Cartas
Pastorais
Pr. Kenneth Eagleton
Escola Teológica Batista Livre
Campinas, SP
2009
1
CARTAS PASTORAIS
Pastor Kenneth Eagleton
1º Semestre 2009
A Vida de Paulo: autor das cartas pastorais
1. Estudo do pano de fundo da vida do apóstolo Paulo.
Os trechos bíblicos que nos dão informações sobre o pano de fundo da vida do apóstolo
Paulo são: At 7:58; 8:1, 3; 9:1-2, 11-14; 21:37-40; 22:1-5, 19-20; 23:6; 26:4-5, 9-12; Rm 11:1;
Gl 1:13-14; Fp 3:3-6.
A. Local de nascimento. Paulo nasceu em Tarso, capital da província romana de Cilícia.
A cidade se localiza próximo ao Mediterrâneo aos pés das montanhas Tauros. Na
época, a cidade tinha uma população provável de cerca de 500 mil habitantes. Era
uma cidade importante no comércio e tinha uma estrada larga que poderia ser
usada por carruagens e que ligava a cidade aos territórios do norte, passando pelas
montanhas. Ela é mencionada várias vezes no AT: 1 Re 10:22; 2 Cr 9:21; 20:36; Jr
10:9; Ez 27:12, 25 e Jn 1:3. Na época de Paulo, a cidade, apesar de fazer parte do
império romano, era uma cidade autônoma, com liberdade para fazer suas próprias
leis e isenta do pagamento de imposto de importação e exportação.
B. Ano de nascimento. Em At 7:58 o termo “jovem” é usado quando se fala de Paulo.
Esta palavra em grego pode ser usada para falar de alguém entre 20 e 40 anos,
portanto pouco nos ajuda para identificar a sua idade. Outros fatores levam a crer
que ele tinha entre 30 e 35 anos no momento da morte de Estêvão. Como Estêvão
morreu no ano 33, Paulo deve ter nascido mais ou menos na virada das eras (por
volta do ano 0). Quando Paulo escreve a carta a Filemom, Paulo se chama de “velho”
(Fm 9). Ele teria entre 60 e 65 anos.
C. Paulo, cidadão romano (At 22:25-29). Paulo deve ter herdado a cidadania romana,
pois diz: “eu o tenho por direito de nascimento” (At 22:28). O certificado de
cidadania romana era um documento de grande valor que poucos tinham no império
romano.
D. A influência helenística (At 21:37-40). Sendo que Paulo falava o grego e nasceu em
Tarso, uma cidade de cultura grega, é certo que ele sofreu uma influência
helenística. Sua atitude para com os que não eram gregos era mais tolerante do que
a de Pedro, por exemplo. Ele conhecia bem os costumes gregos e romanos (sua
paixão pelos jogos gregos, por exemplo). Ele conhecia e citava os poetas gregos (At
17:28; Tt 1:12). Apesar da sua influêcia helenística, ele se manteve judeu ortodoxo e
fariseu fanático.
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E. Sua herança hebraica (At 21:37 – 22:3; 26:4; Rm 11:1; Fp 3:5):
Sua religião
o O alicerce da religião de Paulo foi o Judaísmo (At 21:39; 22:3; Gl 1:13-14).
o Era fariseu, uma seita do judaismo (At 23:6; 26:5; Fp 3:5). O fato de ser
fariseu não significa necessariamente que Paulo era hipócrita como muitos
descritos no Novo Testamento. Existiam muitos fariseus sérios e sinceros.
Seu treinamento
o Paulo recebeu o treinamento comum de todos os meninos hebreus (At
26:4-5).
O treinamento começava bem cedo em casa.
À idade de 5 anos começava o treinamento oficial da sinagoga para os
meninos. A criança aprendia o Pentateuco, começando por Levítico.
À idade de 10 anos a criança passava ao Mishna, que define com
bastante precisão os detalhes das leis rituais.
Aos 15 anos começava os estudos técnicos de todas as doutrinas do
Antigo Testamento.
Aos 18 anos terminava o ensino oficial e o jovem podia se casar. Não
sabemos ao certo se Paulo foi casado ou não.
o Ele recebeu ensino de Gamaliel em Jerusalém (At 22:3; 26;4).
Provavelmente chegou a Jerusalém aos 13 anos, sendo o ensino de
Jerusalém mais intensivo. Gamaliel era da escola de Hilel, mais amável e
menos rigorosa, mais aberta e justa que a escola concorrente, a de
Shamai, insensível, severa, rígida e ortodoxa, com ênfase na letra da lei.
F. Resumo das influências na formação de Paulo – ele era o resultado de 3 civilizações:
A contribuição do ambiente romano
o Como cidadão romano, Paulo tinha privilégios e liberdades, como o direito
a um julgamento antes de sofrer qualquer punição e o direito de recorrer
ao próprio César (o imperador) para julgar o seu caso.
o Tendo crescido na província de um império que governava o mundo, ele
tinha um senso de unidade do mundo e uma atitude liberal em relação às
nações (os gentios).
A contribuição da cultura grega
o Paulo usava a língua comum do povo.
o A cultura e a sabedoria gregas tiveram importante influência na natureza
cosmopolita de Paulo.
A contribuição da sua herança hebraica:
o A teologia de Deus – sua personalidade e unidade, sua grandeza e poder,
sua justiça e amor, etc.
o Suas idéias sobre assuntos como moralidade e a vida em família, que eram
negligenciadas no mundo helenístico.
o Seu grande conhecimento tanto da Lei, como das Escrituras.
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o Por causa dos seus estudos com Gamaliel, Paulo tem domínio sobre a
compreensão religiosa, uma tendência para o lado espiritual da Lei e o uso
de símbolos e de alegorias.
2. Estudo da conversão e do trabalho de Paulo no livro de Atos
As passagens mais importantes são: At 9:1-31; 11:19-30; capítulos 13 a 28.
A. A conversão de Paulo (At 9:1-19; 22:1-16; 26:9-20):
A cena do evento
o A igreja passava por uma perseguição extrema. O martírio de Estêvão
iniciou ou agravou esta grande perseguição aos cristãos.
o Não existe dúvida de que Paulo era um dos grandes líderes desta
perseguição. Ele participou da execução de Estêvão (At 8:1).
o É quase certo que o martírio de Estêvão foi o início das perseguições de
Paulo, pois ele passou rapidamente de alguém que “consentia” com o
apedrejamento de Estêvão (At 8:1) a um líder da perseguição (At 8:3; 9:12).
A viagem a Damasco (At 9:1-3)
o A viagem a Damasco demorava cerca de uma semana. Paulo já se
aproximava da cidade quando teve a visão com Jesus Cristo, portanto, já
estava na estrada há uma semana.
o Esta viagem ocorreu um a dois anos após o martírio de Estêvão.
