DO OBJETIVISMO À CONCEPTUALIZAÇÃO SOCIOCOGNITIVA: HISTÓRICO E
PERSPECTIVAS SOBRE O ESTUDO DO SIGNIFICADO
FROM OBJECTIVISM TO SOCIOCOGNITIVE CONCEPTUALIZATION: HISTORY AND
PERSPECTIVES ON THE STUDY OF MEANING
Aline Nardes dos Santos
Doutoranda em Linguística Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
Mestre em Linguística Aplicada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
E-mail: aline.nardes@gmail.com
Rove Luiza de Oliveira Chishman
Doutora em Linguística Aplicada Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Vale do Rio dos Sinos
E-mail: rove@unisinos.br
RESUMO
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a noção de significado em uma perspectiva ampla,
abrangendo concepções filosóficas, linguísticas e culturais. Para isso, contrasta-se a visão
tradicional ou objetivista do significado com a visão experiencialista, na qual se insere o
paradigma da Linguística Cognitiva e sua proposta de estudo do significado como
conceptualização. Verifica-se que, conforme o objetivismo, a produção de significado está
totalmente dissociada de características sociais, culturais e subjetivas dos falantes. Já o
experiencialismo coloca em evidência os processos cognitivos, imaginativos e intersubjetivos que
permeiam o significado. Em vista disso, conclui-se que a agenda dos estudos do significado na
atualidade, no que se refere a abordagens experiencialistas e sociocognitivas, têm valorizado cada
vez mais os processos de significação em seus contextos sociais, culturais e interacionais.
Palavras-chave: Objetivismo. Experiencialismo. Linguística Cognitiva. Sociocognitivismo.
ABSTRACT
This article aims to reflect on the notion of meaning in a broad perspective, covering
philosophical, linguistic and cultural conceptions. For this, it is contrasted the traditional view or
objectivist of meaning with experientialist vision, which fits the paradigm of Cognitive Linguistics
and its study proposal of meaning study as a conceptualization. It is found that, as objectivism, the
production of meaning is totally dissociated from social, cultural and subjective of the speakers.
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Already experientialism highlights the cognitive, imaginative and inter-subjective processes that
permeate the meaning. In view of this, it is concluded that the research agenda of meaning in the
present, in relation to experientialists and socio-cognitive approaches have valued increasingly the
significance of processes in their social, cultural and interactional contexts.
Keywords: Objectivism. Experientialism. Cognitive Linguistics. Social-cognitivism.
1 INTRODUÇÃO
Significado: nenhum problema para os falantes; muitos problemas para os linguistas.
Parafraseando aqui o professor Augusto Soares da Silva1, é inquestionável a naturalidade com que
falantes operam mecanismos de produção de sentido – afinal, o ato de apreendermos e
produzirmos significado são tão naturais quanto a nossa aptidão para a comunicação e a interação
em sociedade. Desse modo, como afirma Borges Neto (1999),
[...] frente a alguns fenômenos mais ou menos óbvios as pessoas dizem coisas com a
linguagem e compreendem coisas quando diante de expressões linguísticas; cabe aos
teóricos “criar”, “construir” um elemento de explicação, e uma das possibilidades é
postular a existência de alguma coisa que se denomine “significado”. (BORGES NETO,
1999, p. 167-168).
Esse questionamento relativo ao maquinário que subjaz à significação, que se constitui,
segundo Lyons (1997, p. 26), na “pergunta mais fundamental a que a semântica linguística e não
linguística tenta dar uma resposta cientificamente satisfatória”2, motivou muitas investigações
linguístico-filosóficas. Ao longo da história, tanto a filosofia quanto a linguística têm
desenvolvido teorias sobre o significado que propõem desde a mais pura separação entre
racionalidade e percepção humana – o significado como algo independente de nossa experiência –
até análises ancoradas no uso linguístico, nas interações e no contexto sociocultural dos falantes.
Em outras palavras, o primeiro eixo postula que “a linguagem significa”; o segundo, que “os
falantes significam com a linguagem”. (BORGES NETO, 1999, p. 168).
A abordagem do significado por meio da Linguística Cognitiva (LC) corresponde ao
segundo extremo dessa gradação, visto que leva em conta a experiência dos falantes, assumindo,
assim, uma visão experiencialista do significado, paradigma postulado por Lakoff e Johnson
(LAKOFF, [1987]1990; JOHNSON, 1987; LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003). Essa perspectiva
difere-se do primeiro extremo, caracterizado como tendo uma visão objetivista, a qual, ao propor
um estudo do significado, dissocia a mente do corpo, a razão da emoção, o conceptual do concreto
(JOHNSON, 1987). Considerando essas perspectivas, este artigo tem como objetivo
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contextualizar o estudo do significado no âmbito da Linguística Cognitiva, explorando a noção de
conceptualização. Para mais bem situar o empreendimento da LC, uma abordagem que privilegia
o significado como processo dinâmico, a primeira seção traz uma visão panorâmica da perspectiva
oposta, e até então predominante, a que se pode chamar de “visão tradicional” ou objetivista do
significado (LAKOFF, [1987]1990; LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003). A partir disso, tratamos
dos postulados do experiencialismo, para então contextualizamos os pilares da Linguística
Cognitiva e sua proposta de estudo do significado como conceptualização.
2 “A LINGUAGEM SIGNIFICA”: A VISÃO DE SIGNIFICADO NO PARADIGMA OBJETIVISTA
Na obra clássica Women, Fire and Dangerous Things, George Lakoff ([1987]1990)
introduz o objetivismo fazendo as seguintes afirmações: (a) a filosofia importa mais do que se
imagina, porque a visão filosófica clássica de mundo afetou a nossa forma de pensar e enxergar a
realidade; (b) o paradigma filosófico do objetivismo moldou, por muito tempo, a linguística como
disciplina e, por consequência, moldou também a abordagem do significado nesse contexto.
