Gestão e Serviço Social: desafios
para a formação profissional
ARTIGO
https://doiorg/1012957/rep202376088
Management and Social Work: Challenges for
Professional Training
Geis de Oliveira Benevides*
Maria José de Oliveira Lima**
RESUMO
O artigo traz reflexões sobre a gestão na formação profissional do/a assistente social, a
partir das Diretrizes Curriculares da Abepss de 1996. As considerações apresentadas são
resultado de pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A motivação para o estudo
partiu do pressuposto de que muitos profissionais apresentam resistência em reconhecer
a gestão no âmbito do trabalho profissional, e isto se deve à compreensão sobre a gestão
apreendida no processo de formação profissional. Essa investigação conseguiu abordar os
determinantes dessa problemática, apontando argumentos a partir da realidade concreta
de discentes e docentes participantes da pesquisa. As análises permitiram entender que,
para garantir a apreensão da gestão no trabalho do/a assistente social, os conteúdos da
disciplina precisam abordar as diferentes perspectivas de gestão, permitindo a construção
de mediações que possibilitem apropriar-se da gestão na perspectiva democrática e
emancipadora, condizente com os princípios expressos no Projeto Ético-Político do
Serviço Social.
Palavras-Chave: gestão; Serviço Social; formação profissional; gestão democrática e
emancipadora.
ABSTRACT
This article brings reflections on management in the professional training of social workers,
based on the 1996 ABEPSS Curriculum Guidelines. The considerations presented are
the result of bibliographical, documental, and field research. The motivation for the
study was based on the assumption that many professionals are resistant to recognizing
management within the scope of professional work, and this is due to the understanding
of management learned in the professional training process. This investigation was able
to address the determinants of this problem, pointing out arguments from the concrete
reality of students and teachers, participants of the research. The analyses allowed us to
understand that in order to guarantee the grasping of management in the work of the
social worker, the contents of the discipline need to address the different perspectives
of management, allowing the construction of mediations that make it possible to take
ownership of management in a democratic and emancipatory perspective, consistent with
the principles expressed in the Social Work Ethical-Political Project.
Keywords: management; social work; professional qualification; democratic and
emancipatory management.
*Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - Unesp,
Franca, SP, Brasil E-mail: geisb
oliveira@ggmailcom
**Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho - Unesp,
Franca, SP, Brasil E-mail: maria
jose-oliveira-lima@unespbr
COMO CITAR: BENEVIDES, G O;
LIMA, M J O Gestão e Serviço
Social: desafios para a formação
profissional Em Pauta: teoria social
e realidade contemporânea, Rio de
Janeiro, v 21, n 52, p 151 - 165, maio/
ago 2023 Disponível em: DOI:
1012957/rep202376088
Recebido em 15 de abril de 2023
Aprovado para publicação em 09 de
maio de 2023
© 2023 A Revista Em Pauta: teoria social e
realidade contemporânea está licenciada
com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Gestão e Serviço Social: desafios para a formação profissional –
BENEVIDES, G. O.; LIMA, M. J. O. https://doi.org/10.12957/rep.2023.76088
Introdução
O presente artigo traz reflexões sobre a gestão na formação profissional do/a assistente social, a partir de resultados de pesquisas realizadas com objetivo de compreender
os desafios e possibilidades da disciplina de gestão na formação profissional em Serviço
Social, por meio da realidade das unidades de formação acadêmica (UFAs), no universo
da Microrregional de São José do Rio Preto (Abepss Sul II).
O interesse por esta temática justifica-se pela curiosidade científica em descobrir as
dificuldades apresentadas por profissionais de Serviço Social no reconhecimento da gestão
no trabalho profissional. Essa situação foi percebida pelas autoras com base nas indagações realizadas na dinâmica do cotidiano de trabalho como assistente social e docente.
O pressuposto da pesquisa foi construído por meio das problematizações do objeto
de estudo, o qual originou-se a partir da realização da pesquisa bibliográfica e reflexões
sobre a gestão na formação profissional. O estudo partiu do pressuposto de que muitos
profissionais apresentam resistência em reconhecer a gestão no âmbito do trabalho do/a
assistente social, e a origem dessa resistência poderia ter como base a compreensão e entendimento sobre a gestão apreendidos no processo de formação profissional.
Essa situação se justificaria por dois motivos. O primeiro relaciona-se ao desconhecimento sobre a importância dos conteúdos sobre gestão, conforme apresentado nas
Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social, aprovadas pela Abepss, em 1996.
Esse fato pode estar relacionado ao direcionamento atribuído à disciplina de “gestão” na
graduação. Ou seja, dependendo da forma como a disciplina de “gestão” é ministrada,
pode contribuir ou não para o entendimento e a compreensão da gestão no trabalho
profissional. O segundo motivo consiste na questão ideológica, que permeia a compreensão das finalidades da gestão no Serviço Social, fato que interfere no reconhecimento da
gestão como atividade inerente ao trabalho do/a assistente social, competência profissional e instrumento de trabalho no cotidiano. Pode ser que os/as profissionais apresentem
resistência em reconhecer a gestão no Serviço Social por questões ideológicas; pode ser
pela apreensão da atividade administrativa sob a perspectiva da área da administração,
compreendendo-a apenas como estratégia e instrumento de reprodução das relações sociais capitalistas, a partir da perspectiva ideológica da dominação de classes. Esse posicionamento tende a contribuir para a negação da gestão no Serviço Social, pois entende-se
que essa disciplina não condiz com o projeto de sociedade defendido pela profissão.
