Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                
O CENTRO CERIMONIAL DO MORRO DA GUIA, CABO FRIO, BRASIL Alfredo José Altamirano Universidad Nacional Mayor de San Marcos/Universidad Nacional Federico Villarreal (Lima-Peru) e Conselho Consultivo do Centro Brasileiro de Arqueologia (Rio de Janeiro). Alfredo-altamirano@hotmail.com; Resumo Este trabalho faz uma descrição detalhada dos sete Conjuntos líticos do Morro da Guia de Cabo Frio e os analisa segundo o enfoque da Arqueologia Simbólica, dividindo-os em dois grupos, os de cima e os de baixo. Por sua vez, cada grupo se subdivide em três conjuntos, os de acima, em formato de “U”, são: C1, C2 e C3-4, e os de abaixo, em formato de “L”, incluem C5-5a, C6 e C7. Em meio desses conjuntos havia uma praça “quadrangular” próximo a três elementos que também se opõem e complementam: a “poltrona” e o “gnomon”, na parte superior, e a pedra Itapeba, na inferior. O sítio do período sambaquiano tardio/Itaipu, teria permitido amarrar os horizontes geográficos com o fato de ordenamento do tempo para organizar a vida religiosa dos prístinos pescadores cabofrienses, incluindo os ritos funerários e os de casamento. O sítio foi um centro cerimonial sambaqui, um axis mundi, que cultuava seus defuntos antes de iniciar a viagem ao “outro mundo”. Os conjuntos superiores conotavam o ar e as estrelas, os intermédios a terra e a coesão social dos homens e os inferiores a água e o mundo dos mortos. Palavras chaves: sambaqui, arte lítica, xamanismo, arqueologia brasileira, índios do Brasil. Resumen Este estudio realiza una descripción detallada de los siete Conjuntos líticos del Morro da Guia de Cabo Frío y los analiza según el enfoque de la Arqueología Simbólica, dividiéndolos en dos grupos, los de arriba e los de abajo. Por su vez, cada grupo se subdivide en tres conjuntos, los de arriba, en forma de “U”, son: C1, C2 y C3-4, y los de abajo, en formato de “L” son: C5-5a, C6 y C7. En medio de esos conjuntos había una plaza “cuadrangular”. También existen tres elementos que se oponen y complementan: la “silla de piedra” y el “gnomon”, en la parte superior, y la piedra Itapeba en la inferior. El sitio es del período sambaquiano tardío/Itaipu, que habría permitido observar los horizontes geográficos con el fin de ordenar el tiempo para organizar la vida religiosa de los prístinos pescadores cabofrienses, incluyendo los ritos funerarios y los de casamiento. El sitio fue un centro ceremonial sambaqui, un axis mundi, que veneraba sus difuntos antes de iniciar el viaje al “otro mundo”. Los conjuntos superiores connotaban el aire y las estrellas, los intermedios simbolizaban la tierra y la cohesión social de los hombres y los inferiores el agua y el mundo de los muertos. Palabras claves: sambaqui, arte lítica, xamanismo, arqueología brasileira, indios del Brasil. “O sítio sagrado ficava no Itajuru – morro junto ao canal da laguna, na restinga de Cabo Frio -, onde estavam as grandes pedras com sulcos que recebiam veneração dos índios. Eram seus heróis-feiticeiros ancestrais que subiram ao céu depois da morte, transformaram-se em estrelas e mais tarde desceram à Terra sob a forma de pedras sagradas, a fim de serem lembrados e imitados pela humanidade porque representavam modelos de conduta exemplar” (Cunha 1997: 14). O sítio arqueológico do Morro da Guia ou Tairu (RJ-JC-12), no município de Cabo Frio-RJ, entre 41º52’W e 22º52’30”S, apresenta sérios problemas de interpretação para o avanço da pré-história brasileira, tanto sobre seu significado cultural e histórico quanto sua posição cronológica e contextual, devido à carência de estudos detalhados. A interpretação tradicional de sua função partia de um olhar subjetivo, materialista e economicista, apontando que as rochas sulcadas serviriam como ateliers, ou seja, como "amoladores líticos fixos" (Dias Jr. 1959; Kneip 1977; Beltrão 1978; Gaspar & Tenório 1990; Kneip & Oliveira 2001). Por outro lado, existe uma gama de interpretações funcionais, em sua maioria designadas "a priori" como: "letreiros", "pedras escritas", “chicotadas do diabo”, "o rasto de Sumé", "pedras garabateadas", "pedras lavradas", "nheengatu", "pintados", "polidores líticos", "riscos" e outros, os quais pervivem na tradição etnográfica da literatura oral (Branner 1904; Dias Jr. 1959; Beltrão 1978). Mas essa hipótese jamais foi comprovada. Nossa hipótese de trabalho propõe que as rochas sulcadas do Morro da Guia teriam sido elaboradas pelos sambaquianos O termo sambaquiano significa “os construtores de sambaquis”, em oposição de “sambaquieiro”, que quer dizer os “destruidores dos montículos de sambaquis” (Dicionário Delta Larousse 1970). Estes últimos, em sua maioria, eram homens nativos e miscigenados que viveram nos séculos XVI-XIX, cortando os morros arqueológicos para extrair as conchas usadas nas caieiras. Mas na literatura brasileira é frequente o uso errado que começou desde 1960. e pelas tribos horticultoras dos Araruama (ou Fase Itaipu) durante o período Arcaico ou Pré-cerâmico final. Aliás, elas teriam tido uma função de caráter mágico-religioso associada a "petróglifos", exemplares de arte lítica, como parte de um centro cerimonial que articulava a vida religiosa das antigas populações pesqueiras da região, integradas num sistema sociocultural xamanístico. Num contexto maior, diversas sociedades arqueológicas da Mata Atlântica, da Região Amazônica e do Brasil Central, que desenvolveram uma economia de pesca e horticultura ainda no período Pré-cerâmico, construíram seus petróglifos com representações simbólicas ou convencionais de diversas categorias, com motivos e desenhos, em técnica cupuliforme ou sulcos em forma de “U”, em três níveis: (1º) representações de círculos com ponto, espirais, fossas, linhas e cavidades pequenas; (2º) de animais silvestres e plantas; (3º) de seres humanos, deuses e combinações de todas elas (Leroi-Gourhan 1985; Núñez Jiménez 1986; Guffroy 1987; Polia 1992; Gaspar 2006). Em algumas regiões, estas tradições líticas continuaram até o advento das culturas europeias, nos séculos XVI e XVII, associadas a cemitérios indígenas; em outras, mudaram para os centros cerimoniais complexos e geóglifos como nos Andes Centrais e na Amazônia ocidental, respectivamente. Porém, a arte lítica do Morro da Guia localiza-se no primeiro nível dessa análise, com representações de linhas em baixo-relevo ou sulcos de diferentes cumprimentos e orientações, permitindo dar início a um complexo estudo desta arte, partindo de suas medições, orientações e associações espaciais, sob o enfoque da Nova Arqueologia e retomando o significado simbólico da cultura material religiosa dos antigos cabofrienses, perpetuada nas rochas. Ou seja, os sulcos, as fossas e a localização das rochas apontam para a existência de um antigo sistema comunicativo pouco estudado pela pré-história da Região dos Lagos. O termo Tairu, Itairu ou Itajuru, nome original do Morro da Guia, é uma palavra tupi que provém das etimologias de ita= pedra, e juru= garganta ou pescoço, que quer dizer "garganta das rochas", sendo entre os Morros da Guia e do Telégrafo o espaço mais estreito, unindo os bairros do Portinho e Jacaré (Fig. 1). Fig. 1.