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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO Diana Carvalho (mestranda em História e Património, dianacarvalho.pt@gmail.com RESUMO: ABSTRACT: Propõe-se neste artigo o tratamento amplo de um conjunto de It is proposed in this article the broad treatment of a range of temas, sendo a unidade dos conteúdos conferida por uma issues, the unity of content being given by a global perspective perspectiva global na longa duração, sobre o território de in the temporal long term about the territory of Castro Castro Laboreiro e o seu castelo. Articulou-se a análise Laboreiro and its castle. It was articulated the administrative, administrativa, política, militar e patrimonial, conforme a political, military and cultural heritage process analysis, as the bibliografia e as fontes permitiram, assumindo-se, desde já, o bibliography and sources allowed, assuming, as soon as difícil estudo deste tema. possible, the difficult study of this topic. PALAVRAS-CHAVE: Castelo, Castro Laboreiro, História. KEY WORDS: Castle, Castro Laboreiro, History, Cultural Heritage, Notes. 1. Acesso, geografia e implantação Laboreiro encontra-se a 7 km da fronteira com a Galiza. Actualmente, a freguesia de Castro Laboreiro Uma das referências turísticas e religiosas mais encontra-se em união política com a freguesia de Lamas importantes é o Santuário da Peneda, cuja distância a de Mouro, ambas situadas no Distrito de Viana do Castro Laboreiro é de 16 km. Este era, e é, um antigo Castelo, no Concelho de Melgaço. Situa-se entre duas acesso percorrido em direcção aos Arcos de Valdevez. cidades, uma a sudeste, a 16 km, Entrimo (Ourense), e As serras da Peneda eram por si também um ponto de outra a noroeste, a 26 km, Melgaço (sede de Concelho), travessia para os peregrinos a caminho da Santiago de a cidade portuguesa mais próxima. A estrada que as Compostela. A estrada de Arcos de Valdevez em liga passa por Castro Laboreiro, facto que trouxe a esta direcção a nordeste era um acesso medieval e moderno, Vila fronteiriça, nos anos 80 uma abertura para o entre Braga e Castro Laboreiro, ou seja, entre a mundo (com a liberalização das fronteiras), em direcção arquidiocese e esta paróquia, por onde se terá exercido às grandes cidades do Norte de Portugal e do Norte de poder religioso e comercial1. Uma outra referência Espanha, colmatando algumas lacunas de abastecimento que se faziam sentir e se tinham vindo a resolver com o contrabando ao longo dos séculos. Partindo do centro da Vila e percorrendo a estrada municipal EM 1160 até ao lugar da Ameijoeira Castro 1 Segundo a consulta do mapa Ligações em Entre Douro e Minho nos finais do século XV , simplificado de C. “. Ferreira de “lmeida, A Pobreza e a assistência aos Pobres na Península Ibérica durante a Idade Média , M“TTOSO, 1997). CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 50 em abundância, nomeadamente, lebres2. Celanova merece uma explicação mais detalhada, que se protelará até uma próxima secção deste artigo. Em suma, os montes graníticos de Castro Laboreiro afloram nas terras do Soajo e estendem-se até Celanova, na Galiza, situando-se no Alto Minho interior. A freguesia de Castro Laboreiro confronta-se a Norte, a Este e a Sul com território galego, com uma área de 89 km2, sem contar com os 17 km2 de Lamas de Mouro, e situa-se no aglomerado montanhoso da serra da Peneda. As altitudes do território variam entre os 1100 e os 500 m. A jurisdição ambiental, (relevante pela vigilância e protecção da fauna e flora selvagens deste território), está sob a tutela do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e do Parque Nacional Fig. 1: Localização do Concelho de Melgaço, em Portugal e no Distrito de Viana do Castelo. Mapa base extraído do iGEO – informação geográfica. Desenhado por Diana Carvalho. da Peneda-Gerês (PNPG)3. O património histórico arquitectónico da freguesia está sob a égide da Direcção Geral do Património Cultural. A sua composição e delimitação geográfica compreende também uma zona planáltica, com 30km de extensão, pontilhada por um vasto legado patrimonial (mamoas, antas, gravuras), e por cerca de 15 aldeias (ou lugares), de habitação de Verão, intitulados de brandas. Em contraste, nos vales escarpados localizam-se 19 inverneiras, lugares de habitação de Inverno. Existem ainda 7 aldeias de habitação permanente. Nestes aglomerados populacionais dispersos em redor da sede da freguesia (a Vila), ainda é possível detectar traços de uma vida quotidiana comunitária. Apesar de a historiografia situar Castro Laboreiro na área compreendida entre Douro e Minho, este território montanhoso contrasta com os vales, planícies e colinas das zonas baixas: de um lado, as que praticam uma agricultura intensiva e formam zonas demográficas extremamente densas, embora a maioria dos seus componentes se distribua Fig. 2: Localização da U.F. de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro. Mapa base extraído do iGEO – informação geográfica. Desenhado por Diana Carvalho. por pequenas unidades de exploração familiares e autónomas, elas próprias compostas por retalhos dispersos de campos muito divididos; do outro, as que vivem em boa parte do pastoreio de gado miúdo em terras pobres e inóspitas, onde se juntam em aldeias, geográfica importante é Celanova (Ourense), distante de Castro Laboreiro 45 km, terra que desde a formação das monarquias do Norte tem vindo a exercer influência sobre os territórios do Leporarium , uma das designações latinas para o território: Laboreiro – do Latim Lepus , leporis, leporem, leporarium, lepporeiro, leboreiro, que segundo as teses actuais deriva de lebre , por se encontrarem nestas áreas caça praticam uma agricultura intermitente apenas em algumas épocas do ano, necessitam de manter laços de forte solidariedade colectiva para organizarem o trabalho e preservarem os mais caros meios de 2 3 RODRIGUES, 1996. RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS N.º 11A/2011, 4 de Fevereiro de 2011 – Regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês . In: Diário da República, 1ª série, N.º 25. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 51 produção, como o forno, a eira, o moinho e o lagar. dos povos suevos e visigodos alterou este panorama (Mattoso, 1997, p. 143). dando origem a uma maior concentração e dispersão A fortaleza é principalmente acessível a pé, pois dos núcleos habitacionais intercalares dessas duas encontra-se situada no cume escarpado de um monte regiões7. Neste contexto histórico, o território de Castro granítico, a cerca de 1033mts de altitude4, sendo os Laboreiro situou-se entre as cidades de Bracara acessos Sul e Norte de características pedestres. No Augusta e Lucus Augusti, fazendo uma transição entanto o acesso motorizado ao início dos trilhos Sul daquilo que seriam as duas grandes regiões citadas.8 e/ou Norte do monte do castelo é feito pela estrada Mais tarde, após a vinculação visigoda ao nacional 202-3 e pela estrada municipal nº 1160. O cristianismo e sua definitiva ocupação do noroeste acesso motorizado ao trilho pedestre Norte é feito pela portugês, quando os reinos godos se confrontam com as estrada lateral ao Núcleo Museológico de Castro invasões muçulmanas, Laboreiro. O trilho de acesso Sul dista do castelo cerca admnistrativa introduzida e fixada pela implantação do de 1 km, e o trilho Norte cerca de 600 m. sistema paroquial com S. Martinho de Dume não podia, a organização territorial e no entanto, deixar de contribuir para dar grande solidez 2. Enquadramento histórico à distribuição dos principais centros e dos povoados 2.1. O território que deles dependiam. A síntese histórica que se segue procura agregar em Mattoso, , p. 396). Relativamente ao legado romano este encontra-se linha cronológica os eventos que tiveram lugar na área presente territorial de Castro Laboreiro. Como nem sempre as estratégicamente distribuídos em todo o território da fontes permitem a elaboração de uma cronologia freguesia10, pela Geira, situada na proximidade do específica e linear, o texto que se segue situará o território e pelo forte romano, “quis Querquennis território no Norte peninsular, no noroeste hispânico, Cidá , situado em ”ãnos, Concelho de Ourense, que nas montanhas do Alto Minho interior, na Calécia, na terá sido construído para vigiar uma das vias que ligava Galiza e no território nacional, conforme foi possível a Bracara Augusta e para controlar a região. Dada a sua enquadrá-lo na historiografia, esperando que daqui proximidade a Castro Laboreiro, este terá exercido resulte uma brevíssima história local, prolongada no influência sobre o território. Os vestígios suevos e tempo, desde a ocupação humana deste território. visigóticos (séc. V-VI) encontram-se na política pública Enumeram-se também elementos patrimoniais das (direito visigótico; vindo do baixo império romano), nas diversas por liturgias e na arquitectura religiosa cristã. O povoado a épocas, funcionarem que como subsistem indicadores até hoje, cronológicos nas váriadas pontes 9 e pavimentos a na sudeste do castelo é um forte indicador da presença ausência da informação documental e reforçarem a destes povos, pois a quadratura das estruturas a par existente. com outros elementos exumados durante as escavações Relativamente à ocupação humana do território de arqueológicas revelam também presença romana e Castro Laboreiro, sabe-se que desde a pré-história tem visigótica, além da ocupação humana durante a idade sido palco de sucessivas ocupações. Os vestígios do ferro (Lima, 1996). 