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SERVIÇO SOCIAL E A FORMAÇÃO PROFISSIONAL A produção da 33ª edição da revista Temporalis ocorre em tempos difíceis que arrasam nosso país, mas também todo continente latino-americano, sua publicação esteve marcada pelo enfrentamento de obstáculos de toda ordem, na qual os cortes nos gastos públicos e a busca de estratégias para maior exploração e barateamento da força de trabalho são a expressão mais visível de uma perspectiva econômica, sociopolítica e cultural conservadora que vem exacerbando a criminalização Assistente Social e mestre pela PUCRS. Professora curso de Serviço Social Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 2 Assistente Social, mestre e doutora pela PUCRS. Professora curso de Serviço Social Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 3 Assistente Social e Mestre pela UFRJ. Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF). 4 Assistente Social, Mestre e Doutora pela PUCSP. Professora no curso de Serviço Social da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). 1 Temporalis, Brasília (DF), ano 17, n. 33, jan./jun. 2017. DOI: 10.22422/2238-1856.2017v33n1p7-12 Jussara Maria Rosa Mendes1 Alzira Maria Baptista Lewgoy2 Ana Paula Mauriel3 Maria Liduína de Oliveira e Silva4 7 das lutas, o acirramento das opressões, intolerâncias e aumento do pauperismo. Com foco nas resistências e buscando o enfrentamento coletivo dessas questões buscou-se compreender a radicalização e o aprofundamento da crise política, econômica, social, jurídica, ética e as contrarreformas ocorridas, dia após dia, na infraestrutura do estado, na conjuntura nacional e nas políticas públicas pósgolpe de 2016. A histórica defesa dos direitos sociais, da proteção social previstos na Constituição Federal sendo acintosamente desrespeitada, negada, em radical e expressivo retrocesso social. Este contexto sócio histórico de radicalização política e dos atuais rumos políticos e econômicos desse governo golpista e ilegítimo, impõe regressão de direitos sociais, redução de políticas públicas, desmantelamento da universidade pública, das políticas de saúde, educação, assistência, previdência entre outras políticas estruturantes da proteção social no país. Como produto contabiliza níveis extremos de desemprego e violência, aumento de impostos de todas as ordens, atrasos e parcelamentos de salários, adoecimentos, dificuldades extremas, falta de assistência à população expondo a perversa face da atual agudização da questão social. Esta situação atinge além das condições sociais, os espaços sócio ocupacionais onde os assistentes sociais realizam seu trabalho e a formação profissional, nos âmbitos do ensino e da pesquisa. Os desafios profissionais e acadêmicos que se impõem aos assistentes sociais são imensos, nos convocam coletivamente a intensificar as lutas políticas em sintonia com a Executiva Nacional da ABEPSS que reitera o direcionamento da entidade como espaço acadêmico-científico e político que defende a universidade pública, gratuita, laica, democrática, presencial, socialmente referenciada e de acesso universal. Tal direção evidencia os princípios e as funções de que “[...] a formação profissional expressa uma concepção de ensino e aprendizagem calcada na dinâmica da vida social, o que estabelece os parâmetros para a inserção profissional na realidade sócio-institucional” (ABESS, 1996). Assim, torna-se imprescindível reafirmar os fundamentos e pressupostos basilares das Diretrizes Curriculares, o que requer 8 Temporalis, Brasília (DF), ano 17, n. 33, jan./jun. 2017. sintonia com as condições contemporâneas da formação profissional. Condição fundante que remete a contemporaneidade de que a “[...] formação profissional conciliada com os novos tempos, radicalmente comprometida com os valores democráticos e com a prática de construção de uma nova cidadania na vida social, de um novo ordenamento da vida social [...]” (IAMAMOTO, 1999, p.168), o que significa vigilância e enfrentamento das convergências dominantes da política governamental neste momento. E ainda, evidencia algumas das tendências e tensões teóricas identificadas na formação profissional, cuja defesa supõe uma crítica imperiosa às formas que extrapolam esta dimensão. Portanto, tratar dos dilemas e perspectivas da formação profissional na contemporaneidade emerge como essencial para o enfrentamento dos desafios postos no âmago destas transformações. O compromisso é decifrar este contexto para apreendê-lo em sua contraditoriedade, estimulando as lutas, a imaginação e a invenção da vida na sociedade (IAMAMOTO, 1999). Com esta direção e sentido organizamos a presente edição da Temporalis 33, que se encontra estruturada em três seções. A primeira delas denominada de Artigos Temáticos apresenta seis estudos de autores de diferentes regiões do Brasil que na sua transversalidade compõem a análise de temas que discutem sobre a formação profissional, as dimensões da competência profissional, a dimensão pedagógica, a relação teoria e prática e a educação à distância. Temas que reforçam e adensam a discussão sobre o Projeto Ético-Político profissional na defesa intransigente das Diretrizes Curriculares em Serviço Social em Curso (ABEPSS, 1996) na sua proposta formativa e do compromisso com a luta pela educação pública, gratuita, laica, presencial e de qualidade. O primeiro dos artigos temáticos intitulado, “O Projeto Profissional do Serviço Social em debate: entre a intenção de ruptura e as tendências do neoconservadorismo”, apresenta uma reflexão sobre o Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro diante do avanço do conservadorismo e as agressivas investidas do capital contra os interesses da classe trabalhadora. Com a mesma direção, o artigo “Reflexões sobre a dimensão técnico-operativa na formação em Serviço Social” estabelece reflexões sobre a Temporalis, Brasília (DF), ano 17, n. 33, jan./jun. 2017. 