Práticas de Inteligência Competitiva em Organizações Participantes do Prêmio Delmiro
Gouveia no Ceará
Raphael de Jesus Campos
de Andrade
Paulo César de Sousa Batista
Fátima Evaneide Barbosa de
Almeida
Universidade Estadual do Ceará - UECE
Resumo
A inteligência competitiva (IC) é o processo pelo qual informações de múltiplas fontes são
coletadas, interpretadas e comunicadas. A necessidade de informações adequadas para a
tomada de decisão, assim como de monitoramento do ambiente externo para antecipar
acontecimentos inesperados, torna o processo de IC crucial para as organizações. Entretanto,
muitas empresas ainda são lentas na incorporação das atividades de inteligência às práticas de
negócios. No Brasil, pouca pesquisa tem sido feita sobre os processos de inteligência
competitiva. Por conta disso, o objetivo desta pesquisa é identificar o nível de uso e o grau de
satisfação das práticas de IC adotadas pelas empresas participantes do prêmio Delmiro
Gouveia no Ceará e a contribuição destas mesmas práticas para o desempenho organizacional.
Metodologicamente, o estudo é uma pesquisa quantitativa, tipo survey, que procura obter os
dados das empresas por meio de um questionário. Os resultados da pesquisa indicam as
principais práticas adotadas, bem como o grau de sua utilização, nível de satisfação e
contribuição para o desempenho empresarial, na percepção dos respondentes. Os indicadores
encontrados revelam haver uma percepção favorável da contribuição da inteligência
competitiva para o desempenho organizacional.
Introdução
Os estrategistas estão se apoiando cada vez mais em uma prática, não raro malentendida, denominada inteligência competitiva (IC). A inteligência competitiva é um
processo para obtenção de informação estratégica externa, em que a organização deve
formalizar um mapa demonstrando as fontes de informação necessárias para a sua atuação
competitiva (PRESCOTT; MILLER, 2002). Em um mercado global saturado de dados que
percorrem o mundo em nanossegundos, a transformação de informações em inteligência
prática é justamente o que oferece apoio às decisões e coloca a empresa na fronteira
competitiva dos avanços. A inteligência é um imperativo devido a fatores como a velocidade
dos processos de negócios, a sobrecarga de informações, o crescimento global do processo
competitivo com o surgimento de novos participantes, a concorrência cada vez mais agressiva
e as rápidas mudanças tecnológicas. Os profissionais de IC coletam, analisam e aplicam, legal
e eticamente, informações relativas às capacidades, vulnerabilidades e intenções de seus
concorrentes e monitoram acontecimentos do ambiente competitivo geral (como concorrentes
antes desconhecidos que surgem no horizonte ou novas tecnologias que podem alterar tudo).
Não há maneira das organizações operarem eficazmente sem um sistema de coleta e análise
de informações (MILLER, 2002).
Percebendo a necessidade de apurar a estratégia competitiva, um número
crescente dentre as maiores empresas globais implantou unidades de IC classe mundial. Das
empresas multinacionais sediadas nos Estados Unidos e com receitas de mais de US$10
bilhões, 82% já contam com unidades de inteligência organizadas, segundo um levantamento
feito em 1998 pelo The Futures Group (PRESCOTT; MILLER, 2002). Dentre todas as
empresas sediadas nos Estados Unidos e com receitas de mais de US$1 bilhão, 60% declaram
ter um sistema organizado de inteligência competitiva. Todavia, a maioria das empresas de
porte médio a grande – e até um número maior de empresas de porte pequeno a médio – não
conta com esse tipo de sistema. Estas empresas ainda não incorporaram a IC a sua estrutura
organizacional e cultura corporativa, e menos ainda a tornaram acessível a toda a organização,
dos dirigentes aos representantes de vendas.
No Brasil, a discussão sobre IC se iniciou em meados da década de 90 e culminou
no ano 2000 com a criação da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência
Competitiva – ABRAIC. Neste início de século, o Brasil possui poucas empresas que sabem o
que significa inteligência competitiva e, portanto, encontra-se ainda no estágio de
conscientização da importância desta metodologia (BORGES e CAMPELLO, 1997;
QUINELLO e NICOLETTI, 2005). Apesar disso, já é possível encontrar empresas como
Embraer, Petrobrás, Banco do Brasil, Embratel e Telefônica com programas de IC em
diferentes estágios de implementação. Essas empresas descobriram que serão mais
competitivas se observarem atentamente o mercado externo, as variações das políticas
econômicas nacionais e internacionais e o comportamento de clientes, fornecedores e
concorrentes.
Em virtude da precariedade de informações confiáveis e da escassez de estudos
aprofundados sobre a inteligência competitiva no ambiente empresarial brasileiro, torna-se
necessário desenvolver conhecimentos práticos no que se refere a todos os aspectos da IC. Por
conta disso, o objetivo principal desta pesquisa é identificar o nível de uso e o grau de
satisfação das práticas de inteligência competitiva adotadas pelas empresas participantes do
prêmio Delmiro Gouveia no Ceará e a contribuição destas mesmas práticas para o
desempenho organizacional.
A escolha destas empresas se deve ao fato do prêmio Delmiro Gouveia no Ceará
ter a participação de empresas relevantes do Estado. Além disso, as empresas inscritas no
prêmio demonstram uma tendência em usar, de forma mais sistemática, práticas de IC e em
desenvolver maior grau de compromisso na avaliação do seu desempenho.
