovada, mas o clamor popular fez com que Trancredo vencesse Maluf na última eleição indireta para presidente. Em 1985, ocorreu a primeira versão do Rock in Rio, festival que trouxe ao Brasil ícones mundiais como Ozzy Osbourne e Iron Maiden, o evento quebrou o 3 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina paradigma da indústria musical brasileira, que apostava em nomes consagrados da MPB e no pop romântico. O final da censura possibilitou que trabalhos artísticos, antes censurados, passassem a ser exibidos nas televisões e rádios de todo o Brasil, a cultura punk teve seu ponto mais alto e o rock nacional liderou as execuções das rádios. Em entrevista para o Blog ABC Rock, Mao dos Garotos Podres informou que havia um sentimento de liberdade, as autoridades liberavam as manifestações para mostrar que a repressão havia passado, esta fase prosseguiu até 1989, quando Fernando Collor foi eleito presidente de forma direta. A alta exposição do movimento saturou a sociedade com informações, e como uma moda o punk passou e deu espaço a novas ondas, como a Lambada, o Sertanejo e o Pagode. Para Bivar (2001), o movimento surgiu numa época de crise, desemprego e desesperança em relação ao futuro, os punks eram jovens trabalhadores mal remunerados e buscam melhores condições de vida e reconhecimento social O punk reflete a vida como ela é, nos apartamentos desconfortáveis dos bairros pobres, e não o mundo de fantasia e alienação que é o que a maioria dos artistas criam. É verdade que o punk destruirá, mas não será uma uma destruição irracional. O que o punk destruir será depois reerguido com honestidade. (BIVAR, 2001, p.59). Caiafa (1985), descreve sua experiência com um grupo punk do Rio de janeiro, que frequentavam o Meier e a Cinelândia, eles usavam jaquetas de couro preto, adereços militares, alfinetes, braceletes com pregos e a suástica, eles contrastavam com os jovens que frequentavam o beira mar e com a visão poética da cidade, o relato registra a segunda fase do movimento, na qual, o hardcore e o Oi, eram a evolução, o lema: Punk is not dead, marcou esta época e foi o título do primeiro álbum dos Exploited e da revista editada pelo escritor Gary Bushell. Botinada (2006), relata a história do movimento punk no Brasil através de depoimentos de personagens relevantes em suas localidades como: Fabio da banda Olho Seco e Redson do Cólera de São Paulo, Wander Wildner dos Replicantes do Rio Grande do Sul, Canisso dos Raimundos de Brasília e Marcelo Nova do Camisa de Vênus da Bahia. 4 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina O movimento iniciou-se devido ao descontentamento com o status quo, no sudeste o movimento atingiu em sua maioria jovens da periferia e do subúrbio da grande São Paulo, nos demais estados o movimento concentrou-se nas capitais de Porto Alegre, Salvador e Brasília, na qual, teve a aderência de jovens da classe média. Há uma divergência entre São Paulo e Brasília sobre qual foi a primeira cidade a aderir ao punk. Canisso, dos Raimundos, e Paulo Marchetti, jornalista que publicou o livro Diário da turma: A história do rock de Brasília, defendem que começou no Distrito Federal, por causa do registro do primeiro álbum dos Ramones na cidade, em 1976. Ariel, da banda Restos do Nada; Clemente, dos Inocentes; e Marcelo Nova, do Camisa de Vênus, defendem que a atitude punk se iniciou em São Paulo. Em São Paulo, no final dos anos 1970, Kid Vinil tinha um programa na Rádio Excelsior chamado “Rock Sanduíche”, no qual ele executava bandas punk e new wave. Seu horário teve muito sucesso entre os jovens que gravavam fitas K7 com as transmissões, para depois trocá-las com seus amigos, ou então para tocar nos bailes. Em Salvador, Marcelo Nova era locutor da Rádio Aratu FM, e, assim como Kid Vinil, divulgava as novidades do punk que ocorriam pelo mundo afora. Para ele, Salvador era uma cidade provinciana, na qual a censura e as críticas v inham dos familiares dos proprietários das emissoras. O artista contou o caso da esposa de um dos diretores da rádio, que pediu que ele tocasse “My Way”, com Frank Sinatra, em vez da versão com Sid Vicious. As revistas Pop e Som Três eram as principais fontes de informação sobre música e comportamento para os jovens no final dos anos 70, Fabio do Olho Seco possuía a Punk-Rock Discos, o local tornou-se um ponto de encontro para punks, e contribuiu para o surgimento de bandas importantes, Fabio produziu a coletânea Grito Suburbano de 1982, este trabalho foi uma iniciativa independente com a contribuição financeira dos envolvidos como Inocentes e Olho Seco. Ataque Sonoro de 1985, é o segundo registro e foi idealizado por Redson do Cólera, que ficou conhecido por seu ativismo ambiental, social e pacifico. 