Educação,
Políticas Públicas
e Atores Sociais no
Processo de Inovação
Diretor da série:
Prof. Dr. Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Universidade Federal do Tocantins (UFT), Brasil
Comitê Editorial e Científico:
Profa. Dra. Cynthia Mara Miranda
Universidade Federal do Tocantins (UFT), Brasil
Prof. Dr. João Nunes da Silva
Universidade Federal do Tocantins (UFT), Brasil
Prof. Dr. Luis Carlos Martins de Almeida Mota
Instituto Politécnico de Coimbra, Portugal
Prof. Dr. Nelson Russo de Moraes
UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil
Prof. Dr. Rodrigo Barbosa e Silva
Universidade do Tocantins (UNITINS), Brasil
Prof. Dr. Rogério Christofoletti
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil
Prof. Dra. Maria Luiza Cardinale Baptista
Universidade de Caxias do Sul:Universidade Federal do Amazonas, Brasil
Profa. Dra. Thais de Mendonça Jorge
Universidade de Brasília (UnB), Brasil
Profa. Dra. Verônica Dantas Menezes
Universidade Federal do Tocantins (UFT), Brasil
Prof. Dr. Fagno da Silva Soares
CLIO & MNEMÓSINE Centro de Estudos e Pesq. em História Oral e Memória
Instituto Federal do Maranhão (IFMA)
Dr. Luís Francisco Munaro
Universidade Federal de Roraima (UFRR)
Dr. José Manuel Peláez
Universidade do Minho, Portugal
Prof. Dr. Geraldo da Silva Gomes
Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do
Ministério Público do Tocantins, CESAF/MPTO
Educação,
Políticas Públicas
e Atores Sociais no
Processo de Inovação
Organizadores:
Gilson Pôrto Jr.
Marco Antônio Baleeiro Alves
φ
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Lucas Fontella Margoni
Arte de capa: barat @baratalexandru
O padrão ortográfico e o sistema de citações e referências bibliográficas são
prerrogativas de cada autor. Da mesma forma, o conteúdo de cada capítulo é de
inteira e exclusiva responsabilidade de seu respectivo autor.
Todos os livros publicados pela Editora Fi
estão sob os direitos da Creative Commons 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR
http://www.abecbrasil.org.br
Série Comunicação, Jornalismo e Educação – 22
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
PÔRTO JR, Gilson.; ALVES, Marco Antônio Baleeiro (Orgs.)
Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação [recurso eletrônico] / Gilson
Pôrto Jr.; Marco Antônio Baleeiro Alves (Orgs.) -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2018.
194 p.
ISBN - 978-85-5696-354-3
Disponível em: http://www.editorafi.org
1. Educação. 2. Políticas Públicas. 3. Atores Sociais. 4. Comunicação. 5. Inovação. I. Título.
II. Série.
CDD-177
Índices para catálogo sistemático:
1. Ética e sociedade 177
Dos autores e colaboradores
José Lauro Martins
Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná
(1992), mestrado em Ciência da Educação - Universidad Autónoma
de Asunción (2005) e doutorado em Ciência da Educação pela
Universidade do Minho (2014) na linha de pesquisa Tecnologias
Educativas. Teve seu doutorado revalidado pela Universidade
Federal do Ceará. Atualmente é professor adjunto da Universidade
Federal do Tocantins no curso de Jornalismo e no Programa de
Mestrado em Ensino de Ciência e Saúde. É pesquisador do Núcleo
de Pesquisa e Extensão Observatório de Pesquisas Aplicadas ao
Jornalismo e ao Ensino (OPAJE). Professor do Programa de Ensino
de Ciências e Saúde (PPGECS).
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Faculdade
de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestre
em Educação pela Faculdade de Educação (UnB) e graduado em
Comunicação Social/Jornalismo, Pedagogia e História. Realizou
estudos de pós-doutoramento em Jornalismo e Sociedade pelo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação (FAC-UnB) e em
Ciências Sociais Aplicadas na Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (UNESP). Atualmente realiza estudos de Pósdoutoramento na Universidade de Cádiz (Espanha) e na
Universidade de Coimbra (Portugal) e é coordenador do Núcleo de
Pesquisa e Extensão e Grupo Lattes Observatório de Pesquisas
Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino (OPAJE-UFT) e do Núcleo de
Pesquisa, Ensino e Extensão Informação, Comunicação e Memória
(INFO-UFT). É professor na Fundação Universidade Federal do
Tocantins (UFT) e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação
e Sociedade (PPGCOM-UFT). Coordena pesquisas em ensino de
jornalismo, formação e preservação da Memória. Pesquisa sobre
formação, ensino e processos educativos no Brasil, na União
Europeia, CPLP/PALOPS e BRICS.
Marco Antônio Baleeiro Alves
Possui Graduação em Química pela Universidade Federal de Goiás
(UFG -2005) e Mestrado em Agroenergia pela Fundação
Universidade Federal do Tocantins (UFT - 2010). Foi Diretor do
Núcleo de Inovação Tecnológica da UFT entre 2013 a 2016. Em
coautoria com o professor Dr. Francisco Gilson Rebouças Porto
Junior foi criador do Curso de Pós Graduação em Especialização
em Gestão Estratégica da Inovação e Política Científica e
Tecnológica e atualmente é Coordenador deste Curso em formato
EaD. Foi Conselheiro por 6 anos e atualmente é Delegado Regional,
cidade de palmas TO, do Conselho Regional de Química da 12a
Região (CRQ XII). Tem experiência em publicação de artigos e
patentes e atuou como professor no Ensino Médio e Nível superior
em Instituições Públicas e Privadas ao longo de sua carreira. Tem
experiência nas áreas: Docência em Física e Química, Consultoria
em Química Ambiental e Analítica, Propriedade Intelectual,
Empreendedorismo e Inovação Tecnológica.
Jhonatan Gomes Ferreira
Possui graduação em Geografia (Licenciatura) pela Universidade
Federal do Tocantins (2015), Mestrando em Gestão de Políticas
Públicas pela Universidade Federal do Tocantins.
André Rodrigues de Carvalho
Graduado em Processos Gerenciais pela Universidade Norte do
Paraná (2010), Especialista em Gestão Pública pela FACIMAB
(2011), Atuou no Programa Agentes Locais de Inovação (ALI) um
programa nacional do SEBRAE em parceria com o CNPq que tem
como objetivo promover a inovação e implantar sua cultura nas
Pequenas Empresas do Estado do Tocantins durante o período de
Novembro/2012 à Novembro/2014.
Ana Paula Araújo Martins Antunes
Possui graduação em Secretariado Executivo pela Pontifícia
Universidade Católica de Goiás(2002). Especialista em Gestão Escolar
pelo SENAC de São Paulo. Atualmente é Técnica Especializada III do
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - TO.
Camila Pereira dos Santos
Possui graduação em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário
UNIRG (2011). Atualmente é Técnica Especializada II do Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial - TO. Tem experiência na
área de Administração, com ênfase em Ciências Contábeis.
Kathleen Gonçalves Sampaio Stefanelli.
Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade Guaraí (2006).
Atualmente é técnico especializado II - Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial - TO. Tem experiência na área de
Educação, com ênfase em Docência e Coordenação Pedagógica.
Cintia Fernandes da Silva Maximiano
Administradora, com especializações em Marketing, Gestão
Pública, Gerenciamento de Projetos, Inovação, Políticas Públicas e
Comunicação. Educadora, consultora e empresária. Atualmente
está: gerente da Incubadora e diretora do NIT ULBRATECH
Tocantins, coordenadora da pós-graduação presencial do
CEULP/ULBRA, diretora da Fundação Ulbra Palmas e docente em
cursos de graduação e pós-graduação. Participou da construção e
gestão de diversos projetos, liderou equipes e lecionou para
diferentes públicos. Trabalhou em empresas como: SEBRAE, IFTO,
SENAI, SENAR, FAET, Portal CT, Portal Vitrine e Banco do Brasil.
Idealizadora dos projetos Rumos do Tocantins, Arena Inova, Ajunta
Palmas e Coletivo Verão, sócia na Agência de Desenvolvimento
Empresarial Ox, founder na Alavancadora Jalapão Valley, curadora
do Prêmio Chambari de Inovação e Empreendedorismo.
Colaboradora no Movimento Startup Tocantins e Rede
Tocantinense de Inovação. Linhas de pesquisa: Comunicação e
Educação,
Ecossistemas
Digitais
de
Aprendizagem,
Empreendedorismo Startup, Cultura Empreendedora e Inovativa,
Redes de Inovação, Tecnologias Contemporâneas, Políticas Públicas
para Empreendedorismo, Inovação e Economia Criativa.
Raimundo Ferreira Rodrigues
Licenciado em Pedagogia (2001 - 2005 - Universidade Federal do
Tocantins - UFT) e Bacharel em Comunicação Social: Jornalismo
(2012 - 2016 - UFT), Mestrando em Gestão de Políticas Públicas
(2017 - 2019 - GESPOL/UFT). Atualmente é professor dos Cursos
de Pós-graduação Lato Sensu, Complementação Pedagógica e
Segunda Graduação (UCAM/ISEIB/PROMINAS) e Professor do
Ensino Fundamental da Rede Municipal de Palmas TO.
André Coelho Gama
Possui graduação em Gestão da Tecnologia da Informação pela
Universidade Paulista (TO) (2007). Pós Graduado em Educação
profissional e Tecnológica no SENAI CETIQT do Rio de Janeiro-RJ.
Atualmente é coordenador de educação a distância - SENAI Departamento Regional de Tocantins. Tem experiência na área de
Ciência da Computação, com ênfase em Sistemas de Computação
Everaldo de França
Mestre em genética Médica e Doutor em Genética e Biologia
Molecular Humana pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) desde 2003. Nos últimos 11 anos vem realizando
atividades relacionadas com Inovação e Propriedade Intelectual em
função do 2º mestrado nessa área pelo INPI (2014). Atualmente é
professor do IFES Campus Barra de São Francisco.
Kelly Cristina dos Santos Lima
Possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(1992).
Atualmente é Produção de Conteúdo para DAPP do Fundação
Getúlio Vargas. Tem experiência na área de Comunicação.
Kleber Abreu Sousa
Pós doutor pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, possui doutorado na área de Gestão da Inovação pela
Universidade Federal do Amazonas, mestrado em Engenharia de
Produção também pela Universidade Federal do Amazonas e
graduação em Administração de Empresas. Tem experiência na
área de Administração de Negócios atuando principalmente no
seguinte tema: Marketing Organizacional, Gestão de Novos
Negócios e Inovação. Atualmente é professor efetivo da
Universidade Federal do Tocantins, atuando no Programa de
Mestrado em Inovação Tecnológica.
Patrícia Trotte Caloiero
Mestre em Propriedade Intelectual e Inovação do Instituto Nacional
da Propriedade Industrial, possui graduação em Matemática e de
Executivos para Empresas de Turismo e Hotelaria. Atua como
Chefe do Serviço Acadêmico da Divisão de de Pós-Graduação e
Pesquisa da Academia de Propriedade Intelectual, Inovação e
Desenvolvimento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial.
Atualmente, desenvolve trabalhos de pesquisa relacionados à
educação em propriedade intelectual e sobre gestão do
conhecimento.
Ludmila César Moura Gaspar
Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (2005). Mestre em
Propriedade Intelectual e Inovação pela Academia de Propriedade
Intelectual e Inovação do Instituto Nacional da Propriedade
Industrial – INPI (2015).
Sumário
Apresentação ............................................................................................... 15
José Lauro Martins
Prefácio dos organizadores ......................................................................... 19
Marco Antônio Baleeiro Alves; Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Capítulo 1 .................................................................................................... 23
Políticas Públicas da Ciência, Tecnologia e Inovação: aspectos históricos e a
inserção da inovação no estado do Tocantins
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves
Capítulo 2.................................................................................................... 43
A quarta revolução industrial
André R. de Carvalho; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves
Capítulo 3.....................................................................................................55
Análise das assimetrias regionais em inovação e os atores sociais da hélice
tríplice
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves
Capítulo 4.....................................................................................................73
Desafios da inovação na educação profissional no Brasil
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen Gonçalves S. Stefanelli
Capítulo 5 .................................................................................................... 87
Ecossistema de Startups no estado do Tocantins
Cintia Fernandes da Silva Maximiano; Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Capítulo 6.................................................................................................... 99
Tecnologias digitais/virtuais aplicadas a educação: percalços, desafios e
ações educativas
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Pôrto Júnior
Capítulo 7 ....................................................................................................117
Chupeta digital: uma forma prejudicial no processo de ensinoaprendizagem ou novo método educativo para o século XXI?
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio Baleeiro Alves
Capítulo 8 .................................................................................................. 131
Relato de experiências e reflexões de um possível cenário brasileiro para
Inovação
Marco Antônio Baleeiro Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior
Capítulo 9................................................................................................... 147
A percepção dos acadêmicos do curso de logística em relação ao perfil dos
professores e processo de ensino - aprendizagem
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa
Capítulo 10 ................................................................................................. 173
Patentes como fonte de informação tecnológica na educação profissional
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero
Apresentação
José Lauro Martins
Esta obra tem a peculiaridade de ser ao mesmo tempo a
síntese de um trabalho construído a diversas mãos e o registro de
que é possível pensar e propor a inovação em todas as etapas da
vida acadêmica. A Universidade faz-se, é uma construção social e
coletiva permanente. Porém, se não contar com a audácia de
alguns atores contenta-se com o imenso tempo gasto em
reproduzir as respostas prontas e fazem-se poucas perguntas que
possa de alguma maneira alterar os processos ou produtos de
nosso fazer social.
A sociedade espera da Universidade pelo menos sinais que
algo pode mudar. Em tese deve ser o lócus da transformação, da
inovação e da crítica social. Porém, mantemos as galerias dos
conhecimentos terrivelmente estabilizadas que dificulta a
mobilização de esforços de fato transformadores. Os novelos
embaralhados da gestão desgastam e desgostam os que de
esforçam para desembaralhar as tramas burocráticas
transformadas em fim em si mesmo. Ouvir as vozes de fora da
universidade é sempre difícil, parece protegida por algo parecido
com uma ‘Gaiola de Faraday’ que impede que os anseios sociais
repercutam internamente.
É um contrassenso, afinal a universidade deveria ser um
motor para as mudanças seja tecnológicas ou sociais, mas as
universidades brasileiras tem se mostradas incapaz de mobilizar e
ser mobilizada pela sociedade. Dessa forma, os poucos projetos que
rompe essa casca dura, como as de um fruto do cerrado que se
protege contra as intempéries anuais, são bem vindos
16 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
principalmente pesa capacidade questionadora da esquizofrenia
acadêmica.
Olhando de perto vemos no primeiro artigo um ponto de
vista crítico as políticas públicas da ciência, tecnologia e inovação,
em particular ao que aconteceu nos últimos anos no Estado do
Tocantins quanto a disseminação da percepção e associação entre
as atividades de ciência, tecnologia, inovação (CT & I) e o
desenvolvimento econômico e social tem motivado, ao longo das
últimas décadas, uma ênfase crescente do tema na agenda de
políticas públicas. Com aponta os autores, a Ciência, Tecnologia e
Inovação (CT & I) alcançaram patamares de desenvolvimento
crescentes desde o final do século XIX e a criação de políticas
públicas apresenta-se como elemento importante em um cenário
de alta competitividade internacional, revelando - se como forte
indutor do desenvolvimento socioeconômico de países e regiões.
Todavia, há uma dificuldade muito grande do Estado em articular
estratégias para propiciar e garantir o desenvolvimento e a
efetivação de políticas de CT & I.
No segundo artigo os autores fazem uma reflexão básica
para entender o momento em que vivemos, ao que chamaram de
Quarta Revolução Industrial. Apresentam a cronologia das
revoluções industriais tomando como ponto de partida os países
que consideram que já estão na Quarta Revolução, dada a
experiência que tiveram nas revoluções anteriores. Para eles, a
inovação tem sido a peça chave para avanços tecnológicos
importantes e até mesmo inovações radicais, por isso, ações dos
governos no sentido de investir em Educação, Ciência, Tecnologia,
Pesquisa e Desenvolvimento.
O terceiro artigo se propõe a apresentar uma análise das
assimetrias regionais em inovação. Para os autores a inovação é
um recurso de grande valia para fomentar o desenvolvimento
regional, mas dificultado pelas próprias desigualdades em inovação
de região para região. Em particular destaca-se os baixos níveis de
inovação das regiões Norte e Nordeste devido a baixa
Dr. José Lauro Martins | 17
industrialização e os processos que inviabilizam a interação entre
Universidade - Empresa e da inexistência e/ou ineficiência das
legislações para CT & I como ações do Estado.
O quarto artigo traz uma forte reflexão educação
profissional, ao que consideramos um dos aspectos pendentes na
educação brasileira e fundamental para o desenvolvimento
regional. Os autores analisam os índices do crescimento da
educação profissional no Brasil e observa que os alunos
qualificados no ensino profissionalizante ocupam os melhores
empregos e melhores salários. No que se refere à inovação na
educação profissional o Brasil, apesar do capital humano
potencialmente criativo, ainda tem muito a progredir.
O quinto artigo aponta para um dos símbolos
contemporâneos da inovação e do desenvolvimento fortalecidos
pelas tecnologias digitais que são as startups. Para os autores o
modelo de negócios startup embora seja desconhecido por parcela
significativa da comunidade acadêmica, vem conquistando a
simpatia dos empreendedores iniciantes.
O sexto artigo nos convida a reflexão sobre o que se faz com
as tecnologias digitais contemporâneas nos processos da educação.
Os autores afirma que no Brasil desde 1987 vem se questionando e
modificando a educação formal baseada no discurso do professor
para processos educacionais utilizando de tecnologias digitais.
Porem está claro que é indispensável que educadores dominem
novas metodologias que faça das tecnologias digitais condições
necessárias para mediar suas ações pedagógicas.
O sétimo artigo é um questionamento sóbrio sobre o uso das
tecnologias digitais contemporâneas na educação. Para os autores a
educação escolar é um todo solidário e as tecnologias não deve não
de servir como uma "Chupeta Digital" (entretenimento), mas deve
ter um papel importante na gestão pedagógica
O oitavo artigo é um ‘relato de experiências’ do Brasil para
que a inovação entre na pauta dos governantes e uma reflexão
18 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
segura dos autores sobre a necessidade de investir em ciência e
inovação.
O nono artigo relata a percepção dos acadêmicos do curso de
logística sobre a gestão do ensino do curso superior de tecnologia
em logística da Universidade Federal do Tocantins – UFT.
Finalmente, o último capítulo traz informações as quais
retratam a importância do uso de patentes na educação
profissional e a demanda pela competência em proporcionar ao
estudante a “aplicabilidade dos conhecimentos científicos” como
forma de divulgação e estímulo ao registro e apropriação de novas
invenções, bem como a importância dessa temática para a
formação de cidadãos conscientes da importância dessa ferramenta
essencial para o sucesso de qualquer processo de geração de
inovações tecnológicas.
Por fim, é uma obra reflexiva dos concluintes dos
participantes do Curso de Especialização em Gestão Estratégica da
Inovação e Política de Ciência e Tecnologia coordenado pelos
professores Gilson Porto e por Marco Baleeiro. Além de
representar a resposta de que é possível fazer quando se tem boa
vontade e competência.
Palmas, verão de 2018.
Prefácio dos organizadores
Marco Antônio Baleeiro Alves
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
O Núcleo OPAJE nasceu no ano de 2013 como Grupo de
Pesquisa do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa) “Observatório
de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino”, da UFT. No ano
seguinte teve sua regulamentação aprovada na Universidade
Federal do Tocantins, por meio da Resolução CONSEPE nº 23 de
16 de dezembro de 2014. O Núcleo OPAJE agregou-se em 2014 com
a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (RENOI), com foco
na crítica de mídia e no monitoramento de coberturas jornalísticas,
além das ações de formação da área Comunicação, Jornalismo e
Educação. Em 2015, o OPAJE ingressa na Rede Internacional de
Pesquisadores sobre Bolonha / International Researchers Network
for Bologna (REBOL) que foi criada como instrumento facilitador e
promotor de pesquisas, além de produzir, articular e socializar
conhecimentos de pesquisadores de diferentes países, objetivando
ampliar e aprofundar experiências em pesquisa com foco no
Processo de Bolonha.
Em novembro 2016 deu-se início à primeira turma da
Especialização em Gestão Estratégica da Inovação e Política de
Ciência e Tecnologia promovida pelo Observatório de Pesquisas
Aplicadas ao Jornalismo e Ensino – OPAJE no Campus
Universitário de Palmas da Universidade Federal do Tocantins,
sendo este curso regulamentado nos termos da Resolução
CNE/CES nº 01, de 03 de abril de 2001, da Portaria nº 87/MEC de
07 de maio de 2004 e em conformidade com as Normas Gerais da
20 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Pós-graduação (Resolução Consepe/UFT nº 09 de 12 de maio de
2010) e sendo aprovada e credenciada pela Certidão Consepe/UFT
nº 1.384/2016. Utilizando-se da estratégia da cooperação
inspirados na moderna teoria Open Innovation de Perter Drucker,
agregou-se a este curso lato sensu as parcerias com o SENAC
Tocantins (SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM
COMERCIAL) e o INPI (INSTITUTO NACIONAL DA PROPRIEDADE
INDUSTRIAL) com sede no Rio de Janeiro. Com a conclusão dessa
turma no início de 2018, foram colhidos frutos importantes no que
se refere a produção intelectual. Foram produzidos 4 depósitos de
patentes e 5 registros de software e mais dois livros.
O presente livro, o primeiro da série que compõem trabalhos
desenvolvidos pelos acadêmicos em parceria com os professores da
primeira turma da Especialização em Gestão Estratégica da
Inovação e Política de Ciência e Tecnologia, tem como principal
objetivo debater temas que relacionam os desafios das Instituições
públicas e privadas no Sistema Nacional de Inovação e ressaltar a
importância da Educação como fator essencial ao desenvolvimento
da qualidade de vida de uma nação, temática central: "EDUCAÇÃO,
POLÍTICAS PÚBLICAS E ATORES SOCIAIS NO PROCESSO DE
INOVAÇÃO" o segundo, que virá em seguida seria em princípio
mais voltado ao público leitor da iniciativa privada: “ESTRATÉGIA,
COMUNICAÇÃO E MARKETING NO PROCESSO DE INOVAÇÃO.”
Estas duas publicações reúnem mais de 20 artigos fruto de
pesquisas e atividades de extensão desenvolvidas por alunos e
professores da Especialização que explora temas diversos na área
de Ciência, Tecnologia, Inovação, Políticas Públicas Aplicadas e
áreas afins.
Todo esse trabalho é resultado da cooperação institucional
entre OPAJE - Observatório de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e
ao Ensino, UFT – Universidade Federal do Tocantins e seus
colaboradores: SENAC Tocantins (SERVIÇO NACIONAL DE
APRENDIZAGEM COMERCIAL), INPI (INSTITUTO NACIONAL DA
PROPRIEDADE INDUSTRIAL) com sede no Rio de Janeiro, além de
Marco Antônio Baleeiro Alves; Francisco Gilson Rebouças Porto Junior | 21
outros colaboradores importantes no cenário regional. Com a
finalidade de dar prosseguimento a novos projetos na mesma linha
de pesquisa, uma nova turma de Pós-graduação Lato Sensu em
Gestão Estratégica da Inovação e PCT em formato EAD (ENSINO À
DISTÂNCIA) GRATUITO. O convênio entre UNICET e UFT vai
ofertar 400 vagas para o curso de pós-graduação, “Especialização
em Gestão Estratégica da Inovação e Política de Ciência e
Tecnologia”. Do total de vagas, 300 serão preenchidas por
servidores públicos estaduais e 100 para o público em geral. O
curso terá duração de 12 meses, com carga horária de 390 horas e
no sistema de educação à distância, e gratuito.
Dessa forma, o Núcleo de Pesquisa e Extensão “Observatório
de Pesquisas Aplicadas ao Jornalismo e ao Ensino” (OPAJE) tem
como objetivo geral proporcionar a reflexão e desenvolver estudos,
métodos, pesquisas e projetos de pesquisa e extensão voltados para
a comunicação, jornalismo e a educação em geral e especial para o
ensino e a formação desses profissionais, com um foco inovador
nas áreas tecnológicas e demais ciências aplicadas. Esse caráter
multidisciplinar, como forma de atuação das atividades de ensino,
pesquisa e extensão promovidas pelo OPAJE, mostrou-se adequado
para o sucesso na produção de ativos intangíveis, que, além de
valorizar o capital intelectual oriundo da diversidade que se
expressa no meio acadêmico, traz uma nova abordagem de
pesquisa e ensino que está em consonância com as necessidades do
mercado, pois, estimula uma nova forma de atuação da
universidade pública, uma vez que também e capaz de contribuir
para desenvolvimento regional no que tange ao ensino,
comunicação e incentivo à cultura da inovação, especialmente no
Estado do Tocantins.
Palmas, verão de 2018.
Capítulo 1
Políticas Públicas da Ciência,
Tecnologia e Inovação:
aspectos históricos e a inserção da inovação
no estado do Tocantins
Jhonatan Gomes Ferreira
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Marco Antônio Baleeiro Alves
1. Introdução
A disseminação da percepção e associação entre as atividades
de ciência, tecnologia, inovação (CT&I) e o desenvolvimento
econômico e social tem motivado, ao longo das últimas décadas,
uma ênfase crescente do tema na agenda de políticas públicas,
(CAVALCANTE, 2009). A Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I)
alcançaram patamares de desenvolvimento crescentes desde o final
do século XIX. Esse avanço está relacionado às conquistas científicas
e à evolução tecnológica que se tornaram fonte de investimentos
públicos e privados em um contexto de dominação técnica (ROCHA,
2018). A criação de políticas públicas no campo da CT&I apresentase como elemento importante em um cenário de alta
competitividade internacional, revelando-se como forte indutor do
desenvolvimento socioeconômico de países e regiões (ROCHA;
FERREIRA, 2004). Vale salientar que políticas públicas constituemse as ações governamentais para fomento de atividades técnico-
24 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
científicas que possam se desdobrar em resultados inovativos, com
objetivo de atingir níveis satisfatórios de crescimento e
desenvolvimento do país em âmbito federal, estadual ou municipal.
As inovações tecnológicas e os novos paradigmas oriundos da
reestruturação produtiva desencadeiam, por conseguinte, a
necessidade de se incorporar o uso de ferramentas tecnológicas para
complementar ou aprimorar as práticas e atividades realizadas. É
importante ressaltar que as inovações estão em todos os campos da
sociedade (CANTINI, el at. 2006). Constitui-se entre as formas de
atuação do Estado, a elaboração das políticas públicas para
aperfeiçoamento de tarefas executadas. HÖFLING apud Gobert e
Muller (2001) frisam ainda o preceito do Estado em articular
estratégias para propiciar e garantir o desenvolvimento na CT&I e
demais esferas. Essa articulação é realizada através de programas,
de ações voltadas para setores específicos da sociedade com intuito
de atender as demandas que surgem. As decisões políticas devem ser
implementadas de maneira contínua, gradativamente, vislumbrando
pequeno alcance sobre dada realidade, pois a reduzida capacidade do
ator político de compreender demandas complexas impossibilitaria a
identificação de todos os problemas, alternativas e soluções das
demandas (LINDBLOM, 2010). É sabido que políticas públicas são as
de responsabilidade do Estado, quanto à implementação e
manutenção, dão-se a partir de um processo de tomada de decisões
que envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da
sociedade relacionados à política implementada, ou seja, as políticas
públicas não podem ser reduzidas a políticas estatais (HÖFLING,
2001). Por isso, ao formular determinada política pública, a
Administração Pública deve adotar estratégias e instrumentos
adequados para consecução dos fins que propõe. O poder público
tem à sua disposição uma gama de ferramentas/instrumentos como
regulamentação, informação, intervenção econômica, prestação e
concessão de serviço público, dentre outros mecanismos que atuam
isolada ou conjuntamente e indicam o modo como a Administração
Pública pretende efetivar uma determinada política (WU et al, 2014).
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 25
A acelerada evolução das políticas de CT&I tem motivado, inclusive,
esforços para a sofisticação dos indicadores empregados para avaliálas, uma vez que a implementação em si não garante atingir
resultados satisfatórios (CAVALCANTE, 2010 apud VIOTTI,
MACEDO). As realidades no âmbito nacional, no entanto,
demonstram comportamento dissonante ao serem postas em
comparação com outros países mais desenvolvidos, pois a inovação e
a criação de tecnologias exitosas são responsáveis por impulsionar o
crescimento do setor privado. Já nos países em desenvolvimento,
como é o caso do Brasil, em boa parte, estas são pautadas na mão de
obra barata, e na exploração de recursos ao máximo (CASTRO,
2015). Com vistas a identificar o cenário do Estado do Tocantins no
âmbito das políticas públicas para CT&I, este trabalho tem por
finalidade retratar o percurso histórico da PCT&I, identificar e
descrever os principais atores e dimensionar a PCT&I no estado.
2. Referencial teórico
A Ciência e Tecnologia são comumente associadas, possuem
até conceitos próximos, contudo diferentes. A ciência tem recebido
várias definições, mas uma das mais aceitas pela comunidade
científica é a proposta pela UNESCO (1982) que declara: “a ciência
é o conjunto de conhecimentos organizados sobre os mecanismos
de causalidade dos fatos observáveis, obtidos através do estudo
objetivo dos fenômenos empíricos”. Tradicionalmente, a ciência é
vista como um empreendimento autônomo, objetivo e neutro,
baseado na aplicação de um código de racionalidade alheio a
qualquer tipo de interferência externa. Segundo Bazzo, Linsingen e
Pereira (2000), nessa concepção o que garante a cientificidade é o
“método científico”, ou seja, é o procedimento regulamentado para
avaliar a aceitabilidade de enunciados gerais baseados no seu apoio
empírico e, adicionalmente, na sua consistência com a teoria da
qual devem formar parte. Fortemente associadas, a tecnologia
originou-se da aplicabilidade do desenvolvimento científico frente à
26 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
necessidade de otimizar a realização de atividades cotidianas, de
modo que a tecnologia se traduz em um fruto da aliança entre
ciência e técnica. Nesse sentido, Bastos (1998) corrobora ao
afirmar que a tecnologia é um modo de produção, o qual utiliza
todos os instrumentos, invenções e artifícios e que, por isso, é
também uma maneira de organizar e perpetuar as vinculações
sociais no campo das forças produtivas de desenvolvimento. Dessa
forma, a tecnologia é tempo, é espaço, custo e venda, pois não é
apenas fabricada no recinto dos laboratórios e usinas, mas recriada
pela maneira como for aplicada e metodologicamente organizada
para o alcance dos objetos almejados. Por isso, é necessário
fazermos uma avaliação crítica sobre a tecnologia, sua constituição
histórica e sua função social, no sentido de não só compreender o
sentido da tecnologia, mas também de repensar e redimensionar o
papel da mesma na sociedade.
Segundo Miranda (2002), conforme a avaliação dos
frankfurtianos, é necessário dirigir a razão (o pensar) para a
emancipação do homem, e não para sua escravidão, como ocorre
na razão instrumental, e também conduzir a razão para
emancipação, com uma maior autonomia da ciência, que nos
tempos modernos tornou-se escrava da tecnologia, para redefinir
qual a função social da ciência, da técnica e da tecnologia. Já no que
diz respeito aos atos de inovação, estes não se restringem aos que
dispõem a conceber novas tecnologias, pois nem toda inovação está
necessariamente atrelada a um caráter inovador. Segundo Bessant
& Tidd (2009), a inovação é centrada em três principais fatores:
geração de novas ideias a partir de oportunidades de criação de
modelos para o futuro, elaboração de algo novo a partir da
contribuição de ideias de algo que já exista: seleção das melhores
ideias a partir de restes e exploração, tornando o processo de
escolha uma estratégia e a implementação de nova ideia é
implementar na condição de grandes incertezas, pois não há
garantia que as pessoas vão aderir, a sua ideia, sendo necessário
estruturar corretamente as etapas. Uma inovação se diferencia em
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 27
quatro tipos: a criação de um produto, um processo altamente
melhorado, uma prática organizacional, ou um novo método e
marketing. Como requisito mínimo para inserir uma inovação, é
necessário que o produto ou processo sejam novas e altamente
melhorados (Manual de Oslo,1997). A inovação é associada a vários
elementos essenciais da vida do ser humano, ela é considerada um
dos fatores decisivos para o desenvolvimento econômico e social da
nação (COLOMBO, RODRIGUES, 2011).
2.1. Políticas públicas para CT&I no Brasil: elementos
históricos
Embora haja uma extensa e controversa produção
bibliográfica sobre os conceitos e as formas de políticas de CT&I, são
formadas por três elementos principais: uma perspectiva sobre os
mecanismos de transmissão que envolvem as atividades de CT&I e
sua articulação com o desenvolvimento econômico e social, a fixação
de um conjunto de objetivos e diretrizes com base nesta
interpretação, e a adoção de um conjunto de instrumentos visando
alcançar os objetivos estabelecidos (IEPA, 2010). Em 1503 originouse a primeira manifestação comercial do Brasil Colônia, na qual os
portugueses implementaram um sistema de extração do pau-brasil,
utilizando mão-de-obra silvícola para extraí-lo e transportá-lo, sendo
esta seguida pelos ciclos da mineração, da cana de açúcar, da
borracha e do café respectivamente, todos estes caracterizam a
sociedade brasileira como um país agroexportador, que possuía a
sua população residindo na zona rural e uma economia a base da
exportação de produtos. Somente em 1930, durante o governo de
Getúlio Vargas, utilizando recursos e tecnologias captadas nos
Estados Unidos, o Brasil iniciou o seu processo de industrialização e
consequentemente a migração dos trabalhadores do campo para o
meio urbano. Ao compararmos com a Inglaterra e demais países
europeus, onde tais processos ocorreram ainda no século XVIII, fica
nítido que o desenvolvimento de um modelo urbano-industrial
28 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
ocorreu de modo exageradamente tardio, mesmo levando-se em
contas as limitações do país. As primeiras políticas públicas voltadas
para a Ciência, Tecnologia e Inovação ocorreram na década de 50,
sendo a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico de Pesquisas - CNPq a primeira ação incisiva deste
segmento. No ano de 1951 foi criada a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior que era a resolução da
demanda de cursos de aperfeiçoamento de professores. Em
conformidade com o dito por Bagattiolli (2008), tais investimentos
se caracterizam na chamada fase “ofertista” da C&T, que era
caracterizada principalmente pelos investimentos realizados em
recursos humanos, como combustível para concepção de novas
tecnologias que deveriam ser inseridas no mercado, de modo a
fomentarem o desenvolvimento nacional. Atualmente o CNPq tem
como principais atribuições fomentar a pesquisa científica e
tecnológica e incentivar a formação de pesquisadores brasileiros.