Quanto à estrutura, este artigo está organizado em três capítulos, além da
introdução e da conclusão. O primeiro capítulo traz uma revisão da literatura acerca das
práticas de inteligência competitiva, na visão de vários autores, como Prescott, Miller,
Sandman, Marceau, Sawka, Powell, Allgaier, Tarapanoff, Cardoso Junior, dentre outros. O
capítulo dois aborda a metodologia do trabalho, que compreende uma pesquisa descritiva, tipo
survey. O terceiro capítulo apresenta as características do prêmio Delmiro Gouveia e os
resultados obtidos nas empresas pesquisadas. O trabalho tem seu desfecho com as conclusões
a respeito do estudo e as recomendações e propostas de futuras pesquisas sobre o tema.
1. As Práticas de Inteligência Competitiva
Muitas empresas, particularmente de médio e grande portes, esforçam-se por
adotar práticas, ferramentas e técnicas de análise que possam acompanhar o que fazem os seus
concorrentes e as condições gerais do ambiente externo, mesmo sem saber que esta atividade
é hoje um campo específico da gestão denominado inteligência competitiva. Em particular
essas técnicas são importantes no auxílio à tomada de decisão, proporcionando uma visão
integrada do que está ocorrendo, economizando tempo, racionalizando o uso dos recursos e
mitigando riscos. Os empregos de técnicas e ferramentas de análise convergem para a
monitoração de informações ambientais, que pode se concretizar na estruturação de sistemas
de informação para a tomada de decisão (TARAPANOFF, 2001). Para Prescott e Miller
(2002, p. 190), “técnicas analíticas especialmente projetadas para a inteligência permitem uma
interpretação confiável do ambiente externo e, assim, dão apoio à tomada de decisões
estratégicas”. Essas técnicas devem coletar e interpretar informações que captem o
comportamento dos concorrentes, reguladores, tecnologias e outros fatores de influência
externa de forma que permita uma análise rigorosa e disciplinada por parte de profissionais
formados. O resultado final desta atividade analítica é uma avaliação do que está ocorrendo
externamente e do que isso significa para a empresa (PRESCOTT e MILLER, 2002).
Considerando, contudo, a variedade das práticas de inteligência competitiva,
foram selecionadas para compor o referencial deste artigo cerca de meia dúzia de práticas que
são comuns a muitos dos autores revisados, sendo estas práticas apresentadas no Quadro 1,
com a indicação dos autores que as mencionaram. Uma análise dessas ferramentas é
apresentada nas próximas secções deste trabalho.
Práticas
Autores
Análise SWOT
Gieskes (2002), Sandman (2002), Miller (2002), Marceau e Sawka (2002), Tarapanoff
(2001) e Powell e Allgaier (1998).
Benchmarking
Sandman (2002), Prescott e Miller (2002), Laackman et al (2002) e Cardoso Junior
(2003).
Cenários competitivos
Tessun (2002), Marceau e Sawka (2002), Prescott e Miller (2002) e Powell e Allgaier
(1998).
CRM (customer
relationship management)
Cardoso Junior (2003).
Pesquisas junto aos clientes Miller (2000), Prescott e Miller (2002) e Kotler e Keller (2006).
Segmentação de mercado
Powell e Allgaier (1998) e Kotler e Keller (2006).
Planejamento estratégico
Miller (2000) e Prescott e Miller (2002).
Inteligência mercadológica
Sandman (2002), Marceau e Sawka (2002), Prescott e Miller (2002) e Powell e
Allgaier (1998).
Quadro 1: Práticas de inteligência competitiva mais comuns entre os autores pesquisados.
Fonte: Elaborado pelos autores.
1.1. Análise SWOT
A sigla SWOT corresponde a forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.
Especificamente, as forças e fraquezas são de uma companhia – a sua ou da concorrente. As
oportunidades e ameaças estão presentes no mercado em geral. Esta é uma distinção
importante. Muitos têm como certo que as partes O e T de uma análise SWOT digam respeito
somente às oportunidades e ameaças enfrentadas pela empresa em questão. Mas é preciso ver
mais além de uma única empresa quando se está tratando de oportunidades e ameaças
(SANDMAN, 2002).
O primeiro passo para um bom estudo do tipo SWOT é colher e absorver
informação secundária sobre a empresa que se está analisando e sobre o setor econômico que
lhe integra. Para Gieskes (2002, p. 99), presidente do Lexis-Nexis Group, a análise SWOT é
extremamente útil quando se trata de prever a estratégia futura de um concorrente:
“Fazemos muita análise SWOT (pontos fortes e fracos, oportunidades, ameaças,
fraquezas) relativa a nossos concorrentes. Basicamente, é interessante contar com
informes trimestrais atualizados a respeito de nossas análises SWOTs sobre a
maneira como os concorrentes se vêem a si próprios e sobre o grau de “ameaça” que
eles sentem em relação a nós. Freqüentemente, nós as atualizamos”.
A análise SWOT permite que o analista de inteligência competitiva pense como
um tomador de decisões e identifique momentos para a ação corporativa. Destaca os riscos e
oportunidades com que a empresa se depara ao tentar influenciar uma dada situação
competitiva. O primeiro passo no uso da análise de oportunidades é redefinir o problema da
inteligência nos termos do tomador de decisões.
1.2. Benchmarking
O benchmarking consiste em medir e comparar continuamente os processos
empresariais de uma organização com as melhores práticas gerenciais das empresas líderes
em qualquer lugar do mundo a fim de obter informações que possam melhorar o desempenho
e a competitividade. Quando essas informações estão em setores muito diferentes entre si, as
organizações estão sujeitas a elevados custos de oportunidade, pois geralmente estão tentando
descobrir apenas as estratégias dos concorrentes. Grupos setoriais se organizam para
promover um intercâmbio de visitas e de dados. Normalmente, os dados de vários
concorrentes são reunidos num quadro por um terceiro, que não identifica as empresas ali
referidas. O “benchmarking cego” da concorrência envolve um grau de risco para os analistas
de competitividade, pois é extremamente difícil garantir que a comparação de dados seja feita
com base nos mesmos itens (SANDMAN, 2002).