9 frequente cisão entre pensar, agir e escolher na compreensão de estudantes e profissionais, oferecendo possíveis maneiras de consolidar a compreensão de unidade entre as dimensões do trabalho profissional na lógica curricular em Serviço Social. Expõem em ambos os artigos, os desafios presentes na discussão da dimensão técnico-operativa do Serviço Social no âmbito da formação profissional, que por ser uma profissão interventiva, a formação deve preocupar-se em preparar profissionais para uma intervenção qualificada e politicamente direcionada. Desafios esses que também se constituem objeto de estudo no artigo “A mediação da arte no trabalho educativo do Serviço Social para a emancipação humana”, que pauta questões relativas à articulação entre o debate do trabalho profissional do assistente social com estudos acerca do caráter político da arte a partir do pensamento marxiano. Na sequência tem lugar o artigo sobre “A questão dos documentos profissionais no Serviço Social”, o qual aborda mais especificamente os laudos, relatórios e pareceres sociais. As considerações realizadas, além de trabalhar a conexão com a temática do estudo social, focam-se na caracterização crítica de tais instrumentos, ponderando indicações práticas para sua formulação. Seguindo a interlocução e problematização sobre o tema da formação e do exercício profissional, o artigo “Ensino à distância e suas implicações para a formação dos Assistentes Sociais: uma reflexão dos cursos EAD no estado de Pernambuco” se ancora em documentos e dados disponibilizados pelo Conselho Regional de Serviço Social – 4ª Região, recolhidos durante período de fiscalização do exercício profissional de Assistentes Sociais. O último artigo compondo esta seção temática intitula-se “Disputa entre teoría y práctica em el Trabajo Social mexicano” e apresenta uma reflexão sobre a articulação entre a teoria e a prática social, demonstrando que apesar da afirmação da estreita vinculação entre teoria e prática, esses campos são visualizados de maneira separadas. O texto oferece uma revisão de conceitos que formam parte do eixo do discurso hegemônico para o Serviço Social no México, bem como as contradições que permeiam a formação acadêmica e a discussão da práxis como possibilidade norteadora 10 Temporalis, Brasília (DF), ano 17, n. 33, jan./jun. 2017. da intervenção para o Serviço Social na realidade mexicana, considerando seus aspectos político, econômico e social. A segunda seção caracterizada como Artigos sobre Temas Livres apresenta cinco textos que dialogam com o eixo temático dessa edição da Revista Temporalis e que tratam de questões relevantes para o Serviço Social. O tema sobre a violência, expresso no artigo “Violência contra a mulher no espaço midiático brasileiro”, aparece por meio da análise do papel da mídia, em particular da televisão, no processo de reprodução do sistema patriarcal, no âmbito da sociedade brasileira. Outro tema debatido aparece no artigo “Significado da velhice para quem envelhece (u)”, o qual desvenda as concepções acionadas sobre a categoria velhice a partir dos discursos (re) produzidos por integrantes do Programa de Ação Integrada para o Aposentado (PAI), em São Luís (MA). O artigo, “Mulheres da paz: vivendo o cotidiano em conflito”, apresenta um cotidiano de sete mulheres residentes no bairro de São Cristóvão, localizado na cidade de Salvador-BA, que passaram pela formação do Projeto Mulheres da Paz (MP), do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI Ministério da Justiça), com o intuito de refletir sobre mudanças e permanências em suas vidas a partir da sua participação no referido projeto. O artigo “Financiamento da Assistência Estudantil nas Universidades Federais”, examina como se comporta o fundo público no capitalismo contemporâneo e como isso tem impactado na política de Assistência Estudantil. O texto mostra como o financiamento das políticas públicas, particularmente da Assistência Estudantil, ocorre por meio da transferência de recursos do fundo público, disputado tanto pelo capital quanto pelos usuários das políticas os trabalhadores. Destaca-se nesta edição na seção Documentos o texto sobre a “Contribuição da ABEPSS para o fortalecimento dos programas de Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil”, aprovado na última Assembleia da ABEPSS realizada no Encontro Nacional de Pesquisadores de Serviço Social (ENPESS) 2016, em Ribeirão Preto. Temporalis, Brasília (DF), ano 17, n. 33, jan./jun. 2017. 11 O documento apresenta subsídios e referências à Pós-Graduação em Serviço Social no Brasil das gestões 2013-2014 e 2015-2016, visando contribuir com o fortalecimento dos Programas dos cursos stricto sensu na área, e também da própria ABEPSS, como associação acadêmico-científica, tornando a Pós-Graduação mais orgânica nesta relação. Neste sentido, cumpre com as atribuições estatutárias que competem à Coordenação Nacional de PósGraduação, especialmente no que diz respeito à consolidação e qualificação do Serviço Social como área de conhecimento. Fica o convite e o desejo a todas e a todos de que tenham uma boa leitura, que seja atenta e crítica! “Quem é de luta, Resiste!” Gestão 2017-2018 REFERENCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO DE SERVIÇO SOCIAL. Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social. Proposta básica para o projeto de formação profissional. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 50, 1996. IAMAMOTO, MARILDA VILELA. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. PLATAFORMA DA CHAPA “QUEM É DE LUTA, RESISTE” Gestão 2017-2018. 12 Temporalis, Brasília (DF), ano 17, n. 33, jan./jun. 2017.