Como aconteceu a conversão (At 9:3-8; 22:6-11; 26:13-16)
o Será que Paulo realmente viu Jesus? Provavelmente, sim. Paulo se
classifica dentre os que viram o Cristo ressurreto (1 Co 15:8).
o Existe uma questão quanto ao momento de sua conversão: foi na estrada
ou foi quando Ananias veio vê-lo em Damasco 3 dias depois? Existem
argumentos a favor de um e de outro, mas parece mais provável que a sua
conversão tenha sido na estrada.
o Existe uma divergência aparente em At 9:7 quando se diz que os
acompanhantes de Paulo ouviram a voz e em At 22:9 onde diz que os que
estavam com ele não perceberam o sentido da voz. A gramática permite
interpretar este último versículo como dizendo que os acompanhantes
ouviram a voz mas não entenderam o que estava dizendo. Portanto, não
há contradição.
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B. Resumo da vida de Paulo a partir de sua conversão, de acordo com o livro de Atos e
com as epístolas.
Acontecimento
- A morte de Cristo
- A morte de Estêvão
- A conversão de Paulo (At 9:1-19a)
- Período na Arábia (Gl 1:16-17)
- Alguns dias em Damasco (At 9:19b-25)
- 1ª viagem a Jerusalém (At 9:26-29; Gl 1:18-19)
- Permanência em Tarso (At 9:30; Gl 1:21)
- Barnabé vai buscá-lo e passa 1 ano em Antioquia (At 11:25-26)
- 2ª viagem a Jerusalém (At 11:27-30) – ajuda aos irmãos de lá
- Retorno a Antioquia (At 12:25)
- 1ª viagem missionária, com Barnabé (13:1 – 14:28)
- 3ª viagem a Jerusalém (At 15:1-29; Gl 2:1-10) –
Concílio de Jerusalém
- Retorno a Antioquia (At 15:30-36)
- Separação de Barnabé (At 15:36-40)
- 2ª viagem missionária, com Silas (At 15:40 – 18:21)
- Retorno a Antioquia c/ passagem por Jerusalém (At 18:22-23)
- 3ª viagem missionária (At 18:23 – 21:3)
- Retorno a Jerusalém (At 21:3-26)
- Prisão de Paulo e defesa diante da multidão (At 21:27 – 22:11)
- Na prisão e comparecimento diante do Sinédrio
(At 22:22 – 23:11)
- Complô contra Paulo e enviou para Cesaréia (At 23:12-35)
- Defesa diante do governador Félix (At 24:1-26)
- Defesa diante do governador Festos (At 24:27 – 25:12)
- Defesa diante do Rei Agripa (At 25:13 – 26:32)
- Viagem de transferência a Roma (At 27:1 – 28:16)
- Chegada, diante dos judeus de Roma (At 28:16-29)
- Libertação após 2 anos (At 28:30-31?)
- Viagens ao oeste (Espanha) e leste (?)
- 2ª prisão de Paulo (?)
- Sua morte
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data aproximada
29 ou 30
33
34
34-37
37
37
42
44
45
46-48
48 ou 49
49
49
49-52
52
53-57
57
57
57
57
59
59
60
62
66
66 ou 67
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3. Resumo da primeira viagem missionária de Paulo (com Barnabé e João Marcos – Atos
capítulos 13 e 14).
Local:
ANTIOQUIA
SELÊUCIA
CHIPRE
SALAMINA
PAFOS
PERGE DA
PANFÍLIA
ANTIOQUIA
DA PISÍDIA
ICÔNIO
LISTRA
DERBE
PERGE
ATÁLIA
ANTIOQUIA
Acontecimentos:
Antioquia, capital da província romana da Síria, é o local de partida
desta viagem. Barnabé e Saulo, tendo respondido ao apelo do Espírito
Santo, tomaram João Marcos e, partindo do porto de Selêucia, foram
de navio à ilha de Chipre, país de origem de Barnabé. Desembarcaram
em Salamina, porto comercial de grande população no extremo leste
da ilha. Os apóstolos pregaram o evangelho na sinagoga da cidade.
Seguiram para Pafos, a capital, no extremo oposto da ilha, onde o
procônsul Sérgio Paulo se converteu e o mágico Elimas procurou
impedir a pregação do evangelho, mas acabou ficando cego. Saulo, que
passou a se chamar Paulo, com seus colegas atravessaram o mar em
direção à costa sul da Ásia Menor, desembarcando em Perge, um porto
antigo da Panfília. João Marcos se separou do grupo e voltou para
Jerusalém enquanto que os outros apóstolos atravessaram a
cordilheira Taurus para chegar à Antioquia da Psídia. No primeiro
sábado depois de sua chegada, Paulo pregou o primeiro sermão aos
judeus de que temos registro. No próximo sábado, com a presença de
muitos gentios, os apóstolos voltaram à sinagoga, mas os anciãos da
sinagoga os expulsaram. Paulo e seus companheiros foram para Icônio
onde permaneceram um bom tempo e tiveram vários convertidos.
Perseguidos por uma multidão de judeus e gentios que procuravam
apedrejá-los, seguiram para Listra, um pequeno vilarejo pagão. Paulo
curou um paralítico de nascença e a população, crendo que fosse o
deus Júpiter ou Mercúrio, queria lhe oferecer um sacrifício. Com
argumentos tirados da religião tradicional do povo, Paulo pôde impedílos e preparar os seus corações para receber o evangelho. Judeus vindo
de Icônio e de Listra influenciaram os habitantes do vilarejo e estes
apedrejaram o apóstolo Paulo e o deixaram por morto. Quando Paulo
se recuperou de seus ferimentos, fugiu, juntamente com Barnabé, para
o vilarejo de Derbe. Ali pregaram e repousaram antes de retornar,
passando por Listra, Icônio, Antioquia da Psídia e Perge. Nesta última
cidade pregaram antes de continuar à Atália, um porto ao oeste de
Perga, onde pegaram um navio para voltar à Antioquia, de onde
tinham partido. Quando ali chegaram, fizeram um relatório de sua
viagem à Igreja de Antioquia.
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4. Resumo da segunda viagem missionária (com Silas e Timóteo) – Atos 15 :36 – 18 :22
Local:
Acontecimentos:
ANTIOQUIA
Depois de algum tempo em Antioquia, Paulo sugeriu a Barnabé
retornarem para visitar as igrejas que haviam implantado. Barnabé
concordou, mas queria levar João Marcos. Paulo não concordou e eles
se separaram. Barnabé e João Marcos foram para Chipre, Paulo
SÍRIA E CILÍCIA
escolheu Silas e foram para a Síria e a Cilícia fortificando as igrejas e
entregando a decisão do Concílio de Jerusalém. Em seguida passaram
DERBE, LISTRA por Derbe antes de chegar em Listra, onde Paulo recruta Timóteo para
FRÍGIA
se juntar a eles após tê-lo circuncidado. Atravessaram a Frígia e a
GALÁCIA
Galácia fortalecendo as igrejas existentes ali e implantando outras. O
apóstolo Paulo ficou doente e, impedido pelo Espírito Santo na Ásia,
MÍSIA
seguiram para Mísia onde foram impedidos pelo Espírito Santo, uma
TRÔADE
segunda vez, de entrar na Bitínia. Sob direção divina foram para Trôade
onde Lucas se juntou a eles e onde o apóstolo Paulo teve a visão de um
macedônio que rogava que passassem para a Macedônia. De Mísia
SAMOTRÁCIA
pegaram um navio que passou pela Samotrácia antes de chegar a
NEÁPOLIS
Neápolis. De Neápolis foram para Filipos, uma colônia da Macedônia.