A partir das Diretrizes Curriculares, em 1996, os cursos de Serviço Social, no Brasil, passaram a contar com a gestão no conjunto de disciplinas do trabalho profissional.
Na organização curricular, a gestão situa-se no campo das “matérias básicas”, que são
compreendidas como expressões de áreas do conhecimento humano, as quais são necessárias à formação profissional. A gestão foi reconhecida como uma exigência no trabalho
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e na formação profissional dos/as assistentes sociais, fato que incumbiu às unidades de
formação acadêmica (UFAs), de forma propositiva, a organização e o direcionamento
do desenvolvimento da disciplina de gestão nos projetos pedagógicos, possibilitando a
fundamentação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa das dimensões
da gestão no Serviço Social, no Brasil. Assim, a disciplina de gestão deve subsidiar o reconhecimento e a apropriação dos fundamentos teóricos e práticos da gestão no trabalho
profissional do/a assistente social.
Em conformidade com o texto das Diretrizes Curriculares da Abepss de 1996, é
necessário que o/a assistente social tenha conhecimento sobre:
Administração e Planejamento em Serviço Social - As teorias organizacionais e
os modelos gerenciais na organização do trabalho e nas políticas sociais. Planejamento e gestão de serviços nas diversas áreas sociais. Elaboração, coordenação e execução de programas e projetos na área de Serviço Social. Funções de
administração e planejamento em órgãos da administração pública, empresas
e organizações da sociedade civil. (ABESS; CEDEPSS, 1997, p. 71).
Para a fundamentação de conhecimento na área da gestão, no Serviço Social, torna-se imprescindível conhecer as teorias organizacionais e os modelos gerenciais adotados
para a gestão do trabalho e das políticas sociais, nos espaços sócio-ocupacionais do/a
assistente social. Demanda-se compreensão sobre planejamento e gestão de serviços nas
diversas áreas e esferas das políticas sociais. Requisita-se, ainda, conhecimento sobre o
processo administrativo, a partir de suas funções gerenciais, para elaboração, coordenação
e execução de programas e projetos na área de atuação do Serviço Social. Essas funções
também compõem o referencial do processo administrativo e de planejamento das ações
dos órgãos da administração pública, empresas e organizações da sociedade civil desenvolvidas com o objetivo de alcançarem fins determinados.
No âmbito da dimensão técnico-operativa do trabalho, a gestão apresenta-se como
atividade inerente ao trabalho profissional e como competência do/a assistente social,
conforme ratificado na Lei de Regulamentação da Profissão, no 8.662/1993 (BRASIL,
2012). Ainda, a partir da apropriação dos processos de gestão e funções gerenciais, a
atividade administrativa pode apresentar-se como instrumento de trabalho para o planejamento e desenvolvimento de políticas, programas, projetos e ações profissionais, nos
diferentes espaços sócio-ocupacionais do/a assistente social.
Os princípios e a lógica curricular expressos nas Diretrizes Curriculares são parâmetros para as unidades de formação acadêmica elaborarem o seu Projeto Político-Pedagógico (PPP). A disciplina de gestão, propositivamente, organizada e fundamentada nos
PPP dos cursos de Serviço Social, no Brasil, pode contribuir para o reconhecimento e a
apropriação da gestão pelos futuros/as assistentes sociais. Para tanto, é necessário que as
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UFAs tenham a compreensão e entendimento propositivo sobre a importância e as possibilidades da gestão na formação e trabalho profissionais.
Para a realização da investigação foram realizados estudos bibliográficos sobre as
Diretrizes Curriculares para os cursos de Serviço Social no Brasil, sobre os movimentos da
profissão para a construção do projeto profissional, além de leitura de autores clássicos e
contemporâneos sobre a administração e sobre gestão no Serviço Social. Houve também
a necessidade de estudos documentais, considerando as análises dos Projetos Político-Pedagógicos dos cursos de Serviço Social participantes da pesquisa, além da pesquisa de
campo. Na investigação de campo foram realizados diversos contatos telefônicos com as
coordenações dos cursos de graduação, entrevistas presenciais com docentes responsáveis
pelas disciplinas de gestão e aplicação de questionários presencialmente em sala de aula,
com perguntas abertas e fechadas, para os/as discentes matriculados no quarto ano do
curso de graduação das respectivas unidades de formação acadêmicas. Ressalta-se que o
método orientador da pesquisa caracteriza-se pelo materialismo histórico-dialético, visto
que a teoria social crítica oferece subsídios teórico-metodológicos para leitura e interpretação da realidade e, desse modo, possibilita a apreensão das diferentes manifestações do
objeto estudado.