(CNPq, 2017). Já a Capes é uma fundação do Ministério da Educação
(MEC) desempenha papel fundamental na expansão e consolidação
da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os
estados da Federação. (CAPES, 2017). No ano de 1967, por meio do
Decreto n°61056 foi criada a FINEP – Financiadora de Estudos e
Projetos como Empresa Pública vinculada ao Ministério do
Planejamento. A Finep sucedeu “O Finep” nas suas atribuições e
capital. Dentre outras instituições o Ministério do Planejamento, o
então BNDE e o Banco Central fazem parte do Conselho Diretor da
Finep. (FINEP, 2017). Em meados de 1969 é instituído por meio do
Decreto-Lei n° 719 o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico – FNDCT, para dar apoio financeiro a programas tidos
como prioridades ao avanço da ciência e tecnologia no país. O
FNDCT foi criado com o objetivo de apoiar financeiramente
programas e projetos prioritários de desenvolvimento científico e
tecnológico nacionais, tendo como fonte de receita os incentivos
fiscais, empréstimos de instituições financeiras, contribuições e
doações de entidades públicas e privadas. A partir de 1970, o FNDCT
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 29
tornou-se o mais importante instrumento de financiamento para
implantação e consolidação institucional da pesquisa e da pósgraduação nas universidades brasileiras e de expansão do sistema de
ciência e tecnologia nacional. E possuí a FINEP como sua Secretaria
Executiva desde 15 de março de 1971. (FNDCT, 2017). Os recursos do
FNDCT são provenientes dos Fundos Setoriais e são utilizados para
apoiar atividades de inovação e pesquisa em empresas e instituições
científicas e tecnológicas - ICTs, nas modalidades de financiamento
reembolsável, não-reembolsável e investimento, podendo ser
implementados de forma direta ou descentralizada. Na forma direta,
a Finep, na qualidade de Secretaria Executiva do Fundo, executa
diretamente o orçamento; na forma descentralizada, os recursos são
transferidos para outros parceiros que ficam responsáveis pela
implementação da ação. (FNDCT, 2017). A nova fase das políticas de
C&T tinha caráter vinculacionista, assim chamado por terem como
uma das bases metodológicas vincular as universidades com as
demandas do mercado (DAGNINO; THOMAS; DAVYT, 1996). Nesse
contexto, a inovação começava ensaiar o seu protagonismo, no que
tange aos debates relativos às políticas públicas. Assim, a partir da
criação do Ministério da Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, em
1985, buscou-se implantar, em todo o país, as Secretarias Estaduais
de Ciência e Tecnologia. Dessa forma, com o objetivo de estimular a
maior participação dos Secretários, em 1987, foi criado o Fórum
Nacional dos Secretários Estaduais para Assuntos de C&T. Outro
importante acontecimento desse período foi a mobilização da
comunidade científica e tecnológica para que na nova Constituição,
constasse um dispositivo que garantisse aos estados e ao Distrito
Federal vincular parcela de suas receitas tributárias para as
entidades públicas de fomento à pesquisa científica e tecnológica. A
intenção era garantir a fundamentação legal ao desenvolvimento da
C&T também a partir dos estados (CASTRO, 2015). Os fundos
setoriais foram instituídos no ano de 1999 e visavam o
financiamento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação
e operam por meio da vinculação dos recursos arrecadados ao
30 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Orçamento da União, que são direcionados especificamente à CT&I.
A criação deste fundo faz parte da fase “neovinculacionista” que
segundo Barbosa (2012) alvitrava o crescimento dos dispêndios e a
diversificação das fontes de investimento. De acordo com a FINEP
(2017), as receitas dos fundos são provenientes de contribuições
incidentes sobre o resultado da exploração de recursos naturais
pertencentes à União, de parcelas do Imposto sobre Produtos
Industrializados de certos setores e de Contribuição de Intervenção
no Domínio Econômico (CIDE) incidente sobre os valores que
remuneram o uso ou aquisição de conhecimentos
tecnológicos/transferência de tecnologia do exterior. Existem
atualmente 16 fundos setoriais, a saber: CT – Petro, CT –
Transporte, CT – Saúde, CT – Mineral, CT – Infra, CT – Info, CT –
Hidro, CT – Energ, CT – Bio, CT – Amazônia, CT – Aero, CT – Agro,
CT – Aquaviário, CT – Espacial, CT – Verde Amarelo e Funttel,
dentre estes apenas os dois últimos não têm seus fundos ligados ao
FDNCT. Desde sua implementação nos anos recentes têm se
constituído no principal instrumento do Governo Federal para
alavancar o sistema de CT&I do País. Os projetos realizados em
regime de parceria estimula um maior investimento em inovação
tecnológica por parte do setor empresarial, de forma a contribuir
para melhorar seus produtos e processos e também equilibrar a
relação entre investimentos públicos e privados em ciência e
tecnologia (FINEP, 2017). Os Fundos Setoriais constituem ainda
valioso instrumento da política de integração nacional, pois pelo
menos 30% dos seus recursos são obrigatoriamente dirigidos às
Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, promovendo a
desconcentração das atividades de C&T e a consequente
disseminação de seus benefícios. (FINEP, 2017).
2.2 Formulação de políticas públicas para CT&I
As políticas públicas são uma resposta do Estado às
necessidades do coletivo que, por meio do desenvolvimento de
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 31
ações e programas, objetivam o bem-comum. Os programas e
ações precisam ser estruturados de maneira funcional e sequencial
para tornar possível a produção e organização do projeto a ser
formulado. O ciclo de formulação das políticas públicas nada mais
é que um processo que leva em conta os seguintes pontos: a)
participação de todos os atores públicos e privados na elaboração
das políticas públicas, ou seja, governantes, políticos, trabalhadores
e empresas; b) poder que esses atores possuem e o que podem
fazer com ele; c) O momento atual do país no aspecto social
(problemas, limitações e oportunidades) e Organização de ideias e
ações. Ao analisarmos políticas públicas adotadas para ciência,
tecnologia e inovação percebe-se que durante sua elaboração por
objetivarem o desenvolvimento da nação em sua totalidade, elas se
restringem a seguirem os rumos ditados pela agenda política, e
como aos olhos destes predominam os aspectos do neoliberalismo
e de uma economia nacional interligada ao restante do globo
privilegiam alguns campos em detrimentos de outros. Segundo
Dias (2009) os desdobramentos da PPCT&I são frutos dos embates
da “agenda da ciência” e “as agendas da sociedade”, sendo esse os
fatores que envolvem grande pluralidade de atores e interesses e
outro o conjunto dos anseios articulados da comunidade de
pesquisa. A PCT é o objeto de maior interesse de estudos científicos
no Brasil, entre eles se destacam dois conceitos importantes
propostos por Herrera (1973), que são: política cientifica explicita e
implícita. Segundo este autor, a política explicita é a política oficial,
formalizada em leis, regulamento, planos de desenvolvimento,
estatutos das instituições públicas envolvidas com a política,
declarações do governo etc. Já a política implícita é a mais difícil de
identificar, pois não há um estatuto ou lei que a estabeleça. É
importante frisar que essa política expressa o interesse dos grupos
sociais detentores do poder político e econômico de um país, que
não necessariamente reflete as aspirações da sociedade como um
todo, bem como o discurso oficial dos formuladores da política
explicita (HERRERA, 1973). Ressalta-se ainda que, essas políticas
32 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
não precisam ser contraditórias, basta que haja um consenso sobre
as aspirações do que detém os poderes mencionados
anteriormente com aqueles que formalizam a PCT. Observa-se, no
entanto, que não há uma expressão da sociedade neste jogo de
interesses, pois os atores principais destes embates são os que têm
o poder e estão no poder.
“Os países desenvolvidos e um grupo cada vez maior de países
em desenvolvimento têm colocado a produção de conhecimento e
a inovação tecnológica no centro de sua política para o
desenvolvimento, movidos pela visão de que o conhecimento é o
elemento central da nova estrutura econômica que está surgindo
e de que a inovação é o principal veículo da transformação do
conhecimento em valor” (LIVRO VERDE, 2001, p. 13).
Ao tentar alavancar o sistema de CT&I no Brasil, e
comparando-o com outros países, dentre os quais os Estados
Unidos, a publicação do Ministério da Ciência e Tecnologia
afirmava que essa temática não era examinada como fundamental
para o desenvolvimento do país, ao contrário do que ocorria,
segundo o Livro, em outras nações. Dentre os principais problemas
estariam.
“(...) a pequena participação do esforço privado, em especial das
empresas, no investimento realizado em CT&I, da qual resulta a
inexpressiva posição brasileira na atividade de patenteamento, a
fragmentação e a pouca coordenação das atividades relacionadas
à CT&I, e à (ainda) excessiva centralização das ações
governamentais na esfera federal” (LIVRO VERDE, 2001, p. 14).
Na tentativa de apontar a não adequação de grande parte da
população brasileira em um contexto de maior domínio dos
avanços científicos o Livro direciona a crítica à convivência com a
escravidão até o fim do século XIX, ao descaso com a escolarização
básica e à ineficiência do Estado de bem-estar social. As causas
apontadas acima reforçam a tese que Damatta (2010) endereçou
na sua compreensão sobre a imagem dos profissionais de
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 33
engenharia no Brasil, na qual, segundo o antropólogo, esteve até
pouco tempo relacionada ao trabalho “duro”, próximo daqueles
trabalhadores que “colocam a mão na massa” (DAMATTA, 2010).
Sendo assim, o passado escravocrata com a visão aristocrática da
sociedade propiciou não somente uma visão negativa sobre
atividades que lidassem de modo mais próximo com o trabalho
braçal, mas também com grande parcela populacional sem acesso
ao desenvolvimento alcançado. Um dos aspectos que se tornam
entraves no desenvolvimento de ações governamentais de sucesso
para o desenvolvimento de um sistema de C, T & I é a utilização de
modelos referenciais de países desenvolvidos perante realidades
radicalmente diferentes do cenário em que foram idealizadas. O
planejamento e gestão ao nível nacional e estadual ou,
particularmente, ao nível municipal, podem vir a ser um espaço
privilegiado para a adoção de conceitos e experimentação de
métodos, técnicas e instrumentos que incorporem a
interdisciplinaridade na análise prévia de problemas, onde a intersetorialidade na definição das soluções e horizontalidade, na
implementação de ações voltadas para transformação e
necessidades sociais e demandas políticas. Segundo Testa (1992), a
formulação e implementação de propostas inovadoras exigem,
portanto, o desenvolvimento de um processo de planejamento e
programação que se constitua em um espaço de poder
compartilhado e de articulação de interesses, saberes e práticas das
diversas organizações envolvidas.
2.3 O Tocantins e as Políticas Públicas para CT&I
A articulação de ações, programas ou políticas estaduais de
CT&I, assim como a criação e consolidação de secretarias de
governo dedicadas ao tema, é um fenômeno que vem se
consolidando em muitos estados (CGEE, 2010). Isso ocorreu
especialmente a partir da autorização que a Constituição de 1988
deu para a criação de fundos estaduais de apoio às atividades de
34 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
C&T financiados com parcela fixa da arrecadação de tributos
estaduais (BRASIL, 1988). A Lei federal n° 10.973 de 02 de
dezembro de 2004, conhecida como a primeira lei de incentivo à
inovação no Brasil, deu ao poder público a missão de intermediar
negociações e a cooperação entre empresas, instituições de CT&I e
entidades privadas sem fins lucrativos, a fim de proporcionar
ambientes propícios ao processo inovativo (BRASIL, 2004). O
Tocantins é o mais novo estado da federação, foi criado a partir da
Constituição Brasileira de 1988. De acordo com Castros apud
Rodrigues (2010) nos anos iniciais do Estado do Tocantins o
desafio foi desenhar um modelo de crescimento econômico que
assegurasse uma distribuição mais equitativa dos investimentos e
melhorasse a distribuição da atividade econômica ao longo do
espaço tocantinense. No estudo realizado por Castros apud
Rodrigues (2010) houve, nos primeiros anos de criação do estado,
algumas tentativas de constituição do sistema de C&T. Em 1989,
foi realizado um primeiro diagnóstico sobre a situação da C&T no
estado. Entretanto, a tentativa não teve sucesso e não chegou a ser
formalizada. As estações experimentais que tinham na região
pertenciam à Empresa Goiana de Pesquisa Agropecuária
(EMGOPA) que, com a divisão do estado, foi desarticulada,
deixando apenas duas estações funcionando, uma em Formoso do
Araguaia e outra em Araguaína. As duas estações passaram a ser
de responsabilidade do Instituto de Desenvolvimento Rural do
Tocantins (Ruraltins), que passou a ser o principal órgão
responsável pela pesquisa no estado (CASTRO apud RODRIGUES,
2010). Veio então a criação da Universidade Estadual do Tocantins
– Unitins, fundada em 21 de fevereiro de 1990. Neste mesmo ano, a
universidade elaborou um plano diretor de pesquisa. Entretanto,
este documento não foi oficializado. No ano de 1992, em função
dos escassos recursos financeiros e pela ausência de pesquisadores
no Ruraltins, o governo realizou uma tentativa de criar o Instituto
de Pesquisa Agropecuária do Tocantins (IPEATO), mas a tentativa
foi frustrada. Desta forma, neste mesmo ano, a responsabilidade
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 35
pela coordenação e execução das pesquisas no estado foi
transferida para a UNITINS (CASTRO apud RODRIGUES, 2010).
Ainda em 1992, foi realizado o segundo diagnóstico sobre a
situação da pesquisa no Estado pela Secretaria de Agricultura e
Abastecimento (SEAGRO), que colocou a necessidade de
constituição de uma estrutura de pesquisa similar ao Plano Diretor
desenvolvido pela Unitins (CASTRO apud RODRIGUES, 2010). Em
2000, ocorreu o processo de federalização da UNITINS e o estado
passou a contar com mais uma instituição de ensino superior, pois
a Unitins não deixou de existir com a criação da UFT. As duas
instituições passaram a manter estruturas separadas, dinâmicas e
de igual importância para o estado, inclusive, podendo estabelecer
convênios, parcerias, acordos de cooperação técnica, para juntas
trabalhar em prol da sociedade (CASTRO apud RODRIGUES,
2010). Somente depois de 17 anos de criação do Estado do
Tocantins é que a SECT foi incorporada à estrutura do governo,
por meio do Decreto nº 2.588, datado de 30 de novembro de 2005.
Desta forma, as principais atribuições desta pasta consistiam em
supervisionar e acompanhar a PC&TT; fomentar atividades de
pesquisa científica e tecnológica e a formação e aperfeiçoamento de
pesquisadores em conjunto com as universidades. No rol de
responsabilidade da recém-criada secretaria estava a de instituir o
Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (CECT), uma vez que
na constituição foi determinado que o conselho deveria ser
regulamentado em lei. No ano seguinte, no dia 1º de fevereiro de
2006 foi nomeado o primeiro secretário de Ciência e Tecnologia,
João Leite Neto, até então, a secretaria existia apenas formalmente.
No mesmo mês, por meio da Lei nº 1664/2006, foi instituído o
CECT, com o objetivo de formular as diretrizes e promover a
execução da PC&TT, bem como a de gerir o FECT que viria a ser
criado posteriormente. Em 2011 só o Tocantins, Roraima e
Rondônia ainda não possuíam uma Fundação de Amparo à
Pesquisa, desta forma, por meio da Lei complementar nº 71, de 31
de maio de 2011, foi criada a mais nova Fundação de Amparo à
36 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Pesquisa do país, a FAPT, com o objetivo de apoiar técnico e
financeiramente projetos de difusão tecnológica, extensão,
inovação e investigação desenvolvidos individualmente ou por
instituições públicas e privadas sediadas no Estado. Na ocasião, foi
constituído o Conselho Curador da FAPT, instância deliberativa da
fundação e para presidir a FAPT, no dia 7 de abril de 2011, foi
nomeada a senhora Andrea Noleto de Souza Stival. A segunda
medida foi a criação da lei de inovação, outra adequação ao cenário
nacional, assim, em 5 de julho de 2011, por meio da Lei nº 2.458
instituiu-se a lei de inovação com o objetivo de incentivar o campo
científico-tecnológico nas atividades produtivas, com vistas à
obtenção de autonomia, capacitação e competitividade no processo
de desenvolvimento industrial do estado. Por meio da mesma lei
foi criado o CECT, com o objetivo de articular e orientar as
estratégias das atividades dos diversos organismos, público e
privados que atuam direta ou indiretamente em ciência, tecnologia
e inovação no Estado do Tocantins. Como visto em documento
técnico emitido pelo CGEE (2013)
“(...) em relação à Amazônia Legal, só é possível pensar o
desenvolvimento desta região se as bases estruturais do sistema
de C&T estiverem presentes, ou seja, “expansão das Instituições
de Ensino Superior (IES), estruturação das secretarias de ciência
e tecnologia, a presença das fundações de amparo, aumento do
aporte local de recursos, incremento das parcerias com o governo
federal” (CGEE, 2013).
Nos últimos anos ocorrem grandes e significativas mudanças
no campo CT&I em todo mundo, no Egito, por exemplo houve, uma
mudança radical na política de CT&I desde a primavera Árabe que a
partir do ocorrido, passou a destinar 1% do seu PIB para esse
campo, já na Tunísia, por outro enfrentou uma insurgência militar,
onde ofereceu pouca esperança de novas mudanças e revitalização
no âmbito da CT&I (CASTRO, 2015). No Brasil, a institucionalização
da C&T no Brasil ocorreu por processos múltiplos, isto implica dizer
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 37
que a sua implantação se desenvolveu e se consolidou não apenas
por meio dos mecanismos formais, como os descritos
anteriormente, mas também pelos informais, decorrente de
iniciativas da comunidade acadêmica e até mesmo do setor
empresarial (CASTRO, 2015). Nessa perspectiva, pode-se afirmar
que a institucionalização da PC&T engloba vários procedimentos,
dentre eles: a formação de técnicos e pesquisadores, a construção de
estabelecimentos de produção do conhecimento como laboratórios e
institutos, as instituições que promovem a divulgação do
conhecimento produzido, e por fim, os espaços associativos, os quais
reúnem o poder público, empresas, academia e sociedade como um
todo, conferindo-lhes identidade e reconhecimento (CASTRO, 2015).
É importante ressaltar que nas esferas estaduais, existem diversas
iniciativas de organização e fomento a CT&I. No estado do
Tocantins, a efetivação dessas ações que já eram realizadas de forma
isolada e pouco prioritária, se deu a partir da Lei N° 2.548 05 de
março de 2011, que formalizaram, sistematizaram e organizaram as
ações de incitação a CT&I, através da mesma, novas estratégias
foram desenvolvidas com intuído de fortalecer as atuações já
desenvolvidas, assim como ampliação de outras com intuito de
garantir a execução dessas práticas em âmbito estadual. Muito
embora tenham ocorrido avanços, estes ainda não foram suficientes
para romper o estado de inércia no que tange a colocação que o
Brasil ocupa no ranking de inovação, de modo que faz-se necessário,
apropriar de informações para compreender a importância e
identificar se os estados brasileiros então co-responsabilizando-se no
desenvolvimento de políticas públicas para CT&I, haja vista que a
mesma auxilia, e é um dos eixos norteadores do desenvolvimento
tecnológico, econômico e social inerentes as mudanças ocasionadas
pela globalização. Na ótica de Herrera (1973) desenha-se no estado,
como políticas explícitas de CT&I o advento da lei estadual de
inovação em adequação ao cenário nacional, bem como a própria
criação da FAPT e outras entidades similares.
38 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
3. Indicativos finais
O reconhecimento da inovação como principal ferramenta
de desenvolvimento de qualquer ambiente, inclusive para o
crescimento econômico, social e ambiental de países e estados.
Entretanto, nota-se que existem diferentes fatores para
desenvolver a capacidade de inovar. A justificativa é encontrada na
governança dos sistemas, e seu alinhamento com estratégias e
objetivos no desenvolvimento de Políticas Públicas para CT&I.
Percebe-se que o cenário da CT&I no estado do Tocantins está
primordialmente associado às atividades realizadas na academia,
sendo esta responsável pela maioria dos projetos realizados com
recursos oriundos do FNDCT.
Destaca-se a Fundação de Apoio Cientifico e Tecnológico do
Tocantins, vinculada a UFT como a maior utilizadora de recurso
não-reembolsáveis liberados pela FINEP. Com relação a
participação do Estado como ente regulador, vê-se que os órgãos
destinados a promover as políticas explicitas de CT&I, são
implicitamente afetados pelas instabilidades dos policy makers e
desempenham suas atividades de modo efêmero, tendo sido
brecado desde pela própria limitação em exercer sua
representatividade como também pelas mudanças de gestão.
É evidente ainda a necessidade do estado do Tocantins em
sistematizar as informações a acerca de atividades realizadas para
o fomento e incentivo da CT&I. Porém, observa-se que a
inexistência de instrumentos capazes de realizar a sistematização
dessas informações em parte dos estados, pode ser justificado por
se tratar de um processo recente no país e no estado. Registra-se a
importância do levantamento realizado nesse estudo, como alerta
da necessidade de registro sistematizado da trajetória e avanços da
CT&I no estado do Tocantins.
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 39
4. Referências
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40 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
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Brasília: Enap, 2014.
Capítulo 2
A quarta revolução industrial
André Rodrigues de Carvalho
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Marco Antônio Baleeiro Alves
1 introdução
Ao longo dos anos, a humanidade vem fazendo grandes
revoluções, sejam no campo tecnológico, social, econômico e
político. Muitas vezes, as transformações não ocorrem
simultaneamente, tendo em vista, que uma transformação ou
evolução interfere na atividade da outra, seja de maneira direta ou
indiretamente. Com isso, sabe-se que entre as grandes revoluções
que transformaram o mundo, uma delas foi sem dúvida a
revolução industrial. Com ela, o homem passou a depender cada
vez menos da sua força física para as atividades laboriosas e cada
vez mais das máquinas e de todo o seu aparato tecnológico, para
tais atividades. No decorrer da história, não houve apenas uma
revolução industrial, embora muitos só lembrem apenas da
primeira revolução, que é mais conhecida e que abriu as portas
para as demais revoluções. Todavia, houve mais 3 revoluções
industriais. Antes de entrarmos no tema revolução industrial, será
necessário destacar que nenhuma delas ocorreu ao mesmo tempo
em todo o mundo. Algumas estão ainda por ser implantadas em
muitos países, ou seja, tem países que ainda estão desenvolvendo a
primeira revolução industrial, enquanto outros já estão bem
44 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
familiarizados com a quarta revolução industrial. Iremos mostrar à
cronologia da revolução industrial da forma que é abortada por
todos os estudiosos da área, tendo como ponto de partida os países
que já estão na quarta revolução, dada a experiência que tiveram
nas revoluções anteriores.
2. Revoluções industriais
No final do século XVIII, o mundo viu surgir à grande
transformação tecnológica desenvolvida pela Inglaterra e que logo
se espalhou por outros países como França, Bélgica, Holanda,
Rússia, Alemanha e Estados Unidos, no qual também ingressaram
nesse novo modelo de produção industrial. A grande precursora
deste evento, chamado de revolução industrial, foi a indústria
têxtil, que teve suas máquinas alimentadas pela energia do carvão,
o principal combustível das máquinas a vapor, presentes não só
nessa indústria, mas também nos transportes, tendo como
pioneiros os barcos e locomotivas.
A segunda fase da revolução industrial esteve repleta de
descobertas científicas e tecnológicas. Foi nessa fase que o homem
aprendeu a fazer uso da energia elétrica e com isso, inventou a
lâmpada incandescente. Também foi nesse período que surgiram
os primeiros carros e aviões, impulsionados pelo uso do petróleo,
configurando um novo processo de produção desenvolvido pelo
engenheiro norte americano, Frederick Taylor. O novo sistema de
produção levou o nome do seu criador, sendo chamado de
Taylorismo. Um tema muito debatido nos cursos de administração
e que transformou não só os meios de fabricação, mas toda uma
economia e suas relações de trabalho. O sistema Taylorista buscou
aumentar a produtividade, ao passo que controlava os movimentos
das máquinas e dos homens no processo de produção. Além dos
avanços no setor produtivo, esta fase da revolução que durou entre
1850 e 1950, também avançou muito os estudos da medicina. Foi
nessa época que surgiram o antibiótico, a vacina e muitas
André R. de Carvalho; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 45
descobertas sobre doenças, bem como melhoria nas técnicas de
intervenções cirúrgicas. É claro que, todo esse avanço trouxe
consigo um conglomerado de cartéis, ou seja, um grupo econômico
que buscou impor suas regras e sua soberania sobre as demais
empresas e clientes, uma verdadeira liga que tinha ou tem como
principal objetivo, se unir para aumentar seus lucros evitando a
concorrência e com isso prejudicando os consumidores.
A terceira revolução começou por volta na década de 40,
logo após a segunda guerra mundial. Nessa fase, os avanços foram
gigantescos. As evoluções foram de tal forma que foi possível
enviar o homem à lua. Na terceira revolução industrial, diferente
da primeira que teve a liderança da Inglaterra. Nessa última, o
grande precursor foram os Estados Unidos, país que saiu vitorioso
da segunda guerra e pôde sair na frente, devido aos anos de
prosperidade econômica que obteve pela vitória que teve na
segunda guerra. Nesta fase da revolução industrial as fontes de
energias foram ampliadas. Além do petróleo e da energia
hidrelétrica, outras fontes também tiveram destaque a exemplo da
energia nuclear, energia eólica, energia solar etc. Concomitante a
tudo isso, também passa a aumentar, principalmente a partir da
década de 1990, a preocupação com a poluição do meio ambiente e
desprezo pelas fontes de energia poluidoras, dando ênfase a
energia limpa. A Figura 1 a seguir mostra a linha de tempo das
quatro revoluções industriais registradas na história da
humanidade.
46 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Figura 1. Fases das 4 revoluções industriais
Fonte: Salesforce (2016)
Com o advento da informática, foi possível acelerar todas as
outras invenções. Uma das características desta revolução é o uso
de robôs nas linhas de produção, o homem é substituído pelas
máquinas mais uma vez. Além dos robôs, os meios de
comunicações são ampliados em velocidades estratosféricas,
ajudados pelos satélites e pela internet, que já no final desse
período está presente nos celulares e na vida de quase todo mundo.
Segundo a ONU (2016), cerca de 3,7 bilhões de pessoas no mundo
ainda não têm acesso a internet.
3. Inteligência artificial
Parece que foi ontem que as telas dos cinemas Brasileiros
rodaram o Primeiro Filme, de uma série de outros com a mesma
problemática. Um robô recoberto com tecido vivo e que possuía
inteligência artificial. O filme de ficção, no qual o texto se refere é o
exterminador do futuro. Esse filme de 1984 é americano e foi
dirigido por James Cameron e estrelado pelo ator, Arnold
Schwarzenegger. O futuro do qual os androides vieram, está mais
próximo de nós do que esteve para eles no presente ano, em que o
filme foi lançado. 2029, essa foi a data de onde partiram as
máquinas, que possuíam inteligência artificial para o ano de 1984.
André R. de Carvalho; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 47
Figura 2. Inteligência Artificial.
Fonte: STARTUPI (2017)
Estamos no ano de 2018, faltam 11 anos para completar os
2029 do enredo do filme, o exterminador do futuro. Mas a verdade é
que, fazer com que as máquinas pensem iguais aos humanos não é
tarefa nada fácil. Apresar da tecnologia ter dado passos gigantescos,
as máquinas ainda não pensam por si só, elas interagem através de
operações. Embora existam robôs que brincam, trabalhem e ajudam
nos estudos, a exemplo do Kuri, da Mayfield Robotics, um robô que
foi apresentado na, Consumer Electronics Show (CES), maior feira
de tecnologia e consumo do mundo, realizada em Las Vegas (EUA)
no início de 2017, mesmo com tudo isso, eles (robôs) ainda não
conseguem pensar. Certamente o primeiro passo já foi dado, isso
porque, o Kuri interage com os as pessoas, além de realizar alguns
gestos, ele monitora, por imagens, a residência, conta histórias para
crianças e pode até brincar. A velocidade das inovações quando se
refere a desenvolvimento e quebra de paradigma está mais rápido
do que nunca. Termos como, Airbnb, Uber, Alibaba e outros eram
bem desconhecidos até bem pouco tempo atrás. Os Iphones lançados
em 2007, após 8 anos já eram mais de 2 bilhões de exemplares. O
Google por sua vez, no ano de 2010, inovou em outro segmento,
lançou um carro autônomo (SCHWAB, 2016).
48 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
4. Sistemas ciberfísicos
Recentemente a IBM criou o Watson, uma plataforma de
computação cognitiva, que permite a interação entre ele e o homem.
O interlocutor faz uma pergunta ao Watson e com base em seu
banco de dados ele responde ao questionamento. Existem muitas
invenções as quais a ficção criou e que hoje é uma realidade. Os
drones, os ipads, smartphones, carros elétricos, impressoras 3D
entre outras. Tudo isso convergiu para que fosse possível, a criação
da internet das coisas, uma forma de conectar os itens usados no dia
a dia à rede mundial de computadores. A Figura 3 mostra um
fluxograma que representa a interligação entre os campos ou setores
tecnológicos os quais estão sofrendo os impactos das evoluções
proporcionadas pela quarta Revolução Industrial.
Figura 3. A Quarta Revolução.
Fonte: FENAVEGA (2018)
André R. de Carvalho; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 49
Nesse mundo dos sistemas ciberfísicos e de grandes
transformações que estão em ritmo acelerado, trazem consigo uma
problemática bem antiga e que já levou o mundo a várias guerras,
tendo como causa dessas guerras, as desigualdades
socioeconômicas. O problema do qual se fala, não é a desigualdade
social propriamente dita. Esta última é consequência.
O fator preocupante está ligado ao acesso, ou seja, países que
não tiverem acesso aos benefícios e invenções da quarta revolução
industrial ficarão reféns das políticas econômicas dos países
desenvolvidos. O respeitado Fórum Econômico Mundial, ocorrido
em Davos em 2016, tendo como tema a quarta revolução
industrial, alerta que até 2020 poderemos ter uma queda de 47%
dos postos de trabalho, causados pela automação da indústria e do
serviço, isso representa algo em torno de 5 milhões de empregos a
menos.
Diferente do que houve no passado entre os anos de 1811 e
1812 na Inglaterra, onde os Ludistas invadiam as fábricas e
quebraram máquinas e outros equipamentos que consideraram os
responsáveis pelo desemprego, alguns especialistas alertam que há
esse risco sim, mas o verdadeiro causador desse desemprego,
segundo João Alfredo Delgado, Diretor Executivo de Tecnologia da
ABIMAQ (2017), será a falta de qualificação dos trabalhadores, isso
porque, tudo agora está automatizado. Para ele, o Brasil vai sofrer
mais porque o país tem muitos trabalhadores despreparados. Por
outro lado, há quem descarte esse futuro incerto de fatores
negativos. O ex presidente do CEO Siemens em Portugal, Carlos
Melo Ribeiro, que na época do Fórum de Davos, ocorrido em 2016
era o presidente da Companhia, acha pouco provável que as
máquinas roubem o espaço do homem, uma vez que para ele o
homem será o líder criativo e pensador. Diante do exposto, não se
pode dizer que ela (revolução 4.0) só trará males, mesmo porque,
os efeitos positivos são sentidos no presente enquanto que o futuro
nebuloso são especulações fundamentadas em argumentos
50 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
parecidos com argumentos do passado, ditos nas revoluções
industriais anteriores.
Os Engenheiros Eduardo Mario Dias e Vidal Melo, em
entrevista a IHU On-Line em 2017, destacam alguns fatores
importantes de melhoria por consequência da revolução 4.0. Uma
delas é a área da saúde que, para eles será impactada em relação
aos seus resultados. Essas inovações, segundo eles, nos permitirão
viver mais tempo, com melhor qualidade de vida. Na área
industrial, o nível de automação e customização será excelente.
Certamente a indústria 4.0 traz consigo não só um novo conceito
de indústria, mas toda uma cadeia de produção baseada em uma
comunicação inteligente, através da internet das coisas que
engloba interação entre máquinas, robótica, engenharia genética e
outras tecnologias. Infelizmente isso ainda não é uma realidade
para o Brasil.
De acordo com o Sebrae (2017), a indústria Brasileira ainda
está em grande parte em transformação passando da Indústria 2.0,
caracterizada pela utilização de linhas de montagem e energia
elétrica, para a Indústria 3.0, que aplica automação por meio da
eletrônica, robótica e programação. Para o Brasil, o desafio será
entrar na revolução 4.0 de forma unilateral, considerando que
somente alguns setores têm acesso às tecnologias de ponta e
capital humano qualificado para tal empreendimento.
Quando se fala de forma unilateral, tem-se em mente a
diversidade social econômica e cultural que o Brasil apresenta,
uma vez que o país tem dimensões continentais e sua característica
não é a mesma em todas as regiões do país. Existem estados e
cidades com índices em educação, saúde e renda comparados a
países tidos como “desenvolvidos”, enquanto outras cidades os
índices de desenvolvimento humano são parecidos e até mesmo
iguais a países como o Haiti.
O Brasil esbarra novamente no fator educação, isso porque,
para reverter esse quadro, a saída está na educação atrelada à
inovação. Pesquisador na Universidade Federal do ABC, o
André R. de Carvalho; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 51
consultor e especialista em Indústria 4.0 Paulo Roberto Santos,
entende que “os gestores ainda não entendem os conceitos e não
conseguem mensurar quais os impactos e benefícios para a sua
implantação. Faltam, ainda, cursos de especialização na área e
profissionais habilitados. ” (SANTOS, 2017). Com, ou sem a ajuda
do governo Brasileiro, a quarta revolução industrial veio para ficar
e dar continuidade a esse processo de inovações que não param
mais.
Diferente do que há no Brasil, a revolução 4.0 começou a ser
tema de discussão após um plano estratégico do governo Alemão
em 2011, no qual teve como objetivo constituir a fábrica inteligente,
um modelo de fábrica sustentado pela digitalização completa da
manufatura, ligando a automação industrial e a internet das coisas.