- Localização do Morro da Guia, Rio de Janeiro (Modificado de Gaspar et alli 2007). A formação orográfica desses morros surgiu há dois bilhões de anos, aflorando rochas cristalinas do tipo ortognaisse. Posteriormente, há 120 milhões de anos, com a separação de Gondwana, os Morros da Guia e do Telégrafo começaram a formar-se devido às fortes pressões NE-SW, repetindo-se também na serra da Sapiatiba, Morro dos Macacos, costões das Caravelas e de Cabo Frio, e a ilha dos Papagaios, quando surge a formação do oceano Atlântico (Reis & Mansur 1995; Mansur et alli 2007). Durante a era Terciária formaram-se as restingas, os solos argilosos e os costões rochosos, como ainda pode ser observado no litoral cabofriense. Quando se originou a Lagoa de Araruama, no período Quaternário, entre 100 mil e três mil anos, o movimento do mar, recuando e avançando várias vezes, formou uma extensa duna denominada o cordão de Massambaba e os esporões de Acaíra, Coroinhas e Massambaba (Turcq et alli 1999). Desde 1960, a Região dos Lagos Scheel-Ybert (1999) aponta que a planície costeira da Região dos Lagos se caracteriza por duas sequências de sistemas lagunares, cuja evolução paleogeográfica está intimamente ligada às variações do nível do mar ocorrida durante o período Quaternário recente. A primeira é o sistema externo constituído por uma sequência de pequenas lagoas em estreitas depressões rochosas que originam os cordões arenosos (Vermelha, Pernambuca, Brejo do Espinho, Massambaba etc.). E a segunda, o sistema interno que compreende as grandes lagoas (Saquarema, Araruama, Jaconé e Maricá, entre outras). vem sendo estudada pelos arqueólogos brasileiros, 24 sítios de pescadores e coletores sambaquis já foram alvos de escavações, e estão disponíveis 57 datações radiocarbônicas. A grande maioria das intervenções arqueológicas constatou a presença de sepultamentos e, em alguns sítios, de uma incidência significativa de esqueletos humanos. É inegável admitir que o ritual funerário e a queima fossem fatores preponderantes no processo de construção dos sambaquis (Gaspar et alli 2007). O Morro da Guia, com 70m de altitude, está coberto de mata de restinga composta por arbustos, bromélias, cactáceas, espinhos, gramíneas, Opuntia sp., Pilosocereus ulei e plantas introduzidas. No topo existe uma capela chamada Nossa Senhora da Guia, construída em 1740, que forma parte do convento de Nossa Senhora dos Anjos, cuja edificação foi iniciada em 2 de agosto de 1686, sendo o sítio tombado pelo IPHAN em 1967. O rio Itairu ou Itajuru tinha uma maior amplitude, pois formou-se da Lagoa de Araruama durante o período Quaternário e cortou a continuidade dos morros do Telégrafo e da Guia (Turq 1999). Hoje constitui a principal artéria de canalização e esgoto entre a Lagoa de Araruama e o mar. O sítio estava rodeado de um imenso manguezal que se iniciava no Parque das Garças e terminava na ilha do Japonês, na Boca da Barra, e banhava-se num rio de água doce, hoje chamado a Fonte do Itajuru. Na região vivia uma rica fauna íctica, uma infinidade de aves marinhas e litorâneas, cobras, jaguares, lagartixas, lagartos, macacos, tartarugas e veados, assim como camarões, caranguejos e siris. Isto permitiu a chegada dos primeiros pescadores, coletores e caçadores que, com canoas monóxilas, se locomoviam entre os Sambaquis da Boca da Barra, do Forte e de Boa Vista, e as praias, dunas e restingas da região. Hoje toda essa ecologia tem sido modificada pelo incremento demográfico na região. Análises dos Conjuntos e Elementos As rochas pesquisadas se localizam na crista do morro e estão distribuídas num eixo NE-SW. Cada bloco sulcado está situado junto a outras rochas alisadas não sulcadas, que formavam parte de uma série de Conjuntos em formatos de “U” e de “L”, unidades arquitetônicas, cujas orientações se dirigem aos principais pontos geográficos da região. Temos percebido que esses Conjuntos têm números variados de pedras e apenas uma delas possui sulcos. Estes Conjuntos são em número de sete, que se organizam em torno de um elemento maior e mais alto, cuja rocha central tem forma de poltrona, localizado próximo à Capela, onde também observamos um gnomon Gnomon é uma estrutura rochosa vertical que servia de eixo fixo que tinha uma abertura quadrangular ou circular para realizar observações geográficas e dos horizontes. Servia de centro “cósmico” para estabelecer o controle de astros e movimento de constelações. , uma itapeba e uma “praça quadrangular” central (Fig. 2). Fig. 2.- Distribuição dos Conjuntos com rochas sulcadas (Modificado de Beltrão, 1978). O Conjunto Nº 1 se localiza em frente ao Morro do Telégrafo e do canal Itajuru. Possui a Rocha sulcada Nº 1, que mede 1,70 x 1,18m e exibe, na porção norte, 11 sulcos elaborados na técnica cupuliforme, e duas pequenas cavidades circulares de 5cm de diâmetro com 14cm de distância entre elas. Ao seu lado esquerdo existem seis grandes blocos alisados que formam um “U” alongado e aberto na direção do Morro do Telégrafo e do rio Itajuru, ou seja, para o Nordeste com medidas internas de 0,45, 0,60 e 1,30m (Fig. 3). Fig. 3.- O Conjunto Nº 1, em formato de “U”, localizando na Rocha Nº 1 a área com sulcos. A Poltrona forma parte de um conjunto de 16 blocos alisados e ordenados em forma quadrilátera. As rochas se dispõem em formato de “U”, orientado ao NE, mas com ampla visão de 360º tanto para leste quanto para oeste. A rocha principal tem forma piramidal, alisada e localizada no topo máximo do morro, e possui uma cavidade central semelhante a uma cadeira, de 50cm de comprimento por 35cm de profundidade, e as costas têm 58cm, inclinada para trás e apropriada para a comodidade do observador. Mede 1,20m de frente, 1,75m de base e 1,20m de altura. Uma pequena rocha talhada de 28 x 23cm se localiza no pé da poltrona. A rocha está coberta por dois tipos de liquens (um de cor amarela-laranja e outro verde claro) que, pela sua superposição, podemos apontar que o primeiro é mais antigo que o segundo. Possui impregnações de cal e concha moída na parte anterior e lateral da rocha, que parecem ser resíduos da época colonial (Fig. 4). Fig. 4.- A Poltrona, localizada no topo do Morro. O Conjunto Nº 2, localizado ao lado direito da Capela, forma parte de um conjunto de 9 pedras alisadas, composto de 3 grandes à esquerda e 6 pequenas à direita. A Rocha principal, a sulcada, mede 2 x 1,10m e, na área talhada, pode ser dividida em duas partes. Os sulcos, em número de 14, localizam-se na parte Oeste e as cavidades ovais na parte Leste, rodeada de pequenos orifícios. Esses riscos se orientam em direção NE-SW, sendo as centrais convergentes e maiores, formando dois triângulos alongados invertidos sem união de vértices. As cavidades ovais são pequenas fossas ligeiramente alongadas, em número de 11, e cujas medidas são: 2 de 6 x 10cm, 1 de 6 x 5cm, 1 de 6 x 8cm, 1 de 6 x 11cm, 1 de 6 x 7cm, 1 de 6 x 6cm, 1 de 5 x 4cm, 1 de 9 x 6cm e 2 de 3,5 x 3,5cm, e rodeado de pequenos orifícios. É possível supor que estas fossas se complementariam com os sulcos em seus significados. O pequeno conjunto arquitetônico parece ter sido outro altar baixo em forma de “U” cuja abertura mede 50 x 80cm, aberto para o Oeste, ou seja, orientado para a Lagoa de Araruama, o inicio do rio Itajuru e os sambaquis do Novo Portinho, onde apareceram ossadas humanas e artefatos líticos de antigos pescadores. Por sua proximidade à Capela é a rocha que sofreu maior erosão antrópica. No ano 2006, uma camada de cimento foi colocada numa parte da rocha por funcionários contratados, tratando de “protegê-la”... (Altamirano 2007). No entanto, isto causou a alteração de sua morfologia nativa, produzindo uma acelerada destruição da rocha pela intempérie, começando a quebrar e descascar os sulcos (Fig. 5). Fig. 5.