CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO
CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO
Diana Carvalho
(mestranda em História e Património, dianacarvalho.pt@gmail.com
RESUMO:
ABSTRACT:
Propõe-se neste artigo o tratamento amplo de um conjunto de
It is proposed in this article the broad treatment of a range of
temas, sendo a unidade dos conteúdos conferida por uma
issues, the unity of content being given by a global perspective
perspectiva global na longa duração, sobre o território de
in the temporal long term about the territory of Castro
Castro Laboreiro e o seu castelo. Articulou-se a análise
Laboreiro and its castle. It was articulated the administrative,
administrativa, política, militar e patrimonial, conforme a
political, military and cultural heritage process analysis, as the
bibliografia e as fontes permitiram, assumindo-se, desde já, o
bibliography and sources allowed, assuming, as soon as
difícil estudo deste tema.
possible, the difficult study of this topic.
PALAVRAS-CHAVE:
Castelo, Castro Laboreiro, História.
KEY WORDS:
Castle, Castro Laboreiro, History, Cultural Heritage, Notes.
1. Acesso, geografia e implantação
Laboreiro encontra-se a 7 km da fronteira com a Galiza.
Actualmente, a freguesia de Castro Laboreiro
Uma das referências turísticas e religiosas mais
encontra-se em união política com a freguesia de Lamas
importantes é o Santuário da Peneda, cuja distância a
de Mouro, ambas situadas no Distrito de Viana do
Castro Laboreiro é de 16 km. Este era, e é, um antigo
Castelo, no Concelho de Melgaço. Situa-se entre duas
acesso percorrido em direcção aos Arcos de Valdevez.
cidades, uma a sudeste, a 16 km, Entrimo (Ourense), e
As serras da Peneda eram por si também um ponto de
outra a noroeste, a 26 km, Melgaço (sede de Concelho),
travessia para os peregrinos a caminho da Santiago de
a cidade portuguesa mais próxima. A estrada que as
Compostela. A estrada de Arcos de Valdevez em
liga passa por Castro Laboreiro, facto que trouxe a esta
direcção a nordeste era um acesso medieval e moderno,
Vila fronteiriça, nos anos 80 uma abertura para o
entre Braga e Castro Laboreiro, ou seja, entre a
mundo (com a liberalização das fronteiras), em direcção
arquidiocese e esta paróquia, por onde se terá exercido
às grandes cidades do Norte de Portugal e do Norte de
poder religioso e comercial1. Uma outra referência
Espanha,
colmatando
algumas
lacunas
de
abastecimento que se faziam sentir e se tinham vindo a
resolver com o contrabando ao longo dos séculos.
Partindo do centro da Vila e percorrendo a estrada
municipal EM 1160 até ao lugar da Ameijoeira Castro
1
Segundo a consulta do mapa Ligações em Entre Douro e
Minho nos finais do século XV , simplificado de C. “.
Ferreira de “lmeida, A Pobreza e a assistência aos Pobres na
Península Ibérica durante a Idade Média ,
M“TTOSO,
1997).
CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
50
em abundância, nomeadamente, lebres2. Celanova
merece uma explicação mais detalhada, que se
protelará até uma próxima secção deste artigo.
Em suma, os montes graníticos de Castro Laboreiro
afloram nas terras do Soajo e estendem-se até Celanova,
na Galiza, situando-se no Alto Minho interior. A
freguesia de Castro Laboreiro confronta-se a Norte, a
Este e a Sul com território galego, com uma área de 89
km2, sem contar com os 17 km2 de Lamas de Mouro, e
situa-se no aglomerado montanhoso da serra da
Peneda. As altitudes do território variam entre os 1100 e
os 500 m. A jurisdição ambiental, (relevante pela
vigilância e protecção da fauna e flora selvagens deste
território), está sob a tutela do Instituto de Conservação
da Natureza e Florestas (ICNF) e do Parque Nacional
Fig. 1: Localização do Concelho de Melgaço, em Portugal e no
Distrito de Viana do Castelo. Mapa base extraído do iGEO –
informação geográfica. Desenhado por Diana Carvalho.
da Peneda-Gerês (PNPG)3. O património histórico
arquitectónico da freguesia está sob a égide da Direcção
Geral do Património Cultural.
A
sua
composição
e
delimitação
geográfica
compreende também uma zona planáltica, com 30km
de
extensão,
pontilhada
por
um
vasto
legado
patrimonial (mamoas, antas, gravuras), e por cerca de
15 aldeias (ou lugares), de habitação de Verão,
intitulados de brandas. Em contraste, nos vales
escarpados localizam-se 19 inverneiras, lugares de
habitação de Inverno. Existem ainda 7 aldeias de
habitação
permanente.
Nestes
aglomerados
populacionais dispersos em redor da sede da freguesia
(a Vila), ainda é possível detectar traços de uma vida
quotidiana comunitária. Apesar de a historiografia
situar Castro Laboreiro na área compreendida entre
Douro e Minho, este território montanhoso contrasta
com os vales, planícies e colinas das zonas baixas: de
um lado, as que praticam uma agricultura intensiva e
formam zonas demográficas extremamente densas,
embora a maioria dos seus componentes se distribua
Fig. 2: Localização da U.F. de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro.
Mapa base extraído do iGEO – informação geográfica. Desenhado
por Diana Carvalho.
por pequenas unidades de exploração familiares e
autónomas, elas próprias compostas por retalhos
dispersos de campos muito divididos; do outro, as que
vivem em boa parte do pastoreio de gado miúdo em
terras pobres e inóspitas, onde se juntam em aldeias,
geográfica importante é Celanova (Ourense), distante
de Castro Laboreiro 45 km, terra que desde a formação
das monarquias do Norte tem vindo a exercer
influência sobre os territórios do Leporarium , uma das
designações latinas para o território: Laboreiro – do
Latim
Lepus ,
leporis,
leporem,
leporarium,
lepporeiro, leboreiro, que segundo as teses actuais
deriva de lebre , por se encontrarem nestas áreas caça
praticam uma agricultura intermitente apenas em
algumas épocas do ano, necessitam de manter laços de
forte solidariedade colectiva para organizarem o
trabalho e preservarem os mais caros meios de
2
3
RODRIGUES, 1996.
RESOLUÇÃO DO CONSELHO DE MINISTROS N.º 11A/2011, 4 de Fevereiro de 2011 – Regulamento do Plano
de Ordenamento do Parque Nacional da Peneda-Gerês .
In: Diário da República, 1ª série, N.º 25.
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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produção, como o forno, a eira, o moinho e o lagar.
dos povos suevos e visigodos alterou este panorama
(Mattoso, 1997, p. 143).
dando origem a uma maior concentração e dispersão
A fortaleza é principalmente acessível a pé, pois
dos núcleos habitacionais intercalares dessas duas
encontra-se situada no cume escarpado de um monte
regiões7. Neste contexto histórico, o território de Castro
granítico, a cerca de 1033mts de altitude4, sendo os
Laboreiro situou-se entre as cidades de Bracara
acessos Sul e Norte de características pedestres. No
Augusta e Lucus Augusti, fazendo uma transição
entanto o acesso motorizado ao início dos trilhos Sul
daquilo que seriam as duas grandes regiões citadas.8
e/ou Norte do monte do castelo é feito pela estrada
Mais
tarde,
após
a
vinculação
visigoda
ao
nacional 202-3 e pela estrada municipal nº 1160. O
cristianismo e sua definitiva ocupação do noroeste
acesso motorizado ao trilho pedestre Norte é feito pela
portugês, quando os reinos godos se confrontam com as
estrada lateral ao Núcleo Museológico de Castro
invasões muçulmanas,
Laboreiro. O trilho de acesso Sul dista do castelo cerca
admnistrativa introduzida e fixada pela implantação do
de 1 km, e o trilho Norte cerca de 600 m.
sistema paroquial com S. Martinho de Dume não podia,
a organização territorial e
no entanto, deixar de contribuir para dar grande solidez
2. Enquadramento histórico
à distribuição dos principais centros e dos povoados
2.1. O território
que deles dependiam.
A síntese histórica que se segue procura agregar em
Mattoso,
, p. 396).
Relativamente ao legado romano este encontra-se
linha cronológica os eventos que tiveram lugar na área
presente
territorial de Castro Laboreiro. Como nem sempre as
estratégicamente distribuídos em todo o território da
fontes permitem a elaboração de uma cronologia
freguesia10, pela Geira, situada na proximidade do
específica e linear, o texto que se segue situará o
território e pelo forte romano, “quis Querquennis
território no Norte peninsular, no noroeste hispânico,
Cidá , situado em ”ãnos, Concelho de Ourense, que
nas montanhas do Alto Minho interior, na Calécia, na
terá sido construído para vigiar uma das vias que ligava
Galiza e no território nacional, conforme foi possível
a Bracara Augusta e para controlar a região. Dada a sua
enquadrá-lo na historiografia, esperando que daqui
proximidade a Castro Laboreiro, este terá exercido
resulte uma brevíssima história local, prolongada no
influência sobre o território. Os vestígios suevos e
tempo, desde a ocupação humana deste território.
visigóticos (séc. V-VI) encontram-se na política pública
Enumeram-se também elementos patrimoniais das
(direito visigótico; vindo do baixo império romano), nas
diversas
por
liturgias e na arquitectura religiosa cristã. O povoado a
épocas,
funcionarem
que
como
subsistem
indicadores
até
hoje,
cronológicos
nas
váriadas
pontes 9
e
pavimentos
a
na
sudeste do castelo é um forte indicador da presença
ausência da informação documental e reforçarem a
destes povos, pois a quadratura das estruturas a par
existente.
com outros elementos exumados durante as escavações
Relativamente à ocupação humana do território de
arqueológicas revelam também presença romana e
Castro Laboreiro, sabe-se que desde a pré-história tem
visigótica, além da ocupação humana durante a idade
sido palco de sucessivas ocupações. Os vestígios
do ferro (Lima, 1996).