O motivo de tal decisão, representa para a empresa e
consequentemente para a economia, alguns benefícios como por
exemplo: redução na quantidade de erros causados por
funcionários, otimização do tempo, pois os próprios equipamentos
poderão fazer uma leitura estratégica para então tomar decisões
assertivas, entre outros. Além disso, haverá uma grande redução
do desperdício e economia de energia.
5. Considerações finais
O que se propôs com as discussões aqui apresentadas foi
uma breve discussão a respeito do conceito de Revolução Industrial
e, proporcionar o entendimento dos motivos pelos quais alguns
países ainda estão experimentando tardiamente a segunda
revolução industrial enquanto outros avançam na quarta
revolução.
A inovação tem sido a peça chave para avanços tecnológicos
importantes e até mesmo inovações radicais, por isso, ações dos
governos no sentido de investir em Educação, Ciência, Tecnologia,
Pesquisa e Desenvolvimento é um dos pré-requisitos para que a
quarta revolução seja uma realidade em qualquer país. Todavia, o
52 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Brasil é um dos países que menos investe nestes setores. Só após
conhecer os reais motivos que levam alguns países a conseguirem
acompanhar as novas tendências tecnológicas mundiais e outros
não, é que se poderá então criar um plano de ação para inseri-los
no cenário de países que estão na vanguarda da quarta revolução
industrial.
Pensando nisso é que este estudo não teve a intenção de
atacar o modelo econômico, educativo e industrial brasileiro, pelo
contrário, buscou-se apontar o caminho a ser trilhado para que o
país não seja um coadjuvante no processo de participação na
implantação da indústria inteligente.
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Capítulo 3
Análise das assimetrias regionais em inovação
e os atores sociais da hélice tríplice
Jhonatan Gomes Ferreira
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Marco Antônio Baleeiro Alves
Introdução
Nas últimas décadas a capacidade de inovar tem sido prérequisito obrigatório para o desenvolvimento satisfatório de uma
empresa ou país, de modo que alguns países vêm concentrando
cada vez mais investimentos no desenvolvimento de novos
produtos e processos e obtendo em contrapartida excelentes
resultados em detrimento dos demais. Infelizmente o cenário
nacional é antagônico a este quadro, sendo a maioria das inovações
implementadas como fruto de transferência de know how de
outros países. Ao analisarmos o Índice Global de Inovação, IGI
(2017) percebe-se que as primeiras colocações são ocupadas por
países que realizam grandes investimentos em Pesquisa e
Desenvolvimento - P&D, mas no Brasil a predominância dos
recursos destinados a este fim provém de verbas governamentais.
A Inovação é um recurso de grande valia para fomentar o
desenvolvimento regional, porém diante do vasto território e das
diferentes condições econômicas e sociais encontradas do Chuí ao
Caburai, o propósito de inovar para combater as desigualdades
56 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
regionais, acaba sendo interrompido pelas próprias desigualdades
em inovação de região para região. Objetiva-se ao longo deste
artigo investigar as dimensões regionais no que tange a
implementação de inovações, proporcionar reflexões a respeito das
disparidades de inovação, analisar o arcabouço dos entes da hélice
tríplice e comparar a distribuição dos aportes financeiros do Fundo
Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico - FNDCT
destinados a cada região. Nessa busca de analisar as desigualdades
regionais em inovação, fez-se necessário realizar aqui, a pesquisa
exploratória, pois possibilita maiores esclarecimentos, verificação
de informações e conhecimento do panorama da distribuição e
dimensão da inovação pelo país. Segundo Gil (2008) a pesquisa
exploratória é desenvolvida com o objetivo de proporcionar visão
geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo
de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é
pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses
precisas e operacionalizáveis. Houve também levantamento
bibliográfico para investigar tal panorama com base em
especialistas como França e Leite (2008), Schumpeter (1997),
Pereira (2000), Etzkowitz (1994 e 2000) entre outros estudiosos
que trabalham a temática. Além disso, utilizou-se do Manual de
Oslo, bem como dados estratificados da Pesquisa de Inovação PINTEC, do Perfil das Indústrias por Estado - CNI, do Diretório dos
Grupos de Pesquisa no Brasil - CNPq e do Portal de Transparência
da FINEP. A organização do presente trabalho se deu por meio de
coleta dos dados, de caráter qualitativo, em que tanto a
conceituação como a análise das premissas – facilidades e
dificuldades quanto à inovação nas regiões do país – contribuíram
para a compreensão. Espera-se, então, que com base na verificação
dos conceitos e da análise das informações acerca da utilização,
distribuição de recursos tanto financeiros como humanos, se possa
conhecer a estrutura da hélice tríplice e entender o papel de cada
elemento que a constrói e como isso influencia direta e
indiretamente nas desigualdades regionais em inovação.
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 57
Referencial teórico
A fim de propiciar um melhor entendimento a respeito dos
temas aqui trabalhados, traremos brevemente nesta seção
definições dos conceitos essenciais para esta discussão a saber:
região, regionalização e inovação. As primeiras definições a
respeito de região seguiam o caráter determinista e baseavam-se
na homogeneidade dos aspectos físico e naturais na sua
delimitação, segundo França e Leite (2008), a região caracterizavase pela “uniformidade dos resultados da combinação ou integração
em áreas dos elementos da natureza, justificando a exploração dos
recursos naturais por interesses econômicos”. Em discordância a
esta premissa, a corrente possibilista previa região como algo que
transpassava os aspectos naturais, de modo que as concepções do
determinismo deixavam lacunas. Nos moldes do possibilíssimo, a
região poderia ser definida segundo Corrêa, como sendo resultado
de
“processos universais que assumiam especificidades espaciais
através da combinação dos processos de inércia, isto é, a ação das
especificidades herdadas do passado e solidamente ancoradas no
espaço, de coesão ou economias regionais de aglomeração que
significa a concentração espacial de elementos comuns numa
dada porção do espaço e de DIFUSÃO que implica no
espraiamento dos elementos de diferenciação e em seus limites
espaciais impostos por barreiras naturais ou socialmente criadas”
(CORRÊA, 1997, p. 192).
Diante das tão próximas e contrastantes deliberações, o
conceito de região se constitui como uma esfera de análise capaz de
ser utilizada nos mais diferentes contextos e das mais variadas
formas, pois como dito por Beaujeu-Garnier (1971) permite ao
interlocutor utilizá-la para indicar e localizar qualquer tipo de
“extensão” concreta, desde uma “região” do cérebro humano até
um bairro, uma província ou um conjunto de países. Em 1969, o
58 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Brasil ganha o desenho regional atual, uma nova divisão regional
foi proposta porque a divisão de anterior já não era considerada
útil para a coleta e divulgação de dados sobre o país. Percebe-se
que divisões empregadas adquirem caráter que Pereira (2000)
nomeia como Regionalização como Instrumento de Ação, onde o
planejamento regional é tido como estratégia de desenvolvimento
econômico. A região passa a ser vista como sinônimo de ‘espaço
econômico’, sendo homogênea ou funcional (regiões polarizadas).
A atual divisão das regiões brasileiras pode ser incluída no que
Pereira (2000) define como “regionalização como processo”, a qual
consiste na constituição de um região como fruto de processos
sociais e econômicos, e que se modificam no fruir do tempo.
Continua em vigor a divisão proposta em 1969, porém foram feitas
algumas alterações, principalmente em decorrência da mudança na
Constituição Federal de 1988. Devido a heterogeneidade das
regiões brasileiras, bem como a falta de uma política de
desenvolvimento eficaz, manifestam-se desigualdades nos mais
distintos aspectos. Sendo estas resultado da dinâmica assimétrica
do crescimento capitalista, que se concentra em alguns espaços,
enquanto condenam outros à estagnação e ao desperdício de
fatores produtivos. A essa dinâmica assimétrica dos mercados
soma-se a desigualdade de acesso a serviços públicos de qualidade,
o que reforça as iniquidades e reduz as perspectivas de
desenvolvimento dos territórios com frágil base econômica.
(PNDR). Já entre os conceitos de inovação são atribuídos caráter
dogmáticos às definições do Manual de Oslo, bem como as visões
de Schumpeter. Segundo o Manual de Olso (1997)
“Inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço)
novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um
novo método de marketing, ou um novo método organizacional
nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou
nas relações externas.” (MANUAL DE OSLO, 1997, pág. 55)
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 59
É inegável o fundamental papel do conhecimento no
desenvolvimento econômico de um país, Schumpeter defende a
sua primazia e concomitantemente define a inovação.
“A transformação do conhecimento em valor adquire o caráter de
vetor fundamental da dinâmica econômica e passa a depender da
capacidade que cada país possui em gerar sustentavelmente o
processo de inovação e de distribuir os benefícios gerados pelas
novas tecnologias junto à sociedade. A inovação, em outras
palavras, materializa-se nos novos bens, novos métodos de
produção ou transporte, novos mercados e novas formas de
organização industrial” (REIS e GOMES apud SCHUMPETER,
2017)
O manual de Oslo (1997) também apresenta a classificação
de inovação em três graus difusão, a saber: nova para a empresa,
nova para o mercado e nova para o mundo. Sendo baseada no fato
da inovação ter sido ou não implementada por outras empresas, a
empresa ter sido a primeira no mercado, na indústria ou no
mundo a implementar respectivamente. Schumpeter (1934)
classifica a inovação em cinco tipos: (I) novos produtos, (II) novos
métodos de produção, (III) novas fontes de matéria-prima, (IV)
exploração de novos mercados e (V) novas formas de organizar as
empresas. Ao diferenciar inovação de invenção Schumpeter (1988)
afirma que a uma invenção é uma ideia, esboço ou modelo para
um novo ou melhorado artefato, produto, processo ou sistema. Já
uma inovação, no sentido econômico, somente é completa quando
há uma transação comercial envolvendo uma invenção e assim
gerando recursos. Drucker (1987) corrobora com a proposição de
Schumpeter de que a inovação consiste na capacidade de inserir no
mercado algo produzido, de modo a atribuir a este qualquer
geração de riqueza. A inovação é classificada também através de
sua natureza podendo ser incremental ou disrruptiva. Segundo
CALIA; GUERRINI; MOURA (2007) a primeira utiliza a tecnologia
corrente no mercado para fortalecer as competências e gera valor
através do efeito acumulativo. Já a segunda substitui a tecnologia
60 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
corrente e simplifica o produto e a preposição de valor. Para
Moraes e Queiroz (2007) a inovação pode ser utilizada como um
diferencial no que trata da concorrência de mercado, em que
“A inovação de produtos, importante das modalidades de
inovação que podem ter lugar na organização, porque sua ligação
com o mercado e com a competitividade é imediata. De forma
menos evidente, mas também muito importante, a inovação nos
processos, fazer algo melhor que os concorrentes ou mesmo fazer
é uma grande fonte de vantagem competitiva.” (MOREIRA;
QUEIROZ, 2007, p. 32).
Segundo Etzkowitz (1994) a inovação é resultante das
interações entre a Universidade-Empresa-Governo, em que cada
esfera possuí sua especificidade de função, porém trabalham em
cooperação. Este modelo recebeu o nome de Hélice Tríplice e nele
cabe a Universidade irradiar os conhecimentos por ela
desenvolvidos para as Empresas, e estas os concretizam. Já o
Governo, por sua vez, deve atuar como agente regulador e
fomentar as atividades, conforme dito por Etzkowitz
“O modelo Hélice Tríplice da Universidade-Indústria-Governo
tenta capturar a dinâmica de comunicação e organização,
introduzindo a noção de uma sobreposição de relações de troca
que realimenta os arranjos institucionais. As instituições e suas
relações fornecem uma infraestrutura de conhecimento que
carrega a base de conhecimento. Cada uma das hélices
desenvolve internamente, mas também interagir em termos de
trocas de bens e serviços, e em termos de suas funções.”
(ETZKOWITZ et al., 2000, p. 314).
A conceituação dos termos região, regionalização e inovação
possibilita uma reflexão sobre o panorama do desenvolvimento e
investimento na área de pesquisa e inovação. A seção a seguir
mostra análise das perspectivas do trabalho de inovação no país.
Análise das perspectivas da inovação por região
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 61
A PINTEC é realizada pelo IBGE, com o apoio da
Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP e do Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação e Comunicação e visa fornecer
indicadores setoriais nacionais comparáveis com as informações de
outros países. Condizente com Manual Frascati (2013) no qual
afirma que “só se melhora o que se mede, é fundamental dispor de
indicadores confiáveis e representativos”, a PINTEC materializa-se
como instrumento para tal fim. A PINTEC fornece informações
sobre o estado da inovação e trata de aspectos centrais ao
desenvolvimento de inovações implementadas por empresas,
sendo amplamente usada como referência para a avaliação das
políticas de inovação que vêm sendo adotadas no país. (IPEA,
2017). Durante análise levou-se em consideração as inovações
ocorridas em produto e/ou processo, inovações organizacionais
e/ou de marketing, além de projetos incompletos e/ou
abandonados. O foco deste trabalho são os dados regionais,
disponíveis apenas nos setores da indústria, porém como pode ser
visto na tabela abaixo este setor representa a parte majoritária das
inovações ocorridas no Brasil.
Tabela 1. Inovação por setor segundo amostra (2009-2014)
PINTEC 2009 -2011
PINTEC 2012 - 2014
Indústria
Extrativista e de
Transformação
89,02%
90,62%
Eletricidade e Gás
0,35%
0,39%
Serviços
10,63%
8,99%
Fonte: PINTEC (2017), com modificações.
Entre os anos de 2009 a 2011 foram apontadas, segundo
dados da PINTEC (2014), 128.699 empresas, tanto públicas como
privadas, que realizaram ações inovadoras, destas 116.632
encontravam-se nos setores da indústria. Este quadro manteve-se,
já que 117.976 das 132.529 empresas, que realizaram inovações
62 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
entre os anos de 2012 a 2014, também faziam parte deste
segmento. Já com relação a distribuição regional de inovação
percebe-se que, as regiões Sudeste e Sul concentram mais que dois
terços das inovações, como visto na tabela abaixo:
Tabela 2. Distribuição das indústrias extrativas e de
transformação que implementaram inovação por região (2009 2014)
2009 -2011
2012 - 2014
Norte
3,11%
3,25%
Nordeste
11,70%
12,13%
Centro-Oeste
5,67%
5,86%
Sudeste
52,54%
51,22%
Sul
26,98%
27,54%
Fonte: PINTEC (2017), com modificações.
Os sistemas de inovação são responsáveis por distribuir de
forma uniforme o desenvolvimento técnico científico do país. A
literatura define que um sistema de inovação é composto pela
integração de três principais atores: I) o Estado, responsável por
políticas de fomento à CT&I; II) a Academia, a quem compete
atividades de pesquisa e disseminação de conhecimentos; e III) as
empresas, que moldarão o conhecimento sob a forma de produto
e/ou serviço (SANTOS; BOTELHO; SILVA, 2006; VILLELA;
MAGACHO, 2009). Lemos (1999) observa que uma organização
não inova sozinha, pois as fontes de informações, conhecimentos e
inovação podem se localizar tanto dentro, como fora dela. O
processo de inovação é, portanto, um processo interativo, realizado
com a contribuição de variados agentes econômicos e sociais que
possuem diferentes tipos de informações e conhecimentos. Dentre
as causas possíveis para a concentração da inovação de algumas
regiões em relação a outras, podemos apontar baseado no modelo
da Hélice Tríplice a criação de leis específicas, a utilização de
recursos do FNDCT, a concentração industrial nas regiões mais
abastadas e o número de doutores e grupos de pesquisadores,
sendo estes objetos de análise da próxima sessão.
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 63
A atuação do estado e o uso dos recursos do FNDCT
Ao analisarmos o papel do governo como agente regulador e
fomentador da inovação vê-se que este deve atuar de modo tácito o
garantir uma economia estável e de modo categórico ao realizar
investimentos específicos com esta finalidade, como dito por De
Nigri e Kubota
“Como agente indutor da inovação deve o Estado trabalhar para a
manutenção de um ambiente macroeconômico mais estável, com
altas taxas de crescimento, reduzindo assim os riscos econômicos
e alavancando financeiramente as empresas. Ademais o estado
deve promover linhas de financiamento para estimular as
empresas e universidades/institutos de pesquisa, e, numa
abordagem mais ampla, mas não menos importante, investir no
sistema educacional do país, base da formação do capital
intelectual de uma nação” (De Nigri & Kubota apud Nasser e
Magacho, 2017).
A criação de políticas públicas no campo da CT&I apresentase como elemento importante em um cenário de alta
competitividade internacional, revelando-se como forte indutor do
desenvolvimento socioeconômico de países e regiões (ROCHA;
FERREIRA, 2004). Têm-se como ações uma das mais incisivas do
Estado para a inovação, Lei nº10.973, de 2 de dezembro de 2004,
na qual o governo reconhece a sua importância e da pesquisa
científica para alavancar o crescimento nacional bem como para
redução das desigualdades regionais. Convergindo para a atuação
sistêmica entre governo-empresa-universidade foi aprovada em 11
de janeiro de 2016 a lei Nº 13.243, atribuindo as unidades da
federação incentivar de forma mais objetiva o processo de
inovação, através da disponibilização de centros de pesquisa e
estruturas físicas, em parceria com Instituições de Ciência e
Tecnologia (BRASIL, 2016). De acordo com Salerno e Kubota
(2008) a participação do Estado no apoio à inovação não é apenas
64 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
parcial uma vez que são responsáveis pelo desenvolvimento de
forma geral (EVANS, 2004; WEISS, 1998). Objetivando uma maior
efetividade do Sistema Nacional de inovação, a 4ª Conferência
Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação recomenda a criação de
legislações específicas no âmbito dos estados e municípios
“(...) concentração de esforços para a aprovação e
regulamentação de leis estaduais e municipais de inovação, e seus
alinhamentos ao marco legal federal, naqueles estados e
municípios que ainda não dispõem desse instrumento jurídico”
(4ª CNCTI, 2010, p. 24).
Segundo Junkes, Sampaio, Santos (2017) 66,6% das
unidades da federação apresentam leis de inovação em vigor,
sendo que este índice sobe para 100% se analisado as regiões Sul e
Sudeste de forma isolada. Com relação a distribuição de recursos
do FNDCT, que possuem como objetivo apoiar financeiramente
programas e projetos prioritários de desenvolvimento científico e
tecnológico nacionais, segundo dados da FINEP foram liberados
entre dezembro de 2009 e novembro de 2017 recursos nas
modalidades subvenção, não reembolsáveis e reembolsáveis, no
total de R$ 208.496.076.352,26 divididos conforme Tabela 3. Ao
analisarmos a distribuição deste montante é possível constatar que
apenas 2,48% e 57,08% do total foram destinados a região Norte e
Sudeste, respectivamente. Visando minimizar as diferenças de
repasse, o governo implementou percentuais mínimos de repasses
de recursos dos fundos setoriais às regiões específicas do país.
Tabela 3. Repasse de recursos do FNDCT de 2009 a 2017.
Região
Repasse R$
Centro-Oeste
5.174.197.165,62
Norte
2.617.424.041,83
Nordeste
13.053.778.511,56
Sul
68.627.119.697,20
Sudeste
119.023.556.936,05
Fonte: FINEP (2017), com modificações.
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 65
O Decreto-Lei nº 719 de 1969 alterado pela Lei nº 11.540 de
2007 esclarece quanto a aplicabilidade dos recursos por regiões
dadas às instituições no Art. 3º-B, em que
“Parágrafo único. No mínimo, 30% (trinta por cento) dos
recursos serão aplicados em instituições sediadas nas regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, incluindo as respectivas áreas de
abrangência das Agências de Desenvolvimento Regional.”
(BRASIL, 2007)
Ressalta-se aqui, que quando não ocorre a utilização dos
recursos por tais regiões os mesmo podem ser alocados as demais,
desde que atendidas as condições previamente estabelecidas. Os
investimentos em P&D e capacitação técnica para estimular a
inovação e a difusão de tecnologias, além de inovações
organizacionais e institucionais, podem conduzir a economia para
um crescimento sustentado. (CASSIOLATO E LASTRES,1998).
Indústria e inovação
A inovação está presente desde que o homem se apropriou
das bases técnicas e passou a desenvolver utensílios que
facilitassem o seu labor cotidiano. Porém a revolução industrial
materializou-se como um divisor de águas, pois a partir dela
tornaram-se mais explícitos os sintomas da destruição criadora
proposto por Schumpeter (1984) no qual a medida em que os
novos instrumentos e processos são empregados, substituem e os
tornam vetustos. A inovação proporciona a empresa que a
implementa uma vantagem sob as demais, sendo esta concorrência
também um dos motivos que as levam a inovar, assim:
“As circunstâncias ideais que estimulam as firmas a inovar são
uma combinação de elementos de concorrência, sem a qual as
firmas não se preocupariam em inovar, e de monopólio, para que
esta firma possa ter certeza de poder ficar com os benefícios da
66 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
inovação, ao menos durante um tempo.” (GEORGE E JOLL, 1981,
pág. 263)
No Brasil, a industrialização iniciou-se pelo Sudeste em
decorrência do acúmulo de capital da política café com leite, e
concentra-se nesta região até hoje, como pode ser visto na Tabela 4
baseada em dados da Confederação Nacional da Industria – (CNI):
Tabela 4. Estabelecimentos industriais por Estado.
Estado
N° de industrias (2013)
1° São Paulo
137.612
2° Minas Gerais
66.072
3° Rio Grande do Sul
51.096
4° Paraná
45.988
5° Santa Catarina
43.951
6° Rio de Janeiro
28.468
7° Goiás
19.200
8° Bahia
17.903
9° Ceará
14.979
10° Pernambuco
14.683
Fonte: CNI (2014).
Dentre os dez estados com maior número de indústrias
instaladas, seis se situam no Sudeste ou Sul do país, três na região
Nordeste e um no Centro-oeste, porém, se somados os números dos
estados das duas últimas regiões citadas não perfazem metade dos
estabelecimentos do estado de São Paulo. O Pará é estado melhor
colocado da região Norte, ocupando a 14ª posição com 6.847
estabelecimentos. Diante disto, ao analisarmos os números totais de
indústrias por estado e correlacionarmos com os resultados da
PINTEC, justifica-se que o grande abismo entre as regiões no que se
refere a implementação de inovações ocorre em função da
macrocefalia industrial que propicia uma distribuição desigual.
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 67
Grupos de Pesquisadores no país
O desenvolvimento de inovações tecnológicas está
fortemente condicionado pela existência de ambiente interno no
qual as ideias criativas possam emergir e ser aplicadas com eficácia
e os conhecimentos, quer tecnológicos, quer de gestão, possam ser
acumulados. (BARAÑANO, 2003). A universidade nada mais é que
um espaço onde pesquisadores movidos pela curiosidade, pela
inquietação de compreender ou mesmo resolver os problemas
sociais, econômicos, políticos e culturais procuram, através da
geração de conhecimento teorizado ou prático, formar cidadãos
críticos acerca dos fenômenos inerentes à sociedade. (CRUZ, 2010).
A Universidade tem como funções a formação de novos
profissionais bem como conceber novos conhecimentos, oriundos
das atividades de pesquisa. Diante do exposto, apresentaremos os
números de pesquisadores por região segundo Censo do CNPq de
acordo com a Tabela 5 a seguir:
Tabela 5. Pesquisadores - Por Titulação e Região.
Titulação Máxima
Nº de
Região
Pesquisadores Doutorado Mestrado Especialização Graduação
Não
Informada
Centro18943
12690
4516
831
600
221
Oeste
Nordeste
45321
27524
12671
2676
1559
706
Norte
15826
7713
5431
1571
716
317
Sudeste
90742
67514
16107
2921
2783
1106
Sul
46457
31318
11608
1832
1080
472
Total
217289
146759 50333
9831
6738
2822
Fonte: Diretório dos grupos de pesquisa no Brasil – CNPq (2016)
Na Tabela 5, baseada no censo de 2016, nota-se,
primeiramente, que foram informados o total de pesquisadores
por titulação de cada região do país. Percebe-se que o número total
de pesquisadores é ínfimo em comparação a totalidade de sua
população. Analisam-se, então, como titulação desse público
68 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
pesquisado aqueles que possuem Doutorado, Mestrado,
Especialização, Graduação e os Não informados. Percebe-se que na
região Sudeste e a região Sul, representam mais que 3/5 do
número de pesquisadores que constam nas bases do CNPq. Com
relação a titulação, 67% dos pesquisadores Doutores e 55% dos
Mestres concentram-se no eixo Sul-Sudeste onde há maior
incidência de IES e, consequentemente, apresentam os melhores
instrumentos e condições para pesquisa.
5. Considerações finais
De modo geral as desigualdades entre regiões são herança
das políticas econômicas implantadas desde a colonização, onde
todos os recursos do país eram relocados dos locais de origem em
detrimento da região Sudeste, que abrigava a metrópole do
período colonial. Tal quadro não difere no que tange a inovação.
Com relação a estrutura dos integrantes da tríplice hélice, no
tocante a Empresa e Universidade pode-se inferir com relação a
expressiva diferença entre a região sudeste sob as demais que estas
podem ser correlacionadas com o fato de o aparecimento das
primeiras IES, bem como as indústrias, se deram nos seus
territórios. A partir dos planos nacionais de desenvolvimento
foram implementadas ações em sua maioria baseados em
incentivos fiscais que levaram a industrialização a outras regiões,
porém ao verificarmos a região Norte em especial, percebe-se que
embora seja a maior em extensão possui um setor industrial
incipiente. Segundo a ótica de Myrdal (1966) que os baixos níveis
de inovação das regiões Norte e Nordeste são frutos da baixa
industrialização que inviabiliza a interação plena entre
Universidade-Empresa e da inexistência e/ou ineficiência das
legislações para CT&I como ações do Estado que atuam como
efeitos de retraso. Já nas regiões Sudeste e Sul a utilização dos
recursos do FNDCT, o quantitativo de pesquisadores e
Jhonatan G. Ferreira; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 69
concentração da malha industrial brasileira possuem efeitos
dinâmicos e impulsionam o crescimento da região.
6. Referências
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Capítulo 4
Desafios da inovação na educação profissional
no Brasil
Ana Paula Araújo Martins Antunes
Camila Pereira dos Santos
Kathleen Gonçalves Sampaio Stefanelli
1. Introdução
No mundo globalizado onde novas tecnologias são
descobertas em curto prazo, e muitas vezes substituindo a mão
de obra humana, assuntos relacionados ao trabalho, emprego,
escola e profissão, requerem reflexões profundas, em virtude de
suas inúmeras nuances: econômicas, políticas, culturais e sociais.
No Brasil a relação de trabalho se deu com o descobrimento,
desde a servidão dos povos indígenas, migrando para a
escravidão e perpetuando até os tempos atuais, tendo o trabalho
como instrumento de inserção social e fonte de sobrevivência da
economia e das populações de qualquer sociedade. A vertente
qualificação x trabalho nos remete à história, uma vez que, os
índios e os escravos foram os primeiros aprendizes de ofícios.
Com o passar do tempo e o advento do ouro, identificou-se a
necessidade de qualificação de mão de obra, para tanto se
considera o marco inicial da Educação Profissional no Brasil. Em
1942 com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), outras classes da sociedade foram
74 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
beneficiadas com profissionalização no segmento da indústria.
Contudo, não diferente da atualidade, os investimentos em
Educação sempre foram precários e restritos, somente no
governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), houve no
orçamento Federal verba destinada à melhoria na Educação.
Para atingir o objetivo de aumentar o número de qualificações,
foram criadas as escolas de Educação Profissional, incialmente
destinadas aos filhos de brancos, favorecendo a camadas
elitizadas da sociedade. Dando continuidade a este crescimento,
em 2008 foram criadas as Escolas Técnicas Federais, favorecendo
milhares de jovens brasileiros gerando oportunidade de
qualificação e novas frentes de trabalho com profissionais
técnicos especializados. Vale destacar que durante este período
surgiram as demais instituições do Sistema “S”, que contribuem
efetivamente para a formação dos cidadãos nas mais diversas
áreas tais como: indústria, comércio, agropecuária entre outras.
O objetivo deste trabalho é apresentar os avanços nas políticas
públicas e educacionais, assim como destacar os percalços
existentes no que se refere ao progresso da qualificação da mão
de obra brasileira e seu campo de atuação.
2. Evolução e os desafios do ensino profissional no Brasil
O Ensino Profissional no Brasil se deu em decorrência do
ciclo do Ouro em Minas Gerais e com o surgimento da Casa de
Fundição e de Moeda. Ao longo do século XIX foram criadas as
instituições voltadas para a alfabetização e a iniciação em ofícios
como: encadernação, alfaiataria, tornearia, carpintaria, sapataria
entre outros, cujos destinatários eram as crianças pobres, os
órfãos e os abandonados, dentre essas, os Asilos da Infância dos
Meninos Desvalidos. MEC (2007). Percebe-se que a Educação no
Brasil iniciou-se em caráter de assistência social, evoluindo para
a preparação da mão de obra operária específica para o exercício
profissional, delimitando aos pobres e menos favorecidos
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen G. S. Stefanelli | 75
qualificação em atividades que as classes elitizadas não
realizavam, estimulando o crescimento do proletariado. De
acordo com MEC 2016, em 1909, o Presidente Nilo Peçanha pelo
Decreto número 7.566, criou as “Escolas de Aprendizes
Artífices”, em diferentes cidades, sob a jurisdição do Ministério
dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio, destinados
ao ensino profissional, primário e gratuito. Mais tarde, pela
exigência do processo de industrialização e modernização das
relações de produção, Decretos- Leis foram promulgados para
normatizar a educação nacional nas décadas de 30 a 40, dentre
eles destaca-se o Decreto-Lei nº. 4.048/1942 – criando o Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Em decorrência
da consolidação da indústria automobilística, pela primeira vez,
no Governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), o setor de
educação foi contemplado com investimento público. Em 1959
foram fundadas as Escolas Técnicas Federais, instituições com
autonomia na didática e na gestão e somente em 1996 com a
promulgação da lei 9.394, Lei de Diretrizes e Base da Educação,
houve a especificação no Capítulo III da Educação Profissional,
mudando o enfoque de assistencialismo (MEC 2016). Segundo
Brasil Escola 2018, para Juscelino Kubitschek em seu governo o
Brasil iria diminuir a desigualdade social, gerar riquezas
fortalecendo a industrialização e a economia. Para atender este
objetivo foi lançado o plano de Metas com a seguinte
expectativa: “O Brasil iria desenvolver 50 anos em 5”. A partir
desse momento acordos internacionais para crescimento da
industrialização foram formalizados e teve início a dívida
externa. A industrialização se efetivou basicamente na região
sudeste tendo grande migração nordestina para esta região.
Enfim, o grande marco do governo foi a construção de Brasília e
a transferência da capital federal. Todo esse progresso fomentou
a Educação Profissional no Brasil. Para Brasil 2014, o DecretoLei nº. 4.048/1942 deu origem ao Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial (SENAI), e mais tarde agregou as
76 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
demais instituições que hoje conhecemos como Sistema “S”,
atuantes nas áreas da indústria, comércio, agropecuária entre
outras. Apesar de terem caráter privado são administradas por
entidades patronais e mantidas por contribuições determinadas
pela Constituição Federal de 1988, são instituições que compõem
o sistema de acordo com a Tabela 1 a seguir:
Tabela 1: Instituições que compõem o Sistema “S.”
INSTITUIÇÃO
ANO DE
ÁREA DE
CRIAÇÃO
ATUAÇÃO
SENAI - Serviço Nacional
1942
Indústria, além de educação nos
de
Aprendizagem
níveis básico, médio e superior.
Industrial
SESI - Serviço Social
1942
Promoção da saúde e do bemda Indústria
estar dos trabalhadores da
indústria.
SENAC
Serviço
1946
Atua nos segmentos de
Nacional
de
comércio e serviços. Em 05
Aprendizagem
do
estados e no Distrito Federal
Comércio
oferece ensino médio e
formação superior.
SESC - Serviço Social
1946
Áreas de educação, saúde,
do Comércio
cultura e lazer.
SEBRAE
Serviço
1972
Estimular o empreendedorismo
Brasileiro de Apoio às
no Brasil com orientação para
Micro
e
Pequenas
empresários de pequeno porte.
Empresas
SENAR
Serviço
1991
Agrícola e inserção social das
Nacional
de
populações do campo.
Aprendizagem Rural
SEST - Serviço Social
1993
Atua nas áreas de lazer, esporte e
de Transporte
saúde.
SESCOOP
- Serviço
1998
Promover
a
prática
do
Nacional
de
cooperativismo no Brasil.
Aprendizagem
do
Cooperativismo
Fonte: (Brasil, 2014).
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen G. S. Stefanelli | 77
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas do Rio de
Janeiro e do Instituto Votorantim, entre 2004 e 2010 ocorreu
um aumento de 75% de brasileiros que fizeram um curso
profissionalizante, tais como cursos livres, técnicos do ensino
médio e superiores de tecnologia, aumentando em 48% a
chance de empregabilidade. O Distrito Federal e o Paraná
concentram o maior percentual de alunos na educação
profissional, contudo não passa de 30% o número real de
pessoas preparadas para o mercado. As regiões Sul e CentroOeste se destacam com o maior número de empregos,
principalmente nas empresas de produção de alimentos, bebidas
e na indústria têxtil. A média salarial para estes trabalhadores é
superior aos demais, atingindo aumento de 13%. Já a carga
horaria de trabalho cada estado apresenta sua variação, nos
estados de São Paulo e Goiás são apontadas as menores.
Conforme PNAD (2016), no Brasil entre as pessoas de 14 anos
com ensino médio ou fundamental completo, apenas 08%
frequentaram curso de qualificação profissional o que equivale a
aproximadamente 568 mil pessoas. Dentre estes, nem todos os
estudantes finalizaram o curso, a região Centro-oeste
apresentou o maior percentual de concluintes e a Nordeste o
menor número. Enfatiza a Agência do Rádio 2018, que no
Tocantins é crescente a busca por qualificação profissional. Em
2016 o número de matriculados no estado chegou a 15,9 mil, o
triplo do registrado em 2006, de acordo com dados do Censo
Escolar, e entre a população brasileira de 25 a 64 anos, só 14%
tinham ensino superior. Nos países europeus, mais de 50% dos
estudantes optam por educação profissional, entretanto no
Brasil, não passa de 10%. Os setores que tiveram destaque até
2015 no Tocantins foram: construção, serviços industriais,
utilidade pública e de alimentos. Observa-se a importância da
qualificação profissional e a contribuição do sistema “S”, para o
crescimento do Estado do Tocantins e do Brasil, uma vez que o
déficit de mão de obra qualificada ainda é substancial,
78 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
impactando negativamente na contratação de trabalhadores de
qualquer faixa etária, principalmente na região norte onde o
comodismo da população, influencia diretamente na motivação
por busca de novas oportunidades, portanto, é fundamental o
incentivo em prol da capacitação para melhores condições de
vida e trabalho para todos os brasileiros. Em busca destas
melhorias temos as políticas públicas que foram criadas
basicamente para solucionar problemas que atingem a sociedade
em maior ou menor escala através de diretrizes que nortearão as
tomadas de decisões. Isso é possível pela necessidade de
mudança de uma sociedade, por meio de questões dos diferentes
grupos sociais que são levadas ao poder público, no intuito de
promover o desenvolvimento social da comunidade.