5 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina Havia rivalidade entre os punks da capital, conhecidos como os da City, que eram politizados e idealistas, com os do ABC, que diziam-se verdadeiros punks, porque eram mais pobres e andavam de trem, para Mao dos Garotos Podres, a destruição e luta foram mal compreendidos e o desentendimento gerou conflitos que marginalizaram negativamente o movimento, além de limitar a expansão filosófica e artística. O’Hara (2005), relata que a agressividade era a forma de expressar o descontentamento (não no sentido físico) e, embora o punk fosse pacífico, lutava por suas crenças, se preciso. Ariel, complementa que a destruição é uma metáfora que significa reconstruir com justiça e igualdade, Botinada (2006). A frase do publicitário inglês David Ogilvy: “Comunicação não é o que você diz, é o que o outro entende” pode ser aplicada ao movimento punk em relação ao uso da suástica. O uso da suástica proposto por Jamie Reid, designer gráfico que desenvolveu trabalhos para os Sex Pistols, Dead Kennedys e Green Day, é controverso e polêmico. Por que mesmo que sua descrição altere o significado da suástica, pode não ter sido compreendida por todos. Talvez a ambiguidade dessa mensagem seja resultado da relação entre punks e skinheads, que no início dos anos 1980 era confusa para quem estava dentro e fora do meio. Mesmo entre os punks não havia uma compreensão do uso da suástica: “Certo dia, estava na Biblioteca Municipal, quando um amigo de Cristina chega com o Marco, que trazia um estojo estampado com a suástica nazista, que foi deixado sobre a mesa em que ela estava. Ela começou a riscar a suástica, já ciente do que aquele símbolo significava. Depois percebeu que já estava riscada”. (TURRA NETO, 2004, p. 39). Segundo Caiafa (1985), Wattie, vocalista do Exploited, usava um moicano vermelho e uma camiseta com a suástica, embora o primeiro registro da banda tenha sido em uma coletânea Oi e ela afirmasse não possuir relação política com os skinheads. O Exploited foi a banda que revigorou o mov imento punk em 1982. Eles possuíam fama de fascistas devido à influência do estilo Oi e porque eram adorados por punks e skinheads. Em 2012, em entrevista ao programa de estúdio Som Livre, Wattie disse que era skinhead quando jovem e que sua ligação com o grupo era só por causa da música. Na Escócia, seu país, o fascismo 6 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina não existia, e punks e skinheads conviviam pacificamente. A má-fama de sua banda se dava pela ignorância das pessoas, que não sabiam distinguir que, entre a sua música e a produzida pelos fascistas, a única semelhança era a sonoridade. Wattie ainda comentou que fez um show com o rapper Ice T, que é negro, americano e tinha uma banda de hardcore, então se fosse racista, não dividiria o palco com ele, mas mesmo assim dizem que a sua foto com o músico é uma montagem. Segundo Botinada (2006), para unificar os punks da capital com os da grande São Paulo, as lideranças criaram o evento: Começo do fim do mundo, que ocorreu no Sesc Pompéia em novembro de 1982, para criar um intercâmbio sobre a cultura punk, e também para o lançamento do livro O Que é Punk? De Antonio Bivar, o encontro foi amplamente divulgado pelos meios de comunicação do estado de São Paulo, do Brasil e até mesmo de veículos internacionais. O festival terminou em confusão e a polícia interviu, o que contribuiu para confirmar má fama do movimento, João Gordo relata que o programa Fantástico fez uma reportagem tendenciosa que ressaltou e distorceu o real sentido da agressividade dos punks. O 1º festival Punk do Rio