Essas considerações reforçam a importância de, antes de tratarmos da nossa visão de
significado, que é pautada no experiencialismo, trazermos uma perspectiva panorâmica do
objetivismo e de suas bases filosóficas. Naturalmente, é necessário levarmos em conta que,
embora sejam áreas relacionadas, filosofia e linguística têm motivações diferentes em relação ao
estudo do significado. Conforme explica Coulson (1997),
Filósofos e linguistas têm se impressionado por coisas diferentes quanto à competência
de linguagem humana, e a semântica tem sido moldada por ambos os tipos de interesse.
Para filósofos, o interessante da linguagem é sua intencionalidade ou tematicidade. Como
um conjunto arbitrário de símbolos pode representar coisas no mundo? [...] O problema
do filósofo de como “gato” pode representar um gato3 levou a uma ênfase na verdade e na
referência (COULSON, 1997, p. 3, grifo da autora).4
A autora toca em dois pontos fundamentais para compreendermos como a abordagem do
significado se deu a partir da filosofia: a preocupação com a referência às coisas no mundo e o foco
nas condições de verdade5 que estabeleceriam uma expressão como verdadeira ou falsa.
A primeira abordagem filosófica relativa à referência de entidades do mundo foi a teoria
da referência direta (MARTIN, 2006). Como o nome já indica, os exemplos que reforçariam a
plausibilidade da teoria seriam os nomes próprios. No entanto, essa teoria encontra obstáculos
mesmo quando se pensa em nomes próprios, dado que o referente nem sempre concerne ao mundo
real. Por exemplo, as personagens Garfield e Félix, de desenhos animados, não estão no mundo
real; assim, conforme a teoria da referência direta, esses nomes não teriam significado algum.
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Existem casos ainda mais problemáticos, envolvendo o tratamento do significado sob perspectivas
diferentes em relação à mesma entidade, sem que isso tenha a ver com características inerentes ao
referente: os gregos, ao avistarem Vênus pela manhã, chamavam-no de Eósforo (“estrela da
manhã”); porém, a mesma entidade vista no fim da tarde era referenciada como Héspero (“estrela
da tarde”). Em situações como essa, a teoria da referência direta não daria conta de descrever o
significado.
De modo a propor uma solução para esse problema relativo a referências não binárias,
surge a abordagem do sentido e da referência proposta por Frege. Para o filósofo, o referente seria
a entidade designada por uma expressão linguística; já o sentido corresponderia a uma forma de
apresentação desse referente, ou a um modo específico de pensar sobre essa entidade (MARTIN,
2006). Dessa forma, se, para os gregos, Vênus era, ao mesmo tempo, Eósforo e Héspero, não
haveria discrepância porque, dada a distinção entre sentido e referência, poder-se-ia considerar a
existência de dois sentidos para um mesmo referente. Esse quadro referencial muda se pensarmos
na contemporaneidade, em que a ciência há muito revelou serem Eósforo, Héspero e Vênus
sentidos relativos ao mesmo referente.
A visão do significado pautada em condições de verdade, que engloba a proposta
fregeana, tem o filósofo Tarski como um de seus principais formuladores (BORGES NETO,
1999). Martin (2006) explica esse paradigma por meio de sua relação com a aritmética –
consideremos, por exemplo, a seguinte função: y x 2 = 8.
Caso o argumento de Y seja 4, o valor é VERDADEIRO; caso seja outro número, o valor é
FALSO.
Assumindo a formulação tarskiana, diríamos que o argumento de y é verdadeiro se, e
somente se, o valor é 4. Transpondo esse pressuposto à linguagem, na sentença Lila é uma gata
cinza, desde que tivéssemos ciência daquilo que implica a gata Lila ser cinza, saberíamos o
significado da sentença e reconheceríamos que é verdadeira – o mesmo processo justifica o
conhecido exemplo do gato sobre o tapete. Esse pressuposto moldou não apenas a lógica na
filosofia, mas também a semântica formal na linguística (KAUFFMANN, 2010).
Abordagens como essas são categorizadas como sendo objetivistas, em contraposição ao
empreendimento experiencialista de que trataremos na próxima seção. Como podemos perceber,
essas teorias
[...] assumem que o pensamento racional consiste na manipulação de símbolos abstratos e
que esses símbolos adquirem seu significado por meio de uma correspondência com o
mundo, objetivamente construído, isto é, independente do entendimento de qualquer
organismo. [...] Na visão objetivista, todo o pensamento racional envolve a manipulação
de símbolos abstratos aos quais é dado significado apenas por meio de correspondências
convencionais com coisas no mundo externo. (LAKOFF, [1987]1990, p. 12, grifo do
autor).6
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É importante ressaltar que não estamos tratando do objetivismo como empreendimento
homogêneo, mas sim como um conjunto de abordagens que partilham certas características. No
que concerne ao estudo da linguagem, dentre as principais correntes que fomentaram essa posição
epistemológica, estão o positivismo lógico e a tradição fregeana na filosofia e, na linguística, o
neorracionalismo chomskyano7 (LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003).
O termo objetivismo já indica que, nesse paradigma, a realidade é vista em termos
objetivos, dissociada dos seres que a constituem. Trata-se da visão do Olho de Deus (JOHNSON,
1987), ou seja, a defesa de que existe uma perspectiva correta sobre o mundo como ele realmente
é. Dessa forma, desconsiderando-se quaisquer influências subjetivas, a realidade teria uma
estrutura totalmente racional, sendo a linguagem utilizada para designar entidades nesse mundo
objetivo. A verdade, nesse sentido, é “[...] uma questão de adaptação das palavras ao mundo”
(LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003, p. 197)8, independentemente de como os falantes usam a
linguagem. A mente, nesse contexto, pode ser comparada a um computador que efetua operações
algorítmicas, consistindo em um “espelho da natureza” (LAKOFF, [1987]1990, p. 12, grifo do
autor9), visto que apenas reflete, isomorficamente, a realidade objetiva e toda a sua estrutura
lógica.