5
megalíticos de culto funerário situados no planalto a
As invasões muçulmanas de 711, diluem a ocupação
nordeste de Castro Laboreiro, o povoado castrejo a
sueva e visigótica e acentuam o carácter rural do
sudeste do castelo6, (cujas fundações datam da Idade do
território do noroeste hispânico, não por influência
Ferro), e outros elementos, como o altar da cremação do
directa, pois a economia dos grupos dominantes do
Alto da Cremadoura, assim o indicam. As escavações
norte peninsular baseava-se no intercâmbio dos géneros
arqueológicas locais desvelaram uma linha contínua de
e bens provenientes do saque e despojo militar
ocupação por vários povos, subsequentes a este período
resultante das constantes guerras, era incompatível com
e prévios à fundação da nacionalidade, como os
a economia urbana do Sul: tudo leva a crer que o váli
romanos, suevos e visigodos. Durante a época romana
havia duas grandes áreas, a bracarence, mais urbana e
civilizada, e a lucence, mais selvagem, contudo, a vinda
4
5
6
PINTOR, 2005; RODRIGUES, 1996.
LIMA, 1996; RODRIGUES, 1996.
LIMA, 1996.
7
8
9
10
MATTOSO, 1997.
Relativamente ao carácter lucense, mais selvagem , não
deveremos obliterar que este é um território montanhoso,
altamente florestado, e que esteve ocupado pelos povos
pré-celtas da Calécia, considerados não civilizados, mas
que foram igualmente romanizados.
LIMA, 1996.
LIMA, 1996; RODRIGUES, 1996.
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de Africa e os chefes árabes e sírios estivessem muito
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repovoamento , nas suas diversas expressões, fez
mais interessados nas cidades das antigas províncias da
também
Bética e da Tarraconense do que nas selvagens
montanhosas
montanhas
comunidades rurales se verían libres de presión,
do
Noroeste,
difíceis
de
militarmente e bem pouco rendosas
controlar
para
uma
economia monetária como a do mundo muçulmano
uso
da
presúria,
contudo,
do
Noroeste
peninsular
nas
zonas
algunas
pudiendo organizar sus espacios de producción de
forma más autónoma y con menor – o ninguna – carga
(Mattoso, 1997, p. 397). Contudo, a influência árabe no
fiscal. Se trataría de comunidades castreñas de montaña ,
território de Castro Laboreiro faz-se sentir através da
instaladas en castros de origen prerromano o romano,
toponímia11, do vocabulário12, das lendas13 e em
que se sitúan en el centro de un valle rodeado de altos
algumas práticas gastronómicas como o bolo da
montes, donde predomina el bosque y los pastos de
pedra14, entre outras influências de carácter mais
montanã
generalista como a numeração, por exemplo.
exemplifica com o caso de Castro Pelaggi (Valdoré),
Em meados do séc. VIII, as guarnições muçulmanas
mas
González,
também
, p. 24). Neste caso o autor
Mattoso
(1997)
refere
as
zonas
do Ocidente Peninsular, incluindo as da Galécia,
montanhosas do entre Douro e Minho (Peneda,
rebeleram-se contra os seus chefes por motivos
Laboreiro,
relacionados com injustas distribuições de terras, e por
Montemuro), como potencialmente excepcionais. Em
motivos religiosos. “s tropas colocadas na Galécia
suma, a Reconquista cristã, é um momento de
abandonaram as suas fortalezas e não se sabe sequer se
oportunidade que aproveita a debilidade das forças
voltaram a ser ocupadas. A sua revolta desencadeou
muçulmanas e que se inicia com as guarnições
uma guerra civil, que durou até
.
Mattoso,
Gerês,
Gralheira,
Cabreira,
Marão
e
, p.
visigodas refugiadas nas montanhas asturianas nesta
397). A debilidade da ocupação islâmica foi perturbada
altura organizados com os dirigentes do reino das
sobretudo na sua parte final pelo rei Afonso I (739-757
Astúrias sob o comando de Afonso I. Este é o processo
d. C. , das “stúrias. “s cidades
que desencadeia a formação das primeiras monarquias
reconquistadas
Crónica de Afonso III abrangem
do Norte peninsular que por sua vez darão origem ao
praticamente todos os centros urbanos de alguma
reino de Portugal. O período da reconquista foi
importância situados entre as montanhas cantábricas e
marcado por sucessivos avanços e recuos territoriais,
a margem sul do vale do Douro, onde se situam
mas nos finais do século IX, os reinos do Norte
também os montes do Laboreiro. A Crónica atribui-lhe
encontravam-se consolidados em três unidades, as
também a iniciativa de levar consigo para o Norte a
Astúrias (ou Leão), Galiza e Castela. A sua malha
população cristã de todas estas cidades . O chamado
administrativa estava parcelada em terras e estas eram
enumeradas na
15
atribuídas a um conde, para as governar. As sucessivas
11
12
13
14
15
Alcobaça, Lamas de Mouro (freguesias confrontadas a
norte e a noroeste com Castro Laboreiro.
Mandil – peça do traje feminino castrejo; género de
avental.
Também em Castro Laboreiro se falam de mouras
encantadas, embora as lendas tenham chegado por
intermédio de outras épocas cronológicas não deixam de
fazer parte de uma influência árabe tardia.
Massa de pão cozida contra uma pedra encostada à lareira
doméstica, colocada na parte de trás e na vertical.
Como qualquer outra fonte histórica, esta esteve sujeita a
condicionantes ideológicas do seu tempo, por isso, a sua
leitura
e
interpretação
devem
ser
cautelosas.
Relativamente ao repovoamento do território a Norte do
Mondego, a crónica apresenta algumas contradições:
primeira é que o reino da Galiza se mostrou resistente à
entrada das forças asturianas, a segunda é que os recursos
humanos disponíveis para a guerra e em simultâneo para
o repovoamento eram escassos, e em terceiro lugar, é
possível que o repovoamento tenha sido feito com os
recursos humanos já existentes nesta área geográfica,
utilizando a instituição da presúria: de que os textos
falam abundantemente na época, e ainda depois, até ao
fim do século XII. Trata-se portanto, da ocupação de solos
discórdias resultantes da formação dos reinos e do seu
desenvolvimento, tornaram a Galiza independente e
desmembrada em duas partes,
dando-se o sul a
Ramiro Ordóñez, que foi assim rei de Portugal antes
de herdar a totalidade dos domínios do seu pai, como
Ramiro II (931-
Marques,
, p. 26). Mais tarde,
o território entre o Lima e o Douro, ficou desagregado
da Galiza e entregue a um duque. Esta nova unidade
política tinha a sua sede em Portucale, sendo governada
por nobres locais destacados pelo reino de Leão e
estando vinculada politicamente aos seus interesses.
Aquando da consolidação do condado portucalense
surge D. Afonso Henriques (1139-1185), filho de D.
Teresa e do Conde D. Henrique, herdeiro deste
território. Em rebelia contra a mãe, inicia um processo
abandonados ou mesmo pertencentes a comunidades
locais, cujos direitos não eram reconhecidos pelos recémvindos e que eram apoiados pelos representantes da
autoridade régia Mattoso,
, p. 404).
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de desvinculação do reino de Leão. Com a sua ambição
as reformas do Antigo Regime, mantendo-se muito fiel
ao título de rex e eficaz expansão territorial, torna-se
à sua delimitação original. Com a Revolução Liberal,
vassalo da Santa Sé e não do imperador dos reinos
após 1832, Castro Laboreiro passa a integrar-se na
cristãos do Norte da Península, D. Afonso VII (1111-
Comarca de Ponte de Lima e mantem-se Concelho.
1157), tornando-o um soberano superior ao imperador.
Durante o período de estabilização, a partir de 1842,
É
Castro Laboreiro integra-se no Distrito de Viana do
neste
contexto
expansionista
que
D.
Afonso
Castelo e perde o estatuto de Concelho em 1855. Passa a
Henriques toma Castro Laboreiro.
Para este último período histórico, do século IX ao
ser Junta de Paroquia e posteriormente Junta de
conjunto de
Freguesia até 1974. Neste ano torna-se numa comissão
elementos que atestam a presença das monarquias do
administrativa, que terá duração de, aproximadamente,
Norte e da vinculação do território de Castro Laboreiro
2 anos, acabando depois por retomar o anterior estatuto
ao reino de Portugal, nomeadamente fontes históricas e
de Junta de Freguesia. A reforma administrativa de
elementos arquitectónicos, dos quais se falará mais
2013 consuma uma união política com a freguesia
adiante no artigo, principalmente de carácter militar e,
vizinha de Lamas de Mouro, formando a União de
em grande quantidade.