FILIPOS
Ali Lídia, uma comerciante de púrpura de Tiatira, se converteu. Por
causa da libertação de uma jovem possessa, Paulo e Silas foram
levados diante dos magistrados e colocados na prisão. Durante a noite
foram milagrosamente resgatados e o carcereiro e sua família se
converteram e foram batizados. Após a libertação pública pelos
magistrados, Paulo e Silas passaram por Anfípolis e Apolônia antes de
TESSALÔNICA
chegarem a Tessalônica. Lucas provavelmente ficou em Filipos. Em
Tessalônica, metrópole da Macedônia, Paulo pregou na sinagoga 3
sábados seguidos antes que os judeus atacassem a casa de Jasom, sem
terem encontrado Paulo e Silas. Após este tumulto, partiram para
BERÉIA
Beréia onde foram bem recebidos pelos judeus e gregos até a chegada
dos inimigos de Tessalônica. Paulo foi obrigado a fugir da cidade por via
ATENAS
marítima até Atenas. Ele mandou recado a Silas e Timóteo para que
ficassem em Beréia e depois deveriam encontrá-lo em Atenas assim
que fosse possível. Ao conversar com os atenienses, foi convidado para
fazer um discurso no Aerópago. Não houve muitos convertidos em
CORINTO
Atenas e ele continuou viagem para Corinto, capital da província da
Acaia. Ali fez amizade com um casal, Áquila e Priscila, que tinham a
mesma profissão, fabricantes de tendas, e permaneceu ali com eles
algum tempo. O chefe da sinagoga, Crispo, se converteu e Paulo,
encorajado por uma visão do Senhor, ficou em Corinto mais de 18
meses ensinando os que se convertiam. Os judeus levaram Paulo
diante do procônsul da Acaia, Gálio, mas este não aceitou as
reclamações dos judeus. Ao deixar Corinto, Paulo levou consigo Áquila
CENCRÉIA
e Priscila. Pegaram um navio em Cencréia para ir a Éfeso onde,
ÉFESO
prometendo voltar, ele deixou o casal antes de continuar sua viagem
CESARÉIA
marítima a Cesaréia e de lá seguir viagem por terra a Jerusalém para a
JERUSALÉM
celebração da Páscoa. Ele saudou a igreja de Jerusalém e retornou à
ANTIOQUIA
Antioquia onde ficou algum tempo.
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5. Resumo da terceira viagem missionária (com Timóteo e outros) – Atos 18:23 – 21:17
Local:
ANTIOQUIA
GALÁCIA
FRÍGIA
ÉFESO
MACEDÔNIA
ACAIA
MACEDÔNIA
TRÔADE
ASSÔS
MITILENE
MILETO
PÁTARA E TIRO
PTOLEMAIDA
CESARÉIA
JERUSALÉM
Acontecimentos:
Depois de passar algum tempo em Antioquia, o apóstolo Paulo e
Timóteo (e provavelmente Tito) começam a sua viagem por uma visita
à Galácia e a Frígia. Sem dúvida devem ter passado pelas igrejas que
visitaram nas viagens anteriores e talvez algumas igrejas novas no norte
da Galácia. Em seguida foram a Éfeso, capital da província romana da
Ásia. Ficaram ali 3 anos. Doze homens que tinham sido batizados pelo
“batismo de João” e não conheciam o Espírito Santo foram rebatizados
e receberam o Espírito. Após um trabalho de 3 meses na sinagoga,
muitos dos judeus tinham endurecido o coração. O apóstolo Paulo se
retirou e começou a ensinar na escola de Tirano. Durante 2 anos teve
um ministério bem sucedido com muitos milagres e prodígios que
confirmavam a pregação da Palavra de Deus. Destaca-se o incidente
dos sete filhos de Ceva que tentaram imitar a libertação de
endemoninhados. Uma confirmação
do
avivamento
que
experimentavam os habitantes é o fato de queimarem publicamente os
livros de magia e os fabricantes de ídolos instigarem uma revolta contra
o apóstolo Paulo por causa da queda nas suas vendas. Paulo já tinha
enviado Timóteo, Erasto e vários outros colaboradores para a
Macedônia. Após a revolta em Éfeso, Paulo os seguiu e visitou as igrejas
dessa região antes de continuar à Acaia onde ficou cerca de 3 meses.
Ele foi impedido pelos judeus de pegar um navio para ir à Síria, então
decidiu retornar pela Macedônia. Depois dos dias dos pães asmos,
Paulo e Lucas embarcaram para Trôade onde passaram 7 dias. Ali, ao
pregar até as altas horas de uma noite, Êutico adormeceu e caiu de
uma janela e morreu. Paulo o ressuscitou. Enquanto seus
companheiros pegaram um navio em direção a Assôs, o apóstolo Paulo
seguiu a pé antes de se juntar a eles e depois continuaram todos juntos
sua viagem marítima até Mitilene. Passaram por Quios e Samos antes
de chegarem a Mileto, onde Paulo mandou chamar os anciãos de Éfeso
e fez um discurso de adeus. Viajaram ainda por navio, passando por
Cós, Rodes e Pátara antes de chegarem ao porto sírio de Tiro. Ali
ficaram com os irmãos por 7 dias onde foram advertidos pelo Espírito
para não irem a Jerusalém. No entanto, Paulo continuou a sua viagem e
desembarcou em Ptolemaida. No dia seguinte a delegação continuou
até Cesaréia, onde ficaram com Filipe. Mais uma vez o apóstolo foi
advertido a não continuar sua viagem; dessa vez por profetisas, filhas
de Filipe, e por Ágabo. Paulo e seus companheiros continuaram sua
viagem até Jerusalém, onde foram bem recebidos pelos irmãos.
