MINISTÉRIO DO TURISMO, GOVERNO DE MINAS GERAIS,
CODEMGE E FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO APRESENTAM
CENTRO DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA E TECNOLÓGICA – CEFART
6a MOSTRA DA ESCOLA DE ARTES VISUAIS
1o A 30.JUNHO.2021
PROGRAMAÇÃO GRATUITA | INFORMAÇÕES: FCS.MG.GOV.BR
APRESENTAÇÕES
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CRONOLOGIA CHAMA!
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CHAMA! CORPOS ARVOREDOS PLURAIS
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OBRAS DO ACERVO – TEXTOS CRÍTICOS
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OBRAS SELECIONADAS – ESCRITA COLETIVA
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_ser árvore
_árvore é mundo
_ARvore
_escrita colaborativa
PROJETO EXPOGRÁFICO
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DECLARAÇÕES DOS ARTISTAS
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ESCOLA DE ARTES VISUAIS DO CEFART/FCS
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FICHA TÉCNICA
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Leônidas Oliveira
Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais
Múltiplos olhares. Múltiplos debates. Múltiplas reflexões. Assim têm sido as produções da Escola de
Artes Visuais do Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart, da Fundação Clóvis Salgado.
A arte, como ponto imaginativo e questionador de uma sociedade guiada pela urgência do mundo
contemporâneo, nos faz pensar sobre nossa individualidade com tudo aquilo que nos cerca.
E a CHAMA!, em sua 6ª edição, nos propõe exatamente isso: reflexões sobre o indivíduo e sua relação
com o meio ambiente e as incertezas de uma crise sanitária. Enquanto a pandemia da COVID-19 forçou
nossa reclusão, o meio ambiente reagiu de forma diferente à ausência do homem na paisagem. Nossa
presença, então, é um incômodo para a natureza? Deveríamos repensar nosso lugar no mundo?
A essas perguntas, adicionam-se tantas outras que, sem resposta imediata, nos instigam a pensar
sobre tudo o que nos tem acontecido nos últimos tempos. Dessas reflexões surgem os belos trabalhos
desenvolvidos para a mostra. Provocadoras, reflexivas ou simples e diretas, as obras apresentadas
em CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais buscam além da estética artística.
Os trabalhos são um convite para um olhar mais demorado para nós mesmos e a nossa relação com
o mundo ao redor. Árvores e arvoredos, em suas múltiplas formas, e como os corpos das pessoas se
relacionam com eles direcionam o olhar para a transmidialidade das criações. Todas as possibilidades
artísticas nos convidam a pensar sobre o que passou e o que ainda está por vir.
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Eliane Parreiras
Presidente da Fundação Clóvis Salgado
A Arte cumpre a nobre missão de ser a mensageira que aponta tendências, antecipa cenários e sinaliza
para o futuro. Em um mundo acelerado, é ela a maior fonte de renovação e reinvenção das sociedades.
Vivemos uma revolução digital que tem impactado diretamente a forma de nos relacionarmos com a
arte e a cultura. E o público é o protagonista dessa relação.
Esse contexto tem exigido novos pensamentos e reflexões da Fundação Clóvis Salgado (FCS) sobre
o seu papel e a importância da Mediação Cultural na atualidade. É aqui que estamos atuando e que
aprofundamos e aceleramos, com esse novo olhar que a pandemia trouxe.
A tecnologia e a criatividade estão a favor do desenvolvimento das sociedades, da ampliação de
acesso, da difusão qualificada e do estímulo à autonomia intelectual. Todo esse repertório necessita
de métodos e formatos específicos para se inserir no ambiente digital, em uma nova e intensa relação
com a arte, que propicia a pesquisa, a experimentação e a renovação estética e artística.
É com esse espírito que disponibilizamos ao público a Mostra CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais – da
Escola de Artes Visuais – Cefart/FCS. O resultado desse trabalho não poderia ser mais autêntico e
inspirador por ter surgido de um desafio para alunos e professores: construir um projeto artístico
e educacional tendo o meio ambiente como temática, em diálogo com quatro importantes obras do
acervo da FCS, dos grandes artistas Carlos Wolney, Frans Krajcberg e Mário Fraga.
A partir do conceito definido pela curadoria “As árvores e os arvoredos”, um diverso e rico conteúdo foi
criado para o formato digital, propondo reflexões sobre como os corpos das pessoas se relacionam
com esses elementos naturais. São eles a exposição, com visitas virtuais, o catálogo eletrônico, a
cartilha digital educativa, os debates e a apresentação do projeto expográfico.
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Não é mero acaso a criação da Mostra CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais nesse momento. Esta hoje
cinquentenária Instituição cultural tem, a partir dos alunos, professores e todo o seu conjunto artístico,
a inquietação necessária para sobreviver para além de 50 anos, produzindo arte contemporânea de
qualidade.
A Fundação Clóvis Salgado agradece à diretoria do Cefart, professores, alunos, à curadora Celina
Lage e demais profissionais da Escola de Artes Visuais e de diversas áreas da FCS e da APPA,
essenciais para tornar realidade a 6ª edição de uma nova CHAMA!, diante de um cenário de pandemia,
reinventando processos e formatos. Agradecemos especialmente à Companhia de Desenvolvimento
de Minas Gerais – CODEMGE, pelo patrocínio, que permitiu a realização desse grande encontro com o
público, para promover importantes reflexões sobre a arte e a preservação ambiental.
Que essa CHAMA continue iluminando novas ideias e percursos!
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Marta Guerra
Diretora do Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart
CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais
Contemporânea, digital, pandêmica?
Uma chama que nunca se apaga... Assim poderíamos definir a realização de mais uma mostra
bravamente realizada pela Escola de Artes Visuais do Centro de Formação Artística e Tecnológica –
Cefart, da Fundação Clóvis Salgado.
Nesta sexta edição, além da orientação cuidadosa e inspiradora da coordenadora do Curso de Artes
Visuais, Mariana Rodrigues, bem como do nosso incansável e qualificado grupo de professores,
tivemos a honra de contar com a curadoria de Celina Lage (professora do Programa de Pós-Graduação
em Artes Escola Guignard), cujo trabalho e pesquisa refletem sua paixão pelas artes e que propôs
uma abordagem que envolve percepções da natureza e sua relação com o bem-estar humano.
Além de agradecimento especial a toda a equipe e aos alunos, é importante dizer que essa mostra não
seria possível sem o apoio dos patrocinadores do projeto, em especial a CODEMGE, e da correalizadora
APPA Arte e Cultura, cuja dedicação e fomento sempre nos impulsionam.
O Cefart, cada vez mais, amplia sua proposta coletiva de ensino, criando bases de pesquisa de forma
colaborativa, baseada na relação teoria e prática. Após um ano de tantos desafios, dar prova de que a
arte sobrevive a tudo e seguirá sendo a contraparte necessária a todo espírito de renovação artística
que almeje a transformação, nos aguça, nos fascina e desperta outras perspectivas na busca de
lugares incomuns.
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Em um ritmo acelerado e sedentos pela descoberta de uma nova oferta acadêmica e cultural, o Cefart
se reinventou inovando seus recursos pedagógicos, artísticos e tecnológicos.
Sentir nossos estudantes cada vez mais valorizando a tecnologia, que na ciência da arte passa a
ganhar relevância, é, sem dúvida alguma, um momento de muita alegria e de muita gratidão.
Este projeto é a síntese da possibilidade artística contemporânea, pandêmica, digital, rumo a uma
sociedade do futuro. É o delineamento das transformações sucedidas ao longo da pandemia e
adequação às exigências na mediação de conteúdos artísticos.
Novas possibilidades, novas configurações. É justamente essa chama que a Escola de Artes Visuais
manteve acesa em seu ensino, pesquisa, inovação e na interlocução com nosso público, ainda que
distante.
Luz, natureza e ação!!! Pequenos pixels que vão se agregando para formar uma linguagem da arte
que permite a ampliação de múltiplas estéticas.
Que as novas telas, transparências, cores e reflexos possam modificar nossos corpos, nossas mentes
em busca de novos saberes.
Não desejo outra coisa a não ser que essa chama nunca se apague.