“As desigualdades sociais existentes no País manifestam-se
claramente na distribuição de renda, de bens e serviços, na
discriminação de gênero, de cor, de etnia, de acesso à justiça e aos
direitos humanos” (MEC, 2016).
Deste modo, a política pública se concretiza a partir do
momento em que se torna realizável, através de programas
públicos, projetos, leis, campanhas publicitárias, esclarecimentos
públicos, inovações tecnológicas e organizacionais, entre outros.
Quanto as Políticas públicas no âmbito da educação profissional,
convém enfatizar o Programa de Aprendizagem Profissional,
que trata de uma política pública de inclusão, criada devido a
Constituição Federal de 1988 para restringir o ingresso ao
mercado de trabalho do jovem menor de 16 anos, salvo na
condição de aprendiz. Assim em 19 de dezembro de 2000 foi
promulgada a lei 10.097/2000, que institui a aprendizagem
sendo a formação técnico-profissional que contempla atividades
práticas e teóricas, concomitantes com o ensino regular,
proporcionando aos jovens de 14 a 24 anos, qualificação
profissional e inserção no mercado de trabalho, e para as
empresas mão de obra de qualidade, oportunizando o
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen G. S. Stefanelli | 79
crescimento pessoal e profissional dos aprendizes. Na
perspectiva de aumento da qualificação profissional, foram
criados 38 Institutos federais de educação, ciência e tecnologia
no país, com objetivo de: “Oferecer educação superior, básica e
profissional, pluricurricular 1 e multicampi, especializada na
oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes
modalidades de ensino, com base na conjugação de
conhecimentos técnicos e tecnológicos às suas práticas
pedagógicas”. (Lei Número 11.892-2008).
Partindo das finalidades entende-se que estrutura
pedagógica dos Institutos Federais proporciona aos docentes
atuarem em diferentes níveis de ensino, desde o básico ao
ensino superior e também permite que os discentes
compartilhem espaços pedagógicos de aprendizagem,
oportunizando em sua formação uma trajetória do técnico ao
doutorado. Portanto, compreende-se a potencialidade dos
Institutos Federais na formação do cidadão agregando sua
preparação para o trabalho. MEC (2016) aponta que em 2009 a
Rede Federal completou 100 anos, com números expressivos de
crescimento, encerrando o ano de 2016 com 644 Campi em
funcionamento e com 568 Municípios atendidos. Os institutos
federais se identificam como políticas públicas não somente
pelos recursos públicos para sua manutenção, mas,
primordialmente pela sua missão com o desenvolvimento na
integração entre ciência, tecnologia e cultura, abrangendo seu
1
São centros universitários as instituições de ensino superior pluricurriculares, abrangendo uma ou
mais áreas do conhecimento, que se caracterizam pela excelência do ensino oferecido, comprovada
pela qualificação do seu corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico oferecidas à
comunidade escolar. Segundo a Lei Nº 11.892, de 29 de Dezembro 2008, os Institutos federais foram
criados com oito finalidades dentre elas destacam-se: (1) Ofertar educação profissional e tecnológica,
em todos os seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação
profissional nos diversos setores da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local,
regional e nacional; (2) Desenvolver a educação profissional e tecnológica como processo educativo e
investigativo de geração e adaptação de soluções técnicas e tecnológicas às demandas sociais e
peculiaridades regionais; (3) Promover a integração e a verticalização da educação básica à educação
profissional e educação superior, otimizando a infraestrutura física, os quadros de pessoal e os
recursos de gestão.
80 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
compromisso com a evolução do social, fortalecendo a inclusão
da população brasileira. É necessário considerar a política
pública como fator primordial no desenvolvimento de uma
sociedade, assim como criá-las, inová-las e ou defini-las
conforme o crescimento econômico e social da população,
obedecendo sua tipologia. Consciência Política 2018, defini as
tipologias de políticas descritas por Theodor Lowi na Tabela 2 a
seguir:
Tabela 2: Classificação das Políticas Públicas.
Tipo de Política
Definição
Pública
Distributivas
Diz respeito às decisões tomadas pelo governo
“distribuídas” para alguns grupos, não raro deixando de
lado o todo, em função
da limitação dos recursos, privilegiando assim certos
grupos sociais ou regiões.
Redistributivas
Atinge um maior número de pessoas e podem ser
entendidas como políticas sociais “universais”, como por
exemplo, o sistema
tributário, o sistema previdenciário, a reforma agrária.
Regulatórias
Estabelece padrões de comportamento, serviço ou
produto para
atores públicos e privados.
Constitutivas
Lidam com procedimentos, definem competências,
regras de disputa política e da elaboração de políticas
públicas.
Fonte: Consciência política 2018.
Para garantir a efetividade das políticas públicas é
fundamental a fiscalização e acompanhamento das ações, uma
vez que são utilizados recursos públicos para a execução, para
tanto, é relevante o acompanhamento dos órgãos competentes
além da participação ativa da comunidade em geral.
Destaca-se como política pública inovadora no âmbito da
Educação Profissional, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec), criado em 2011 pelo Governo
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen G. S. Stefanelli | 81
Federal por meio da Lei 12.513/2011, com o objetivo de expandir,
interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação
profissional e tecnológica no país. Entre 2011 e 2014, por meio
do Pronatec, foram realizadas mais de 8,1 milhões de matrículas,
entre cursos técnicos e de qualificação profissional, em mais de
4.300 municípios. Em 2015, foram 1,3 milhão de matrículas.
Algumas ações do programa foram primordiais para fortalecer e
ampliar a oferta da educação Profissional tais como: Programa
Brasil Profissionalizado; Rede e-Tec Brasil; Acordo de gratuidade
com os Serviços Nacionais de Aprendizagem e Bolsa Formação.
(MEC 2016).
Sem dúvidas o Pronatec possibilitou o ingresso à
Educação Profissional a milhares de brasileiros, no entanto, o
programa teve caráter assistencialista, uma vez que o aluno foi
favorecido com uma bolsa auxílio para qualificação, e em
determinados casos o interesse maior não era para a formação e
sim para o recebimento dos valores correspondentes ao
benefício. Sendo assim, políticas públicas que visam o estímulo
da educação por meio de bolsa auxílio devem ser repensadas a
fim de garantir a qualificação e progresso profissional, dando
autonomia aos cidadãos, evitando a dependência do Governo. É
relevante considerarmos que a inovação geralmente parte de
uma necessidade de avanço ou mudança, podendo ser definida
como a implementação de um produto ou serviço novo ou
melhorado. Nesta vertente observa-se o avanço do Estado do
Tocantins, que apesar de ser o mais novo da Federação, já
apresenta registros de inovação nas Escolas de Educação
Profissional e participação em feiras de Ciência e Tecnologia. De
acordo com o CONIF 2017, registro de patentes visa garantir a
proteção jurídica contra o uso e a cópia indevida de novas
invenções e tecnologias, assim como obter os direitos sobre a
exploração dos produtos inventados. No primeiro semestre
deste ano, o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) do Instituto
Federal do Tocantins (IFTO) fez o primeiro depósito de patente
82 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
do Instituto. Trata-se do projeto “Tijolodo,” que consiste em
desenvolver novos produtos com características sustentáveis
para a construção civil. A fomentação da inovação tem
acontecido no Centro de Educação Profissional do Senac Palmas.
Durante os anos de 2015 e 2016 os alunos foram estimulados a
participar da Feira de Empreendedorismo, Ciência, Inovação e
Tecnologia – FECIT. Em 2015 o projeto "Condôminos 10", criado
pela turma Técnico em Informática, conquistou o primeiro lugar
na categoria Curso Técnico, em 2016 a premiação foi para o
projeto Promo5+, criado pelos alunos do curso de Aprendizagem
Comercial em Serviços de Supermercado. (SENAC 2017). Um
projeto de inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI Tocantins) participou da mostra Inova SENAI
em Belo Horizonte – MG, com o produto Alicate X-BF,
desenvolvido na unidade de Araguaína, foi apresentado a um
grupo de empresários locais, durante o 2º Fórum de
Investimentos do Inova SENAI, que faz parte da programação da
8ª Olimpíada do Conhecimento. O equipamento foi
desenvolvido pelo aluno do curso de Mecânica de Manutenção
Industrial do SENAI Araguaína, Antônio Carlos. (SENAI 2017).
Apesar destes casos de sucesso no Tocantins, o processo de
registro de patente no Brasil é longo, burocrático e moroso,
exigindo do inventor tempo e dinheiro. O processo vai desde
conhecer os documentos necessários conforme legislações que
regem o tipo de produto que foi criado, pagamento das taxas e
envio das documentações para o Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI). O INPI 2017, afirma que após o
depósito, a patente fica até 18 meses em sigilo, devendo o
depositante pedir o exame ao Instituto. O inventor terá
anuidades a partir do 24º mês de depósito, sendo válida por 20
anos a partir do depósito e modelo de utilidade, por 15 anos. Em
virtude de tanta burocracia, muitas ideias inovadoras que
poderiam ser comercializadas são engavetadas ou ficam
obsoletas, principalmente em se tratando de novas tecnologias,
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen G. S. Stefanelli | 83
cujo ciclo de vida útil é transitório. É notável que inovar a
educação não ser resume ao uso de dispositivos eletrônicos nas
escolas, uma vez que os problemas fundamentais ao
desenvolvimento humano continuam sendo os grandes desafios
do século XXI, como a desigualdade, a inacessibilidade à água
potável, acesso à saúde, acesso a escolas, mudanças climáticas
entre outros. Uma educação inovadora deve promover o diálogo
entre as necessidades da sociedade que nos cerca e as
possibilidades tecnológicas para resolver problemas. Alguns
fatores são desafios recorrentes para a inovação na Educação
Profissional no Brasil, tais como: Má distribuição dos recursos
para a Educação; pouco incentivo à ciência e a tecnologia;
sucateamento de laboratórios; falta de destaque aos alunos com
projetos inovadores; pouco conhecimento da sociedade escolar e
comunidade em geral quanto à importância da inovação para
sua região e para o mundo; falta de formação continuada do
corpo docente para adequação no uso de novas tecnologias ou
processos de trabalho; pouca aceitação e resistência da equipe
escolar dificultando o processo de mudança. Para um processo
continuo de inovação faz-se necessário à adequação dos
ambientes escolares e profissionais, com propostas
estimuladoras do ensino aprendizagem que proporcione aos
alunos e colaboradores a motivação para busca de novos
conhecimentos. Compete aos gestores públicos a criação de
políticas públicas efetivas correspondentes às necessidades da
sociedade, contribuindo com a formação do cidadão nos seus
diferentes níveis de escolarização, Educação Básica, Educação
Profissional e Superior, enfim alavancando a carreira
profissional dos brasileiros garantindo futuro digno e a redução
da desigualdade social.
84 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
3. Considerações finais
A Rede Federal completou 100 anos, com crescimento em
todo o país e hoje configura uma importante estrutura na
qualificação e profissionalização dos brasileiros, facilitando o
ingresso ao mercado de trabalho elevando a escolaridade e
consequentemente melhorando a qualidade de vida. Além da
Rede Federal o Sistema “S” atualmente beneficia milhões de
pessoas nas mais diversas áreas de conhecimento, tais como
indústria, comércio, bens, serviços e turismo, bem como
atividades agrícolas e de transporte.
Ao analisarmos os índices do crescimento da Educação
Profissional no Brasil, observa-se que os alunos qualificados no
ensino profissionalizante ocupam os melhores empregos e
melhores salários, principalmente nas regiões Sul e Centro
Oeste, comprovando que quanto maior o nível de qualificação
mais chances de ingressar e permanecer no mercado de
trabalho.
Contudo, para que continue evoluindo são necessárias
políticas públicas direcionadas aos problemas reais da sociedade,
assim como, o controle para a melhor distribuição de renda e
oportunidades para quem precisa. No que se refere à inovação
na Educação Profissional o Brasil ainda tem muito a progredir,
apesar de ter um capital humano potencialmente criativo,
esbarramos em alguns obstáculos como: morosidade no
processo de registro de patente; carência de incentivo na ciência
e tecnologia, para projetos de cunho científico e tecnológico;
pouco reconhecimento dos pesquisadores, dentre outros que
acabam por inviabilizar os processos de inovação em todos os
níveis da sociedade.
Portanto, ao avaliarmos a evolução da Educação
Profissional no Brasil reafirma-se a eficiência da mesma, no
entanto, é preciso ampliar o número de atendimentos,
Ana Paula A. M. Antunes; Camila P. dos Santos; Kathleen G. S. Stefanelli | 85
facilitando o acesso da população, garantindo o desenvolvimento
do país no contexto social e pessoal dos cidadãos.
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CARVALHO, Leandro. "Governo Juscelino Kubitschek"; Brasil Escola. Disponível
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86 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
PNAD. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio. 2018. Disponível em
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Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), 2017. Disponível em:
<http://senai-to.com.br/> Acesso em 13/01/2018.
Capítulo 5
Ecossistema de Startups no estado do Tocantins
Cintia Fernandes da Silva Maximiano
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
1. O modelo de negócios Startup
O desenvolvimento de novos negócios há muito se destaca
como tema recorrente de estudos nas áreas de gestão e
empreendedorismo. Atualmente, há mais empreendedores se
movimentando do que em qualquer período da história. Isso se
tornou possível por consequência de mudanças significativas na
economia mundial. O processo intensificado da globalização e o
surgimento da internet propiciaram ambientes favoráveis para o
surgimento de novas modelagens de negócios, dentre elas
destacam-se as Startups. O modelo de negócios startup ainda é
desconhecido por parcela significativa da comunidade acadêmica,
porém, vem conquistando a simpatia dos empreendedores
iniciantes. As startups se caracterizam por empreendimentos que
possuem um baixo investimento inicial e atuam em ambiente
econômico de extremo risco. Segundo o site da Exame.com, dentre
as definições, há uma que atende melhor aos requisitos do
mercado e que parece satisfazer a diversos especialistas e
investidores: Startup é um grupo de pessoas à procura de um
modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em
condições de extrema incerteza. (EXAME, 2010). Startups são
empresas recém-criadas que possuem baixo custo de
88 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
funcionamento. Cruz (2015), no site inovapaulasouza.sp.gov,
define Startup como:
“O ato de começar algo, normalmente relacionado com
companhias e empresas que estão no início de suas atividades e
que buscam explorar atividades inovadoras no mercado.
Empresas Startup são jovens e buscam a inovação em qualquer
área ou ramo de atividade, procurando desenvolver um modelo
de negócio escalável e que seja repetível” (CRUZ, 2015).
Segundo o dicionário de Startup publicado no site
Startupsorocaba.com, Startup é definido como:
“(...) uma empresa nova, até mesmo embrionária ou ainda em
fase de constituição, que conta com projetos promissores, ligados
à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras.
Por ser jovem e estar implantando uma ideia no mercado, outra
característica dos Startups é possuir risco envolvido no negócio.
Mas, apesar disso, são empreendimentos com baixos custos
iniciais e são altamente escaláveis, ou seja, possuem uma
expectativa de crescimento muito grande quando dão certo”
(STARTUPSOROCABA, 2015).
A incerteza dos resultados obtidos com o empreendimento é
um ponto que caracteriza as empresas startups, confirmando assim,
a definição de startup defendida por Eric Reis: “uma Startup é uma
instituição de pessoas tentando criar algo novo sob condições de
extrema incerteza”. Startups são empresas vinculada a economia
criativa, segundo o professor responsável pelo curso de gestão de
negócios para empresas criativas, da FECAP (Fundação Escola de
Comércio Álvares Penteado), Manuel Muller (2013), em uma
reportagem escrita por Larissa Coldibeli no site do UOL. A economia
criativa abrange "áreas em que a qualidade e o valor do trabalho
dependem do talento das pessoas que o fazem, e não do tamanho da
empresa e da quantidade de capital que ela possui", as startups estão
incluídas nesse processo criativo. Tem-se que economia criativa
consiste em empreendimentos que usam da criatividade e inovação
Cintia Fernandes da S. Maximiano; Francisco Gilson R. P. Junior | 89
para gerar produtos ou serviços de forma econômica, gastando o
mínimo, e gerando economia, lucro e empregos. O SEBRAE
Nacional (2016) conceitua Economia Criativa como:
“(...) um termo criado para nomear modelos de negócio ou gestão
que se originam em atividades, produtos ou serviços
desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital
intelectual de indivíduos com vistas à geração de trabalho e
renda.”
(Disponível
em:
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/O-que%C3%A9-Economia-Criativa, 2016).
Madeira (2014) em seu livro Economia Criativa, Implicações e
desafios para a política externa brasileira (pág. 54), define economia
criativa baseada em John Howkins, “como uma economia em que as
pessoas passam grande parte do tempo tendo ideias, não quaisquer
umas, mas aquelas que geram produtos comercializáveis”. Tem-se
então, que as empresas Startups devem ser uma economia criativa.
Pois para ser Startup precisa-se ter um produto inovador, criativo,
intelectual, etc., e este, por conseguinte tem que ter um baixo custo,
grandes lucros, e se expandir, assim gerará emprego e tende a
aumentar mais ainda seus lucros. Contudo, tem-se uma tendência
de empreendedorismo que abrange o conceito de Economia Criativa
como sustento para manter-se na categoria, são as empresas
Startup. Apresentou-se aqui duas tendências globais: Economia
Criativa e Startups. As duas estão interligadas pelo fato de obterem
um alto rendimento em um produto ou serviço criativo. Estas
tendências estão se expandindo no mercado rapidamente, ainda
segundo o SEBRAE Nacional (2016) a Economia Criativa:
“(...) é um dos setores que está crescendo mais rápido no mundo
econômico, não apenas em termos de geração de renda, mas
também na criação de empregos e em ganhos na exportação.
Segundo a publicação, criatividade e inovação humana, tanto
individual quanto em grupo, se tornaram a verdadeira riqueza
das nações no século 21.”
90 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
(Disponível
emhttp://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/O-que%C3%A9- Economia-Criativa, 2016).
Embora seja mais comum encontrar startups de base digitais,
existem startups de base não digitais. Muitos empreendedores
optam por criar startups de base tecnológica, ou seja, digitais. Visto
que os modelos de negócios digitais possuem inicialmente apenas o
custo intelectual, o que os torna atrativos e viáveis financeiramente,
conquistam cada vez mais espaço no cenário econômico.
2. Ecossistemas e Startups
Estima-se que no Brasil que existam cerca de dez mil
startups, e que junta movimentam bilhões, segundo a Associação
Brasileira das Startups. O mercado Brasil de startups é potencial e
está em formação, empreendedores e investidores buscam
amadurecimento e por assim dizer, desenvolver um ecossistema
que venha a promover ambiente inovador. Um ecossistema inclui,
desde ambientes de trabalho que possibilitem a troca de
experiência a apoio de instituições.
Em estudo, a Fundação do Cabral, divulgado no fim de 2014,
que 25% das startups morrem no primeiro ano de vida e metade
delas em quatro anos. Segundo a pesquisa, os motivos para a alta
taxa de mortalidade são: elevado número de sócios, falta de capital
para investimento e localização. Outro dado relevante é que,
Startups que se desenvolvem em aceleradoras, incubadoras ou
parques tecnológicos têm menos chance de encerrar as atividades
precocemente do que uma instalada em um escritório comum. O
ecossistema de startups é parte de um ecossistema macro e
congrega diversos agentes, que atuam em prol da inovação e
empreendedorismo de uma determinada região. A atuação
conjunta desses agentes contribui para a criação e fortalecimento
comunidades sustentáveis.
Cintia Fernandes da S. Maximiano; Francisco Gilson R. P. Junior | 91
Ecossistemas inovadores que já se tornaram referências
mundiais como o Vale do Silício e o país de Israel investem no
modelo de negócios startups, e apresentam um número cada vez
maior de empresas inovadoras como resultado desse processo. O
que aponta a significativa importância de se criar e fomentar em
ambiente saudável para o acolhimento e fortalecimento do
empreendedorismo inovador. Uma startup tende a passar por três
fases: ideação, operação e tração. Na fase de ideação ou projeto, o
empreendedor está entendendo o conceito do negócio. Na fase de
operação, as estratégias iniciais e ações futuras são planejadas. Na
fase de tração, o empreendimento foca seus esforços no
crescimento e principalmente na conquista de novos mercados.
Considerável das startups encontra-se em fase de tração.
3. As Startups no Estado do Tocantins
O modelo de negócios, que ainda é percebido como
novidade, começou a ser difundido no Brasil a pouco mais de uma
década, e chegou ao Tocantins por volta de 2013, com a criação do
Movimento Startup Tocantins. A primeira edição do Startup
Weekend, movimento inspirativo que tem duração de 54 horas,
onde empreendedores, desenvolvedores, designers e entusiastas se
unem para compartilhar ideias, formar equipes e criar startups. É
o maior conjunto de eventos de startups do mundo, com edições
realizadas em mais de 150 países de todos os continentes.
Desde então, diversas atividades de fomento a cultura do
empreendedorismo startup foram realizadas em diversas cidades
do Tocantins. Desde a primeira edição do Startup Weekend,
realizado anualmente, conta com apoio de diferentes atores e já
inspirou centenas de jovens. Em estado como o Tocantins, onde a
gestão pública é uma das maiores empregadoras, a busca pela
estabilidade pode ser considerada fator inibidor para o surgimento
de novos empreendedores. Diante desse cenário, instituições como
o Sebrae, Senai, Universidades, dentre outras, se propõem ao
92 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
fomento da cultura empreendedora. Em se tratando do modelo de
negócios startup, pode-se tomar como exemplo o Projeto de
Economia Digital para Startups - EDS, lançado pelo Sebrae
Tocantins em 2015. As ações vinculadas ao referido projeto, rodam
nos municípios de Palmas e Araguaína e atendem cerca de trinta
empreendimentos. Desde 2013, são realizados diversos eventos,
promovidos por instituições ou movimentos independentes.
3.1. O Perfil do Empreendedor Startups no Tocantins
Para compreender um ecossistema, primeiro é necessário
conhecer os agentes envolvidos nesse processo. Diante do exposto,
percebeu-se a necessidade de mapear o perfil do empreendedor
startup atuante no Estado do Tocantins. Cerca de 38 startups
foram identificadas e entrevistadas, nos municípios de Palmas,
Araguaína, Gurupi, Miracema e Filadélfia.
Um dos aspectos observados se refere ao grau de
escolaridade desse empreendedor que, na média nacional
encontra-se entre graduandos e recém graduados, no Tocantins há
maior incidência de empreendedores graduados e pós-graduação.
Outra questão relevante a ser observada é que 32.5% dos
empreendedores startups tocantinenses estão acima dos 30 anos,
também contrariando a média nacional que é de empreendedores
entre 21 e 30 anos de acordo com a Tabela 1 a seguir:
Tabela 1. Relação entre nível de escolaridade e a idade dos
empreendedores.
Entre 21 e 25
Entre 26 e
Acima de
30
30
Fundamental
2.7%
0,00%
0,00%
Médio
6.5%
4.0%
0,00%
Graduação
17,3%
21,7%
5.5%
Pós-Graduação
0,00%
15.1%
27.0%
Total Geral
26.1%
40.9%
32.5%
Fonte: Autoria própria.
2.7%
10.5%
44.7%
42.1%
100
Cintia Fernandes da S. Maximiano; Francisco Gilson R. P. Junior | 93
Com relação ao gênero, cerca de 15% empreendedoras startups. O
cenário nacional aponta para proporções semelhantes, esse tipo de
empreendimento, na maior parte dos casos, estão fortemente
voltados para as áreas tecnológicas, com maior predominância em
suas graduações e pós-graduações do sexo masculino.
Gráfico 1. Proporção entre empreendedores do sexo masculino e
empreendedoras do sexo feminino.
GÊNERO
Série 1
Homens
Mulheres
0
20
40
60
80
100
Fonte: Autoria própria.
Cerca de 39.7% dos entrevistados tocantinenses possuem
emprego na iniciativa pública, a maior empregadora do Estado.
Seguidos por 28.8% de empresários, 10.5% de autônomos, 5.2% de
estudantes e 15.8% de desempregados. Startups dão considerados
empreendimentos de alto risco, em virtude disso a tendência é que
os empreendedores mantenham suas fontes de renda até que esteja,
de fato, faturando. Segundo esses empreendedores, diante do
ambiente de alto risco em que uma startup atua startup, ter uma
garantia de renda, de modo com que possa se manter até que seu
empreendimento comece a dar retorno financeiro, tona-se
inevitável, de acordo com o Gráfico 2 a seguir:
94 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Gráfico 2. Atividades dos empreendedores.
ATIVIDADE DO EMPREENDEDOR
Funcionário Público
Empresário
Autônomo
Desempregados
Estudantes
Fonte: Autoria própria.
Observa-se no resultado da pesquisa que, mais de 50% dos
empreendedores entrevistados possuem CNPJ. Para o modelo de
negócios em questão, não há a necessidade de formalização
imediata, visto que só começam a gerar receitas depois que, rodam
o MVP, ou seja, depois o produto é validado pelo cliente e o
mercado sinaliza que o quer. Diferente das empresas tradicionais,
que o primeiro passo consiste na formalização da empresa, nas
empresas Startups isto não é uma realidade. Segundo a publicação
de Giuliano Tozzi no site Relato de um Empreendedor, explica que:
“(...) no âmbito de uma Startup (...) essa lógica não faz muito
sentido. Isto porque se a metodologia Lean Startup nos ensinou
algo é que a validação da ideia é extremamente importante e,
sinceramente, enquanto não se chegar a este estágio, não faz
muito sentido formalizar totalmente a empresa.” (TOZZI, 2015).
Com relação ao tipo de startups constatou-se que, cerca de
26% dos empreendedores não se sentem seguros para apontar a
tipologia de seus empreendimentos. Os demais, com base em
Cintia Fernandes da S. Maximiano; Francisco Gilson R. P. Junior | 95
conhecimentos já adquiridos, apontaram oito tipos de
enquadramentos.
Possibilidades
que
acarretam
esse
desconhecimento, podem estar relacionadas a não participação dos
empreendedores nos eventos regionais e nacionais, cerca de 60%
disse afirmou não ter participado ainda por ausência de
oportunidade, especialmente financeira. Um dos entraves que pode
ser gerado por consequência do desconhecimento e/ou adequação
inadequada é a dificuldade no atendimento de requisitos
constantes em editais ou programas de fomento.
Gráfico 3. Tipologia dos empreendimentos.
TIPOLOGIA
Agritech
Fintech
Edtech
Indtech
Cleantech
Corporate
Retailtech
Marketplace
Outros
Fonte: Autoria própria.
Quando questionados sobre o momento, ou fase, dos
empreendimentos, considerável número de empreendedores disse
não ter conhecimento sobre quais seriam as fases de uma startup.
Dos apontamentos, cerca de 42,1% se arrogou em fase de ideação,
28,9 em fase de operação e 10,5% em fase de tração de acordo com
o Gráfico 4. Muitos dos empreendedores afirmaram que não
96 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
possuem espaço físico adequado, e em virtude disso percebem que
seu negócio não está em condições de operar.
“(...) Mesmo com sua Startup iniciando suas atividades, não é
necessário um espaço físico para trabalhar. Entretanto, times que
trabalham juntos são mais produtivos. (...) empreendedores e
profissionais autônomos iniciando suas empresas, sem muita
previsão de quantas pessoas ou qual espaço precisarão nos
primeiros meses ou anos. Todos trabalham em uma mesma área
- ou várias áreas conjugadas - dividindo custos de um local que
traz não só facilidades e serviços, mas também a chance de
conhecer pessoas similares e fazer negócios internamente.”
(GITAHY, 2011)
Gráfico 4. Momento dos empreendimentos.
Momento dos Empreendimentos
Projeto/Ideação
Operação
Tração
Não Identificado
Fonte: Autoria própria.
A realidade retratada pelos empreendimentos startups
tocantinenses, não se difere da nacional. Conseguir investimentos
para o projeto está entre as maiores dificuldades elencadas pelos
empreendedores de startups. Em uma pesquisa encomendada pela
Redpoint e publicada no site da Start-Up Brasil, 53% dos
empreendedores nacionais de Startups, ainda não receberam aporte
de recursos, sejam públicos ou privados. Segundos os
empreendedores startup tocantinenses, um dos maiores entraves
Cintia Fernandes da S. Maximiano; Francisco Gilson R. P. Junior | 97
para a evolução de seus negócios está vinculada a recursos
financeiros. A ausência de políticas públicas regionais, nesse sentido,
é apontada como inibidora de operações. Das 38 startups
entrevistadas, somente 26,3% já contou com aporte de recursos
financeiros, sejam não reembolsáveis ou oriundos de contrapartidas.
E dentre as startups identificadas, somente 26,3% está faturando,
percebe-se aqui relação direta com a questão acima apontada:
aporte de recursos. Fato curioso, realidade no modelo de negócios, é
que mesmo não faturando, dentre as startups entrevistadas 20 delas
conta com colaboradores. Empreendedores solitários e/ou somente
com um sócio, são 63,2% dos negócios startups tocantinenses.
5. Conclusão
A maior parte dos empreendedores reconhece que, embora
tenham considerado nível de escolaridade, o conhecimento
adquirido sobre o modelo de negócios startups ainda não é o
suficiente, e que há a necessidade de maior fomento nesse sentido.
Principalmente no que tange a captação de recursos, para que suas
startups possam entrar na fase de operação. A pesquisa indicou
que novos esforços no sentido de apoiar o ecossistema de startups
no Estado, deverão ser aplicados. Primeiramente a informação,
difundir o modelo torna-se essencial, visto que poucos municípios
apresentaram ações de fomento e/ou startups. Os agentes que
compõem o ecossistema tem papel fundamental nesse processo,
principalmente se observadas suas particularidades junto a
públicos específicos e capilaridades. Conclui-se que, desenvolver
um ecossistema de startups não é tarefa simples e que se desdobra
da noite para o dia. O engajamento dos agentes que compõem esse
ecossistema torna-se fundamental nesse processo, principalmente
no que tange ao agente empreendedor. Estão previstos para os
próximos anos, diversas ações inspirativas, destinadas a
propagação e fomento da cultura empreendedora de startups no
Estado. Porém, é necessário avançar e fomentar ambiente
98 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
propícios para que esses empreendimentos saiam da fase de
ideação com significativas e reais possibilidades de mercado.
6. Referências
BARBIERO. Tocantins precisa ser um Estado mais empreendedor e inovador.
2017. Disponível em: <http://www.jmnoticia.com.br/2017/04/10/parabarbiero-tocantins-precisa-ser-um-estado-mais-empreendedor-einovador/>. Acesso em: 12 fev. 2018.
CRUZ, Marcos de Jesus. Empreendedorismo e Startups. 2015. Disponível em:
<http://www.inovapaulasouza.sp.gov.br/estrutura/es>. Acesso em: 13
fev. 2018.
EXAME (Ed.). O que é uma startup? 2010. Yuri Gitah. Disponível em:
<http://exame.abril.com.br/pme/noticias/o-que-e-uma-startup>.
Acesso em: 13 fev. 2018.
IEL. Empresas contempladas assinam contratos do Tecnova. 2015. Disponível
em: <http://iel-to.com.br/Noticia.aspx?c=6676A3E2-E321-499E-BBD344A91E06BFA1>. Acesso em: 02 fev. 2018.
MADEIRA, Mariana Gonçalves. ECONOMIA CRIATIVA: Implicações e desafios
para a política externa brasileira. Brasília: Funag, 2014. 321 p. Disponível
em: <http://funag.gov.br/loja/download/1096-economia-criativa.pdf>.
Acesso em: 21 mar. 2016.
RIES, Eric. A Startup Enxuta. São Paulo: Texto Editores, 2012.
SEBRAE. O que é Economia Criativa. 2016. Disponível
<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/O-que-éEconomia-Criativa>. Acesso em: 20 mar. 2016.
em:
SEBRAE. Os momentos de uma Startup. 2015. Disponível em:
<http://g1.globo.com/
minas-gerais/especialpublicitario/sebrae/historias-de-sucesso/noticia/2015/08/os-momentosde-uma-Startup.html>. Acesso em: 28 set. 2015.
TEIXEIRA, Tarcisio. LOPES, Alan Moreira. Startups e Inovação. São Paulo:
Editora Manole, 2017.
Capítulo 6
Tecnologias digitais/virtuais
aplicadas a educação:
percalços, desafios e ações educativas
Raimundo Ferreira Rodrigues
Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior
1. Introdução
As tecnologias existem desde quando o homem passou a
elaborar dispositivos para simplificar o seu trabalho com a caça e
assegurar a sobrevivência. As novas tecnologias, surgem no século
passado, no mesmo século testemunhou-se uma revolução nas
técnicas de computação, sistematização de dados e
comunicabilidade. Logo após, ocorreu nos Estados Unidos a
interligação das tecnologias digitais/virtuais aplicadas a educação.
No Brasil, esse processo, teve início em 1987, por meio do CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico),
com a interligação em centros de pesquisas de 14 estados, ainda
em caráter acadêmico (OLIVEIRA, 2007). Na esfera educacional, o
processo de implantação das novas tecnologias foi e continua
sendo moroso.
Ao longo da história a escola foi adaptando-se às tecnologias
digitais, mas sempre de forma pouco satisfatória. Entre os
métodos de ensino anteriores, a educação formal era baseada em
aulas expositivas, com o enfoque no discurso do professor, aulas
100 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
rígidas, mas com o passar dos anos, foram quebrando as
resistências, modificando as ações pedagógicas e passando a
utilizar materiais didáticos diversificados no cotidiano escolar.