5 megalíticos de culto funerário situados no planalto a As invasões muçulmanas de 711, diluem a ocupação nordeste de Castro Laboreiro, o povoado castrejo a sueva e visigótica e acentuam o carácter rural do sudeste do castelo6, (cujas fundações datam da Idade do território do noroeste hispânico, não por influência Ferro), e outros elementos, como o altar da cremação do directa, pois a economia dos grupos dominantes do Alto da Cremadoura, assim o indicam. As escavações norte peninsular baseava-se no intercâmbio dos géneros arqueológicas locais desvelaram uma linha contínua de e bens provenientes do saque e despojo militar ocupação por vários povos, subsequentes a este período resultante das constantes guerras, era incompatível com e prévios à fundação da nacionalidade, como os a economia urbana do Sul: tudo leva a crer que o váli romanos, suevos e visigodos. Durante a época romana havia duas grandes áreas, a bracarence, mais urbana e civilizada, e a lucence, mais selvagem, contudo, a vinda 4 5 6 PINTOR, 2005; RODRIGUES, 1996. LIMA, 1996; RODRIGUES, 1996. LIMA, 1996. 7 8 9 10 MATTOSO, 1997. Relativamente ao carácter lucense, mais selvagem , não deveremos obliterar que este é um território montanhoso, altamente florestado, e que esteve ocupado pelos povos pré-celtas da Calécia, considerados não civilizados, mas que foram igualmente romanizados. LIMA, 1996. LIMA, 1996; RODRIGUES, 1996. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO de Africa e os chefes árabes e sírios estivessem muito 52 repovoamento , nas suas diversas expressões, fez mais interessados nas cidades das antigas províncias da também Bética e da Tarraconense do que nas selvagens montanhosas montanhas comunidades rurales se verían libres de presión, do Noroeste, difíceis de militarmente e bem pouco rendosas controlar para uma economia monetária como a do mundo muçulmano uso da presúria, contudo, do Noroeste peninsular nas zonas algunas pudiendo organizar sus espacios de producción de forma más autónoma y con menor – o ninguna – carga (Mattoso, 1997, p. 397). Contudo, a influência árabe no fiscal. Se trataría de comunidades castreñas de montaña , território de Castro Laboreiro faz-se sentir através da instaladas en castros de origen prerromano o romano, toponímia11, do vocabulário12, das lendas13 e em que se sitúan en el centro de un valle rodeado de altos algumas práticas gastronómicas como o bolo da montes, donde predomina el bosque y los pastos de pedra14, entre outras influências de carácter mais montanã generalista como a numeração, por exemplo. exemplifica com o caso de Castro Pelaggi (Valdoré), Em meados do séc. VIII, as guarnições muçulmanas mas González, também , p. 24). Neste caso o autor Mattoso (1997) refere as zonas do Ocidente Peninsular, incluindo as da Galécia, montanhosas do entre Douro e Minho (Peneda, rebeleram-se contra os seus chefes por motivos Laboreiro, relacionados com injustas distribuições de terras, e por Montemuro), como potencialmente excepcionais. Em motivos religiosos. “s tropas colocadas na Galécia suma, a Reconquista cristã, é um momento de abandonaram as suas fortalezas e não se sabe sequer se oportunidade que aproveita a debilidade das forças voltaram a ser ocupadas. A sua revolta desencadeou muçulmanas e que se inicia com as guarnições uma guerra civil, que durou até . Mattoso, Gerês, Gralheira, Cabreira, Marão e , p. visigodas refugiadas nas montanhas asturianas nesta 397). A debilidade da ocupação islâmica foi perturbada altura organizados com os dirigentes do reino das sobretudo na sua parte final pelo rei Afonso I (739-757 Astúrias sob o comando de Afonso I. Este é o processo d. C. , das “stúrias. “s cidades que desencadeia a formação das primeiras monarquias reconquistadas Crónica de Afonso III abrangem do Norte peninsular que por sua vez darão origem ao praticamente todos os centros urbanos de alguma reino de Portugal. O período da reconquista foi importância situados entre as montanhas cantábricas e marcado por sucessivos avanços e recuos territoriais, a margem sul do vale do Douro, onde se situam mas nos finais do século IX, os reinos do Norte também os montes do Laboreiro. A Crónica atribui-lhe encontravam-se consolidados em três unidades, as também a iniciativa de levar consigo para o Norte a Astúrias (ou Leão), Galiza e Castela. A sua malha população cristã de todas estas cidades . O chamado administrativa estava parcelada em terras e estas eram enumeradas na 15 atribuídas a um conde, para as governar. As sucessivas 11 12 13 14 15 Alcobaça, Lamas de Mouro (freguesias confrontadas a norte e a noroeste com Castro Laboreiro. Mandil – peça do traje feminino castrejo; género de avental. Também em Castro Laboreiro se falam de mouras encantadas, embora as lendas tenham chegado por intermédio de outras épocas cronológicas não deixam de fazer parte de uma influência árabe tardia. Massa de pão cozida contra uma pedra encostada à lareira doméstica, colocada na parte de trás e na vertical. Como qualquer outra fonte histórica, esta esteve sujeita a condicionantes ideológicas do seu tempo, por isso, a sua leitura e interpretação devem ser cautelosas. Relativamente ao repovoamento do território a Norte do Mondego, a crónica apresenta algumas contradições: primeira é que o reino da Galiza se mostrou resistente à entrada das forças asturianas, a segunda é que os recursos humanos disponíveis para a guerra e em simultâneo para o repovoamento eram escassos, e em terceiro lugar, é possível que o repovoamento tenha sido feito com os recursos humanos já existentes nesta área geográfica, utilizando a instituição da presúria: de que os textos falam abundantemente na época, e ainda depois, até ao fim do século XII. Trata-se portanto, da ocupação de solos discórdias resultantes da formação dos reinos e do seu desenvolvimento, tornaram a Galiza independente e desmembrada em duas partes, dando-se o sul a Ramiro Ordóñez, que foi assim rei de Portugal antes de herdar a totalidade dos domínios do seu pai, como Ramiro II (931- Marques, , p. 26). Mais tarde, o território entre o Lima e o Douro, ficou desagregado da Galiza e entregue a um duque. Esta nova unidade política tinha a sua sede em Portucale, sendo governada por nobres locais destacados pelo reino de Leão e estando vinculada politicamente aos seus interesses. Aquando da consolidação do condado portucalense surge D. Afonso Henriques (1139-1185), filho de D. Teresa e do Conde D. Henrique, herdeiro deste território. Em rebelia contra a mãe, inicia um processo abandonados ou mesmo pertencentes a comunidades locais, cujos direitos não eram reconhecidos pelos recémvindos e que eram apoiados pelos representantes da autoridade régia Mattoso, , p. 404). ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 53 de desvinculação do reino de Leão. Com a sua ambição as reformas do Antigo Regime, mantendo-se muito fiel ao título de rex e eficaz expansão territorial, torna-se à sua delimitação original. Com a Revolução Liberal, vassalo da Santa Sé e não do imperador dos reinos após 1832, Castro Laboreiro passa a integrar-se na cristãos do Norte da Península, D. Afonso VII (1111- Comarca de Ponte de Lima e mantem-se Concelho. 1157), tornando-o um soberano superior ao imperador. Durante o período de estabilização, a partir de 1842, É Castro Laboreiro integra-se no Distrito de Viana do neste contexto expansionista que D. Afonso Castelo e perde o estatuto de Concelho em 1855. Passa a Henriques toma Castro Laboreiro. Para este último período histórico, do século IX ao ser Junta de Paroquia e posteriormente Junta de conjunto de Freguesia até 1974. Neste ano torna-se numa comissão elementos que atestam a presença das monarquias do administrativa, que terá duração de, aproximadamente, Norte e da vinculação do território de Castro Laboreiro 2 anos, acabando depois por retomar o anterior estatuto ao reino de Portugal, nomeadamente fontes históricas e de Junta de Freguesia. A reforma administrativa de elementos arquitectónicos, dos quais se falará mais 2013 consuma uma união política com a freguesia adiante no artigo, principalmente de carácter militar e, vizinha de Lamas de Mouro, formando a União de em grande quantidade. Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro. século XII pode mencionar-se um Após o primitivo período Afonsino, em termos gerais, a admnistração do território de Castro Laboreiro 2.2. O castelo entre o século XIII e século XIX , pertenceu à Para uma melhor compreensão do tema, e também Provedoria de Viana do Castelo, à Comarca de Barcelos mais generalista, antes de prosseguir para o estudo de 16 (Casa de Bragança)17, era Comenda da Ordem de Cristo caso, dá-se a palavra a Mário ”arroca: “ origem do e situava-se na Província do Minho. Castro Laboreiro castelo, na acepção restrita do termo, enquanto foi instaurado como sede de Concelho em 127118. estrutura muralhada definindo o pequeno espaço onde Segundo os mapas consultados, a circunscrição do se concentra uma guarnição de soldados, deve território de Castro Laboreiro, alterou-se pouco durante procurar-se nos primórdios da reconquista cristã, encetada por D. Afonso I das Astúrias a partir dos 16 17 18 SILVEIRA, 1997. Durante a investigação feita sobre o castelo, em contacto com os arquivos nacionais, tomei conhecimento dos seguintes documentos, localizados no arquivo da Casa de Bragança, sito no Palácio de Vila Viçosa: - Doação ao Duque de Guimarães da jurisdição dos lugares de Melgaço e Castro Laboreiro. Datada de 24 de Agosto de 1476. - Doação ao Duque de Bragança, e de Guimarães, do Padroado da Igreja de Castro Laboreiro. Datada de 23 de Fevereiro de 1481. - Doação ao Duque de Bragança D. Jaime, do lugar de Melgaço e Castro Laboreiro [com seus castelos rendas e direitos], e do Castelo de Piconha. Datada de 23 de Junho de 1496. - Foral da Vila de Castro Laboreiro dado por El-rei D. Afonso conde de Bolonha. Datado de 20 de Novembro de 1513. - NG. 702 / 1478-1537 pergaminho. CB-SF- CA-0001 com o título Doação do Castelo… f. a e um traslado deste documento datado de 1778. - Aforamento num traslado de 1756 subscrito por Manuel da Maia, encontrado neste primeiro proc.º a f. 3 está a Carta del Rey D. “ffonso º porq fés mercê ao Marques de Vila Viçosa, Conde de Arrayolos dos Castelos de Guimaraes, Melgaço, Castro Laboreiro, e Piconha com todas suas rendas direitos, pertenças e jurisdições, Dada em Lixboa a de setembro de . - Entre outros documentos, referidos mais à frente neste artigo, na secção referente ao período de decadência do castelo (séc. XVI-XVIII). RODRIGUES, 1996; DOMINGUES, 2003. meados do século VIII. No entanto, no estado actual dos nossos conhecimentos, é ainda difícil localizar com precisão no tempo o aparecimento destas novas estruturas. Sabemos que o Entre-Douro-e-Minho possuía, nos finais do século X e no século XI, uma rede bastante densa de castelos, na sua maioria fruto da iniciativa das populações locais ”arroca, , p. 91). Foi nesta rede de estruturas defensivas, designados nas fontes por monte, alpe ou castro, que as populações procuraram abrigo das sucessivas investidas de outros povos, até se formarem os reinos das monarquias do Norte. “ partir del siglo XI se percibe una mayor jerarquización de los centros de poder feudal, una mayor capacidad de control y ordenación de los territorios (commissa, mandationes, terras, alfoces...), parejo a una mayor implantación del dominio sobre los hombres y sobre la producción agraria. La acción señorial no se produce en el noroeste con formas de incastellamento similares a las de otros ámbitos mediterráneos, sino mediante la erección de peqeños castillos y recintos amurallados y dotados de torres, encaramados en altos cerros dominantes sobre el entorno o territorio (político, fiscal, administrativo) (González, 2001, p. 26). Em suma, o formato de fortaleza medieval que hoje nos é comum, resulta de ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 54 e de Santiago de Compostela, governador do Val del concentração de territórios sob a égide de um dirigente Limia23, o qual procura dotar a região norte de Portugal cuja administração e defesa só poderia ser feita com e a Galiza de fortificações que impedissem as investidas devida organização, em torno de um único símbolo de dos Árabes e Normandos, e Castro Laboreiro terá sido poder, como se verifica com o primitivo castelo uma destas fortificações (Noe, 2015). uma progressiva roqueiro de centralização Castro Laboreiro, de e poderes seu posterior Em 1141, D. Afonso Henriques (1139-1185) havia refinamento. O castelo é um elemento fundamental invadido a Terra de Toronho (território fronteiriço à para a compreensão da dinâmica política, económica, linha do Minho e que tinha Tuy à cabeça), acção bélica social e militar de um território. A contextualização que conduziu a invasão do Minho por parte das forças histórica e arquitectónica de um castelo tem vários leonesas e à subsequente tomada do Castelo de Castro níveis de estudo e interpretação. As informações estão Laboreiro que, à data, era uma estrutura roqueira dispersas, a cronologia da sua actividade é extensa, assente sobre os vestígios de uma velha povoação da carecendo de Idade do Ferro.24 D. Afonso Henriques conquista o investigação19. Por isso, os parágrafos seguintes, castelo de Castro Laboreiro tendo recebido da abadessa sugerem um enquadramento do Castelo de Castro do Laboreiro concebido a partir de algumas fontes mantimentos para esta empresa. Deverá ter concedido bibliográficas, focando as linhas dominantes da história foral a povoação, nesta altura, no entanto este tema tem nacional, como os reinados e principais eventos sido alvo de discussão e debate25, dado que o foral está militares, e menos a evolução administrativa e desaparecido, (bem como outros documentos do económica cartulário de um do trabalho território aprofundado e das sociedades. Convento de de Paderne Fiães, da (Melgaço), mesma mulas época),mas e é É imperativo relacionar os grandes feitos militares dos repetidamente invocado26, e sendo o seu conteúdo reis portugueses com as consequências na arquitectura comparado ao de Sahagún. (O mesmo problema ecoa militar, em geral e em particular com o estudo de caso, relativamente ao foral de Melgaço, concedido por D. uma vez que Castro Laboreiro, durante vários séculos Afonso Henriques). foi na sua essência uma povoação fronteiriça, guerreira, destinada à protecção dos seus limites e da nacionalidade. A fortificação é alvo de intervenções na sua arquitectura nesta época porque passa a integrar as linhas de defesa fronteiriças de entre Douro e Minho, enquanto sentinela dos acessos fronteiriços terrestres As origens entre o reino português e a Galiza27. Contudo, não se Relativamente às origens administrativas do castelo sabe exactamente quais nem em que datas se foram de Castro Laboreiro, um pouco anteriores ao reinado de introduzindo os elementos que conhecemos a partir dos D. Afonso Henriques, as referências são escassas, no alçados e plantas de Duarte de Armas (séc. XVI)28, entanto um documento de 1007 do Mosteiro de Celanova20, refere Vitiza (séc. VIII-IX) enquanto conde deste território21. Vitiza rebelou-se contra o rei Afonso 23 III das Astúrias (866-910), mas foi derrotado pelo Conde D. Hermenegildo (842-912), parte das forças Galegas22, que por este acto foi colocado na regência do território de Castro Laboreiro. No entanto, apenas na regência do seu neto São Rosendo (907-977), é que o local de implantação do actual castelo sofrerá alterações. Mais 24 precisamente no ano de 955, D. Ordonho III, rei de 25 Leão, nomeia-o bispo de Mondonhedo e administrador 19 20 21 22 Por exemplo, as chancelarias régias, as notícias de obras em castelos presentes em actas de vereação, e a bibliografia existente, que remeta para assuntos de fronteira com carácter histórico e militar. SÁEZ, 1948. RODRIGUES, 1996. Durante o repovoamento de Afonso III (848-910), rei das Astúrias. 