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AS MAGNÍFICAS BIBLIOTECAS DO IMPÉRIO DO MALI

2018, EDITORA KOTEV, SÉRIE AFRICANIDADES 8/ INSTITUTO PORTAL AFRO (SÃO PAULO)

As Magníficas Bibliotecas do Império do Mali é um artigo digital motivacional para cursos de iniciação e de capacitação em afro-educação, primeiramente disponibilizado na home-page do Instituto Portal Afro em 30 de Março de 2016. A presente edição deste texto foi masterizada em 2017 pela Editora Kotev para fins de acesso livre na Internet (Kotev ©). A presente edição deste texto foi masterizada em Junho de 2017 pela Editora Kotev (Kotev ©), para fins de acesso livre na Internet (Kotev ©). A edição de 2017 foi levemente ampliada e inclui novas imagens, incorporando também as regras atualmente vigentes quanto à norma culta da língua portuguesa, cautelas de estilo e normatizações editoriais inerentes ao formato PDF. As Magníficas Bibliotecas do Império do Mali é um material gratuito, sendo vedada qualquer modalidade de reprodução comercial e de divulgação sem aprovação prévia da Editora Kotev (Kotev©). A citação do material deve obrigatoriamente incorporar referências ao autor e apensos editoriais de acordo com o padrão modelar que segue: WALDMAN, Maurício. As Magníficas Bibliotecas do Império do Mali. Série Africanidades Nº. 8. São Paulo (SP): Editora Kotev. 2018.

1 AS MAGNÍFICAS BIBLIOTECAS DO IMPÉRIO DO MALI 1 MAURÍCIO WALDMAN 2 A África tem sido objeto de uma estratégia de desqualifcaaço que perdura por séculos, estigmatizando nço apenas as populaaees africanas, mas em igual medida, o conjunto da diáspora afrodescendente. Formatando um racismo matricial e tendo por meta a submissço dos povos e culturas do continente, uma das mais agressivas premissas levadas a cabo para sistematizar a subalternidade da África foi uma pretensa “ausência de civilizaaço” a gravar as terras do continente, que estariam ocupadas por povos bárbaros, incultos e inferiores. Retenha-se que o continente africano corresponde a uma gigantesca poraço do Planeta, aproximadamente um quarto das terras emersas do globo, espaao de origem de toda a raaa humana e das primeiras e ousadas iniciativas que frmaram a presenaa humana na Terra. Nesta senda, pesquisas históricas, geográfcas e antropológicas têm oferecido subsídios para desafar as peaas de fcaço construídas pela discriminaaço racial e pelo saber eurocêntrico. Na realidade, nço apenas o continente foi o berao da espécie humana como também, foco do surgimento de notáveis civilizaaees, como a Núbia, a Abissínia e o antigo gito. mais: este protagonismo perdurou por séculos. No Oeste do continente, nas plagas savaneiras da África Ocidental, vastos e majestosos impérios alojados entre o Golfo da Guiné e o Deserto do Saara ofereceram ao mundo impressionante determinaaço no amparo ao conhecimento cientfco. Nesta pontuaaço, nço haveria como nço inscrever as magnífcas bibliotecas do Império do Mali. O Mali formava um vasto stado tradicional africano que ocupava todo o curso superior e médio do rio Níger e o fuxo do rio Senegal (Figura 1). A prodigiosa performance deste império, fundado pelo legendário Sundjata Keita no século XIII, alcanaou enorme fama e projeaço no mundo muaulmano e na cristandade europeia. 2 FIGURA 1 - Em verde, os territórios que compunham o Império do Mali no Século XIII, assim como os principais centros urbanos. O mapa do império está sobreposto às fronteiras atuais dos Estados da África Ocidental ou do Oeste (Fonte: < https://creativecommons.or//licenses/bc/3..