Atualmente, nas instituições de ensino, são utilizados meios
tecnológicos como celulares, tabletes, computadores, projetores
multimídia, quadro digital, Internet, entre outras mídias
educacionais. Diante dos aspectos abordados, os objetivos da
pesquisa consistem em investigar quais os desafios que a
instituição de ensino enfrenta com relação ao uso das tecnologias
táteis e digitais/virtuais no contexto educacional e descrever os
resultados da intervenção efetivada por meio das ações
pedagógicas minimizadoras dos impasses. Para fundamentar e
evidenciar a temática, foi necessário realizar uma pesquisa
bibliográfica e de campo por meio da “metodologia da pesquisa
participante” (PP) (LE BOTERF, 1984) e “pesquisa descritiva”
(PEROVANO, 2014).
A escola tem sido pressionada a integrar de modo certeiro o
ensino com as tecnologias digitais. Contudo, nem todas as
instituições educacionais ou seus espaços físicos estão adaptados
para ter os equipamentos e a maioria dos docentes ainda não
dispõem de conhecimentos teóricos e práticos para a utilização dos
novos meios didáticos.
Entretanto, os ambientes que conseguiram reunir as
condições materiais e os meios humanos qualificados tem obtido
bons frutos no processo ensino-aprendizagem. Os desafios da
educação frente as tecnologias digitais consistem em suprir as
necessidades das instituições educacionais, tanto em relação aos
equipamentos tecnológicos, quanto a formação adequada dos
profissionais, para que entendam e saibam utilizá-las de maneira
eficaz para que contribuam, de modo decisivo, para aperfeiçoar as
práticas pedagógicas.
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 101
2. As tecnologias digitais/virtuais e a educação
As tecnologias digitais são usadas de diversas maneiras e em
diversos ramos de atividades, sendo capaz de se destacar nas
indústrias no processo de automação, no comércio em
gerenciamentos e publicidades, no campo de investimentos com
dados simultâneos e divulgação imediata, no processo de ensino
aprendizagem e educação a Distância. Pode-se dizer que a principal
responsável no aumento e potencialização da utilização das
tecnologias em diferentes campos foi à popularização da Internet.
Em se tratando de possibilidades tecnológicas, apareceram
como uma alternativa viável facilitando o trabalho nos sistemas
educacionais. A inclusão de computadores e demais equipamentos,
softwares e hardwares nos espaços escolares possibilita e aprimora
a prática e a aprendizagem pelos alunos, o acesso a dados e a
realização de múltiplas tarefas em todas as dimensões da vida
humana, além de qualificar os professores e envolve-los por meio
da criação de redes e comunidades físicas e virtuais. Sabe-se que,
as mudanças com o aparecimento das tecnologias foram grandes e
positivas para a sociedade, em relação à comunicabilidade ligação e
convívio social. Além de inúmeros insumos, as tecnologias
trouxeram a esperança de melhorias no processo de ensino e
aprendizagem. Castells (2002) argumenta que as tecnologias
educacionais surgem com as transformações econômicas no
cenário mundial, período o qual as inovações tecnológicas estavam
em processo de ascensão e as novidades tecnológicas estavam
sendo criadas para atender o mercado. As tecnologias aliadas a
informação e a comunicação (TIC) permitem a adaptação do
contexto e as situações do processo de aprendizagem às
diversidades em sala de aula. As possibilidades constatadas na
utilização das TIC são diversas, oportunizando que o professor
evidencie de maneira diferenciada os dados, disponibilidade da
informação no instante em que Temos necessidade ou conforme
nosso interesse, melhorando o processo de ensino, colaborando
102 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
com o aluno na assimilação dos conteúdos. Diante desta
abordagem, Moran (2012) afirma que:
“O uso das TIC na escola auxilia na promoção social da cultura,
das normas e tradições do grupo, ao mesmo tempo, é
desenvolvido um processo pessoal que envolve estilo, aptidão,
motivação. A exploração das imagens, sons e movimentos
simultâneos ensejam aos alunos e professores oportunidades de
interação e produção de saberes” (MORAN, 2012, p.13).
Imbernóm (2010, p. 36) fortalece a ideia ao afirmar que o
uso das TIC significa uma transformação educativa que promova
melhoria no cotidiano escolar e na aprendizagem. Para que ocorra
muitas coisas terão que mudar. Muitas estão nas mãos dos
próprios professores, que terão que redesenhar seu papel e sua
responsabilidade na escola atual. Mas outras tantas escapam de seu
controle e se inscrevem na esfera da direção da escola, da
administração e da própria sociedade. Atualmente, diante das
tecnologias apresentadas aos alunos, o professor tem a função de
mediador dessa, maneira de ensino, dando o suporte indispensável
ao uso apropriado e responsável dos insumos tecnológicos. Para
que isto, aconteça, o professor precisa buscar formação e
atualização além de sua especialidade, percebendo nas tecnologias
o aporte para atuar em suas práticas pedagógicas no cotidiano
escolar. As novas tecnologias oferecem perspectivas
transformadoras e decisivas para aprimorar o ensino, mas deve-se
ponderar que há diversos problemas ainda relacionados à
incorporação de tecnologias nos espaços escolares. É um desafio
para os professores mudar sua maneira de gerar e pôr em prática
o ensino, por meio de uma nova ferramenta.
3. Os desafios da educação frente as novas tecnologias;
O conceito de tecnologia educacional, converge para o uso
dos equipamentos tecnológicos aplicados aos processos de ensino e
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 103
aprendizagem. É um campo de conhecimento que agrega novas
possibilidades à prática pedagógica e as metodologias utilizadas
pelos professores. Inserir novas tecnologias no processo de ensino
e aprendizagem é um desafio para os professores em sala de aula.
Essas novas ferramentas estão possibilitando a transformação da
sociedade, pois, a partir desses instrumentos, são oferecidas novas
formas de conhecer, fazer e criar.
A educação, como as demais organizações, estão
pressionadas pela mudança. O momento histórico em que estamos
envoltos, aponta para contínua transformação voltada para o uso
de novas tecnologias e cada vez mais surgem inovações aplicáveis
nos diversos setores. Segundo Brito e Purificação (2012), a
comunidade escolar se depara com alguns caminhos a seguir, os
quais enfatizam três: repelir as tecnologias e ficar fora do processo,
apropriar-se da técnica e transformar a vida em uma corrida atrás
do novo, ou apropriar-se dos processos desenvolvendo habilidades
que permitam o controle das tecnologias e de seus efeitos.
Diante dos caminhos apontados, a última opção se apresenta
mais viável, pois potencializa uma formação intelectual, emocional
e corporal do cidadão, que lhe permita criar, recriar e pensar suas
formas e atitudes, com características fortes de transformação da
sociedade. Para isso a educação necessita de um sentido, e os
educadores precisam acreditar em si mesmos, nos valores que
defendem, ou seja, ter as convicções de suas ideias. Sendo assim, é
emergente que os professor e demais profissionais da educação
busquem capacitação nesta área e que se proponha a estar aberto
às mudanças, aos novos paradigmas, os quais conduzirão a aceitar
as diversidades, as exigências impostas pela sociedade que se
comunica através de diversos formatos de linguagem em um
universo cultural cada vez mais amplo e tecnológico.
As tecnologias trouxeram inquietações aos professores,
principalmente aqueles considerados tradicionais em seu tempo,
pois, essas novas ferramentas de ensinar e aprender exigem
práticas pedagógicas diferenciadas. Sobre essa premissa, Valente
104 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
(1993) enfatiza que as tecnologias aplicadas na educação,
configuram-se como ferramentas que estão disponíveis e, quando
bem utilizadas, favorecem de forma efetiva os processos de ensino
e aprendizagem. Cabe ao professor e aos demais profissionais da
educação, vencer os desafios e percalços que surgem.
Sobre este aspecto, Moura (2017, p. 4) relata que “são muitos
e diversos os desafios educativos da geração Net, porque os alunos
de hoje querem aprender de maneira diferente do passado” Além
dos desafios enfrentados pelos professores, a escola enfrenta
diversas dificuldades que são desde a falta de recursos financeiros,
de infraestrutura, de formação para os professores, equipe
pedagógica e demais profissionais da escola.
Os equipamentos que são disponibilizados para a escola,
pouco suprem a demanda, sendo insuficiente para o uso por parte
dos profissionais e alunos. Para enfrentar os desafios, a escola
precisa ter suporte e recursos adequados e suficientes. As esferas
de governo por meio de seus mantenedores, devem oferecer mais
recursos e desenvolver políticas públicas que viabilizem a
transformação da escola em ambiente mais preparado para lidar
com as novas tecnologias, com a inovação no fazer pedagógico,
principalmente tendo em vista a capacitação do professor, a
formação integral do aluno e atender a essa nova demanda social.
4. O professor, o aluno, as tecnologias e a inovação no fazer
pedagógico
O desenvolvimento da pesquisa que trata sobre o fazer
pedagógico na escola campo foi pautado na metodologia da
pesquisa participante (PP), que insere o pesquisador como um
membro do grupo observado, para dessa forma compartilhar as
experiências de vida para melhor compreender os hábitos e
convenções do grupo. Concebe também como propósito
fundamental a emancipação das pessoas ou das comunidades que a
realizam. Essa pesquisa teve como propósito "auxiliar os
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 105
envolvidos a identificar por si mesmos os seus problemas, a
realizar a análise crítica destes e a buscar as soluções adequadas"
(LE BOTERF, 1984, p. 52).
Segundo Brandão e Steck (2006, p. 12), a PP é um
"repertório múltiplo e diferenciado de experiências de criação
coletiva de conhecimentos destinados a superar a oposição
sujeito/objeto no interior de processos que geram saberes e na
sequência de ações que aspiram gerar transformações". A PP por
sua própria natureza é flexível, e como tal adapta-se a diferentes
situações concretas, conforme os objetivos perseguidos, os recursos
disponíveis e o contexto sociopolítico em que se desenvolve, tendo
suas origens na ação educativa.
Desta forma, efetiva "uma pesquisa que é também uma
pedagogia que entrelaça atores-autores e que é um aprendizado no
qual, mesmo quando haja diferenças essenciais de saberes, todos
aprendem uns com os outros e através dos outros" (BRANDÃO e
STECK, 2006, p. 13). Além da linha voltada para a educação, a PP
também tem uma vertente sociológica, que postulou o método do
"estudo-ação" como práxis perante os problemas que propõe uma
postura de devolução do conhecimento aos grupos que deram
origem a esse conhecimento. Isso exige que o pesquisador se
envolva como agente no processo que estuda, já que tomou uma
decisão em favor de determinadas alternativas, aprendendo assim
não apenas por meio da observação, mas do próprio trabalho com
as pessoas com quem se identifica (FALS BORDA, 1980).
O objetivo metodológico contemplou a pesquisa descritiva
em que a abordagem visa à identificação, registro e análise das
características, fatores ou variáveis que se relacionam com a
temática. Configura-se como um estudo em que, após a coleta de
dados, foi realizada uma análise das relações entre as variáveis
para uma posterior determinação dos efeitos resultantes da
pesquisa (PEROVANO, 2014).
O procedimento metodológico para fundamentar a temática
pautou a análise de livros e artigos científicos referentes a este
106 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
estudo, no intuito de filtrar os dados encontrados a respeito do tema
em questão. Foi utilizada ainda a forma de análise crítica e
interpretativa verificada nos textos científicos. O local metodológico
do estudo infere em pesquisa participante em uma escola de tempo
integral do município de Palmas Tocantins, que atende alunos de
primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental por ser o campo de
atuação de estudo no curso identificado para futura atuação. A
pesquisa foi desenvolvida por meio de levantamento de dados em
função das variáveis vinculadas ao tema para se definir uma atuação
prática coletiva que respondessem como superar os desafios da
educação frente as novas tecnologias, visto que a instituição possui
em sua grade curricular a Disciplina Tecnologias. Desta forma, foi
necessário averiguar as estratégias e ações que viabilizam o
enfrentamento dos desafios e que ajudam o professor e o aluno a
utilizar e entender as novas tecnologias no processo de ensinoaprendizagem. A atuação na escola foi desenvolvida nas aulas da
Disciplina Tecnologias. Durante observações e verificação dos
recursos tecnológicos que a instituição dispõe, foi percebido que
entre estes recursos, os que são novas tecnologias, estão
representados na tabela a seguir:
Tabela 1. Novas tecnologias disponíveis na escola.
Em uso /
Uso
Com
Inutilizado
professor administrativo defeito
e aluno
Notebook
01
Computador
05
06
09
02
básico
Projetor de
02
01
slides
(Datashow)
TV
01
Câmeras
06
(vigilância)
Impressora
03
Câmera
01
01
Item
Total
01
22
03
01
06
03
02
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 107
Caixas
acústicas
Celular
Moldem
(Internet)
Total
03
02
-
05
01
02
02
-
-
02
03
12
20
10
Fonte: Elaboração própria.
03
48
Os dados da tabela mostram que a escola dispõe de apenas
dez tipos de novas tecnologias, sendo entre estas, quarenta e oito
aparelhos, dos quais apenas treze são utilizados pelos mais de
quatrocentos alunos e mais de trinta professores. É perceptível que
os recursos disponíveis são poucos para uso no fazer pedagógico
pelos professores e alunos.
Para contornar a situação averiguada, foi necessário buscar
meios para suprir a necessidade. Neste ensejo, foi elaborado junto
com os alunos de 3º, 4º e 5º anos, uma lista de ações para serem
desenvolvidas durante o segundo semestre do corrente ano, as
quais foram elencadas as tecnologias que o professor e os alunos
possuem em casa, as que estão disponíveis nas instituições públicas
e privadas do entorno da escola. Assim foram estabelecidos que as
ações seriam:
•
•
•
•
•
Dia para uso do celular na escola (pesquisa e registro fotográfico);
Pesquisa e construção de foguetes de garrafas plásticas recicladas;
Registro fotográfico de momentos de aprendizagem, cultural,
religioso, esportivo e de lazer;
Projeto Inovação tecnológica: novo uso ou função para um
produto (com ajuda dos pais);
Grupo educomunicativo: grupo no whatsapp para comunicação,
troca de ideias, experiências, acompanhamento educacional por
parte dos pais, professores e alunos.
Devido ao fato de a escola não dispor de recursos
tecnológicos suficiente para que cada turma de alunos pudessem
desenvolver as atividades propostas, ambos utilizam seus próprios
recursos que dispunham em casa. Para haver exclusão, devido um
108 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
percentual das famílias não disporem de novas tecnologias (celular,
tablete, notebook e outros), foi estabelecido pela maioria dos
alunos que como a maioria dispõe destes recursos,
compartilhariam com seu colegas. Entre as cláusulas do Regimento
interno da instituição, há a que trata da não permissão do uso de
celulares em sala de aula. Após conversa e acordo com o grupo
gestor, foi permitido que os alunos trouxessem o celular para uso
específico nas aulas de tecnologias e em dias estabelecidos. A
utilização dos dispositivos móveis nas escolas é uma prática
proibitiva devido aos usos inadequados, por dispersarem e distrair
a atenção dos alunos. Esta alegação proferida nas instituições de
ensino, tolhem a aprendizagem, principalmente em vista da
perspectiva da adequação do professor quanto ao atendimento ao
nativo digital. Diante das esporádicas vezes que o uso destas
tecnologias são permitidas, Moura (2017) enfatiza que:
“A generalização dos dispositivos móveis em todas as camadas da
sociedade particularmente nas gerações mais jovens, tem aberto
caminho para novas abordagens no processo de ensino e
aprendizagem. A aprendizagem ubíqua (aprender em qualquer
lugar e a qualquer professores em processos de interação, em
diferentes espaços e momentos. Ajuda a fomentar as
competências digitais dos alunos, em conjunto com uma melhora
na aquisição dos conteúdos curriculares, e a suprimir
problemáticas que vão surgindo ao longo do processo educativo.”
(MOURA, 2017, p. 4).
Há que se rever as questões que dificultam a ação educativa.
Por isso, o professor precisar agir. Diante dos objetivos das ações
programadas para uso das tecnologias digitais móveis, nos dias
para uso do celular na escola, foram utilizadas 4 aulas para cada
turma de 3º ao 5º ano, a maioria dos alunos trouxeram seus
celulares, tabletes, notebooks, cromebooks entre outros.
Compartilharam com os colegas e efetivaram pesquisas sobre os
temas a serem desenvolvidos, inicialmente sobre os conceitos,
seguido de experiências disponíveis no Youtube, Facebook e sites
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 109
institucionais, relacionadas a construção de foguetes, uso da
fotografia na educação, inovação tecnológica e produtos com
potencial para novos usos.
“As aulas em que podemos trazer nossos próprios equipamentos
tecnológicos são muito legais, porque nas aulas que usamos o que
a escola tem, temos que esperar muito pra usar e aqui na escola
só tem cinco computadores funcionando, não tem outras
maquinas. O professor traz novas tecnologias, mostra pra nós,
mas não tem como todos usar. Esses dias tem sido muito bons,
pena que nem todos os colegas tem celular, e a Internet daqui é
muito lenta. Mas já estava bom se continuasse podendo usar
(aluno “A” do 5º ano).”
As experiências de pesquisa efetivadas pelos alunos tiveram
envolvimento e êxito pois deram conta de compreender os
conceitos, interagir, debater e propor os próximos passos para o
desenvolvimento de cada ação. A mediação e as decisões tomadas
neste processo educativo renderam possibilidades exequíveis,
aguçando curiosidade dos alunos e satisfação pela ação docente.
A continuidade das pesquisas foram desenvolvidas pelos
alunos, em casa com a ajuda dos pais. E deram início a segunda
ação que consistiu na construção de protótipos de foguetes de
garrafas plásticas recicladas. O objetivo desta ação, além de
promover a interação dos pais e apoio aos filhos nas atividades
escolares, conduzir os alunos ao conhecimento científico e
tecnológico, foi de produzir foguetes e aprimorá-los até que
tenham mais chances para competição na Mostra Brasileira de
Foguetes (MOBFOG). Os protótipos foram apresentados pelos
alunos e em uma aula foram feitos os testes e lançamentos. Das
três turmas de 3º, 4º e 5º ano, envolvendo noventa e sete (97)
alunos, que participaram das atividades da ação, dezesseis alunos
conseguiram concluir os foguetes e no lançamento, cinco atingiram
altura até quatorze metros.
Foi lançado o desafio aos alunos para que desenvolvam o
aprimoramento dos protótipos com a ajuda de cada professor
110 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
regente da turma com a supervisão do professor da Disciplina
Tecnologias, para no ano seguinte, participarem da competição
junto a MOBFOG. A ação seguinte, que trata do registro
fotográfico de momentos de aprendizagem, cultural, esportivo e de
lazer, foi desenvolvida em quatro aulas, das quais, uma aula foi
destinada para explanações conceituais e pesquisa com utilização
de livros e de motores de busca na Internet. As demais aulas foram
destinadas para o registro fotográfico na escola e apresentação das
imagens, no pátio da escola, por meio de projetor de slides em
evento específico promovido pelas turmas envolvidas.
Anteriormente ao evento, foi solicitado aos alunos e pais que em
casa ou demais locais na cidade, registrassem momentos de
estudo, cultural, esportivo e de lazer em que as crianças tivessem
envolvidas. Cada turma fez sua apresentação prévia em sala de
aula e posteriormente, na culminância da ação pedagógica, foram
apresentados todos os registros fotográficos.
“A cada slide apresentado, os alunos comentavam cada momento
fotografado, debateram sobre enquadramento, luminosidade,
sombra, plano de fundo, entre outras. Se identificaram, viram
cada colega em momentos únicos de participação cultural, de
estudo, religiosidade e de muita diversão. Foi construtivo e
inspirador. Se os alunos utilizassem seus celulares sempre com
propósito educacional e a escola tivesse uma Internet que
suportasse todos os aparelhos, seria proveitoso para o processo
educativo” (Professora de uma das turmas).
Mesmo diante de algumas dificuldades e problemas, os
profissionais da escola efetivam um trabalho construtivo diante do
fazer pedagógico diário, pois nas ações desenvolvidas,
desempenharam seus papeis com vontade, envolvimento e
parceria.
Na continuidade das ações, foi desenvolvido o projeto
inovação tecnológica. Os objetivos deste projeto consistiram em
envolver os alunos em pesquisas a fim de efetivarem tentativas de
adaptação, reformulação e descobrirem novo uso ou função para
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 111
um produto ou objeto, percebendo principalmente aqueles
disponíveis em suas casas ou na escola. Para desenvolver estas
atividades, foram disponibilizadas três aulas e pesquisa extraclasse,
sendo que em uma aula foram abordados os conceitos, explicado o
passo a passo para pesquisa, e adaptação do produto escolhido.
Em casa, os alunos efetivaram as pesquisas, escolheram os
seus objetos e na aula seguinte trouxeram o material para a aula e
com o apoio dos professores, confeccionaram suas inovações
tecnológicas. Todos os noventa e sete (97) alunos de 3º ao 5º ano,
das três turmas selecionadas, participaram da ação e conseguiram
desenvolver e concluir seus projetos, entre os quais, foram
selecionados os dez mais inovadores. A escolha foi feita por uma
banca composta por pais, professor e alunos.
Após o termino da ação, foi lançado desafio para que todos
os alunos aprimorem seus produtos tecnológicos e em aulas
posteriores, juntamente com o professor da Disciplina Tecnologias
e regentes das turmas, que farão as escolhas dos projetos mais
adequados para participação na Feira de Empreendedorismo,
Ciência, Inovação e Tecnologia (FECIT) . Entre os dez produtos da
ação pedagógica, tiveram destaque: a “câmera fotográfica de caixas
de fósforo”, o “Lápis com tampa para morder”, o “estojo com liga
suporte para cadernos”, a “mochila skate”, o “caderno porta
retrato” a “caneta multifuncional”, dentre outros.
As atividades desenvolvidas aguçaram o potencial criativo e
inovador dos alunos. Foi percebido que ambos interagiram, se
debruçaram sobre a pesquisa e desenvolveram seus produtos de
forma eficiente, espontânea, atingindo o êxito esperado que foi
compreender as orientações, reconhecer as tecnologias, ter
autonomia para escolha, habilidade para adaptar um produto de
forma inovadora e persistência para conclusão do produto final.
Estas habilidades foram evidenciadas em cada passo no decorrer
da ação educativa, pela maioria dos alunos, pois conseguiram
concluir com êxito os seus projetos.
112 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
A última ação foi desenvolvida em duas aulas, sendo a
primeira, aula expositiva, explicativa e a segunda aula prática com
utilização do celular. Foi criado um grupo educomunicativo no
whatsapp para comunicação, troca de ideias, experiências,
acompanhamento educacional por parte dos pais, professores e
alunos. Os objetivos da ação atingiram êxito máximo, pois teve a
adesão de 80% dos pais, de todos os professores e alunos das três
turmas. Ambos interagiram, expuseram e sanaram suas dúvidas,
os pais marcaram horários para conversas sobre o desempenho e
participação de seus filhos nas aulas, as crianças debateram sobre o
gerenciamento de suas atividades escolares e culturais, os
professores marcaram eventos e debateram sobre as ações dos
projetos desenvolvidos, ambos envolvidos fortaleceram seus
compromissos e atitudes diante da participação no processo
ensino-aprendizagem.
Os envolvidos nos projetos desenvolvidos, consideradas as
ações exitosas, pois os principais objetivos foram atingidos, tendo
proporcionado o alcance da meta desejável por todos os
professores, sendo a promoção do envolvimento e interação entre
professor, aluno, pais, pesquisa, tecnologias e a inovação no fazer
pedagógico no cotidiano escolar.
Foi percebido que o modelo ideal de ensino desenvolvido
com a utilização de novas tecnologias suficientes e atualizadas para
se aplicar no cotidiano escolar ainda está longe da realidade da
maioria das escolas de nosso país. Entretanto, verificou-se que
podemos utilizar os recursos que a escola tem, as que os alunos
dispõem em casa e o que a comunidade disponibiliza para oferecer
em seus espaços ações pedagógicas ou atividades educativas
eficazes na construção do conhecimento.
Os poucos recursos tecnológicos, podem ser explorados de
diversas formas e conduzir o aluno ao conhecimento. A relação
entre ambos no processo de ensino-aprendizagem, as vantagens de
se conseguir interagir e ter a atenção do aluno mediante o uso das
tecnologias voltadas para a aprendizagem e principalmente sobre a
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 113
inovação no sentido de utilizar uma tecnologia melhorar seu uso
ou utilizar como método de estudo, pegar a tecnologia e fazer algo
novo com ela aperfeiçoando esse fazer pedagógico diário infere em
conhecimento significativo.
5. Considerações finais
Tecnologias digitais/virtuais aplicadas a educação: percalços,
desafios e ações educativas. O processo educativo pelo qual foram
conduzidas as ações desta pesquisa, evidenciaram que os percalços
e desafios da educação frente as tecnologias digitais/virtuais,
percebidas na escola campo de pesquisa, dentre outros apontaram
para a necessidade de aquisição de recursos tecnológicos que sejam
suficiente para utilização nas várias demandas do cotidiano escolar.
Outro desafio, consiste na formação adequada dos docentes
sobre essas tecnologias para aplicarem como recurso para o
processo de ensino-aprendizagem. Pois, ensinar requer segurança
e conhecimento profissional, sendo necessário que a instituição de
ensino ofereça formação e o próprio docente busque aprimorar
seus conhecimentos na área.
É preocupante a escassez de disponibilidade de recursos
tecnológicos na escola. Pois sabe-se que cada vez mais as
tecnologias são utilizadas para promover o trabalho do professor e
do aluno. Entretanto, há outras formas de inserção das tecnologias
digitais no contexto escolar, como foi evidenciado por meio da
utilização das tecnologias que os professores, pais e alunos
dispõem em casa e que utilizaram na escola nas ações
desenvolvidas.
É indispensável que o corpo docente possua conhecimento e
metodologias diversificadas para conduzir e mediar suas ações
pedagógicas, no intuito de desenvolver uma educação de qualidade.
Constatou-se que as tecnologias configuram como importantes
meios para o desenvolvimento de atividades que conduzem à
aprendizagem.
114 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Para que os alunos participem de todo o processo educativo,
os educadores instigaram os alunos e lançaram desafios que
exercitaram a interação, persistência, criatividade, inovação,
criticidade, dentre outras, apoiadas pela ação mediadora docente,
com práticas pedagógicas que reconhecem o aluno como receptor e
construtor do conhecimento, responsável e comprometido pela sua
aprendizagem. A interação entre educador, aluno e família, por
meio das tecnologias disponíveis no processo ensino-aprendizagem
desenvolvido no decorrer de todo o processo, tornou o apoio dos
pais, o ensino mediado pelo professor e o processo de
aprendizagem mais contextualizados, eficientes, envolvente,
desafiador e construtivo.
Estes aspectos demonstram que os desafios da educação
frente as novas tecnologias, diante dos poucos recursos
disponíveis, não impedem que se possa efetivar ações educativas
que deem conta de instigar os envolvidos à busca pelo
conhecimento.
6. Referências
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Paulo, Aparecida: Idéias e Letras, 2006.
BRITO. Glaucia da Silva; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e Novas
Tecnologias: um repensar. São Paulo: Pearson, 2012.
CASTELLS, M. A sociedade em Rede. A era da informação: economia, sociedade
e cultura. V. 2 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
FALS BORDA, O. La ciencia y el pueblo. Bogotá: Punta de Lanza, 1980.
IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional: formar-se para a
mudança e a incerteza. 7. Ed. São Paulo: Cortez, 2010.
LE BOTERF, G. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In:
BRANDÃO, C. R. (Org.). Repensando a pesquisa participante. São Paulo:
Brasiliense, 1984.
Raimundo Ferreira Rodrigues; Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior | 115
MORAN, José Manuel, MASSETTO, Marcos T., BEHRENS Marilda Aparecida.
Novas tecnologias e mediações pedagógicas. Campinas, SP. Papirus,
2012.
MOURA, Adelina. Metodologias de aprendizagem que desafiam os alunos,
mediadas por tecnologias digitais. Palmas: Revista Observatório, v. 3, n.
4,
p.
256278,
jul-set.
2017.
Disponível
em:
<https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/observatorio/article/
view/3466/9784> Acesso em 24 fev. 2018.
OLIVEIRA. Fátima Bayma de. Tecnologia da Informação e Comunicação: A busca
de uma visão ampla e estruturada. São Paulo: Pearson, 2007.
PEROVANO, Dalton Gean. Manual de metodologia científica para a segurança
pública e defesa sócia. Curitiba: Juruá Editora, 2014.
VALENTE, José Armando. Computadores e conhecimentos: repensando a
educação. Campinas: UNICAMP, 1993.
Capítulo 7
Chupeta digital:
uma forma prejudicial no processo de ensinoaprendizagem ou novo método educativo
para o século XXI?
André Coelho Gama
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Marco Antônio Baleeiro Alves
1. Introdução
O termo "tecnologias" tem sido muito empregado na área
educacional com os mais diversos sentidos e significados. Nos dias
de hoje é cada vez maior a percepção de que a evolução do mundo
e suas novas tecnologias promovem novos estilos de vida e exigem
flexibilidade e criatividade ao cidadão globalizado, e em especial ao
contexto educacional. O acesso à informação eletrônica é um dos
pontos altos das Tecnologias da Informação e Comunicação - TIC’s
aplicadas às consultas e bases de dados e bibliotecas. O acesso à
informação disponível na Web se dá por diferentes pessoas de
diversas idades, culturas e territórios, sejam cientistas,
profissionais liberais, estudantes e professores, que possuem uma
necessidade de informação diversificada.
“Embora as inovações causadas pelas TIC tenham atingido vários
setores da sociedade, observamos que é nos espaços escolares que
118 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
esses recursos ainda são subutilizados, seja pela falta de estratégias
educacionais adequadas que promovam uma boa utilização desse
recurso, seja pela falta de infraestrutura adequada para instalação e
uso das TIC ou por conta da falta de formação específica da equipe
escolar. (PEDRO E CHACON, 2017, p. 518)”
A educação escolar é um todo solidário, apoiado nos seus
pilares tradicionais. Dessa forma, a tecnologia não deve ser apenas
entretenimento, funcionamento como uma "Chupeta Digital" ou
um adorno superficial que se possa incrustar no velho prédio sem
que as outras partes sejam afetadas. Voltada para a continuidade
das gerações, não por acaso a educação escolar apresenta
consistente unidade e intensas forças coesivas, em que um
componente afeta o outro (TEDESCO, 2004, p.8). Na busca de
encontrar contribuições para a definição de novos pressupostos e
práticas que orientam, acrescentam ou prejudicam a Educação no
Século XXI diante das inúmeras inovações, é necessário que se
busque formas que possibilitem a compreensão da dinâmica no
processo ensino aprendizagem, no intuito de difundir os impactos
positivos e negativos, com a preocupação de mostrar a ligação do
moderno mundo da revolução tecnológica e o tipo de escolaridade
necessária para preparar o jovem do século XXI.
A tecnologia surge para facilitar a vida humana e seus
afazeres, a partir do século XVIII com a Revolução Industrial e a
ascensão do capitalismo, desenvolveu - se em um ritmo acelerado.
Essas mudanças de um mundo em constante avanço tecnológico
exigem, cada vez mais, que os professores se tornem profissionais
capazes de “lidar com inúmeros desafios suscitados pela
escolarização de massa em todos os níveis de ensino” (TARDIF,
2007, p.114).
“O professor deve ser preparado para desenvolver competências,
tais como: estar aberto a aprender a aprender; atuar a partir de
temas emergentes no contexto e de interesses dos alunos;
promover o desenvolvimento de projetos cooperativocolaborativos; assumir uma atitude de investigador do
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 119
conhecimento e da aprendizagem do aluno; propiciar a reflexão, o
espírito crítico e o pensar sobre o pensar; dominar recursos
tecnológicos e ser capaz de identificar as potencialidades de
aplicação desses recursos na prática pedagógica.” (ALMEIDA, 1997)
Assim, a sociedade hoje marcada pela aceleração na troca de
informações e cada vez mais tecnológica, a rotina da educação das
crianças e dos adolescentes mudou muito nos dias atuais. É uma
geração que domina as tecnologias, aprendem a se comunicar
online desde pequenas e tem acesso a diferentes meios de
informação. Utilizam recursos da informática e vivenciam
experiências fantásticas.
Parece-nos que a tecnologia vem influenciando o
desenvolvimento das crianças e adolescentes. Esse processo de
"adultização" vem acelerando cada vez mais, tendo em vista que
vivemos em um país e mundo capitalista. A sistêmica
interdependência que existe na sociedade atual pelas tecnologias e
principalmente pelo entretenimento que elas proporcionam cria um
ciclo recíproco que denominamos neste artigo de "Chupeta Digital".
O conceito da "Chupeta Digital" está relacionado à
dependência que criou-se pela tecnologia, no caso da educação pelas
TIC's e como isso é utilizado no contexto de aplicação. Quando os
responsáveis por uma criança entregam um smartphone na
esperança de entretê-la, ali temos uma aplicação da "Chupeta
Digital". Quando um educador utiliza-se da tecnologia para "passar
o tempo" de forma descontextualizada e sem discernir o real
significado de sua proposição, ali também temos a "Chupeta Digital".
O objetivo desta discussão não é demonizar ou
descaracterizar a importância da tecnologia na sociedade atual,
mas sim, demonstrar a importância de utilizá-la de forma conexa.
Apesar da falácia propagada culturalmente de que, por causa da
tecnologia, as pessoas leem menos, foi constatado através de
pesquisa que os brasileiros estão lendo mais - essa pesquisa
intitulada Retratos da Leitura no Brasil foi realizada pelo Instituto
Pró-Livro, divulgada em março de 2016. Mais de cinco mil pessoas,
120 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
de todas as idades, foram entrevistadas, em 315 municípios
brasileiros. Esta pesquisa constatou que de 2011 para 2015, houve
uma aumento em 6% na quantidade de leitores do Brasil,
atualmente é de 56% a percentagem de pessoas estão
caracterizadas como leitores.
A mesma pesquisa constata que Entre Leitores, 81% são
usuários de Internet. Já entre quem está estudando 88% são
usuários. Além disso, desses usuários: 66% usam a internet para
trocar mensagens WhatsApp ou no Snapchat; 54% usam para
enviar e receber e-mails; 50% para acessar ou participar de redes
sociais, blogs ou fóruns; 50% Escutar música; 58% Assistir vídeo,
filmes ou TV online; 36% Trabalhar ou buscar informações sobre
o trabalho ou profissão; 24% Jogar; 27% Fazer compras. Sendo
assim, pode-se perceber o quanto a tecnologia está presente no dia
a dia da população brasileira. Nesta pesquisa, descobre-se também
que 56% dos leitores digitais utilizam celular ou smartphones;
49% faz leitura no computador; 18% em tablets ou Ipads; 4% Leu
em leitores digitais, como Kindle, Kobo e Lev.