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Mariana Rodrigues
Coordenadora da Escola de Artes Visuais – Cefart/FCS
A Escola de Artes Visuais do Cefart – Palácio das Artes foi criada em 2016 com a entrada efetiva do corpo
docente na Fundação Clóvis Salgado (FCS) e da oferta do curso de Produção em Artes Visuais. O curso
era estruturado em quatro módulos semestrais, a saber: Mediação Cultural, Curadoria, Expografia e
Produção. Em 2020, o curso de Produção foi reformulado, tornando-se o curso de Formação Inicial
Continuada de Assistente de Produção Cultural, enquanto os outros módulos converteram-se para
os cursos básicos de Curadoria, Expografia e Arte-Educação. Nessa perspectiva, promover pesquisas
em artes visuais – ainda que de forma inicial; contribuir para a formação de pensamentos na área
da cultura e democratizar o acesso a conteúdos artísticos são alguns dos objetivos que esses cursos
visam desenvolver em suas ações, gerando como fruto desse trabalho a mostra da Escola de Artes
Visuais, que ocorre ao final de cada semestre letivo, pondo em prática o aprendizado compartilhado
entre alunos e professores.
Em vista disso, a escola proporciona discussões de projetos curatoriais, seleção de obras, reflexão
sobre projetos expográficos, produção de material educativo, programação e tudo mais que envolve
uma exposição. Esses são alguns dos percursos que se atravessam nesse processo a partir de
elaborações coletivas e colaborativas das pessoas envolvidas.
Em março de 2020 fomos surpreendidos pela pandemia desencadeada pelo novo coronavírus e,
como professores, fomos desafiados a reinventar as nossas práticas de atuação e a nos adaptar
às tecnologias digitais. Em maio, o Cefart já estava funcionando de maneira virtual e um grande
desânimo provocado pela situação imposta pela crise sanitária e o isolamento social assolava nossos
professores e alunos. Com tudo isso acontecendo, nos deparamos com mais um desafio: desenvolver
e realizar a mostra da escola virtualmente.
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A partir dessa nova realidade, tivemos a oportunidade de convidar a curadora Celina Lage, que
depois de muita conversa para entender as especificidades da escola e os desejos de professores e
alunos, nos apresentou, dentro de sua disponibilidade, sensibilidade e delicadeza, a temática Corpos
Arvoredos Plurais. A proposta é aproximar o olhar para as questões do meio ambiente como forma de
respiro, construindo diálogos dessas percepções do meio com os nossos corpos e com outros corpos,
a fim de suportarmos, por meio da arte, o isolamento social e as consequências de uma pandemia.
Desse encontro, entregamos à comunidade escolar e ao público a Cartilha e o Catálogo da exposição
virtual CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais.
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CRONOLOGIA CHAMA!
A primeira mostra da Escola de Artes Visuais, Sarau das Incertezas, aconteceu em 19 de
dezembro de 2017, na Sala Juvenal Dias do Palácio das Artes. O nome CHAMA só passou a ser
utilizado a partir da sua terceira edição. No primeiro semestre de 2020, a concepção do projeto
foi desenvolvida em sala de aula, porém, com a pandemia da Covid-19, o evento foi cancelado.
Em 2021, a mostra chega a sua sexta edição, comemorando os cinco anos da Escola de Artes
Visuais e os 50 anos do Centro de Formação Artística e Tecnológica da Fundação Clóvis Salgado.
2018
Arte
Manifesto
2ª mostra da Escola
de Artes Visuais
2017
2018
Sarau das
Incertezas
CHAMA:
mostra,
ocupação,
residência,
ateliê
1ª mostra da Escola
de Artes Visuais
3ª mostra da Escola
de Artes Visuais
1ª edição CHAMA
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2020
CHAMA:
Nós
Não houve realização
devido à pandemia da
Covid-19
2019
CHAMA:
ressignificação
dos sentidos
4ª mostra da Escola
de Artes Visuais
2ª edição CHAMA
2019
2020 | 2021
CHAMA:
Desetiqueta
CHAMA:
Corpos
Arvoredos
Plurais
5ª mostra da Escola
de Artes Visuais
3ª edição CHAMA
6ª mostra da Escola
de Artes Visuais
4ª edição CHAMA
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CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais – 6ª Mostra da Escola de Artes Visuais – Cefart/FCS
A ideia de paraíso foi imaginada em épocas distintas como sendo um jardim de águas límpidas, com
árvores frondosas, sombra, ar fresco, com frutas e cores variadas provendo estímulos prazerosos
para os sentidos. O mito do Jardim dos Feácios e o do Jardim do Éden são apenas alguns exemplos
de utopias onde é vislumbrada uma paisagem ideal, sonhada e desejada, onde possamos viver em
equilíbrio com a natureza. Dentro do contexto atual da crise climática e da pandemia da Covid-19, a
exposição traz como tema a urgência de se pensar e agir em favor da natureza, propondo múltiplos
olhares sobre a relação de nossos corpos com as árvores.
Reproduzindo a Grande Galeria do Palácio das Artes no espaço virtual, removemos uma de suas
paredes para reconectar o espaço com o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, patrimônio
ambiental mais antigo da cidade de Belo Horizonte. Os artistas e técnicos que apresentam obras
e criaram a exposição são alunos e professores do Curso de Produção em Artes Visuais da Escola
de Artes Visuais, que completa 5 anos de existência, pertencente ao Centro de Formação Artística e
Tecnológica (Cefart) da Fundação Clóvis Salgado. Cuidando de cada aspecto da Curadoria, Expografia,
Produção e Arte & Educação, trazendo um respiro e ao mesmo tempo um momento de pausa, esse
trabalho coletivo e plural é um convite para vivenciarmos uma experiência de imersão em realidade
virtual para fruirmos a arte e, ao mesmo tempo, banhar nossos corpos de floresta.
Celina Lage
Curadora convidada
Celina Lage é curadora convidada. Artista transdisciplinar, professora do Programa de Pós-Graduação em Artes
(PPGArtes/UEMG) e dos Cursos de Graduação da Escola Guignard, Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).
Possui doutorado e mestrado na UFMG, pós-doutorado na National & Kapodistrian University of Athens (Grécia) e na
Athens School of Fine Arts (Grécia).
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CHAMA
Velha CHAMA que incendeia o meu coração
Nasce e brota, num sopro vivo feito de união.
Nos arvoredos dos nossos pulmões
Para que se respire e aspire em paz
Somos cinco em cinquenta e um
Somos plurais
Nossos corpos nas paredes e redes
Nossos rostos nas janelas e telas
Nossa imersão em nós
Permitiu ao verde respirar
Um dia a mais, pra recuperar o azul do mar
Tão fácil perceber
Não somos um
Somos plurais
Arma quente e potente é a educação
Expansiva, sinto que eu consigo te alcançar
Ela é uma CHAMA que traz um calor
Como aquele abraço forte seu que eu nunca esqueci
Eu ainda estou aqui
Logo em breve nós seremos mais
Somos todos mesmo quando um
Somos plurais
Cássia Silva é cantora, compositora, produtora e arte-educadora. Graduada em Música pela UFOP e pós-graduada em
Gestão de Empreendimentos Culturais pela PUC. Atualmente reside em Itabirito/MG, onde leciona Música para o ensino
fundamental e infantil. É aluna do Curso de Formação Continuada em Assistente de Produção Cultural em Artes Visuais
do Cefart/ FCS.
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Artistas, arquivos, acervos e coleções no digital
Ao longo de uma trajetória de quase duas décadas entre a prática como gestor, curador e pesquisador
de arte digital e tecnológica, me deparo constantemente com as instabilidades do campo. Seja do ponto
de vista tecnológico, das condições envolvidas de pessoas e instituições, ou do sentido conceitual e
abrangente do tema da arte por meio da vida digital.
Ser, viver e experienciar a arte no digital não é tarefa fácil, ainda que pareça, a partir da geração dos
nativos digitais. Artistas, instituições, curadores e demais profissionais como museólogos, arquivistas,
biblioteconomistas e gestores lidam com descontinuidades diversas que ultrapassam o limite entre
intenção e realidade concreta de conservar, preservar a memória coletiva e cultural de uma sociedade
cada vez mais pós-digital. O pós-digital em nosso contexto não se refere a uma passagem temporal
como ocorreu no modernismo, mas sim representa em termos simples a intensificação de um tempo
específico no próprio alcance do digital, considerando também seus efeitos colaterais no cotidiano.