de Janeiro aconteceu em abril de 1983 com o título “Noites Cariocas” e contou com bandas de São Paulo. Durante esse show que foi realizado no Circo Voador e na PUC o refrão gritado em uníssono, foi “Pau no cu da Globo”. Ninguém deixou a Globo filmar. (OLIVEIRA, 2006, p.38). A repercussão fez com que os punks fossem discriminados, muitos perderam seus empregos e a polícia ganhou o aval da sociedade para abordar qualquer um que aparentasse ser punk. Conforme Gallo (2010), os governos autoritários foram afrontados pelos punks, que, como forma de subversão, usavam roupas e calçados militares, que eram restritos aos membros das Forças Armadas. A adoção da vestimenta militar dava um sentido contrário ao significado original, pois era uma maneira de se apossar de um símbolo do estado repressor. Para Bivar (2001), atualmente o punk é um movimento autônomo e global, a filosofia adequou-se as diversas culturas das principais capitais, nas coletâneas atuais é comum bandas brasileiras participarem em conjunto com americanas, inglesas e japonesas, isto 7 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Lumina Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 é possível porque o movimento deu voz aos jovens que ansiavam por uma forma de expressão. O movimento não é exclusivo dos menos favorecidos, jovens rebeldes de todas as classes sociais se expressam por este meio, isto contribui para o enriquecimento cultural. Segundo Oliveira (2006), nos anos 80 a banda Olho Seco foi convidada à participar de uma coletânea inglesa, e foi sugerido que a gravação fosse em inglês, Fabio, o cantor, recusou e condicionou a participação em português. Bivar ressalta que a geração atual possui predileção para a língua inglesa para que o protesto seja universal. Para Bivar (2001), os meios digitais facilitaram o lema “Faça você mesmo”, as novas ferramentas possibilitam que o trabalho seja distribuído por portais como o MySpace, ou então no Site ou Blog da própria banda. Há os fanzines eletrônicos em formato de e-book, Blog, a ideologia do faça você mesmo, expandiu-se e qualquer pessoa pode publicar algo independente, passados 40 anos de seu surgimento, o movimento continua juvenil. Com todas as polêmicas e contradições, o movimento punk brasileiro abriu as portas para novos artistas, em 1985 a música brasileira foi invadida por uma geração talentosa influenciada pelo punk, no setor editorial os fanzines abriram caminhos para revistas experimentais, a irreverência punk afrontou símbolos das forças armadas e inspirou a moda, atualmente é comum peças com motivos camuflados e calçados que lembram coturnos. Marcas como a Orient Relógios e Vitorinox desenvolvem coleções com estilo militar, além do Jippe Hummer da GM, que inicialmente era um veículo de guerra e foi adequado para uso popular, mas isto não significa que a moda e a indústria desenvolvam produtos assim por influência direta do movimento punk, porque as culturas periféricas influenciam a dominante e o referência é perdido. Ideário político do movimento Punk Para O’Hara (2005), o movimento punk associa-se ao anarquismo, porque este regime rompe com o governo constituído e prega a igualdade entre os homens, ou seja, parte do princípio de igualdade, no qual todos exercem a cidadania e são responsáveis pelo seu espaço na sociedade com direitos e 8 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina deveres. Sem um poder centralizado, o monitoramento social é feito pelos cidadãos, no qual um supervisiona o outro. Todo o governo é indesejável e desnecessário. Não existem serviços fornecidos pelo Estado que a própria comunidade não possa fornecer. Não precisamos de ninguém para nos dizer o que fazer, tentando controlar nossas vidas, nos atormentando com impostos, regras, regulamentos e vivendo à custa de nosso trabalho.