Entretanto, o benchmarking pode ser adequadamente utilizado quando aplicado
por especialistas. Laackman et al (2002, p. 225), por exemplo, conduziram “um estudo
comparativo entre 16 empresas para determinar como a função de inteligência de mercado se
estrutura nessas empresas. O estudo se propunha a obter informações que pudessem ser
utilizadas na organização de uma função de inteligência de mercado”. Portanto, os
pesquisadores utilizaram uma prática de inteligência competitiva, o benchmarking, para
descobrir como obter um processo de inteligência competitiva eficaz.
Por fim, o benchmarking pode ampliar a eficácia do sistema de inteligência
competitiva quando for utilizado para buscar informações estratégicas em todo e qualquer
setor de acordo com as necessidades da organização.
1.3. Cenários
Cenários são descrições focalizadas de diferentes futuros prováveis, apresentadas
em forma narrativa. O cenário pode ser uma mera descrição de algum estado futuro, em
termos de variáveis e questões-chave, ou pode ser gerado em combinações com outras
técnicas de previsão. Um cenário setorial é uma descrição prevista do futuro mais provável de
um setor industrial; é um cenário desenvolvido por meio da análise do provável impacto de
forças sociais futuras sobre grupos-chave de um determinado setor.
Os profissionais de inteligência competitiva concordam em que é preciso dar mais
atenção à previsão de possíveis eventos futuros. O uso do desenvolvimento de cenários
permite oferecer aos tomadores de decisões o vislumbre de possibilidades futuras, com o que
os profissionais de IC podem contribuir consideravelmente para o planejamento estratégico
corporativo. Alicerçado em cenários, um sistema de alerta antecipado pode monitorar
constantemente as estatísticas vitais da empresa – situação financeira, vendas, encomendas
etc. O planejamento de cenários destaca as áreas mais importantes a serem monitoradas. Para
Tessun (2002, p. 295),
"A complexidade do setor aeroespacial, com suas inúmeras interdependências e
interações, pede novas maneiras de planejar e pesquisar o futuro. Como os métodos
de previsão convencionais se mostraram insuficientes, a Daimler-Benz Aerospace
adotou uma abordagem de cenários que descreve como o “sistema” de
desenvolvimentos futuros forma uma rede a partir da qual se depreendem
perspectivas alternativas no âmbito dos 20 próximos anos”.
A IC, especialmente quando usada para a previsão e análise de cenários, alerta
para os jogos competitivos que estão ocorrendo ou a ponto de surgir em nossos mercados,
ajuda a explorar as oportunidades de crescimento e de mercado, e mantém os funcionários
alertas. Nos ramos de atividade que estão passando por mudanças velozes e consolidando-se,
trata-se de gerenciar o caos – milhões de coisas acontecendo ao mesmo tempo.
1.4. CRM (customer relationship management)
O CRM é o gerenciamento cuidadoso de informações detalhadas sobre cada
cliente e de todos os “pontos de contato” com ele, a fim de maximizar sua fidelidade. Por
ponto de contato com o cliente, entende-se qualquer ocasião em que o cliente tem contato
com a marca ou o produto – isso inclui desde uma experiência em si até uma comunicação
pessoal ou de massa, ou mesmo uma observação casual (KOTLER e KELLER, 2006). Graças
ao uso eficaz de informações sobre cada conta, o CRM permite que as empresas ofereçam um
excelente atendimento ao cliente em tempo real. Com base no que sabem sobre cada um
deles, as empresas podem customizar seus produtos, serviços, programas, mensagens e mídia.
O CRM é importante porque um grande impulsionador da lucratividade de uma empresa é o
valor agregado de sua base de clientes.
Alguns problemas podem impedir uma empresa de usar o CRM eficientemente. O
primeiro é que construir e manter um banco de dados de clientes requer um grande
investimento em hardware, programas analíticos e links de comunicação. Outro problema é a
dificuldade de fazer com que todos na empresa tenham uma orientação voltada para o cliente
e que usem as informações disponíveis. Além disso, os clientes podem não querer ter um
relacionamento com a empresa e ficar ressentidos ao descobrir que tantos dados pessoais seus
foram coletados. O que geralmente acaba esquecido é que os procedimentos de CRM têm
muito mais relação com atenção do que com tecnologia, mais com relacionamento do que
com recompensa. O desafio do CRM consiste em superar as expectativas dos serviços
oferecidos aos clientes.
1.5. Pesquisa de satisfação dos clientes
A empresa deve medir a satisfação com regularidade porque a chave para reter
clientes está em satisfazê-los. Em geral, um cliente altamente satisfeito permanece fiel por
mais tempo, compra mais à medida que a empresa lança produtos ou aperfeiçoa aqueles
existentes, fala bem da empresa e de seus produtos, dá menos atenção a marcas e propagandas
concorrentes e é menos sensível a preço. Além disso, sugere idéias sobre produtos ou serviços
e custa menos para ser atendido do que um cliente novo, uma vez que as transações já se
tornaram rotineiras. Além de acompanhar as expectativas e a satisfação do cliente, as
empresas precisam monitorar o desempenho dos concorrentes nessas mesmas áreas. Segundo
Kotler e Keller (2006, p. 144), “certa empresa, por exemplo, ficou feliz ao constatar que 80
por cento de seus clientes se diziam satisfeitos. Então o CEO descobriu que o principal
concorrente satisfazia 90 por cento da clientela. E ficou ainda mais aturdido ao saber que o
concorrente planejava alcançar 95 por cento no índice de satisfação”.