- Conjunto Nº 2 em formato de “U”, indicando em escuro a sua rocha sulcada. Ao lado direito, foto com detalhes desta rocha. O gnomon, no centro do topo, é uma estrutura lítica composta de 4 blocos alinhados no sentido NE-SW. Possui uma abertura em forma de “U”, aberto para cima, com medidas de 0,54 e 0,48m de abertura na base (parte distal) e na parte proximal de 0,70m. O bloco maior mede 1,40m de altura por 0,68m, tendo na porção superior uma pequena abertura de 0,50m de altura por 0,30m. A Rocha do lado direito possui rachaduras verticais e mede 1,43m de comprimento por 0,90m. Na parte distal exibe grande quantidade de pequenos orifícios. Os Conjuntos Nº 3 e N° 4 estão localizados a SW do Conjunto N° 2 e a 5m ao Leste do Gnomon, também dispostos em formato de “U”, orientados para o Norte. O primeiro é formado por 3 grandes blocos alisados, tendo a Rocha N° 1, do lado esquerdo, 11 sulcos paralelos, dos quais os 3 centrais são convergentes formando um “N” alongado. Essa pedra mede 2,20 x 0,90 x 1,34m (altura). Os sulcos, orientados em NE-SW, estão associados a pequenos orifícios localizados na parte alisada numa área de 0,90 x 0,70m. O Conjunto Nº 4, bem próximo ao Conjunto N° 3, está composto de 4 blocos dispostos em forma de “U”, com abertura variando de 0,35m a 0,50m na parte mais larga. A Rocha principal, de N° 1, mede 2,00 x 1,70m, inclinada e possui 20 sulcos paralelos que se orientam em NE-SW, dos quais os 2 centrais são convergentes formando um alongado “V” (Fig. 6). Fig. 6.- Os Conjuntos Nº 3 e Nº 4, cada um com formato em “U” e orientados ao Norte. A construção de um tanque de água na década de 50, pela antiga Companhia Cedae, modificou a anterior superfície plana, de forma quadrangular, que, a nosso ver, teria servido como uma espécie de praça, de aproximadamente 50 x 30m, rodeada em seus extremos superior e inferior por conjuntos líticos em formato de “U”. Itapeba é uma grande rocha alisada localizada num canto da antiga praça, medindo 2,60 x 2,0 x 1,50m de altura, em forma de paralelepípedo como uma mesa, sendo uma parte dela um pouco mais elevada. Possui coloração avermelhada e enegrecida, produto de incineração, num rádio de 50cm que cobre a base desta área desnivelada, tendo ao lado uma área com orifícios pequenos. O Conjunto Nº 5, composto de sete grandes blocos alisados, está localizado na base SE do Tanque de Água, hoje Mirante, formando um “L” orientado a Leste. A pedra principal, de N° 1, no lado esquerdo, possui forma quadrangular de 3,70 x 3,0m, com 34 sulcos, cujas medidas variam entre 0,85 e 0,33m, alternando-se entre retos e curvos. Apresenta o maior número de sulcos, formando no centro um triângulo com o vértice para cima (A) e dois “V” alongados (B e C), rodeados de quatro sulcos paralelos cada um. Também exibe 2 pequenas cavidades ovais de 10 x 7cm e uma circular de 10cm de diâmetro, cujos riscos e fossas indicam uma iconografia complexa. A outra Rocha sulcada deste Conjunto (5a), no lado direito forma outra “L”, mede 2,40 x 1,90m, tem 23 sulcos com média de comprimento de 1,14m, apresentam 4 sulcos em direção oeste-leste e cujos quatro riscos centrais se encaixam. Estas rochas têm mais de 3m de altura, formando uma espécie de muro, orientado para o Sambaqui do Forte, lugar de enterramento de sambaquianos. A união dos Conjuntos Nº 5 e 5a formam o “U” de esquinas retas (Fig. 7). Fig. 7.- O Conjunto 5-5a, em formatos de “L”, orientado a Leste. À esquerda a simbologia da Rocha A, indicando os motivos centrais (A, B e C) de sulcos convergentes e divergentes, cada um rodeado de riscos paralelos. O Conjunto N° 6, a 10m a SE do Conjunto 5-5a, localiza-se após o reservatório do Tanque de Água, e está composta de duas rochas em formato de “L”. A Rocha Nº 1, a maior, mede 3,30 x 2,10m, possui no extremo esquerdo 20 sulcos, entre curvos e retos, e se encontra coberta por espinhos e liquens, descendo o declive do morro em direção ao bairro do Itajuru, cujos 2 sulcos centrais formam um “V” alongado. Finalmente, o Conjunto Nº 7, num plano mais baixo, também possui uma rocha principal com 20 sulcos e se localiza mais abaixo do reservatório, mas esta não foi pesquisada. Discussão Concernente às rochas sulcadas do Morro da Guia, existem dois problemas centrais. O primeiro diz respeito à sua posição cronológica e cultural e o outro à definição funcional dos rochedos sulcados. Para uma discussão mais detalhada sobre a hipótese da rocha como arte religiosa, temos reunido cinco tipos de evidências das ciências interdisciplinares, como a tecnologia lítica, a comparação com a Pedra do Lagarto, a paleozoologia, a etno-história e a etnografia comparada, seguindo o paradigma da Arqueologia Pós-processual ou simbólica. Leroi-Gourhan (1985) e Shanks & Tilley (1987, 1992, 1996) tem realizado estudos pioneiros de interpretação das pinturas rupestres francesas e dos megalitos do sul de Inglaterra e Suecia, respectivamente, partindo de uma refinada observação de campo pós-estructuralista que nos permita explorar o mundo do inconciente coletivo, da arqueologia cognitiva e aplicando as dualidades de arriba/abaixo, esquerda/direita, macho/fêmea, dia/noite e vida/morte, entre outras, que estão presentes na cosmovisão de todas as sociedades humanas desde as mais simples de caçadores, pescadores e coletores até os pastores de alturas e do deserto, das chefias e estados teocráticos como os incas e astecas. Vejamos nosso caso. As rochas foram selecionadas, alisadas e talhadas por meio da técnica da fricção/desgaste e do uso de areia e água para alcançar o formato de "U", conhecida como a técnica cupuliforme. Os sete Conjuntos de rochas do Morro da Guia analisados permitem compará-los com artefatos achados no Sambaqui do Forte e os do Sambaqui do Meio e das Salinas Peroanas (Gaspar et al. 1985), que possuem alisadores, almofarizes, mãos de diabásio, e pontas de quartzo que foram elaborados pelos sambaquianos entre 5.500 e 3.000 anos a.P. (Kneip 1977, 2001). Mas esta tecnologia também se aproxima a outros petróglifos litorâneos da tradição Santa Catarina e Rio Grande do Sul, elaborados com esta mesma técnica cupuliforme. Existem outras rochas sulcadas como as da Praia Grande no Arraial do Cabo (Lotufo et al. 1990) e a da Pedra do Lagarto, em Iguaba Grande (Altamirano 2008), que teriam estado interligados com suas unidades étnicas, como o caso do Morro da Guia. Por outro lado, o