Conceituar a transpor um entendimento de memória e cultura digitais lado a lado de ideias tradicionais
da memória e patrimônio requer a princípio um acordo tácito para a construção de um pensamento
que orbite novas ontologias a partir do digital. Uma ontologia por perspectivas digitais que permita
compreender a complexa trama social a partir das “coisas viventes”, em outras palavras, que vivem
conosco no “ser com o mundo”. Refiro-me essencialmente às tecnologias como as conhecemos, as
máquinas, os dispositivos, a cultura da produção imagética, por meio de softwares, e o digitalismo da
vida por elas provocado, alterando quase que por completo nossas formas de pensar, agir e sentir.
Nesse entendimento, Artistas, Arquivos, Acervos e Coleções no digital ganham um outro modelo
de notoriedade. Um modelo com base na potência em que reservam discussões não somente
sobre a estética e narrativa poética, mas sobre os modos de viver e produzir arte na complexa
contemporaneidade. Nossa sociedade é contada e representada por uma iconologia digital. Em uma
dualidade permissiva entre seus atores, e isso inclui o público que interage com os trabalhos por
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meio de ambientes programáveis físicos (instalações imersivas) e digitais (exposições virtuais), uma
escrita múltipla (dados, imagens, hyperlinks, realidades mistas) é produzida por muitos atores que
interagem no ambiente tecnológico e digital como lugar legítimo para nossa atuação e memória.
Pensar o papel desses importantes atores no contexto pós-digital é compreender que, cada vez
mais, as exposições construídas, exibidas e preservadas no digital representam sobretudo uma
cápsula permanente no tempo da memória da sociedade digital. Indo mais a fundo, geradoras de um
conhecimento e patrimônio acessíveis para um universo cada vez menos material e mais perceptivo
e cognitivo de nossa construção social e coletiva.
Portanto, exposições como as representadas neste catálogo carregam consigo muito além de
imagens e textos. São arquivos vivos, presentes na amplitude propagável e reprodutível do digital.
São cápsulas de uma sociedade complexa e seu modo de sentir e viver a vida com arte.
Sobre o projeto virtual da Mostra CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais, destinamos a ele um ambiente
de visitação virtual a partir de um navegador web, em um ambiente de reprodução em escala real
da Grande Galeria do Palácio das Artes em Belo Horizonte. O público interator vivencia o ambiente
tradicional da galeria, porém ampliado pelas possibilidades digitais exploradas pela curadoria e
demais membros da equipe, no qual cenários impossíveis na construção física se tornam passíveis
de experimentação e exploração no ambiente digital, enriquecendo os trabalhos artísticos de alunos
e professores do Cefart. O projeto também conta com uma aplicação web (conifer / rhizome) de
gravação de toda a exposição e experiência de visitação digital em formato de navegação e acesso
via browser, que mantém e garante no longo prazo o acesso futuro a todo o acervo dessa exposição.
Um acervo vivo, sendo mantidos e preservados todo o ambiente da galeria expositiva e os trabalhos,
o que seria impossível na realidade concreta.
Tadeus Mucelli é pesquisador e curador em arte e tecnologia. Mestre em Artes pela UEMG e doutorando em Ciência
da Informação. Premiado pelo Ministério da Cultura e Secretaria Especial da Economia Criativa (2014). Idealizador da
Bienal de Arte Digital e Festival de Arte Digital. Atua especialmente em projetos de arte, tecnologia, ciência com foco em
blockchains, memória e patrimônio digital.
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Observar a natureza
Guignard e a Escolinha do Parque
A pandemia do novo coronavírus evidenciou a fragilidade da sociedade tecnicista. Apesar de todo
avanço tecnológico, não foi possível impedir sua propagação, o que acarretou um terço da população
mundial em quarentena. O curioso foi que, em poucos meses, começaram as divulgações de estudos
que demonstravam reduções dos impactos no meio ambiente. O cenário pandêmico confirmou a
urgência de construção de um novo modo de viver que cuide da natureza e de toda forma de vida na
Terra. Nessa difícil tarefa, o conhecimento sensível assume papel fundamental. Esse saber surge da
ativação dos sentidos de nossos corpos e é capaz de ampliar nossa capacidade de afeto, empatia,
traz à tona o potencial criativo de transformação pessoal e social.
Sendo a arte por excelência o campo do conhecimento sensível, os desafios colocados aos profissionais
da área exigem ações que promovam mudanças. Nesse contexto vale evocar a experiência de
Alberto da Veiga Guignard na Escolinha do Parque. Na ocasião da comemoração dos 125 anos do seu
nascimento, a metodologia de ensino do artista apresenta-se contemporânea e muito pode contribuir
para que mais pessoas, na atualidade, consigam acessar o seu potencial criativo. Sua experiência
docente aconteceu, com prioridade, em parques urbanos – territórios que ele elegeu propícios para
criação e ensino da arte. O primeiro foi o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, mas foi em Belo Horizonte,
no Parque Municipal, que consolidou uma maneira particular para promover o pensamento em arte
com o auxílio direto da natureza. Na Escolinha do Parque, onde hoje encontra-se o Palácio das Artes,
Guignard explorou a grande área verde disponível em favor da sua concepção de ensino de desenho
como uma ação de sensibilização do olhar. Acreditava que o contato com a natureza favorecia a
atmosfera sensível.
Motivado em fazer com que cada aluno encontrasse o seu ser e a sua individualidade plástica, o
professor caminhava com eles pelo Parque, antes de começarem a desenhar, e pedia para que
observassem as árvores e tudo o que pudesse servir como motivação para ativar o olhar. Acreditava
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que o simples fato do artista voltar a sua atenção para as coisas simples da natureza, pouco óbvias,
era um poderoso instrumento para quebrar condicionamentos e visões normatizadas. O olhar
incansável para a natureza estimulava um despertar para uma realidade fantástica. O artista disse
que suas aulas nos parques consistiam em apurar a acuidade dos nervos óticos, um longo exercício
com ótimos resultados, e que sua primeira preocupação era formar a pessoa e depois o artista. Sara
Ávila disse, sobre a metodologia de ensino de Guignard em entrevista, que o que a arte fez por ela não
tinha ninguém no mundo que iria fazer. Ela havia sido liberta dos óculos culturais e internamente teve
a coragem de ser ela mesma. O conteúdo do relato da artista revelou com profundidade os efeitos
da metodologia do artista na Escolinha do Parque, bem como demonstrou o potencial transformador
que nasce do encontro da arte com a natureza.
Gabriela Clemente é artista-professora. Mestre em Artes pelo PPG Artes da UEMG. Estudante de Artes Plásticas na
Escola Guignard-UEMG. Graduada em História pela PUC-MG. Pesquisadora nas áreas: Ensino-aprendizagem em Arte;
Metodologias de ensino de Artistas-Professores; Teoria da produção e recepção; Arte, alimento e agroecologia.
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obras do acervo
textos críticos
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Sobre o ensino de crítica de arte e o ofício da crítica em tempos pandêmicos
Em 2021, a Escola de Artes Visuais traz, como resultado de um trabalho de formação pedagógica,
a exposição CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais, desenvolvendo conceitos sobre o meio ambiente,
com o tema árvores e arvoredos; sobre as questões da pandemia da Sars-CoV 2, com as restrições
sociais; e refletindo sobre algumas possibilidades de se conviver em novas estruturas, propondo
outras percepções de contato com a natureza. Esse projeto foi curado pela professora doutora da
Universidade Estadual de Minas Gerais (PPGArtes, Escola Guignard) Celina Lage. Nessa exposição, o
trabalho de crítica foi desenvolvido a partir de quatro obras presentes no acervo de artes visuais da
Fundação Clóvis Salgado (FCS).