Existem diversos métodos para medir a satisfação do cliente. É possível fazer
perguntas adicionais aos entrevistados para medir a intenção de recompra e a probabilidade ou
a disposição de recomendar a empresa ou a marca a outros. As empresas podem ainda
monitorar o índice de perda de clientes e contatar aqueles que pararam de comprar ou
mudaram para outro fornecedor para saber o motivo. Finalmente, elas podem contratar
“compradores misteriosos” para passar por compradores potenciais e reportar os pontos fortes
e fracos experimentados na compra dos produtos da empresa e dos concorrentes. Nas
situações de compra em que possam passar despercebidos, os próprios administradores podem
fazer esse papel e, assim, experimentar diretamente o tratamento dispensado, ou podem ligar
para sua empresa e fazer perguntas ou reclamações para ver como os telefonemas são
gerenciados.
Hoje, as empresas precisam estar especialmente preocupadas com o nível de
satisfação do cliente porque a Internet proporciona uma ferramenta para que os consumidores
espalhem reclamações – assim como elogios – para o resto do mundo.
1.6. Segmentação de mercado
Os mercados não são homogêneos. Uma empresa não pode atender a todos os
clientes em mercados amplos ou diversificados. Os consumidores diferem entre si em muitos
aspectos e, em geral, podem ser agrupados segundo uma ou mais características. A empresa
precisa identificar os segmentos de mercado a que poderá atender com eficácia. Essas
decisões requerem um profundo entendimento do comportamento do consumidor e uma
cuidadosa análise estratégica. Às vezes, equivocadamente, os profissionais perseguem o
mesmo segmento de mercado em que várias empresas já atuam, negligenciando outros
segmentos potencialmente mais lucrativos. Os profissionais não criam os segmentos; sua
tarefa é identificá-los e decidir em quais vão se concentrar. A segmentação de mercado
oferece benefícios importantes em relação ao mercado de massa. A empresa pode planejar,
definir preços, divulgar e fornecer o produto ou serviço para melhor satisfazer o mercadoalvo. Segundo Kotler e Keller (2006, p. 256),
“Considerando que 82 por cento de seus clientes empresariais eram pequenas
empresas, a Penn National Insurance decidiu que precisava identificar as diferentes
classes de clientes que ofereciam a maior oportunidade de lucro. Utilizando um
banco de dados de seguros empresariais, a empresa conseguiu classificar
informações importantes sobre exposição, crescimento e funcionários com base no
tipo de empresa, tamanho e localização. Além de tornar mais fácil para seus agentes
a identificação de clientes potenciais, o esquema de segmentação ajudou a Penn
National a diversificar seu foco para empresas de construção”.
Ao avaliar diferentes segmentos de mercado, a empresa deve examinar dois
fatores: a atratividade global do segmento e os objetivos e recursos da própria empresa. Ela
deve considerar se o segmento potencial possui características que o tornam atrativo, como
tamanho, crescimento, aproveitamento, economias de escala e baixo risco. Alguns segmentos
atraentes podem ser rejeitados se não estiverem de acordo com os objetivos de longo prazo da
empresa ou se ela não tiver uma ou mais competências necessárias para oferecer um produto
de valor superior.
1.7. Planejamento estratégico
Planejamento estratégico é o conjunto de decisões e ações estratégicas que
determinam o desempenho de uma corporação a longo prazo. Esse tipo de gestão inclui
análise profunda dos ambientes interno e externo, formulação da estratégia, implementação da
estratégia, avaliação e controle. Portanto, o estudo do planejamento estratégico enfatiza o
monitoramento e a avaliação de oportunidades e ameaças face às forças e fraquezas de uma
corporação (HUNGER e WHEELEN, 2002).
O modelo de planejamento estratégico inclui um processo de
feedback/aprendizagem no qual as informações de cada elemento do processo são utilizadas
como um possível ajuste a cada um dos elementos anteriores do processo. À medida que
formula ou implementa estratégias, a empresa ou unidade de negócios deve voltar de vez em
quando para revisar ou corrigir decisões tomadas anteriormente no processo. Por exemplo, um
fraco desempenho (conforme medido na avaliação e controle) geralmente indica que algo deu
errado tanto na formulação quanto na implementação da estratégia. Também poderia
significar que uma variável-chave, como um novo concorrente, foi ignorada durante a análise
sistemática ambiental. A característica que distingue o planejamento estratégico é a ênfase
que ele dá à tomada de decisões estratégicas. À medida que as organizações se tornam
maiores e mais complexas, lidando com mais ambientes incertos, fica cada vez mais
complicado e difícil tomar decisões. Esse modo de tomada de decisões estratégicas envolve a
coleta sistemática de informações apropriadas para a análise de uma determinada situação, a
geração de estratégias alternativas exeqüíveis e a seleção racional da estratégia mais
apropriada.
1.8. Inteligência mercadológica
Muitos analistas e muitos gestores pouco familiarizados com a função da
inteligência em geral começam seu trabalho pela comparação de perfis de competidores. A
maioria desses exercícios acaba não passando de compilações de escassa valia de fatos não
relacionados entre si e de eventos do passado. “Não é necessário entender ou analisar aspectos
dos negócios ou ações do concorrente que não fazem a menor diferença para a sua empresa”
(SANDMAN, 2002, p. 94). Os analistas devem se concentrar nas decisões que precisam
tomar e no tipo de inteligência que servirá para aperfeiçoar essas mesmas decisões.