Freguesias de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro.
século XII
pode
mencionar-se
um
Após o primitivo período Afonsino, em termos
gerais, a admnistração do território de Castro Laboreiro
2.2. O castelo
entre o século XIII e século XIX , pertenceu à
Para uma melhor compreensão do tema, e também
Provedoria de Viana do Castelo, à Comarca de Barcelos
mais generalista, antes de prosseguir para o estudo de
16
(Casa de Bragança)17, era Comenda da Ordem de Cristo
caso, dá-se a palavra a Mário ”arroca: “ origem do
e situava-se na Província do Minho. Castro Laboreiro
castelo, na acepção restrita do termo, enquanto
foi instaurado como sede de Concelho em 127118.
estrutura muralhada definindo o pequeno espaço onde
Segundo os mapas consultados, a circunscrição do
se concentra uma guarnição de soldados, deve
território de Castro Laboreiro, alterou-se pouco durante
procurar-se nos primórdios da reconquista cristã,
encetada por D. Afonso I das Astúrias a partir dos
16
17
18
SILVEIRA, 1997.
Durante a investigação feita sobre o castelo, em contacto
com os arquivos nacionais, tomei conhecimento dos
seguintes documentos, localizados no arquivo da Casa de
Bragança, sito no Palácio de Vila Viçosa:
- Doação ao Duque de Guimarães da jurisdição dos
lugares de Melgaço e Castro Laboreiro. Datada de 24 de
Agosto de 1476.
- Doação ao Duque de Bragança, e de Guimarães, do
Padroado da Igreja de Castro Laboreiro. Datada de 23 de
Fevereiro de 1481.
- Doação ao Duque de Bragança D. Jaime, do lugar de
Melgaço e Castro Laboreiro [com seus castelos rendas e
direitos], e do Castelo de Piconha. Datada de 23 de Junho
de 1496.
- Foral da Vila de Castro Laboreiro dado por El-rei D.
Afonso conde de Bolonha. Datado de 20 de Novembro de
1513.
- NG. 702 / 1478-1537 pergaminho. CB-SF- CA-0001 com o
título Doação do Castelo… f.
a
e um traslado deste
documento datado de 1778.
- Aforamento num traslado de 1756 subscrito por Manuel
da Maia, encontrado neste primeiro proc.º a f. 3 está a
Carta del Rey D. “ffonso º porq fés mercê ao Marques
de Vila Viçosa, Conde de Arrayolos dos Castelos de
Guimaraes, Melgaço, Castro Laboreiro, e Piconha com
todas suas rendas direitos, pertenças e jurisdições, Dada
em Lixboa a de setembro de
.
- Entre outros documentos, referidos mais à frente neste
artigo, na secção referente ao período de decadência do
castelo (séc. XVI-XVIII).
RODRIGUES, 1996; DOMINGUES, 2003.
meados do século VIII. No entanto, no estado actual
dos nossos conhecimentos, é ainda difícil localizar com
precisão no tempo o aparecimento destas novas
estruturas.
Sabemos
que
o
Entre-Douro-e-Minho
possuía, nos finais do século X e no século XI, uma rede
bastante densa de castelos, na sua maioria fruto da
iniciativa das populações locais
”arroca,
, p. 91).
Foi nesta rede de estruturas defensivas, designados nas
fontes por monte, alpe ou castro, que as populações
procuraram abrigo das sucessivas investidas de outros
povos, até se formarem os reinos das monarquias do
Norte.
“ partir del siglo XI se percibe una mayor
jerarquización de los centros de poder feudal, una
mayor capacidad de control y ordenación de los
territorios
(commissa,
mandationes,
terras,
alfoces...),
parejo a una mayor implantación del dominio sobre los
hombres y sobre la producción agraria. La acción
señorial no se produce en el noroeste con formas de
incastellamento similares a las de otros ámbitos
mediterráneos, sino mediante la erección de peqeños
castillos y recintos amurallados y dotados de torres,
encaramados en altos cerros dominantes sobre el
entorno o territorio (político, fiscal, administrativo)
(González, 2001, p. 26). Em suma, o formato de
fortaleza medieval que hoje nos é comum, resulta de
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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e
de Santiago de Compostela, governador do Val del
concentração de territórios sob a égide de um dirigente
Limia23, o qual procura dotar a região norte de Portugal
cuja administração e defesa só poderia ser feita com
e a Galiza de fortificações que impedissem as investidas
devida organização, em torno de um único símbolo de
dos Árabes e Normandos, e Castro Laboreiro terá sido
poder, como se verifica com o primitivo castelo
uma destas fortificações (Noe, 2015).
uma
progressiva
roqueiro
de
centralização
Castro
Laboreiro,
de
e
poderes
seu
posterior
Em 1141, D. Afonso Henriques (1139-1185) havia
refinamento. O castelo é um elemento fundamental
invadido a Terra de Toronho (território fronteiriço à
para a compreensão da dinâmica política, económica,
linha do Minho e que tinha Tuy à cabeça), acção bélica
social e militar de um território. A contextualização
que conduziu a invasão do Minho por parte das forças
histórica e arquitectónica de um castelo tem vários
leonesas e à subsequente tomada do Castelo de Castro
níveis de estudo e interpretação. As informações estão
Laboreiro que, à data, era uma estrutura roqueira
dispersas, a cronologia da sua actividade é extensa,
assente sobre os vestígios de uma velha povoação da
carecendo
de
Idade do Ferro.24 D. Afonso Henriques conquista o
investigação19. Por isso, os parágrafos seguintes,
castelo de Castro Laboreiro tendo recebido da abadessa
sugerem um enquadramento do Castelo de Castro
do
Laboreiro concebido a partir de algumas fontes
mantimentos para esta empresa. Deverá ter concedido
bibliográficas, focando as linhas dominantes da história
foral a povoação, nesta altura, no entanto este tema tem
nacional, como os reinados e principais eventos
sido alvo de discussão e debate25, dado que o foral está
militares, e menos a evolução administrativa e
desaparecido, (bem como outros documentos do
económica
cartulário
de
um
do
trabalho
território
aprofundado
e
das
sociedades.
Convento
de
de
Paderne
Fiães,
da
(Melgaço),
mesma
mulas
época),mas
e
é
É imperativo relacionar os grandes feitos militares dos
repetidamente invocado26, e sendo o seu conteúdo
reis portugueses com as consequências na arquitectura
comparado ao de Sahagún. (O mesmo problema ecoa
militar, em geral e em particular com o estudo de caso,
relativamente ao foral de Melgaço, concedido por D.
uma vez que Castro Laboreiro, durante vários séculos
Afonso Henriques).
foi na sua essência uma povoação fronteiriça, guerreira,
destinada
à
protecção
dos
seus
limites
e
da
nacionalidade.
A fortificação é alvo de intervenções na sua
arquitectura nesta época porque passa a integrar as
linhas de defesa fronteiriças de entre Douro e Minho,
enquanto sentinela dos acessos fronteiriços terrestres
As origens
entre o reino português e a Galiza27. Contudo, não se
Relativamente às origens administrativas do castelo
sabe exactamente quais nem em que datas se foram
de Castro Laboreiro, um pouco anteriores ao reinado de
introduzindo os elementos que conhecemos a partir dos
D. Afonso Henriques, as referências são escassas, no
alçados e plantas de Duarte de Armas (séc. XVI)28,
entanto um documento de 1007 do Mosteiro de
Celanova20, refere Vitiza (séc. VIII-IX) enquanto conde
deste território21. Vitiza rebelou-se contra o rei Afonso
23
III das Astúrias (866-910), mas foi derrotado pelo Conde
D. Hermenegildo (842-912), parte das forças Galegas22,
que por este acto foi colocado na regência do território
de Castro Laboreiro. No entanto, apenas na regência do
seu neto São Rosendo (907-977), é que o local de
implantação do actual castelo sofrerá alterações. Mais
24
precisamente no ano de 955, D. Ordonho III, rei de
25
Leão, nomeia-o bispo de Mondonhedo e administrador
19
20
21
22
Por exemplo, as chancelarias régias, as notícias de obras
em castelos presentes em actas de vereação, e a bibliografia
existente, que remeta para assuntos de fronteira com
carácter histórico e militar.
SÁEZ, 1948.
RODRIGUES, 1996.
Durante o repovoamento de Afonso III (848-910), rei das
Astúrias.
26
27
28
[...] fundado por São Rosendo, que recebeu do Rei de Leão e
Castela, a seguinte ordem: Ordoño Rey, “l Padre y Señor
Rosendo Sabed Eu El Señor. Por El Mandato Sereníssimo de este
nuestro decreto te encargamos El Govierno de La Provincia que
mandó tu padre y terrenos adyacentes hasta la mar, de suerte
que todos concorram alli a obedecerte em cosas de nuestro
servicio y canto dispongas lo cuplam, sin excusa ninguna. Dado
el 19 de Mayo de 955. (Rodrigues, 1996, 85).
ALMEIDA, 2002.
DOMINGUES, 2003.
Acerca dos forais concedidos a Castro Laboreiro, conhecese o foral de D. Manuel I26. Este foral invoca o de D.
Sancho I e de D. Afonso III, e repete algumas das suas
instruções, mas dos quais também não se conhece a
localização.
GONÇALVES, 2012.