Ao longo de 50 anos, a FCS, por meio do Palácio das Artes, vem salvaguardando diversas obras
artísticas significativas para a cultura brasileira, construindo a partir de seu acervo de artes visuais
um patrimônio de grande valor artístico. Nele constam 266 obras, obtidas por doações ou por
editais, permitindo, assim, a divulgação para o público, mediante as exposições do Acervo FCS e,
com isso, garantindo sua missão de agente de desenvolvimento humano e social, com a promoção
de experiências transformadoras. Dentre essas, para a presente exposição foram selecionadas as
obras “Selva” (1983), de Mario Fraga, “Sem Título” (1981), de Frans Krajcberg, e duas obras de Carlos
Wolney, “Grande Árvore Folharada” (1985) e a “Grande Árvore Verde” (1985).
Nesse sentido, esse acervo confere à FCS a possibilidade de se configurar como um equipamento
cultural de grande porte no Brasil, pois além de possuir o acervo de artes visuais, tem também
os acervos bibliográficos, de partituras, de mídias digitais e de figurinos, frutos da produção dos
corpos artísticos e outras produções artísticas do Palácio das Artes. Esse grande arquivo compõe a
memória da Instituição, que também configura uma parcela da memória do Estado. No Palácio das
Artes estão as galerias, o teatro, o cinema e também o Centro de Formação Artística e Tecnológica
(Cefart), no endereço da avenida Afonso Pena, nº 1537, onde funcionam cinco escolas de artes: Teatro,
Música, Dança, Tecnologia de Cena e Escola de Artes Visuais. A Escola de Artes Visuais oferece três
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cursos básicos e um técnico – de curadoria, de expografia, de arte-educação e de produção em artes,
respectivamente –, além de desenvolver ações para o Educativo FCS.
Com todas as adversidades acarretadas pela pandemia da Covid-19, o Cefart continua promovendo
de maneira consistente e inovadora o ensino e a aprendizagem de forma remota aos seus diversos
alunos. Assim, as disciplinas de Acervo e Arte Brasileira do Curso Básico de Curadoria fornecem
aos alunos matriculados a possibilidade concreta de pensarem a conservação, preservação, fruição
e análise das obras dessa coleção artística, que representa uma amostra dos caminhos da arte
brasileira nos últimos 50 anos.
O Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS contou, desde seu início, com a atuação dos professores
Lucas Amorim e Paulo Peixoto (in memoriam) e atualmente é conduzido pelas professoras e
professores Daniela Parampal, Giovane Diniz, Mara Tavares e Alexandre Ventura, que desenvolvem
práticas educativas para promover a competência de análise e da crítica de arte, com os alunos
nas suas respectivas disciplinas, nos mais diferentes suportes, técnicas e linguagens, em seus
componentes curriculares.
Para essa atividade específica de produção escrita para a exposição CHAMA!, a disciplina de Arte
Brasileira orientou os alunos a criarem uma crítica de arte sobre as obras do acervo FCS selecionadas
pela curadora, que foram as obras âncoras que conduziram todo o processo dessa produção, seguindo
como lema os fundamentos ensinados pela professora doutora Heloisa de Faria Cruz, orientadora
do mestrado do Professor Alexandre Ventura. Ela sempre lhe dizia: “escreva sobre aquilo que você
domina, evite adjetivos, descreva o objeto e trace relações coerentes com os signos contidos nas
obras, rejeite hierarquizações e juízos de valor”. Tendo essa ideia como norte, nas disciplinas de
Acervo e Arte Brasileira, os discentes desenvolveram os textos voltados ao exercício da reflexão,
sobre as obras já citadas, compondo assim os textos críticos presentes neste catálogo.
Vale ressaltar que, pela primeira vez na história da Escola de Artes Visuais, houve uma parceria entre
uma curadora convidada, professores e alunos com o interesse de produzir uma exposição e tendo
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como resultados a publicação de um catálogo, uma cartilha educativa e uma exposição, frutos desse
encontro. Assim, atende ao objetivo pedagógico de formação do ensino de Assistente em Curadoria,
que deve experimentar os ofícios da pesquisa, análise e confecção de um texto crítico em artes.
Partindo de um escopo que a crítica de arte vai além da apreciação da obra, o crítico em seu texto
deve mostrar as nuances e as sensibilidades para com os objetos artísticos, prever e debater os
efeitos dessas obras sobre o público, compreendendo a inserção do artista e de sua produção no
seu contexto histórico, sociológico, filosófico, econômico, político e psicológico. Dessa maneira, obras
de arte e seus autores são frutos de um tempo histórico e a relação dos seus signos com o público
fornece aos críticos muitas possibilidades de compreender e refletir sobre o seu devir.
Com a decadência dos jornais diários e revistas semanais, houve uma mudança significativa no
contexto da análise das obras de artes visuais e de exposições no Brasil a partir dos anos 1990.
Basicamente os profissionais que se propõem a debater e analisar obras de arte muitas vezes
ficam restritos aos sites de instituições culturais e redes sociais. Esses intelectuais atualmente não
produzem apenas textos críticos, mas múltiplos trabalhos reflexivos como: entrevistas com artistas,
produtores culturais, curadores e galeristas, podcasts, seminários, mentorias, ministram aulas de
artes visuais e história da arte, e também são convocados a analisaram alguns trabalhos específicos.
Essas pessoas, devido aos sistemas das artes na contemporaneidade, em muitos casos têm atividades
compartilhadas entre curadoria e docência em instituições de ensino superior.
A análise crítica é um dos processos da pesquisa artística, pois, ao se examinar os múltiplos aspectos
da obra de arte, essa apreciação teórica mostra ao artista e ao seu público os possíveis significados
dos objetos e suas potencialidades. Assim, artistas, curadores, arte-educadores e produtores têm
a possibilidade de aguçarem o seu olhar crítico, enriquecendo suas pesquisas, ou seja, a partir da
crítica de arte eles podem ampliar suas possibilidades de abordar os objetos e fenômenos artísticos,
incorporando esses novos olhares e abordagens para melhor alcançar seus objetivos.
Convido vocês à leitura dos textos dos alunos do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
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Alexandre Ventura é professor de História da Arte no Cefart/FCS, graduado em História pela UFMG e mestre em História
Social pela PUC-SP.
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Sem Título, 1981
gravura
Frans Krajcberg
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Natureza e Recriação: Krajcberg e os vestígios de um esplendor destruído
A gravura “Sem Título’’, datada de 1981, é obra criada por Frans Krajcberg, artista plástico polonês
naturalizado brasileiro, premiado na Bienal de Veneza e na Bienal de São Paulo. A trajetória do artista
reflete os atravessamentos entre sua vida pessoal, legado e temáticas abordadas, relacionadas ao
meio ambiente e à natureza.
Escultor, pintor, gravador e fotógrafo, Frans Krajcberg (1921-2017), formado em engenharia e artes
pela Universidade de Leningrado, teve sua mãe, comunista, presa durante a Segunda Guerra Mundial
e, ainda adolescente, precisou lidar com o trauma da guerra e da perda de toda a sua família, de
ascendência judia, nos campos de concentração nazistas. Em 1948, chegou ao Brasil pela primeira
vez e produziu, então, seus primeiros trabalhos, frutos do contato direto com a natureza, por meio do
qual, segundo ele próprio, descobriu formas, cores e novos tipos de arte. O polivalente artista residiu
em uma região de floresta no interior do Paraná e dedicou-se à produção de pinturas.
Entre idas e vindas, Krajcberg retornou ao Brasil em 1964, após um período em Paris e na Espanha.
Tem passagem por Minas Gerais, vivendo em Itabirito, onde começou a produzir suas próprias tintas a
partir dos pigmentos naturais encontrados na região. Em seguida, fixou residência na região de Nova
Viçosa, no sul da Bahia, e lá construiu seu sítio Natura, casa e ateliê incrustado em resquícios de Mata
Atlântica, vivendo de forma reclusa. A partir dessa segunda fase, as obras do artista extrapolaram a
pintura e ele se dedicou também à escultura, à gravura e à fotografia. Foi nesse período que Krajcberg
iniciou incursões em território brasileiro para coletar materiais e fotografar crimes e desastres
ambientais, utilizando-os como referência e matéria-prima para produções posteriores.
De acordo com Krajcberg, as cenas das queimadas no Brasil o faziam lembrar-se dos cenários
de guerra que havia presenciado, tendo em vista a desolação e destruição deixadas no ambiente.