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6. Resumo da viagem a Roma (com Lucas e outros companheiros, sob a guarda de Júlio) –
Atos 27:1 – 28:16
CESARÉIA
SIDOM
CHIPRE
MIRRA
CNIDO
SALMONA
BONS PORTOS
CAUDA
MALTA
SIRACUSA
RÉGIO
PUTÉOLI
PRAÇA DE ÁPIO
TRÊS VENDAS
ROMA
Durante seu julgamento em Cesaréia, Paulo fez um apelo a César, direito
que tinha como cidadão romano. Sob a guarda de Júlio, Paulo iniciou sua
viagem marítima em direção a Roma. A primeira parada foi em Sidom,
onde recebeu ajuda dos cristãos. De lá navegaram ao largo da costa de
Chipre e atravessaram o mar rumo ao porto de Mirra, na Lícia. Ali o
centurião achou outro navio que se dirigia à Itália e este partiu com a
sua carga e 276 pessoas. Sendo os ventos contrários, levou vários dias
para chegarem a Cnido e foram obrigados a navegarem entre as ilhas de
Salmona e Creta. Contornaram a ilha de Creta até chegar a Bons Portos
onde o apóstolo Paulo os aconselhou a passarem ali o inverno. Como o
porto não tinha boas acomodações, o capitão do navio e o centurião
resolveram continuar a viagem para tentar chegar a Fenice. Quando
partiram, foram pegos por um tufão que arrastou o navio sem controle
pela costa da ilha de Cauda, indo parar em alto mar. No dia seguinte,
começaram a diminuir o peso do navio, lançando a carga ao mar. No
terceiro dia começaram a lançar ao mar uma parte do equipamento do
navio. Paulo recebeu uma visão do Senhor e reanimou a tripulação e os
passageiros. Depois de 14 dias se aproximaram de terra firme, mas o
navio foi destroçado pelas pedras e cada um teve que se salvar como
pôde. Estavam na ilha de Malta, habitada por um povo bárbaro e
selvagem. Todos os ocupantes do navio, no entanto, foram bem
recebidos pelo povo do local. Enquanto Paulo jogava lenha no fogo, foi
picado por uma cobra. A primeira reação do povo local foi de que Paulo
era maldito, mas quando nada lhe aconteceu, mudaram de idéia e
consideraram Paulo um deus. Os sobreviventes do navio ficaram
alojados no sítio de Públio, principal homem da ilha, e Paulo curou vários
enfermos; entre eles, o pai de Públio. Depois de permanecerem por 3
meses na ilha, aportou um navio e todos partiram para Siracusa, cidade
principal da Sicília. Ficaram ali 3 dias antes de continuar na direção de
Messina. Por causa dos ventos contrários, foram obrigados a ficar em
Régio por 1 dia antes de continuar a Putéoli, final da viagem marítima.
Ficaram ali durante 7 dias com os irmãos em Cristo do local antes de
continuar a viagem a pé até à Praça de Ápio e às Três Vendas, onde
encontraram com uma delegação de cristãos de Roma que vieram
recebê-los. Chegando a Roma, foi permitido ao apóstolo Paulo alugar
uma casa onde ficou esperando o seu julgamento em prisão domiciliar.
Soldados permaneciam no local para fazer a guarda de Paulo.
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Circunstâncias das cartas pastorais
As cartas pastorais de 1 e 2 Timóteo e Tito foram escritas por Paulo a indivíduos e não a
uma igreja ou às igrejas de uma região. As cartas levam o nome dos destinatários, Timóteo e
Tito, colaboradores do apóstolo Paulo e integrantes de sua equipe missionária.
Aparentemente o apóstolo Paulo foi solto da prisão domiciliar em que se encontrava no
final da narrativa do livro de Atos. As referências às suas viagens nestes 3 livros não são
compatíveis com o que estudamos das viagens de Paulo no livro de Atos. Portanto, estas
viagens são provavelmente posteriores ao livro de Atos. As cartas pastorais seriam escritas,
então, após o seu primeiro período de cárcere em Roma. Tomando por base as informações
contidas nestas cartas, podemos supor as seguintes circunstâncias vividas por Paulo ao
escrê-las:
“Na minha primeira defesa (julgamento)...” (2 Tm 4:16) – esta frase nos faz supor
que houve um primeiro julgamento em Roma e que Paulo foi solto (2 Tm 4:17). Em
Fp 2:24 (escrito no cárcere domiciliar de Roma), Paulo expressa a convicção de que
iria brevemente para Filipos. Podemos supor que ao ser solto ele foi para Filipos. Em
1 Tm 1:3 Paulo fala de uma viagem da Macedônia para Éfeso onde pediu que
Timóteo permanecesse. Ele deve ter retornado à Macedônia, de onde escreveu para
Timóteo (1 Timóteo). Possível roteiro: Roma Filipos (Macedônia) Éfeso
Macedônia.
Após escrever a primeira carta a Timóteo, é possível que Paulo tenha ido a Creta
com Tito e que ele tenha deixado Tito ali (Tt 1:5), indo de lá a Nicópolis (ou Neápolis)
onde escreveu para Tito (Tt 3:12) e onde pretendia passar o inverno. Possível
roteiro: Macedônia Creta Nicópolis Filipos.
Antes de escrever a 2ª carta a Timóteo (e sua última carta), Paulo esteve em Trôade
(2 Tm 4:13) e Mileto (2 Tm 4:20). Paulo escreve 2ª Timóteo de seu cárcere em Roma
(2 Tm 1:8 e 4:16, esta seria sua segunda defesa), por volta do ano 66, durante a
perseguição do imperador Nero aos cristãos. Muitos cristãos, incluindo os apóstolos
Pedro e Paulo, morreriam durante essa perseguição.
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Timóteo
Na segunda viagem missionária, Paulo passa por Listra onde encontra o jovem Timóteo:
At 16:1-3. Destes versículos aprendemos que Timóteo:
Era um discípulo. Ele já tinha se convertido.
Era filho de mãe judia e pai grego. Sua mãe se chamava Eunice e sua avó, Lóide (2
Tm 1:5). Eram mulheres de fé que ensinaram o filho a crer em Cristo. É possível que
elas tenham se convertido durante a passagem de Paulo por Derbe na primeira
viagem missionária.
Por causa do pai grego, ele não tinha sido circuncidado. Paulo procede a sua
circuncisão por ser descendente de judeu por parte de mãe e não querer nenhum
motivo de crítica por parte dos judeus. No caso de Tito, Paulo não exigiu a sua
circuncisão, por ser grego (Gl 2:3).
Paulo levou Timóteo para fazer parte da sua equipe missionária. Ele é mencionado
novamente quando Paulo deixa Beréia às pressas, mas deixa Silas e Timóteo para
trás para cuidarem dos novos convertidos (At 17:14-15). Eles se encontram
novamente com Paulo em Corinto (18:5).
Na terceira viagem missionária, Paulo envia Timóteo e Erasto de Éfeso em missão à
Macedônia (At 19:22). Em 20:4 encontramos Timóteo em meio a um grande grupo de
colaboradores que acompanhavam Paulo a Jerusalém. Vemos dessa forma como Timóteo
viajava com o apóstolo Paulo e também era usado como emissário para outros locais. Foi
mandado em missão a Corinto (1 Co 4:17), a Filipo (Fp 2:19) e a Tessalônica (1 Ts 3:2), além
desta missão em Éfeso onde ele se encontrava quando Paulo escreveu a primeira carta.