(O'HARA, 2005, p.73) Em 1907, Errico Malatesta definiu a anarquia da seguinte forma: anarquia é uma palavra grega, que significa sem governo. O estado anarquista não possui um governante central que determina o que deve ser feito pelo seu povo. O poder do governo anarquista é baseado na ética e no respeito que deveria haver entre as pessoas, cada indivíduo seria um governante. Porém anarquia foi interpretada erroneamente, e hoje é sinônimo de desordem, talvez, isto seja resultado da argumentação que a classe dominante exerceu para manter-se no poder. Para Oliveira (2006), é impossível afirmar que todos os punks tenham consciência do que a anarquia significava, o fato, é que o símbolo da anarquia estampava capas de discos, camisetas e botóns, e foi tema de músicas como a: Anarquia Oi dos Garotos Podres e Anarchy in the UK dos Sex Pistols. Para O’Hara (2005), a ideologia punk adota o anarquismo, porém isto não significa que não existam punks de esquerda, comunistas, direita e capitalistas. O movimento compartilha com os anarquistas os valores de igualdade e liberdade, os punks europeus são mais engajados politicamente que os americanos, o que reflete no trabalho das bandas e fanzines que militam politicamente em seus trabalhos, a primeira geração atualmente é chamada de punk 77, a segunda iniciou-se nos anos 80 é mais engajada política e socialmente, bandas como Dead Kennedys transformaram simples roqueiros em indivíduos ativos nas questões sociais. O ativismo político e artístico de Jello Biafra, levantou discussões positivas sobre os ideais do movimento punk, em 1979 ele foi candidato a prefeito de São Francisco e entre 10 candidatos, ficou em quarto lugar, uma de suas propostas era que cada policial fosse eleito pela população, porque ela teria direito de escolher quem as controlariam. O motivo que o levou a ser candidato, seria provar que a eleição em São Francisco não era 9 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina real, e sim uma batalha entre diferentes setores da direita, os votos que recebeu representam uma parcela da população que tinha consciência sobre a realidade política e estava descontente. (OGG, 2014). O’Hara (2005), complementa que para o anarquismo, o capitalismo e o comunismo escravizam o homem, no qual uns tiram proveito do trabalho de outros para enriquecer, além de privá-los de sua liberdade, jovens punks anarquistas desprezam os regimes políticos a que são submetidos devido a sua conscientização e por militarem pelos valores de liberdade e igualdade. Em alguns casos os punks associam-se com a esquerda por causa de algum interesse político ou para a defesa de uma causa especifica como o sexismo, uma causa ambiental ou uma reivindicação da classe operária. O capitalismo é o primeiro alvo dos punks porque o movimento surgiu em regimes democráticos ou ditaduras como a que ocorreu no Brasil após o golpe militar de 1964. No capitalismo há o interesse de sempre aumentar o lucro individual, abusos ambientais são capitalizados como parte de um processo produtivo, ou então algo necessário para um bem maior, o sistema capitalista não se preocupa com o futuro do planeta, o capitalismo é canibalismo porque explora o semelhante, em épocas de guerras, a exploração é levada ao extremo e as mortes são somadas como perdas necessárias e também reforçam a exposição comercial dos conflitos, com campanhas patriotas que reforçam o preconceito e a xenofobia. O avanço tecnológico, o comercio de armas e equipamentos bélicos geram lucros, e após o conflito quem lucra são as construtoras. (O’HARA, 2005). Parece perverso lucrar com a guerra, mas é isto que acontece. Será que é ir longe demais pensar que alguém esteja ansioso para que a guerra impulsione a economia e os lucros pessoais, diminua o desemprego e aumento o fervor patriótico, tudo sob o disfarce de um objetivo militar declarado?(O'HARA, 2005, p.78 e 79) Para o anarquista as melhorias da esquerda apenas remediam um problema, a esquerda deseja agir em regime corrompido e viciado, a anarquia acredita que é preciso destruir para construir o novo sem os vícios do passado. A democracia é uma utopia que favorece o capitalismo, anarquia é a única forma política que não controla o indivíduo pela força, ao recusar ser controlado ele 10 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Lumina Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 passa a ter o domínio de sua vida e inicia o começo de sua ordem pessoal e não caos como é interpretado. O dilema é justamente o indivíduo escolher ter o poder sobre