Integrante do Naturalismo Integral, trabalhava com, sobre e na natureza e, por meio dessa simbiose,
expressava sua revolta e denunciava a violência praticada pela humanidade. Krajcberg aborda
31
a natureza enquanto temática, caminho e matéria de sua arte, fazendo desses eixos importante
percurso que proporciona debates acerca da defesa do meio ambiente. É possível que o contundente
impacto da destruição ambiental no pensamento e nas obras de Krajcberg tenha levado o artista a
um desejo de eternizar elementos antes de seu desaparecimento.
Em 1981, Krajcberg passou a produzir gravuras de maneira que foge do tradicional entalhe da matriz.
Ele moldava em gesso grandes folhas de árvores, como a embaúba e, a partir do molde, imprimia
em papel artesanal. Como aponta o crítico de arte Frederico Morais, tais gravuras eternizam um
momento do esplendor da forma artística, desvendando a relação entre arte e natureza no processo
de criação do artista, para quem a natureza é matéria-prima essencial. Ademais, tal como sinaliza
Heidegger, a obra é símbolo e, nesse caso, ela é símbolo de uma vida e produção artística dedicadas
a perpetuar os vestígios de um esplendor natural em plena destruição e reverberar artisticamente o
grito por socorro da natureza.
Na vigorosa gravura em questão, cujo suporte mede 60 centímetros de altura por 48 centímetros
de largura, e cuja imagem de folha representada tem medidas semelhantes, ocupando quase toda
a área, suporte e superfície se tornam a mesma coisa. O suporte, a folha de papel, deixa de ser um
simples apoio para a obra e passa a integrar a narrativa com tanta força quanto a marca da folha que
um dia ali esteve. A impressão de uma folha sobre uma folha de papel denota a simbiose cíclica que
o consumo da natureza nos impõe. Folhas de papel feitas de celulose trazem consigo, impressa, uma
digital da sua origem. A gravação do que no passado foi uma folha, na folha, quase como um fóssil,
é testemunho de sua existência, mesmo que hoje ficcional. Aquela folha não existe mais como fora,
mas sim transformada. São os vestígios metafísicos de uma existência.
Na obra monocromática, o destaque ocorre pelo contraste entre as texturas do papel e da folha e pelo
jogo pictórico de luzes e sombras. Marcas em branco, cicatrizes como que atestando o fim. Linhas,
texturas e volumes impregnados do vazio resultado da destruição. Mas também sinais esperançosos
por um novo começo. Uma folha em branco em uma folha em branco, quase que colocando as bases
para, como humanidade, repensarmos nossa relação com a natureza e sua destruição, fazermos
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diferente, recomeçarmos. Estariam as folhas, as árvores, as plantas em geral fadadas a terem
apenas sua memória preservada? Pedindo licença poética a Magritte, isso não é uma planta. Isso é
uma gravura. Entretanto, além de gravura, é também um cadáver.
Rastros do que um dia existiu, sobre matéria de si mesma, morta. Porém, vestígios esses que compõem
uma obra viva e que se mantém extremamente atual, dialogando com questões contemporâneas
pulsantes, mesmo décadas após sua concepção, tragicamente. Cabe ressaltar que, para a sociedade,
ao longo de sua história, o papel é símbolo de registro, documento e concretude do discurso. Lugar
para onde vai o que se quer guardar. Memórias sobre papel que, enquanto sociedade, entretanto,
tem se distanciado da natureza e são justamente os encontros proporcionados por trabalhos como
esse que, de alguma maneira, tornam mais potentes as percepções fundamentais que nos chamam
à compreensão de um todo interdependente.
Debora Viveiros é mestranda em Educação pela UFMG, bacharel em História pela PUC Minas, especialista em História da
Arte Sacra pela Faculdade Dom Luciano Mendes e aluna do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
Lívia Lopes é artista plástica, estudante de Artes Plásticas na Escola Guignard-UEMG, graduada em Ciências Sociais pela
UFMG e Bacharel em Relações Internacionais pela PUC-Minas. Aluna do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
Monelise Vilela é professora e arte-educadora, graduada em Letras com habilitação em português e francês, mestra
em Estudos e Teoria Literária pela UNESP - IBILCE, graduanda em Pedagogia pela UNIVESP e aluna do Curso Básico de
Curadoria do Cefart/FCS.
Virgilio de Barros é fotógrafo e artista visual, pós-graduado em fotografia pela UNIARA -SP, pós graduando em Artes
Plásticas e Contemporaneidade na Escola Guignard UEMG e aluno do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
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Referências
Textos
FRANS Krajcberg.In: Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes – ECA/USP.Disponível em: <http://www2.
eca.usp.br/cms/index.php?option=com_content&view=article&id=69:frans-krajcberg&catid=14:folios&Itemid=10%20
%20>. Acesso em: 04 de março de 2021.
FRANS Krajcberg. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível
em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10730/frans-krajcberg>. Acesso em: 02 de março de 2021. Verbete da
Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
FRANS Krajcberg. In: EscritorioDeArte.com. Disponível em: <https://www.escritoriodearte.com/artista/frans-krajcberg>
Acesso em: 04 de março de 2021.
Vídeos
Krajcberg – O poeta dos vestígios. [Dirigido por] Walter Salles, 1986, vídeo (45 minutos). Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=7XALlTfvJnU&ab_channel=MiguelClark. Acesso em: 05 mar 2021.
FRANS Krajcberg, escultor, pintor e gravador, sobre seu trabalho. [Produzido por] Nelson Priori, 1989, vídeo (7 minutos e
14 segundos). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jC1n9dcxj6Y>. Acesso em: 04 de março de 2021.
Frans Krajcberg, 2008. Enciclopédia Itaú Cultural ES. [Produzido por] Itaú Cultural, 2008, vídeo (4 minutos e 54 segundos).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fXnes_K6a5M>. Acesso em: 05 de março de 2021.
Krajcberg - Manifesto. Trailer Oficial. [Produzido por] Lauper Filmes, 2019, vídeo (4 minutos e 35 segundos). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=n7zYmahI_Es>. Acesso em: 05 de março de 2021.
O Legado de Frans Krajcberg. [Produzido por] Jornal O Globo, 2018, vídeo (5 minutos e 51 segundos). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=vE-I7OOV8Ew>. Acesso em: 04 de março de 2021.
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Grande Árvore Folharada, 1985
óleo sobre tela
Carlos Wolney
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Grande Árvore Verde, 1985
óleo sobre tela
Carlos Wolney
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O sutil prenúncio do outono na “Grande Árvore Folharada”
e “Grande Árvore Verde” de Carlos Wolney
Carlos Wolney nasceu em abril de 1948, é mineiro de Formiga. Estudou Filosofia e Artes na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), porém foi na Escola Guignard, da Universidade Estadual de Minas
Gerais (UEMG), que assumiu cargo docente e de diretoria nas últimas décadas. Quando jovem, em
meados dos anos 1980, o artista estudou pintura na Escola Guignard da UEMG, situada no Palácio
das Artes e integrada ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti. Muitos de seus professores e
professoras foram alunos e alunas do pintor Alberto da Veiga Guignard (1896-1962). Nesse sentido,
existe uma linha estética dessa famosa escola mineira que continua a influenciar as gerações, a
começar pela experiência de vivenciar uma escola de arte em um parque. Características como
a observação da natureza, a mímese das paisagens e do espírito de Minas Gerais, os grafismos,
as técnicas como a transparência, a mancha, entre outras, são percebidas em vários seguidores e
seguidoras do Mestre Guignard. Yara Tupynambá (1981, p. 24) na Revista Informa diz que
(...) vivendo sob a influência de um grande mestre, num mesmo local, vivendo o
mesmo gosto pelas coisas mineiras, um grupo de jovens artistas pôde absorver
os ensinamentos de Guignard, retrabalhá-los e dar-lhes cunho pessoal, e, agora já
maduros, estes mesmos artistas passam sua herança para Sanzio, Chico Ferreira,
Júlio Espíndola, Lúcia Marques, Olímpio Couto, Manoel Serpa e Carlos Wolney,
mostrando que uma grande corrente se estabeleceu, do passado ao futuro, e que
esta herança colhida é um bem a ser carinhosamente conservado, passando de
nossos corações para outros corações.