Chama a atenção o quanto os celulares ou smartphones
despontam nesse cenário como principais dispositivos utilizados para
a leitura digital e a baixa menção aos dispositivos específicos para
esse tipo de leitura (os leitores digitais). Atualmente sabemos que o
uso das tecnologias permite a criação de redes sociais, interações,
entretenimento e ainda viabilizam recursos para estudo. Conclui
Farias: Surge agora um novo questionamento quanto à cultura da
fragmentação da internet, que deteriora a aprendizagem, pois
ninguém mais lê textos longos. Apesar desta reflexão, outro estudo
aponta que os jovens estão trocando os livros impressos por leitura
digital. A diferença é que, agora, não são só os livros que são "lidos",
mas vídeos, sites, SMS, e-mails e uma gama imensa de informações.
“No bolso do jeans, um BlackBerry. Na escrivaninha do quarto,
um laptop. Dentro da mochila da escola, um iPod Touch com
conexão wireless. Tudo ao redor dos jovens de hoje oferece
conexão 24 horas por dia nas mais diversas redes sociais. Como
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 121
deixar de lado todas as infinitas possibilidades que o mundo
digital oferece e se dedicar à leitura de um livro, com suas
centenas de páginas, cheias de palavras e letras inertes, exigindo
concentração para serem decifradas?”
Entretanto, é indiscutível a polêmica que existe acerca dos
problemas que resultam desse processo tecnológico. Não é
novidade que o número de crianças e adolescentes obesos e
sedentários aumentou, assim como a interação em Aplicativos de
Mensagens, Facebook, Instagram, Twitter diminuíram as relações
interpessoais e o contato físico dessas Gerações Y e Z.
Quem considera que a aprendizagem se baseia na troca e na
cooperação, no enfrentamento de riscos, na elaboração de
hipóteses, no contraste, na argumentação, no reconhecimento do
outro e na aceitação da diversidade vê nos sistemas informáticos,
na navegação pela informação e na ampliação da comunicação com
pessoas e instituições geograficamente distantes a respostas às
limitações do espaço escolar. (SANCHO; HERNANDÉZ, 2006 p.21). Ainda não é possível chegar a uma conclusão quanto aos
limites e possibilidades dos recursos oferecidos pela Web 2.0:
auxiliam ou atrapalham no aprendizado? - O interessante é
refletir sobre o momento histórico importante que vivemos, com a
necessidade de integração eficiente das áreas de educação e
tecnologia. Deste modo, torna-se imprescindível aos educadores
aprenderem a utilizarem esses recursos de forma inteligente no
processo de ensino dessas crianças e adolescentes do século XXI.
As TIC's são utilizadas, de fato, como parte integradora e
contextualizada do processo de ensino e aprendizagem ou apenas
como "Chupetas Digitais" nas escolas atuais? - essa indagação é
parte daquilo que devemos refletir. Em busca desta reflexão,
realizamos pesquisa de campo em Palmas - TO, como forma de
identificar os aspectos que permeiam o uso da tecnologia e a
interação entre educadores e estudantes.
122 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
2. Resultados e Discussões
A pesquisa de campo foi desenvolvida com alunos,
professores, coordenadores, diretores e funcionários administrativos
através de questionários (ANEXO 01). Nas Unidades escolares de
Palmas; em uma Escola da Rede Municipal, uma Escola da Rede
Estadual e uma Escola da Rede Particular. Sendo elas: Escola
Municipal Beatriz Rodrigues da Silva, Colégio Estadual Dom Alano
M. Du Noday e o Colégio ULBRA Palmas. O gráfico a seguir mostra
que foram realizadas 302 entrevistas, sendo 79,01% com alunos,
10,09% com docentes e 9,9% com pais ou responsáveis.
Gráfico 1. Gráfico Público alvo dos entrevistados
Fonte: Autoria própria.
Foi realizado um levantamento para mensurar através de quais as
metodologias de ensino o entrevistado aprende melhor. Onde:
13,9% dos entrevistados aprendem melhor assistindo vídeo aulas,
13,6% através de aulas práticas, 8,3% escrevendo, 7,6% lendo,
4,3% ouvindo, 3,6% observando e 48,7% todas as alternativas, de
acordo com o Gráfico 2 a seguir:
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 123
Gráfico 2. Gráfico Público alvo dos entrevistados.
Fonte: Autoria própria.
Considerando que para aplicação das novas tecnologias em
sala de aula existem vários gargalos, identificamos que 47,4% dos
entrevistados consideraram que a falta de capacitação dos docentes
para utilização das tecnologias impacta no processo de aplicação,
28,5% da quantidade de equipamentos é insuficiente para aplicação
em sala e 24,2% dos entrevistados não tem êxtase pela inovação e
preferem as aulas tradicionais, de acordo com o Gráfico 3 a seguir:
Gráfico 3. Gráfico da maior dificuldade para aplicação das tecnologias nas
salas de aula.
Fonte: Autoria própria.
124 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Em um nível de 00 (zero) a 05 (cinco), para identificar qual
a importância da Tecnologia da Informação (Internet, Aplicativos,
Computadores, Tablet’s) para o processo de aprendizagem
atualmente. 58,6% dos entrevistados consideram como muito
importante pontuando a TIC como nível 5. 24,5% pontuaram
como importante escolhendo o nível 4, 12,6% acharam
parcialmente escolhendo o nível 3, 2,3% pontuaram o nível 1
como não importante e 2% como pouco importante escolhendo o
nível 2 e nenhum dos entrevistados pontuaram como pouco
importante, de acordo com o Gráfico 4 a seguir:
Gráfico 4. Nível de importância das TIC’s no processo de aprendizagem
atualmente.
Fonte: Autoria própria.
Das 302 entrevistas realizadas, 160 entrevistados acreditam
que é possível uma criança de 01 a 12 anos aprender sozinho(a)
assistindo vídeo aulas pela internet, sendo 53% do total. 40,7%
têm dúvidas e 6,3% não acha possível haver aprendizagem, de
acordo com o Gráfico 5 a seguir:
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 125
Gráfico 5. Porcentagem de pessoas que acreditam que é possível uma criança
de 1 a 2 anos aprender sozinho(a) assistindo vídeo aulas pela internet.
Fonte: Autoria própria.
É importante ressaltar que 56,7% dos entrevistados quando
estão com dúvidas no período da aula procuram diretamente o
docente, já 19,4% dos entrevistados pedem ajuda ao colega, 18,3%
pesquisam no celular e 5,6% ficam com dúvida e não pedem ajuda,
de acordo com o Gráfico 6 a seguir:
Gráfico 6. Modos pelos quais os empreendedores se reportam quando está
em sala de aula para dirimir alguma dúvida.
Fonte: Autoria própria.
126 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Estes instrumentos de pesquisa forneceram dados e
promoveram reflexões junto aos servidores, que pouco se usava os
recursos tecnológicos como ferramenta dinamizadora, ficando
sempre na forma tradicional. Consideramos que a análise das
informações obtidas é suficiente para o entendimento das
inquietações e questões propostas no presente estudo. Percebendo
que, pelo menos dentro do universo pesquisado, há um certo
clamor, um pedido do professorado para que seja oferecido suporte
para o uso das novas tecnologias.
3. Conclusão
Este estudo foi elaborado de modo que as análises não
soassem como uma apologia ao uso das novas tecnologias,
ressaltando que não devemos encarar estas novas ferramentas
como "Chupeta Digital" para a educação. Mas chamar a atenção
para o fato de que uma das características mais genuínas das novas
tecnologias é a versatilidade para o seu uso e, sendo assim, por que
não torná-las aliadas ao trabalho pedagógico do professor? Por que
não tentar utilizá-las em mudanças que ajudem a ampliar o acesso
ao processo de construção do conhecimento? Na educação não
pode ser diferente, pois as escolas como instituições devem
preparar os educandos não somente para o mercado de trabalho,
mas também levá-los a interagir com o mundo globalizado. O
professor precisa aprender a contextualizar as suas aulas e o uso
das tecnologias envolvendo-se e integrando-as às suas atividades
pedagógicas. É importante saber qual a metodologia mais viável
para a aprendizagem de cada educando, levando em consideração
às diferenças e o desenvolvimento de cada um. Diante de tantas
buscas temos a ciência de que apresentamos apenas partes de
múltiplas formas possíveis de investigação de um cenário rico em
possibilidades como sabemos, é o universo da educação. Conclui-se
o presente trabalho, através dos dados, foi possível perceber que os
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 127
docentes das Escolas entrevistadas não vêm utilizando de forma
adequada às tecnologias em sala de aula. Observou-se que há
pontos de vista e opiniões diferentes em relação ao uso das
mesmas. Pressupõe-se que, para desenvolver um trabalho de
qualidade com as novas tecnologias, se faz necessário que o
educador esteja preparado para as inovações que o mundo da
informação está oferecendo a cada dia. Por fim, fazemos votos de
que tantas possibilidades sejam investigadas em outros estudos,
que a pesquisa aqui realizada possa contribuir como ponto de
partida para que encontremos caminhos e soluções significativas
com o propósito de melhorar a qualidade do trabalho docente e,
consequentemente, a aprendizagem dos alunos.
4. Referências
ALMEIDA, M. E. (1997). O computador como ferramenta de reflexão na
formação e na prática pedagógica. São Paulo, Revista da APG, PUG/SP,
ano VI, n. 11.
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MANDELLI, M. (12 de Dezembro de 2010). Acesso em 27 de Novembro de 2017,
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MORAN, José Manuel, MASETTO, Marcos; BEHRENS, Marilda. Novas
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128 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
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TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e Formação Profissional. 8a edição
Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
TEDESCO, Juan Carlos et al. Educação e novas tecnologias: esperança ou
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PEDRO, Ketilin Mayra; CHACON, Miguel Claudio Moriel. Competências Digitais
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2017
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Disponível
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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141365382017000400517&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 Jan. 2018.
André Coelho Gama; Francisco Gilson R. P. Junior; Marco Antônio B. Alves | 129
Apêndice
Capítulo 8
Relato de experiências e reflexões de um
possível cenário brasileiro para Inovação
Marco Antônio Baleeiro Alves
Everaldo de França
Francisco Gilson Rebouças Porto Junior
Este capítulo tem como objetivo tecer alguns comentários a
respeito da forma como ocorre a gestão da inovação no Brasil,
especialmente aquela proveniente da gestão do conhecimento
tecnológico que tem sido gerado no ambiente plural das
universidades. O foco principal desse relato de experiências é quanto
aos aspectos mais importantes ligados ao tema central da inovação
com as implicações para o desenvolvimento social e econômico e
suas relações com a produção de pesquisa científica e tecnológica.
É importante notar que quando se discute o tema:
“processos de geração das inovações” deve-se ter em mente uma
visão geral a respeito de algumas teorias econômicas e finalmente
entender que não é um processo tão simples quanto pode parecer e
exige no mínimo uma tecnologia disponível, que seja de alguma
forma protegida (HÄGGMAN, 2009; MOTHE; THI, 2010; ORTT;
DUIN, 2008). Isto posto, devemos saber que uma vez inserida no
mercado, uma inovação tende a replicar novas alternativas e
produtos, sempre proporcionando desenvolvimento econômico e
social, seja este em nível regional ou em nível global.
132 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Historicamente, o economista Adam Smith, reforçou a
tendência iluminista de Quesnay e Turgot, dentre outros, do que
foi “Laissez faire, laissez passer, le monde va de lui même.” (Deixai
fazer, deixe passar, o mundo caminha por si mesmo). Com isso,
estavam lançadas as bases teóricas do liberalismo econômico, onde
o desenvolvimento do mercado deveria se dar da melhor forma
sem a intervenção dos estados nacionais (BESANKO, 2006).
Assentado sobre estas teorias, o capitalismo comercial e
manufatureiro se desenvolveram até culminar na primeira
Revolução Industrial no século XVIII, com o aparecimento das
primeiras inovações e incrementos tecnológicos tais como: a
invenção da máquina a vapor e o tear mecânico, abrindo um novo
paradigma à industrialização e incentivando maior consumo e
maior competitividade entre as grandes empresas e, com isso, mais
inovações surgiram, sendo incentivadas pelas primeiras.
Mais tarde, em meados da década de 40, Joseph Schumpeter,
lançou o termo inovação, sendo o primeiro a observar
empiricamente que o intervalo de tempo entre uma inovação e outra
estaria sendo cada vez menor no decorrer da história, e mais que
isso, essa seria uma tendência irreversível nas nações capitalistas.
Essa teoria schumpteriana fez despertar, inicialmente na Europa e
na América do Norte, o interesse dos políticos e da iniciativa privada
nos assuntos ligados ao tema. Dessa forma, até os dias atuais,
principalmente nos países periféricos, este tem sido um tema novo e
desafiador, e de forma semelhante tem ocorrido no Brasil.
O fenômeno das ondas de inovações tecnológicas explicado
por Joseph Schumpeter tornou-se nos últimos anos a bandeira
mais defendida pelos profissionais e pesquisadores que defendem a
importância da inovação no mundo capitalista contemporâneo.
Pensando nessa mesma linha, o INPI (Instituto Nacional da
Propriedade Industrial) tem afirmado:
“a criação e o uso de conhecimento científico e tecnológico são as
molas mestras da economia moderna (INPI, 2003).”
Marco Antônio B. Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior | 133
Não é de se estranhar que a melhor forma de fazer isto se dá
por meio de medidas de proteção industrial e intelectual. Neste
cenário, há que se dar a devida importância a parte que pertence à
estrutura administrativa do governo federal que mais tem
trabalhado nos últimos trinta anos para o desenvolvimento do
Sistema Brasileiro de Ciência Tecnologia de Inovação de
competência do Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação, hoje
também de comunicação (MCTI). Constituído pelas suas diversas
unidades de pesquisa e entidades da Ciência e Tecnologia, dentre
elas (22 entidades), está o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
sediado em Belém PA que se dedica à exploração sustentável,
conservação e estudo da biodiversidade amazônica. Formando
frentes de trabalho específicas para cada situação, não podemos
deixar de citar dois das mais proeminentes agências de fomento:
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico) que era o órgão que fazia o papel do MCT antes de
sua criação e foi criado, inicialmente para investir em pesquisas
atômicas no período da guerra fria em plena ditadura militar no
Brasil. Entretanto, hoje trata-se de um órgão de grande
importância estratégica, atuando no financiamento de bolsas e
auxílios para praticamente todas as linhas de pesquisas e em duas
importantes frentes de trabalho: o Ciência sem Fronteiras (que
conta hoje com 101 mil bolsas distribuídas em 4 anos) e a
Plataforma Lattes. Diferentemente da FINEP (Financiadora de
Estudos e Projetos), esta é uma empresa pública de fomento à
ciência, tecnologia e inovação em empresas, universidades,
institutos tecnológicos e outras instituições públicas e privadas
através de editais que promovem o financiamento de projetos de
estruturas laboratoriais, logística, auxílios para compra de material
permanente e de consumo etc.
Tendo sido as décadas de 1950 e 1960 marcadas pelo
industrialismo voltado para o mercado interno, sem nenhuma
ênfase na “ideia” de geração de Ciência, Tecnologia de caráter
134 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
nacional, muito havíamos perdido até a criação em 1985, do então
MCT. Esse ministério nasceu em meio às discussões políticas que
defendiam a democracia no Brasil e, em 1988, ganhou forças com a
Carta Magna atual, tendo suas ações pautadas em seu título VIII,
capítulo IV.
Não obstante, passou alguns poucos anos extinto a partir de
1991, sendo recriado em 1994 e somente em 2003 é incorporado o
termo inovação, na ocasião em que passou a se chamar MCTI
(Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação) de forma que,
infelizmente, até hoje, algumas pró-reitorias de pesquisa de
universidades públicas, tendem a omitir este termo de suas
denominações por ainda não se adaptarem plenamente a esse novo
paradigma, se por razões políticas ou meramente administrativas.
Talvez um nome seja um mero detalhe, entretanto a denominação
normalmente pressupõe a função.
Falando mais diretamente ao tema da inovação, tal é a
importância das proteções intelectuais neste contexto, que cerca de
70% das informações tecnológicas produzidas no planeta
encontram-se em documentos de patentes e não na academia, do
contrário do que se poderia pensar. Nosso país tem oscilado nas
posições 13° e 15° dentre os países que mais publicam artigos
científicos no mundo (papers), por outro lado, comparada a nossa
posição no ranking de patentes, temos oscilado entre 48° e 53° em
depósitos de patentes e a China ultrapassou a marca de um milhão
de patentes enquanto que ainda estamos em algo próximo de 40
mil. Isso mostra algo óbvio: precisamos de mais depósitos de
patentes com qualidade suficiente para atingir o mercado.
Nas universidades e centros de pesquisa acadêmicos
brasileiros existe, historicamente, uma opção por priorizar a
pesquisa básica, partindo do paradigma denominado laboratory
push, no qual se supõe que os resultados científicos, obtidos em
laboratórios, levariam à inovações tecnológicas e à geração de
produtos com eventual inserção no mercado. Sob um certo ponto
de vista isto vem provando na prática que não promove a
Marco Antônio B. Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior | 135
aproximação entre universidade e empresa. Em Stanford a
universidade tem a função de formar empreendedores e assim
criar empresas a partir de seus agentes internos (pesquisadores,
técnicos, professores e alunos).
Sendo assim, examinando mais detidamente a realidade dos
países desenvolvidos que possuem maior experiência com
licenciamento de novas tecnologias com grande potencial mercado,
ao compará-los aos países mais pobres, os dados mostram que este
sucesso não tem ocorrido ou tem ocorrido de forma muito tímida
nestes países periféricos. O modelo do laboratory push tem gerado
tecnologias que se tornam obsoletas e permanecem arquivadas em
livros e artigos nas prateleiras das bibliotecas, sem provocar
nenhum benefício concreto à sociedade, do ponto de vista
econômico, a não ser oferecer conhecimento a custo baixíssimo,
muitas vezes bem aproveitado pelos países ricos, uma vez que
caem em domínio público na web.
Um exemplo muito claro disso e que chega a ser trágico para
nós brasileiros, em matéria de soberania nacional, é o caso da
nossa biodiversidade. O Brasil possui quase 20% da biodiversidade
existente no planeta e nós conhecemos menos de 5% desse total.
Desses 5%, menos de 1% é de fato apropriada por nós brasileiros
para uso em benefícios à sociedade. Para agravar este quadro, os
artigos científicos produzidos no Brasil, dentro dos temas ligados a
bioprodutos e fitoquímica de plantas medicinais, tem dado maior
ênfase em mera elucidação estrutural de moléculas orgânicas
caracterização de aspectos físico-químicos, enquanto que ensaios
microbiológicos e testes com tecidos e órgãos tem ocorrido muito
pouco. Assim, percebe-se que a energia despendida para o estudo e
a pesquisa de novos compostos tem sido mal aproveitadas pois
deveriam estar gerando patentes e não informações estratégicas
que seriam utilizadas por países ricos. São inúmeros os casos de
micro-organismos, moléculas bioativas, proteínas e outras
substâncias de importância médica como o caso da “vacina do
sapo” (Phyllomedusa bicolor), pau-brasil, a seringa, a quinina e a
136 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
ayahuasca (vegetal) e, mais recentemente, o cupuaçu, o açaí, a
unha-de-gato, a espinheira santa, o jaborandi entre outros que tem
sido apropriados por grandes laboratórios europeus e norteamericanos sem no entanto causar o menor impacto no
desenvolvimento econômico e social no Brasil.
No mundo rico a realidade é diferente, apesar de algumas
dificuldades naturais. Outros países, como a Coréia do Sul,
adotaram políticas agressivas de incentivo à inovação tecnológica,
com um olho aguçado nos mercados globais, em um modelo que
mais se aproxima do paradigma denominado market pull, no qual
a demanda de mercado (existente ou projetada) exerce pressão
sobre as empresas, que, por sua vez, pressionam seus engenheiros
por novos resultados tecnológicos que, demandavam e demandam
a realização de pesquisas científicas (ALBUQUERQUE, 1996; CRUZ,
2000).
Apesar de usar neste texto estes termos (laboratory push,
market pull) num certo sentido, é preciso lembrar que,
economistas neo-schumpeterianos como Rosenberg e Tassey,
estudiosos das relações entre inovação tecnológica e
desenvolvimento econômico, advertem para o fato de que nem o
paradigma de laboratory push nem o de market pull são
suficientes para modelar as complexas relações existentes entre
estas variáveis em economias desenvolvidas, onde pesquisa e
desenvolvimento
se
transformam
em
resultados
macroeconômicos. Há processos fortes de retroalimentação entre
produtores e consumidores de tecnologia, aí envolvidos. O desafio
é equilibrar os dois lados dessa equação, tendo em mente, que o
crescimento econômico gerado pela inovação tecnológica produz
recursos adicionais tanto para a pesquisa básica, indispensável ao
avanço do conhecimento humano, como para a pesquisa aplicada,
assim realimentando todo o processo e possibilitando uma espiral
de crescimento sustentado com reflexos na melhoria das condições
sociais.
Marco Antônio B. Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior | 137
A situação atual no Brasil se assemelha à de um sistema em
que o supply side (geração de tecnologias novas nas ICTs) funciona
a contento, mas o demand side (demanda de mercado) é atrofiado,
pois nossa indústria faz pouca pesquisa - estima-se que isso ocorre
também por falta de uma cultura de inovação e incentivos
governamentais - e as universidades produzem muita pesquisa de
alta qualidade sem no entanto colocá-la no mercado. Existe aí uma
necessidade de quebrar esse paradigma por meio de um choque de
cultura, trabalhado de forma gradativa e cuidadosa, como já
recomendou o MCTI em tempos atrás. É emergente construir
pontes fortes entre a relação das ICTs e das empresas. O uso de
conhecimento científico e tecnológico pelo setor produtivo traz
ganho em termos de tempo e possibilita a redução de custos pelo
uso compartilhado de infraestrutura. Mais do que isso, essa relação
entre esses agentes do sistema nacional de inovação pode
certamente favorecer a retroalimentação direcionada para solução
de problemas atuais, em especial no que se refere à
sustentabilidade.
Recentemente, com o intuito de esclarecer melhor estes
mecanismos de geração e aplicação de tecnologias inovadoras, os
economistas Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, desenvolveram a
teoria da Hélice tríplice que se baseia na perspectiva da
Universidade como indutora das relações com o setor produtivo de
bens e serviços e o Governo, que teria o papel de regulamentar e
fomentar a economia. Nessa mesma teoria, a inovação é
compreendida como resultante de um processo complexo e
dinâmico de experiências nas relações entre ciência, tecnologia,
pesquisa e desenvolvimento nas universidades, nas empresas e nos
governos, em uma espiral de “transições sem fim”. Surge a partir
dessa idéia o conceito referente a um modelo de “universidade
empreendedora” (entrepreneurial university) em que os
laboratórios e núcleos de pesquisa funcionariam como quasefirmas voltadas ao desenvolvimento e transferência de novas
tecnologias forçadas por uma demanda natural do mercado
138 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
(demand market). Esse é o modelo referencial utilizado pelos
países ricos e que os países pobres tanto almejam alcançar.
Um dos grandes entraves à inovação no Brasil tem sido a
excessiva burocracia. Nos editais de subvenção econômica dirigido
às empresas privadas é notória a cultura ainda latente que exige
papéis e mais papéis. Em se tratando de estímulo à inovação a
flexibilidade nas relações de empresas privadas deveria ser imitada
pelo serviço público, já que existe uma grande necessidade de
cooperação entre os atores dos Sistemas Regionais de Inovação. A
burocracia, quando se trata do uso de recurso público para apoio à
inovação, não deve ser excluída, mas modernizada e flexibilizada
pensando na maior eficiência, eficácia e efetividade dos Arranjos
Produtivos Locais (APLs), agentes importantes no desenvolvimento
e aprimoramento do Sistema Brasileiro de Inovação.
No oitavo Fórum Nacional de Gestores de Inovação (VIII
FORTEC), ocorrido em São Paulo, em maio de 2014, o cientista
empreendedor Doutor em Física Sr. Vanderlei Bagnato (Instituto
de Física - USP), disse em seu discurso: “a grande mídia por
demais criminaliza o serviço público fazendo o cidadão entender
que existe falência no aparelho estatal, quando na verdade o estado
é o grande fomentador da inovação” Talvez a burocracia excessiva
a que se refere a literatura da área seja um dos sintomas (ou
causas) desse sensacionalismo largamente propalado pela
imprensa a que Bagnato se refere. Dessa forma, as instituições
ligadas ao estado se vêem obrigadas a exigir registros, assinaturas,
papéis em demasia por conta da pressão da opinião pública. O
contrário, ocorre nos USA, onde a opinião pública pressiona por
menos burocracia e os laboratórios das grandes universidades de
fato funcionam como “quase-firmas”.
O ambiente universitário possui tendência a ser mais crítico
e por que não dizer rebelde, dado ao constante incentivo à reflexão
e à contestação, onde pensar antes de agir deva ser algo
primordial. No serviço público, as decisões são tomadas de acordo
com leis ineficientes e ultrapassadas, como é o caso da lei de
Marco Antônio B. Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior | 139
licitações (Lei N° 8.666) e não de acordo com as necessidades do
mercado como é o caso das empresas privadas. Sobretudo é
urgente a criação de um novo marco legal da ciência, tecnologia e
inovação, repensando os pontos críticos que atrapalham e
mantendo os aspectos que vem dando certo, garantindo ao mesmo
tempo lisura, eficiência e combate à corrupção. Outras medidas
menores e não menos importantes, também podem ser tomadas.
Por exemplo, há que se criar estratégias inteligentes e práticas que
possam driblar a vaidade que impera no ambiente acadêmico, de
forma que haja uma boa convivência entre todas as partes.
Diferentemente da iniciativa privada, o planejamento e o
pensar antes de agir não seriam menos importantes, mas a cultura
do risco também tem exigido espaço. Muitas decisões, mesmo com
planejamento estratégico prévio impecável, necessitam ser
tomadas de pronto e imediato. As ICTs (Instituições de Ciência e
Tecnologia), que são por natureza burocráticas, estão em processo
de aceitação e assimilação dessas premissas.
Nas agências de inovação ligadas a instituições públicas nos
USA, muito se valoriza o profissional que saiba blefar, que possua
nível técnico e habilidades que ultrapassam as meras titulações de
nível de graduação. Exigem que estes profissionais possuam
habilidades muito próprias de negociação e incentivo ao risco, sem
que, no entanto possam agir de forma desonesta. Também é
comum as universidades públicas e privadas apresentarem
comerciais de TV convidando os inventores independentes a
protegerem suas invenções através do seus núcleos de inovação.
Dessa maneira e de outras tantas, a cultura do risco é amplamente
incentivada. Assim, na maioria dos países desenvolvidos, o fracasso
de uma empresa ou negócio é tido como aprendizado, como um
curso intensivo que ensinaria o “como? onde? e porque não
fazer?.”
O processo de inovação é algo extremamente complexo. As
inovações não ocorrem por acaso, dependem de um processo que
requer entendimento, continuidade, maturação e apropriabilidade.
140 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Não pode ser entendido como um evento isolado. A atividade
inovadora é cercada de incertezas e é cumulativa durante um
tempo, dessa forma, empresas que iniciam as inovações entram
em um ciclo interminável de desenvolvimento de inovações. É
importante lembrar que a inovação é um atributo específico da
iniciativa privada e não é resultado da academia. Contudo, as
universidades possuem um papel importante no desenvolvimento
de invenções, ou seja, na etapa anterior à inovação, bem como se
sua proteção no âmbito dos NITs, mas é a decisão empresarial que
faz com que uma invenção chegue ao mercado e se transforme
numa inovação. Os NITs precisam ter esse olhar para os resultados
de pesquisas gerados na academia que podem ser apropriados e
internalizados pelo setor produtivo. Sem a devida proteção
intelectual dos resultados de pesquisa as empresas ficam
vulneráveis à apropriação indevida e a possibilidade de reaver no
mercado (por meio da disponibilidade de produtos e processos) os
investimentos em pesquisa e desenvolvimento. O sucesso de uma
tecnologia para atender demanda de mercado em grande medida
pedende do estabelecimento ganha-ganha dessa parceria virtuosa
entre ICT-Empresa.
Em NITs e Agências de Difusão Tecnológica, existem dois
tipos de colaboração que precisam ser entendidos, um para
produzir e outro para comercializar inovações por meio de
contratos e convênios. Um bom exemplo disso são empresas que
possuem uma certa semelhança como a SAMSUNG e HITACHI, de
alguma forma se congregam para desenvolver um determinado
tipo de produto ou solução técnica.
Na literatura encontram-se identificados alguns mitos
ligados à inovação os quais são comuns de serem encontrados
principalmente em empresas e instituições públicas em Sistemas
Regionais de Inovação ainda não amadurecidos sob o ponto de
vista da experiência prática e no que se refere aos processos de
inovação. Podemos aqui citar 5 mitos: o primeiro seria o mito da
“bala de prata” que baseia-se na falsa ideia de que “uma ideia
Marco Antônio B. Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior | 141
inovadora causa forte comoção da noite para o dia,” quando na
verdade uma inovação pode demorar anos para se consolidar até
que todas as circunstâncias se tornem favoráveis; o segundo mito
seria o dos “bolsões de excelência” baseado no fato de que “bastam
existir alguns setores de excelência dentro de uma empresa para
garantir a inovação.”
Na prática tem-se observado que isso não é verdade porque
uma inovação requer difusão numa corporação ou empresa. As
inovações são cumulativas durante um tempo. Empresas que
iniciam as inovações entram em um ciclo interminável de
desenvolvimento de inovações devido ao fato de que quase toda
inovação vem acompanhada de uma mudança de cultura o que
requer mudança de foco, de postura e de metodologias de trabalho.
O rompimento do mito do “alto risco” pode ser fatal e
determinante para que ocorra de fato uma inovação. A ideia de que
“nem sempre há a necessidade de grandes investimentos” é
altamente destrutiva para uma empresa uma vez que o sucesso a
ser atingido requer muitos esforços e grandes prejuízos a fim de
resultar em produtos e processos altamente inovadores e rentáveis.
Recai aqui a importância de novamente mencionar a necessidade
de mudança de cultura inserindo o “risco” como elemento
estratégico nas empresas. O mito do “gênio” está calcado na ideia
de que a pessoa que inova precisa ser altamente qualificada e às
vezes haveria a necessidade de possuir uma inteligência acima da
média quando na verdade o certo é que “você não precisa ter
doutorado em Harvad para inovar”. O quinto mito se refere a
“mania de grandeza.” Boa parte das pessoas pensam que para que
algo seja inovador tenha que causar um impacto enorme de
imediato tal como foi a invenção do facebook ou do iphone quando
na verdade é preciso compreender que há vários níveis de inovação
e todos são importantes, sendo assim, a idéia de que as pequenas
inovações não importam” torna-se um grande equívoco pois o
próprio facebook começou como algo insignificante e que parecia
que não iria gerar tanto sucesso como gera atualmente em todo o
142 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
mundo: postar fotos do que as pessoas faziam parecia soar uma
invasão de privacidade e algo fútil. Isso ocorre porque uma
inovação muitas vezes se dá como uma quebra de paradigma ou de
algum preconceito ou costume que possa influenciar pessoas e
culturas em todas as esferas da vida. As instituições de ensino,
pesquisa e desenvolvimento tecnológico são atores fundamentais
em qualquer sistema de inovação, por abrigar importantes
competências técnico-científicas e a formação de pessoal de alto
nível. Há muitas questões relevantes que a elas dizem respeito,
como a necessidade de fortalecer sua infra-estrutura de pesquisa e
desenvolvimento, qualificar ainda mais e melhor seu capital
intelectual e ampliar o acesso a essa qualidade de ensino. Destacase também a premente necessidade de maior cooperação entre as
universidades e o meio empresarial.
Quanto aos aspectos legais alguns pontos merecem reflexões
e consequentemente ações estratégicas urgentes. A lei de inovação
(lei n° 10.973/2004), regulamentada em outubro de 2005 pelo
Decreto número 5.563 tem como funções: estimular a criação de
ambientes especializados e cooperativos de inovação; estimular a
participação de Instituições Científicas e Tecnológicas (ICT) no
processo de inovação; estimular a inovação nas empresas;
estimular o inventor independente; estimular a criação de fundos
de investimentos para a inovação e tem tido relativo sucesso
resultando em maior reconhecimento do papel das ICTs na
inovação; auxiliando na legitimação das atividades em parceria
universidade-empresa e fazendo com que as atividades de
aproximação com empresas tem-se tornado parte da agenda de
pesquisa das ICTs.
Esta lei também tem forçado o estabelecimento de
mecanismos de estímulo à inovação nas empresas, reconhecendo a
importância da proteção da propriedade intelectual principalmente
nas universidades e talvez o mais importante: tem pressionado
pela emergência de novos mecanismos de gestão nas ICTs frente as
inúmeras dificuldades que a lei n° 10.973 ainda não conseguiu
Marco Antônio B. Alves; Everaldo de França; Francisco Gilson R. P. Junior | 143
solucionar ligados a excessiva burocracia existente e às
especificidades da pesquisa na academia brasileira tais como:
crescimento expressivo nos índices de produção científica em
detrimento das proteções patentárias e P&D, tendo como foco
ciência e não em resultados, dessa forma, a ciência brasileira não
tem sido refletida no PIB, o que é ruim, pois o que se investe
provenientes de impostos pagos pela população não tem tido um
retorno concreto em bem estar social e geração de empregos.
Outro ponto crítico está na Medida Provisória nº 2.186-16,
de 23 de agosto de 2001, principal instrumento da legislação
atualmente em vigor, não atendeu às expectativas de proteger o
Brasil da biopirataria, não resultou em processos de repartição de
benefícios e dificultou o avanço da pesquisa e da geração de riqueza
nacional com base na grande reserva de biodiversidade presente
em nosso território. Adicionalmente, penalizou pesquisadores e
desenvolvedores de ciência e tecnologias sem fins lucrativos,
criando impasses internos e insegurança jurídica que
comprometem a nossa soberania nacional. É, portanto, um
instrumento que necessita ser substituído o quanto antes,
preferencialmente revogado.