sua vida, porque eles não poderiam forçar ou educar quem não aceite esta, por isto há uma espera para que a evolução ocorra naturalmente, pois se houver a imposição rompe-se o princípio de liberdade e o regime se iguala aos demais e a igualdade anarquista é baseada na suposição de que a natureza humana é boa. A Banda europeia Crass, fazia campanha contra o desarmamento nuclear nos anos 80, no Brasil o Cólera possuía a mesma convicção e pregava o pacifismo, que foi abordado no álbum Pela Paz em Todo Mundo de 1986. O U2, banda pós punk irlandesa, possuía um discurso pacifista que sugeria o diálogo para o desarmamento nuclear, em 1995 com Luciano Pavarotti, o U2 gravou a canção Miss Sarajevo, sob o pseudônimo “The Passenger” para levantar fundos para os refugiados da guerra na Bósnia. Em 1990 o Simple Minds, banda escocesa gravou Mandela Day, para que o mundo olhasse para a África do Sul e seus conflitos raciais, e que, Nelson Mandela fosse libertado. Bandas como Crass e Cólera quebraram o paradigma de que lutar pela paz fosse coisa de Hippie, a anarquia não é contraditória ao pacifismo, para o punk, ser pacifico não significa ser passivo, o punk luta se for preciso, mas não força ninguém à acreditar em algo, promove o diálogo e acredita que a evolução ocorrerá pela educação. Para O’Hara(2005), a resistência à polícia é justificada porque os punks creem que a força policial é desperdício de dinheiro, os policiais abusam de seu poder, aterrorizam e ceifam a liberdade daqueles a quem deveriam proteger, embora nem todos sejam assim, isto não impede os confrontos. No documentário Botinada (2006), um episódio sofre o confronto de punks com a polícia no Sesc Pompeia é descrito pelos participantes como uma farra e uma afronta ao poder. Só haverá paz quando o homem respeitar o fluxo natural que coloca todos os seres e elementos naturais em igualdade. No manejo com a natureza que inclui os diversos cultivos vegetais e a criação de várias espécies animais 11 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina para consumo humano, a ideologia punk defende o cultivo responsável, que preserva áreas vitais e sem a utilização de produtos químicos. O modelo sustentável adotado é rejeitado porque o homem não se coloca como parte da natureza, ele a controla e a preservação é uma fonte de lucro, modelos como o FSC Forest Stewardship Council, que certifica a origem da madeira empregada em sua cadeia produtiva, é uma forma de reserva de mercado que habilita as empresas à um mercado que supostamente exige uma ação responsável nos patamares: social, financeiro e ambiental. O protocolo de Kyoto determina uma cota máxima de emissão de gases de emissão do efeito estufa para os países desenvolvidos, que criam legislação de controle sobre a emissão do CO 2 , empresas que não conseguem atingir as metas estabelecidas, são obrigadas a comprar créditos de carbono de outras que obtiveram a meta. Ações como o FSC e o protocolo de Kyoto, existem devido a uma questão financeira, que não seriam respeitadas caso não acarretassem prejuízos. A sociedade acredita que é engajada, e que faz a sua parte e cobra ações sustentáveis de empresas, por outro lado não possuem consciência de que o alimento de origem animal foi a causa do desmatamento. Quando há violência contra a propriedade privada, os alvos são escolhidos de acordo com o assunto que os punks se manifestam, o fanzine Profane Existence apoia e estimula este tipo de ação em seu editorial. Numa edição recente da Profane Existence, foi escrito um longo e bem pesquisado editorial sobre os problemas causados pela construção de campos de golfe nos EUA. Pesticidas e armadilhas para matar animais, desperdício de água e planejamento de terras desnecessários e destrutivos foram os motivos para incentivar uma ação direta. (O'HARA, 2005, p.129) Cada campo de golfe custa 18 mil dólares, como o governo não toma partido sobre a questão, punks sabotaram campos utilizando cloro, que deixou o gramado prejudicado. Segundo Bivar(2001), em relação ao vegetarianismo, bandas como Crass dão exemplo aos seu seguidores, eles não vestem couro nem nos calçados, porque o seu uso significa a matança de animais. Bandas