Considerando essa dissociação entre o mundo e os falantes no processo de produção de
significado, em que consistiria a comunicação humana? Lakoff e Johnson ([1980]2003) utilizam a
metáfora do conduto para ilustrar essa perspectiva. Segundo essa metáfora, as expressões
linguísticas são contêineres, ou seja, carregam significados que já estão prontos no mundo. Dessa
forma, os fins comunicativos da linguagem são vistos como uma mera questão de transmissão de
“[...] uma mensagem com um significado fixo a um ouvinte.” (LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003,
p. 197)10.
Compreender premissas objetivistas em relação à linguagem e ao significado é de suma
importância para que percebamos como esse paradigma criou mitos até hoje presentes em visões
epistemológicas e, como reforça Johnson (1987), em nossas vidas, consolidando preceitos que se
tornaram parte do senso comum em nossa cultura. A proposta que contesta esse modelo e que
embasa os pilares da Linguística Cognitiva no século XX tem como principais protagonistas
Lakoff e Johnson, considerados, como ressalta Langacker (1997), os pais do realismo experiencial
na Linguística Cognitiva e na Filosofia.
3 “OS FALANTES SIGNIFICAM COM A LINGUAGEM”: REALISMO EXPERIENCIAL
O objetivismo passa a ser questionado a partir do momento em que a teoria de Darwin
ganha força
11
, mostrando que as habilidades humanas são evoluções das habilidades
características de outros animais. Tal contestação é novamente reforçada a partir dos anos 1970,
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por meio do estabelecimento da ciência cognitiva – disciplina que tem como objeto de estudo
sistemas conceptuais (LAKOFF; JOHNSON, 1999). As descobertas realizadas nesse âmbito
abrem precedentes para se considerar que o ser humano, não apresentando um funcionamento
diferente daquele que caracteriza outras espécies, possui um modo cognitivo de funcionamento tão
ligado às suas experiências corpóreas, perceptuais e motoras quanto os outros animais. Essa
premissa é um dos principais pilares do realismo experiencial, ou experiencialismo, o qual postula
que,
[...] como animais, temos corpos conectados ao mundo natural, de tal modo que nossa
consciência e racionalidade estão ligadas às nossas orientações corpóreas e interações no
e com nosso ambiente. Nossa corporificação é essencial para aquilo que somos, para
aquilo que o significado é, e para nossa habilidade de esboçar inferências racionais e ser
criativos. (JOHNSON, 1987, p. 38).12
Desse modo, o cerne do contraste com o pensamento objetivista reside no fato de que o
experiencialismo vê a racionalidade humana – e, consequentemente, o modo como se dá a
formação de conceitos – como um aspecto pautado na natureza e na experiência dos organismos
que protagonizam esses processos de cognição e significação. Nesse contexto, a experiência é
considerada em sentido bastante amplo, não abrangendo apenas as características físicas do ser
humano: “Inclui [...] não meramente percepção, movimento etc., mas especialmente a constituição
interna geneticamente adquirida do organismo e a natureza de suas interações, tanto no seu
ambiente físico quanto no seu ambiente social”. (LAKOFF, [1987]1990, p. 15)13.
Nessa visão epistemológica, significar implica significar para os falantes, dado que não
se tem uma visão do mundo como algo objetivamente construído. Mesmo se retomarmos o
clássico e comportado exemplo do gato que está sobre um tapete, podemos perceber que há, nessa
constatação, uma perspectiva que revela muito sobre a experiência de um ser humano que enxerga
a realidade a partir de sua constituição corpórea: se um falante vê um gato sobre um tapete, é
porque percebe o mundo por meio de sua posição ereta – os pés no chão em uma extremidade; a
cabeça em outro extremo – em um local onde a força gravitacional está presente. Como reforça
Turner (1991 apud JOHNSON, 2005), se vivêssemos em um meio líquido, na ausência de um eixo
vertical para cima/para baixo, dentre outras noções espaciais, nossa experiência corpórea não teria
o mesmo significado – da mesma forma, se ocupássemos um espaço totalmente sem gravidade,
nem gato nem tapete ocupariam posições tão óbvias. Esses fatores apontam para o fato de nosso
pensamento ser inerentemente corporificado. Como explicam Lakoff e Johnson (1999, p. 4),
A razão não é descorporificada, conforme a tradição tem amplamente sustentado, mas
resulta da natureza de nossos cérebros, corpos, e experiência corporal. [...] Os mesmos
mecanismos neurais e cognitivos que nos permitem perceber e nos mover também criam
nossos sistemas conceptuais e modos de raciocinar. [...] Em suma, a razão não é, de
nenhuma forma, um traço transcendental do universo ou da mente descorporificada. Em
vez disso, é moldada crucialmente pelas peculiaridades de nossos corpos humanos, pelos
detalhes extraordinários da estrutura neural de nossos cérebros, e pelas especificidades de
nosso funcionamento diário no mundo.14
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Conforme vimos na seção anterior, o objetivismo estabelece que as palavras e as
respectivas representações mentais são relacionadas por meio de uma única maneira: a
correspondência com entidades concretas no mundo. No entanto, a visão experiencialista coloca
essa postulação em xeque ao mostrar que processos de significado não se dão meramente por meio
da referência a entidades no mundo, nem estão condicionados às condições de verdade. Por
exemplo, se um falante, ao partir do exemplo clássico do felino, afirmar eu sou o gato e os meus
inimigos são o tapete, não se trata de uma referência direta ao gato ou ao tapete; é um processo
mais complexo, que envolve a projeção da posição do gato em relação ao tapete para uma situação
de superioridade do falante no que concerne aos seus inimigos. Projeções como essa evidenciam o
papel primordial que a imaginação humana possui em processos de significado, desempenhando
“[...] um papel central na constituição da racionalidade.” (JOHNSON, 1987, p. 9)15.