As ICTs precisam ficar globalmente antenadas quando o
tema é inovação e os núcleos de inovação tecnológica precisam ser
profissionalizados no sentido de funcionar como "empresas"
gestoras dos interesses intelectuais das ICTs, evoluindo para de
fato atuarem mais autonomicamente como escritórios de
transferência de tecnologia, o que já acontece globalmente. Para
tanto, o MCTI poderia repensar a personalidade jurídica dos
núcleos de inovação tecnológica que poderiam ser
institucionalizados, por exemplo, em Organizações Sociais.
Concluindo, é necessário criar mecanismos de estímulo à
pesquisa no Brasil de forma que haja um equilíbrio de forças entre
empresa, universidade e governo afim de garantir a geração de
inovação com ciência e pesquisa de alto nível resultando em uma
divisão equânime e justa das funções de cada uma dos atores que
144 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
compõem o cenário do Sistema Nacional e dos Sistemas Regionais
de Inovação.
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Capítulo 9
A percepção dos acadêmicos do curso de
logística em relação ao perfil dos professores e
processo de ensino - aprendizagem
Kelly Cristina dos Santos Lima
Kleber Abreu Sousa
Introdução
A pesquisa de satisfação é um instrumento de grande
relevância para a construção de uma educação de excelência, a
atividade de ensinar e aprender vai além de transmitir conceitos
ultrapassados, ou de repassar saber. Portanto, identificar e gerar
melhorias da imagem e do nível de satisfação constituem
preocupações constantes das Instituições de Ensino Superior - IES
empenhadas em se manter competitivas no mercado.
Assim, as IES devem identificar as necessidades atuais e
futuras da sociedade, ou da região onde estão localizadas, devendo
estar atentas às mudanças, avaliando permanentemente os
currículos, disciplinas e formas de ensino, com o processo de
melhoria contínua em parte da cultura organizacional. Esta
preocupação é também do MEC (Ministério da Educação e Cultura)
que promulgou a Lei n° 10.861, de 14 de abril de 2004, o Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que é
formado por três componentes principais: a avaliação das
instituições; dos cursos; e do desempenho dos estudantes.
148 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
O SINAES avalia todos os aspectos em torno dos três eixos: o
ensino, a pesquisa, a extensão; a responsabilidade social; o
desempenho dos alunos; a gestão da instituição; o corpo docente;
as instalações e vários outros aspectos. Tendo como um de seus
objetivos melhorar a qualidade da educação superior e orientar a
expansão da oferta, o SINAES propõe uma avaliação das IES
integrada por diversos instrumentos complementares: a autoavaliação da instituição; a avaliação externa; o ENADE (Exame
Nacional de Desempenho dos Estudantes) e as condições de ensino
e instrumentos de informação, censo e cadastro.
Tendo em vista todo o arcabouço de variáveis para serem
analisadas no que se refere à satisfação dos alunos nas instituições
de nível superior, neste caso instituição pública, este estudo, por
meio de uma pesquisa de campo, procura analisar qual o grau de
satisfação dos acadêmicos do curso de tecnologia em logística,
levando em consideração as seguintes variáveis: qualidade das
disciplinas; relacionamento do professor com o aluno; e a
infraestrutura ofertada.
2 Fundamentação teorica
Nos próximos tópicos serão descritos os eixos fundamentais
que darão base e sustentação teórica para a realização das reflexões
da pesquisa.
2.1 O Ensino de Nível Superior
O ensino superior cresce a largos passos. No passado era
voltado à transmissão do saber e a ações sociais, atualmente
destina-se à produção de bem intelectual. Essa mudança acontece
tanto na área pedagógica, quanto na área administrativa e
estrutura física. De acordo com Neves e Ramos (2001 apud Carmo;
Silva; Miranda, 2011, p. 2), no cenário atual, as instituições de
ensino superior devem preocupar-se com a manutenção de
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 149
elevados níveis de satisfação frente aos seus alunos, para tanto, não
podem limitar-se a ser simples fornecedoras de conhecimento,
necessitando estar atentas para uma contínua adaptação das suas
estruturas às transformações ocorridas no ambiente. Dessa forma,
não basta apenas transmitir o conteúdo predeterminado para o
curso, é importante que esteja adaptado à realidade dos alunos e
que o mesmo seja constantemente atualizado.
A sobrevivência e a continuidade do sucesso das IES
dependem do nível de satisfação dos discentes em relação aos
serviços prestados a eles, tanto no âmbito público como privado.
Segundo Kotler e Armstrong (2003), um serviço é uma tarefa ou
um benefício que uma parte pode oferecer a outra, que é
necessariamente intangível e que não permite na propriedade de
nenhum bem. Sua produção pode ou não estar vinculada a um
produto físico.
Já para Las Casas (2010, p. 284), “os serviços podem ser
considerados como atos, ações e desempenho, o que pode mudar é
apenas o grau de prestação de serviço que vem incluso. Cada serviço
prestado é único e resultará na satisfação ou não do cliente e
consequentemente a permanência ou não da empresa no mercado”.
De acordo com Kotler (1998, p. 459), existem quatro
características importantes nos serviços: a) Intangibilidade: não
podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos antes de serem
comprados; b) Inseparabilidade: São produzidos e consumidos
simultaneamente; c) Variabilidade: são altamente variáveis, já que
dependem de quem os executa e de onde são prestados; d)
Perecibilidade: refere-se à impossibilidade dos serviços serem
estocados.
Quanto a satisfação e o padrão de ensino é necessária a
colaboração de todos os envolvidos neste processo. Conforme
Rolim (2007) é notório que os alunos detêm responsabilidade
sobre a qualidade de sua formação, assim como o desenvolvimento
das habilidades exigidas para a prática da profissão, no entanto, as
150 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
IES partilham das mesmas responsabilidades, devendo caprichar e
garantir seu cumprimento.
Quanto à construção do profissional segundo Dencker (2002),
as universidades devem formar indivíduos para integrá-los ao
mercado de trabalho, harmonizando-o com o sistema de produção.
Portanto, proporcionar uma formação adequada, beneficia tanto o
profissional, quanto a instituição em que atua, bem como o sistema
econômico e social em que este estará inserido.
2.2 A Importância da Pesquisa de Satisfação
No mundo globalizado, a satisfação do cliente e/ou
consumidor vem sendo apontada como fator decisivo para o
sucesso em diferentes tipos de organizações. Por isso, a pesquisa de
satisfação é uma ferramenta de grande importância. Por meio dela,
os dados coletados sobre os níveis de satisfação são conhecidas,
analisadas e interpretadas. Fazendo com que os resultados sirvam
de estímulo para a adoção de um comportamento comprometido
com a qualidade dos serviços oferecidos e, por conseguinte, com os
resultados alcançados posteriormente. Pela pesquisa na IES é
possível mensurar o que os alunos estão pensando, sentido e o
quanto estão aprovando os serviços da universidade. A pesquisa
Serve para conhecê-los, saber as opiniões e sugestões, bem como
para identificar oportunidades de melhorias.
Para a realização de pesquisas de satisfação, é estabelecido um
fluxo de informações entre a administração superior e as unidades
acadêmicas, que constituirá subsídios extremamente relevantes para
o aperfeiçoamento do processo de ensino-aprendizagem e da cultura
avaliativa e administrativa da Instituição pesquisada.
Os resultados da avaliação também podem ser usados para a
gestão administrativa das unidades acadêmicas, como suporte na
elaboração de ajuste curricular, na implementação de novos
projetos pedagógicos, na melhoria das condições da estrutura
física, no planejamento orçamentário e na elaboração de planos de
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 151
trabalho capazes de corrigir as dificuldades detectadas no processo
de avaliação (UFAM, 2011, pg.23).
Observar e avaliar os processos da organização é
extremamente importante, devendo sempre visar à melhoria da
qualidade, assim consequentemente atingir a meta principal que é a
satisfação total do cliente e/ou consumidor. Desse modo, torna-se
necessária a procura da satisfação do discente no ensino superior
por meio da qualidade nos serviços prestados. As IES que zelam pela
satisfação dos discentes constituem uma parcela predominante do
mercado, mostrando-se comprometidas com a qualidade de serviços
e com os resultados alcançados junto aos mesmos.
“As universidades atuavam, há alguns anos, de forma
passiva nas questões educacionais, principalmente nas relações
com o mercado.Porém, atualmente, elas são forçadas a tornaremse pró-ativas nas suas ações estratégicas, principalmente na
identificação e satisfação das expectativas e necessidades de um
mercado cada vez mais seletivo e exigente”. (LEMKE, 2005, p. 19).
Todos procuram ter um ambiente de trabalho agradável, em
que se sintam bem em trabalhar, sintam-se motivados, para
exercer melhor suas funções. Toda instituição sempre almeja ser
melhor e para isso é imprescindível saber o que o seu cliente e
usuários de seus serviços pensam e o que eles desejam para que
possa então ir de encontro a isso e realizar ações de melhorias.
2.3 Tipos de Escala de uma Pesquisa
O levantamento de dados para pesquisa quantitativa por
meio de questionários requer cuidado especial. Deve-se considerar
que não basta apenas coletar respostas sobre questões de interesse,
mas sim saber como analisá-las estatisticamente para validação
dos resultados. Existem diversas aplicações para a pesquisa de
satisfação, são questões simples, porém que mostram muitas vezes
informações que nunca foram consideradas importantes, mas que
fazem toda a diferença.
152 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
A escolha de uma escala está relacionada com a maneira
como o entrevistado as interpretará. Ao responder a pessoa
processa mentalmente às informações e estas podem estar sujeitas
a influências que comprometem a validade das medidas que serão
utilizadas. Dentre elas estão às seguintes:
Escalas tipo Likert é uma escala composta por um conjunto
de afirmações ou itens em relação a cada uma das quais se pede ao
entrevistado que avalie para manifestar o grau de concordância
desde o discordo totalmente até ao concordo totalmente. A partir
das respostas obtidas é somando, calculando a média, do nível
selecionado para cada item. Dessa maneira a escala é dada pela
média das respostas. Valores acima de 4 (quatro) indicam muita
satisfação e valores abaixo de 3(três) indicam pouco ou nenhuma
satisfação.
Um outro tipo de escala é a de Guttman onde é elaborado
uma lista de frases relativas a um único tema, muito limitada e
repetitiva. Onde a partir das respostas dadas é determinado uma
amostra e utilizando um gráfico procede-se à eliminação de itens
que não poderão ser ordenados onde apresentam 1(um) à direita
de 0(zero) ou que se revelam dependentes uns dos outros e
estabelece-se a ordem de apresentação dos itens que foram
selecionados. As frases serão então ordenadas da mais negativa até
à mais positiva, onde, a concordância com uma delas, leva
tendencialmente à concordância com todas as anteriores.
Já na escala tipo Thurstone que é constituída por um
conjunto de frases em relação às quais o sujeito avalia devendo
manifestar o seu acordo ou desacordo. Mede-se a atitude do sujeito
fazendo a média ponderada dos itens em que houve acordo. Os
fatores são calculados na fase de construção da escala.
2.4. Formas de análise de dados de uma pesquisa
Depois de determinado qual escala será utilizada para coleta
dos dados da pesquisa é escolhido à forma como estas informações
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 153
serão tratadas. São muitas as formas de análise de dados que se
propõem a realizar este tipo de estudo, estando entre elas, à
medida de satisfação simples, a análise de gaps, o modelo I/S
(Importância/Satisfação), Survey e a abordagem multiplicativa.
(FONTENOT; HENKE; CARSON, 2005, pag. 42).
Quadro 1. Forma e descrição da análise de dados.
FORMA
DESCRIÇÃO
O entrevistado demonstra sua
satisfação com os atributos utilizando
uma escala que indicam se ele está
Satisfação Simples
muito satisfeito ou não está nada
satisfeito com o item. As médias são
calculadas, e aqueles com maiores
índices devem ser priorizados.
A análise de gaps leva em consideração,
também, a importância dos atributos
na análise. A importância é obtida por
meio de uma escala de diferencial
significativo, na qual um lado significa
Analise de Gaps
que o item é muito importante, e do
outro extremo indica que o item não é
nada importante. Assim, a importância
é considerada como medida para
indicar a expectativa de do cliente com
cada atributo, examina a oposição entre
a importância e a satisfação.
Modelo Importância Satisfação
O modelo I/S considera a satisfação
com o atributo e a importância
afirmada
pelos
entrevistados
simultaneamente. O método consiste
em utilizar os dados de satisfação e
importância declarada em um gráfico
com 4 quadrantes para se identificar as
melhorias pela comparação do índice
de satisfação e a importância dos
atributos.
154 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Esta técnica se baseia em uma
entrevista onde se utiliza questionários
com perguntas fechadas para se obter
informações padronizadas passíveis de
serem
tratadas
estatisticamente.
Constitui-se em uma das técnicas de
investigação mais utilizadas atualmente
nas pesquisas de satisfação, devido a
sua capacidade de fornecer informações
sobre as percepções e opiniões dos
públicos alvos.
Survey
Abordagem Multiplicativa
A abordagem multiplicativa usa a
importância como peso para os
atributos e elimina a idéia de
identificador da expectativa do cliente.
A diferença entre o índice mais alto
possível de satisfação (totalmente
satisfeito) e a percepção do consumidor
sobre a o produto é utilizada para obter
um índice de insatisfação.
Fonte: Elaboração própria.
2.5 Avaliação da qualidade no ensino
No processo de ensino e aprendizagem, existe uma série de
aspectos que contribuem de formas interdependentes que são de
grande importância para alcançar o objetivo proposto almejando
sempre o sucesso. Os eixos observados por este estudo levam em
consideração: a didática utilizada, o relacionamento existente entre
professores e alunos e a infraestrutura do ambiente.
De acordo com Moreira (2000) o processo de ensino
aprendizagem é constituído de quatro unidades: o professor; o
aluno; o conteúdo; e as características variáveis. Cada instituição
de ensino, cada um deles podendo manter uma influência de maior
ou menor potencial de acordo com o contexto e assim, pode-se
detectar as principais influências no processo de ensino: professor
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 155
– dimensão de relacionamento; aspectos intelectuais e técnicos
didáticos; capacidade de ensinar e comprometimento; aluno –
capacidade de aprendizagem; experiências e conhecimentos
anteriores; interesse; disposição e boa vontade; conteúdo –
adequação, significado, aplicação na pratica; instituição - sistema
da essência do processo de educação. A compreensão desses atores
e da relação entre eles e que deve ser o centro do processo de
melhoria da qualidade das IES.
A didática é uma disciplina teórico-prática que pretende
subsidiar o professor em todos os elementos constitutivos da
dinâmica escolar, quais sejam: a reflexão pedagógica necessária à
implementação de um projeto educativo, com suas concepções
explicitadas através de seus planejamentos e efetivadas através de
sua dinâmica cotidiana. (MELO; URBANETZ, 2008, p. 152).
Já a relação professor e aluno é uma das principais
preocupações do contexto educacional. É a interação entre o
professor e o aluno que conduz o processo educativo. De acordo
como essa interação acontece, a aprendizagem do aluno pode ser
mais facilitada ou dificultada, cabe a ambas as partes
determinarem o clima dessa relação. Sendo indispensável à
importância de estabelecer uma reflexão ao levar em consideração
o ambiente escolar como a instituição que tem a possibilidade de
construir o conhecimento, é necessária então a criação de
possibilidades e condições favoráveis, em que alunos e professores
possam refletir sobre as práticas utilizadas e possam construir um
ambiente harmonioso que trará mais vantagens para ambas as
parte e dessa forma contribuir para a construção e transmissão do
conhecimento. Pois segundo Freire (1989), o educador e o
educando são sujeitos do processo de educação, dessa forma,
ambos crescem juntos nessa perspectiva.
Para melhorar o ensino, de acordo com CHICKERING e
GAMSON (1991 apud Santos, 2001, pag. 5) foram criados os sete
princípios para boa pratica da educação superior, que nada mais é
que a constatação que tem como motivação o ponto de vista pratica
156 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
e minucioso resultante de anos de pesquisa em faculdades e
universidades americanas, e são eles:
1°. A boa prática encoraja o contato entre professor e aluno –
os professores que encorajam o contato com os alunos, mantêm os
motivados dentro e fora da sala de aula, tornando os mais
comprometidos e com melhor desenvolvimento pessoal e intelectual.
2°. A boa prática encoraja a cooperação entre os alunos – o
esforço do resultado em equipe é mais favorecido do que o
individual, o envolvimento com outras pessoas aumenta a
produtividade e ensina a dividir idéias.
3°. A boa prática encoraja a aprendizagem ativa – o aluno tem
que sair da postura passiva onde desempenha o papel de ouvir,
memorizar os conceitos e emitir respostas, mas falar, escrever e ter
atitude para ser um agente protagonista nesse processo. Isso pode
ser grupo ou individualmente para que isso ocorra.
4°. A boa prática fornece um feedback imediato – durante
toda a vida acadêmica o aluno deve saber identificar o que já
aprendeu, o que ainda precisa aprender e fazer essa reflexão,
lembrando que o mais importante é ter uma resposta quanto a isso
e não apenas uma medição de resultados entendendo que este é
um método continuo.
5°. A boa prática enfatiza o tempo da tarefa – aprender a
usar bem o tempo, utilizando-o de forma satisfatória e alcançar os
objetivos propostos dentro do prazo estipulado no planejamento da
grade curricular desenvolvendo todas as tarefas necessárias para o
cumprimento do conteúdo.
6°. A boa prática comunica altas expectativas – os esforços e
expectativas dos professores transpassam e criam um clima
desafiador para o aluno que dão maior valor para as matérias mais
difíceis e exigem mais interesse e dedicação.
7°. A boa prática respeita os diversos talentos e as diferentes
formas de aprendizagem – os professores devem reconhecer que
existem diversas formas e estilos de aprendizado e que isso pode ter
relação direta com a motivação, integração com a sociedade,
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 157
desenvolvimento intelectual, entre outras, fazendo o professor variar
continuamente seus métodos e técnicas objetivando satisfazer os
diferentes tipos de alunos e ser sensível respeitando a
individualidade de cada um. Estes princípios contribuem para
compreensão e melhoria do processo ensino aprendizagem. Os
mesmos são adequados a qualquer curso e a qualquer tipo de aluno.
O espaço físico escolar também possui grande relevância para
todos que desfrutar deste, seja como aluno ou professor, uma vez
que este será local diário de estudo, discussões, debates, reflexões,
convívios sociais e de lazer. Devendo este ser convidativo,
representando relações de afetividade, que pode se manifestar
através de observação visual e também estética. Torna-se mais
agradável e prazeroso está em um ambiente que atenda a todas as
necessidades e que colabore para um melhor desenvolvimento.
3. Procedimentos metodológicos
O presente estudo teve abordagem quali-quantitativa para
seu desenvolvimento, seu objetivo é medir o nível de satisfação dos
acadêmicos do curso de Tecnólogo em Logística da Universidade
Federal do Tocantins Campus Araguaína em relação as disciplinas
ministradas, a didática utilizada e a infraestrutura oferecidos pela
Universidade. Por isso, neste artigo foi utilizada a abordagem
qualitativa, conforme Malhotra (2001, p. 155), “é uma metodologia
de pesquisa não-estruturada, exploratória, baseada em pequenas
amostras que proporcionam insights e compreensão do contexto
do problema”.
Roesch (1999) afirma dizendo que na pesquisa qualitativa o
pesquisador, utilizando-se de perguntas, pode colher as
expectativas dos entrevistados. Após a coleta dos dados realizada
no primeiro momento, houve a necessidade de quantificar as
impressões colhidas na pesquisa qualitativa. Os depoimentos
foram transformados em números para medir o significado das
respostas, que traz uma melhor compreensão. Quanto ao tipo da
158 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
pesquisa é definida como bibliográfica por utiliza-se de opiniões de
autores renomados e estudiosos nesta área, e também foi
empregada a pesquisa de campo onde através de um questionário
elaborado com perguntas fechadas foi determinado o nível de
satisfação dos entrevistados.
4. Análise dos resultados
Foram aplicados três questionários, sendo: um relacionado
aos processos didáticos utilizados pelos professores que constavam
num total de 11 (onze) perguntas; o segundo referia-se ao
relacionamento dos professores com os alunos que tinham 8 (oito)
perguntas e o terceiro apresentava 11(onze) questões a respeito da
infraestrutura do campus da universidade. A coleta de dados foi
realizada no período de nove a treze de maio de dois mil e
dezesseis no turno matutino e noturno. Nesta pesquisa utilizou-se
uma amostra de 44 alunos do curso de Gestão em Tecnologia em
Logística. Foram colocados no quadro, os percentuais de maior
incidência. O quadro a seguir demonstra de forma detalhada o
resultado:
Quadro 2. Procedimentos Didáticos.
PROCESSOS DIDÁTICOS
Afirma
ção
CLAREZA
E
OBJETIVI
DADE
CUMPRI
MENTO
DOS
HORÁRI
OS
USO DE
DIFERE
N
TES
RECURS
OS
DEMON
S
TRAÇÃ
O DE
SEGUR
AN
ÇA E
DOMÍNI
O DO
CONTE
ÚDO
PROMO
ÇÃO DA
INTERA
ÇÃO NA
AULA
UTILIZ
A
ÇÃO
DAS
VÁRIAS
FORMA
S DE
AVALIA
ÇÃO
ESTIMU
LA A
RELAÇÃ
O DA
TEORIA
COM A
PRÁTIC
A
41,18%
Concorda
m
52,94%
Concor
dam
47,07%
Concor
dam
41,18%
Concor
dam
32,35%
Concor
dam
32,35%
Concor
dam
44,12%
Concor
dam
Profes
sor
(A)
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 159
(B)
28,00%
Concorda
m
52,00%
Concor
dam
52,00%
Concor
dam
32,00%
Concor
dam
40,00
%
Concor
dam
40,00
%
Concor
dam
40,00
%
Concor
dam
(C)
73,68%
Concorda
m
63,16%
Concor
dam
81,58%
Concor
dam
92,11%
Concor
dam
81,58%
Concor
dam
63,16%
Concor
dam
(D)
70,59%
Concorda
m
67,65%
Concor
dam
32,35%
Concor
da
79,41%
Concor
dam
38,24%
Concor
dam
26,47%
Concor
dam
86,84
%
Concor
dam
64,71%
Concor
dam
(E)
35,29%
Concorda
m
38,24%
Concor
dam
38,24%
Concor
dam
41,18%
Concor
dam
38,24%
Concor
dam
29,41%
Concor
dam
32,35%
Concor
dam
(F)
62,86%
Concorda
m
51,43%
Concor
dam
51,43%
Concor
dam
42,86%
Concor
dam
51,43%
Concor
dam
37,14%
Concor
dam
42,86%
Concor
dam
(G)
67,86%
Concorda
m
53,57%
Concor
dam
53,57%
Concor
dam
64,29%
Concor
dam
53,57%
Concor
dam
46,43%
Concor
dam
42,86%
Concor
dam
(H)
31,58 %
Concorda
m
47,37%
Concor
dam
36,84%
Concor
dam
31,58%
Concor
dam
42,11%
Concor
dam
31,58%
Concor
dam
42,11%
Concor
dam
Fonte: Elaboração própria.
Em relação aos processos didáticos, as variações de percentual
em relação à clareza e objetividade obedeceram a uma máxima de
73,68% e uma mínima de 28%. A maior parte dos professores
conseguem se expressar de modo a passar para seus alunos os
conteúdos pré-estabelecidos de forma clara e objetiva em suas aulas.
Como proposta, seria necessário um treinamento ou oficinas
pedagógicas continuas para ser trabalhada a forma de se comunicar
e se expressar de modo que esta seja utilizada como a ferramenta
indispensável no processo de ensino e aprendizagem. Quanto ao
cumprimento dos horários o maior índice foi 67,65% e o menor de
38,24% apontando que, grande parte dos professores seguem os
160 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
horários cumprindo-os fielmente, tanto de início como do final de
cada aula; no quesito relacionado ao uso de diferentes recursos
(vídeos, discussão, seminários, estudo de caso, visitas técnicas, etc)
como estratégias para ministrar as aulas 81,58% foi o índice mais
elevado e 32,35% o menor, isso afirma que os professores deverão
deixar para traz as aulas monótonas e cansativas e utilizar técnicas
novas, diversificar suas aulas, fazer com que elas sejam mais
motivadoras, interessantes, e chamem mais a atenção dos alunos,
possibilitando uma melhor assimilação e entendimento do conteúdo.
Como sugestões deveriam acontecer cursos, oficinas e até conversas
entre os próprios professores onde poderão trocar conhecimentos e
experiências, uma vez que alguns professores tiveram um índice
muito alto quanto esse item e estes podem repassar suas técnicas
para os colegas, além de utilizar métodos como jogos, grupos de
discussão, simulações, estudos de caso e laboratórios.
Os
percentuais aferidos para segurança e domínio do conteúdo foram:
92,11% como o maior e 31,58% como o menor, isso demonstra que
os docentes em sua maioria demonstram conhecimento e afinidade
com os assuntos e matérias ministradas, passando confiança para
seus alunos. Como recomendação fica de interar-se com os assuntos
e buscar conhecimento a respeito para que isso possa dar suporte e
argumentação na discussão dos temas e proporcionar segurança e
experiência na docência que também contribuirá de forma positiva
para essa situação ser contornada. Quanto à interação nas aulas foi
obtido um percentual de 81,58% como o índice máximo e 32,35%
de mínimo, permitindo afirmar que os professores promovem a
interação, proporcionando, assim, a troca de conhecimentos e
experiências dos alunos no momento em que ministram suas aulas,
mas que isso pode ser melhorado e promovido pelo professor,
utilizando técnicas que estimulem o pensamento, questionamento e
a discussão sobre assuntos relevantes.
No que diz respeito às formas de avaliação utilizadas pelos
professores, foi observado como maior índice 63,16% e como menor
de 26,47%, os números asseguram dizer que precisa urgentemente
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 161
modificar ou reformular a maneira como é feita a pontuação das
notas, deixar de utilizar apenas uma maneira e realizar outras
atividades que também possam trazer pontuação no decorrer do
semestre, dividindo o peso das notas para atingir a média
estabelecida para aprovação na matéria, este foi o menor índice
obtido na coleta de dados desta pesquisa e merece um maior
cuidado ao ser analisado. Para o item referente à relação teoria e
prática dos conteúdos foi apurado como índice máximo 86,84%,
este item se manteve equilibrado para todos os professores o que
permite apontar a existência da associação da teoria e prática. Mais
como sugestões deverão usar mais exemplos práticos de empresas
da região e acontecer mais visitas nas mesmas, promover pesquisas
de campo, ter mais proximidade das atividades desenvolvidas pela
logística. Já no quadro 3 estão representados em números de maior
ocorrência na opinião dos alunos no que diz respeito ao
relacionamento existente entre os professores e os alunos.
Quadro 3: Relacionamento com aluno.
RELACIONAMENTO COM ALUNO
EIXOS
POST
URA
ÉTICA
E
RESP
EITO
PROFES
SORES
(A)
73,53
%
Conco
rdam
PREO
CUPA
ÇÃO
COM
APRE
NDI
ZAGE
M
DOS
ALUN
OS
38,24
%
Conco
rdam
ATEN
ÇÃO E
DISP
OSI
ÇÃO
PARA
AJUD
AR
CONSIDE
RAÇÃO
QUANTO
A
INDIVIDU
ALIDADE
DE CADA
UM
44,12
%
Conco
rdam
32,35%
Concorda
m
PARTI
CI
PAÇÃ
O EM
ATIVI
DA
DES
EXTR
A
CLAS
SES
26,47
%
Conco
rdam
ABER
TURA
À
NOVA
S
IDÉIA
S
TRA
TA
MEN
TO
DE
FOR
MA
COR
DIAL
41,18
%
Conco
r-dam
47,0
6%
Conc
ordam
162 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
(B)
64,00
%
Conco
rdam
48,00
%
Conco
rdam
52,00
%
Conco
rdam
32,00%
Concorda
m
48,00
%
Conco
rdam
56,00
%
Conco
r-dam
(C)
73,68
%
Conco
rdam
47,68
%
Conco
rdam
50,00
%
Conco
rdam
34,21%
Concorda
m
65,79
%
Conco
rdam
63,16
%
Conco
r-dam
(D)
79,41
%
Conco
rdam
50,00
%
Conco
rdam
55,88
%
Conco
rdam
32,35%
Concorda
m
47,06
%
Conco
rdam
47,06
%
Conco
r-dam
(E)
52,94
%
Conco
rdam
47,06
%
Conco
rdam
38,24
%
Conco
rdam
38,24%
Concorda
m
32,35
%
Conco
rdam
44,12
%
Conco
r-dam
(F)
65,71
%
Conco
rdam
40,00
%
Conco
rdam
48,57
%
Conco
rdam
42,86%
Concorda
m
40,00
%
Conco
rdam
48,57
%
Conco
r-dam
(G)
67,86
%
Conco
rdam
46,43
%
Conco
rdam
53,57
%
Conco
rdam
53,57%
Concorda
m
53,57
%
Conco
rdam
57,14
%
Conco
r-dam
53,5
7%
Conc
ordam
(H)
47,37
%
Conco
rdam
42,11
%
Conco
rdam
36,84
%
Conco
rdam
26,32%
Concorda
m
31,58
%
Conco
rdam
52,63
%
Conco
r-dam
47,3
7%
Conc
ordam
Fonte: Elaboração própria.
60,0
0%
Conc
ordam
63,1
6%
Conc
ordam
58,8
5%
Conc
ordam
50,0
0%
Conc
ordam
60,0
0%
Conc
ordam
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 163
Quanto ao item postura e a ética dos professores o maior
índice apurado foi 79,41% e o menor foi 47,37% o que permite
afirmar que os alunos concordam que eles assumem totalmente
uma postura pautada no respeito e na ética profissional e pessoal,
tendo uma conduta que obedece aos padrões e valores, tanto da
sociedade, quanto da própria universidade. Na avaliação da
preocupação com a aprendizagem dos alunos, a máxima foi 50% e
a mínima 38,24%, os números demonstram que os alunos não
percebem que exista atenção e o cuidado por parte dos professores
em relação à transmissão do conhecimento de forma que todos
compreendam e assim proporcione de forma ampla a
aprendizagem de todos os alunos. Como sugestão deveria existir
um pouco de diálogo a este respeito, para que os alunos entendam
o quanto é importante para os professores que seus alunos
compreendam e entendam o conhecimento o qual eles estão
repassando e o dever que eles têm de se comprometer com o
próprio desenvolvimento contínuo e se comportar de maneira a
alcançar suas metas pessoais e objetivos da universidade
desempenhando sua função de ensinar com excelência,
automaticamente estarão contribuindo com o todo. E que tudo isso
é refletido no desempenho dos alunos.
Para o item atenção e disposição para ajudar foi aferido os
percentuais 55,88% como o maior e de 36,84% o menor, os
alunos concordam que a maioria dos professores possuem vontade
de ajudar e disponibilizam horários destinados exclusivamente
para auxiliar seus alunos, além de que são acessíveis tanto no
campus como por meios digitais de comunicação.
Em relação à consideração da individualidade opinaram
53,57% na sua maioria e o menor índice foi 26,32% dos
respondentes dizem que os professores consideram a
individualidade de cada um, a maneira exclusiva que cada aluno
tem em relação ao grupo, quanto à forma e o tempo que cada um
aprende.
164 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Com relação à participação de atividades extraclasse foi
conferido que o maior percentual foi 65,79% e o menor 26,47%
observa-se que os índices se mantiveram bem estáveis
independentes dos professores, isso significa que os professores
pouco participam desse tipo de atividade e deverão ser planejadas,
organizadas e implementadas com maior freqüência no curso,
mais que para isso acontecer e necessário total cooperação,
envolvimento e participação dos professores inclusive para
incentivar os alunos.
Na questão do professor estão abertos as novas idéias que
não é apenas tolerar opiniões distintas, mas ter diferentes formas
de pensar sobre diversas questões que podem gerar indagações
que levam a uma melhor tomada de decisão, uma maior
criatividade pessoal, e pode até ajudar a reafirmar posições com
clareza ou apenas reafirmar idéias atuais.
As porcentagens aferidas quanto ao tratamento da forma
cordial foi 63,16% foram à máxima e 47,06% a mínima, os alunos
comprovam que os professores são sempre cordiais, sendo
educados, afetuosos, amigáveis, tornando a relação sempre mais
fácil e amistosa para ambas as partes.
O quadro 4 apresenta o entendimento dos alunos no tocante
a infraestrutura do Campus Cimba que segue demonstrando
apenas o índice que obteve um percentual com maior ocorrência:
Quadro 4. Infraestrutura
INFRAESTRUTURA
Eixos Analisados
Satisfeito
Insatisfeito
Quanto à iluminação das salas.
61,36%
38,64%
Quanto à limpeza das salas.
68,18%
31,82%
Quanto ao conforto das salas.
65,91%
34,09%
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 165
Quanto à acessibilidade inclusive para
portadores de necessidades especiais
30,91 %
69,09%
Quanto à biblioteca
Quanto à iluminação do campus
Quanto ao estacionamento
60,55%
70,73%
52,73%
39,45%
29,27%
47,27 %
Quanto ao espaço para grandes eventos
33,18%
66,18%
Quanto à segurança dentro do campus
61,94%
38,06%
Quanto à quantidade e disponibilidade das
70,45%
salas de aula
Quanto ao espaço dedicado a pratica de
31,82%
esportes e ou atividades de lazer
Fonte: Elaboração própria
29,55%
68,18%
Quanto às afirmações presentes nos questionários aplicados
61,36% concordam que as salas são bem iluminadas; 68,18% que
estão sempre limpas; 65,91% que são confortáveis e 70,45% que a
disposição e quantidade são suficientes para atender toda a
demanda de alunos, ou seja, em relação as salas a maioria se
posicionaram positivamente e aprova a maneira cada elas se
apresentam.
Cerca de 69,09% dos entrevistados não concordam que os
blocos possuem acessibilidade, por estar mal distribuído, não
possuírem cobertura caso seja necessária o deslocamento em dias
chuvosos, além de existir uma dificuldade em identificá-los
inclusive por curso e que é difícil andar pelo campus devido ao
bloqueio de algumas áreas em consequência de obras é que isso se
torna bem mais difícil para os portadores de necessidades
especiais.
No que diz respeito à biblioteca 60,55% dos alunos que
responderam o questionário manifestaram está satisfeito, mas que
a biblioteca deveria disponibilizar uma variedade maior de
publicações e que as mesmas fossem atualizadas e que poderia ser
ampliado o espaço que hoje comporta uma quantidade limitada de
estudantes.
166 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Em relação à iluminação do campus 70,73% relataram
concordar que ela seja suficiente e que traga tranquilidade para
quem transita pelo local, 61,94% dos entrevistados dizem
concordar que se sintam seguros dentro do campus da
universidade.