// >. Acesso: 22-/6-2/17) Graaas a sua prosperidade, o Mali mantinha uma numerosa populaaço. stimada entre 40 e 50 milhees de habitantes, confgurava uma das mais proeminentes concentraaees humanas da demografa mundial de todos os tempos. ste dado constitui um claro sinal de que o império possuía organizaaço interna à altura de dar conta de um numeroso contingente de súditos, atendendo suas demandas sociais, culturais, políticas e econômicas. Sob a autoridade dos Mansas - tal como os imperadores do Mali eram conhecidos - uma coleaço de grupos, povos e etnias convivia harmoniosamente, usufruindo de uma conjuntura econômica viabilizada por uma sucessço de reis hábeis, argutos e sensíveis às benesses da paz. 3 Graaas à estabilidade política e operosidade dos seus habitantes, o Mali registrou notáveis avanaos em todos os planos: técnicos, econômicos, sociais, políticos e culturais (Figura 2). FIGURA 2 - A Mesquita de Jenné-Jeno (Djené), exemplo da arquitetura tradicional do Mali. No Mali e em vários outros pontos da África Ocidental existiam construções de /rande porte, que desafavam em proporção as céleres catedrais er/uidas no continente europeu no mesmo período histórico (Fonte: Enciclopédia Britânica, < https://www.britannica.com/place/Mali >. Acesso: 22-/6-2/17) No mais, contestando repetidas pregaaees discriminatórias da África, o império dos Mansas cristalizou profundo interesse para com o saber sistematizado vertido em linguagem escrita, notaaço que igualmente pee em cheque uma difusa mitologia que pressupee um atávico analfabetismo africano. A saber: no território do império, pespontavam bibliotecas reunindo notável acervo de obras em todos os temas e áreas do conhecimento. As estimativas do patrimônio de obras estocadas no Mali estço distantes de constituir um consenso. Contudo, um número bastante aceito aponta um acervo prodigioso: 500.000 livros, documentos e manuscritos. 4 splendidamente encadernados, mantidos a disposiaço de leitores de todos os pontos do império, protegidos por competente corpo de bibliotecários e apoiados por uma legiço de auxiliares, os manuscritos sob jurisdiaço das bibliotecas do Mali constituíam, no Século XIV, uma das maravilhas da rede mundial de conhecimento. Na comparaaço com outros polos de conhecimento do período, somente a Casa da Sabedoria, em Bagdá, que reunia um milhço de volumes e as bibliotecas do gito, localizadas no Cairo, com 1,6 milhço de ttulos, deixavam para trás o total acumulado nas prateleiras deste notável império que foi o Mali. Deste modo, contradizendo a preconceituosa aferiaço cultivada pela historiografa eurocêntrica, o Mali superava o que a própria uropa poderia oferecer de melhor ao mundo conhecido. Certifcando melhor, na comparaaço com a uropa, que em breve se atiraria vorazmente para escravizar os africanos em nome da civilizaaço, enquanto os centros de saber do Mali esbanjavam centenas de milhares de ttulos, confra-se que no mesmo período, o rei da Franaa, Carlos V, o Sábio, patrono das artes e fundador da primeira biblioteca real de Franaa, cantado em prosa e verso nas crônicas ocidentais, a muito custo conseguiu reunir 900 livros na sua corte. Ainda assim um pecúlio bibliográfco que praticamente constituía um regalo do soberano, vedado ao comum dos mortais. Porém, o patrimônio de conhecimento do Mali infelizmente sofreu perdas imensas ao longo dos tempos, ocorridas principalmente com a chegada dos colonialistas franceses à regiço. Ainda assim, milhares de manuscritos das bibliotecas do Mali sobreviveram até nossos dias, despertando admiraaço a todos que tiveram o privilégio de entrar em contato com este acervo. Mantidos muitas vezes em seguranaa pelas comunidades das aldeias, esta heranaa dos Mansas reúne diversifcado conjunto de obras. Abundam tratados de religiço, álgebra, astronomia, botânica, cartografa, flosofa, agricultura, química, geografa, medicina, farmacologia, metalurgia, jurisprudência, música, história, matemática e engenharia. Também sço comuns as peaas literárias e narrativas de reis e imperadores. m suma: livros para todos os gostos, interesses e desejos. Daí que sem meias palavras, tamanho acúmulo de saberes coloca o Mali como um dos grandes destaques no resguardo de séculos de produaço intelectual. De mais a mais, a multiplicidade de idiomas, temas e áreas de interesse é igualmente demonstrativa de uma sociedade dinâmica, plural e animada por enorme curiosidade intelectual. 