estudo de rochas zoomorfas pré-históricas, denominadas zoólitos, estava concentrado nos sambaquis de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, que formava parte essencial da superestrutura e do simbolismo sambaquiano funerário como guia para a viagem ao outro mundo. Mas devido à escassa atenção dada pelos arqueólogos às formações rochosas na Região dos Lagos, o estudo dessas alterações havia sido pouco atendido, como a formação de huancas, Localizados em determinados lugares, como costões rochosos e grotas, existem grandes blocos líticos, sejam naturais ou trabalhados, que adotaram formas de animais ou humanas, mesmo toscamente talhados, que formaram parte da ideologia e dos mitos sambaquianos da Região dos Lagos, os quais se perpetuaram até o advento dos tupinambás e foram esquecidos durante a intensa catequização colonial. ou blocos líticos sem o entalhe dos sulcos, que faziam parte de sua identidade cultural. A localização dos conjuntos e elementos de Rochas pode ser dividida em dois grupos: 3 na parte superior (Conjuntos Nº 1, Nº 2 e Nº 3-4) com sua poltrona e gnomon, e 3 embaixo (Conjuntos Nº 5-5a, Nº 6 e Nº 7), formando uma dualidade geográfica (acima/abaixo). Entre eles havia um pátio, não sabemos suas dimensões exatas devido a uma estrutura moderna, hoje Mirante do Morro da Guia, construído em 1950, que manteve a primitiva forma quadrangular desse pátio sobre o qual foi construído, alinhando-se ao eixo NE-SW. No canto nordeste desse antigo pátio, havia uma grande rocha alisada e desgastada, denominada itapeba, que teria servido para diversas funções, pois parece ter sido um lugar de incineração que reunia muitas pessoas. Próxima a essa área de incineração existem pequenos orifícios que indicariam a sacralidade das atividades. Os sulcos encontrados no Morro da Guia teriam sido elaborados pelos sambaquianos que já conheciam a técnica da abrasão ou pressão difusa com o uso de fibras vegetais, areia e água e, após, com intenso trabalho de polimento. Prous (1992: 80) admite: “se a perfuração ou risco for praticado a partir de um lado só da peça, o furo terá uma forma em V, usando areia abrasiva e água para conseguir o polimento. Aliás, para serrar um bloco de pedra, usa-se uma corda feita com fibras vegetais ricas em material silicoso (fitólitos) que atua como serrote, com a ajuda de abrasivo arenoso normal. Gasta-se muito cordão, mas a técnica funciona perfeitamente, mesmo no caso de rochas muito duras.” As incisões profundas em peças planas como as do Morro da Guia teriam sido realizadas com esta técnica. O mesmo Prous (Op. cit.: 61) propõe que os sambaquianos com esta técnica conseguiram elaborar almofarizes, bigornas, mós e polidores fixos com fins de adornos, e objetos de arte e/ou ritual. Também eles conheciam a técnica da percussão direta e da indireta, usadas para fazer ferramentas. É possível sugerir o uso das fibras das palmeiras tucum e gerivá, ou talvez a taboa, para realizar os desgastes que cresciam abundantemente na região. O Morro da Guia é o centro de um amplo contexto geográfico, tendo a Oeste, no fundo, a Ponta do Ambrósio, a Lagoa de Araruama, a entrada do Itajuru e os Sambaquis do Novo Portinho; ao Leste, o Morro do Costão, o Abrigo da Lua, a ilha dos Papagaios, os sambaquis da Boca da Barra, o sambaqui do Forte e a ilha do Cabo; no Norte, o Morro do Telégrafo, o canal do Itajuru e seu manguezal; e ao Sul, o oceano Atlântico, Arraial do Cabo e a Ilha do Cabo. Numa análise espacial podemos apontar que o Morro da Guia se localiza em perfeito alinhamento leste-oeste com a Pedra do Lagarto, em Iguaba Grande, recentemente descoberto (Altamirano 2008). A leste existe o Abrigo da Lua, no Costão em direção à ilha dos Papagaios. Estes pontos geográficos não seriam uma coincidência, senão que estavam ligados a um sistema de controle do espaço e do tempo. Estes pontos de orientação permitiriam ordenar dois tipos de atividades sambaquianas: econômicas e rituais. Sendo o Morro da Guia um eixo central de toda a região, parecem existir alinhamentos visuais que assinalam a posição de sítios sambaquis com cemitérios e outros como grotas, ilhas e formações de rochas “naturais”. Isto seria como um sistema ceque rudimentar. A incineração dos sambaquis teria sido um sistema comunicativo e ritual com o Morro da Guia durante os ritos funerários e as festas comunais. Outro detalhe importante que pode resolver a função do sítio está na “poltrona”, localizada no topo do morro e próxima à Capela. Esta se encontra orientada ao Norte magnético, sua forma trapezoidal e polida faz lembrar certas rochas andinas chamadas de “ushnu”. No império inca, o “ushnu”, que se localizava nas praças principais das cidades, tinha uma conotação sagrada e simbólica, pois formavam o sistema ceque ou de alinhamentos, indicando o lugar de origem e sistema de memória das comunidades. Era uma estrutura de forma piramidal de pedra que servia para executar diversos rituais, e de onde o Inca ou cacique controlava as atividades econômicas da população. Era um centro de reuniões e de trabalhos suntuosos (Zuidema 1982). Sentado comodamente na rocha nos coloca numa visão astral. A posição estratégica dessa rocha permite obter uma observação de 360º da região que, junto com o gnomon, poderia controlar durante o dia o movimento do Sol (Coaraci) e, durante as noites claras, os movimentos da Lua (Jaci) que chamavam de lua cheia (Cairé) e lua nova (Catiti), e do planeta Vênus, que conheciam como Rudã. Estes astros formavam parte da religião xamanista tupinambá, que poderia remontar-se ao período sambaqui. A impressão de “pegadas” na Rocha principal do Conjunto Nº 2, que foram interpretadas por Domingos de Loreto Couto, em 1725, como as pegadas de Sumé, Domingos de Loreto Couto, em 1725, transcreveu: "Na cidade de Cabo Frio, distante de dezoito léguas do Rio de Janeiro, em um lugar chamado Itajuru, se vê um penedo em que estão esculpidos oito sinais de bordão, como se as pancadas foram dadas em branda cera; é tradição entre os índios que aqueles sinais são do bordão de São Tomé em ocasião em que os índios resistiam à doutrina que lhes pregava, os seus corações mais duros que pedra resistiam à brandura e eficácia da lei que lhes ensinava" (apud Beltrão 1978). aparecem formando onze cavidades ovais que se assemelhariam mais a pegadas de felino (jaguar) que de humanos além de estar rodeado de pequenas cavidades que simbolizariam o céu. Inferimos que estas fossas ovais representariam as estrelas e se correlacionaria com a constelação das Plêiades, o Sete Estrelo ou Seixu, da mitologia tupinambá (Fig. 8). As Pleiades (Objerto Messier 45) são um grupo de estrelas na constelação do Tauro, também chamadas de aglomerado estelar (ou aglomerado aberto), são facilmente visíveis a olho nu nos dois hemisférios e consistem de várias estrelas brilhantes e quentes, de espectros predominantemente azul. Podem ser vistas no verão do Hemisfério Sul e são conhecidas desde a antiguidade por diversas culturas como os Maoris (que as chamavam de Matakiri), os aborigenes australianos, da Polinésia e da Melanésia, os Persas (que as chamavam Parveen/parvin e Sorayya), os Chineses, os Maias (que chamavam-nas de Tzab-ek), os Astecas (Tianquistli) e os Sioux da América do Norte. Os catálogos de estrelas babilônicos chamavam-nas de Mul-mul, ou "estrela de estrelas", e elas encabeçavam a lista de estrelas da eclíptica, refletindo o fato que elas estavam próximas do ponto do equinócio vernal em torno do 2.300 anos a.C. (Percival et alli, 2005). A intensa coloração azul que emitem estas estrelas poderiam ter sido vistas pelos sambaquianos que usavam a planta halucinógena da Condalia, também de cor azul, nos ritos funerários e nos ritos de banquete (Scheel-Ybert, 1998). Na área andina, as Plêiades ou Choquechinchay estão correlacionadas com o felino guardião e é um indicador da chegada da estação das chuvas ou o verão. Fig. 8.