D. Manuel determinou que o seu escudeiro Duarte de
Armas registasse as fortalezas que assinalavam a soberania
portuguesa junta da raia de Castela. Em 1509-1510, o
excelente desenhador executou a tarefa. E deixou-nos uma
descrição gráfica (com aceitáveis distorções) das fortalezas
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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sendo estes do período que em História de Arte se
activa, proporcionando à guarnição do interior do
denomina de gótico.
castelo atacar e defender. A localização das torres de
menagem é repensada e estudada para se adossar ao
A influência muçulmana
pano da muralha. As suas plantas são reestruturadas
Neste período, entre o século VIII e o século XII a
para outros formatos poligonais, além do quadrangular
influência muçulmana foi indirecta, como já se referiu, e
ou rectangular, favorecendo a sua operacionalidade
mais relacionada com a política de organização do
para atacar e defender. Multiplicam-se as torres
espaço e na cultura da população.
adossadas ao pano de muralha e os seus ângulos,
Mais tarde, as influências muçulmanas fazem-se
aperfeiçoando a vigilância. Introduzem-se sistemas de
sentir através de inovações que tiveram grande impacto
tiro vertical garantidos através da instalação de balcões
na arquitectura militar e maior influência nos elementos
com matacães (fig. 8), nas torres ou por cima das portas.
arquitectónicos do castelo de Melgaço (situado a 26 km
Aparecem as barbacãs, que permitem oferecer um
de Castro Laboreiro) visíveis, por exemplo, na couraça:
primeiro obstáculo aos atacantes, anterior ao pano da
Introduzindo uma complexa nomenclatura ligada à
muralha.
As
portas
passam
a
ter
uma
maior
arquitectura militar, como o adarve ou a cárcova, são
importância e são ladeadas ou encimadas por torreões.
generalizdas nessa época as torres-couraça de acesso à
Alargam-se os adarves e as ameias, facilitando a
água, que permitiam a uma cidade com milhares de
movimentação e protecção das guarnições31.
habitantes resistir durante vários meses ao cerco mais
apertado.
Mattoso,
, p. 363). Castro Laboreiro
herdará pouco do seu legado.
Muitos destes elementos estão presentes no recinto
Norte do castelo de Castro Laboreiro, sendo alguns
deles visíveis na planta desenhada por Duarte de
Armas (séc. XVI), e outros ainda hoje estão visíveis nas
ruínas do monumento. Isto significa que o castelo de
Entre os sécs. XII-XV
D. Sancho I (1185-1211) perde o domínio sobre os
Castro Laboreiro fez a transição de uma estratégia
castelos fronteiriços de Melgaço e Valença , mas
passiva de defesa, própria do castelo românico, para
durante este período sabe-se que o Castelo de Castro
uma estratégia activa, própria do castelo gótico. 32 Se
Laboreiro se manteve do lado português, sobrevivendo
este castelo, fronteiriço, teve necessidade contínua de se
às hostilidades entre D. Sancho I e Fernando II de Leão,
adaptar às circunstâncias de defesa do território,
nas fronteiras do Norte (Minho e Trás-os-Montes). D.
significa que a sua relevância para a defesa do território
Sancho I, concede novo foral a Castro Laboreiro,
nacional não pode ser ignorada.
29
(também desaparecido).
D. Dinis (1279-1325) dá sequência à demarcação do
É digno de nota que D. Afonso III lançou os
território, à territorialização do poder político e à
alicerces de um projecto que articulava a defesa da
fortificação dos castelos33, conforme acontece com a
fronteira do Minho com a edificação de uma armadura
muralha dionisina de Castro Laboreiro.34 Esta muralha
militar composta por várias silhuetas de castelos, que o
previa o abrigo da população civil quando necessário e
seu filho D. Dinis iria concretizar30.
também do gado, revelando a grande importância da
É
neste
século
que
Castro
Laboreiro,
terra
actividade pastoril nesta área para a sobrevivência da
fronteiriça, recebe o estatuto de sede de Concelho,
podendo ser um indicador de que também a
administração da fortaleza tenha beneficiado das
preocupações régias.
É D. Afonso III (1248-1279), pai de D. Dinis, o
31
32
responsável pelo introdução de algumas novidades
arquitectónicas nas fortalezas do reino, pois durante a
sua estadia em França teve a possibilidade de analisar e
compreender as influências vindas do Norte da Europa,
a corrente gótica militar, que torna a fortaleza mais
29
30
que defendiam passagens eventualmente mais vulneráveis
entre Portugal e Castela. Mattoso,
.
VENTURA, 1998.
VENTURA, 1998.
33
34
MONTEIRO, 1999.
O facto de as ameias não constarem, hoje, no pano de
muralha, deve-se ao facto de esta ter sido uma das poucas
alterações feitas à fortaleza aquando da introdução das
armas de fogo.
VENTURA, 1998.
O tratado de Alcanices é uma referência da maior
importância para este período, pois é parte da estratégia
defensiva do rei D. Dinis, onde se pretendem fixar
fronteiras entre Leão, Castela e Portugal. É este tratado que
confere a Portugal a delimitação mais próxima da que hoje
é conhecida. Também a Crónica de 1419 refere o castelo de
Castro Laboreiro como sendo uma das fortificações a
renovar (Mattoso, 1997).
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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população35. Esta situação atesta a tese de José Mattoso
bombardas .38 A introdução das armas de fogo
e Carlos A. Ferreira de Almeida, de que o século XIII
subjugou a arquitectura das fortalezas adaptadas para a
terá sido um século de transição para a forma de defesa
defesa
das comunidades, deixando de viver fortificadas em
significativas para defesa dessas armas foram o
castros ou em redor de pequenos castelos roqueiros,
alargamento dos panos das muralhas e a remoção das
para centros urbanos, vigiados por castelos que lhes são
ameias, de forma a diminuir a silhueta do alvo e a
altaneiros.
resistir aos impactos da pirobalística, a construção de
O reinado de D. Dinis, consolida e assegura o poder
barreiras
tradicional.
avançadas,
As
transformações
barbacãs
mais
e antemuros,
que
nas fronteiras. Os reinados de Afonso IV (1325-1357) e
ofereciam um primeiro obstáculo à artilharia inimiga, a
D. Pedro I (1357-1367), são marcados por prosperidade
adopção de
e pelo alargamento das fronteiras atlânticas uma vez
reforçando a capacidade de resistência a projécteis, a
que Afonso III e D. Dinis tinham assegurado a
modificação dos ângulos dos muros proporcionando o
soberania e independência nacional nas fronteiras
ressalto dos projécteis, e também o recurso a fossos ou
terrestres, permitindo que a administração régia
cavas mais profundos. No estudo de caso verificou-se
folgasse por outros horizontes36. Quer-se com esta
apenas a remoção das ameias, mais como medida de
citação demonstrar que os reinados anteriores de D.
prevenção do que preparação para o ataque, para evitar
Afonso III e D. Dinis, promoveram a segurança das
os estilhaços provocados pelo impacto dos projécteis na
fronteiras, deixando outros caminhos da administração
eventualidade de uma guerra no local.
em aberto para desenvolvimento e evolução.
D. Fernando I (1367-1383) dá continuidade ao
formas
circulares
para
os
torreões
Para o acolhimento das armas dentro do recinto do
castelo medieval, as transformações foram outras,
desenvolvimento económico marítimo, mas termina o
nomeadamente a abertura de troneiras,
seu reinado colocando a independência do reino de
redondos, destinados à adaptação de bocas de fogo de
Portugal em causa, voltando a instalar-se a insegurança
diâmetro adequado
nas fronteiras . Particularmente, a muralha do castelo
construção de casamatas,
de Castro Laboreiro beneficia de um reforço no reinado
rasgadas nos próprios muros e destinadas a alojar
de D. Fernando.
novas peças de artilharia
37
buracos
nos muros das estruturas, a
estruturas abobadadas
Monteiro,
, p. 38).
Sucede-lhe D. João I (1385-1433), e no período da
Nos reinados seguintes ao de D. João I, o
sua regência, destaca-se uma informação relativa ao
investimento régio é feito em acordos de paz e nos
posicionamento político de Castro Laboreiro pelas
descobrimentos além-mar, pondo à margem das
forças do rei português. É no reinado de D. João I, e
atenções a armadura castelar das fronteiras terrestres.
pelo engenho do condestável Nun´Alvares Pereira, que
Período de decadência
o reino de Portugal se reafirma novamente nas
Castro Laboreiro mantém-se português até ao
fronteiras terrestres. A partir do século XV encontra-se
domínio dos Filipes, passando para domínio espanhol
documentação no arquivo da Casa de Bragança, em
com a perda da independência no século XVI39. Durante
Vila Viçosa, que atestam sucessivas doações régias, de
alguns domínios deste território e respectivo castelo,
38
aos duques de Bragança. Esta prática perdurará até ao
século XVIII.
É também a partir deste período que se inicia a arte
da guerra com armas pirobalísticas embora ainda muito
rudimentares e pouco eficazes, como os trons ou as
35
36
37
De uma maneira geral, o pequeno castelo senhorial não prevê o
abrigo de população civil dentro do seu perímetro, preferindo
reservar-lhe espaços anexos, igualmente dotados de muralha.
Vemo-los, por exemplo em Castro Laboreiro, Aguiar da Pena,
Moreira de Rei ou Montemor-o-Velho. (Barata e Teixeira
(dir.), 2003, p. 112)
Neste ponto poderá estabelecer-se alguma relação com o alto
relevo da figura n. º 33.
GONÇALVES, 1998.
VENTURA, 1998.
39
Relativamente à introdução das armas de fogo e da
artilharia pesada nos castelos, a acta da comunicação de
Fernando Cobos Guerra feita no Simpósio Internacional
sobre Castelos (2001), intitulado “rtillería y fortificación
ibérica de transición a
pp. 677-696), merece
referência.