5 É digno de nota que embora predominem, paralelamente a textos em hebraico, turco e tamashek, documentos em variaaees do idioma árabe, sço frequentes os manuscritos nas línguas africanas locais, demonstraaço evidente do intercâmbio entre aportes culturais islâmicos e o mundo africano tradicional. Desta maneira, obras em mandinga, wolof, fula, swahili, haussá, bambara e songhai conquistaram expressço escrita através de adaptaaees do alfabeto árabe, revelando nço apenas o interesse dos africanos no tocante à moldura muaulmana de elaboraaço intelectual, mas também a forte interaaço e intercomunicaaço com o mundo das ideias em geral (Figura 3). FIGURA 3. - Um dos célebres Manuscritos de Tomboctu, parte de um patrimônio de milhares de itens das bibliotecas do Mali que che/aram até nossos dias. Atentar que embora praticamente todos os documentos utilizem o alfabeto arábico, são comuns em /rande númmero de casos adaptações deste alfabeto para verter lín/uas africanas locais. Dentre os abecedários inspirados no árabe estão o ajami, difundido entre os Haussá e os Fula, e o wolofal, utilizado pelos Wolof (Fonte: < http://www.princeclausfund.or//en/activities/morethan-95-of-the-manuscripts-evacuated-from-timbuutu-in-time.html >. Acesso: 22-/6-2/17) Do ponto de vista editorial, chama à atenaço a variedade de materiais de suporte dos manuscritos: omoplatas de camelo, ovelhas e de outros animais, cascas de árvore, 6 pergaminhos e diversos tipos de papéis, fabricados localmente ou importados de centros fornecedores do exterior. splendidamente trabalhados por copistas, formatados com rigor editorial e adereaados por ilustraaees bem elaboradas, as qualidades estéticas dos textos, a delicadeza da grafa e as primorosas encadernaaees transformaram as bibliotecas do Mali em alvo de grandes campanhas dedicadas a preservar este autêntico e inestimável tesouro cultural. Assim, desde os anos 1970, entidades como o Órgço das Naaees Unidas para ducaaço e Cultura (UN SCO) encetaram esforaos para preservar este autêntico tesouro cultural da Humanidade, iniciativa que resguarda uma das brilhantes contribuiaees da África em favor do progresso da Humanidade. Um tento merecedor do interesse de todos os que procuram romper com paradigmas mergulhados no preconceito e na discriminaaço. 1 As Ma/nífcas Bibliotecas do Império do Mali é um artigo digital motivacional primeiramente disponibilizado na home-page do Instituto Portal Afro em 30 de Marao de 2016. A presente ediaço deste texto foi masterizada em 2017 pela Editora Kotev para fns de acesso livre na Internet (Kotev ©). A presente ediaço deste texto foi masterizada em Junho de 2017 pela Editora Kotev (Kotev ©), para fns de acesso livre na Internet (Kotev ©). A ediaço de 2017 foi levemente ampliada e inclui novas imagens, incorporando também as regras atualmente vigentes quanto à norma culta da língua portuguesa, cautelas de estilo e normatizaaees editoriais inerentes ao formato PDF. A confecaço do formato eletrônico contou com a Assistência de ditoraaço letrônica, Pareceres Técnicos e Tratamento Digital de Imagens do webdesigner Francesco A. Picciolo, -mail: francesco_antonio@hotmail.com, Site: www.harddesignweb.com.br. As Ma/nífcas Bibliotecas do Império do Mali é um material gratuito, sendo vedada qualquer modalidade de reproduaço comercial e de divulgaaço sem aprovaaço prévia da ditora Kotev (Kotev©). A citaaço do material deve obrigatoriamente incorporar referências ao autor e apensos editoriais de acordo com o padrço modelar que segue: WALDMAN, Maurício. As Magnífcas Bibliotecas do Império do Mali. Série Africanidades Nº. 8. Sço Paulo (SP): ditora Kotev. 