Paulo menciona a presença de Timóteo com ele ao escrever as cartas de Romanos (16:21), 2
Coríntios (1:1), Filipenses (1:1), Colossenses (1:1), 1 e 2 Tessalonissences (1:1) e Filemom (1).
O apóstolo Paulo o chama de “cooperador” (Rm 16:21), “filho amado e fiel no Senhor” (1 Co
4:17, “filho na fé” (1 Tm 1:2), “amado” (2 Tm 1:2), “irmão” (2 Co 1:1) e “ministro de Deus no
evangelho de Cristo” (1 Ts 3:2). Timóteo aparece mais uma vez em Hb 13:23 onde
aparentemente tinha estado preso e posto em liberdade. Timóteo era um missionário ativo
e fiel que trabalhou nas mais difíceis circunstâncias e tinha a total confiança de Paulo.
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Tito
Tito também foi integrante da equipe missionária do apóstolo Paulo com função
semelhante à de Timóteo. A primeira aparição de Tito na narrativa é quando acompanhou
Paulo no concílio de Jerusalém no ano 48 ou 49 (Gl 2:1-3), entre a 1ª e a 2ª viagem
missionária. Ele era grego, mas não sabemos sua origem. Sua conversão pode ter ocorrido
em Antioquia ou em algum local ao longo da rota da primeira viagem missionária. Lucas não
faz menção dele em Atos. Tito aparece em um momento de controvérsia. A questão que
produziu o Concílio de Jerusalém foi justamente a necessidade dos gentios se submeterem
ou não à circuncisão e a outros ritos judaicos. Paulo sustentava a tese de que não era
necessário. Tito serviu como “caso teste” (não foi circuncidado) e por isso acompanhou
Paulo no Concílio. A posição de Paulo saiu vitoriosa.
Em 2 Co 2:3 ficamos sabendo que o apóstolo Paulo tinha escrito anteriormente uma carta
aos coríntios e que provavelmente foi entregue por Tito. Paulo esperava encontrar Tito em
Trôade para ter notícias dos coríntios; não o encontrando lá, foi à Macedônia (2 Co 2:12-13).
Lá o encontrou e ficou bastante aliviado com as boas notícias (2 Co 7:5-7). Parece que Tito
deu conta do recado: não só serviu de mensageiro de uma carta de Paulo, mas seu
ministério entre os coríntios foi importante para a restauração dos problemas existentes
naquela igreja (7:12-15). Tito foi bem recebido pelos irmãos de Corinto e ele também
desenvolveu um grande afeto pelos irmãos de lá.
Em 2 Tm 4:10 Paulo dá notícias de várias pessoas e menciona que Tito foi para a Dalmácia,
provavelmente em missão. Quando Paulo escreve a Tito, ele está em missão na ilha de
Creta. Paulo o havia deixado lá para supervisionar o trabalho novo naquele local, resolver
problemas ali existentes e constituir presbíteros nas igrejas (Tt 1:5). Para esta importante
tarefa Paulo teria que ter muita confiança nele. Paulo tinha intenções de enviar depois de
algum tempo outro colaborador, Ártemas ou Tíquico, para substituí-lo e continuar o
trabalho ali (Tt 3:12).
Visão panorâmica das cartas pastorais
A seguir passaremos para uma visão panorâmica das cartas de 1ª e 2ª Timóteo e Tito na
ordem provável em que foram escritas. Para tanto, em Tito e 2ª Timóteo seguiremos, com
algumas adaptações, o roteiro de Robert Picirilli nos capítulos correspondentes do livro A
Survey of the New Testament (Panorama do Novo Testamento), editado por H. D. Harrison e
publicado por Randall House, Nashville, Estados Unidos em 1983.
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12
Primeira Epístola de Paulo a
TIMÓTEO
Autor, local e data: Paulo, escrevendo da Macedônia, por volta do ano 65 (1 Tm 1:1, 3).
Destinatário e local: Timóteo, que estava em Éfeso (1 Tm 1:2-3).
Esboço1:
I. Exortação a combater o desvio doutrinário (capítulo 1).
II.
Instruções sobre a oração e a ordem na igreja (capítulo 2).
III.
Qualificações (requisitos) para pastores e diáconos (capítulo 3).
IV. Advertências contra falsos mestres (capítulo 4).
V. Instruções sobre diversas responsabilidades na igreja (capítulo 5 e 6).
Análise:
Paulo deixou Timóteo em Éfeso para lidar com duas áreas principais naquela igreja:
doutrinas falsas e para estabelecer normas corretas para a adoração, para a ordem dos
cultos e para o serviço.
A. Paulo dá conselhos a Timóteo sobre como lidar com falsas doutrinas judaicognósticas (capítulos 1, 4 e 6).
1. Doutrinas falsas – uso incorreto da Lei (cap. 1).
Gnosticismo – uma filosofia/religião baseada no conhecimento.
gnosis (grego) = conhecimento
Os gnósticos alegavam ter revelações de Deus que lhes davam um
conhecimento especial de como se poderia obter a salvação. O gnosticismo
enfatizava a busca do conhecimento místico. Estas idéias se baseavam em um
dualismo: o espírito é bom – a matéria é má. O homem teria sido criado
como um espírito, mas por causa de espíritos malignos, o homem se tornou
escravo do corpo físico. Diversas práticas seriam necessárias para liberar a
chama divina presa dentro do corpo. O gnosticismo atingiu o seu apogeu no
2º e 3º século, mas esta tendência já estava presente no 1º século e teve que
ser combatida pelos apóstolos.
O gnosticismo judaico usava a Lei, ou a piedade, para atingir esta liberação do
espírito em relação ao corpo (ver 1:3-11). Esta falsa doutrina ao qual Paulo
faz alusão involve o mal uso da Lei (toda a Torá, ou Pentateuco). Os judeus
gnósticos tinham criado fábulas sobre uma hierarquia espiritual com várias
emanações (poderes). Paulo está dizendo para não seguir estas fábulas. A
salvação é pela fé e não através do conhecimento ou da “performance”.
Dicas sobre a natureza do desvio doutrinário:
a. Fábulas e genealogias sem fim (v. 4).
b. Perderam-se em “loquacidade frívola” – verbosidade, tagarelice (v. 6).
1
Picirilli, Robert. A Survey of the Books of First & Second Timothy. em A Survey of the New Testament. ed.
H.D. Harrison, Nashville, Randall House Publications, 1983, p. 186
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13
c. Pessoas sem entendimento procuravam ser mestres da Lei (v. 7).
d. Aparentemente não entendiam que a Lei serve para condenar e expor
o pecado, não para tornar o homem justo (v. 8-9).
Tudo isto leva a entender que o desvio doutrinário tinha uma origem judaica.
1:12-17 – o testemunho de Paulo: reconhece que foi grande pecador que só
mudou pela misericórdia de Deus e agora tem consciência do chamado de
Deus sobre sua vida para o ministério.