26 27 28 [...] fundado por São Rosendo, que recebeu do Rei de Leão e Castela, a seguinte ordem: Ordoño Rey, “l Padre y Señor Rosendo Sabed Eu El Señor. Por El Mandato Sereníssimo de este nuestro decreto te encargamos El Govierno de La Provincia que mandó tu padre y terrenos adyacentes hasta la mar, de suerte que todos concorram alli a obedecerte em cosas de nuestro servicio y canto dispongas lo cuplam, sin excusa ninguna. Dado el 19 de Mayo de 955. (Rodrigues, 1996, 85). ALMEIDA, 2002. DOMINGUES, 2003. Acerca dos forais concedidos a Castro Laboreiro, conhecese o foral de D. Manuel I26. Este foral invoca o de D. Sancho I e de D. Afonso III, e repete algumas das suas instruções, mas dos quais também não se conhece a localização. GONÇALVES, 2012. D. Manuel determinou que o seu escudeiro Duarte de Armas registasse as fortalezas que assinalavam a soberania portuguesa junta da raia de Castela. Em 1509-1510, o excelente desenhador executou a tarefa. E deixou-nos uma descrição gráfica (com aceitáveis distorções) das fortalezas ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 55 sendo estes do período que em História de Arte se activa, proporcionando à guarnição do interior do denomina de gótico. castelo atacar e defender. A localização das torres de menagem é repensada e estudada para se adossar ao A influência muçulmana pano da muralha. As suas plantas são reestruturadas Neste período, entre o século VIII e o século XII a para outros formatos poligonais, além do quadrangular influência muçulmana foi indirecta, como já se referiu, e ou rectangular, favorecendo a sua operacionalidade mais relacionada com a política de organização do para atacar e defender. Multiplicam-se as torres espaço e na cultura da população. adossadas ao pano de muralha e os seus ângulos, Mais tarde, as influências muçulmanas fazem-se aperfeiçoando a vigilância. Introduzem-se sistemas de sentir através de inovações que tiveram grande impacto tiro vertical garantidos através da instalação de balcões na arquitectura militar e maior influência nos elementos com matacães (fig. 8), nas torres ou por cima das portas. arquitectónicos do castelo de Melgaço (situado a 26 km Aparecem as barbacãs, que permitem oferecer um de Castro Laboreiro) visíveis, por exemplo, na couraça: primeiro obstáculo aos atacantes, anterior ao pano da Introduzindo uma complexa nomenclatura ligada à muralha. As portas passam a ter uma maior arquitectura militar, como o adarve ou a cárcova, são importância e são ladeadas ou encimadas por torreões. generalizdas nessa época as torres-couraça de acesso à Alargam-se os adarves e as ameias, facilitando a água, que permitiam a uma cidade com milhares de movimentação e protecção das guarnições31. habitantes resistir durante vários meses ao cerco mais apertado. Mattoso, , p. 363). Castro Laboreiro herdará pouco do seu legado. Muitos destes elementos estão presentes no recinto Norte do castelo de Castro Laboreiro, sendo alguns deles visíveis na planta desenhada por Duarte de Armas (séc. XVI), e outros ainda hoje estão visíveis nas ruínas do monumento. Isto significa que o castelo de Entre os sécs. XII-XV D. Sancho I (1185-1211) perde o domínio sobre os Castro Laboreiro fez a transição de uma estratégia castelos fronteiriços de Melgaço e Valença , mas passiva de defesa, própria do castelo românico, para durante este período sabe-se que o Castelo de Castro uma estratégia activa, própria do castelo gótico. 32 Se Laboreiro se manteve do lado português, sobrevivendo este castelo, fronteiriço, teve necessidade contínua de se às hostilidades entre D. Sancho I e Fernando II de Leão, adaptar às circunstâncias de defesa do território, nas fronteiras do Norte (Minho e Trás-os-Montes). D. significa que a sua relevância para a defesa do território Sancho I, concede novo foral a Castro Laboreiro, nacional não pode ser ignorada. 29 (também desaparecido). D. Dinis (1279-1325) dá sequência à demarcação do É digno de nota que D. Afonso III lançou os território, à territorialização do poder político e à alicerces de um projecto que articulava a defesa da fortificação dos castelos33, conforme acontece com a fronteira do Minho com a edificação de uma armadura muralha dionisina de Castro Laboreiro.34 Esta muralha militar composta por várias silhuetas de castelos, que o previa o abrigo da população civil quando necessário e seu filho D. Dinis iria concretizar30. também do gado, revelando a grande importância da É neste século que Castro Laboreiro, terra actividade pastoril nesta área para a sobrevivência da fronteiriça, recebe o estatuto de sede de Concelho, podendo ser um indicador de que também a administração da fortaleza tenha beneficiado das preocupações régias. É D. Afonso III (1248-1279), pai de D. Dinis, o 31 32 responsável pelo introdução de algumas novidades arquitectónicas nas fortalezas do reino, pois durante a sua estadia em França teve a possibilidade de analisar e compreender as influências vindas do Norte da Europa, a corrente gótica militar, que torna a fortaleza mais 29 30 que defendiam passagens eventualmente mais vulneráveis entre Portugal e Castela. Mattoso, . VENTURA, 1998. VENTURA, 1998. 33 34 MONTEIRO, 1999. O facto de as ameias não constarem, hoje, no pano de muralha, deve-se ao facto de esta ter sido uma das poucas alterações feitas à fortaleza aquando da introdução das armas de fogo. VENTURA, 1998. O tratado de Alcanices é uma referência da maior importância para este período, pois é parte da estratégia defensiva do rei D. Dinis, onde se pretendem fixar fronteiras entre Leão, Castela e Portugal. É este tratado que confere a Portugal a delimitação mais próxima da que hoje é conhecida. Também a Crónica de 1419 refere o castelo de Castro Laboreiro como sendo uma das fortificações a renovar (Mattoso, 1997). ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 56 população35. Esta situação atesta a tese de José Mattoso bombardas .38 A introdução das armas de fogo e Carlos A. Ferreira de Almeida, de que o século XIII subjugou a arquitectura das fortalezas adaptadas para a terá sido um século de transição para a forma de defesa defesa das comunidades, deixando de viver fortificadas em significativas para defesa dessas armas foram o castros ou em redor de pequenos castelos roqueiros, alargamento dos panos das muralhas e a remoção das para centros urbanos, vigiados por castelos que lhes são ameias, de forma a diminuir a silhueta do alvo e a altaneiros. resistir aos impactos da pirobalística, a construção de O reinado de D. Dinis, consolida e assegura o poder barreiras tradicional. avançadas, As transformações barbacãs mais e antemuros, que nas fronteiras. Os reinados de Afonso IV (1325-1357) e ofereciam um primeiro obstáculo à artilharia inimiga, a D. Pedro I (1357-1367), são marcados por prosperidade adopção de e pelo alargamento das fronteiras atlânticas uma vez reforçando a capacidade de resistência a projécteis, a que Afonso III e D. Dinis tinham assegurado a modificação dos ângulos dos muros proporcionando o soberania e independência nacional nas fronteiras ressalto dos projécteis, e também o recurso a fossos ou terrestres, permitindo que a administração régia cavas mais profundos. No estudo de caso verificou-se folgasse por outros horizontes36. Quer-se com esta apenas a remoção das ameias, mais como medida de citação demonstrar que os reinados anteriores de D. prevenção do que preparação para o ataque, para evitar Afonso III e D. Dinis, promoveram a segurança das os estilhaços provocados pelo impacto dos projécteis na fronteiras, deixando outros caminhos da administração eventualidade de uma guerra no local. em aberto para desenvolvimento e evolução. D. Fernando I (1367-1383) dá continuidade ao formas circulares para os torreões Para o acolhimento das armas dentro do recinto do castelo medieval, as transformações foram outras, desenvolvimento económico marítimo, mas termina o nomeadamente a abertura de troneiras, seu reinado colocando a independência do reino de redondos, destinados à adaptação de bocas de fogo de Portugal em causa, voltando a instalar-se a insegurança diâmetro adequado nas fronteiras . Particularmente, a muralha do castelo construção de casamatas, de Castro Laboreiro beneficia de um reforço no reinado rasgadas nos próprios muros e destinadas a alojar de D. Fernando. novas peças de artilharia 37 buracos nos muros das estruturas, a estruturas abobadadas Monteiro, , p. 38). Sucede-lhe D. João I (1385-1433), e no período da Nos reinados seguintes ao de D. João I, o sua regência, destaca-se uma informação relativa ao investimento régio é feito em acordos de paz e nos posicionamento político de Castro Laboreiro pelas descobrimentos além-mar, pondo à margem das forças do rei português. É no reinado de D. João I, e atenções a armadura castelar das fronteiras terrestres. pelo engenho do condestável Nun´Alvares Pereira, que Período de decadência o reino de Portugal se reafirma novamente nas Castro Laboreiro mantém-se português até ao fronteiras terrestres. A partir do século XV encontra-se domínio dos Filipes, passando para domínio espanhol documentação no arquivo da Casa de Bragança, em com a perda da independência no século XVI39. Durante Vila Viçosa, que atestam sucessivas doações régias, de alguns domínios deste território e respectivo castelo, 38 aos duques de Bragança. Esta prática perdurará até ao século XVIII. É também a partir deste período que se inicia a arte da guerra com armas pirobalísticas embora ainda muito rudimentares e pouco eficazes, como os trons ou as 35 36 37 De uma maneira geral, o pequeno castelo senhorial não prevê o abrigo de população civil dentro do seu perímetro, preferindo reservar-lhe espaços anexos, igualmente dotados de muralha. Vemo-los, por exemplo em Castro Laboreiro, Aguiar da Pena, Moreira de Rei ou Montemor-o-Velho. (Barata e Teixeira (dir.), 2003, p. 112) Neste ponto poderá estabelecer-se alguma relação com o alto relevo da figura n. º 33. GONÇALVES, 1998. VENTURA, 1998. 