Por conta disso, surge a necessidade de uma inteligência mercadológica que
inclua perspectivas mais amplas em termos dos objetivos e das decisões estratégicas da
organização, como por exemplo, melhoras na produtividade resultantes de automação,
movimentos ativistas por parte de consumidores, mudanças no estilo de vida, investimentos
do governo em P&D, novos avanços em transferência de tecnologia dos laboratórios para o
mercado etc. Para Gieskes (2002, p. 106),
“Precisamos saber uma porção de coisas. Precisamos descobri-las muito rápido. No
passado, nosso ambiente criou uma necessidade de inteligência competitiva. Agora
as coisas se tornaram tão velozes, que se tornou necessário ter informação
disponível em tempo real, acessível sete dias na semana, 24 horas por dia. As
rápidas mudanças econômicas, competitivas, políticas e, especialmente, tecnológicas
registradas por nossos mercados, exigem que, cada vez mais, filtremos melhor a
informação, para organizá-la e utilizá-la em nosso próprio benefício”.
Se uma organização desconhece seus mercados, seus clientes atuais e potenciais,
suas habilidades técnicas e assim por diante, suas chances de fazer negócios são pequenas.
2. Metodologia
A metodologia desta pesquisa é de natureza quantitativa, pois utiliza técnicas
estatísticas e procedimentos matemáticos para comprovar as relações entre os fenômenos e
obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência e significado (ZANELLA, 2006).
Quanto ao delineamento, a pesquisa é descritiva, visto que procura estudar,
analisar, registrar e interpretar os fatos do mundo físico sem a interferência dos pesquisadores
(CRUZ e RIBEIRO, 2004).
A pesquisa utiliza a estratégia do levantamento, tipo survey, ou seja, a obtenção de
dados e informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de
pessoas, que representa uma população-alvo, por meio de um instrumento de pesquisa,
normalmente um questionário (FREITAS e MOSCAROLA, 2000).
As 300 empresas que participaram do prêmio Delmiro Gouveia no Ceará em 2005
constituem o universo da pesquisa. Destas, apenas 100 tinham os dados disponíveis no site do
prêmio, 96 puderam ser contatadas e 30 concordaram em responder a pesquisa. Dentre as que
não concordaram, 11% tinham políticas contrárias a pesquisas externas e 89% alegaram falta
de tempo.
A técnica de coleta de dados deste artigo foi um questionário on-line dividido em
duas partes: perfil da empresa e práticas de IC (em termos de uso, grau de satisfação e
contribuição para o desempenho). A primeira parte – o perfil da empresa – incluiu questões
como o nome, o porte, o faturamento anual, o ramo de atividade, o segmento de mercado etc.
A segunda parte – práticas de IC – apresentou primeiramente as oito práticas identificadas
pela pesquisa bibliográfica, deixando espaço para o respondente indicar outras práticas que
não estivessem relacionadas. Em seguida, interessava medir o grau de satisfação da empresa
com o uso de cada uma de suas práticas de IC a partir de uma escala likert. Por fim, era
preciso saber qual o grau de contribuição dessas práticas para o desempenho por meio dessa
mesma escala. À medida que os respondentes preenchiam o questionário, as respostas eram
inseridas em um banco de dados MySQL, usado para gerar relatórios dinâmicos em PHP.
A técnica de análise de dados utilizada foi a estatística descritiva. Os dados
obtidos com a aplicação dos questionários foram processados pelo software SPSS (Statistical
Package for Social Science), que calculou e interligou os percentuais de uso das práticas, os
índices de satisfação com o uso e o grau de contribuição para o desempenho.
A apresentação desses cálculos e inter-relações de índices e percentuais das
práticas de inteligência competitiva nas empresas pesquisadas foi feita através de gráficos e
quadros.
3. Resultados obtidos
Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa realizada junto às empresas
participantes do prêmio Delmiro Gouveia no Ceará. O capítulo faz uma apresentação do
prêmio, disserta sobre o perfil das empresas pesquisadas e examina o uso, o grau de satisfação
e a contribuição para o desempenho das práticas de inteligência competitiva.
3.1 O prêmio Delmiro Gouveia
O prêmio Delmiro Gouveia, realizado anualmente pela Bolsa de Valores e pelo
jornal O Povo, visa destacar a excelência do empreendedorismo cearense e dos profissionais
contabilistas e incentivar a melhoria da eficiência empresarial e a maior participação das
empresas no desenvolvimento social do Estado. O prêmio possui quatro categorias, três
relacionadas às empresas e uma aos contabilistas.
Este artigo trata apenas das categorias relativas às empresas: (1) Melhores
empresas em desempenho econômico-financeiro – empresas com destacado desempenho sob
os aspectos de liquidez, lucratividade e crescimento de vendas; (2) Melhores empresas em
desempenho social – empresas com o melhor desempenho no conjunto de ações sociais
direcionadas a empregados, à sociedade em geral, apoio às minorias na oferta de empregos,
investimentos compulsórios com impacto social (tributos e encargos sociais), geração de
empregos e certificações relacionadas à qualidade, gestão do meio ambiente e prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais; e (3) Maiores empresas – empresas que se destaquem como
maiores considerando-se conjuntamente os indicadores de vendas líquidas, patrimônio
líquido, ativo total ajustado, resultado final líquido, impostos gerados e quantidade de
empregados.
3.2. O perfil das empresas pesquisadas
Dentre as 300 empresas participantes do prêmio Delmiro Gouveia, 48%
pertencem ao segmento industrial, 30% ao setor de serviços e 22% ao comércio. Das 30
empresas pesquisadas, 50% são do segmento industrial, 27% do setor de serviços e 23% do
comércio. Quanto ao porte, 40% das empresas pesquisadas são grandes e 60% são pequenas
segundo critérios do prêmio Delmito Gouveia. Quanto ao desempenho financeiro, constatouse que 36% das empresas pesquisadas apresentam um retorno sobre o patrimônio líquido
(ROE) acima de 20%. Entretanto, 33% têm um ROE negativo. Quanto ao perfil dos
respondentes, 97% têm o nível superior e, destes, 46% são pós-graduados. Quanto ao cargo,
54% são coordenadores e 23% são gerentes. Quanto ao tempo de serviço na empresa, 46%
têm entre 1 e 5 anos de serviço, 27% entre 6 e 10 anos de serviço e 27% mais de 11 anos de
serviço.