1:18-20 – Timóteo tem o dever de combater o erro.
- alguns falsos mestres naufragaram na fé (apostasia). Mais um trecho
das Escrituras que ensina a possibilidade da apostasia.
- exemplo de Himeneu e Alexandre que Paulo já havia disciplinado.
2. Falsa maneira de viver – asceticismo (cap. 4).
Ascetismo = negar as necessidades físicas e maltratar o corpo.
“Espíritos enganadores e ensinos de demônios” levam a praticar o ascetismo
(4:1-5).
Obs. Mais uma vez vemos a possibilidade da apostasia, o que aumentará nos
últimos tempos.
4:5-16 – Exortação à fidelidade e à diligência no ministério.
- combatendo a falsa doutrina com o ensino da Palavra de Deus (v. 6, 11);
o melhor remédio contra a falsa doutrina é a pregação da verdade.
- rejeitar o erro (v. 7).
- exercitando a piedade, apesar da pouca idade (v. 12).
- aplicando-se na leitura, na pregação e no ensino (v. 13).
- não negligenciando seu dom (v. 14).
- cuidando de si mesmo – é necessário que o líder tome muito cuidado
consigo mesmo. Ser líder não significa que não possa cair (v. 16).
3. Falsos métodos e motivações – contenda, ganância (cap. 6).
As duas marcas do ensino falso são: contendas e ganância (v. 3-5).
Contendas: “mania por questões e contendas de palavras *...+
provocação, difamações [...] altercações sem fim”.
Ganância: Piedade como fonte de lucro é uma idéia deturpada.
O contrário deste comportamento é: piedade com contentamento (v. 6-8).
B. Paulo aconselha Timóteo a estabelecer normas corretas para a adoração, para a
ordem dos cultos e para o serviço (capítulos 2, 3 e 5).
1. Normas corretas para a adoração e a ordem na igreja (capítulos 2 e 3 – ver
3:15).
O tipo de orações que devem ser oferecidas: oração por ordem na sociedade,
que permite o avanço do evangelho.
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14
Obs.: 1) Deus deseja a salvação de todos e o pleno conhecimento da verdade
(v. 4); 2) só Cristo Jesus serve de mediador entre Deus e os homens.
Os homens devem adorar (orar) a Deus com consciência pura (v. 8).
As mulheres devem fazê-lo em traje decente e sem exagero no adorno (v. 910).
As normas quanto à participação da mulher no culto público (v. 11-15) é um
assunto de muita polêmica hoje em dia. Paulo ensina que a mulher não deve
assumir uma posição de liderança espiritual sobre o homem. Isto parece não
ser simplesmente uma questão cultural da época, pois a argumentação que
Paulo dá para apoiar esse princípio tem a ver com a maneira com que Deus
criou o homem e a mulher (antes mesmo da queda). A sua aplicação exata
para os nossos dias é polêmica (vide anexo).
3:1-13 – As qualificações dos bispos (pastores) e dos diáconos.
As qualificações destes líderes espirituais são essencialmente quanto ao seu
caráter moral. Apenas na lista de qualificações dos pastores aparece uma
qualificação que diz respeito à aptidão: apto para ensinar.
2. Normas corretas de serviço (capítulo 5).
Todos os grupos diferentes devem ser tratados com respeito e dignidade (v.
1-2).
Cuidado das viúvas (v. 3-16): a) viúvas com família devem ser cuidadas pela
família; b) viúvas novas devem casar de novo e constituir família; c) somente
as viúvas de uma certa idade sem nenhuma ajuda devem receber ajuda da
igreja.
Questões no relacionamento com os presbíteros (v. 17-22).
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Epístola de Paulo a
TITO
Autor, local e data: Paulo, escrevendo da Macedônia ou de Nicópolis (ou Neápolis), por
volta do ano 65 ou 66 (Tt 1:1; 4:6).
Destinatário e local: Tito, que estava na ilha de Creta (Tt 1:4 e 5). Tito é chamado de “filho
segundo a fé”.
Esboço2:
Introdução (1:1-4).
I. Instruções para organização da igreja (1:5-9).
II. Advertências contra falsa doutrina (1:10-16).
III. Deveres dos vários segmentos na igreja (2:1-10).
IV. Ensinamentos específicos (2:11 – 3:11).
Conclusão (3:12-15).
Análise:
A introdução vai do verso 1 ao 4, mas, no meio do verso 4 até o final do verso 3 o apóstolo
Paulo faz um parêntese para explicar o seu apostolado. Vemos algumas coisas interessantes
aqui:
1. O apostolado tem como objetivo promover a fé dos eleitos de Deus trazendo pleno
conhecimento da verdade para viver em piedade (v. 1).
2. A vida eterna é prometida por um Deus que não pode mentir (v. 2).
3. No tempo certo Deus manifestou a sua palavra pela pregação de Paulo que lhe fora
confiada diretamente por Deus (v.3).
Instruções para a organização da igreja (1:5-9).
Paulo deixou Tito em Creta para organizar a igreja (v. 5). Esta organização inclui a instituição
de presbíteros (anciãos) em cada igreja. Em 1 Timóteo 3 Paulo já tinha dado as qualificações
de bispos (“supervisores”, pastores) e diáconos. Na opinião de Picirilli3, a igreja, no seu
início, se organizou como a sinagoga judaica: seleção de vários anciãos e dentre esses um
seria o supervisor. Estes anciãos são também chamados de presbíteros. Entre os presbíteros
da igreja, um seria selecionado para ser bispo (“supervisor” ou pastor). Aos poucos os
outros foram considerados diáconos. Nesta visão, todos em liderança seriam anciãos, um
dentre eles seria o pastor e os demais seriam diáconos. 1 Timóteo 3 faz distinção entre
bispos e diáconos com suas respectivas qualificações. Em Tito 1 os versos 5 e 6 se referem a
todos em liderança (anciãos, presbíteros), enquanto que versos 7-9 falam especificamente
do bispo (pastor).
Mais uma vez vemos que as qualificações são essencialmente de ordem moral. Mas no
verso 9 fica claro que o pastor deve ter qualificação no que se refere ao conhecimento da
doutrina da Palavra fiel. Esse conhecimento deve ser usado para exortar, ensinar e
convencer os que contradizem a Bíblia. Resumindo, além de qualificações morais, o pastor
2
3
Picirilli, p. 198-201
Picirilli, p. 191 e 199
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16
deve ter conhecimento e capacidade para lidar com a Palavra de Deus. Precisa-se tomar
muito cuidado em observar esse requisitos ao escolher e aprovar pastores e diáconos.
Advertências contra falsa doutrina (1:10-16)
Paulo também advertiu Timóteo para ficar atento à falsa doutrina e aos falsos mestres.
Como estas cartas pastorais foram escritas no final da sua vida, é provável que a questão de
falsas doutrinas era uma preocupação muito grande que tinha com relação ao futuro da
Igreja.