O artigo foi organizado em quatro seções, que vão possibilitar o entendimento da
investigação. A primeira seção aponta as reflexões teóricas sobre os fundamentos da gestão
a partir das perspectivas administrativa, capitalista, burocrática e democrática e emancipadora. Na segunda seção, apresenta-se a gestão no processo de formação profissional em
Serviço Social na Microrregional de São José do Rio Preto (Abepss Sul II – SP), com o
detalhadamente do percurso metodológico do estudo junto às unidades de ensino selecionadas e aos participantes da pesquisa. As seções três e quatro apresentam as perspectivas
de docentes e discentes entrevistados sobre as respectivas experiências e concepções sobre
a gestão na formação e no trabalho profissional em Serviço Social. Enfim, nas considerações finais são apresentadas algumas reflexões que confirmam o pressuposto da pesquisa,
apontando as possibilidades para a disciplina de gestão na formação profissional, visando
contribuir para a apreensão da perspectiva da gestão democrática e emancipadora, o que
colabora para a efetivação do Projeto Ético-Político do Serviço Social.
Fundamentos da gestão democrática e emancipadora
A partir dos estudos sobre a gestão no Serviço Social, identificaram-se quatro conceitos de gestão: administrativa, capitalista, burocrática e democrática e emancipadora.
Embora as três primeiras perspectivas situem-se no mesmo campo de interesses, apresentam particularidades na concepção do processo administrativo.
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A perspectiva administrativa tem como base o conhecimento técnico-científico da
administração. A ciência administrativa “fornece um corpo sistematizado de teorias, como
ação resultante do ato de administrar, gerir, gerenciar, coordenar, controlar e administrar as
organizações ao longo do tempo” (MAXIMIANO, 1997, p. 28). Para Chiavenato (1999,
p. 9), os administradores ou gerentes, responsáveis pelo comando das organizações, fundamentam-se nas teorias administrativas para a tomada de decisões, estabelecendo uma
prática diária de planejar, organizar, dirigir e controlar (avaliação) e garantir o cumprimento dos objetivos organizacionais. O processo administrativo é desenvolvido com vistas a assegurar a utilização racional dos recursos (materiais, financeiros, tecnológicos, humanos1 e conceituais) disponíveis para alcançar os objetivos das organizações, sejam elas
privadas, filantrópicas ou públicas. Todavia, é importante ressaltar que a administração
apresenta uma perspectiva funcional da gestão, compreendendo-a como atividade científica a partir da ciência moderna, portanto, enviesada pela racionalidade instrumental,
vinculada ao progresso do capitalismo.
A administração surge como prática científica a partir da Revolução Industrial. Todavia, a perspectiva administrativa capitalista, que representa a racionalização do pensamento administrativo burguês, “manifesta-se na passagem do capitalismo comercial para
sua fase industrial” (BRAVERMAN, 1977, p. 61). Ela nasce do processo de criação da
gerência capitalista enquanto estratégia de controle do processo de trabalho, dos trabalhadores e do processo de produção. Nesse contexto, apresenta-se como estratégia para
garantir a coordenação do trabalho coletivo e racionalização das atividades produtivas nos
moldes do capitalismo. Com a consolidação das relações sociais capitalistas, a administração institucionaliza-se como prática que tem como finalidade a elevação da produção e,
consequentemente, as taxas dos lucros do capital. No âmbito da produção e da reprodução social, terá importante papel para a manutenção da dinâmica de exploração e dominação da classe trabalhadora, no modo de produção capitalista (SOUZA FILHO, 2013).
Já a perspectiva burocrática da gestão tem como referência os fundamentos da burocracia2 de Max Weber (1864-1820). Segundo Motta e Bresser-Pereira (2004, p. 5), a
administração burocrática estrutura-se na racionalidade formal-legal (legalidade das normas, dos regulamentos e da divisão do trabalho, formalismo, previsibilidade, impessoalidade, hierarquia, padronização, competência técnica, profissionalização e especialização
da administração) para buscar meios racionais e legais, segundo os objetivos e características institucionais, visando promover o pleno funcionamento da organização. A gestão
1 Na gestão democrática e emancipadora, o ser humano não é concebido como recurso, mas como fim
da atividade administrativa, isso porque “considerar o homem como fim, implica em tê-lo como sujeito e não como objeto no processo em que se busca a realização de objetivos” (PARO, 2012, p. 32).
2 Para Weber, a burocracia seria um tipo de poder situado na mesma categoria do patriarcalismo, patrimonialismo, feudalismo e carismatismo.
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burocrática consiste no processo de gerenciamento dos objetivos organizacionais a partir
da racionalidade técnica e instrumental. Nessa condição, atuará para afiançar a adequação
dos meios aos fins determinados, sempre com a finalidade de garantir a máxima eficiência
na realização dos objetivos das organizações, seja no campo da produção ou da reprodução social. Desse modo, na sociedade capitalista, tende a promover processos administrativos que viabilizem as finalidades do capital, a produção, acumulação e apropriação
privada da riqueza produzida.