inglesas alertam para a 12 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Lumina Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 forma como os animais são criados e abatidos em suas letras e encartes de seus álbuns. O Álbum Meat is Muder, da banda pós-punk The Smiths, chama atenção para isto e classificava o abate de animais como assassinato. Fanzines punk alertam para o assunto e sugerem receitas vegetarianas, que tem convencido muitos punks a adotarem a dieta. A ideia de como tratamos os animais influencia o modo como tratamos uns aos outros foi sugerida anteriormente. Essa violência que nos cerca o tempo todo e tem tantas formas esta bem aqui, na nossa comida. Você tem certas coisas em sua personalidade que anseiam por satisfazer seus impulsos agressivos de devorar o sangue e a carne de outras criaturas. Alimentar-se de carne e encorajar essa agressividade pode ser um elo entre opressão humana e animal.(O'HARA, 2005, p.137) O movimento punk é nobre por ser contestador, libertário e procurar romper com os paradigmas existentes. Porém, a associação com o anarquismo visto de uma maneira distorcida, faz com que o movimento seja visto como desordeiro e a influência da mídia transformam os punks em malucos e drogados, que pregam a violência gratuita. Distorções da imagem do punk pela mídia Segundo Bivar (2001), os punks despertaram a curiosidade da sociedade e por isto a imprensa passou a procurá-los para entende-los, vários jornalistas foram entrevista-los e alguns ficaram surpresos, embora alguns punks não tivessem terminado os estudos, eles tinham opiniões formadas sobre a realidade social e política brasileira. O’Hara (2005), afirma que o movimento foi fortemente distorcido pela mídia, que retratavam os punk como drogados e viciados que pregavam a violência e a desordem. A mídia os rotulou como uma moda autodestrutiva e violenta, os programas e seriados americanos associavam o assunto com a vergonha e a loucura. Modelo do punk desajustado, foi utilizado na novela da Rede Globo Ti-TiTi de 1985, em que a personagem de Betty Gofman, após sofrer uma desilusão amorosa tornou-se punk, e consequentemente influenciou o personagem do ator Rodolfo Bottino, que virou punk para conquista-la, no final da história, eles voltaram ao normal e tornaram-se executivos de sucesso. 13 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina Na explosão punk a revista Pop(Editora Abril) publica uma foto de dois pivetes armados, com uma legenda dizendo que os dois são garotos são membros do primeiro grupo punk de São Paulo. Nome do grupo Segundo a Pop: “Os filhos da Crise”. Este grupo nunca existiu. É pura ficção da revista para dar a impressão de que aqui também o artigo genuíno esta começando a aparecer. (BIVAR, 2001, p.65.) Contrapondo a forma habitual que a mídia retratava o punk, o filme Sid and Nancy de Alex Cox, de 1988, retratou e humanizou o baixista dos Sex Pistols, Sid Vicious, que morreu de overdose aos 22 anos, enquanto respondia a um processo por assassinato de sua namorada Nancy. Gary Oldman, atuou sem fazer uso de clichês ou caracterizá-lo como costumeiramente era feito com personagens punks. Para O’Hara (2005), a mídia americana vinculou punks e skinheads pela semelhança na maneira de vestir-se e pela preferência musical. Na Inglaterra, o mesmo não ocorreu porque os carecas possuíam uma cultura solidificada. No Brasil houve a mesma confusão, provavelmente os skinheads brasileiros foram influenciados pelos grupos de extrema direita e neonazistas que defendem a supremacia branca, pois estes grupos são racistas e violentos, o que explicaria os ataques aos nordestinos e homossexuais que ocorreram em São Paulo. O punk pelo enfoque da revista Veja A revista Veja, editada pela Editora Abril é um veículo de comunicação impresso tradicional do Brasil, nos seus 45 anos de mercado a publicação tornou-se referência para consulta de informações sobre política, cotidiano e cultura. Pela influência deste título para a sociedade este artigo faz uma análise de três matérias que interpretaram o movimento no período de 1977 a 1986. A primeira menção, data de 28 de setembro de 1977, a matéria intitulada de: "A Moda Podre", relatava