Ao pensar nas pinturas “Grande Árvore Verde” (1985) e “Grande Árvore Folharada” (1985) de Carlos
Wolney, vemos que elas ocupam quase todo o espaço de seus suportes, as árvores possuem folhagens
volumosas e conseguimos perceber a luz incidindo em ambas, cada qual com sua característica
luminosa que induz o fruidor a buscar localizar a árvore dentro do dia, na tentativa de colar uma
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noção de tempo. Sobre a tela “Grande Árvore Folharada”, poderíamos nos perguntar: será que foi de
manhã cedo? Esse céu azul iluminado pelo sol com nuvens brancas pode indicar ser um momento
perto do meio do dia? Ou talvez seja o sol do meio da tarde? Quais as hipóteses podemos criar sobre
a presença dos tons de amarelo na folhagem? E a “Grande Árvore Verde”? Será que podemos pensar
em um momento do entardecer, da noite, da madrugada ou do amanhecer do dia? Ou quem sabe um
céu de ventania? Ou um momento que precede uma tempestade? Seu céu é uma enorme mancha
azul (parece ser azul índigo ou azul cobalto), um pano de fundo que tem sua cor potencializada pela
folhagem densa da grande árvore, os tons de verde da copa criam dinamismo na composição e
aqueles mais escuros se aproximam de grafismos, como uma linguagem simbólica daquele universo.
É interessante dimensionar a obra, pensar e visualizar seu tamanho real, sua base mede 1,20m e sua
altura, 1,0m. Uma casa com um pé direito comum tem em altura entre 2,5m e 3m, então imagine que
a altura da obra é um terço da altura de um cômodo comum, visualize uma das telas na sua frente,
a copa dessa árvore com suas particularidades. Percebe-se claramente o domínio da pintura, as
árvores se dão como manchas enormes de tinta a óleo tendendo à forma geométrica do quadrado, o
que se replica no formato físico da tela, então a sensação é de que ambos os quadrados se unificam,
ou seja, a copa da “Grande Árvore Folharada” e da “Grande Árvore Verde” são a tela, ao passo que
suas bordas e os céus funcionam como molduras.
Podemos dizer que as copas se impõem ao olhar, exigem que sejam olhadas, fruídas, valorizadas,
minuciosamente observadas e lidas em seus detalhes, enquanto que seus espremidos troncos, que
as sustentam, localizam-se no canto inferior direito da obra, onde o olhar passa rápido, onde o olhar
é apenas passagem. Paradoxalmente, os troncos e as raízes de uma árvore ficam, enquanto suas
folhagens são efêmeras, outonais. Entre o efêmero e o permanente, o que nos faz desejar olhar
por mais tempo essas frondosas copas, na tentativa de decifrá-las em seus detalhes e registrá-las
mentalmente, é algo que Wolney materializa de maneira singular: a sutileza da passagem do tempo.
Marília Roque é artista, pesquisadora, bacharel em Moda pela EBA / UFMG, licenciada em Artes Visuais pelo Centro
Universitário Claretiano. Aluna do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
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Referência
TUPYNAMBÁ, Yara. A Força Positiva do Mestre Guignard. In: “REVISTA INFORMA”. (Escola de Belas Artes, Universidade
Federal de Minas Gerais). Belo Horizonte, MG – Brasil, 1981. (p. 22 – 25).
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A grande vida na “Grande Árvore Verde” de Carlos Wolney
Artista plástico reconhecido na arte contemporânea brasileira, Carlos Wolney possui trabalhos em
diversas técnicas e formatos, tendo desenvolvido uma grande gama de pinturas e desenhos, sendo
um dos gêneros mais presentes na paisagem. Na tela A Grande Árvore Verde (1985), evidencia-se um
dos elementos mais recorrentes no processo artístico de Carlos Wolney: a árvore. Com destaque para
as cores utilizadas, sua obra se constitui majoritariamente de representações figurativas, dentre elas,
a estrutura tronco-curto/copa-larga está presente em diversos trabalhos do artista, representando
assim uma das marcas de sua pintura.
Em uma entrevista dada enquanto realizava a exposição “O afeto do olhar”, no Centro Cultural da
UFMG, declara: “A minha arte tem essa significação que é a minha relação com o mundo, é uma
síntese que eu faço entre o meu olhar que é afetado por aquilo que eu vejo”. Segundo os gestaltistas,
Wolney trabalharia principalmente com aquilo que denominam de dado retiniano, ou seja, o objeto
enquanto fenômeno percebido, que, ao contrário do objeto distal, ou a coisa em si, é dependente da
interferência e da experiência do homem enquanto um ser no mundo.
Observando esse seu trabalho, fica evidente que não se trata de uma representação realista da flora,
mas uma figuração realizada a partir do contato empírico da percepção retiniana do artista com a
natureza à sua volta: “Me pauto muito pela paisagem, pela natureza. [...] Faço uma síntese, eu pego
elementos e os trabalho [...] um deles é a árvore. [...], um elemento simbólico que ocorre no meu
trabalho”. Dessa forma, Wolney faz uso dos seus estudos em paisagem para selecionar um elemento,
por meio do qual serão retrabalhadas as suas significações.
Na pintura, temos uma árvore ocupando quase todo o espaço da tela. Tal elemento preenche a
imagem da seguinte maneira: seu tronco é curto e se limita à parte inferior da tela, já a copa se
espalha por quase toda a imagem, formando uma estrutura em formato retangular. Essa última
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possui uma textura chamativa, pois são intercaladas pinceladas de diferentes tons de verde, sendo
mais utilizados os tons mais escuros. À sua volta, tem-se um fundo azul sem mais detalhes.
As folhas e os galhos, pontilhados de modo aparentemente solto, formam uma massa homogênea
quase indiscernível, chamando nosso olhar para imergir no rebuliço de associações mentais que
partem dali. Dentre elas, a mais recorrente é a árvore como simbologia da vida. Não apenas na arte
contemporânea, mas também presente em todas as culturas ao redor do mundo, a árvore simboliza
a vida, o crescimento, e talvez por isso seja um dos primeiros símbolos a serem associados quando
a intenção é falar da natureza.
No caso de “A Grande Árvore Verde”, podemos ver de forma inequívoca a presença dessa simbologia;
porém, devido ao destaque que o artista confere à copa da árvore, nós somos levados para outro
local, o qual dialoga muito mais com a magnificência da vida. Na estrutura das árvores, o tronco é de
suma importância, entretanto, na grande maioria das árvores, o sítio que abriga a vida é a copa. Nela,
pássaros encontram um bom local para fazerem seus ninhos; é por onde muitos macacos traçam
suas rotas diárias, saltando de galho em galho; e não podemos esquecer que encontramos aí o local
onde os frutos nascem e amadurecem. Assim, por meio da experimentação realizada na pintura de
Wolney, a qual resulta nessa árvore de imensa copa, nosso olhar deixa de perceber uma paisagem
com uma vista aberta para notar o grande horizonte de possibilidades abrigado dentro da copa dessa
árvore. Certo momento ela parece transformar-se em ilha, o céu em mar, as folhas em milhares de
pequenas árvores.
A obra comunica muito com essa selva de concreto em que vivemos trancafiados atualmente. No
momento da pandemia da Covid-19, em que estamos presos em nossos cubículos empilhados por
andares habitáveis, milhares de pessoas morrem diariamente lá fora. Ver uma árvore, uma flor,
a grama, é um enlevo necessário para suportar a dor da morte. O verde carrega nossos espíritos
com a esperança de que voltaremos a florescer como sociedade. Nesse sentido, a obra de Wolney
aponta essa idílica ilha onde a natureza se arrasta pelo espaço, com o frágil tronco que a liga à
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terra corrompida pelas mazelas humanas, que dela se aproveitam irremediavelmente, tirando-lhe o
vigor próprio, e ao mesmo tempo dizimando a possibilidade de reconectarmos com aquela inocência
cândida repleta de felicidade e ambições que a natureza espelha em cada um de nós, indivíduos tão
orgânicos e singelos quanto ela.