Em relação ao fato de o objetivismo descartar quaisquer influências não objetivas em
processos de significação, outro exemplo de projeção pode servir para mostrar como uma
perspectiva que não considere questões intersubjetivas torna-se bastante limitada: suponhamos
que um chocólatra, segurando uma barra de chocolate, faça a seguinte afirmação: eu sou um gato e
este é o meu Whiskas Sachê. Para se compreender essa sentença, é necessário não apenas
considerar a projeção gato/humano e chocolate/Whiskas Sachê, mas também levar em conta uma
apreciação positiva de um tipo de alimento para gatos. É por isso que Tomasello (2003) defende
uma visão de símbolos linguísticos como construtos intersubjetivos, dado que é necessário que
usuários partilhem de certas informações para compreenderem projeções como essa. Assim como
no exemplo anterior, tal aspecto também mostra como os usos linguísticos vão muito além da
referência objetiva a seres concretos no mundo.
Essas questões evidenciam que conceitos humanos, sob a ótica experiencialista, somente
podem ser compreendidos se for levada em conta a natureza da experiência humana, que está
ancorada em certos parâmetros culturais (JOHNSON, 1987). Como reforça Langacker (1997, p.
233), uma das facetas mais importantes relativas ao contexto em que interagimos e nos
desenvolvemos “[...] consiste na interação com outras pessoas e outras mentes. Isso leva ao
reconhecimento mútuo [...] bem como à convergência substancial nos mundos mentais
construídos.” (LANGACKER, 1997, p. 233). 16 Não há, portanto, uma relação direta entre
significado e realidade objetiva, da forma como postulam objetivistas, visto que, conforme
defende o experiencialismo, existem processos imaginativos que perpassam os caminhos para a
significação na linguagem humana. Ou seja, “O significado não é uma coisa; ele envolve aquilo
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que é significativo para nós. Nada é significativo em si. Significação deriva da experiência de
funcionar como um ser de certo tipo em um ambiente de certo tipo.” (LAKOFF, [1987]1990, p.
292)17.
Também é importante levar em consideração que, nessa proposta de visão
experiencialista de Lakoff e Johnson, assim como aspectos do objetivismo são preservados, o
mesmo se pode dizer quanto ao subjetivismo, ou seja, quanto à ideia de que, conforme referem os
autores, a produção de significado funcionaria tal qual explica a personagem Humpty Dumpty, em
Alice Através do Espelho: “Quando eu uso uma palavra [...], ela significa exatamente aquilo que
eu quero que signifique: nem mais nem menos.” (CARROL, [1865]2010, p. 265). Apesar de
rejeitar esse postulado de que o conhecimento humano estaria totalmente condicionado à
subjetividade e dissociado de circunstâncias externas à racionalidade humana, os autores
consideram a importância de se levar em conta os fatores subjetivos que permeiam significado – a
linguagem significa sempre para alguém (LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003).
O realismo experiencial é um dos principais pilares que sustentam a noção de significado
como conceptualização, aspecto de que trataremos na seção a seguir.
3.1 CONCEPTUALIZAÇÃO: O SIGNIFICADO COMO PROCESSO DINÂMICO
Abordados os paradigmas objetivista e experiencialista no contexto do estudo do
significado, nosso percurso reflexivo passa a focar nos seguintes aspectos: (a) a pertinência de uma
abordagem linguístico-cognitiva para o estudo do significado; e (b) a concepção de significado
como processo de conceptualização. Para isso, apresentamos, a seguir, a Linguística Cognitiva
enquanto empreendimento pautado no realismo experiencial, para então discutirmos seus
pressupostos relativos ao estudo do significado.
3.1.1 A primazia do significado na Linguística Cognitiva
Conforme indicamos ao longo do artigo, a Linguística Cognitiva surge a partir do
paradigma experiencialista, que, por sua vez, é estabelecido no âmbito da ciência cognitiva. Desse
modo, os postulados linguístico-cognitivos contrastam-se com as premissas objetivistas no que
tange a cognição e significado. Retomando nossa seção sobre objetivismo, quanto à cognição, se a
mente humana simplesmente reflete uma realidade objetiva, os processos cognitivos subjacentes
consistem em meras operações mecânicas que viabilizam a correspondência palavra-mundo. Em
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termos de significado, portanto, não haveria que se considerar influências subjetivas, externas a
essa correspondência, de modo que uma semântica objetivista implica considerar se determinadas
expressões linguísticas são verdadeiras ou falsas no que concerne à correspondência com o mundo
objetivo (LAKOFF, [1987] 1990). A partir da perspectiva experiencialista, a Linguística
Cognitiva evidencia como esses postulados são consideravelmente limitados no que se refere ao
estudo de processos de significação, visto que “[...] eliminam a organização cognitiva do sistema
linguístico”. (SWEETSER, 1990, p. 4).18
A Linguística Cognitiva não consiste em uma teoria homogênea, mas sim num
empreendimento que agrupa diversas abordagens que se sobrepõem parcialmente (GEERAERTS,
2006) e que partilham de pressupostos relativos à concepção de linguagem e de cognição. Dentre
os protagonistas desse movimento, iniciado ao final dos anos 1970, destacam-se Lakoff
([1987]1990), Langacker (1987) e Talmy (1987). A LC pode ser considerada uma teoria pautada
na compreensão e no uso linguístico, cujo objetivo é mostrar como a linguagem está ancorada na
cognição humana. Nessa perspectiva, o único objetivo legítimo e científico no estudo da
linguagem é o estudo do significado, bem como do papel dos processos cognitivos nesse
fenômeno. (KÖVECSES, 2006).
Como explica Taylor (2005), a LC se insere no panorama da ciência cognitiva por
preocupar-se em explicar como a linguagem reflete conteúdo conceptual, tratando dos
significados na condição de entidades mentais. Esse propósito ancora-se no chamado
compromisso cognitivo da área, representando seu comprometimento em “[...] fornecer uma
caracterização dos princípios gerais para a linguagem que estão em consonância com aquilo que se
sabe sobre a mente e o cérebro a partir de outras disciplinas” (EVANS; BERGEN; ZINKEN, 2007,
p. 4)19. A Linguística Cognitiva constitui-se, portanto, em um campo multidisciplinar que prima
pelo diálogo com outras áreas, como a psicologia, a neurociência e a ciência da computação,
baseando-se nas descobertas que comprovam empiricamente a forma como a cognição funciona.