Durante a investigação das fontes relativas ao castelo de
Castro Laboreiro, neste período (século XVI-XIX), e dos
contactos estabelecidos com os arquivos nacionais,
resultou o conhecimento de que a Casa de Bragança
dispõe no seu arquivo, sito no Palácio de Vila Viçosa, dos
seguintes documentos históricos:
- Doação ao Duque de Bragança D. Teodósio das vilas de
Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila
Franca, e Nogueira com seus Castelos, Padroados etc.,
datado de 27 de Junho de 1542.
- Carta D. Sebastião porque confirmou ao Duque de
Bragança. D. João I a mercê que tinha para no caso que por
sua morte lhe não ficasse filho nem filha pudesse o seu
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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este período principia-se a sua decadência. O novo
Embora a data da restauração da independência de
alcaide espanhol do Castelo de Castro Laboreiro
Portugal seja Dezembro de 1640, Castro Laboreiro só se
descreve a fortaleza como estando povoada de
gralhas
Noe, 2015).
reintegra no território português em 1666, durante a
guerra. Em 1659 o castelo sofre um acidente que
provoca a destruição de parte da sua estrutura. No
irmão mais velho suceder nas Vilas de Monforte, Melgaço,
Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com
seus Castelos, rendas, direitos, e padroados com mero
misto império, e com as jurisdições e privilégios que têm
as mais terras do Estado de Bragança. Datada de 25 de
Abril de 1578.
- Alvará de Filipe I pelo qual confirmou ao Duque de
Bragança D. Teodósio II as vilas de Monforte, Melgaço,
Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com
seus Castelos, Padroados de Igrejas, rendas, e direitos, que
tudo tinha sido dado a seu Avô em casamento. Datado de
23 de Novembro de 1590.
- Carta de Filipe II porque fez mercê ao Duque de
Bragança D. Teodósio II de lhe tirar por duas vezes fora da
lei mental as Vilas de Monforte, Melgaço, Castro
Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira. Datada de 30
de Abril de 1602.
- Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de
Bragança D. Teodósio II as Vilas de Monforte, Melgaço,
Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira, duas
vezes fora da lei mental, e que possam suceder nas ditas
terras os ascendentes mais chegados, e ainda os colaterais.
Datada de 9 de Setembro de 1627.
- Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de
Bragança D. Teodósio II as Vilas de Monforte, Melgaço,
Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e Nogueira com
seus Castelos, Padroados de Igrejas, rendas, e direitos com
mero e misto império. Datado de 26 de Maio de 1627.
- Carta de Filipe III pela qual confirmou ao Duque de
Bragança D. João II depois Rei de Portugal 4.º do nome, as
Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha,
Vila Franca, e Nogueira com seus Castelos e com todas as
suas rendas, direitos, e padroados de Igrejas, e mero
emisto império. Datado de 22 de Março de 1639.
- Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de
Bragança D. Teodósio II a carta de mercê que tinha para
que não tivesse filho herdasse a filha as terras de Monforte,
Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha, Vila Franca, e
Nogueira, e no caso de não haver filho, nem filha
passassem ao Irmão mais velho do Duque que falecesse.
Datada de 1 de Junho de 1627.
- Carta de Filipe III porque confirmou ao Duque de
Bragança D. João II [futuro rei D. João IV] a mercê que
tinha sua Casa para que em falta de filho ou filha pudesse
o irmão mais velho do mesmo Duque herdar e suceder as
Vilas de Monforte, Melgaço, Castro Laboreiro, Piconha,
Vila Franca, e Nogueira com todas as suas rendas, direitos,
jurisdições, castelos, e Padroados de Igreja sem embargo
da lei mental. Datada de 23 de Maio de 1639.
- Privilégios concedidos pelos senhores reis deste reino aos
moradores do Concelho de Castro Laboreiro, insertas em
uma certidão feita no dito concelho. Datados de 11 de
Fevereiro de 1664.
Entre outros documentos de aforamentos, privilégios,
cartas, doações e forais datados desde o século XV ao
século XVIII, que podem contribuir para uma melhor
compreensão da administração territorial e do período de
decadência do castelo de Castro Laboreiro.
ponto mais elevado do castelo, onde hoje se encontra o
marco geodésico estava a antiga torre de menagem, que
foi atingida por uma descarga eléctrica, no dia 18 de
Novembro, provocando o incêndio do paiol da pólvora
armazenada no seu interior. Este facto está descrito
num documento da Torre do Tombo, livro n.º 51, folha
5.40 Quatro metros a sul da muralha que se encontra a
meio do recinto, estava uma capela cuja parte superior
foi também destruída com a queda da Torre de
Menagem. A partir de 1715 estabelece-se um período de
paz e o castelo é utilizado para outros fins que não
militares. Apenas no contexto das invasões francesas
retoma-se a sua defesa e utilização militar com apenas
quatro peças de artilharia, contudo, esta era uma
fortaleza já muito debilitada. Durante o período das
Invasões Francesas (séc. XVIII-XIX), planeou-se que o
castelo de Castro Laboreiro se integrasse no plano
defensivo da fronteira do Minho, que se estendia desde
a Raia Seca até Caminha. Para a zona entre Melgaço e a
Ponte das Várzeas previu-se a construção de uma linha
de baterias "feitas com parapeito em terra, próprias para
receber soldados armados com armas ligeiras, mas também
onde se poderiam colocar peças de artilharia" (Almeida,
2002, p. 193). Contudo, após a frustrada travessia do
Minho, em Cerveira e Caminha, em 1809, Soult (17691851) opta por entrar em Portugal por Chaves, pelo que
aquele plano defensivo não chegou a ser concretizado.
Em 1809, o castelo é abandonado por deixar de ter
40
“os dezoito dias de Novembro de
, que foi uma
terça-feira, às nove horas da manhã, caiu um raio na Torre
do Castelo que servia de armazém de pólvora e fez a
maior ruína que se sabe, pois da Torre e mais partes acessórias
não ficou pedra sobre pedra e deste grande prodígio se vê
claramente ser grande castigo do céu que Deus mandou para
castigar pecadores que dentro deste Castelo estavam nesta
grande desventura se viram grandes milagres. O primeiro a
escapar foi o Governador Gaspar de Faria com a sua mulher e
mais família, estando na parte mais arriscada, pois aí removeu a
muralha da Torre; as suas casas e as fez em pedaços e aí estavam
e aí escapou com mais segurança e castigou o que na Ermida não
podia ficar pedra sobre pedra, pois caiu toda a Torre sobre ela e
ficou Nossa Senhora dos Remédios aí me recolhi, sem cobertura,
sem água, ficando debaixo toda a máquina. Terceiro Milagre; Foi que escapou um Escrivão do Governador debaixo desta ruína,
sem avaria e são. Nesta desventura morreram – Gaspar Lima de
Castro, Escrivão das Décimas e Sisas e Treslados; e um mulato
seu criado, por esse nome Marcos, natural de Tangil e um
míudo, criado do Governador, por nome de Gaspar de Medela e
dois soldados. (Rodrigues, 1996).
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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importância estratégica, acelerando-se o proceso de
3. Arquitectura
ruína devido à remoção de pedra para construção de
A orografia do terreno para a implantação das
casas (Noe, 2015). Mantém-se abandonado até meados
fortalezas impunha-se muitas vezes aos planos de
do século XX, quando se dá a sua conceptualização
arquitectura medieval. Neste caso toda a envolvência
patrimonial e se reveste a fortaleza de novos conceitos
geográfica do monte onde se encontra implantado o
e actos de protecção.
Castelo de Castro Laboreiro contribui para a sua
41
Fig. 3: Localização do morro do castelo em relação à área
da Vila de Castro Laboreiro. Extraído da carta militar
portuguesa n.º 004.
Fig. 4: Vista Norte sobre o morro do castelo.
41
São vagas as informações acerca da vida administrativa
deste castelo nos vários reinados, e por esse motivo
salientaram-se apenas os momentos mais importantes.
exemplar função defensiva e vigilante. Implantado num
local
quase
inacessível,
escarpado,
cercado
de
vegetação e confrontado a Este com um vale profundo
onde passa o rio Laboreiro, era comum utilizarem-se
maioritariamente mulas ou homens apeados para o seu
acesso, uma vez que os carros de bois e outros veículos
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
Fig. 5: Acesso Sul da fortaleza. 1 Vista Norte. Fotografia de Diana
Carvalho.
59
Fig. 7: Acesso Norte da fortaleza.
Fig. 8: Porta da traição ou comumente chamada do sapo . Vista
Nordeste. Fotografia de Ilídio Gonçalves.
Fig. 6: Porta principal, ou comumente chamada do Sol , virada
a Este. Vista Oeste. Fotografia de Diana Carvalho.
teriam graves dificuldades em escalar a montanha pela
amuralhado definitivamente e não se sabe se manteve
quantidade
os obstáculos atrás mencionados.
de
irregularidades
presentes
no seu
pavimento e nas suas paredes naturais.
As escadas de acesso Norte (fig. 7), eram íngremes e
Os acessos à fortaleza tinham diferentes formas de
estreitas, obrigando os seus utentes a subirem em fila
dificultar a subida e a penetração a guarnições inimigas.
única, e por isso, era um acesso naturalmente resistente.
O acesso a nascente, dispunha de obstáculos artificiais,
A arquitectura actual do castelo aponta para uma
constituídos por três tipos de muralhas toscas,
estética
românica42,
embora
o
resultado
das
levantadas em sistemas de estacas, de várias toneladas
de peso. A partir do reinado de D. Dinis este circuito é
42
BARATA E TEIXEIRA (dir.), 2003; MONTEIRO, 1999;
MAZA e GULBENKIAN, 2001.