Ana Beatriz Cucaroli é atriz profissional e graduanda em Letras - Estudos Literários pela UFMG. Trabalha em diversos
projetos em diferentes segmentos artísticos. Aluna do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
Tiago de Castro Dias Sampaio é graduando em Psicologia pela UFRJ, com interesse em crítica de arte e cinema. Aluno
do Curso Básico de Curadoria do Cefart/FCS.
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Referências
Textos
ATHIÊ, Joyce. “50 anos de arte do pintor e desenhista Carlos Wolney”. O Tempo, Belo Horizonte, 30 de abril de 2015.
Disponível em:
<https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/50-anos-de-arte-do-pintor-e-desenhista-carloswolney-1.1031337>. Acesso em: 05 de Mar. 2021.
CARLOS Wolney. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível
em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa246179/carlos-wolney>. Acesso em: 05 de Mar. 2021. Verbete da
Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
COSTA, Cátia Miriam. “A Árvore Convertida em Palavra”. In: Revista Mulemba, Revista do Setor de Literaturas Africanas de
Língua Portuguesa da UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ, v.1, n.1, Outubro, 2009.
GRANDE Árvore Vermelha. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021.
Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra32829/grande-arvore-vermelha>. Acesso em: 05 de Mar.
2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7.
Vídeos
CIRCUITO Atelier – Carlos Wolney. [Produzido por] AGENDA, Sem data, vídeo, (3 minutos e 35 segundos). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=osNAwNvYECM> Acesso em: 05 de Mar. 2021.
Exposição revela o mundo simbólico e poético de Carlos Wolney. [Produzido por] AGENDA, Exibido em 11/07/2019, vídeo,
(4 minutos e 12 segundos). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2X30Pm8x6dM\>. Acesso em: 05 de Mar.
2021.
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Selva, 1983
óleo sobre tela
Mário Fraga
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Da janela, a Selva.
Filho de pais baianos, nascido no Rio de Janeiro, e pertencente à classe média carioca, Mário Fraga é
um artista que começou a trilhar e desenvolver seu talento bem cedo. Incentivado pela família, teve o
contato precoce com o mundo das artes. O desenho e a pintura acompanham o artista desde o início
de sua trajetória. Sob a influência dos tios, ainda menino, conheceu diversas técnicas de pinturas e
frequentou muitos ateliês. Decidido a seguir um caminho afim às Artes, formou-se em Arquitetura e
Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1971, e três anos depois finalizou
uma pós-graduação em Planejamento Urbano na “École Nationale Supérieure Louis-Lumière” em
Paris, na França, onde permaneceu até o ano de 1976. Sua carreira profissional é bem sólida e
seu currículo extenso, trabalhando em várias instituições e sendo premiado por onde passou. Em
sua trajetória a polivalência se destacou, fazendo dele uma espécie de “artista múltiplo”, ocupando
diversos espaços, como professor, arquiteto, Secretário Geral da Sociedade dos Amigos do Museu
do Inconsciente, Diretor do setor Audiovisual do NUTES/CLATES e tendo suas obras expostas nas
galerias comerciais e espaços públicos.
Em seu repertório, Fraga carrega a influência dos artistas europeus, em especial Paul Gauguin,
Vincent Van Gogh e Anselm Kiefer, criando uma linguagem particular e, ainda assim, universal. No
início da década de 70, participou de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no
exterior. Em 2012 conquistou o Prêmio do Instituto de Arquitetos do Brasil, pelo projeto e construção
de seu Atelier-Residência no Itanhangá, no Rio de Janeiro, em parceria com a arquiteta Carla Juaçaba.
Em constante mutação, o trabalho do artista é experimental em sua essência, ou seja, os materiais
não convencionais são ressignificados na busca de questões pictóricas, cujo elemento de ligação
é a relação com a terra. Por meio da pintura e suportes diversos, propõe o questionamento da
espacialidade como fundamento estético. Dessa forma, analisar a obra do artista é refletir sobre a
artificialização do sítio natural pelo homem, bem como relacioná-la aos conceitos de paisagem e
ambiente, aprofundados pela formação do artista em arquitetura.
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A obra “Selva”, óleo sobre tela, concebida pelo artista no ano de 1983, faz parte do acervo da Fundação
Clóvis Salgado. A obra trata de forma inovadora e contemporânea de assuntos que encontram ecos
na arte, na geografia e nas ciências naturais de modo geral. Essa obra possui grandes dimensões,
aspecto esse presente em diversos trabalhos do artista, despertando o olhar pelo uso de cor em
composições marcantes. As cores são organizadas por meio de retângulos orientados em linhas
diagonais. Tons claros e escuros se complementam e se misturam, permitindo a sensação de volume.
Assim como em outros trabalhos do artista, a imagem não pode ser definida somente de um ângulo,
ou nem um ponto de vista único ou frontal. A abstração em seu quadrante, misturada com as cores,
mostra a riqueza de tons de verde meticulosamente distribuídos, como uma copa de árvore grandiosa,
densa, úmida, uníssona e quase indivisível. Tal copa nos impede de ver além, se não percorrermos o
caminho por dentro dela, quase que inexplorável. A criação, ou reapropriação de uma “selva”, é capaz
de elaborar um novo imaginário subjetivo e inusitado. Na mescla dessas possibilidades pictóricas, é
possível encontrar na obra a sensação do “inquietante”, como afirma Sigmund Freud.
O efeito inquietante é fácil e frequentemente atingido quando a fronteira entre
fantasia e realidade é apagada, quando nos vêm ao encontro algo real que até então
víamos como fantástico, quando um símbolo toma a função e o significado plenos do
simbolizado, e assim por diante (FREUD, 1917-1920, p. 328).
A partir da junção dos elementos com os quais suscita um jogo em sua tela, as formas geométricas,
juntamente com a variedade de cores, com destaque para o verde musgo, mimetizam ao seu modo
a selva, palavra essa presente no título da obra. Outro ponto em destaque é a união dos signos,
que provocam nossa imaginação, compondo margens interpretativas possíveis de tronco e árvore.
A partir dessas diversas possibilidades de compreensão e produção de sentido, o espectador é
convidado a olhar por uma janela, onde a imagem em destaque pode ser tanto um bosque tomado
pelas extensas galhas verdes, cobrindo o parapeito de vidro da suposta janela, sendo preenchida
por completo. Entre as formas geométricas, há o encontro de uma linha vertical e uma horizontal
em tom terroso, cuja inserção entrelaçada ao verde saúda e reconstitui, inevitavelmente, as cores
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presentes na natureza. Se pensarmos a partir de outro ângulo, a imagem vista de cima, como se
fosse um drone sobrevoando uma selva, os sentidos da obra transmutam rapidamente. O quadro
de um bosque, com as cores em diversos tons, intercaladas em verde claro e escuro, torna-se uma
grande floresta tropical. Suas duas balizas retas, uma vertical, e a outra horizontal, quando se cruzam
em um determinado ponto, poderiam também nos remeter a estradas abertas pela ação do homem
sobre a natureza. Os entrelaçamentos sugeridos conferem uma densidade impenetrável à imagem,
desafiando a imaginação e instigando o espectador a tentar prendê-la e adentrá-la de algum modo.
Anderson Agulhari Bahia é psicólogo com especialização em Neurociências, ramo de atuação psicologia hospitalar,
ressignificação do luto e da morte. Fotógrafo amador, atualmente é estudante do Curso Básico de Curadoria da Escola de
Artes Visuais do Cefart/FCS.
Beatriz Radicchi é produtora cultural e graduanda em Comunicação Social Artística. Atualmente é estudante do Curso
Básico de Curadoria da Escola de Artes Visuais do Cefart /FCS.
Marden Ferreira é estudante de Letras com formação complementar em Jornalismo, fotógrafo e pesquisador das
poéticas. Atualmente é estudante do Curso Básico de Curadoria da Escola de Artes Visuais do Cefart /FCS.
Roberta Silvestre é artista multidisciplinar, graduanda de arquitetura e urbanismo na UFMG. Atualmente é estudante do
Curso Básico de Curadoria da Escola de Artes Visuais do Cefart /FCS.
Tiago Borges é professor e historiador. Atualmente é estudante do Curso Básico de Curadoria da Escola de Artes Visuais
do Cefart /FCS.