Conforme Salomão (2006), apesar de todas as teorias da LC configurarem um panorama
bastante heterogêneo, pode-se traçar um fio condutor que une esses aportes teóricos por meio de
certos postulados – dentre eles, ver a linguagem como uma habilidade dependente dos demais
processos cognitivos, a qual, portanto, não pode ser vista como um módulo isolado do restante do
cérebro. Dessa forma, as teorias filiadas à Linguística Cognitiva propõem uma abordagem mais
abrangente da linguagem, levando-se em consideração as inter-relações entre cognição,
significado e experiência. Assim sendo, considera-se que o significado é baseado no uso e na
experiência dos falantes, refutando-se tendências de abordagens anteriores em abstrair a
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linguagem de seu uso e considerar fenômenos semânticos e pragmáticos como periféricos aos
estudos linguísticos. Nas palavras de Fauconnier, (2003, p. 2)20 “A linguagem não ‘representa’ o
significado; ela remete à construção do significado em contextos particulares contendo modelos
culturais particulares e recursos cognitivos.” Defende-se, assim, que os usos linguísticos são
profundamente motivados.
Esses pressupostos evidenciam, portanto, que o significado de uma expressão envolve a
recuperação de informação extralinguística – por exemplo, ao conceptualizar a unidade café
(sentido de bebida), o falante não recupera apenas a informação linguística de que é uma bebida
feita com grãos do cafeeiro: todo o seu conhecimento de mundo e sua experiência relativos à
bebida serão ativados, podendo incluir o gosto do café, os efeitos da cafeína, os momentos do dia
em que o consome, dentre outras informações. Desse modo, por meio dessa perspectiva,
compreendemos que “[...] um significado lexical reside em um modo particular de acessar
conhecimentos ilimitados pertencentes a certo tipo de entidade.” (LANGACKER, 2008, p. 40,
grifo do autor) 21 . Esse pressuposto remete à noção de conhecimento enciclopédico, um dos
principais pilares que sustentam as teorias da LC.
Segundo Langacker (1999), a noção de conhecimento enciclopédico é embasada não
apenas no realismo experiencial, mas também na semântica enciclopédica proposta por Haiman
(1980). Em seu artigo intitulado Dictionaries and Encyclopedias, o autor questiona a posição de
lexicógrafos que até então vinham elaborando definições a partir da distinção saussuriana
significante-significado, considerando esse significado de dicionário como algo independente de
aspectos experienciais. Da mesma forma, Haiman refuta o argumento de filósofos e linguistas
quanto à possibilidade de separação entre “palavras-dicionário”, correspondendo a significados
supostamente mais fenomenológicos e cotidianos que deveriam ser encontrados em dicionários, e
“palavras-objeto”, relativas a fatos concretos que, desse modo, comporiam enciclopédias22. Para
ele, não haveria essa distinção entre dicionários e enciclopédias que tantos teóricos buscavam
estabelecer, visto que conhecimento semântico está atrelado a conhecimento cultural, de modo
que, “Sem experiência, não há pensamento, e certamente não há linguagem.” (HAIMAN, 1980, p.
337)23.
A figura a seguir representa essa distinção entre visão dicionarística do significado
(dentre todos os conhecimentos relativos a uma expressão, apenas o linguístico é considerado) e
visão enciclopédica, ilustrando diversas outras informações que podem ser ativadas no processo de
significação, de forma mais central ou mais periférica:
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Figura 1: visão de dicionário X visão enciclopédica
Fonte: adaptado de Langacker (2008, p. 39).
Dentre os principais fenômenos estudados pela Linguística Cognitiva, destacamos o
processo de categorização – ou seja, a habilidade humana de agrupar diferentes entidades como
sendo instâncias da mesma espécie (TAYLOR, 2009) –, que é compreendido por meio da noção de
protótipo, conceito fundamental para compreendermos os princípios basilares dessas teorias.
Fundamentada nas descobertas de pesquisadores como Rosch (1973) – expoente da
psicologia cognitiva que marcou consideravelmente o campo com suas investigações sobre
categorização –, a Linguística Cognitiva defende que a categorização não deve ser entendida
através de um processo binário de pertencimento ou não pertencimento a determinada categoria,
como postula a visão aristotélica, mas sim a partir da noção de prototipicidade ou de efeito
prototípico. Conforme a autora, todos os objetos que pertencem a certas categorias têm o mesmo
status; no entanto, alguns exemplos são considerados mais prototípicos que outros. Como explica
didaticamente Geeraerts (2006, p. 1), entender o conceito de pássaro vai muito além de identificar
os membros dessa categoria a partir de condições necessárias e suficientes:
[...] você pode definir os pássaros como certo tipo de animal com certas características
(como ter asas, ser capaz de voar, nascer de ovos), mas se quiser ter uma boa noção
cognitiva do que são os pássaros, terá de checar alguns pássaros típicos, como sabiás,
pardais e pombas, e talvez também alguns menos típicos, como galinhas e avestruzes. 24
Desse modo, para entenderem o significado de uma palavra, os falantes recorrem a um
acervo mental de protótipos. Para a LC, a habilidade de categorização não só se reflete na
organização linguística, como também explica o modo de funcionamento da cognição humana.
Essa noção de efeito prototípico resulta em uma abordagem-modelo para estudos de fenômenos
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linguísticos e conceptuais sob o escopo da Linguística Cognitiva, incluindo-se as abordagens mais
voltadas à gramática: a LC, como explica Lakoff ([1987]1990), defende que todas as categorias
linguísticas refletem, em alguma medida, a noção de protótipo, tendo cada uma delas os seus
elementos e características mais centrais e mais periféricos.