um movimento desconhecido que causava estranheza, a música é classificada como lixo e foi comparada com a música disco que era o padrão de qualidade. Os jovens são classificados como suburbanos que cultuavam o mal gosto e a violência. Os Sex Pistols são postos como a referencia para antiestética do rock, é ressaltada a postura marginal dos seus integrantes que tiveram problemas com a polícia. O Clash e o Dammed são citados como bandas arruaceiras, caracterizadas por confusões em suas 14 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina apresentações e os méritos da gravação do primeiro LP dos Sex Pistols, pela gravadora Virgin é apontado como desespero da indústria inglesa, que atravessava uma crise criativa. O movimento punk é retratado como fruto da grave crise econômica que a Inglaterra atravessa no final dos anos 70. Há um alerta aos pais para as transformações que seu filhos poderiam passar, os exemplos são as trocas de símbolos inofensivos como corações com flecha, por suásticas e dragões. Foi feito um perfil dos punks cariocas, que seriam os rebeldes sem causa da zona sul da Rio do Janeiro por influência da moda e os suburbanos da zona norte por identificação com o ambiente violento e hostil ao qual eles cresceram. Figura 1: Matéria Rev ista V eja - 28 de setembro de 1 97 7 Em uma reportagem da veja com data de 4 de agosto de 1982, intitulada "Tropa de Choque". Surge em São Paulo o punk brasileiro. Descreve com ironia o comportamento dos punks paulistas, em uma referência a Londres de 1977. Os jovens foram abordados no Largo do Paissandu, eles são descritos como rebeldes que desejam afrontar a sociedade com roupas surradas e visual agressivo. Ao contrário dos punks ingleses, que eram tidos como arruaceiros, os paulistas eram pacifistas, conservadores, não toleravam a homossexualidade, bebiam bastante e não usavam drogas, porque isto era coisa de hippie. A matéria os classificam como filhos da crise econômica brasileira sem esperanças futuras, as músicas que gostam eram barulhentas e mal tocadas, 15 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina eram mal remunerados em seus trabalhos e tinham orgulho de morar no subúrbio. Há uma pequena menção ao lançamento da coletânea Grito Suburbano, primeira gravação com bandas punks de São Paulo e do fanzine Punk SP, editado pelo jornalista Antonio Bivar. Figura 2: Matéria Rev ista V eja – 4 de agosto de 1 982 Em uma matéria com data de 16 de julho de 1986, com o título: “As ovelhas negras. Punks, Darks e Skinheads, uma tribo que dentro de casa nem sempre briga com os pais”. O punk é tratado sutilmente como um desvio de conduta, o termo ovelha negra é utilizado para representar os jovens que escolheram uma forma comportamental alternativa. O conflito de gerações é retratado na matéria que descreve as mudanças de um rapaz que ao tornar-se punk adotou o apelido de “morto”, o que escandalizou sua mãe, que recusava chama-lo assim, a agressividade era apenas aparente, pois sua mãe conta que ele a beija todas as vezes que saia de casa. Isto é explicado pelo psiquiatra Edson Engels, que o jovem precisa afrontar seus pais para ser aceito no meio em que 16 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina convive e assim, conquistar o seu espaço, ele aconselha, que não há motivos para preocupação, porque é apenas uma fase passageira. A dúvida que acercava os pais em relação aos novos costumes de seus filhos, é representada pela frase: “Ela ainda é minha filhinha”, que foi dita pela mãe de uma jovem punk. Ela ainda acrescenta, que em casa sua filha não mudara os hábitos e continuava como sempre foi, sua nova postura era apenas para a sociedade. Nem todos os pais toleravam as mudanças de seus filhos, há o caso do skinhead Marco Lenha, que morava em Brasília e saiu de casa porque não conseguiu conviver com o conflito que seus hábitos causavam em casa, com isto ele foi morar com uma tia. Os Skinheads são apontados como um vertente do punk, eles são descritos como jovens que utilizam acessórios militares como o coturno, gostam de música punk com temas politizados e que afrontam o sistema capitalista. Há também uma menção aos Darks, que hoje são