3.3. Análise dos dados obtidos
Caracterizado o perfil das empresas pesquisadas e dos respondentes da pesquisa,
resta ainda analisar os índices de utilização da prática (IUP), de satisfação com a utilização
(ISU) e de contribuição para o desempenho (ICD). O IUP indica o percentual de uso das 8
práticas de inteligência competitiva apresentadas ao longo do capítulo 2 deste artigo nas
empresas pesquisadas. Constatou-se que 77% das empresas utilizam pesquisa junto ao cliente,
benchmarking e planejamento estratégico, 70% usam análise de cenários, 57% praticam
segmentação de mercado e análise SWOT e apenas 30% realizam inteligência mercadológica
e CRM. O resultado obtido está representado pelo Gráfico 1:
Planejamento estratégico
77%
Benchmarking
77%
Pesquisas junto ao cliente
77%
70%
Cenários
SWOT
57%
Segmentação de mercado
57%
Inteligência mercadológica
30%
CRM
30%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Gráfico 1: Índice de utilização das práticas.
Fonte: dados da pesquisa.
Nesta pesquisa, também foi investigado o grau de satisfação dos gestores com
respeito ao uso de cada prática de IC. Para isto, foi utilizada uma escala Likert de 1
(extremamente insatisfeito) a 5 (extremamente satisfeito).
O Gráfico 2 apresenta os índices de satisfação com a utilização das práticas
adotadas nas empresas. As práticas com os maiores índices de satisfação foram as seguintes:
segmentação de mercado (4,41), pesquisa de satisfação dos clientes (4,39) e planejamento
estratégico (4,09). O benchmarking (3,96) e a análise de cenários (3,90), duas práticas muito
utilizadas, tiveram os menores índices de satisfação. CRM, análise SWOT e inteligência
mercadológica apresentaram índices de satisfação igual a 4,00. Observou-se ainda que 62,5%
das práticas apresentam índice de satisfação abaixo da média (4,09). Estes dados podem
evidenciar o uso incorreto de algumas práticas por parte das empresas pesquisadas em termos
de seus objetivos estratégicos.
Segmentação de mercado
4,41
4,39
Pesquisas junto ao cliente
Planejamento estratégico
4,09
CRM
4
SWOT
4
Inteligência mercadológica
4
Benchmarking
3,96
Cenários
3,9
3,6
3,7
3,8
3,9
4
4,1
4,2
4,3
4,4
4,5
Gráfico 2: Índice de satisfação com o uso das práticas.
Fonte: dados da pesquisa.
Este artigo pretendeu ainda investigar a percepção dos gestores quanto ao grau de
contribuição ao desempenho das práticas de IC utilizadas. As práticas com os maiores índices
de contribuição para o desempenho foram as seguintes: segmentação de mercado (4,29),
planejamento estratégico (4,26), pesquisas junto aos clientes (4,26) e inteligência
mercadológica (4,11). O CRM e a análise de cenários obtiveram os menores índices de
contribuição para o desempenho, 3,89 e 3,95 respectivamente. 50% das práticas apresentam
índice superior à média (4,10). Estes dados podem revelar que os gestores têm uma percepção
de que o uso de práticas de IC contribui efetivamente para o alcance do desempenho
esperado. O Gráfico 3 apresenta os índices de contribuição para o desempenho das práticas
utilizadas.
4,29
Segmentação de mercado
Planejamento estratégico
4,26
Pesquisas junto ao cliente
4,26
4,11
Inteligência mercadológica
Benchmarking
4,04
SWOT
4
Cenários
3,95
CRM
3,89
3,6
3,7
3,8
3,9
4
4,1
4,2
4,3
4,4
Gráfico 3: Índice de contribuição para o desempenho das práticas.
Fonte: dados da pesquisa.
No Quadro 2, as práticas de inteligência competitiva investigadas neste artigo
foram listadas quanto aos índices de uso, satisfação e contribuição para o desempenho. A
média dos valores de cada índice foi calculada para representar o limite entre alta e baixa
utilização, alta e baixa satisfação e alta e baixa contribuição. Consideram-se valores baixos, os
índices abaixo da média e valores altos, aqueles iguais ou acima da média.
Práticas
Índice de utilização (%)
Índice de satisfação
(escala Likert)
Índice de contribuição
para o desempenho
(escala Likert)
Benchmarking
4,28
3,96
4,04
Cenários competitivos
3,89
3,90
3,95
CRM
1,67
4,00
3,89
Inteligência mercadológica
1,67
4,00
4,11
Pesquisas junto aos clientes
4,28
4,39
4,26
Planejamento estratégico
4,28
4,09
4,26
Segmentação de mercado
3,17
4,41
4,29
Análise SWOT
3,17
4,00
4,00
MÉDIA
3,30
4,09
4,10
Quadro 2: Índice de utilização, índice de satisfação e índice de contribuição das práticas.
Nota: valores originalmente em percentual transformados em uma escala de 1 a 5 pontos.
Fonte: dados da pesquisa.
A análise SWOT e o CRM possuem baixa utilização, satisfação e contribuição; o
benchmarking e os cenários apresentam alta utilização, baixa satisfação e baixa contribuição;
as pesquisas junto aos clientes e o planejamento estratégico têm alta utilização, satisfação e
contribuição; a inteligência mercadológica possui baixa utilização, baixa satisfação e alta
contribuição; e a segmentação de mercado apresenta baixa utilização, alta satisfação e alta
contribuição.