A perspectiva linguístico-cognitiva de significado, portanto, reside em uma ideia
integrada de cognição: não sendo a linguagem um módulo isolado de nosso aparato cognitivo,
considera-se que nossas habilidades linguísticas funcionam à maneira de outras operações
mentais. Dessa forma, se o cérebro consiste em uma vasta rede de relações entre neurônios,
conectando todas as atividades cognitivas (TAYLOR, 2002), a linguagem também é uma trama de
interconexões com esses vários subsistemas. Além disso, defende-se que esse “[...] nosso órgão
principal de fazer significado, a mente/o cérebro, é moldado tanto pela experiência corpórea
quanto pela experiência social/cultural." (KÖVECSES, 2006, p. 328). É a partir desses
pressupostos que se estabelece uma visão de significado como processo dinâmico ancorado
culturalmente, ou seja, como conceptualização.
3.1.2 Eu conceptualizo, tu conceptualizas: a capacidade de conceptualização como locus do significado
Conforme vimos na seção anterior, a Linguística Cognitiva parte do pressuposto de que o
estudo da linguagem está ancorado na cognição humana e em seus modos de funcionamento. A
partir disso, postula-se uma semântica cognitiva, estabelecendo que o significado esteja
primariamente condicionado à nossa experiência cognitiva, que nos permite perceber e construir a
realidade por meio da linguagem. Como aponta Coulson (1997, p. 17), o papel dos semanticistas
vinculados à LC é tratar do significado como fenômeno cognitivo, levando em conta as:
[...] operações cognitivas que realizam a produção e a compreensão de enunciados
linguísticos. Visto que a relação entre palavras e o mundo é mediada por atividade
cognitiva, o estudo do significado é o estudo de como as palavras são usadas para evocar
representações mentais.25
Complementando essa afirmação com a explicação de Taylor (2005), semanticistas
cognitivos levam a sério o postulado de que os significados “estão na mente” e que podem ser
identificados como conceptualizações evocadas por expressões linguísticas. Dessa forma, como
assinalam Nuyts e Pederson (1997), o comportamento linguístico dos seres humanos consiste em
uma fonte valiosa de dados relativos ao modo como conceptualizamos o mundo, visto que
explicita e transmite informações conceptuais. É por isso que se parte do pressuposto de que a
conceptualização é “o locus do significado” (LANGACKER, 1997, p. 229)26.
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Considerando essa perspectiva cognitiva da semântica, tratar de conceptualizações
consiste em abordar o significado como processo dinâmico, o qual abrange “[...] novas
concepções, bem como conceitos fixos; experiência sensória, sinestésica e emotiva;
reconhecimento do contexto imediato (social, físico e linguístico), dentre outros aspectos.”
(LANGACKER, 2006, p. 30)27. Assim, a conceptualização reside em processos cognitivos que
permitem ao falante reconhecer o sentido de determinada palavra ou expressão. Sua dinamicidade
está diretamente ligada a essa dimensão de significado como processo realizado cognitivamente –
em termos neurológicos, o ato de conceptualizar implica um tempo de processamento; além disso,
conceptualizações podem constituir em experiências sutilmente diferentes dependendo das
escolhas linguísticas feitas pelos falantes.
Entretanto, importa ressaltar que não se está negando que o significado, ancorado na
cognição, esteja também condicionado a processos de construção que surgem em contextos
interacionais. Langacker (2013) deixa claro que partir de processos cognitivos de
conceptualização não implica assumir a posição radical de que “tudo é cognição”, visto que, “Na
fala, conceptualizamos não apenas aquilo sobre o qual falamos, mas também o contexto e suas
dimensões, incluindo nossa avaliação do conhecimento do interlocutor e as suas intenções.”
(LANGACKER, 2013, p. 29) 28 . Ao mesmo tempo, a semântica cognitiva obviamente não é
compatível com abordagens interacionistas que defendem que “nada é cognição”, como se todos
os processos de atribuição de significado surgissem do contexto interativo. O autor é categórico ao
afirmar que esse tipo de abordagem não se sustenta, visto que “[...] cabeças vazias não podem
falar, interagir ou negociar significado.” (LANGACKER, 2013, p. 29)29. A partir dessa passagem,
compreendemos que tratar de significado como conceptualização é focar no seu ponto de partida,
sem desconsiderar que esse processo cognitivo está totalmente atrelado ao funcionamento
corpóreo, que, por sua vez, é parte de uma realidade que tem características físicas, sociais e
culturais. Desse modo, a semântica cognitiva parte do pressuposto de que “Significados
linguísticos também estão ancorados na interação social, sendo negociados por interlocutores com
base na avaliação mútua de seu conhecimento, de seus pensamentos e intenções.”
(LANGACKER, 2008, p. 4)30.
Para compreendermos essa dimensão processual da conceptualização e a importância de
se levar em conta o modo como simulamos mentalmente a realidade, é válido mencionarmos o
estudo de Matlock (2004), referido por Lakoff (2013) como um exemplo de verificação
experimental relativa ao modo como a mente funciona ao processar verbos de movimento
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fictício31: a pesquisadora realizou experimentos com voluntários que foram orientados a ler, o
mais rápido possível, pequenas narrativas em uma tela de computador, imaginando os cenários
descritos. Após terminar, os participantes respondiam a questionários relativos às histórias,
identificando frases que estavam relacionadas às narrativas; o tempo que levavam para responder
cada frase era registrado. Os resultados evidenciaram que uma frase como A estrada passa pelo
bosque é processada mais rapidamente que A estrada serpenteia pelo bosque, visto que “[...] as
pessoas simulam movimento [...] quando tentam entender frases com verbos de movimento
fictício.” (MATLOCK, 2004, p. 1396)32.