A natureza desses falsos mestres é mencionada no verso 10 e a motivação e o estrago que
faziam se encontram no verso 11, assim como a atitude que Tito deve ter: fazê-los calar e
repreendê-los severamente (v. 13). A presença de doutrina falsa na igreja é muito perigosa e
deve ser tratada com seriedade.
Deveres dos vários segmentos na igreja (2:1-10)
Mais uma vez vemos a ênfase na sã doutrina no verso 1. Paulo fala dos deveres dos
diferentes segmentos de crentes na igreja:
1. Homens idosos (v. 2).
2. Mulheres idosas (v. 3-4).
3. Mulheres jovens (v. 4-5).
4. Os jovens (v. 6).
5. O próprio Tito deve servir de exemplo (v. 7-8).
6. Os servos, ou empregados (v. 9-10).
Ensinamentos específicos (2:11 – 3:11)
1. A graça de Deus que nos trouxe salvação e regeneração deve também trazer santificação
(2: 11-14). Vemos aqui o passado, presente e futuro da salvação.
2. Tito deve ensinar estas coisas com autoridade (2:15).
3. Submissão às autoridades governantes e a todos os homens através da humildade (3:12).
4. A nossa salvação (3:3-8). Uma descrição do nosso passado (v. 3) e do plano da salvação
(v. 4-6). Temos a promessa da vida eterna (v. 7) e obrigações no presente: boas obras (v.
8).
5. As discussões e contendas devem ser evitadas. As pessoas que agem desta forma devem
ser advertidas uma ou duas vezes e depois devem ser disciplinadas (3:9-11). Não convém
debatermos demasiadamente as doutrinas falsas, principalmente quando isso passa a
consumir toda a nossa atenção. A nossa tarefa principal é a proclamação da verdade.
Conclusão (3:12-15)
Paulo pretendia mandar Ártemas ou Tíquico para tomar o lugar de Tito.
Zenas e Apolo eram possivelmente os mensageiros que trouxeram a carta a Tito.
A última instrução do apóstolo Paulo é que os cristãos devem se envolver em ações sociais
que ajudem os necessitados.
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Segunda Epístola de Paulo a
TIMÓTEO
Autor, local e data: Paulo, escrevendo da prisão em Roma, pouco antes de sua morte, por
volta do ano 66 ou 67 (2 Tm 1:1, 17; 4:6).
Destinatário e local: Timóteo, que estava em Éfeso (2 Tm 1:2).
Esboço:
Saudações (1:1-5).
I. Fidelidade ao chamado (1:6-18).
II.
Exortação ao serviço (2:1-26).
III.
Fidelidade ao ministério nos últimos dias (3:1 – 4:8).
IV. Apelo pessoal: venha antes do inverno (4:9-18).
Saudações finais e benção (4:19-22).
Análise:
A introdução desta carta é típica das cartas de Paulo, mencionando o autor e destinatário,
além de uma oração de gratidão. É interessante notar que o apóstolo estava na prisão
esperando a sentença de morte; mas, em vez de enfatizar a morte, já no primeiro verso ele
fala da promessa de vida que está em Cristo Jesus. No verso 4 ele contrasta as lágrimas de
Timóteo com a alegria que ele terá ao rever Timóteo. É realmente uma perspectiva otimista.
Fidelidade ao chamado (1:6-18)
É possível que Timóteo tenha ficado desanimado e um pouco intimidado pelo que estava
acontecendo com Paulo (1:6-8). O apóstolo procura animá-lo e adverte-o a continuar a ser
fiel ao seu chamado ao ministério, trabalhando com coragem e ousadia, mesmo diante de
perseguição. Deus fez tanto por nós que não podemos deixar de ser fiel a ele (v. 9-10). Paulo
usa o exemplo de seu próprio chamado, fidelidade ao ministério e esperança no futuro para
encorajar Timóteo (v. 11-12).
Paulo adverte Timóteo a perseverar no padrão da sã doutrina que ele aprendera com o
apóstolo, vinda de Cristo Jesus (v. 13-14). “Guarda o bom depósito” é uma maneira de
mostrar que somos também gerentes (mordomos) da sã doutrina. Temos a
responsabilidade de zelar por ela, o que só pode ser feito com a ajuda do Espírito Santo.
A perseguição religiosa e o encarceramento de Paulo provocou reações diferentes nos seus
colaboradores. Alguns o abandonaram (v. 15), enquanto que outros fizeram um esforço
especial para suprir as suas necessidades (v. 16-18). Isso deveria servir para encorajar
Timóteo.
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18
Exortação ao serviço (2:1-26)
Paulo desafia Timóteo a se fortificar ao serviço do Senhor e serví-lo com eficiência,
passando também a outros esta responsabilidade (v. 1-2). Ele usa algumas ilustrações
focando diferentes classes de pessoas para fazer esse desafio e ensinar alguns princípios do
serviço cristão:
A ilustração do soldado (v. 3-4) – o bom soldado atura o sofrimento e não se envolve
em negócios que podem enredá-lo e impedir a sua mobilidade. O cristão também
deve ser assim.
A ilustração do atleta (v. 5) – o atleta só é coroado de êxito se jogar conforme as
regras do jogo. O cristão também tem que viver segundo as normas bíblicas.
A ilustração do lavrador (v. 6) – o lavrador deve fielmente trabalhar o ano todo na
lavoura antes de receber as recompensas do seu trabalho, do qual ele será o
primeiro a usufruir. O cristão deve permanecer fiel para colher os frutos do seu
labor.
A ilustração do obreiro (v. 15) – o cristão deve ter habilidade no uso da Palavra de
Deus da mesma forma que o obreiro (artesão) é habil no uso das suas ferramentas.
Nota: o uso da palavra “obreiro” aqui não se refere a um pregador ou pessoa com
ministério na igreja, como costuma-se usar hoje em dia. A responsabilidade de
manejar bem a palavra de Deus é de todo cristão.
A ilustração dos utensílios (v. 20-21) – existem diferentes qualidades e usos para
utensílios (ou vasilhas) em um domicílio. Alguns são de material nobre (inox, prata,
cristal) e usados para fins nobres ou limpos (como para guardar alimentos). Outros
são de material inferior (cerâmica, plástico), alguns deles sendo usados para fins
desonrosos (como lata de lixo). O cristão deve ser um utensílio de material nobre
usado para fins santos. Repare que mesmo sendo um utensílio nobre para fins
santos, somos ainda utensílios, instrumentos de serviço.
Nos versos 8-13 o apóstolo Paulo fala de como até o sofrimento que está enfrentando é
uma forma de servir aos outros, pois pode levar outros à salvação (v. 10). Se
permanecermos fiéis, seremos recompensados por Deus (v. 11-13).
Paulo adverte Timóteo a fugir de várias práticas: contendas de palavras sem proveito
(discussões – v. 14), falatórios inúteis e profanos (v. 16), paixões da mocidade (v. 22) e
questões insensatas e absurdas (v. 23).