A análise cruzada dos dados obtidos permite a criação de três quadros: (1) Quadro
3 – Índice de Utilização x Índice de Satisfação; (2) Quadro 4 – Índice de Utilização x Índice
de Contribuição; e (3) Quadro 5 – Índice de Contribuição x Índice de Satisfação. Cada quadro
fornece quatro categorias ou quadrantes em que as práticas podem ser visualizadas e
analisadas quanto às suas características comuns.
O Quadro 3 apresenta os quadrantes A, B, C e D. As práticas dos quadrantes A e
C apresentam baixa satisfação com o uso, o que pode estar relacionado com a metodologia
aplicada em suas implementações.
C. Alta utilização x baixa satisfação
Benchmarking (4,28 x 3,96)
Cenários (3,89 x 3,90)
D. Alta utilização x alta satisfação
Pesquisas junto aos clientes (4,28 x 4,39)
Planejamento estratégico (4,28 x 4,09)
A. Baixa utilização x baixa satisfação
SWOT (3,17 x 4,00)
Inteligência mercadológica (1,67 x 4,00)
CRM (1,67 x 4,00)
B. Baixa utilização x alta satisfação
Segmentação de mercado (3,17 x 4,41)
Quadro 3: Índice de utilização x índice de satisfação.
Fonte: dados da pesquisa.
Neste caso, encontram-se o benchmarking e os cenários, duas práticas bem
utilizadas, que merecem maior atenção no sentido de melhorar suas aplicações. No quadrante
B, está a segmentação de mercado, que possui alta satisfação e baixa utilização. Esta poderia
ter um uso mais disseminado nas empresas. No quadrante D, encontram-se práticas que
podem ter uma aplicação mais adequada ou mesmo uma metodologia sedimentada, como por
exemplo, a pesquisa junto aos clientes e o planejamento estratégico.
O Quadro 4 apresenta os quadrantes E, F, G e H. No quadrante E, estão as práticas
que são pouco utilizadas e são percebidas como de menor contribuição para o desempenho.
Este fato talvez implique uma necessidade de maior investimento em treinamento e em
tecnologia, como a análise SWOT e o CRM. No quadrante G, estão as práticas que, mesmo
sendo percebidas com um índice menor de contribuição para o desempenho, ainda são muito
utilizadas. A popularidade destas práticas pode estar associada ao seu efeito sinérgico com
outras ferramentas de gestão no desempenho organizacional. Este pode ser o caso das práticas
de benchmarking e cenários. No quadrante F, estão as práticas de menor utilização, porém
percebidas como de alta contribuição para o desempenho. O desenvolvimento de
metodologias de aplicação destas práticas pode ser um dos motivos do baixo uso nas
empresas pesquisadas. No quadrante H, encontram-se as práticas mais utilizadas e com maior
índice de contribuição para o desempenho. Estas são práticas que têm melhor avaliação por
parte dos gestores e podem ser recomendadas como necessárias, desde que tenham uma
metodologia adequada e possam ser bem aplicadas nas empresas.
G. Alta utilização x baixa contribuição
Benchmarking (4,28 x 4,04)
Cenários (3,89 x 3,95)
H. Alta utilização x alta contribuição
Pesquisas junto aos clientes (4,28 x 4,26)
Planejamento estratégico (4,28 x 4,26)
E. Baixa utilização x baixa contribuição
SWOT (3,17 x 4,00)
CRM (1,67 x 3,89)
F. Baixa utilização x alta contribuição
Inteligência mercadológica (1,67 x 4,11)
Segmentação de mercado (3,17 x 4,29)
Quadro 4: Índice de utilização x índice de contribuição.
Fonte: dados da pesquisa.
O Quadro 5 apresenta os quadrantes I, J, K e L. No quadrante I, estão as práticas
que não são bem avaliadas pelos gestores, seja por falhas na metodologia de aplicação ou
mesmo por serem percebidas como de baixa contribuição ao desempenho. No quadrante J, a
inteligência mercadológica também apresenta baixa satisfação com o uso, porém é percebida
como de alta contribuição para o desempenho. Esta deveria receber maior atenção no sentido
de melhorar suas aplicações. No quadrante L, estão as práticas com melhor avaliação pelos
gestores e podem ter seu uso recomendado às empresas. No quadrante K, não foi classificada
nenhuma prática, podendo indicar uma dependência da variável satisfação a uma condição da
variável contribuição para o desempenho.
K. Alta satisfação x baixa contribuição
_
I. Baixa satisfação x baixa contribuição
Benchmarking (3,96 x 4,04)
Cenários (3,90 x 3,95)
SWOT (4,00 x 4,00)
CRM (4,00 x 3,89)
L. Alta satisfação x alta contribuição
Pesquisas junto aos clientes (4,39 x 4,26)
Planejamento estratégico (4,09 x 4,26)
Segmentação de mercado (4,41 x 4,29)
J. Baixa satisfação x alta contribuição
Inteligência mercadológica (4,00 x 4,11)
Quadro 5: Índice de satisfação x índice de contribuição.
Fonte: dados da pesquisa.