Evidências como essa reforçam a escolha de semanticistas cognitivos pelo termo
conceptualização, em vez de conceito. Para Langacker (1997), esse uso se opõe propositalmente a
conceito porque, em muitas abordagens, este último é caracterizado como entidade dissociada de
fatores corpóreos, sociais e culturais e que, portanto, é bastante restrito. Dessa forma, tal aspecto
reforça o fato de que, para a semântica cognitiva, “Não há sentidos dados, estáticos, distintos; mas
construídos, dinâmicos, flexíveis e negociáveis” (SILVA, 2015) 33 . Segundo o mesmo autor
(SILVA, 2009), essa faceta sociocultural do significado tem sido cada vez mais salientada em
trabalhos de semântica cognitiva, reforçando que o movimento não é apenas pautado na
corporificação, mas também na situacionalidade sociocultural 34 , que enfatiza a natureza
interacional e socialmente situada da cognição. Nessa direção, linguistas cognitivos ponderam que
o próprio nome Linguística Cognitiva talvez não seja o mais adequado para subsumir esses
estudos, e que seria mais pertinente passar-se a utilizar termos como Ciência Social Cognitiva
(TURNER, 2001) ou Semântica Cultural (KÖVECSES, 2009), que fazem jus ao escopo atual do
empreendimento.
No cenário brasileiro, destacamos o desenvolvimento da Hipótese Sociocognitiva da
Linguagem (SALOMÃO, 1997; MIRANDA, 2001), a qual evidencia a relevância de aspectos
intersubjetivos para a construção do significado: “A hipótese que [...] adotamos advoga ser a
significação uma construção mental produzida pelos sujeitos cognitivos no curso de sua interação
comunicativa.” (SALOMÃO, 1997, p. 26, grifo da autora). Esse postulado tem como base
trabalhos de linguistas como Tomasello (1999), que enfatiza o caráter cultural da comunicação
humana. Como explica Miranda (2001), o programa coloca, como cerne de sua agenda
investigativa, o caráter social da cognição, deixando em segundo plano os processos cognitivos
individuais – postura que, apesar de ser anunciada pela primeira geração de linguistas cognitivos,
acaba não sendo concretizada.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo, iniciamos nossa reflexão explorando a perspectiva da visão objetivista – por
vezes chamada de tradicional – do significado, mostrando como a tradição filosófica que
consolidou essas bases epistemológicas, e que até hoje tem forte influência sobre o modo como
vemos o mundo, moldou uma concepção de significado a partir existência de uma realidade
objetiva, na qual a mente humana e suas operações teriam meramente o papel de efetuar
correspondências entre linguagem e mundo objetivo. Conforme essa visão, a produção de
significado está totalmente dissociada de características sociais, culturais e subjetivas dos falantes
– a linguagem, per se, significa.
Na segunda parte, introduzimos o realismo experiencial, ou experiencialismo, postulado
por Lakoff ([1987]1990) e Lakoff e Johnson ([1980]2003). Como explicam os autores, a forma
como vemos o mundo está diretamente ligada à nossa constituição corpórea, a qual está
condicionada a determinados padrões culturais. A partir dessa visão, compreendemos que o
significado não está dissociado de características corporais e culturais que nos identificam como
seres humanos situados em determinada comunidade. Dessa forma, o realismo experiencial é uma
abordagem que coloca em evidência os processos cognitivos, imaginativos e intersubjetivos que
permeiam o significado – os falantes é que significam por meio da linguagem.
A última seção foi dedicada ao processo de conceptualização. Para isso, iniciamos a seção
abordando os principais pilares do empreendimento da Linguística Cognitiva, bem como o lugar
privilegiado dos estudos do significado nesse contexto teórico. Em seguida, tratamos da
conceptualização como locus do significado, tal qual definido por Langacker (1997). A partir da
semântica cognitiva postulada por linguistas cognitivos, compreendemos que o significado está
diretamente relacionado às nossas experiências cognitivas, as quais estão, inegavelmente,
atreladas a contextos socioculturais. Desse modo, podemos perceber que as agendas de pesquisa
experiencialistas e sociocognitivas têm valorizado cada vez mais os processos de significação em
seus contextos sociais, culturais e interacionais.
NOTAS
1
“Polissemia: nenhum problema para os falantes; muitos problemas para os linguistas.” Informação
verbal coletada durante a comunicação do professor Augusto Soares da Silva na mesa redonda
Polissemia, Cognição e discurso, que ocorreu no I Congresso Ibero-Americano de Semântica Cognitiva
(CISCOG), realizado em Salvador, no dia 27 de outubro de 2015.
2
No original: “[...] la pregunta más fundamental a la que la semântica lingüística y no lingüística intenta
dar una respuesta científicamente satisfactoria.” (LYONS, 1997, p. 26).
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3
Esse trecho remete ao conhecido exemplo o gato está sobre o tapete, bastante recorrente na literatura no inglês: The cat is on the mat (LAKOFF, [1987]1990; LAKOFF; JOHNSON, 1999; COULSON,
1997; 2001).
4
No original: “Philosophers and linguists have each been impressed by different things about human
language competence, and semantics has been shaped by both sorts of interests. For philosophers, the
interesting thing about language is its intentionality or aboutness. How is that an arbitrary set of symbols
can represent things in the world? [...] The philosopher's problem of how "cat" can represent a cat has led
to an emphasis on truth and reference.” (COULSON, 1997, p. 3, grifo da autora).
5
Dado que tencionamos contextualizar o objetivismo como um todo, neste artigo, estamos nos atendo às
abordagens filosóficas ligadas a referência e a condições de verdade. No entanto, é de se considerar que
as teorias sobre o significado na filosofia vão muito além desses dois grandes eixos. Por exemplo,
Martin (2006) menciona outras abordagens importantes, como a teoria da ideia, de Locke; o significado
como uso, defendido principalmente por Wittgenstein e Austin; e o ceticismo de Quine.
6
No original: “[...] assume that rational thought consists of the manipulation of abstract symbols and that
these symbols get their meaning via a correspondence with the world, objectively construed, that is,
independent of the understanding of any organism. [...] On the objectivist view, all rational thought
involves the manipulation of abstract symbols which are given meaning only via conventional
correspondences with things in the external world.” (LAKOFF, [1987]1990, p. xii, grifo do autor).