conhecidos como Góticos, que são jovens tristonhos que gostam de músicas que refletem o seu estado depressivo. Embora a matéria procure categorizar as tribos, ela as colocam sobre um mesmo patamar, na qual os jovens podem transitar de uma para outra. Uma confusão perigosa também é feita em relação aos punks e Skinheads, no qual estes são apontados como uma vertente do punk, quando na realidade, são ideologias diferentes. Na mesma página em que esta matéria é finalizada, há um box com uma noticia com o título "A heroína no caminho de Boy George", nesta matéria ele é colocado como uma influência para jovens punks, darks e skinheads. O seu problema com a droga é retratado como um alerta aos pais, é como se a revista dissesse que o ídolo maior de seus filhos é um drogado e que eles podem seguir o seu exemplo, segundo a matéria, para a policia inglesa, um dark ou skinhead é a pista certa para um flagrante de heroína. Boy George apareceu no cenário musical londrino com grupo Culture Club em 1982, eles lançaram seu primeiro trabalho com a gravadora Virgin, a mesma dos Sex Pistols. A música deles não era punk e sim um pop rock, a banda chamou atenção devido ao visual andrógino de Boy George, com eles a 17 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina gravadora de Richard Branson, mais um vez mostrou o seu arrojo, pois além do visual andrógino o Culture Club era uma banda assumidamente gay, o que para época era uma afronta aos costumes. Figura 3: Matéria Rev ista V eja – 1 6 de julho de 1 986 Considerações finais O punk é contestador como os movimento passados que o influenciaram, talvez por causa da agressividade natural deste estilo, que é a sua pr incipal diferença entre os demais, ele tenha causado um impacto negativo na sociedade que não compreendia os seus ideais e sua mensagem. Mesmo se opondo ao movimento hippie, o punk foi uma continuidade das manifestações culturais que o antecederam, o movimento utilizou o sarcasmo e a violência simbólica, como um diferencial, pois anteriormente, a agressividade não era componente evidente da rebeldia juvenil, talvez, este fato seja o que despertou o interesse do punk para a sociedade em geral. O contexto histórico do final dos anos 70 era opressor, as classes menos favorecidas poderiam somente observar o que acontecia na sociedade, havia uma imposição que pregava que somente quem detinha conhecimento sobre uma determinada área poderia produzir conteúdos e formas de expressão artística, o punk foi um basta a todos estes valores, a proposta: “Faça você 18 Vol.9 • nº2 • dezembro 2015 Revista do Programa de Pós-graduação em Comunicação Universidade Federal de Juiz de Fora / UFJF ISSN 1981- 4070 Lumina mesmo”, rompeu com o paradigma de que a arte necessitava de conhecimento prévio, e que deveria respeitar os conceitos da boa forma, e também abriu o caminho para a subversão, na qual elementos sociais como roupas militares, imagens governamentais, ou de grandes corporações, foram apropriadas e tiveram o seu sentido original alterado. O movimento abriu as portas da expressão à uma classe discriminada, que a utilizou para expor o seu descontentamento. O meios de comunicação são um reflexo da nossa sociedade, e seus representantes, assim como a sociedade, não estava preparado para compreender o questionador discurso punk, o resultado foi a distorção que ressaltou o lado negativo do movimento porque via nele uma ameaça. Referências BIVAR, Antonio. O que é punk. São Paulo: Brasiliense, 2001. CAIFA, Janice. Movimento punk na cidade: a invasão dos bandos sub. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. DUARTE, Orlando; TURETA, João Bosco. Corinthians o Time da Fiel. São Paulo: Nacional, 2008. GALLO, Ivone Cecília D’Avila. Por uma historiográfica do punk. São Paulo, n.41, p. 283 – 314, 2010. Disponível em: http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/6542/4741 Acesso em 13/01/2014 MALATESTA,Errico. Anarquismo e anarquia. Rio de Janeiro: Faisca Publicações Literárias, 2009. Disponível em: http://www.anarquista.net/anarquia-e-anarquismo-de-errico-malatestalivro/. Acesso em 5/01/2014 MENDONÇA, Sonia Regina. 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