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
60
Fig. 9: Vista Norte sobre a porta da traição e sobre a área de implantação da cisterna (círculo branco). Fotografia de Diana Carvalho.
intervenções no reinado de D. Dinis e mais tarde no de
de água. Na impossibilidade de se alcançar os lençóis friáticos
D. Fernando, permita encontrar alguns elementos de
criaram-se cisternas para armazenar água, nalguns casos com
estilo gótico que proporcionaram à fortaleza uma maior
engenhosos sistemas de canalização
capacidade de ataque.
2003, p. 112).
”arata e Teixeira,
Relativamente às portas do castelo, a porta a sul da
Ao lado da cisterna estava a torre de menagem43. O
torre de menagem (figs. 17 e 18) deveria ser a primitiva
seu local de implantação encontra-se actualmente
entrada principal, deixando a da traição (fig. 8) como
ocupado por um marco geodésico (fig. 10).
isco para os invasores, pois esta encontra-se visível do
território circundante, estando dotada de um balcão
com matacães e sendo apenas perceptível o enorme
fosso entre esta e o caminho de acesso Norte, aquando a
escassos metros da muralha.
Neste recinto (praça de armas), encontrava-se uma
cisterna (fig. 9) localizada a norte da antiga torre de
menagem, destinada à recolha e armazenamento da
água da chuva.
Desde meados do século XI, quando
começam a triunfar as grandes operações de cerco, dá-se
especial atenção ao aprovisionamento de água. Os pátios
começam a ter poços ou cisternas. A opção preferível era,
naturalmente, o poço, garantindo o abastecimento autónomo
43
Não podemos apontar com segurança em que época
aparece pela primeira vez entre nós. Todavia, em França e
noutras regiões da Europa, esta construção, herdeira dos
donjons senhoriais do século XI, surge nos finais desse
século e princípios do seguinte. Em Portugal é possível
que date da primeira metade do século XII, talvez por
influência dos cavaleiros francos que, a partir de 1096 e em
diversos momentos, vieram auxiliar o conde D. Henrique
e, mais tarde, D. Afonso Henriques na empresa da
Reconquista. Todavia, não podemos apontar nenhum caso
seguro desta época. Os exemplos datáveis mais antigos
pertencem ao terceiro quartel do século XII e foram todos
erguidos pelos Templários. Referimo-nos às tores de
menagem de Tomar (1160), Pombal (1171), Almourol
(1171), Penas Róias (1172) e Longroiva (1174), todas
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61
A torre de menagem românica foi entendida como
um verdadeiro castelo dentro de um castelo , o último
reduto de defesa da guarnição e da população, estando
por isso isolada dentro do recinto, normalmente ao
centro da praça de armas, detendo a cota mais elevada
em relação à restante estrutura, podendo
comandar
todos os restantes dispositivos do castelo . O mesmo se
44
passando com o estudo de caso.
Adossada à torre de menagem do castelo de Castro
Laboreiro está um anexo ou alpendre (fig. 13), conforme
se verifica na planta desenhada por Duarte de Armas.
As
funções
deste
apêndice
poderiam
ser
de
armazenamento de armas ou provisões alimentares.
Fig. 10: Marco geodésico situado no anterior local de implantação da
torre de menagem. Fotografia de Diana Carvalho.
A sul da torre de menagem encontra-se uma
muralha (figs. 17 e 18). Esta muralha tem uma porta a
meio, a já mencionada porta a sul da torre de menagem.
De cada lado da muralha foi construído um torreão de
defesa (figs. 14 e 15).
Fig. 11: Vista Sul sobre o Castelo de Castro Laboreiro (Duarte de
comemoradas por epígrafes. Como já tivemos
oportunidade de sublinhar noutros estudos, o simples
facto de Gualdim Pais, mestre dos Templários em
Portugal, se ter preocupado em mandar gravar estas
inscrições sugere que deviam ser inovações prestigiantes.
(Barata e Teixeira (dir.), 2003: 112)
Armas). – retirada do blog Entre o Minho e as Serras
44
BARATA e TEIXEIRA (dir.), 2003.
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62
Fig. 12: Vista Norte sobre o Castelo de Castro Laboreiro (Duarte de
Armas). – retirada do Arquivo On-line da Torre do Tombo (Digitarq
TNT)
Fig. 13: Planta da fortaleza de Castro Laboreiro, desenhada por Duarte
de Armas (séc. XVI) – retirada do Livro das Fortalezas, de Duarte de
Armas.
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63
Na transição do recinto Norte para o recinto Sul
encontra-se a referida antiga porta principal (figs. 17 e
18), (digna de conta pelos motivos que se apresentarão
no final desta secção do artigo).
Relativamente ao recinto sul, cercado pela muralha
dionisina e fernandina, encontram-se vários elementos
relevantes para a compreensão do funcionamento deste
recinto. A porta virada a Este, ou regularmente
chamada
porta do Sol
fig.
, reconverteu-se em
porta de acesso principal, relativamente à sua anterior
entrada, a porta a sul da torre de menagem que vemos
nas figuras anteriores. A cerca de vinte metros da nova
entrada principal, aparece uma porta estreita que dá
para uma fenda entre duas rochas, também orientada a
Este, pela qual se chega a uma fonte de água fresca, que
abastecia o castelo. Hoje esta nascente está seca.
Fig. 14: Alicerces do torreão Oeste (praça de armas). Fotografia de
Diana Carvalho.
Fig. 15: Alicerces do torreão Este (praça de armas). Fotografia de Diana
Carvalho.
Fig. 16: Ruínas da torre intermédia entre a porta da traição e o torreão
Este. Fotografia de Diana Carvalho.
Fig. 17: Ruínas da muralha de transição entre o recinto Norte e o
recinto Sul. Vista Norte. Fotografia de Diana Carvalho.
Fig. 18: Ruínas da muralha de transição entre o recinto Norte e o
recinto Sul. Vista Sul. Com elemento humano para escala. Fotografia
de Diana Carvalho.
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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No percurso das muralhas, subia-se ao adarve pelas
escadas de pedra, situadas ao lado da porta principal
(fig. 21) e mais a Norte, ao lado das ruínas da capela
(fig. 28).
Na extremidade do ângulo do sul, existe uma gruta
natural, na qual se podem abrigar várias pessoas.45
Ainda dentro deste recinto estão visíveis vários
alicerces e ruínas (figs. 23, 24, 25, 26 e 27), que poderão
ter tido uma função habitacional, militar e/ou religiosa,
para a guarnição do castelo. Para começar, a gruta
natural visível nas figuras 22 e 24, sustentava uma torre
(fig. 23).
Fig. 22: Vista sobre a porta da água círculo menor , a porta do sol
(círculo maior), e a gruta natural (quadrado). Fotografia de Diana
Carvalho.
Fig. 19: Porta do Sol , vista do interior do recinto Sul. Fotografia de
Diana Carvalho.
Fig. 23: Alicerces da torre sustentada pela gruta natural. Com
elemento humano para escala. Fotografia de Diana Carvalho.
Fig. 20: Porta do Àgua , vista do interior do recinto Sul. Fotografia de
Diana Carvalho.
45
Fig. 21: Escadas de acesso ao adarve. Fotografia de Diana Carvalho.
ALMEIDA, 1987; LIMA, 1996; RODRIGUES, 1996; ALVES,
1987.
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Fig. 24: Alicerces de um edifício ao lado da gruta natural. Fotografia
de Diana Carvalho.
Fig. 26: Vista Sul sobre as mesmas estruturas. Fotografia de Diana
Carvalho.
Fig. 25: Vista Norte sobre as estruturas postas a descoberto pelas
intervenções arqueológicas no Castelo. Fotografia de Diana Carvalho.
Fig. 27: Detalhe das escadas de acesso ao adarve a nordeste do recinto
Sul. Situam-se a Este da capela, no interior das estruturas e no pano
de muralha. Fotografia de Diana Carvalho.
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Fig. 28: Vista Norte sobre as ruínas da capela. Fotografia de Diana
Carvalho.
66
Fig. 29: Parte Este da Muralha dionisina. Fotografia de Diana
Carvalho.
Por último, a muralha é o elemento que consolida o
de porta, uma vez que a porta principal orientada a
conjunto de estruturas que compõem o castelo. Um
nascente possui um espaço que permitiria a sua
outro aspecto
importante a considerar tem que ver
construção, mas tal não aconteceu. Pequenos cubelos
com a configuração geral das fortalezas, isto é, com a
também seriam possíveis, no entanto, a planta
sua volumetria e com o desenho das suas muralhas.
desenhada por Duarte de Armas, apenas nos revela
Recordaremos que estas eram geralmente fabricadas em
torres de formato quadrangular. No entanto, a
pedra, sendo concebidas para resistir, não só ao tiro
existência do adarve, ou caminho de ronda (elemento
directo dos engenhos adversários, como também às
comum , confirma a sua influência.
operações de escalada dos muros ou aos trabalhos de
«adarve» deriva do árabe ad-darb, «o caminho
sapa
bases,
estreito». Era, portanto, um caminho que percorria o
exércitos
alto dos muros, aproveitando a sua espessura, pelo qual
e
de
tradicionalmente
sitiadores
britagem
levados
Monteiro,
das
a
respectivas
cabo
pelos
, p. 51).