- Comparação da distribuição das “pegadas” com a posição das estrelas das Plêiades. Note-se a semelhança dos orifícios pequenos com as estrelas mais distantes da foto. A função religiosa do Morro da Guia foi descrita por André Thevet (1558) no seguinte trecho: "Na ocasião em que os índios resistiam à doutrina que pregava, e lhes quis mostrar com este exemplo que: quando penedos se deixavam penetrar pelas palavras de deus, seus duros corações resistiam mais obstinados que as duras penhas. Os silvícolas guardavam estas pedras como um grande e precioso tesouro. Se lhes roubassem uma das pedras, ou a destruíssem, tal fato arrastaria a ruína e aniquilamento de todo o reino" (Thevet, Op. cit.). Os 16 enterramentos humanos do Sambaqui do Forte, recuperados por Kneip (1977), e outros sambaquianos desta região, se caracterizam por ser: primários (de corpo completo), de cúbito dorsal, corpos estendidos e orientados de norte-sul (80%) e leste-oeste (20%). É possível inferir que este comportamento ritual funerário seria para iniciar uma “viagem”, talvez a Leste, ao mar, lugar do nascimento do Sol. Três desses enterramentos continham mandíbulas de lagartos, e os outros, cada um com uma grande vértebra de peixe polida e sem furo, o que significaria a “viagem dos espíritos” pelo mar (guiados por lagartos e peixes grandes em qualidade de psicopompo) e daí ascendendo às estrelas, transportados por uma canoa em forma de meia-lua. Aqueles pescadores praticariam ritos funerários de purificação dos mortos no local em que estes tinham circulado, para a limpeza da terra e a saúde da comunidade. Entre os índios da Amazônia, o mekarõ (espírito) do morto move-se pelo rastro de onde já andou: “primeiro no lugar em que nasceu, depois no que casou, depois no que morreu...” (Carneiro da Cunha 1992). Por isso, o defunto sambaquiano era levado ao Morro da Guia e colocado num desses conjuntos líticos em forma de “U” do topo (talvez a pertencente à tribo) para recolher seus passos no lugar onde se cassou e andou. Também os Guarani e os Xokleng de Santa Catarina possuem o hábito de purificar os vestígios do morto no local em que este circulava. Pelo formato em “U” que oferecem alguns conjuntos líticos e orientados ao NE (C1), a W (C2) e ao Norte (C3-C4), é possível sugerir que essas cavidades permitiriam colocar defuntos para os ritos de purificação antes de serem levados e enterrados nos sambaquis e iniciar sua “viagem às estrelas”. Pela posição quase vertical da rocha sulcada de C4, parece ser a figura de uma ave preta, talvez um urubu com as assas abertas em atitude de esquentamento ou de vôo. Durante a Colônia, em 1557, houve um surto de peste bubônica em Cabo Frio e, em 1616, alastrou-se a varíola ou “mal-das-bexigas”. Os católicos atribuíam as doenças aos demônios e maus espíritos que viviam no Morro da Guia e simbolizados nos “rochedos sulcados”, indicando-o como lugar de origem e contágio desses males, proibindo a subida das crianças ao topo do morro. Esta visão de contágio de doenças pelo mau cheiro ou miasmas Miasma deriva de mau cheiro, de fluxo putrefato ou de líquido corporal podre. Durante toda a Idade Média e na Colônia brasileira era considerado a origem das doenças (Rosen 1994). dominou todo o período colonial e muitos sítios sagrados pré-históricos sofreram profanações durante o processo de catequização, construindo-se capelas e igrejas em antigos lugares sagrados indígenas (McNeill 1972). Em 1663, o jesuíta Simão de Vasconcelos afirmou - seguindo as ideias católicas - que os sulcos foram feitos por descendentes dos fenícios, povos de origem semita e uma das 12 tribos perdidas de Israel (apud Mendonça de Souza 1991). A proposta de que os fenícios ou sírios chegaram às costas brasileiras em épocas remotas predominava no conhecimento da época, perdurando até meados do século XX. Mas esta hipótese jamais foi demonstrada cientificamente. Já no século XVIII, a função religiosa dos conjuntos líticos havia sido totalmente transformada pela intensa catequização cristã e católica, além da miscigenação total dos nativos introduzidos. As diversas igrejas católicas como São Bento, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora dos Anjos, a capela do Morro da Guia, São Benedito etc., são exemplos dessa permanente evangelização colonial. Nos séculos XIX e XX, apesar das visitas de Auguste de Saint Hilaire, Charles Wiener e Alfred Métraux, já o Morro da Guia havia perdido sua verdadeira função religiosa de coesão social das tribos locais. Em 1881, Ladislau de Souza Netto (1885: 484-5) descreveu as rochas sulcadas do Morro da Guia e concluiu que eram amoladores de artefatos líticos, sugerindo que os referidos sulcos apresentam-se em diferentes sentidos, indicando ter sido feitos por indígenas que, ajoelhados ou acocorados sobre a face superior dos rochedos, ali desbastavam os fragmentos de diorito com que se faziam machados. A água e a areia eram os únicos elementos de que se socorriam para esta operação. Simões da Silva (1917) seguiu a hipótese de Netto sobre os “polidores líticos”, descrevendo a existência de dez Rochas dispostas no sentido NE-SW, desde o sopé até o alto do morro. Também indicou que havia 184 sulcos, dos quais 168 eram retos e apenas 16 curvos, medindo estes sulcos de 20 a 120cm de extensão, com largura de 2 e 3cm. Aliás, Silva mencionou que dois blocos foram transportados ao Rio de Janeiro, um ao Museu Nacional e outro ao Museu Simões da Silva. Mas nossa procura de tais rochas no Museu Nacional foi infrutífera. Em 1959, Dias Júnior escreveu um breve artigo acerca do Morro da Guia e defendeu a tradicional hipótese de “amoladores líticos” e incorporou-o à tradição de sítios-em-dunas. Este pesquisador também acreditava que o sítio era uma oficina lítica construída dentro da tradição Itaipu (Dias Jr. 1959, 1973). A atribuição cultural dentro da tradição sambaquiana-Itaipu está correta, mas a sua função deixa dúvidas. Nas décadas posteriores a hipótese de “amoladores líticos” popularizou-se na arqueologia brasileira (Rodrigues 1969; Beltrão 1978; Kneip 1978; Barbosa & Gaspar 1998; e outros). Dias Jr. (1959) também interpretou que os sulcos das rochas eram as marcas das piracemas e das épocas de chuvas, partindo da analogia etnográfica dos índios Wasusu, do tronco Nhambiquara, que vivem no rio Madeira, em Rondônia, e