A perspectiva de gestão democrática e emancipadora desenvolvida por Paro (2012)
vai de encontro com o Projeto Ético-Político do Serviço Social, pois os princípios e valores expressos no projeto profissional implicam o reconhecimento do conceito de gestão
que tenha como horizonte a construção de uma nova ordem societária. Isto porque não é
possível pensar em uma sociedade isenta de formas de dominação sem se considerar uma
perspectiva de gestão que tenha como dimensão ético-finalística os interesses coletivos da
classe trabalhadora.
As reflexões realizadas sobre administração, construídas por Paro (2012), concebem a
gestão como atividade eminentemente humana. O autor observa que, nos diferentes modos
de organização social, a atividade administrativa esteve presente, por ser determinante na vida
em sociedade. Paro (2012, p. 25) aponta que, identificada a especificidade da atividade administrativa, é possível captar os elementos que em sua existência concreta são determinações
históricas e características de um dado modo de produção. Apreende-se a atividade administrativa em seus elementos mais simples e concretos, por considerá-la em seu sentido geral,
independentemente de qualquer tipo de sociedade, afirmando que a administração “[...] é a
utilização racional de recursos para a realização de fins determinados” (PARO, 2012, p. 25).
Paro (2012, p. 24-25) afirma que situar a administração em uma perspectiva democrática e emancipatória, com fins para a transformação da sociedade, implica uma dimensão ético-finalística, que tenha por objetivo atender aos interesses coletivos da classe trabalhadora. É
possível, assim, desenvolver e/ou contribuir propositivamente com processos administrativos
cuja finalidade seja direcionada pela perspectiva da gestão democrática e emancipadora.
Souza Filho e Gurgel (2016, p. 72) afirmam que o objetivo da gestão democrática
e emancipadora é “efetivar e ampliar o acesso da classe trabalhadora aos direitos historicamente conquistados”. A gestão, enquanto atividade administrativa e atividade racional
que viabiliza a organização na realização do trabalho para atender às demandas da população trabalhadora, se caracteriza pela sua dimensão ético-política, pois prioriza escolhas e
decisões para conduzir o processo de trabalho visando alcançar os fins ou interesses dos/
as sujeitos em ação. A finalidade democrática e emancipadora da gestão garante “sempre
aproximar estas finalidades a um processo que amplie e universalize as condições de vida
das classes subalternas atingidas pelas ações da organização” (SOUZA FILHO; GURGEL, 2016, p. 74).
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O percurso metodológico da investigação na Microrregional
de São José do Rio Preto (Abepss Sul II – SP)
A investigação objetivou apreender os desafios e as possibilidades a partir do reconhecimento e da apropriação da gestão como atividade inerente ao trabalho do/a assistente social, competência profissional e instrumento de trabalho. Durante o processo investigatório houve contatos com as coordenações das UFAs selecionadas para a pesquisa,
o que possibilitou o acesso ao PPP dos cursos de Serviço Social participantes da pesquisa.
Esta etapa objetivou analisar as ementas, conteúdos e bibliografias para as disciplinas de
gestão nas UFAs. Ainda, a partir dos contatos com as coordenações foi possível definir
e selecionar os/as discentes e docentes participantes desta investigação. O levantamento
quantitativo realizado junto às UFAs garantiu obter a totalidade de alunos/as regularmente matriculados/as no quarto ano do curso de graduação em Serviço Social e de docentes
responsáveis por ministrarem a disciplina de gestão nos cursos de Serviço Social selecionados na amostra de estudo.
O levantamento identificou uma totalidade de 120 alunos/as matriculados/as e regularmente cursando o quarto ano do curso de graduação em Serviço Social. A escolha
pelos/as alunos/as do quarto ano do curso justifica-se porque, nesse período, os/as graduandos/as tendem a apresentar-se com maior compreensão sobre a fundamentação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa do trabalho profissional.
No tocante aos docentes responsáveis pelo desenvolvimento da disciplina de gestão,
a pesquisa identificou quatro professores, dentre esses, um com formação em administração e os demais com formação em Serviço Social. Três dos/as docentes têm pós-graduação
em nível de mestrado e um em nível de doutorado, constituindo-se assim: dois mestres
em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-São Paulo), um doutor em
Serviço Social pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (Unesp – Campus de Franca), e um mestre em administração pela Universidade de São Paulo (Campus de Ribeirão
Preto). Entretanto, as entrevistas foram realizadas somente com três professores/as, pois,
um desses/as docentes não pôde participar da entrevista.
Identificados os participantes da pesquisa, a primeira etapa do processo investigatório foi a análise da organização da disciplina de gestão no Projeto Político-Pedagógico de
cada UFA. Esta etapa teve como referencial a análise da ementa, os objetivos, a descrição
do conteúdo programático e a bibliografia indicada para estruturação da disciplina de gestão nos cursos de Serviço Social. Esse foi um importante momento durante a realização
da pesquisa, pois entende-se que a organização curricular da disciplina de gestão e a carga
horária estabelecida para o desenvolvimento dos conteúdos propostos na ementa são determinantes para apreender a compreensão de gestão na respectiva UFA, logo, para com157
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preender a percepção de gestão impressa no processo de formação profissional nos cursos
de Serviço Social. Esses fatores podem influenciar o reconhecimento e a apropriação da
gestão no trabalho do/a assistente social no processo de formação profissional.