No que diz respeito ao estacionamento, a maior parte dos
alunos afirma que está um pouco confuso com espaço insuficiente
e mal organizado e 52,73% concordam que não tem dificuldade
para estacionar seus veículos.
Quanto aos espaços dedicados a atividades especificas a
grande maioria afirma que eles não existem 66,18% discorda
totalmente que a UFT tenha espaço dedicado à realização de
grandes eventos como a cerimônia de colação de grau, por
exemplo, assim como 68,18% se manifestou contrários a
afirmação de que a universidade disponibiliza um local para a
prática de esportes e lazer no campus.
5 Conclusões e recomendações
O presente estudo foi desenvolvido com o propósito de
investigar a satisfação dos alunos do curso superior de tecnologia
em logística da Universidade Federal do Tocantins – UFT foi
aplicado uma pesquisa em relação aos atributos pedagógicos dos
docentes que compõem o referido curso e ao espaço físico. Para
isso, foi realizada uma pesquisa de campo, mediante a aplicação de
um questionário formulado com base em três eixos fundamentais:
infraestrutura, ensino aprendizagem e relacionamento.
Especificamente, foi analisada a opinião dos alunos em relação à
infraestrutura geral da universidade examinando também a
opinião dos acadêmicos com relação à qualidade do ensino,
identificando a didática utilizada pelos docentes, assim como o
relacionamento que existe entre os professores e alunos.
Os resultados gerados nos permitem afirmar no que se
refere à clareza e objetividade os professores conseguem de forma
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 167
geral se expressar de maneira que seja compreendido e que a
comunicação aconteça plenamente, mas deve ser levado em
consideração que alguns professores devem trabalhar um pouco
mais essa questão, pois os alunos demonstram uma certa
dificuldade em entender o que eles dizem ou utilizar uma
linguagem menos técnica para facilitar a compreensão.
Em relação ao cumprimento de horários das aulas é notório
e expressivo o resultado que atesta que os docentes seguem com
rigor e pontualidade o momento que inicia e termina cada aula,
não havendo faltas injustificadas e ausências repentinas, onde é
comunicado com antecedência o não comparecimento e
expressado os motivos por não ter determinada aula, assim como
quando necessário, é realizada a reposição da mesma.
Quanto ao uso de diferentes recursos para ministrar as
aulas, o percentual aferido certifica que os professores estão em
sua zona de conforto e que cada um, da sua maneira oferece
poucos ou quase nenhuma diversificação na aplicação de meios
para proporcionar uma aula mais participativa e criativa. E que
apenas um deles consegue demonstrar de inúmeras formas e ações
o uso de diferentes praticas para auxiliar o ensino dos conteúdos
tornando suas aulas mais práticas, divertida e proveitosa.
De acordo com a pesquisa no que se refere à demonstração
de segurança e domínio do conteúdo explanado poucos
demonstram uma certa imaturidade que pode ser remetida a
pouca experiência, e que isso pode ser sanado através de oficinas
que trabalharão a segurança ao falar e discutir determinados
assuntos e que a experiência adquirida com o passar do tempo
também ajudará para que possa ser melhorado esse índice. No
entanto, os professores que possuem um pouco mais de
experiência em sala de aula, mostram total desenvoltura,
desembaraço, naturalidade e sentem se completamente à vontade,
isso é refletido para os alunos no decorrer das aulas.
A respeito da promoção da interação dos alunos na aula
observa-se que para que aconteça de fato, é necessário, que os
168 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
professores utilizem práticas que irão subsidiar e favorecer está
comunicação e troca de conhecimento. O professor deverá ser o
agente que conduz de maneira efetiva esse processo oportunizando
os alunos a se manifestar durante o debate de assuntos nas aulas
podendo expor suas idéias e opiniões. Lembrando que mesmo que
discretamente, isso já ocorre em algumas aulas, mais que poderá
ser realizado com maior intensidade em todas as disciplinas.
No item que se refere à utilização de vários tipos de
avaliação, foi demonstrado o menor índice encontrado revelando
que os alunos de modo geral apontam que os professores estão
utilizando um método conservador, tradicional e único para avaliar
o conhecimento do aluno, não que este seja ineficaz, mas que
poderão incorporar outros aspectos para chegar à avaliação final e
não cometer falhas nesse que é um dos passos fundamentais para
mensurar o conhecimento obtido.
Os índices apurados quanto a estimular a relação teoria e
prática foram satisfatórios e poderão ser mais aplicados com
exemplificação de situações reais, que sejam promovidas visitas
técnicas, estudos de campo, pesquisas, pois a ação possibilita a
geração de conhecimento de forma natural e duradoura. No
resultado geral, os professores foram bem avaliados quanto aos
seus processos didáticos, mas que podem fazer algumas
reformulações e adicionar a seu portfólio uma pouco mais de
opções e ousar mais da criatividade e na inovação.
Quanto ao relacionamento aluno e professor os resultados
mostraram positivamente o modo como os alunos sentem essa
relação, pois os professores são vistos como referências de
comportamentos, valores e atitudes, levando em consideração o
modelo de conduta profissional e pessoal de cada um deles.
Observando a dimensão da importância de estar num local onde
pode-se expor sem medo e sem receio sendo mais criativos e
espontâneos.
No entanto, se a universidade promover ao acadêmico um
clima o qual ele esteja à vontade para se colocar, seja em forma de
Kelly Cristina dos Santos Lima; Kleber Abreu Sousa | 169
palavras ou comportamentos, o aprendizado poderá ser mais
proveitoso. Em respeito aos itens do questionário, foi elogiado a
postura ética e profissional adotada pelos professores assim como
o tratamento cordial e respeitoso que eles demonstram como seus
alunos, além de transmitir atenção e pronta disposição para ajudar
e auxiliar sempre que necessário, estão abertos a questionamentos
e acolhimentos de novas idéias e pensamentos, mesmo que estas
sejam distintas das suas, dando liberdade de expressão de opiniões,
e que deverão mostrar um pouco mais a preocupação e
compromisso em conseguir repassar o conhecimento para os
alunos e proporcionar mais participação dentro de sala quanto em
atividades extraclasse sempre respeitando a individualidade e
particularidade de cada um.
Os resultados obtidos sobre a infraestrutura do campus não
foram satisfatório, pois, ressalvando apenas o item relativo à
limpeza, iluminação, conforto, quantidade e disposição das salas de
aulas, que tiveram um índice mediano onde as condições são
consideradas aceitável para maior parte, já para o item
acessibilidade deixa a desejar, observando que a disposição dos
blocos são confusas, não existe passarelas com cobertura adequada
para facilitar o deslocamento e que o trajeto torna-se quase que
impossível para um portador de necessidade especial, que os
blocos mais novos possuem elevadores mais impossibilitados de
uso e que as escadas não permitem o acesso de cadeirantes e
pessoas que tenham dificuldade de mobilidade, o estacionamento
precisa de mais organização e iluminação.
A biblioteca tem sua importância e apesar de ser muito
pequena e não disponibilizar um grande acervo tem oferecido
publicações que muito ajudam nos estudos.
A maior reivindicação é que o campus deveria dispor de um
auditório composto de equipamentos necessário para acomodar
participantes de grandes eventos da universidade inclusive as
formaturas, e proporcionar também um ambiente de interação
social e lazer além de dispor de espaço para pratica de esportes.
170 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Todos estes itens avaliados contribuem para a necessidade de
revisão dos projetos de engenharia e do uso adequado dos espaços
disponíveis.
O estudo aponta a necessidade de elaboração estratégias
pedagógicas, e mais ação para o NDE – Núcleo Docente
Estruturante.
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ANUAL DA ANPAD, 29, 2005, Salvador. Anais … Brasília: ANPAD, 2005.
Capítulo 10
Patentes como fonte de informação tecnológica
na educação profissional
Everaldo de França
Patrícia Silva Ferreira
Ludmila Gaspar
Patrícia Trotte Caloiero
Patente
Considera-se Patente um documento formal, expedido por
uma repartição pública, por meio do qual se conferem e se
reconhecem direitos de propriedade e uso exclusivo para uma
invenção (ou modelo de utilizade) descrita amplamente, de
maneira que possa ser reproduzida para qua hava avanco
tecnológico. Trata-se de um privilégio temporário concedido pelo
Estado aos inventores (pessoas física ou jurídica) detentores do
direito de invenção de produtos e processos de fabricação, ou
aperfeiçoamento de algum já existente (INPI, 2018; SEBRAE,
2018).
A patente é um documento riquíssimo em informações
tecnológicas.
A reprodução de uma patente com finalidades comerciais é
considerada uma infração com prevista penalidades previstas da
Lei de Propriedade Industrial.
174 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Informação tecnológica
Considera-se Informação tecnológica se refere a todo tipo de
conhecimento sobre tecnologias de fabricação, de projeto e de
gestão que favoreça a melhoria contínua da qualidade e a inovação
no setor produtivo (ALVARES, 1998).
O uso da informação tecnológica com finalidades comerciais
não é considerada uma infração com prevista penalidades
previstas da Lei de Propriedade Industrial. Muito pelo contrário. A
concessão de uma patente (para ser explorada comercialmente por
um determinado tempo de exclusividade) está necessariamente
condicionada a divulgação detalhada de informações tecnológicas
que permitam o avanço tecnológico, diversificação de produtos,
soluções alternativas, aplicação em outros setores industriais, etc.
Introdução
A necessidade de implementação e uso de novas tecnologias
na educação requer um repensar da prática pedagógica em sala de
aula e a adequação nos currículos de maneira que contemple o
acesso e uso de informações relevantes para melhorar ainda mais a
formação do aluno, em especial aqueles dos cursos técnicos
profissionalizantes.
Os Institutos Federais (IFs) têm como foco a execução das
políticas públicas definidas pelo Governo, tendo como prioridade a
formação para o trabalho, visando minimizar desigualdades e
promoção da inclusão social. Os IFs têm atuação prevista em lei de
ofertar uma formação educacional (técnica, científica e tecnológica)
em todos os níveis e modalidades de ensino – da educação básica
até a pós-graduação; assim como, o de promover o
desenvolvimento da pesquisa aplicada e as parcerias com empresas
e outras Instituições; promover a extensão tecnológica e o
desenvolvimento dos arranjos produtivos locais, entre outros
enfoques (BRASIL, 2008; MEC, 2008). Há uma forte relação entre
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 175
a inclusão social e a formação para o mercado de trabalho, assim
como na colaboração para o aumento da competitividade
econômica e geração de tecnologias que melhorem a qualidade de
vida e renda das pessoas. Assim o desenvolvimento econômico e
social de uma nação pode ser medido pelo grau de colaboração
entre os diferentes agentes que participam da economia e da
produção do conhecimento científico e também tecnológico.
Nos IFs, a formação educacional considera a pesquisa como
princípio educativo, e como um estímulo à criatividade, mas ao
mesmo tempo a pressupõe também no itinerário formativo, na
vivência de processos investigativos que visam resolver problemas
e a interferência na realidade dos setores produtivos (PINHEIROMACHADO e FERREIRA, 2015).
Observando mais cuidadosamente o contexto da
profissionalização dos IFs vemos que a pesquisa e a extensão estão
relacionadas com a formação acadêmica direcionada ao mundo do
trabalho, formalizadas na forma de estágios em empresas, na
realização de atividades profissionais supervisionadas, no
desenvolvimento de projetos de pesquisa aplicada, e na elaboração
de soluções técnicas e tecnológicas para os setores produtivos
(MEC, 2008).
Há uma perspectiva de inovação organizacional na
proposição dos IFs, cujas expectativas se somam a uma demanda
dada aos IFs de atuarem sobre os sistemas produtivos locais, sem
que necessariamente, haja relação direta e clara com Sistemas
Setoriais de Inovação, mas pelo contexto poderíamos considerar
que as ações dos IFs claramente repercutem nestes Sistemas,
justamente pela formação de Recursos Humanos (RH) mais
adequados aos contextos regionais e locais de produção e emprego
(PINHEIRO-MACHADO e FERREIRA, 2015; FERREIRA, 2013). Uma
questão importante é a geração de competências nos IFs para lidar
com a produção do conhecimento científico e tecnológico e
interagir com as empresas em um nível que vá além da oferta de
serviços técnicos.
176 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
A inserção da visão da pesquisa e extensão associadas ao
ensino abre para uma reflexão da educação profissional dos IFs,
que venha promover formação de profissionais que sejam mais
proativos frente aos problemas e das demandas por inovações no
mercado e nas empresas de forma geral (FERREIRA, 2013). Desta
forma o uso de patentes como fonte de informação técnica pode
ser extremamente estratégico para formação profissional.
Entende-se por Patente um título de propriedade temporária
sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado
aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas
detentoras de direitos sobre a criação. Com este direito, o inventor
ou o detentor da patente tem o direito de impedir terceiros, sem o
seu consentimento, de produzir, usar, colocar a venda, vender ou
importar produto objeto de sua patente e/ ou processo ou produto
obtido diretamente por processo por ele patenteado. Em
contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo
o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente.
E existe hoje uma carência no mercado de trabalho por
profissionais que possuam a(s) competência(s) de buscar
informações em patentes, interpretá-las e usá-las de forma efetiva.
Um dos grandes problemas que não facilitam o uso da patente
como fonte de informação é o fato da patente não ser apresentada
no ensino básico, técnico/tecnológico e nem no ensino superior
(MENEZES et al, 2015; BIAGGI et al, 2014). Dificilmente temas
como esses estão incluídos na formação profissional de maneira
atualizada e estratégica.
Nestas experiências e com o uso das informações de PI a
interação entre empresas, professores e estudantes pode se
modificar e/ou se intensificar tendo como resultado, a geração de
conhecimentos que venham a ser incorporados ao ensino.
As instituições e empresas de pesquisa governamentais e
privadas, assim como as universidades brasileiras e os institutos
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 177
federais formam capital humano 1 com potencial para inovação
(PINHEIRO-MACHADO e FERREIRA, 2015), mas apresentam
dificuldade no uso estratégico, e mesmo regular, dos instrumentos
de proteção em PI. Esta situação promove um “vazio” entre o
conhecimento científico produzido pelas Instituições de Ciência e
Tecnologia (ICT) e o desenvolvimento tecnológico das empresas.
Alguns autores discutem esse uso ineficiente do sistema de PI, uma
vez que o país tem uma grande produção acadêmica e cientifica na
forma de artigos e publicações, mas um nível de produção de
patentes muito inferior ao esperado para um país com capacidade e
criatividade do Brasil (LASTRES et al, 2005; MENEZES et al, 2015).
Por outro lado, é sabido que mais de 70% das informações
tecnológicas estão contidas apenas nos documentos de patente e
em nenhum outro lugar (CZAJKOWSKI, 2010), ou seja, uma
informação que pode ser aproveitada como estado da arte para
novas pesquisas científicas e tecnológicas evitando assim o
desperdício de tempo e de recursos. Na elaboração de uma
dissertação de mestrado e tese de doutorado, o acesso aos bancos
de dados de patentes pode significar o ponto de partida do
desenvolvimento de um produto ou processo industrial com
novidade, atividade inventiva e aplicação direta para a indústria, ou
seja, a disseminação de um conhecimento na forma de produto ou
processo para resolver problemas técnicos do mercado e atender as
demandas de necessidades e desejos da população.
Ai reside a importância da disseminação desse tipo de
conhecimento. Para as ICTs além do ponto de vista econômico há
que se considerar o atraso científico pela investigação científica
quando não se acessam informações tecnológicas detalhadas e
relevantes disponíveis apenas nesses bancos de dados.
1
O capital humano, são as pessoas, isto é o recurso humano – considerando as suas competências
técnicas, intelectuais e sociais para gerar e utilizar conhecimento. Também é considerado como parte
do capital intelectual de uma organização (ativo intangível) e um dos insumos principais para gestão
da inovação (FREEMAN e SOETE, 2008).
178 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
As patentes apresentam o que há de mais atualizado em
desenvolvimento técnico e tecnológico e se forem exploradas como
fontes de informações complementares ao livro didático, na
elaboração de estudos de casos e abordagens de evolução
tecnológica poderão ser muito úteis na formação profissional,
cientifica e tecnológica.
Os bancos de dados de informação tecnológica constituem-se
numa excelente ferramenta para novos investimentos em produtos
e processos na indústria e até para inovação em serviços.
Nesse sentido, este trabalho tem por objetivo evidenciar a
importância do Sistema de Propriedade Intelectual e de seus ativos
intangíveis, em particular as patentes, como fonte de informação
tecnológica 2 , para o aprimoramento da educação técnica e
profissional, tendo em vista o desenvolvimento tecnológico do país.
1. Metodologia
O presente estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica e
documental buscando evidenciar todas as informações contidas
num documento de patente e seu valor estratégico para o ensino
profissional. As informações de uma patente foram sistematizadas
a partir da literatura consultada e de dados oficiais no sítio do INPI
e organizados tendo como leitura o conhecimento técnico da área
tecnológica, a área produtiva onde se insere a tecnologia, o perfil
do depositante, as parcerias institucionais, os inventores, a região
do país/estado, entre outros pontos.
2
A informação tecnológica é todo conhecimento sobre tecnologias de fabricação, de projeto e gestão,
que possa viabilizar e favorecer mais qualidade de produtos e serviços para determinado setor
econômico. Pode ser encontrada em artigos científicos, livros e também em documentos de base
tecnológica como o caso das patentes (TIGRE, 2006; FREEMAN e SOETE, 2008).
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 179
O Sistema de Propriedade Intelectual
O Sistema de Propriedade Intelectual engloba um conjunto
de direitos imateriais e mecanismos de proteção sobre as criações
do intelecto humano, que possuem valor econômico, também
chamados “ativos intangíveis3”.
Este sistema é regido por um conjunto de leis e códigos,
nacionais e internacionais que protegem os ativos intangíveis.
Segundo BOCCHINO e colaboradores (2011) no Brasil, está
estruturado da seguinte forma: Propriedade Industrial (PI) concessão de Patentes e de modelos de utilidade, Registro de
Marcas, Desenhos Industriais, Indicações Geográficas (Lei
9.279/96) (BRASIL, 1996), Direitos de autor: proteção de
Músicas, Obras de Artes, Obras Literárias (Lei 9.610/98), e
Programas de Computador (Lei 9.609/98) e outros mecanismos
sui generis tais como, proteção de Cultivares (Lei 9.456/97), de
Circuitos Integrados (Lei 11.484/07) de Células-Tronco, de
organismos Transgênicos (Lei de Biossegurança, 11.105/05), do
Patrimônio genético e dos Conhecimentos Tradicionais (Lei nº
13.123) (BRASIL, 2015, 2016).
Com a Lei nº 11.638 (2007), tais ativos passaram a fazer
parte do patrimônio das empresas brasileiras como um subgrupo
destacado, denominado Ativos Intangíveis, no grupo dos Ativos,
com possibilidade de mensuração, por exemplo, das patentes, na
contabilidade da empresa (ADRIANO e ANTUNES, 2017).
Os ativos de PI podem ser muito úteis e importantes na
construção das relações entre os agentes econômicos, pois
permitem a formalização de contratos, parcerias, entre outros
mecanismos, que são adotados nos modelos de gestão da inovação
(FREEMAN e SOETE, 2008). A formalização destes mecanismos
(de contratos, parcerias, entre outros) é considerada fundamental
3
Os ativos intangíveis são baseados em conhecimento, têm alto valor agregado e sendo passíveis de
proteção podem ser negociáveis, tais como: marcas, patentes, desenho industrial, entre outros
(TIGRE, 2006).
180 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
para o desenvolvimento econômico e social, mas só podem ser
feitos se houver a figura do ativo intangível protegido4.
Ainda assim, ao se proteger um ativo, ocorre um movimento
intrínseco de reconhecimento da autoria ou da criação, mas
também de divulgação e disseminação da informação técnica. O
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI)5 é a instituição
governamental responsável pelo registro da maior parte dos ativos
de PI no Brasil, como na concessão de patentes, no registro de
marcas, das indicações geográficas, dos desenhos industriais, das
franquias empresariais, dos contratos de transferência de
tecnologia dos programas de computador, das topografias de
circuitos integrados, assim como na pesquisa, no armazenamento
de informações tecnológicas, e na capacitação e formação de
profissionais e acadêmicos em propriedade intelectual e temas
correlatos (INPI, 2015).
Desenvolver dentro das Instituições, formas de apropriação
do conhecimento gerado, e o reconhecimento da importância do
uso dos instrumentos de proteção à PI passa ser um grande desafio
para o Brasil (PINHEIRO-MACHADO e FERREIRA, 2015). O que
nos leva a questionar competências importantes para formação dos
recursos humanos que saem das instituições de ensino no Brasil e
vão ocupar lugar nas empresas e setores produtivos, frente ao uso
estratégico da PI para a economia do país e para formação de
capital humano.
“Reconhece-se que existe um novo tipo de competição no qual a
criação de competências e a inovação são ingredientes essenciais
para todos os atores nos mercados globais. Isso gera desafios
tanto para as formas tradicionais de intervenção estatal quanto
para o dogma neoliberal. No novo contexto, o aprendizado
4
Contratos são instrumentos jurídicos que viabilizam as parcerias e podem ser de uso de uma
marca, de exploração de patentes, assistência técnica, franquia, transferência de Know how e de P&D
(BOCCHINO et al, 2011).
5
Autarquia Federal do Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior (MDIC),
responsável pelo registro de toda propriedade industrial brasileira (INPI, 2015).
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 181
institucional e o capital social tendem a tornar-se, elementos–
chave nas estratégias de desenvolvimento...” (LASTRES,
CASSIOLATO, ARROIO, 2005, p .83)
A partir da necessidade de um reconhecimento do uso da PI
de forma mais operacional e estratégica por parte dos setores
produtivos torna-se relevante que a educação profissional,
científica e tecnológica venha discutir de forma mais ampla
propriedade intelectual e sua importância para desenvolvimento
econômico e social. Muitas melhorias tecnológicas e descobertas
científicas estão codificadas nos documentos de PI e podem auxiliar
o desenvolvimento social e a proteção ao meio ambiente,
principalmente em nível de desenvolvimento regional, de arranjos
e sistemas produtivos locais (TIGRE, 2006).
As informações contidas em documentos de patentes
As patentes constituem um tipo de propriedade industrial e
as justificativas econômicas para patenteabilidade de invenções
baseiam-se no estímulo à divulgação e ao desenvolvimento
científico e tecnológico. As patentes podem ser de invenção ou de
modelos de utilidade (MU). As patentes de invenção devem
comprovar atividade inventiva seja no produto e/ou processo, e as
MU são melhorias incrementais - que modificando a utilidade
original do produto e/ou processo trazem novidade ao mercado
(BOCCHINO et al, 2011).
No Brasil o INPI possui uma base de dados para pesquisa
gratuita de todas as patentes depositadas no Brasil, isto é, as que
estão protegidas no território nacional (FRANÇA, 1997) e tem
acordos com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual
(OMPI) que permite ao país também usar de banco de dados
internacionais (FIGURA 1).
182 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Figura 1 - Escritórios de Patentes e seus países, no Brasil (INPI), na Europa
(European Patent Office - Espacenet), No EUA (American Patent Office), No
Japão (Japan Patent Office), no Canadá (Canadian Intellectual Property Office).
Fonte: Google imagens/Wikipedia. Acesso abr/2018.
A busca pode ser feita em todos os bancos de dados
disponíveis (Figura 1) e a partir de palavras-chave que podem ser
pesquisadas em partes diferentes dos documentos, tais como
resumo, título, e corpo da patente, mas também por datas em que
as patentes foram depositadas, assim como por países, por
depositantes (empresas, instituições de pesquisa e ICT, inventores)
ou por área tecnológica, entre outros (INPI, 2015).
Informações contidas em Patentes
Em um documento de patentes conforme colocado por
França (1997), pode-se obter vários tipos de informações que
podem ser divididas em seções, para que as informações possam
ser extraídas do mesmo da melhor maneira possível e podem ser
colocadas para uma ampla faixa de utilização dentro das empresas
e universidades (SILVA et al., 2013).
Os elementos que compõem este tipo documento por via de
regra seguem as orientações contidas na Lei de Propriedade
Industrial (BRASIL, 1996) e os atos normativos do INPI (INPI,
2015) que regulamentam a elaboração do pedido de patente. Desta
forma uma patente deve conter: informações bibliográficas (folha
de rosto) (Figura, 2), um relatório descritivo, as reinvindicações,
desenhos e esquemas (quando houver) e um resumo.
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 183
Na folha de rosto pode-se obter uma variada gama de outras
informações, tais como título da patente, o código ou Classificação
Internacional de Patentes (CIP) (campo 51 - na Figura 2), além do
nome dos titulares, nome dos inventores, data de publicação e data
do pedido de depósito, e do resumo da tecnologia apresentada
(FRANÇA, 1997).
Figura 2 –Exemplo de Folha de Rosto de uma patente brasileira.
Fonte: www.inpi.gov.br
A partir de 2012 o INPI passou a adotar um novo formato de
numeração para os pedidos de patentes (INPI, 2015), que ficou com
o seguinte código: BR ZZ XXXX YYYYYY K, onde:
• BR = Brasil;
• ZZ= natureza da proteção (por exemplo: 10 para patente de
invenção e 20 para MU);
• XXXX = ano do pedido no INPI (por exemplo: 2012);
• YYYYYY = numeração correspondente à ordem de depósito do
pedido;
• K = Código verificador que corresponde a grande área do CIP da
tecnologia protegida (por exemplo: A2);
184 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Desta forma, o exemplo da figura 2 nos mostra uma patente
de invenção que teve pedido de registro solicitado ao INPI (no
Brasil) em 2012, e a patente como concedida em 2015,em nome do
Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), na área de ‘Necessidades
Humanas’ com o CIP C22B1/24. Onde o código C22 refere-se
internacionalmente a área técnica de METALURGIA; LIGAS
FERROSAS OU NÃO-FERROSAS; TRATAMENTO DE LIGAS OU DE
METAIS NÃO-FERROSOS, e a subclasse C22 B - à PRODUÇÃO OU
REFINO DE METAIS; PRÉ-TRATAMENTO DE MATÉRIAS-PRIMAS.
O CIP é um código internacional utilizado para dividir em
seções as áreas de aplicações de uma patente (FRANÇA, 1997).
Conforme o autor, o CIP está dividido em 8 seções, 118 classes, 616
subclasses, além de grupos e subgrupos, para abranger os diversos
setores industriais. As oito seções são:
A- Necessidades humanas correntes
B- Técnicas industriais diversas, operações de processamento e
transporte
C- Química e metalurgia
D- Têxteis e papel
E- Construções fixas
F- Mecânica, iluminação, Aquecimento, armas e explosivos
G- Física
H-Eletricidade
O CIP subdivide-se em classe, subclasse, grupos e subgrupos
que lhe caracterizem além da área tecnológica, a caracterização,
ouso e aplicação, como o exemplo do caso exemplificado na Tabela 1.
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 185
Tabela 1. Pesquisa por CIP de tecnologias para calçados de sola com
borracha ou fibra vulcanizada6.
Seção
A
Necessidades Humanas
Classe
A43
Calçados
Subclasse
A43B
Partes de Calçados
Grupo Principal
A43B 13
Solas
Subgrupo
A43B 13/02
Caracterizadas pelo material
Matéria plástica, borracha ou fibra
Subgrupo
A43B 13/04
vulcanizada
Fonte: Autoria própria (2018).
Com essas definições por CIP fica possível pesquisar (nos
bancos de dados) as áreas tecnológicas e conseguir obter dados
sobre a origem e fonte das tecnológicas mais relevantes, ou em
áreas tecnológicas especificas e de interesse para o ensino, ou
desenvolvimento técnico de determinada região, como por
exemplo, na área agropecuária e biotecnologia (BESSI et al., 2013;
PIMENTA, 2017).
As patentes são um direito exclusivo válido por um período
de 20 anos, e ao final deste período a tecnologia fica
disponibilizada ao uso e cai em domínio público (INPI, 2015;
FRANÇA, 1997). Se houver um monitoramento adequado, as
empresas poderão ter acesso a tecnologias - que antes não eram
acessíveis devido à proteção da patente. Esse saber é muito
interessante para o profissional que vai desenvolver as áreas de
P&D de uma organização, pois podem ser uteis no
desenvolvimento de portfolios tecnológicos e nas estratégias de
investimentos (inteligência competitiva).
Outro diferencial é ter o acesso às informações em
documentos de patentes (nas mesmas áreas tecnológicas e de
interesse) escritas em outros idiomas pois os dados da folha de
6
O CIP subdivide a área de aplicação por grupos de códigos, sendo a letra representando a seção (A –
necessidades humanas), o número que representa a classe (43), a segunda letra representando a
subclasse (B), e os números subsequentes representando o grupo (13) e subgrupo da tecnologia
(13/02 e 13/04). Estes últimos mostram a função e aplicação da tecnologia (INPI, 2015).
186 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
rosto, padronizados internacionalmente, acabam viabilizando a
pesquisa e acesso tecnológico a nível mundial (INPI, 2015).
O resumo é outro facilitador da patente como fonte de
informação, sendo utilizado para filtrar informações rápidas
(claras e objetivas) e fazer uma análise prévia do documento a ser
analisado. Ele está disposto na folha de rosto de um documento de
patente e assim fica mais ágil a obtenção da tecnologia de interesse
e uma ideia inicial sobre o objeto (produto ou processo) a ser
descrito no conteúdo do documento.
O relatório descritivo da atividade inventiva é uma seção
onde toda a informação sobre determinada técnica deve estar
contida de maneira exata e detalhada, com esquemas e imagens,
para melhor entendimento da técnica a ser descrita. O objetivo é
permitir que a informação tecnológica fique disponível e possa ser
reproduzida por outrem. A descrição detalhada da invenção neste
relatório quer seja ela um produto ou processo produtivo, deve ser
de tal forma que um técnico no assunto possa ser capaz de
reproduzir a invenção e assim dar segmento ao desenvolvimento
tecnológico do qual se vale a patente.
As reivindicações é uma das partes mais importantes de
uma patente, já que os titulares selecionam todas as áreas que a
patente pode vir a ter aplicação e para que a invenção ou melhoria
técnica contida no documento não venha a ser aplicada em
nenhum daqueles campos sem o consentimento do titular. Nas
reivindicações, o inventor deixa claro o que está protegendo,
restringindo outros que pretendam ter acesso a tecnologia com
finalidades comerciais. É nas reivindicações que reside o seu direito
de excluir terceiros de usar com finalidades econômicas aquilo que
você inventou. Desta forma o documento de patente pode oferecer
uma série de informações a partir do seu conteúdo, conforme
apresentado (resumidamente) na Tabela 2.
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 187
Tabela 2. Descrição das Informações em um documento de patente.
Tipo de
Onde estão no documento
O conteúdo e relevância
Informação
da informação
contida no
documento de
patente
Apresentam o estado da
técnica e a descrição da
tecnologia de interesse,
Aquelas que são encontradas
Informações
inclusive com
no relatório descritivo, nas
técnicas
detalhamento suficiente
reinvindicações, no resumo e
para reprodutibilidade e
nos desenhos (se houver);
comprovação de
efetividade da técnica.
Apresenta o status legal da
tecnologia, em que estágio
Informações
Extraídas do escopo das
encontra-se no âmbito
legais
reinvindicações
regulatório de utilização e
demanda pela sociedade.
Informações úteis para
empresas (possibilidade de
Extraídas dos dados
parcerias, gestão da
bibliográficos (referências
informação sobre
científicas e precursoras da
Informações
origem/fonte da
técnica), há os dados
comerciais
tecnologia de interesse, ou
identificadores (nome do
seja, mercado em que
inventor, depositante, data de
atuam, verificando os
depósito, país de origem etc.).
principais países de
depósito e de origem, etc.).
Dados que podem ser
extraídos dos documentos
Esses estudos podem
para elaboração de estatísticas
auxiliar empresas a
Informações
e análises de tendências dos
elaborarem suas
para políticas
depósitos de patentes
estratégias de mercado,
públicas e
efetuados por determinados
bem como aos
estratégicas para
setores da economia (analise
governantes para revisão
empresas.
de trajetória tecnológica, de
de políticas públicas e cada
mercado, de proteção por
setor da economia.
países, etc.)
Fonte. Elaboração própria (2018).
188 | Educação, Políticas Públicas e Atores Sociais no Processo de Inovação
Considerações finais
Considerando que as instituições educacionais compõem o
conjunto dos agentes responsáveis pela formação de recursos
humanos (RH) que atuarão no mundo do trabalho, é posta a
premissa que tais instituições devam tratar de temas relevantes
para o desenvolvimento necessário ao ambiente de inovação. E
para isso é imprescindível a existência de diretrizes condizentes
com este ambiente e maior acesso às informações tecnológicas por
parte dos professores e estudantes.
A busca por uma formação que veja a aplicabilidade dos
conhecimentos e do empirismo nos processos investigativos leva a
um tipo diferenciado de pesquisa e ensino. No caso dos IFs
observamos que há demanda pela competência em proporcionar
ao estudante a “aplicabilidade dos conhecimentos científicos”.
Desta forma a utilização de documentos de PI, como é o caso de
patentes, pode ser uma ferramenta muito útil ao professor que
precisa discutir tecnologia em sala de aula, o desenvolvimento e
qualidade no bem-estar humano e social.
A partir da revisão da literatura vimos que a patente descreve
detalhadamente a sua aplicabilidade em dado setor industrial, sendo
mais abrangente e detalhada que outras fontes de informação. Os
documentos de patentes são uniformes quanto ao arranjo de dados,
facilitando assim que informações possam ser passadas de um país
para o outro auxiliando estudos de mercados nacional e
internacional para determinadas tecnologias e processos.
O conhecimento disponibilizado em uma patente deve ser
visto como informação aplicável a qualquer projeto científico ou
tecnológico principalmente de natureza técnica, econômica,
mercadológica, gerencial etc,
Existem muitos dados em um documento de patente que
podem servir no ensino técnico científico e tecnológico, podendo ser
uma fonte de informação estratégica para formação profissional.
Esperamos que o presente trabalho venha contribuir para que haja
Everaldo de França; Patrícia S. Ferreira; Ludmila Gaspar; Patrícia T. Caloiero | 189
maior interesse por parte dos professores em explorar as patentes
como uma fonte de informação complementar ao livro didático e os
artigos científicos, e assim ampliar os conhecimentos que
possibilitem aos estudantes atuação de destaque competitivo no
mercado de trabalho globalizado da atualidade.
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