dos índios do alto rio Uaupes e do rio Negro, em Roraima, que também possuem este tipo de pedras sulcadas, indicando sua relação com a piracema. Em junho de 2009, viajamos ao rio Madeira para verificar essa hipótese e observamos que os Wasusu ainda consideram sagradas aquelas “rochas sulcadas”. Aliás, as rochas do sítio Pedra Pintada de Roraima não são sulcadas, mas decoradas de vermelho intenso, ao lado de enterramentos humanos (Reis et al. 2008). A inferência de Dias Jr. sai dos moldes de “amoladores” e busca uma relação etnográfica da piracema-reprodução de peixes-época de chuvas, um modelo comparativo válido para a Nova Arqueologia. Porém, o fenômeno da piracema no rio Itajuru ocorre em sentido inverso, da lagoa para o mar, nos meses de inverno, entre maio e agosto, quando os cardumes de tainhas (Mugil sp.) saem para desovar pela Boca da Barra ao mar. A ideia do ciclo anual de controle do movimento migratório dos peixes, no sentido das nascentes dos rios para o mar, com fins de reprodução, e sua associação com a época de chuvas, provavelmente já era conhecido pelos sambaquianos, que estariam ligados com as atividades agrícolas e com vários ritos de passagem praticados no topo do morro (por exemplo, o do nascimento, do casamento, da cura, de furar as orelhas e bochechas, da morte etc.). A piracema era um evento biológico, comunitário, cíclico e milenar que ordenava parte da cosmovisão sambaquiana e teria estado ligada aos Conjuntos líticos superiores como C1, C2 e C3-C4 que controlavam o NE, Oeste e Norte, respectivamente. Ou seja, desde a origem do rio Itajuru até a sua desembocadura. Aliás, a origem deste rio era controlada por C2, orientada a Oeste, e coincide com a aparição das Plêiades (presente na rocha sulcada desse Conjunto) e indicava a estação do início das chuvas. A Rocha sulcada A do Conjunto Nº 5-5a insinua a cabeça de um jaguar, cujos riscos e cavidades ovais e circulares simbolizam uma iconografia complexa. Está orientada a Leste, ao mar, à ilha do Cabo, à duna Mãe e ao Sambaqui do Forte, onde existem sepultamentos humanos. A figura central A é um triângulo com vértice para cima, que parece ser a representação masculina, e as outras duas, B e C (à esquerda), de vértice para baixo, teria a conotação feminina (ver Fig. 7). Os quatro ou cinco riscos paralelos dispostos próximos a estas figuras representariam símbolos sagrados ou louvores. Isto formaria parte de um mito sambaquiano relacionado à fertilidade e, sobretudo, ao casamento endogâmico e ao funeral. Esta tradição teria sido perpetuada até o advento dos tupinambás, como um culto a um deus masculino, que poderia ser Coaraci, o Sol, e as femininas, que seriam Jaci e Rudá, a Lua e Vênus, respectivamente. A história desse mito está intimamente relacionada com o culto ao jaguar e o papel do xamã na transformação em felino para os rituais do cauim e da antropofagia. Em fins da década de 60, João Alfredo Rohr (1969) propôs a hipótese de petróglifos e as comparou com outras rochas sulcadas existentes na ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes, que exibem a mesma técnica cupuliforme. Em 1978, o sítio foi documentado por A.C. Silva Telles (1980), que analisou as regularidades existentes nos sulcos e as contrastou com outras rochas sulcadas do maciço do Pontal de Atalaia, em Arraial do Cabo. Alfredo Mendonça de Souza (1981), seguindo esta hipótese, levantou alguns argumentos contra a hipótese de polidores fixos, como, por exemplo, o fato de que os blocos sulcados estão alinhados quase no sentido NE-SW, do alto ao sopé do morro, e que 70% dos sulcos apresentam o mesmo alinhamento. Contudo, as disputas acadêmicas entre os defensores de amolares e os de petróglifos eram intensas nas décadas de 80 e 90, chegando até a ofensas e brigas. Mas todos estes pesquisadores somente haviam concentrado seus estudos nas rochas sulcadas, descuidando de outras próximas, alisadas e ordenadas que estavam formando Conjuntos e elementos. Nossa primeira hipótese considera que os Conjuntos líticos, divididos em os de acima (C1, C2 e C3-4) e os de abaixo (C5-5a, C6 e C7) representariam as aldeias sambaquianas e Itaipu, respectivamente, que formavam o grupo Cabo Frio que se estendia até Malhada e Corondó, em Campos Novos. Sendo o terceiro elemento estrutural a praça central. Ou seja, a distribuição espacial dos conjuntos líticos do Morro da Guia estaria indicando a organização social das aldeias sambaquianas. Esta divisão binária e ternária formava a base da cosmovisão das antigas populações da região, integrando os homens do mar (os pescadores e coletores) que seriam os de acima e os do lago (os horticultores e caçadores) que seriam os de abaixo. A segunda hipótese propõe que esses Conjuntos serviriam para a elaboração de rituais específicos onde se reuniriam poucas pessoas, diferentemente da praça central, que concentraria multidões. Ou seja, cada Conjunto lítico, por ter pouca altura e diversas orientações, teria sido um “altar”, tendo os de cima o formato de “U” e os de baixo de “L”, exibindo em um de seus braços a Rocha Sulcada, dirigidos ao horizonte. Além disso, todas as rochas sulcadas exibem no centro a interação dos símbolos de = ♂ e V = ♀, que representariam respectivamente o masculino (o macho) e o feminino (a fêmea), às vezes os dois juntos. Isto indicaria a grande importância dos ritos de casamento como símbolo principal da fertilidade, da perpetuação e da regeneração das plantas, animais e homens. Seguindo nossa reflexão, a distribuição espacial dos conjuntos de rochas do Tairu indica três níveis: a parte alta, a média e a baixa. Na parte alta, os conjuntos e elementos estão ligados com a Poltrona e o gnomon, simbolizando o poder de controle do chefe e legitimados pelas constelações, ou seja, o mundo do céu (o ar). Na parte média, localiza-se a praça maior e a Itapeba, uma grande pedra alisada e incinerada, cuja função social serviria para a concentração das tribos, a integração, as festas, danças e libações, ou seja, o mundo atual (a terra). E na parte inferior, a orientação dos Conjuntos está voltada para o Leste, em formato de “L”, simbolizando a viagem dos mortos pelo mar, ou seja, o mundo inferior ou inframundo (a água) (Fig. 9). Fig. 9.