Percebeu-se que, na organização curricular dos referidos PPP, as disciplinas de gestão estão distribuídas entre o terceiro e quarto ano do processo de formação profissional
nas UFAs pesquisadas. E, de forma geral, são trabalhados os seguintes conteúdos: teorias
organizacionais; funções gerenciais; planejamento e gestão estratégica; gestão nos setores
público, privado e Terceiro Setor; gestão social e políticas sociais; avaliação, coordenação
e execução de programas e projetos sociais; gestão orçamentária; gestão municipal, planos,
programas e projetos e; gestão de serviços públicos sociais.
A partir da análise dos conteúdos trabalhados na disciplina de gestão nas UFAs,
observou-se que estes não coadunam, em sua totalidade, para compreensão e apropriação da perspectiva de gestão democrática e emancipadora. Isso porque a organização
curricular da disciplina de gestão privilegia a capacitação técnico-científica fundada na
perspectiva administrativa da gestão, conforme apresentado por Maximiano (1997) e
Chiavenato (1999). Compreende-se que os conteúdos programáticos privilegiam a fundamentação da dimensão técnico-operativa da gestão, visto que não consta indicação de
referenciais teórico-metodológicos que possam contribuir com a compreensão da gestão
democrática e emancipadora defendida por Paro (2012) e Souza Filho e Gurgel (2016).
Também não consta indicação do Projeto Ético-Político do Serviço Social, que se constitui como o principal subsídio ético-político para o alicerçamento de mediações necessárias para concepção e apropriação da gestão democrática e emancipadora no Serviço
Social. Para o/a assistente social conseguir apreender a gestão como atividade inerente
ao trabalho profissional, é imprescindível que não ocorra a fragmentação dos conteúdos,
de modo que haja articulação entre as dimensões ético-política, teórico-metodológica e
técnico-operativa da administração.
A gestão no processo de formação profissional
no Serviço Social: perspectiva dos/as docentes
Para a compreensão do entendimento dos/as docentes participantes da pesquisa
sobre a gestão na formação profissional, foram estruturadas três questões fundamentais: a
concepção dos docentes sobre a categoria empírica gestão, a percepção sobre os desafios e
a importância da gestão no Serviço Social, percepção sobre as contribuições e possibilidades da gestão para o trabalho do/a assistente social.
A análise dos dados demonstrou que os/as professores não concebem a gestão da
mesma forma. Observou-se nas falas dos/as docentes que cada um/a concebe a gestão de
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uma forma específica, como função gerencial, habilidade e competência intelectual para
gerir recursos e fins nos espaços de trabalho e gestão social como prática do/a assistente
social, nos espaços de planejamento e operacionalização das políticas públicas sociais.
Apreendem uma finalidade propositiva da gestão no trabalho profissional, mas de forma
específica e conforme sua compreensão da gestão. Não avançam nos fundamentos ético-político da gestão, o que impede a apropriação da gestão na perspectiva democrática e
emancipadora, de acordo com os parâmetros ético-político, teórico-metodológico e técnico-operativo fundamentados por Paro (2012) e Souza Filho e Gurgel (2016).
Concluiu-se que o direcionamento da disciplina e os conteúdos desenvolvidos estão
relacionados ao entendimento específico de cada docente sobre o trabalho e a atuação
do/a assistente social no campo da gestão. Compreendem como finalidade da gestão no
Serviço Social a capacitação técnico-operativa para atuação profissional no campo da gestão social (formação de gestor, competência e habilidades intelectuais ou capacitação e
qualificação para atuar na gestão das políticas sociais). Não concebem, portanto, a gestão
como atividade administrativa inerente ao trabalho, competência e atribuição profissional e instrumento propositivo no âmbito técnico-operacional do trabalho do/a assistente
social, exigido e requisitado nos diferentes espaços do trabalho profissional.
De forma geral, os/as docentes entrevistados expressaram em suas falas as contribuições do conhecimento sobre a gestão no cotidiano de trabalho do/a assistente social
e apresentaram argumentos teóricos e práticos para justificar possibilidades propositivas para o trabalho profissional. Todavia, suas concepções restringem-se ao seu campo
de compreensão conceitual, expresso pelas teorias gerais da administração científica que
garantirá a capacitação do/a profissional enquanto gestor das ações públicas sociais. Desse modo, as percepções coadunam com a perspectiva administrativa da ciência da administração, expressa nas concepções de Maximiano (1997) e Chiavenato (1999).
Observa-se, também, embora não expressem diretamente em suas falas, que as percepções apresentadas se aproximam do atendimento da gestão burocrática (MOTTA;
BRESSER-PEREIRA, 2004, p. 5), visto que concebem a gestão numa perspectiva racional, formal-legal e instrumental, principalmente porque relaciona-se à atividade administrativa no âmbito do Estado, na gestão das políticas públicas sociais.