7
Os autores ainda explicam que, na linguística, podem-se considerar duas correntes principais: a do
objetivismo empírico, liderada por Bloomfield, e a do objetivismo racionalista, que tem como principais
expoentes Jackendoff, Sapir, Whorf e Chomsky (LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003).
8
No original: “[...] a matter of fitting words into the world.” (LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003, p. 197).
9
No original: “a mirror of nature.” (LAKOFF, [1987]1990, p. xii, grifo do autor).
10
No original: “[...] a message with a fixed meaning to a hearer.” (LAKOFF; JOHNSON, [1980]2003, p.
197).
11
Conforme explicam Lakoff e Johnson (1999), descobertas de Darwin levaram filósofos a rejeitar
posições metafísicas relativas à existência humana e a levar em conta a sua natureza corpórea. Nesse
contexto, os autores ressaltam que os trabalhos dos filósofos Maurice Merleau-Ponty e John Dewey
foram essenciais para mostrar a relevância da experiência corpórea no que concerne ao modo como
vivemos, interagimos e compreendemos o mundo.
12
No original: “[...] as animals we have bodies connected to the natural world, such that our consciousness
and rationality are tied to our bodily orientations and interactions in and with our environment. Our
embodiment is essential to who we are, to what meaning is, and to our ability to draw rational inferences
and to be creative.” (JOHNSON, 1987, p. xxxviii).
13
No original: “It includes [...] not merely perception, motor movement, etc., but especially the internal
genetically acquired makeup of the organism and the nature of its interactions in both its physical and its
social environments.” (LAKOFF, [1987]1990, p. xv).
14
No original: “Reason is not disembodied, as the tradition has largely held, but arises from the nature of
our brains, bodies, and bodily experience. [...] The same neural and cognitive mechanisms that allow us
to perceive and move around also create our conceptual systems and modes of reason. [...] In summary,
reason is not, in any way, a transcendent feature of the universe or of disembodied mind. Instead, it is
shaped crucially by the peculiarities of our human bodies, by the remarkable details of the neural
structure of our brains, and by the specifics of our everyday functioning in the world.” (LAKOFF;
JOHNSON, 1999, p. 4).
15
No original: “[...] a central role in the constitution of rationality”. (JOHNSON, 1987, p. ix).
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16
No original: “[…] consists of interaction with other people and other minds. This leads to mutual
recognition […] as well as to substantial convergence in the mental worlds constructed”.
(LANGACKER, 1999, p. 233).
17
No original: “Meaning is not a thing; it involves what is meaningful to us. Nothing is meaningful in
itself. Meaningfulness derives from the experience of functioning as a being of a certain sort in an
environment of a certain sort.” (LAKOFF, [1987]1990, p. 292).
18
No original: “[...] eliminates cognitive organization from the linguistic system.” (SWEETSER, 1990, p.
4).
19
No original: “[...] providing a characterization of the general principles for language that accord with
what is known about the mind and brain from other disciplines.” (EVANS; BERGEN; ZINKEN, 2006,
p. 4).
20
No original: “Language does not ‘represent’ meaning; it prompts for the construction of meaning in
particular contexts with particular cultural models and cognitive resources.” (FAUCONNIER, 2003, p.
2).
21
No original: “[…] a lexical meaning resides in a particular way of accessing an open-ended body of
knowledge pertaining to a certain type of entity.” (LANGACKER, 2008, p. 40, grifo do autor).
22
Exemplos de palavras-dicionário seriam fenômenos como luz e calor, enquanto palavras-objeto diriam
respeito a pesquisas científicas e a outros conhecimentos gerais (HAIMAN, 1980).
23
No original: "Without experience, there is no thought, and certainly no language." (HAIMAN, 1980,
p. 337)
24
No original: “[…] you can define birds as a certain type of animal with certain characteristics (like
having wings, being able to fly, and being born from eggs), but if you want to get a good cognitive grip
on what birds are, you will want to have a look at some typical birds like robins and sparrows and doves,
and then maybe also at some less typical ones, like chickens and ostriches.” (GEERAERTS, 2006, p. 1).
25
No original: “[...] cognitive operations which realize the production and comprehension of linguistic
utterances. Because the relationship between words and the world is mediated by cognitive activity, the
study of meaning is the study of meaning is the study of how words are used to evoke mental
representations.” (COULSON, 1997, p. 17).
26
No original: “[...] the locus of meaning”. (LANGACKER, 1999, p. 229)
27
No original: “[...] novel conceptions as well as fixed concepts; sensory, kinesthetic, and emotive
experience; recognition of the immediate context (social, physical, and linguistic); and so on.”
(LANGACKER, 2006, p. 30)
28
No original: “In speaking, we conceptualize not only what we are talking about but also the context in all
its dimensions, including our assessment of the knowledge and intentions of our interlocutor.”
(LANGACKER, 2013, p. 29).
29
No original: “[...] empty heads cannot talk, interact, or negotiate meanings”. (LANGACKER, 2013, p.
29).
30
No original: “Linguistic meanings are also grounded in social interaction, being negotiated by
interlocutors based on mutual assessment of their knowledge, thoughts, and intentions.”
(LANGACKER, 2008, p. 4).
31
Movimento fictício concerne à captura de movimentos não verídicos de entidades – por exemplo, Essa
praça vai até o final da quadra. Opõe-se a movimento factivo, que se refere a movimentos verídicos,
como Fui à praça pela manhã. (CASTILHO, 2011).
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32
No original: “[...] people simulate motion [...] while trying to understand FM [fictive motion]
sentences.” (MATLOCK, 2004, p. 1396)
33
Informação verbal coletada durante a comunicação do professor Augusto Soares da Silva na mesa
redonda Polissemia, Cognição e discurso, que ocorreu no I Congresso Ibero-Americano de Semântica
Cognitiva (CISCOG), realizado em Salvador, no dia 27 de outubro de 2015.
34
Do inglês sociocultural situatedness (SILVA, 2009, p. 518).
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