“ palavra
se deslocavam as sentinelas. Era o caminho de ronda,
É preciso referir que é nos panos de muralha e nas
que a Idade Média (nomeadamente Fernão Lopes)
suas torres que se verificavam as influências árabes
designava por «andaimo» (Barata e Teixeira (dir.), 2003,
mais relevantes, nomeadamente, a barbacã e a torre
p. 108). No caso de Castro Laboreiro, era espaçoso o
albarrã (nova forma de contra-ataque de onde pode ser
suficiente para duas sentinelas patrulharem ou se
arremetido pelas costas quem se aproxime da muralha),
cruzarem em simultâneo (fig. 29)
As
no entanto, os vestígios muçulmanos deixados em
muralhas
estavam
condicionadas
pela
Castro Laboreiro são quase inexistentes, uma vez que a
morfologia do terreno, do qual resultavam diferentes
sua localização geográfica não permitia a construção de
tipos de planta. Para o estudo de caso, observar a figura
elementos complexos como por exemplo, uma barbacã.
30.
Poderiam, eventualmente, ter pensado numa barbacã
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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Fig. 30:
Vista aérea do
recinto do
castelo. Imagem
retirada do
Google Maps.
Fig. 31:
Reconstituição
arquitectónica do
castelo de Castro
Laboreiro,
segundo as
gravuras e a
planta de Duarte
de Armas (séc.
XVI), por Vítor
Hugo Sacadura.
Painel de azulejo
situado na
fachada do Hotel
Castrum Villae.
O tipo de trabalho representado na figura 31,
Para terminar, e da mesma forma que se começou
devidamente fundamento nas fontes existentes, ajuda-
esta secção do artigo, a palavra é de Mário ”arroca: Se
nos a uma melhor percepção do espaço ocupado por
é certo que estes testemunhos arqueológicos dizem
esta fortificação, uma vez que em muitos casos (e este é
sobretudo respeito a medidas lineares, destinadas ao
sem dúvida um deles), a sua leitura revela-se
comércio de tecidos, abrangendo deste modo uma
complicada, derivado do seu estado de ruína.
pequena parte do complexo sistema medieval de pesos
Agradecimento especial ao pintor Vítor Sacadura
e medidas, eles não deixam de ser interessantes
por facilitar a interpretação deste espaço com uma
documentos com evidentes implicações económicas,
pintura que equivale a mil palavras, e contribui para a
que permitem um mais correcto conhecimento do
salvaguarda do património na memória da sua
panorama nacional destes domínios. Por isso, e porque
comunidade de pertença.
o desconhecimento generalizado do seu verdadeiro
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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Fig. 32: Medida-padrão. Fotografia de Vítor Hugo Sacadura.
Fig. 34: Medidas-padrão nas portas da muralha de Sortelha.
Fotografia de Manuel José Cunha.
significado
pode
irremediável,
valorizados.
conduzir
urge
”arroca,
que
a
sejam
uma
destruição
inventariados
e
, p. 53). Respondendo ao
apelo de Mário Jorge Barroca relativo à inventariação
das medidas-padrão, seguem-se figuras daquilo que
aqui se pressupõe ser uma medida-padrão, gravada na
porta a sul da torre de menagem, na horizontal, a meio
do recinto actual do castelo de Castro Laboreiro.
sistema de medidas de tecidos, combatendo fraudes. O
artigo de Mário Barroca enumera um conjunto de
tradicionalmente
gravadas
aferimento
das
medidas
utilizadas
pelos
mercadores devia ser feito pelo confronto com a
medida do comerciante com o padrão gravado na
parede do monumento, devendo aquele encaixar
dentro deste.
”arroca,
, p. 62). O presente caso
encaixa na meia-vara, que corresponde a 55cm, ou 2,5
Palmos. O avançado estado de degradação não permite
confirmar se é de facto, ou não, uma medida padrão, a
Estas medidas tinham por objectivo uniformizar o
medidas-padrão,
O
em
paredes de Igrejas (fig. 33), portas de amuralhamentos
urbanos (fig. 34) e em castelos (nomeadamente, nas
torres de Menagem), com múltiplos e submúltiplos do
Palmo (22 cm).
não ser pelo inegável valor do seu comprimento. No
entanto, esta linha não apresenta
uma configuração
característica, com o campo rectilíneo cuidadosamente
rebaixado,
com
paredes
geométricamente definido
verticais
”arroca,
e
espaço
, p. 62), o que
sugeria que a medida do mercador encaixasse dentro
da área reservada à medida-padrão. Este elemento
suscita curiosidade também porque, segundo o autor,
as medidas-padrão eram geralmente colocadas junto
dos locais onde se realizavam feiras e mercados. Não é
possível dizer neste ponto da investigação se alguma
destas actividades se concretizava no recinto sul do
castelo de Castro Laboreiro. Porém, ao lado desta
gravura, encontra-se um alto relevo com características
zoomórficas (figs. 35 e 36), que pode ser um indicador
de alguma actividade aqui exercida com animais, pois é
sabido que Leite de Vasconcelos na sua
excursão a
Castro Laboreiro nos finais do século XIX, impressa
na Revista Lusitana no princípio do século XX), refere a
antiga e famosa feira de gado deste território. Embora
nesta época tenha lugar numa área próxima à Igreja
Fig. 33: Medida-padrão na Sé do Porto. Fotografia de Manuel José
Cunha.
Paroquial.
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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É preciso ter cautela quando se galgam vários
séculos e, por isso, esta dedução carece de aferição
científica através das fontes disponíveis.
As medidas-padrão que se localizam nos castelos
documentadas no artigo de Mário Barroca, datam dos
tempos de D. Dinis (séc.XIII)46. O mesmo se pode
deduzir deste elemento, embora de forma apriorística,
uma vez que o recinto Sul do castelo e os seus
elementos arquitectónicos, são obra de D. Dinis. Para
esta datação superficial da medida-padrão em causa,
concorre ainda o facto de Castro Laboreiro ter recebido
o estatuto de sede de Concelho no ano de 1271. Em
termos gerais, se atendermos a que o Côvado e a Vara
são múltiplos perfeitos do Palmo, e se ponderarmos os
valores encontrados para estas medidas, somos levados
a pensar que já antes do reinado de D. João I o Palmo
seria uma medida uniforme.
”arroca,
, p. 56).
O artigo do autor disponibiliza ainda fichas de
inventário sobre as medidas-padrão documentadas,
sendo as que ressaltam para comparação a este caso a
de Braga (gravada na Torre de Menagem) e Guimarães
(gravada na ombreira do portal de acesso ao claustro da
Colegiada). A de Braga porque a medida é a Vara
(110cm), o dobro da de Castro Laboreiro e porque é
igualmente horizontal, a de Guimarães porque a
medida é a Meia Vara (55cm), ambas pela sua
proximidade ao território.
46
No que respeita aos castelos onde encontramos medidaspadrão gravadas, o de Penedono (nº9) apresenta uma
reforma que tem sido atribuída aos tempos de D. Dinis,
não podendo ser dissociada do valor estratégico que esta
fortaleza apresentava antes da assinatura do Tratado de
Alcanices, em 1297. Também o castelo do Alandroal (nº20)
pode ser atribuído com segurança ao reinado de D. Dinis.
Terá começado a ser erguido a 6 de Fevereiro de 1294, por
iniciativa do Mestre de Avis D. Lourenço Afonso,
conforme nos garante uma inscrição coeva. É provável que
tivesse sido concluído em quatro anos, já que na sua Torre
de Menagem se conserva uma outra inscrição
comemorativa da construção do castelo, datada de 24 de
Fevereiro de 1298. E o mesmo se diga de Castro Marim
(nº23), onde a porta junto da qual se gravou a respectiva
medida-padrão foi mandada erguer por D. Dinis em 1 de
Julho de 1279, conforme documenta outra inscrição
coeva. ”arroca,
, p. 65)
Verdade seja dita, detectaram-se outras inscrições em
redor da medida padrão e do alto relevo, que poderão
indicar datas importantes ou outras informações contudo,
não foi possível confirmar esta análise pelo motivo do
avançado estado de degradação das pedras, sujeitas a
intempéries climatéricas da zona próprias desta zona de
montanha.
Fig. 35: Figura com características zoomórficas. Fotografia de Diana
Carvalho.
Fig. 36: Outra perspetiva do alto relevo com características
zoomórficas. Fotografia de Diana Carvalho.
Fig. 37: Enquadramento do alto relevo com a medida-padrão.
Fotografia de Diana Carvalho.
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
70
Fig. 38
Castelo de Castro Laboreiro – Medidas
Medidas
Elementos47
Objecto48
Orientação
Comp.
Larg.
Alt.
Prof.
Área
Localização
porta do sol
porta da água
gruta natural
porta entre recintos
Este
Este
Norte
Sul
1,18 m
1,03 m
6m
1,21 m
2,25 m
2,20 m
6m
2,38 m
2,07 m
1,90 m
10 m
1,90 m
-
Área Sul
Área Sul
Área Sul
porta do sapo ou da traição
Norte
94 cm
1,23 m
2,10 m
-
Área Norte
pedra da gravura zoomórfica
pedra da medida padrão
muralha
Sul
Sul
Este
55 cm
20 cm
-
-
Área Sul
Área Sul
Extensão de Norte a Sul
Entrada a Oeste49
80 cm
72 cm
2,20 m
6m
(parede Norte)
6,80 m
(parede Norte)
5,45 m
(parede Sul)
42 cm
27 cm
-
torre
3m
(Fosso)
por verificar
8m
(parede Este)
8,42 m
(parede Este)
6,50 m
(parede Este)
5,36 m
(parede Sul)
5,28 m
(parede Este)
3,63 m
(parede Sul)
3,27 m
(parede Este)
-
-
48 m2
Este. Muralha a meio do recinto.