2018. 2 MAURÍCIO WALDMAN é professor universitário, pesquisador acadêmico, jornalista, editor, consultor e antropólogo africanista, com Graduaaço em Sociologia (USP, 1982), Mestrado em Antropologia (USP, 1997), Doutorado em Geografa (USP, 2006), Pós-Doutorado em Geociências (UNICAMP, 2011), Pós-Doutorado em Relaaees Internacionais (USP, 2013) e Pósdoutorado em Meio Ambiente (PNPD-CAP S, 2015). Dois dos ttulos das pesquisas do autor, Mestrado em Antropologia (USP, 1997) e Pós-Doutorado em Relaaees Internacionais (USP, 2013), constituem trabalhos com área de concentraaço em África. Waldman foi colaborador de Chico Mendes (1988), integrou o Centro cumênico de Documentaaço e Informaaço (C DI, 1988-1990) e atuou como membro da diretoria da Associaaço dos Geógrafos Brasileiros - Seaço Sço Paulo (AGB-SP, 2002-2003). No campo do conhecimento africanista, atuou como consultor internacional da Câmara de Comércio Afro-Brasileira (2013-2017), e durante dez anos (2004-2014), como professor nos cursos de difusço cultural do Centro de studos Africanos da USP (C A-USP). Waldman foi consultor do Instituto Paulo Freire no campo temático de África e realidade negra brasileira, também desenvolvendo palestras e conferências sobre África & Africanidades em dezenas de cidades brasileiras. Maurício Waldman responde pela autoria de 210 artigos, resenhas, projetos e textos cientfcos centrados no temário de África & Africanidades. Dentre outros veículos de mídia impressa, os textos de Waldman foram regularmente publicados pela revista África (C A-USP), Jornal Cultura (Luanda, Angola), revista Brasil-Angola Magazine (Sço Paulo), revista Contemporartes (Curitiba) e Portal Instituto Afro (Sço Paulo). É autor de Africanidade, Espaço e Tradição: A Topologia do Imaginário Espacial Tradicional Africano na fala griot sobre Sundjata Keita do Mali (Revista África, coediaço C A-USP/ ditora Humanitas, 19971998, volume 20/21, pp. 219-268), paper considerado internacionalmente relevante pelo Centre Natonal de la Recherche Scientffue (CNRS), o mais infuente centro de investigaaees da Franaa (Ficha Catalográfca: < htp://mw.pro.br/mw/cat.inist.fra_2017_kotev.pdf >). Maurício Waldman é coautor de Memória D’África: A Temátca Africana em Sala de Aula (Cortez ditora, 2007), obra de referência no campo africanista brasileiro. Mais Informação: Portal do Professor Maurício Waldman: www.mw.pro.br Maurício Waldman - Textos Masterizados: htp://mwtextos.com.br/ Currículo Lattes-CNPq: htp://lates.cnpq.br/3749636915642474 Verbete Wiuipedia (BrE): htp://en.wikipedia.org/wiki/Mauricio_Waldman Contato Email: mw@mw.pro.br CONHECIMENTO INTELECTUAL ESSENCIAL Material considerado internacionalmente relevante pelo Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS, Paris), o mais prestigiado centro de investigações mantido pelo governo francês. Acesso Livre Formato PDF: http://mw.pro.br/mw/africanidade_espaco_e_tradicao.pdf SAIBA MAIS SOBRE O IMPÉRIO DO MALI http://mw.pro.br/mw/africanidades_24.pdf CONHEÇA A SÉRIE AFRICANIDADES http://mwtextos.com.br/serie-africanidades/ Os debates sobre ÁFRICA & AFRICANIDADES são um pilar central de atuação da EDITORA KOTEV, publicadora digital que entrou em atividades no ano de 2016. Também trabalhamos com temas relacionados com RELAÇÕES INTERNACIONAIS, EDUCAÇÃO POPULAR E EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Saiba mais sobre a EDITORA KOTEV. Acesse nossa página: http://kotev.com.br/ Qualquer dúvida nos contate. Estamos à disposição para atendê-lo: atendimento@kotev.com.br