- Organização estrutural e simbólica do Morro da Guia em tríades em relação aos Conjuntos, poltrona, gnomon, itapeba e as praças superior, média e inferior. Inferimos que as “pegadas” da pedra sulcada do C2 representariam a constelação do jaguar, as Plêiades, apontando o mundo superior; outras “pegadas” também aparecem em C3-C4 e C5-5a e os riscos em geral indicariam as marcas do jaguar, os espíritos dos ancestrais, como uma das divindades principais dos sambaquianos, que dominaria os três mundos. Para Claude Lévi-Strauss (1973: 118), estas estruturas duais e tripartites ainda existem nas tribos indígenas do Brasil central, como o caso dos Bororo, em Mato Grosso, onde o aparente dualismo simétrico da estrutura social indica uma organização tripartite e assimétrica, sugerindo sua importância nas relações matrimoniais, nos casamentos de primos cruzados, onde a filha da irmã do pai se casa com o irmão da mãe, implicando um número mínimo de três pessoas diferentes, o que seria impossível com grupos de dois. Este sistema de parentesco persiste nas tribos Tupi. Por isso os sambaquianos da Boca da Barra de Cabo Frio se organizavam em três grupos na margem esquerda como os de Salinas Peroanas, Nacil e Sambaqui do Meio, e na margem direita se localizam o Sambaqui do Forte, o Sambaqui da Boa Vista e o Sambaqui do Yacht Club. Entre os Bororo as tríades superior, média e inferior, envolvem uma relação endogâmica tripartite, porque os da metade superior se casam apenas com os da outra metade superior (ou seja, entre as tribos mais antigas), os da metade média o fazem de modo similar com a outra metade média e os da metade inferior (tribos mais recentes) somente entre eles. Isto ocorre também nos Xerente e Timbira em Tocantins. Por esta razão, Lévi-Strauss (Op. cit.: 139) aponta que o triadismo e o dualismo são indissolúveis. Por isso, também o dualismo diametral aparente, de cima e de baixo, encobre imperfeitamente um sistema de três pólos. O alto pode ser representado por um pólo: o céu; e o do baixo, subdividido em dois pólos: a água e a terra, que no Morro da Guia corresponderia aos conjuntos superiores (o céu, o ar, os ventos NE-SW, as estrelas, o mundo dos deuses), a praça intermédia (a terra e o mundo dos homens) e os conjuntos inferiores (a água e o mundo dos mortos). Turner (1974) e Van Gennep (1978) afirmam que os rituais cumprem uma função principal de comunicação, coesão e memória das comunidades humanas, sendo mais intensas e enraizadas em sociedades “primitivas”. Em suma, os Conjuntos e elementos de rochas do Morro da Guia teriam formado, para os sambaquianos desta região, um centro cerimonial, um “axis mundi”, que concentrava multidões durante os rituais comunitários, como os de iniciação ou furo de lábios e bochechas, de casamento, de pesca (na piracema), de funerais e do cauim, entre outros. Por isso, para aniquilar a forte função de religiosidade indígena do Morro da Guia, os invasores lusos para impor a sua religião católica construíram em seu redor um convento, uma capela e um cemitério durante o período Colonial. CONCLUSÕES 1.- Os sulcos das rochas do Morro da Guia ou Tairu foram elaborados durante o período Arcaico ou Pré-cerâmico final, que corresponde à ocupação da sociedade sambaquiana tardia e ao surgimento de tribos horticultoras Itaipu (2.500 a.C.-1 a.C.) num período de incremento demográfico. 2.- O sítio arqueológico teve uma função de caráter mágico-religiosa, um “axis mundi”, que formava parte medular da organização social igualitária do mundo dos sambaquianos da região de Cabo Frio, baseada num sistema sociocultural xamanístico. 3.- Os dois grupos de Conjuntos líticos, os de cima e os de baixo, direita/esquerda, formavam uma dualidade de oposição e complemento que simbolizava a força das sociedades litorâneas e interioranas, que inventaram uma simbologia de sulcos, retos e curvos, cavidades ovais e fossas pequenas para legitimar as relações de parentesco endógamo e os rituais funerários das comunidades sambaquianas do grupo Cabo Frio. 4.- Os três níveis estruturais estabeleceriam a base cosmológica sambaquiana, onde o superior indicava o mundo dos deuses com representações de constelações, do poder político-religioso, da fertilidade e dos ancestrais (o ar); o médio simbolizava a interação social dos grupos, ou seja, o mundo dos homens (a terra); e o inferior representava o mundo dos mortos (o mar). AGRADECIMENTOS Ao CNPq, que concedeu a bolsa de pesquisa Processo No. 553669/2006-0 sob o titulo Criação do Museu de Arqueologia de Armação dos Búzios, 2006-07, e ao Francisco Marques pela correção do texto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTAMIRANO, A.J. (2008). Rocha milenar em forma de lagarto foi descoberta em Iguaba. Jornal de Sábado, pág. 4, 22 de março, Cabo Frio, RJ. ___________. (2007). Atentado na rocha sulcada do Morro da Guia. Jornal de Sábado, Cabo Frio, 12 de janeiro, p. 6. Cabo Frio, RJ. ___________. (2009Ms). A pré-história da região de Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil. Trabalho inédito. Cabo Frio. CD ROM. ANCHIETA, Padre J. (1933). Informações e fragmentos históricos 1886. Escrito em 1560. Nota introdutória de Capistrano de Abreu. Rio de Janeiro. ARAÚJO, D.S.D. (2000). Análise florística e fitogeográfica das restingas do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Tese Doutorado. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Programa de Pós-Graduação em Ecologia. ARAÚJO, D.S.D.; HENRIQUES, R.P. (1984). Análise florística das restingas do Estado do Rio de Janeiro. In: Lacerda, L.D.; Araújo, D.S.D.; Cerqueira, B. (Orgs.) Anais do Simpósio sobre Restingas Brasileiras, CEUFF: Restingas, Origem, Estrutura, processos, Universidade Federal Fluminense/ CEUFF: 159-193. BARBIÈRE, E.B. (1984). Cabo Frio e Iguaba Grande, dois microclimas distintos a um curto intervalo espacial. In: Lacerda, L.D.; Araújo, D.S.D.; Cerqueira, B. (Orgs.) Anais do Simpósio sobre Restingas Brasileiras, Restingas, Origem, Estrutura, processos, Universidade Federal Fluminense/CEUFF: 253-274. BARBOSA, M. & CASCABULHO, I.R. (1995). Sistematização e cartografia dos testemunhos pré-históricos dos pescadores, coletores e caçadores, Estado do Rio de Janeiro. Um estudo do caso. Resumo expandido do III Workshop ECOLAB 95, p. 131-2, Belém. BARBOSA, M. & GASPAR, M.D. (1998). Bibliografia brasileira sobre pescadores, coletores e caçadores pré-históricos litorâneos e ribeirinhos. C.N. Ricci, três tomos. RJ. BELTRÃO, M.C. (1978). Pré-história do Rio de Janeiro. Forense, Rio de Janeiro. BRANNER, J.C. (1904). Inscrições em rochas no Brasil. Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, 11: 249-261. CARNEIRO DA CUNHA, M. (1992). História dos índios no Brasil. São Paulo, Editora Companhia de Letras. CORREA, M.V. (1992). Informe sobre o uso da frottage na documentação do sítio da Guia, Cabo Frio, RJ. Anais da VI Reunião Científica da SAB editados por Souza, A.M., Gaspar, M.D. & Seda, P. vol. 1, p. 328-37. UNESA. Rio de Janeiro. DIAS Jr., O.F. (1959). Os polidores líticos do Morro da Guia. Boletim de história, ano 1, nº 4, e ano 2, nº 5. Centro de estudos de História da Faculdade Nacional de Filosofia - Universidade do Brasil, Rio de Janeiro. ________. (1963). Notas sobre a arqueologia da região de Cabo Frio. Boletim do Instituto de Arqueologia Brasileiro, nº 1 (1), p. 1-15, Rio de Janeiro. ________. (1992). A tradição Itaipu, costa central do Brasil. Prehistoria sudamericana nuevas perspectivas. Taraxacum, Washington, Betty Meggers, editor. p. 161-76. ________ & CARVALHO, E.T. (1983). Um possível foco de domesticação de plantas no Estado do Rio de Janeiro/RJ-JC-64 (sítio Corondó). Boletim série ensaios IAB, Rio de Janeiro, nº 1, p. 1-18. ________ & CARVALHO, E.T. (1995). A tradição Itaipu no Rio de Janeiro. Discussão dos tópicos a questão da imobilidade cultural. Arqueologia do Rio de Janeiro. Niterói: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, p. 105-10. FRANCO, T.C. & GASPAR, M.D. (1991). O sítio Salinas Peroana. Anais VI Reunião Científica da SAB. Rio de Janeiro, nº 1, p. 162-71. GASPAR, M.D. & TENORIO, M.C. (1990). Amoladores e polidores fixos do litoral brasileiro. Anais da VI Reunião Científica da SAB. Revista do CEPA, nº 17, p. 181-90. Santa Cruz do Sul. ________; BUARQUE, A.; CORDEIRO, J.; ESCÓRCIO, E. (2007). Tratamento dos Mortos entre os Sambaquieiros, Tupinambá e Goitacá que ocuparam a Região dos Lagos, Estado do Rio de Janeiro. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 17: 169-189. ________. (1992). Aspectos da organização social de um grupo de pescadores, coletores e caçadores que ocupou o litoral do Estado do Rio de Janeiro. Paleopatologia e Paleoepidemiologia, estudos multidisciplinares. Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, coordenadores A.J.G. de Araújo e L.F. Ferreira, p. 95-109, RJ. _________(1994/95). Espaço, ritos funerários e identidade pré-histórica. Revista de Arqueologia, São Paulo, v.8, n.2, p. 221-237. _________ (2000). Sambaqui: arqueologia do litoral brasileiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editorial. _________(2001). Soberanos da costa. XI Congresso da sociedade de arqueologia brasileira, SAB 2000, a arqueologia no novo milênio, resumos p. 43. RJ. _________ (2004). Cultura: comunicação, arte, oralidade na pré-história do Brasil. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 14: 153-168. _________(2006). A arte rupestre no Brasil. Edições Zahar, RJ. GUFFROY, J. (1987). Nuevas hipótesis sobre los petroglifos de Checta y otros sitios principales. Boletín de Lima nº 51, p. 53-9. Lima. KNEIP, L.M. (1971). Pescadores e recoletores do litoral sul: sugestões para um projeto de pesquisa. Revista do Museu Paulista nº 19, p. 137-45. São Paulo. ________. (1977). Pescadores e coletores pré-históricos do litoral de Cabo Frio. Coleção Museu Paulista, Série Arqueologia, nº 5, São Paulo. ________. (2001). O Sambaqui de Manitiba I e outros Sambaquis de Saquarema, RJ. Documento de Trabalho, Série Arqueologia, Rio de Janeiro. ________ & OLIVEIRA, N.V. (2001). Amoladores e polidores líticos fixos da Ilha de Marambaia. XI Congresso da sociedade de arqueologia brasileira, SAB 2000, a arqueologia no novo milênio, resumos, p. 182. RJ. LEROI-GOURHAN, A. (1985). As religiões da pré-história, Paleolitico. Edições 70, Lisboa. LOTUFO, C.A. & CASTRO, A.A. (1990). Considerações sobre a matéria-prima lítica utilizada pelas populações pré-históricas co complexo arqueológico de Praia Grande, Arraial do Cabo. Munda, Coimbra, GAAC, vol. 19, p. 58-63. LÉVI-STRAUSS, C. (1973). Antropología Estructural. Eudeba, Editorial Universitária de Bs. As. MANSUR, K. L.; NASCIMENTO, V.; SILVA, A. S.; SCHIMITT, R. (2007). Geologia da APA da Massambaba. In: Cecília Bueno, Dalva Rosa Mansur, Kátia Mansur, Luigy Tiellet Filho, Pedro Paulo de Lima e Silva, Renata Schimitt, Wagner Carvalho. (Org.). Massambaba - Caminho para o Infinito. Iguaba Grande: Ed. IPEDS - Centro de Pesquisas, p. 5-13. McNEILL, W.H. (1972). Plagues and Peoples. New York: Anchor Press. MENDONÇA DE SOUZA, A. (1981). Pré-história fluminense. Instituto estadual do Patrimônio Cultural, Secretaria Estadual de Educação e Cultura. Estado do Rio de Janeiro. RJ. ________. (1991). História da arqueologia brasileira. UNISINOS, São Leopoldo, RGS. Instituto Anchietano de Pesquisas, Antropologia No. 46. 157 pg. Edunisul. NETTO, L.S,M. (1885). Investigações sobre a archeologia brasileira. Archivos do Museu Nacional, vol. 6, p. 257-554. RJ. PERCIVAL, S. M.; SALARIS, M.; GROENEWEGEN, M. A. T. (2005). The distance to the Pleiades. Main sequence fitting in the near infrared. Astronomy and Astrophysics, v.429, p.887. PORRAS, P.I.G. (1992). Petroglifos, Altos del Misagualli, Alto Napo, Ecuador. Prehistoria Sudamericana, Nuevas Perspectivas (Editor B.J. Meggers), p. 359-68. Taraxacum, Washington DC. PROUS, A. (1992). Arqueologia brasileira. Editora Universidade de Brasília. Brasília DF. REIS A.P., MANSUR, K.L. (1995). Sinopse geológica do Estado do Rio de Janeiro – Mapa geológico 1:400,000 DRM (RJ), Niterói, RJ, texto e mapa, 90p. REIS, N.J., SCHOBBENHAUSS, C. & COSTA, F. (2008). Pedra Pintada, RR, ícone do lago Parime. Sítios geológicos e paleontológicos do Brasil. SIGEP 012. http://www.unb.br/ig/sigep/sitio012/sitio012.pdf RODRIGUES, C.C. (1969). Os polidores de Cabo Frio (Estado do Rio de Janeiro). SBPC Ciência e Cultura, nº 21 (2), p. 307. ROHR, J.A. (1969). Petróglifos da Ilha de Santa Catarina e ilhas adjacentes. Pesquisas Antropologia nº 20, 30 pags, 15 figs e 1 foto. Instituto Anchietano de Pesquisas, São Leopoldo. ROSEN, G. (1994). Uma história da saúde pública. 2a ed., São Paulo, Hucitec/Abrasco.         ROUSE, I. (1949). Petroglyphs. Handbook of South American Indians, Bureau of American Ethnology, ed. Julian Steward, Washington, D.C. vol. 5, Boletin 143, p. 413-502. SCHEEL-YBERT, R. 1998 Stabilité de l’Ecosystème sur le littoral sud-est du Brésil à l’Holocène Supérieur (5.500 – 1400 ans BP) – Les pêcheurs- cueilleurschasseurs et le milieu végétal : apport de l1Anthracologie. Tese de Doutorado. Université Montpellier II. 257 p. __________ (1999). Paleoambiente e paleoetnologia de populações sambaquieiras do sudeste do estado do Rio de Janeiro, Revista doMuseu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 9: 43-59. SHANKS, M. & TILLEY, C. (1987). Social theory and archaeology. Oxford. Polity Press. __________ (1992). Re-Constructing archaeology: theory and practice. Second edition, London, Routledge. __________ (1996). The craft of archaeology. American Antiquity 61 (1): 75-88. SILVA, A.C.S. (1917). The grindstones of the primitive inhabitants of Cabo Frio, Brazil. In: Proceedings of the second pan American scientific congress, section I, anthropology, Washington, I, p. 179-84. SILVA, J.P. & LACERDA, E.T. (1985). Panorama da arqueologia de Cabo Frio. Prefeitura Municipal de Cabo frio, Secretaria Municipal de Educação e Cultural. Divisão de Cultura, Centro Manoel Camargo, Rio de Janeiro. STADEN, H. (1974). Duas viagens ao Brasil [1555]. São Paulo/Belo Horizonte, editorial Itatiaia/Edusp. TELLES, A.C.S. (1980). Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil. Rio de Janeiro. MEC/SEAC/FENAME. 344 pags. THEVET, A. (1978). As singularidades da França Antarctica [1558]. São Paulo/Belo Horizonte, Editorial Itatiaia/Edusp. TURCQ, B. et al. (1999). Origin and evolution of the Quaternary coastal plain between Guaratiba and Cabo Frio, State of Rio de Janeiro, Brazil. In: Knoppers, B., Bidone, E.D. and Abrão, J.J. (Eds). Environmental Geochemistry of Coastal Lagoon Systems, Rio de Janeiro, Brazil. Niterói, CEUFF, Série Geoquímica Ambiental, n.6, p.25-46. TURNER, V. (1974). O processo ritual. Petrópolis: Vozes, 248p. VAN GENNEP, A. (1978). Os ritos de passagem. Petrópolis: ed. Vozes. VASCONCELLOS, S. DE (1943). A vida do Venerável Padre José de Anchieta. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. ZUIDEMA, T.R. (1982). Bureacracy and sytematic knowledge in Andean Civilization. Em: The Inca and Aztec state 1400-1800. Eds. G.A. Collier, R.I. Rosaldo, J.D. Wirth, New York. PAGE \* MERGEFORMAT3