As concepções teóricas e práticas são respectivamente apresentadas como: o/a assistente social gestor/a e responsável pela gerência de espaços socioinstitucionais, competência e habilidades propositivas para o planejamento e organização de políticas públicas
sociais, planejamento das ações e atividades do campo de trabalho e gestor de políticas
sociais. Portanto, a percepção dos docentes implica uma fundamentação teórico-metodológica sobre gestão técnico-operacional e o/a profissional de Serviço Social atuando como
gestor nos diversos espaços operacionais das políticas sociais. Esse fato exige conhecimento sobre gestão, planejamento e conceitos democráticos e participativos de gestão social.
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Compreendem a gestão como uma atividade importante e relacionada ao trabalho
profissional, porém, não a entendem como uma atividade ético-finalística democrática e
emancipadora inerente ao trabalho profissional. A concepção de gestão dos/as docentes
tem implicações na formação profissional do/as assistente social. O conteúdo proposto
para a disciplina de gestão e o modo como é organizada e desenvolvida pelos docentes nas
UFAs interferem diretamente na perspectiva, no reconhecimento e na apropriação da gestão no trabalho profissional por parte dos/as discentes. O conceito de gestão desenvolvido
por cada professor traduz sua forma própria de entender e, a partir de sua formação acadêmica, portanto, organiza e desenvolve a disciplina de acordo com o seu entendimento
sobre gestão.
De modo geral, a apreensão e análise dos dados demonstraram que as percepções e
entendimentos dos/as docentes não estão equivocados. O equívoco consiste no direcionamento único sobre o conceito e a compreensão de gestão, que termina por limitar a
compreensão dos/as discentes. O correto consiste na organização da disciplina de forma
que conceba a gestão de forma ampla, direcionando os conteúdos propostos para fundamentar a apropriação da gestão como atividade inerente ao trabalho do/a assistente
social, competência e atribuição profissional e instrumento de trabalho, cuja finalidade
seja democrática e emancipadora. Desse modo, pode-se contribuir efetivamente com o
reconhecimento e apropriação da gestão na perspectiva democrática e emancipadora no
processo de formação profissional em Serviço Social.
A gestão no processo de formação profissional
no Serviço Social: a perspectiva dos/as discentes
Esta etapa da pesquisa objetivou conhecer a percepção e compreensão dos/as discentes sobre os conteúdos da gestão na formação profissional do/a assistente social. Para a
análise dos dados, considerou-se a composição total dos/as discentes participantes da pesquisa em todas as UFAs pesquisadas. Tal procedimento foi definido porque a tratativa dos
dados por UFA poderia expor os discentes e docentes responsáveis pelas disciplinas de
gestão nos cursos de Serviço Social.
Os dados apresentados na composição final da amostra da investigação, com discentes do quarto ano das UFAs, constituem uma amostragem de 120 alunos, regularmente
matriculados nos respectivos cursos pesquisados. Desse total, 61 estudantes participaram
da pesquisa, correspondendo a 62% de adesão. Não houve total adesão dos/as discentes,
primeiramente, porque a participação na pesquisa era facultativa e o questionário foi entregue a todos/as presentes em sala de aula; segundo, porque alguns alunos regularmente
matriculados faltaram à aula no dia agendado para a realização da pesquisa.
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A análise e a interpretação se deram a partir da sistematização de informações quantitativas e da apreensão qualitativa das categorias empíricas apresentadas nas justificativas
das respostas fechadas do questionário aplicado. O questionário foi estruturado sobre
quatro perguntas, cujas respostas eram fechadas nas opções “sim” e “não” e abertas para
justificativa das respostas escolhidas pelos/as discentes.
A análise e a interpretação dos dados foram estruturadas em quatro questões fundamentais: percepção dos/as discentes sobre gestão no Serviço Social, percepção sobre
a importância de se estudar gestão no Serviço Social, percepção sobre a finalidade de se
estudar gestão no Serviço Social, percepção sobre a gestão no cotidiano de trabalho do/a
assistente social.
As entrevistas realizadas com os/as estudantes evidenciaram que os participantes da
pesquisa concebem a gestão de forma diferente. Observa-se que o entendimento sobre o
reconhecimento e a apropriação da gestão relaciona-se ao conteúdo que é desenvolvido
em sala de aula pelo/a docente. O conhecimento e o entendimento da gestão por parte
dos/as discentes são fortemente influenciados pela perspectiva de gestão que o/a docente
adota. Destacam-se a compreensão sobre a gestão das políticas sociais, incluindo o planejamento, financiamento e operacionalização, além do aparato racional-legal que legitima
e regulamenta as legislações relacionadas às políticas sociais.