39 Relativamente à introdução das armas de fogo e da artilharia pesada nos castelos, a acta da comunicação de Fernando Cobos Guerra feita no Simpósio Internacional sobre Castelos (2001), intitulado “rtillería y fortificación ibérica de transición a pp. 677-696), merece referência. Durante a investigação das fontes relativas ao castelo de Castro Laboreiro, neste período (século XVI-XIX), e dos contactos estabelecidos com os arquivos nacionais, resultou o conhecimento de que a Casa de Bragança dispõe no seu arquivo, sito no Palácio de Vila Viçosa, dos seguintes documentos históricos: - Doação ao Duque de Bragança D. Teodósio das vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com seus Castelos, Padroados etc., datado de 27 de Junho de 1542. - Carta D. Sebastião porque confirmou ao Duque de Bragança. D. João I a mercê que tinha para no caso que por sua morte lhe não ficasse filho nem filha pudesse o seu ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 57 este período principia-se a sua decadência. O novo Embora a data da restauração da independência de alcaide espanhol do Castelo de Castro Laboreiro Portugal seja Dezembro de 1640, Castro Laboreiro só se descreve a fortaleza como estando povoada de gralhas Noe, 2015). reintegra no território português em 1666, durante a guerra. Em 1659 o castelo sofre um acidente que provoca a destruição de parte da sua estrutura. No irmão mais velho suceder nas Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com seus Castelos, rendas, direitos, e padroados com mero misto império, e com as jurisdições e privilégios que têm as mais terras do Estado de Bragança. Datada de 25 de Abril de 1578. - Alvará de Filipe I pelo qual confirmou ao Duque de Bragança D. Teodósio II as vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com seus Castelos, Padroados de Igrejas, rendas, e direitos, que tudo tinha sido dado a seu Avô em casamento. Datado de 23 de Novembro de 1590. - Carta de Filipe II porque fez mercê ao Duque de Bragança D. Teodósio II de lhe tirar por duas vezes fora da lei mental as Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira. Datada de 30 de Abril de 1602. - Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de Bragança D. Teodósio II as Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira, duas vezes fora da lei mental, e que possam suceder nas ditas terras os ascendentes mais chegados, e ainda os colaterais. Datada de 9 de Setembro de 1627. - Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de Bragança D. Teodósio II as Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com seus Castelos, Padroados de Igrejas, rendas, e direitos com mero e misto império. Datado de 26 de Maio de 1627. - Carta de Filipe III pela qual confirmou ao Duque de Bragança D. João II depois Rei de Portugal 4.º do nome, as Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com seus Castelos e com todas as suas rendas, direitos, e padroados de Igrejas, e mero emisto império. Datado de 22 de Março de 1639. - Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de Bragança D. Teodósio II a carta de mercê que tinha para que não tivesse filho herdasse a filha as terras de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira, e no caso de não haver filho, nem filha passassem ao Irmão mais velho do Duque que falecesse. Datada de 1 de Junho de 1627. - Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de Bragança D. João II [futuro rei D. João IV] a mercê que tinha sua Casa para que em falta de filho ou filha pudesse o irmão mais velho do mesmo Duque herdar e suceder as Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com todas as suas rendas, direitos, jurisdições, castelos, e Padroados de Igreja sem embargo da lei mental. Datada de 23 de Maio de 1639. - Privilégios concedidos pelos senhores reis deste reino aos moradores do Concelho de Castro Laboreiro, insertas em uma certidão feita no dito concelho. Datados de 11 de Fevereiro de 1664. Entre outros documentos de aforamentos, privilégios, cartas, doações e forais datados desde o século XV ao século XVIII, que podem contribuir para uma melhor compreensão da administração territorial e do período de decadência do castelo de Castro Laboreiro. ponto mais elevado do castelo, onde hoje se encontra o marco geodésico estava a antiga torre de menagem, que foi atingida por uma descarga eléctrica, no dia 18 de Novembro, provocando o incêndio do paiol da pólvora armazenada no seu interior. Este facto está descrito num documento da Torre do Tombo, livro n.º 51, folha 5.40 Quatro metros a sul da muralha que se encontra a meio do recinto, estava uma capela cuja parte superior foi também destruída com a queda da Torre de Menagem. A partir de 1715 estabelece-se um período de paz e o castelo é utilizado para outros fins que não militares. Apenas no contexto das invasões francesas retoma-se a sua defesa e utilização militar com apenas quatro peças de artilharia, contudo, esta era uma fortaleza já muito debilitada. Durante o período das Invasões Francesas (séc. XVIII-XIX), planeou-se que o castelo de Castro Laboreiro se integrasse no plano defensivo da fronteira do Minho, que se estendia desde a Raia Seca até Caminha. Para a zona entre Melgaço e a Ponte das Várzeas previu-se a construção de uma linha de baterias "feitas com parapeito em terra, próprias para receber soldados armados com armas ligeiras, mas também onde se poderiam colocar peças de artilharia" (Almeida, 2002, p. 193). Contudo, após a frustrada travessia do Minho, em Cerveira e Caminha, em 1809, Soult (17691851) opta por entrar em Portugal por Chaves, pelo que aquele plano defensivo não chegou a ser concretizado. Em 1809, o castelo é abandonado por deixar de ter 40 “os dezoito dias de Novembro de , que foi uma terça-feira, às nove horas da manhã, caiu um raio na Torre do Castelo que servia de armazém de pólvora e fez a maior ruína que se sabe, pois da Torre e mais partes acessórias não ficou pedra sobre pedra e deste grande prodígio se vê claramente ser grande castigo do céu que Deus mandou para castigar pecadores que dentro deste Castelo estavam nesta grande desventura se viram grandes milagres. O primeiro a escapar foi o Governador Gaspar de Faria com a sua mulher e mais família, estando na parte mais arriscada, pois aí removeu a muralha da Torre; as suas casas e as fez em pedaços e aí estavam e aí escapou com mais segurança e castigou o que na Ermida não podia ficar pedra sobre pedra, pois caiu toda a Torre sobre ela e ficou Nossa Senhora dos Remédios aí me recolhi, sem cobertura, sem água, ficando debaixo toda a máquina. Terceiro Milagre; Foi que escapou um Escrivão do Governador debaixo desta ruína, sem avaria e são. Nesta desventura morreram – Gaspar Lima de Castro, Escrivão das Décimas e Sisas e Treslados; e um mulato seu criado, por esse nome Marcos, natural de Tangil e um míudo, criado do Governador, por nome de Gaspar de Medela e dois soldados. (Rodrigues, 1996). ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 58 importância estratégica, acelerando-se o proceso de 3. Arquitectura ruína devido à remoção de pedra para construção de A orografia do terreno para a implantação das casas (Noe, 2015). Mantém-se abandonado até meados fortalezas impunha-se muitas vezes aos planos de do século XX, quando se dá a sua conceptualização arquitectura medieval. Neste caso toda a envolvência patrimonial e se reveste a fortaleza de novos conceitos geográfica do monte onde se encontra implantado o e actos de protecção. Castelo de Castro Laboreiro contribui para a sua 41 Fig. 3: Localização do morro do castelo em relação à área da Vila de Castro Laboreiro. Extraído da carta militar portuguesa n.º 004. Fig. 4: Vista Norte sobre o morro do castelo. 41 São vagas as informações acerca da vida administrativa deste castelo nos vários reinados, e por esse motivo salientaram-se apenas os momentos mais importantes. exemplar função defensiva e vigilante. Implantado num local quase inacessível, escarpado, cercado de vegetação e confrontado a Este com um vale profundo onde passa o rio Laboreiro, era comum utilizarem-se maioritariamente mulas ou homens apeados para o seu acesso, uma vez que os carros de bois e outros veículos ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO Fig. 5: Acesso Sul da fortaleza. 1 Vista Norte. Fotografia de Diana Carvalho. 59 Fig. 7: Acesso Norte da fortaleza. Fig. 8: Porta da traição ou comumente chamada do sapo . Vista Nordeste. Fotografia de Ilídio Gonçalves. Fig. 6: Porta principal, ou comumente chamada do Sol , virada a Este. Vista Oeste. Fotografia de Diana Carvalho. teriam graves dificuldades em escalar a montanha pela amuralhado definitivamente e não se sabe se manteve quantidade os obstáculos atrás mencionados. de irregularidades presentes no seu pavimento e nas suas paredes naturais. As escadas de acesso Norte (fig. 7), eram íngremes e Os acessos à fortaleza tinham diferentes formas de estreitas, obrigando os seus utentes a subirem em fila dificultar a subida e a penetração a guarnições inimigas. única, e por isso, era um acesso naturalmente resistente. O acesso a nascente, dispunha de obstáculos artificiais, A arquitectura actual do castelo aponta para uma constituídos por três tipos de muralhas toscas, estética românica42, embora o resultado das levantadas em sistemas de estacas, de várias toneladas de peso. A partir do reinado de D. Dinis este circuito é 42 BARATA E TEIXEIRA (dir.), 2003; MONTEIRO, 1999; MAZA e GULBENKIAN, 2001. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 60 Fig. 9: Vista Norte sobre a porta da traição e sobre a área de implantação da cisterna (círculo branco). Fotografia de Diana Carvalho. intervenções no reinado de D. Dinis e mais tarde no de de água. Na impossibilidade de se alcançar os lençóis friáticos D. Fernando, permita encontrar alguns elementos de criaram-se cisternas para armazenar água, nalguns casos com estilo gótico que proporcionaram à fortaleza uma maior engenhosos sistemas de canalização capacidade de ataque. 2003, p. 112). ”arata e Teixeira, Relativamente às portas do castelo, a porta a sul da Ao lado da cisterna estava a torre de menagem43. O torre de menagem (figs. 17 e 18) deveria ser a primitiva seu local de implantação encontra-se actualmente entrada principal, deixando a da traição (fig. 8) como ocupado por um marco geodésico (fig. 10). isco para os invasores, pois esta encontra-se visível do território circundante, estando dotada de um balcão com matacães e sendo apenas perceptível o enorme fosso entre esta e o caminho de acesso Norte, aquando a escassos metros da muralha. Neste recinto (praça de armas), encontrava-se uma cisterna (fig. 9) localizada a norte da antiga torre de menagem, destinada à recolha e armazenamento da água da chuva. Desde meados do século XI, quando começam a triunfar as grandes operações de cerco, dá-se especial atenção ao aprovisionamento de água. Os pátios começam a ter poços ou cisternas. A opção preferível era, naturalmente, o poço, garantindo o abastecimento autónomo 43 Não podemos apontar com segurança em que época aparece pela primeira vez entre nós. Todavia, em França e noutras regiões da Europa, esta construção, herdeira dos donjons senhoriais do século XI, surge nos finais desse século e princípios do seguinte. Em Portugal é possível que date da primeira metade do século XII, talvez por influência dos cavaleiros francos que, a partir de 1096 e em diversos momentos, vieram auxiliar o conde D. Henrique e, mais tarde, D. Afonso Henriques na empresa da Reconquista. Todavia, não podemos apontar nenhum caso seguro desta época. Os exemplos datáveis mais antigos pertencem ao terceiro quartel do século XII e foram todos erguidos pelos Templários. Referimo-nos às tores de menagem de Tomar (1160), Pombal (1171), Almourol (1171), Penas Róias (1172) e Longroiva (1174), todas ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 61 A torre de menagem românica foi entendida como um verdadeiro castelo dentro de um castelo , o último reduto de defesa da guarnição e da população, estando por isso isolada dentro do recinto, normalmente ao centro da praça de armas, detendo a cota mais elevada em relação à restante estrutura, podendo comandar todos os restantes dispositivos do castelo . O mesmo se 44 passando com o estudo de caso. Adossada à torre de menagem do castelo de Castro Laboreiro está um anexo ou alpendre (fig. 13), conforme se verifica na planta desenhada por Duarte de Armas. As funções deste apêndice poderiam ser de armazenamento de armas ou provisões alimentares. Fig. 10: Marco geodésico situado no anterior local de implantação da torre de menagem. Fotografia de Diana Carvalho. A sul da torre de menagem encontra-se uma muralha (figs. 17 e 18). Esta muralha tem uma porta a meio, a já mencionada porta a sul da torre de menagem. De cada lado da muralha foi construído um torreão de defesa (figs. 14 e 15). Fig. 11: Vista Sul sobre o Castelo de Castro Laboreiro (Duarte de comemoradas por epígrafes. Como já tivemos oportunidade de sublinhar noutros estudos, o simples facto de Gualdim Pais, mestre dos Templários em Portugal, se ter preocupado em mandar gravar estas inscrições sugere que deviam ser inovações prestigiantes. (Barata e Teixeira (dir.), 2003: 112) Armas). – retirada do blog Entre o Minho e as Serras 44 BARATA e TEIXEIRA (dir.), 2003. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 62 Fig. 12: Vista Norte sobre o Castelo de Castro Laboreiro (Duarte de Armas). – retirada do Arquivo On-line da Torre do Tombo (Digitarq TNT) Fig. 13: Planta da fortaleza de Castro Laboreiro, desenhada por Duarte de Armas (séc. XVI) – retirada do Livro das Fortalezas, de Duarte de Armas. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 63 Na transição do recinto Norte para o recinto Sul encontra-se a referida antiga porta principal (figs. 17 e 18), (digna de conta pelos motivos que se apresentarão no final desta secção do artigo). Relativamente ao recinto sul, cercado pela muralha dionisina e fernandina, encontram-se vários elementos relevantes para a compreensão do funcionamento deste recinto. A porta virada a Este, ou regularmente chamada porta do Sol fig. , reconverteu-se em porta de acesso principal, relativamente à sua anterior entrada, a porta a sul da torre de menagem que vemos nas figuras anteriores. A cerca de vinte metros da nova entrada principal, aparece uma porta estreita que dá para uma fenda entre duas rochas, também orientada a Este, pela qual se chega a uma fonte de água fresca, que abastecia o castelo. Hoje esta nascente está seca. Fig. 14: Alicerces do torreão Oeste (praça de armas). Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 15: Alicerces do torreão Este (praça de armas). Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 16: Ruínas da torre intermédia entre a porta da traição e o torreão Este. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 17: Ruínas da muralha de transição entre o recinto Norte e o recinto Sul. Vista Norte. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 18: Ruínas da muralha de transição entre o recinto Norte e o recinto Sul. Vista Sul. Com elemento humano para escala. Fotografia de Diana Carvalho. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 64 No percurso das muralhas, subia-se ao adarve pelas escadas de pedra, situadas ao lado da porta principal (fig. 21) e mais a Norte, ao lado das ruínas da capela (fig. 28). Na extremidade do ângulo do sul, existe uma gruta natural, na qual se podem abrigar várias pessoas.45 Ainda dentro deste recinto estão visíveis vários alicerces e ruínas (figs. 23, 24, 25, 26 e 27), que poderão ter tido uma função habitacional, militar e/ou religiosa, para a guarnição do castelo. Para começar, a gruta natural visível nas figuras 22 e 24, sustentava uma torre (fig. 23). Fig. 22: Vista sobre a porta da água círculo menor , a porta do sol (círculo maior), e a gruta natural (quadrado). Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 19: Porta do Sol , vista do interior do recinto Sul. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 23: Alicerces da torre sustentada pela gruta natural. Com elemento humano para escala. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 20: Porta do Àgua , vista do interior do recinto Sul. Fotografia de Diana Carvalho. 45 Fig. 21: Escadas de acesso ao adarve. Fotografia de Diana Carvalho. ALMEIDA, 1987; LIMA, 1996; RODRIGUES, 1996; ALVES, 1987. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 65 Fig. 24: Alicerces de um edifício ao lado da gruta natural. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 26: Vista Sul sobre as mesmas estruturas. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 25: Vista Norte sobre as estruturas postas a descoberto pelas intervenções arqueológicas no Castelo. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 27: Detalhe das escadas de acesso ao adarve a nordeste do recinto Sul. Situam-se a Este da capela, no interior das estruturas e no pano de muralha. Fotografia de Diana Carvalho. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO Fig. 28: Vista Norte sobre as ruínas da capela. Fotografia de Diana Carvalho. 