-
-
58 m2
Oeste. Muralha a meio do recinto.
-
-
36 m2
Sul. Muralha dionisina
89 cm
-
28 m2
Área Sul
medidas externas
12 m2
Área Sul
medidas internas
-
Área Sul
medidas externas
torre
Entrada a Norte
torre
-
Norte
capela
68 cm
Este/Oeste
tanque
(anexo à cisterna)
Este/Oeste
-
-
-
-
1,07 m (entrada)
-
1,10 m
42 cm
-
-
50 cm
-
-
-
-
-
4,48 m
(parede Este)
3,30 m
(parede Sul)
1,26 m
(parede Sul)
1,43 m
(parede Este)
15 m2
2 m2
-
4. Concepção patrimonial do castelo de Castro
Laboreiro
4.1. Cronologia
-
-
cisterna
(parcialmente escavada
na fraga)
-
-
Área Norte
medidas internas
Área Norte
medidas internas
do Estado e da população local, em local de pedagogia
e lazer. Habitualmente, quando se reconhece valor
das
políticas
de
gestão
e
histórico a um monumento que perdeu a sua função
original,
preservação
concede-se
oficialmente
o
estatuto
de
A47 cronologia de acontecimentos do castelo (quem
Património. O primeiro passo a ser dado neste sentido
o administrou e de que lado se manteve o seu poder
foi a atribuição do estatuto de Monumento nacional em
nas alturas de crise) contribui para representar esta
1944, durante a ditadura do Estado Novo (1933-1874).
comunidade
48
e o território,
49
Na ficha de inventário introduzida por Paula Noé
por isso, o castelo é seu
objecto de pertença e do seu percurso. A sua história
no
Sistema
de
Informação
para
o
Património
contribui para que a perda da função original se
Arquitectónico, e também no site da Direcção Geral do
convertesse em valorização e reconhecimento por parte
Património Cultural, a conceptualização patrimonial
inicia-se em 1944, e segue uma linha cronológica até ao
47
48
49
Todas as medidas apresentadas têm carácter aproximado,
não sendo possível precisá-las dada a orografia do terreno,
bem como o estado de conservação da flora.
Optou-se por não tirar medidas às restantes estruturas
porque a sua delimitação é imprecisa.
Ver planta no Livro das Fortalezas – gravuras de Duarte
de Armas (séc. XVI).
presente que visou a preservação e manutenção do
monumento50:
50
Fez-se uma investigação relativamente ao paradeiro dos
processos de intervenção e restauro do castelo de Castro
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
71
1944 - MN - Monumento Nacional, Decreto nº 33 587,
pinturas das portas; as obras são executadas pelo
DG, 1.ª série, n.º 63 de 27 março 1944.
empreiteiro Marques & Marques, Ldª;
1949 - MOP - diversos trabalhos de consolidação e
1981 - continuação dos trabalhos de beneficiação;
reconstrução de muralhas do castelo, no valor de
10.000$00;
1994 - recolha e reposição de alvenarias de silharia
dispersas pelo interior e exterior das muralhas,
1957 - DGEMN - obras de consolidação e restauro das
levantamento e sinalização dos melhores traçados
muralhas, pelo empreiteiro Manuel Nunes de Andrade;
tradicionais de acesso ao alto rochoso, provocando a
incluindo o apeamento e reconstrução de muralhas, a
definição de degraus na rocha ou acrescentando
construção de uma porta, em madeira de castanho, para
elementos de granito, constituindo-se em pequenas
a porta nascente, e de uma porta em grade de ferro
escadas, nos locais de desnível acentuado mais
perfilado para o portal norte;
acentuado, limpeza de vegetação e arranjo do piso nos
recintos
intramuros,
reparação,
recuperação
ou
1958 - obras de consolidação pelo empreiteiro Saúl de
substituição das portas, fornecimento e colocação de
Oliveira Esteves;
contentores de lixo e instalação de corda de ajuda e
1974 - trabalhos de consolidação de alvenaria e a
proteção nos percursos pedonais;
escavação de terras para sondagem, adjudicadas a
Afonso Ferreira de Oliveira;
2005 - CMM - obras de valorização do acesso ao castelo.
(fig. 36)
1975 / 1976 / 1977 / 1978 / 1979 / 1980 - SECRETARIA
DE ESTADO DA CULTURA - escavações arqueológicas
A partir da década de 70 é incluído no Parque Nacional
dirigidas pelo arqueólogo Roberto Leão, as quais
da Peneda do Gerês, usufruindo também da sua gestão.
revelam testemunhos de ocupação do local na Alta
Idade Média;
1977 / 1978 - DGEMN - trabalhos de consolidação de
alvenarias em degradação, junto da porta do sapo, a
sudoeste junto duma fenda e a poente, incluindo o
fornecimento das alvenarias em falta; reconstrução do
coroamento da muralha junto à porta do sapo, cunhal
norte-nascente e entre as portas do sol e da água, com
cantaria de pedra existente de dente de cavalo,
apicoado a tosco, incluindo limpeza e preparação de
superfícies; e reparação das portas do sapo, da água e
do sol, compreendendo ferragens e substituição de
madeira impróprias;
1979 / 1980 - trabalhos de consolidação da muralha em
vários pontos, reconstrução do coroamento da muralha
junto da porta do sapo e da água, limpeza e arranque
de
vegetação
em
vários
pontos,
escavação
e
rebaixamento de terras junto da muralha do lado
nascente, construção da porta principal do lado
nascente, em madeira, reparação da porta do sapo e
Laboreiro e encontraram-se seis processos digitalizados e
disponíveis on-line na plataforma do SIPA (com o IPA nº
00002273), e outros seis, não digitalizados mas disponíveis
para consulta, no Forte de Sacavém – Lisboa.
Fig. 39: Placa de Sinalização do Castelo. Fotografia de Diana
Carvalho.
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CASTRO LABOREIRO E O SEU CASTELO. CONTRIBUTO PARA O SEU ESTUDO | DIANA CARVALHO
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5. Observações finais
BARATA,
O castelo de Castro Laboreiro é pouco retratado na
Severiano (dir.) (2003) – Baixa Idade Média: O Castelo
Manuel
Themudo;
TEIXEIRA,
Nuno
documentação contemporânea e nas fontes medievais e
Românico . In: Nova História Militar de Portugal. Rio de
modernas
Mouro, Círculo de Leitores, Vol. I, pp. 106-114.
as
referências
encontram-se
diluídas,
provavelmente pelo impacto diminuto que teve na
construção da história nacional. Conforme disse Mário
BARATA,
Manuel
Themudo;
TEIXEIRA,
Nuno
Barroca e Fernando Morais (1985/86), num estudo
Severiano (dir.) (2003) – Baixa Idade Média: O Castelo
acerca do castelo de Aguiar da Pena, cujas referências
Gótico . In: Nova História Militar de Portugal. Rio de
também escasseavam,
Mouro, Círculo de Leitores, Vol. I, pp. 117-121.
o prolongado silêncio que a
documentação revela para esta zona não deve estar
dissociado
da
sua
pobre
institucional
”arroca e Morais,
representatividade
BARATA,
/
Severiano (dir.) (2003) – Os Castelos Portugueses nos
, p. 36).
Contudo, o castelo tomou posições de relevo para a
Manuel
Themudo;
TEIXEIRA,
Nuno
Finais da Idade Média . In: Nova História Militar de
sua defesa, sobretudo na vigilância e defesa da
Portugal. Rio de Mouro, Círculo de Leitores, Vol. I, pp.
fronteira, bem como à escolha de partidos quando
164-180.
Portugal viu a sua independência ameaçada, embora
BARROCA, Mário Jorge (1992) –
nem sempre com sucesso.
Medidas-padrão
Conforme já foi referido, procurou-se contextualizar
medievais portuguesas . In: Separata da Revista de
a história do castelo com a do seu território, mas em
História da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
muitos aspectos escaparam informações, e outras vezes,
Porto, Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Vol.
aquando da redacção do artigo e da integração das
9, pp. 53-85.
informações no texto, estas perderam alguma da sua
clareza, por isso, fica o desejo que o castelo de Castro
BARROCA, Mário Jorge (1990-1991) – Do castelo da
Laboreiro e o seu território, atraiam a curiosidade e o
reconquista ao castelo românico (séc. IX a XII). Portugália.
interesse científicos para o seu estudo, bem como
Porto, Universidade do Porto, Faculdade de Letras, Vol.
projectos
11-12, pp. 89-136.
de
escavações
arqueológicas.
Deseja-se
também que as informações daqui resultantes se
tornem
acessíveis
à
comunidade
científica
e
à
BARROCA, Mário Jorge; MORAIS, António J. Cardoso
comunidade local, no sentido do seu enriquecimento e
(1985/1986) –
da sua salvaguarda.
arqueológica em “guiar da Pena . In: Separata da Revista
A terra e o castelo: uma experiência
Portugália. Nova Série, Vol. VI/VII.
CAPELA, Viriato (2005) – As freguesias do Concelho
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ABELTERIVM | VOLUME III | MAIO | 2017 | PP. 49-73