A análise cruzada dos três índices obtidos após investigação das práticas de
inteligência a partir de uma visão tridimensional das variáveis permite a identificação de seis
grupos de práticas. As Figuras 1 e 2 apresentam diagramas de Venn, obtidos pela interseção
de práticas com características semelhantes, compreendendo os seguintes grupos:
(1) Práticas plenamente recomendadas (Alta utilização x Alta satisfação x Alta
contribuição); (2) Práticas recomendadas, porém necessitando de melhorias na metodologia
de aplicação (Alta utilização x Alta contribuição x Baixa satisfação); (3) Práticas
recomendadas, porém necessitando de maior disseminação nas empresas (Baixa utilização x
Alta satisfação x Alta contribuição); (4) Práticas recomendadas, porém necessitando de
melhorias na metodologia de aplicação e de maior disseminação nas empresas (Baixa
utilização x Alta contribuição x Baixa satisfação); (5) Práticas que necessitam de melhorias na
metodologia de aplicação ou de serem aplicadas em conjunto com outras ferramentas (Alta
utilização x Baixa satisfação x Baixa contribuição); (6) Práticas de difícil aplicação, que
requerem outros recursos para implementação (Baixa utilização x Baixa satisfação x Baixa
contribuição).
Baixa utilização
Alta utilização
Alta satisfação
Alta contribuição
Grupo 01
Pesquisas junto aos clientes
Planejamento estratégico
Grupo 02
Grupo 03
Segmentação de mercado
Grupo 04
Inteligência
mercadológica
Figura 1: Utilização x Alta Satisfação x Alta Contribuição ao Desempenho.
Fonte: dados da pesquisa.
Na Figura 1, em sua parte superior, estão as práticas com melhor avaliação por
parte dos gestores, a saber: pesquisa de satisfação dos clientes e planejamento estratégico. Na
parte inferior desta figura, estão as práticas de segmentação de mercado e inteligência
mercadológica. Estas práticas são percebidas como de alta contribuição ao desempenho e têm
alta satisfação com o uso, porém são pouco utilizadas nas empresas. Estas poderiam, portanto,
ser mais utilizadas.
Baixa utilização
Alta utilização
Baixa satisfação
Grupo 02
Grupo 04
Inteligência
mercadológica
Baixa contribuição
Grupo 05
Benchmarking
Cenários
Grupo 06
SWOT
CRM
Figura 2: Utilização x Baixa Satisfação x Baixa Contribuição ao Desempenho.
Fonte: Dados da pesquisa.
Na Figura 2, em sua parte superior, estão as práticas de benchmarking e cenários.
O uso destas práticas pode estar relacionado com modismos ou mesmo práticas que
complementam outras ferramentas. Na parte inferior desta figura, estão as práticas com menor
avaliação por parte dos gestores, a saber: análise SOWT, CRM e inteligência mercadológica.
Esta avaliação pode ser devida ao fato de que estas práticas não são ainda bem disseminadas
nas empresas e podem apresentar necessidades de recursos financeiros e/ou tecnológicos, o
que pode restringir o seu uso.
Conclusão
Este artigo abordou o tema das práticas de inteligência competitiva nas empresas.
Buscou-se examinar o uso, o grau de satisfação e a contribuição para o desempenho destas
práticas nas empresas que atuam no Ceará.
É o valor, e não o volume, a força motriz da inteligência. A inteligência
competitiva é a informação tão bem analisada que já pode servir de base para decisões
fundamentais. Levar a informação a tal estágio é o que constitui o valor.
Inicialmente, estudou-se os principais autores que tratam de inteligência
competitiva, percebendo-se as mudanças ocorridas na forma de pensar sobre as organizações
a partir da compreensão do mundo em função da inter-relação e interdependência dos
fenômenos sócio-econômicos. A empresa é um organismo vivo e para sobreviver precisa
compreender e ter uma relação adequada com o meio ambiente onde está inserida.
Observou-se também ser necessário prestar atenção a vários elementos que
constituem a organização, como por exemplo, a estratégia, a estrutura, as pessoas e suas
habilidades, os sistemas e as metas desafiadoras. Avançar em um desses elementos sem
desenvolver os outros pode comprometer o desempenho final.
Sobre a satisfação dos gestores com o uso das práticas, observou-se que 5 práticas
(62,5% do total) apresentam índices abaixo da média geral obtida, indicando haver
oportunidades de melhorias nas metodologias de aplicação destas práticas.
Quanto à contribuição para o desempenho, observou-se que 4 práticas (50% do
total) apresentam índices acima da média geral obtida, demonstrando haver uma percepção
favorável de que o uso de inteligência competitiva pode efetivamente contribuir para o
desempenho organizacional. Estas práticas são planejamento estratégico, segmentação de
mercado, pesquisas junto aos clientes e inteligência mercadológica.
A análise cruzada dos dados obtidos nesta pesquisa permitiu visualizar
características que as práticas têm em comum quanto aos índices de uso, satisfação e
contribuição. A análise SWOT e o CRM possuem baixa utilização, satisfação e contribuição;
o benchmarking e os cenários apresentam alta utilização, baixa satisfação e baixa
contribuição; as pesquisas junto aos clientes e o planejamento estratégico têm alta utilização,
satisfação e contribuição; a inteligência mercadológica possui baixa utilização, baixa
satisfação e alta contribuição; e a segmentação de mercado apresenta baixa utilização, alta
satisfação e alta contribuição.
A empresa comprometida com a IC precisa lançar os fundamentos, construir a
infra-estrutura e alavancar continuamente práticas integradas. A orientação para o usuário e o
total compromisso corporativo partindo dos dirigentes são os principais elementos do sucesso
de qualquer função de IC.
Como sugestão de estudos futuros, pode-se buscar novos caminhos metodológicos
e identificar ou construir bancos de dados mais representativos para investigar a relação entre
números e tipos de práticas de inteligência competitiva. A associação destes estudos com a
investigação sobre a contribuição destas práticas para o desempenho, na percepção dos
gestores, pode resultar na criação de um modelo que promova a excelência na gestão das
empresas.
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