66 Fig. 29: Parte Este da Muralha dionisina. Fotografia de Diana Carvalho. Por último, a muralha é o elemento que consolida o de porta, uma vez que a porta principal orientada a conjunto de estruturas que compõem o castelo. Um nascente possui um espaço que permitiria a sua outro aspecto importante a considerar tem que ver construção, mas tal não aconteceu. Pequenos cubelos com a configuração geral das fortalezas, isto é, com a também seriam possíveis, no entanto, a planta sua volumetria e com o desenho das suas muralhas. desenhada por Duarte de Armas, apenas nos revela Recordaremos que estas eram geralmente fabricadas em torres de formato quadrangular. No entanto, a pedra, sendo concebidas para resistir, não só ao tiro existência do adarve, ou caminho de ronda (elemento directo dos engenhos adversários, como também às comum , confirma a sua influência. operações de escalada dos muros ou aos trabalhos de «adarve» deriva do árabe ad-darb, «o caminho sapa bases, estreito». Era, portanto, um caminho que percorria o exércitos alto dos muros, aproveitando a sua espessura, pelo qual e de tradicionalmente sitiadores britagem levados Monteiro, das a respectivas cabo pelos , p. 51). “ palavra se deslocavam as sentinelas. Era o caminho de ronda, É preciso referir que é nos panos de muralha e nas que a Idade Média (nomeadamente Fernão Lopes) suas torres que se verificavam as influências árabes designava por «andaimo» (Barata e Teixeira (dir.), 2003, mais relevantes, nomeadamente, a barbacã e a torre p. 108). No caso de Castro Laboreiro, era espaçoso o albarrã (nova forma de contra-ataque de onde pode ser suficiente para duas sentinelas patrulharem ou se arremetido pelas costas quem se aproxime da muralha), cruzarem em simultâneo (fig. 29) As no entanto, os vestígios muçulmanos deixados em muralhas estavam condicionadas pela Castro Laboreiro são quase inexistentes, uma vez que a morfologia do terreno, do qual resultavam diferentes sua localização geográfica não permitia a construção de tipos de planta. Para o estudo de caso, observar a figura elementos complexos como por exemplo, uma barbacã. 30. Poderiam, eventualmente, ter pensado numa barbacã ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 67 Fig. 30: Vista aérea do recinto do castelo. Imagem retirada do Google Maps. Fig. 31: Reconstituição arquitectónica do castelo de Castro Laboreiro, segundo as gravuras e a planta de Duarte de Armas (séc. XVI), por Vítor Hugo Sacadura. Painel de azulejo situado na fachada do Hotel Castrum Villae. O tipo de trabalho representado na figura 31, Para terminar, e da mesma forma que se começou devidamente fundamento nas fontes existentes, ajuda- esta secção do artigo, a palavra é de Mário ”arroca: Se nos a uma melhor percepção do espaço ocupado por é certo que estes testemunhos arqueológicos dizem esta fortificação, uma vez que em muitos casos (e este é sobretudo respeito a medidas lineares, destinadas ao sem dúvida um deles), a sua leitura revela-se comércio de tecidos, abrangendo deste modo uma complicada, derivado do seu estado de ruína. pequena parte do complexo sistema medieval de pesos Agradecimento especial ao pintor Vítor Sacadura e medidas, eles não deixam de ser interessantes por facilitar a interpretação deste espaço com uma documentos com evidentes implicações económicas, pintura que equivale a mil palavras, e contribui para a que permitem um mais correcto conhecimento do salvaguarda do património na memória da sua panorama nacional destes domínios. Por isso, e porque comunidade de pertença. o desconhecimento generalizado do seu verdadeiro ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 68 Fig. 32: Medida-padrão. Fotografia de Vítor Hugo Sacadura. Fig. 34: Medidas-padrão nas portas da muralha de Sortelha. Fotografia de Manuel José Cunha. significado pode irremediável, valorizados. conduzir urge ”arroca, que a sejam uma destruição inventariados e , p. 53). Respondendo ao apelo de Mário Jorge Barroca relativo à inventariação das medidas-padrão, seguem-se figuras daquilo que aqui se pressupõe ser uma medida-padrão, gravada na porta a sul da torre de menagem, na horizontal, a meio do recinto actual do castelo de Castro Laboreiro. sistema de medidas de tecidos, combatendo fraudes. O artigo de Mário Barroca enumera um conjunto de tradicionalmente gravadas aferimento das medidas utilizadas pelos mercadores devia ser feito pelo confronto com a medida do comerciante com o padrão gravado na parede do monumento, devendo aquele encaixar dentro deste. ”arroca, , p. 62). O presente caso encaixa na meia-vara, que corresponde a 55cm, ou 2,5 Palmos. O avançado estado de degradação não permite confirmar se é de facto, ou não, uma medida padrão, a Estas medidas tinham por objectivo uniformizar o medidas-padrão, O em paredes de Igrejas (fig. 33), portas de amuralhamentos urbanos (fig. 34) e em castelos (nomeadamente, nas torres de Menagem), com múltiplos e submúltiplos do Palmo (22 cm). não ser pelo inegável valor do seu comprimento. No entanto, esta linha não apresenta uma configuração característica, com o campo rectilíneo cuidadosamente rebaixado, com paredes geométricamente definido verticais ”arroca, e espaço , p. 62), o que sugeria que a medida do mercador encaixasse dentro da área reservada à medida-padrão. Este elemento suscita curiosidade também porque, segundo o autor, as medidas-padrão eram geralmente colocadas junto dos locais onde se realizavam feiras e mercados. Não é possível dizer neste ponto da investigação se alguma destas actividades se concretizava no recinto sul do castelo de Castro Laboreiro. Porém, ao lado desta gravura, encontra-se um alto relevo com características zoomórficas (figs. 35 e 36), que pode ser um indicador de alguma actividade aqui exercida com animais, pois é sabido que Leite de Vasconcelos na sua excursão a Castro Laboreiro nos finais do século XIX, impressa na Revista Lusitana no princípio do século XX), refere a antiga e famosa feira de gado deste território. Embora nesta época tenha lugar numa área próxima à Igreja Fig. 33: Medida-padrão na Sé do Porto. Fotografia de Manuel José Cunha. Paroquial. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 69 É preciso ter cautela quando se galgam vários séculos e, por isso, esta dedução carece de aferição científica através das fontes disponíveis. As medidas-padrão que se localizam nos castelos documentadas no artigo de Mário Barroca, datam dos tempos de D. Dinis (séc.XIII)46. O mesmo se pode deduzir deste elemento, embora de forma apriorística, uma vez que o recinto Sul do castelo e os seus elementos arquitectónicos, são obra de D. Dinis. Para esta datação superficial da medida-padrão em causa, concorre ainda o facto de Castro Laboreiro ter recebido o estatuto de sede de Concelho no ano de 1271. Em termos gerais, se atendermos a que o Côvado e a Vara são múltiplos perfeitos do Palmo, e se ponderarmos os valores encontrados para estas medidas, somos levados a pensar que já antes do reinado de D. João I o Palmo seria uma medida uniforme. ”arroca, , p. 56). O artigo do autor disponibiliza ainda fichas de inventário sobre as medidas-padrão documentadas, sendo as que ressaltam para comparação a este caso a de Braga (gravada na Torre de Menagem) e Guimarães (gravada na ombreira do portal de acesso ao claustro da Colegiada). A de Braga porque a medida é a Vara (110cm), o dobro da de Castro Laboreiro e porque é igualmente horizontal, a de Guimarães porque a medida é a Meia Vara (55cm), ambas pela sua proximidade ao território. 46 No que respeita aos castelos onde encontramos medidaspadrão gravadas, o de Penedono (nº9) apresenta uma reforma que tem sido atribuída aos tempos de D. Dinis, não podendo ser dissociada do valor estratégico que esta fortaleza apresentava antes da assinatura do Tratado de Alcanices, em 1297. Também o castelo do Alandroal (nº20) pode ser atribuído com segurança ao reinado de D. Dinis. Terá começado a ser erguido a 6 de Fevereiro de 1294, por iniciativa do Mestre de Avis D. Lourenço Afonso, conforme nos garante uma inscrição coeva. É provável que tivesse sido concluído em quatro anos, já que na sua Torre de Menagem se conserva uma outra inscrição comemorativa da construção do castelo, datada de 24 de Fevereiro de 1298. E o mesmo se diga de Castro Marim (nº23), onde a porta junto da qual se gravou a respectiva medida-padrão foi mandada erguer por D. Dinis em 1 de Julho de 1279, conforme documenta outra inscrição coeva. ”arroca, , p. 65) Verdade seja dita, detectaram-se outras inscrições em redor da medida padrão e do alto relevo, que poderão indicar datas importantes ou outras informações contudo, não foi possível confirmar esta análise pelo motivo do avançado estado de degradação das pedras, sujeitas a intempéries climatéricas da zona próprias desta zona de montanha. Fig. 35: Figura com características zoomórficas. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 36: Outra perspetiva do alto relevo com características zoomórficas. Fotografia de Diana Carvalho. Fig. 37: Enquadramento do alto relevo com a medida-padrão. Fotografia de Diana Carvalho. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 70 Fig. 38 Castelo de Castro Laboreiro – Medidas Medidas Elementos47 Objecto48 Orientação Comp. Larg. Alt. Prof. Área Localização porta do sol porta da água gruta natural porta entre recintos Este Este Norte Sul 1,18 m 1,03 m 6m 1,21 m 2,25 m 2,20 m 6m 2,38 m 2,07 m 1,90 m 10 m 1,90 m - Área Sul Área Sul Área Sul porta do sapo ou da traição Norte 94 cm 1,23 m 2,10 m - Área Norte pedra da gravura zoomórfica pedra da medida padrão muralha Sul Sul Este 55 cm 20 cm - - Área Sul Área Sul Extensão de Norte a Sul Entrada a Oeste49 80 cm 72 cm 2,20 m 6m (parede Norte) 6,80 m (parede Norte) 5,45 m (parede Sul) 42 cm 27 cm - torre 3m (Fosso) por verificar 8m (parede Este) 8,42 m (parede Este) 6,50 m (parede Este) 5,36 m (parede Sul) 5,28 m (parede Este) 3,63 m (parede Sul) 3,27 m (parede Este) - - 48 m2 Este. Muralha a meio do recinto. - - 58 m2 Oeste. Muralha a meio do recinto. - - 36 m2 Sul. Muralha dionisina 89 cm - 28 m2 Área Sul medidas externas 12 m2 Área Sul medidas internas - Área Sul medidas externas torre Entrada a Norte torre - Norte capela 68 cm Este/Oeste tanque (anexo à cisterna) Este/Oeste - - - - 1,07 m (entrada) - 1,10 m 42 cm - - 50 cm - - - - - 4,48 m (parede Este) 3,30 m (parede Sul) 1,26 m (parede Sul) 1,43 m (parede Este) 15 m2 2 m2 - 4. Concepção patrimonial do castelo de Castro Laboreiro 4.1. Cronologia - - cisterna (parcialmente escavada na fraga) - - Área Norte medidas internas Área Norte medidas internas do Estado e da população local, em local de pedagogia e lazer. Habitualmente, quando se reconhece valor das políticas de gestão e histórico a um monumento que perdeu a sua função original, preservação concede-se oficialmente o estatuto de A47 cronologia de acontecimentos do castelo (quem Património. O primeiro passo a ser dado neste sentido o administrou e de que lado se manteve o seu poder foi a atribuição do estatuto de Monumento nacional em nas alturas de crise) contribui para representar esta 1944, durante a ditadura do Estado Novo (1933-1874). comunidade 48 e o território, 49 Na ficha de inventário introduzida por Paula Noé por isso, o castelo é seu objecto de pertença e do seu percurso. A sua história no Sistema de Informação para o Património contribui para que a perda da função original se Arquitectónico, e também no site da Direcção Geral do convertesse em valorização e reconhecimento por parte Património Cultural, a conceptualização patrimonial inicia-se em 1944, e segue uma linha cronológica até ao 47 48 49 Todas as medidas apresentadas têm carácter aproximado, não sendo possível precisá-las dada a orografia do terreno, bem como o estado de conservação da flora. Optou-se por não tirar medidas às restantes estruturas porque a sua delimitação é imprecisa. Ver planta no Livro das Fortalezas – gravuras de Duarte de Armas (séc. XVI). presente que visou a preservação e manutenção do monumento50: 50 Fez-se uma investigação relativamente ao paradeiro dos processos de intervenção e restauro do castelo de Castro ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 71 1944 - MN - Monumento Nacional, Decreto nº 33 587, pinturas das portas; as obras são executadas pelo DG, 1.ª série, n.º 63 de 27 março 1944. empreiteiro Marques & Marques, Ldª; 1949 - MOP - diversos trabalhos de consolidação e 1981 - continuação dos trabalhos de beneficiação; reconstrução de muralhas do castelo, no valor de 10.000$00; 1994 - recolha e reposição de alvenarias de silharia dispersas pelo interior e exterior das muralhas, 1957 - DGEMN - obras de consolidação e restauro das levantamento e sinalização dos melhores traçados muralhas, pelo empreiteiro Manuel Nunes de Andrade; tradicionais de acesso ao alto rochoso, provocando a incluindo o apeamento e reconstrução de muralhas, a definição de degraus na rocha ou acrescentando construção de uma porta, em madeira de castanho, para elementos de granito, constituindo-se em pequenas a porta nascente, e de uma porta em grade de ferro escadas, nos locais de desnível acentuado mais perfilado para o portal norte; acentuado, limpeza de vegetação e arranjo do piso nos recintos intramuros, reparação, recuperação ou 1958 - obras de consolidação pelo empreiteiro Saúl de substituição das portas, fornecimento e colocação de Oliveira Esteves; contentores de lixo e instalação de corda de ajuda e 1974 - trabalhos de consolidação de alvenaria e a proteção nos percursos pedonais; escavação de terras para sondagem, adjudicadas a Afonso Ferreira de Oliveira; 2005 - CMM - obras de valorização do acesso ao castelo. (fig. 36) 1975 / 1976 / 1977 / 1978 / 1979 / 1980 - SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA - escavações arqueológicas A partir da década de 70 é incluído no Parque Nacional dirigidas pelo arqueólogo Roberto Leão, as quais da Peneda do Gerês, usufruindo também da sua gestão. revelam testemunhos de ocupação do local na Alta Idade Média; 1977 / 1978 - DGEMN - trabalhos de consolidação de alvenarias em degradação, junto da porta do sapo, a sudoeste junto duma fenda e a poente, incluindo o fornecimento das alvenarias em falta; reconstrução do coroamento da muralha junto à porta do sapo, cunhal norte-nascente e entre as portas do sol e da água, com cantaria de pedra existente de dente de cavalo, apicoado a tosco, incluindo limpeza e preparação de superfícies; e reparação das portas do sapo, da água e do sol, compreendendo ferragens e substituição de madeira impróprias; 1979 / 1980 - trabalhos de consolidação da muralha em vários pontos, reconstrução do coroamento da muralha junto da porta do sapo e da água, limpeza e arranque de vegetação em vários pontos, escavação e rebaixamento de terras junto da muralha do lado nascente, construção da porta principal do lado nascente, em madeira, reparação da porta do sapo e Laboreiro e encontraram-se seis processos digitalizados e disponíveis on-line na plataforma do SIPA (com o IPA nº 00002273), e outros seis, não digitalizados mas disponíveis para consulta, no Forte de Sacavém – Lisboa. Fig. 39: Placa de Sinalização do Castelo. Fotografia de Diana Carvalho. ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73 CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO 72 5. Observações finais BARATA, O castelo de Castro Laboreiro é pouco retratado na Severiano (dir.) (2003) – Baixa Idade Média: O Castelo Manuel Themudo; TEIXEIRA, Nuno documentação contemporânea e nas fontes medievais e Românico . In: Nova História Militar de Portugal. Rio de modernas Mouro, Círculo de Leitores, Vol. I, pp. 106-114. as referências encontram-se diluídas, provavelmente pelo impacto diminuto que teve na construção da história nacional. Conforme disse Mário BARATA, Manuel Themudo; TEIXEIRA, Nuno Barroca e Fernando Morais (1985/86), num estudo Severiano (dir.) (2003) – Baixa Idade Média: O Castelo acerca do castelo de Aguiar da Pena, cujas referências Gótico . In: Nova História Militar de Portugal. Rio de também escasseavam, Mouro, Círculo de Leitores, Vol. I, pp. 117-121. o prolongado silêncio que a documentação revela para esta zona não deve estar dissociado da sua pobre institucional ”arroca e Morais, representatividade BARATA, / Severiano (dir.) (2003) – Os Castelos Portugueses nos , p. 36). Contudo, o castelo tomou posições de relevo para a Manuel Themudo; TEIXEIRA, Nuno Finais da Idade Média . In: Nova História Militar de sua defesa, sobretudo na vigilância e defesa da Portugal. Rio de Mouro, Círculo de Leitores, Vol. I, pp. fronteira, bem como à escolha de partidos quando 164-180. Portugal viu a sua independência ameaçada, embora BARROCA, Mário Jorge (1992) – nem sempre com sucesso. Medidas-padrão Conforme já foi referido, procurou-se contextualizar medievais portuguesas . In: Separata da Revista de a história do castelo com a do seu território, mas em História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. muitos aspectos escaparam informações, e outras vezes, Porto, Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Vol. aquando da redacção do artigo e da integração das 9, pp. 53-85. informações no texto, estas perderam alguma da sua clareza, por isso, fica o desejo que o castelo de Castro BARROCA, Mário Jorge (1990-1991) – Do castelo da Laboreiro e o seu território, atraiam a curiosidade e o reconquista ao castelo românico (séc. IX a XII). Portugália. interesse científicos para o seu estudo, bem como Porto, Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Vol. projectos 11-12, pp. 89-136. de escavações arqueológicas. Deseja-se também que as informações daqui resultantes se tornem acessíveis à comunidade científica e à BARROCA, Mário Jorge; MORAIS, António J. Cardoso comunidade local, no sentido do seu enriquecimento e (1985/1986) – da sua salvaguarda. arqueológica em “guiar da Pena . In: Separata da Revista A terra e o castelo: uma experiência Portugália. Nova Série, Vol. VI/VII. CAPELA, Viriato (2005) – As freguesias do Concelho Bibliografia de Melgaço nas Memórias Paroquiais de 1758 . In: As Freguesias do Distrito de Viana do Castelo nas Memórias ALMEIDA, Carlos Alberto Brochado de (2002) – O Paroquiais de 1758. Câmara Municipal de Melgaço, sistema defensivo da Vila de Melgaço: dos castelos da Edição da Casa Museu de Monção / Universidade do reconquista ao sistema abaluartado. Melgaço, Câmara Minho, pp. 150-153. Municipal. DECRETO N.º 33: 587. Diário do Govêrno, 1ª série, N. º ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1987) – 63, 27 de Março de 1944. Classificação de monumentos. Melgaço e Castro Laboreiro . In: Alto Minho. 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