Uma advertência é feita quanto aos falsos mestres (v. 17-19). Estes diziam que a
ressurreição dos cristãos mortos em Cristo já havia acontecido, pervertendo a fé de alguns.
Novamente temos um perfil do servo de Deus, líder espiritual (v. 24-25): não vive
discutindo, é brando no modo de tratar as pessoas, apto para instruir, paciente e disciplina
com mansidão os que se opõem.
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O objetivo da disciplina (v. 25-26): arrependimento, melhor conhecimento da verdade,
retorno à sensatez e livramento dos laços do diabo.
Fidelidade ao ministério nos últimos dias (3:1 – 4:8).
O capítulo 3 se inicia com uma longa lista de qualidades reprováveis que caracterizarão mais
e mais as pessoas nos últimos dias (v. 1-9). Muitas delas estarão dentro da igreja e se
oporão à verdade. Mas podemos estar certos de que o fim dessas pessoas corrompidas não
será nada bom, sendo desmascaradas e enganadas (v. 8-9, 13).
Timóteo conhece os sofrimentos e as perseguições pelas quais Paulo passou e é testemunha
de que os que “querem viver peidosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”, mas o
Senhor estava lá para livrar (v. 10-12).
Timóteo é novamente desafiado a permanecer naquilo que aprendeu e tem a Palavra de
Deus (Escrituras) como ferramenta para o trabalho do ministério e para se manter firme (v.
14-17). A fidelidade na pregação e na evangelização é de suma importância, pois muitos não
irão querer ouvir a verdade. Procurarão se cercar de pessoas que pregam aquilo que
querem ouvir (4:1-5).
Paulo prevê o seu martírio e reflete sobre a sua carreira cristã e a coroa da justiça que
espera receber em breve (v. 6-8). Esta recompensa é o que vão receber todos os que
aguardam a vinda de Cristo.
Apelo pessoal: venha antes do inverno (4:9-18).
Paulo se sente só e abandonado (4:10-18). Alguns o abandonaram, principalmente no seu
primeiro encarceramento e julgamento, sendo que outros o prejudicaram (Alexandre).
Outros companheiros de equipe estavam em missão, pois a evangelização e o ensino devem
continuar (Crescente e Tito, v. 10; Tíquico, v. 12; Erasto, v. 20). Só Lucas se encontrava com
ele. Por isso Paulo ansiava ver Timóteo novamente (v. 9 e 21). Apesar da maneira com que
foi tratado pelos homens, Deus nunca abandonou o apóstolo Paulo (v. 17-18).
Saudações finais e benção (4:19-22).
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ANEXO
Considerações Quanto à
Ordenação de Mulheres ao Ministério
1- O homem e a mulher são criados em igualdade de valor diante de Deus. Ambos foram
criados à imagem de Deus. Ambos tem a mesma responsabilidade espiritual. Em Cristo,
todos têm a mesma posição (Gl 3:28). Nenhum é superior ao outro.
2- Dentro da economia de Deus, ele estabeleceu funções diferentes para cada sexo que
correspondem à maneira com a qual ele criou (física e emocionalmente) tanto o
homem como a mulher. Estas funções diferentes são particularmente presentes na
família e na igreja.
3- A função de liderança foi dada ao homem, não porque ele é melhor, mas porque só se
pode ter um cabeça (ou posição de liderança). Ef 5:23 (dentro do contexto dos
versículos 21-33). Veja também 1 Co 11:3 (com seu contexto dos versículos 3-10) onde
existe uma hierarquia de tomada de decisões e autoridade espiritual. Nota: o homem
também tem um cabeça – Cristo.
4- A função da mulher é de submissão à liderança do homem. Mesmas passagens: Ef 5:2224; 1 Co 11:3-9 e também Cl 3:18 e 1 Pe 3:1-2, 5-6; Tt 2:4-5.
5- Apesar de funções diferentes, o homem não é independente da mulher e nem a mulher
independente do homem, mas os dois são interdependentes. 1 Co 11:11-12; 1 Co 7:3-5;
Ef 5:21 e 31.
6- Dois textos bíblicos principais nos dão as qualificações para o ministério (as palavras
traduzidas “bispo” e “presbítero” são sinônimas com a palavra “pastor” que usamos
hoje nas nossas igrejas): 1 Tm 3:1-7 e Tt 1:5-7. Nestes dois textos se trata de escolher
homens aptos para o cargo. Termos como “marido de uma só mulher” e “que governe
bem sua própria família” indicam bem que ele está falando de homens (sexo
masculino). A possibilidade de que sejam mulheres não é mencionada. O inverso
(“esposa de um só homem”) também não é mencionado.
Notas importantes:
a) O silêncio da Bíblia em relação a um assunto não é em si conclusivo, mas juntando a
outras evidências o argumento ganha mais peso.
b) Em ambas as passagens, depois de falar dos ministros (pastores, presbíteros ou
bispos), o apóstolo Paulo fala também das qualificações dos diáconos (1 Tm. 3:8-12
e Tt 1:8-13). Os diáconos exercem uma função mais administrativa e de serviço à
igreja e não exercem autoridade espiritual sobre o rebanho. No meio deste trecho
que fala sobre os diáconos, qualificações são dadas com referência específica às
mulheres (verso 11 nos dois trechos). Algumas igrejas, portanto, admitem mulheres
no diaconato.
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7- Em 1 Co 14:33b-35 o apóstolo Paulo diz que em todas as igrejas as mulheres não devem
falar. Eu entendo por aí que isto significa ensino, pregação em uma platéia mista onde
tenha homens e mulheres. Em 1 Tm 2:11-12 Paulo diz expressamente que as mulheres
não devem ensinar dentro da igreja nem exercer autoridade espiritual sobre o homem.
Elas podem exercer outras funções. Alguns diriam que esta ordem é cultural e foi dada
por causa da posição da mulher naquela cultura, não sendo, portanto, válido para nosso
dias. No entanto, o argumento que o apóstolo Paulo usa no verso 13 tem relação com a
ordem da criação da Deus: o homem e depois a mulher. Este argumento remonta a um
período antes da entrada do pecado no mundo e antes de qualquer maldição da parte
de Deus (ver ainda 1 Co 11:8-9).
8- Com base nestas razões (e talvez algumas outras), a Igreja Batista Livre não aceita fazer
ordenação de mulheres como “pastoras”.
9- Isto não significa que as mulheres não podem ser usadas por Deus. Temos muitos
exemplos na Bíblia de mulheres que foram usadas por Deus (Raabe, Rute, Ana [mãe de
Samuel], Ester, Maria, Lídia e outras), mas raramente em posição de liderança sobre os
homens. Uma exceção notável foi o caso da juíza Débora (Juízes cap. 4) que exercia a
liderança efetiva da nação de Israel (v. 4-5). Provavelmente isto foi devido à covardia e
à fraqueza dos homens desta época (veja v. 8).
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