Pode-se constatar nas falas dos/as discentes percepções sobre a gestão no trabalho
profissional a partir da concepção e compreensão dos/as docentes. Conceitos apreendidos
no entendimento de que a gestão social é importante no Serviço Social para capacitar e
qualificar o/a assistente social para o exercício da função gerencial nos espaços de gestão
das políticas sociais, no planejamento e organização racional das atividades profissionais,
com vistas a atingir resultados positivos; competência e habilidade intelectual para dirigir,
planejar, controlar e organizar recursos para atender a fins determinados; e capacitação e
qualificação para atuar nas diversas esferas de gestão das políticas sociais. É importante
destacar que as apreensões dos/as discentes, conforme já apontado anteriormente, corroboram para apropriação da perspectiva administrativa da gestão, expressa nas reflexões de
Maximiano (1997) e Chiavenato (1999).
A partir das percepções acima apresentadas, compreende-se que os/as discentes participantes da pesquisa relacionam a finalidade da gestão no trabalho do/a assistente social
com a necessidade de fundamentação teórica e metodológica para o trabalho profissional
na gestão das políticas sociais, nas suas diversas funções gerenciais. Isso porque, nas respectivas concepções, o/a assistente social tem como campo de intervenção profissional
os espaços sócio-ocupacionais instituídos pelas políticas sociais. Portanto, a finalidade da
gestão no Serviço Social relaciona-se à capacitação e à qualificação do/a assistente social
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para ocupar cargos de gestão e, igualmente, para atuar nas diversas áreas que compõem o
gerenciamento das políticas públicas.
De forma geral, os/as discentes reconhecem a importância da gestão no Serviço Social, embora não como competência e atribuição profissional do/a assistente social, mas
uma competência e atribuição dos administradores. Além disso, desconsideram-na como
resultado da capacidade humana em produzir e sistematizar conhecimento. E, ainda, não
conseguem apreender que a dimensão ético-política da gestão pode se fundamentar em
uma direção ético-finalística, cuja perspectiva consiste nos interesses sociais das classes
subalternas. Essa forma de compreensão e percepção sobre a administração tende a determinar a resistência em reconhecer a importância, as possibilidades, as contribuições e,
especialmente, a finalidade da gestão no Serviço Social.
Os/as discentes reconhecem a gestão enquanto atividade propositiva que contribui
para a realização do trabalho profissional, mas não apreendem a gestão por meio dos seus
elementos mais simples e que estão presentes em todas as atividades humanas organizadas
para atingir fins determinados. Aproximam-se do conceito de Paro (2012, p. 25), no qual
o educador analisa e apreende a atividade administrativa em seu sentido geral, pontuando que “[...] a administração é a utilização racional de recursos para realização de fins
determinados [...]”, em qualquer tipo de estrutura em que seja realizada; contudo, não
realizam as mediações necessárias para compreensão da gestão na perspectiva democrática e emancipadora no cotidiano de trabalho do/a assistente social e nos diversos espaços
sócio-ocupacionais.
Considerando as análises acima apresentadas, constata-se a importância de fundamentação teórico-prática sobre a gestão no trabalho profissional nos diversos espaços
sócio-ocupacionais do/a assistente social, para que a concepção não se restrinja apenas ao
assistente social que desempenha funções de coordenação e comando. Essa constatação
evidencia a necessidade de subsídios teórico-metodológico, ético-político e técnico-operativo para a compreensão do planejamento e organização das atividades profissionais
no cotidiano de trabalho, uma vez que a gestão é uma atividade inerente ao trabalho
do/a assistente social. Nessa direção, percebe-se a necessidade do entendimento sobre
a finalidade da gestão no Serviço Social a partir de fundamentação nas dimensões do
trabalho profissional, evitando assim a formação de profissionais com concepções tecnicistas, tecnocráticas e gerencialistas da gestão. Objetiva-se assegurar o fortalecimento
da dimensão ético-finalística da gestão na perspectiva democrática e emancipadora no
exercício profissional.
A finalidade da disciplina de gestão no curso de Serviço Social pode possibilitar a
fundamentação crítico-propositiva para apropriação da gestão no trabalho profissional,
garantindo subsídios teórico-metodológicos para compreensão sobre as formas em que a
gestão se apresenta no cotidiano profissional. Fundamenta-se, assim, a gestão como ativi162
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dade inerente ao trabalho do/a assistente social, competência profissional e instrumento
de trabalho.
Reconhecer a gestão como possibilidade propositiva para o trabalho profissional exige
que o/a docente e os/as discentes se apropriem de conceitos administrativos que permitam
a organização racional do trabalho e cujo “objetivo seja o alcance de resultados qualitativos
e, que os fins sejam os interesses coletivos e universais”, conforme pontuado por Souza
Filho e Gurgel (2016, p. 72). Sob essa perspectiva, pode-se apreender a gestão como atividade inerente ao trabalho e aos espaços sócio-ocupacionais, como competência e atribuição
profissional e, ainda, como instrumental técnico-operativo que, devidamente fundado nas
dimensões teórico-metodológica e ético-política, possibilita a construção de processos administrativos estruturados sobre atividades racionalmente planejadas e propositivas.
Paro (2012, p. 26-27) esclarece que a atividade administrativa ou gestão, compreendida em seu sentido geral, em sua forma mais simples e abstrata, isto é, como atividade
inerente ao processo de trabalho que visa assegurar a racionalização dos meios necessários,
na coordenação do trabalho coletivo, para garantir a realização de objetivos previamente
planejados e organizados, assegura a racionalização entre meios e fins para melhor atender
às necessidades do ser humano. A gestão consiste em uma atividade humana que tem
sua finalidade fundada no planejamento e na organização adequada dos recursos para
realização de objetivos intencionalmente estabelecidos, para atender especificamente às
necessidades determinadas, portanto, condição necessária da vida humana.
Entende-se que a perspectiva da gestão democrática e emancipadora perpassa a
aquisição de conhecimento, objetivando a qualificação e o aperfeiçoamento técnico-científico sobre os fundamentos da atividade administrativa e suas proposições finalísticas no
trabalho profissional. Para tanto, torna-se fundamental conhecer as formas e as manifestações da gestão para apreendê-la sob a dimensão democrática e emancipadora, de forma
a desmistificar a sua incompatibilidade com o Serviço Social.
Considerações finais
Ao longo do processo investigativo, o pressuposto desta pesquisa se confirmou, pois
o processo de formação profissional se consolida como importante etapa no entendimento, no reconhecimento e na apropriação da gestão no Serviço Social. O direcionamento
e a organização do conteúdo proposto para a fundamentação teórico-prática da gestão
nas UFA contribuem com a compreensão e o entendimento que o/a assistente social terá
sobre a gestão no trabalho profissional. O modo como os conteúdos são desenvolvidos e
organizados pelos docentes determinará a compreensão da gestão no Serviço Social, o que
possibilitará formas e perspectivas diferentes de apreender a importância, a finalidade, as
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possibilidades e as contribuições da apropriação da atividade administrativa no âmbito do
trabalho profissional.
Conforme já apresentado, o estudo da gestão no Serviço Social é permeado por
questões ideológicas, que concebem a administração como instrumento e instância de
reprodução das relações de dominação de classe no capitalismo. Durante as análises constatou-se que, na concepção dos/as discentes, a questão ideológica permeia a compreensão
das finalidades da gestão no Serviço Social, interferindo no reconhecimento da gestão
como atividade inerente ao trabalho do/a assistente social, competência profissional e instrumento de trabalho no cotidiano dos espaços sócio-ocupacionais. A questão ideológica
termina por impedir o reconhecimento e a apropriação das bases científicas da gestão que,
conforme Paro (2012), podem ter suas dimensões depuradas das finalidades vinculadas à
exploração e dominação de classe, sendo direcionadas para fins ético-políticos comprometidos com a atividade administrativa na perspectiva democrática e emancipadora.
A resistência em reconhecer a gestão no trabalho profissional não foi apreendida nas
falas dos/as docentes, pois estes, dentro das especificidades do direcionamento da disciplina, concebem a gestão no trabalho profissional a partir de uma perspectiva propositiva
e técnica, a qual poderá contribuir para o alcance dos resultados esperados. Todavia, não
compreendem a gestão numa perspectiva crítica, na medida em que não apreendem os
desdobramentos e as possibilidades da atividade administrativa democrática e emancipadora na efetivação e ampliação dos direitos da população usuária das políticas sociais
Para o/a assistente social conseguir apreender a gestão como atividade inerente ao
trabalho profissional, torna-se necessário garantir, durante a formação profissional, a
compreensão crítica das perspectivas teóricas da gestão (administrativa, capitalista, burocrática e democrática). Essa compreensão crítica das perspectivas teórico-práticas no
processo de formação profissional possibilita a diferenciação entre a gestão voltada para
a emancipação e a gestão que corrobora com a dominação de classe. Isto porque a gestão que tem como finalidade a emancipação se materializa na perspectiva democrática
e emancipadora, cujos objetivos são alinhavados com os princípios e valores ratificados
no Projeto Ético-Político do Serviço Social que, historicamente, se contrapõe ao projeto
societário dominante em vigência.
O projeto societário da sociedade capitalista impõe uma perspectiva de gestão alinhada com os objetivos da classe burguesa. Essa perspectiva de gestão traduz a realidade
da sociedade do capital, a qual o/a assistente social irá encontrar institucionalizada no
espaço de trabalho. A fundamentação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa da gestão democrática torna-se necessária para estabelecer processos de gestão comprometidos com o acesso e a ampliação dos direitos historicamente conquistados pela
classe trabalhadora, visando romper com processos de gestão funcionalistas comprometidos com a reprodução do sistema capitalista.
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Contribuições dos/as autores/as: Ambas as autoras participaram na concep≈¡o, elabora≈¡o
e revis¡o
Agradecimentos: N¡o se aplica
Agência financiadora: N¡o se aplica
Aprovação por Comitê de Ética: SIM
CAAE: 60602816.2.0000.5408
Número do Parecer: 2.034.228
Conflito de interesses: N¡o se aplica
Referências
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currículo mínimo aprovado em Assembleia Extraordinária de 8 de novembro de 1996).
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SOUZA FILHO, R.; GURGEL, C. Gestão democrática e Serviço Social: princípios e
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