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Referências
FREUD, Sigmund. O Inquietante. In: Obras Completas de Sigmund Freud. História de uma neurose infantil. “O homem dos
Lobos”. Além do princípio do prazer e outros textos (1917-1920). Paulo César Sousa, Trad. Vol. 14. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010, p. 328.
GUMBRECHT, Hans Ulrich. Cascatas de modernidade. In GUMBRECHT, Hans Ulrich. Modernização dos sentidos. São Paulo:
Ed. 34, 1998. 319 p (Coleção Teoria). P. 9-32.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
FRAGA, Mario. In Vitro: Maria Fraga. Disponível em <https://www.invitro-mariofraga.com>. Acesso em: 5 de março de
2021.
MARIO Fraga. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Disponível em:<http://enciclopedia.
itaucultural.org.br/pessoa9220/mario-fraga>. Acesso em: 06 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979060-7.
PAZ, Silas Lozano. Maria Rita Kehl no Café Filosófico da TV Cultura discorre sobre o tema: Identidades e Ressentimento
Psicológico. Youtube, 2015. (12m36s). Disponível em: <https://youtu.be/fFDb8KR1rCM>. Acesso em: 23 de março, 2021.
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obras selecionadas
escrita coletiva
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Imagens, escritas e colaborações
A relação que estabelecemos com a imagem é construída a partir de um aspecto cultural e outro
individual, ambos se realizam quando estamos diante da imagem, que guarda em si seus significados
múltiplos. E o que dizer sobre essa imagem? Como ela pode nos tocar no poético? Foram essas
ideias que nos lançaram sobre as obras submetidas na CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais… Uma
experiência de escrita sob o signo da imagem. Esse aspecto busca situar uma possível escrita sobre
uma imagem da arte, que estaria para além de um sentido de verdade. Ela, manifesta, seria uma
experiência outra de imagem, que nos convida a fazermos a nossa experiência. Nesse sentido, o
processo desenvolvido com os alunes de Curadoria era também experimentar uma escrita-esboço,
uma escrita que se manifestasse no fluxo de ideias inacabadas, de proposições, de tentativas, a fim
de que se permitisse uma outra forma de expressão.
Foram 24 obras submetidas e 18 pessoas trabalhando no processo. Várias ideias, interpretações,
questionamentos e formas para construir o primeiro catálogo de uma exposição da Escola de Artes
Visuais do Cefart. Para dar conta de tantos desejos propôs-se fazer uma experiência: a escrita
colaborativa, que tem como base criar textos compartilhados, afirmando processos com autorias
dialogadas, em que as ações são desenvolvidas a partir de reflexões, discussões, acrescentando,
editando e montando possibilidades de construir uma ideia. Dessa forma, a formação no curso de
Curadoria seguiu essa linha, para que se pudesse sentir a partir do lugar da conversa, da escuta,
da partilha e da negociação dos desejos. O suporte foi iniciado no Documento do Google Drive, um
processador de textos on-line que permite o compartilhamento das informações. Depois seguimos
em formato Power Point.
Dessa forma a metodologia adotada aconteceu após a escolha, no acervo da FCS, das obras âncoras
para a CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais, e da definição do conceito, pela curadora Celina Lage,
e abriu-se uma chamada para estudantes e professores da Escola de Artes Visuais do Cefart
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apresentarem trabalhos autorais para compor o projeto. Foram 22 obras selecionadas, em um
processo que observou a pertinência ao tema da CHAMA! e a qualidade de execução dos trabalhos.
Tal processo, com apreciação e escolha das obras, foi desenvolvido com trocas e diálogos coletivos
entre professores e alunes do curso de Curadoria junto à Curadora.
Ao longo dos encontros desenvolveu-se um olhar atento e apurado para as relações que surgiam
entre as obras. São relações formais, conceituais, tonais e processuais que possibilitaram encontrar
caminhos e ligações entre as obras.
Em um segundo momento, após a seleção dos trabalhos, o processo continuou: o desejo agora
era organizar um catálogo. E surgiram as perguntas: Como essas obras poderão ser vistas? Como
apresentar os textos? Qual o caminho que as páginas desse catálogo irão percorrer? Com essas
e outras perguntas, os estudantes, com orientação dos professores, criaram o próprio método de
organização junto ao compartilhamento de pesquisas e percepções, gerando uma escrita coletiva/
colaborativa espontânea.
O resultado dessa pesquisa aparece na forma de apresentação das obras e no texto “Narrativas
arbóreas das imagens desejadas”.
Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de
Artes Visuais do Cefart/FCS.
Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola de Artes Visuais do
Cefart/FCS.
55
simbiose
hibridismo
ancestralidade
conexão
Impermanência;
Cor de jambo;
Caindo Dentro;
NÓS: minha segunda pele;
Distopia;
Patrono;
Renascerá;
Ensaio para ser Árvore;
Cuidado.
56
ser árvore
57
Impermanência, 2021
videoarte – 60’’
Daphne Cunha
58
59
Cor de jambo, 2019
fotoperformance
Aline Ambrósio
60
Caindo dentro, 2020
fotoperformance
Dara Blois
61
NÓS: minha segunda pele, 2021
fotoperformance
Júnior Garcia
62
Distopia, 2020
fotoperformance
Lívia Lopes
63
64
Patrono, 2019
fotoperformance
Marden Ferreira, Djalma Ramalho
e Gabi França
65
Renascerá, 2020
fotoperformance
Nathália Bruno
66
67
Ensaio para Árvore(Ser) – 2021
fotoperformance
Nirvi
68
Cuidado, 2021
fotoperformance
Roberta Silvestre
69
política
protesto
aquecimento global
denúncia
O Calor do Instante;
A Cidade é nosso jardim;
Natureza Morta;
Uma América;
Tudo o que vive é sagrado;
Árvore da saudade;
Tronco ExTendido;
Uma lembrança minha pela de minha avó.
70
árvore é mundo
71
72
O Calor do Instante, 2021
colagem
Gabriella Pedro
73
A Cidade é nosso jardim, 2021
videoarte - 30’’
AlaBa
74
Natureza Morta, 2021
fotografia
Érika Lima
75
Uma América, 2013
fotografia
Mara Tavares
76
77
Tudo que vive é sagrado, 2021
fotografia
Sophia Alberti
78
Árvore da Saudade – O que restou do Vila Viva, 2021
fotografia
Tborges
79
80
Tronco ExTendido, 2021
fotoperformance
Virgilio de Barros
81
Uma lembrança minha pela de minha avó, 2021
foto relato – 58
Daniela Parampal
82
83
respiro
olhar
contato
momento
O sonho da Terra;
Jardins Suspensos;
Respiro;
Quando Reparei nos Pássaros;
Do quintal, olhos e capilares;
84
ARvore
85
O sonho da Terra, 2021
instalação virtual
Danilo Celso
86
Jardins Suspensos, 2021
fotoperformance
Rô Gontijo
87
Respiro, 2021
curta-metragem – 180’’
Ana Beatriz Cucaroli
88
Quando eu reparei nos pássaros, 2021
videoarte – 149’’
Daniela Parampal
89
Do quintal, olhos e capilares, 2021 – 60’’
videoarte em loop
Marília Roque
90
91
Entre linguagens pictóricas e acervos,
conceitos e estudos,
há o desejo de arvorecer
92
escrita colaborativa
93
Narrativas arbóreas das imagens desejadas
EIXOS TEMÁTICOS:
1.
ser árvore (raiz)
obra âncora: S/T, 1981, Frans KRAJCBERG.
- SIMBIOSE - HIBRIDISMO - ANCESTRALIDADE - CONEXÃO - REDE Obras: Impermanência; Cor de jambo; Caindo Dentro; NÓS: minha segunda pele; Distopia; Patrono;
Renascerá; Ensaio para ser Árvore; Cuidado.
2.
árvore é mundo (caule / corpo / tronco)
obra âncora: Selva, 1983, Mario FRAGA.
- POLÍTICA - PROTESTO - AQUECIMENTO GLOBAL - DENÚNCIA – PRESENÇA Obras: O Calor do Instante; Cidade é nosso jardim; Natureza Morta; Uma América; Tudo o que vive é
sagrado; Árvore da saudade; Tronco ExTendido; Uma lembrança minha pela de minha avó.
3.
ARvore (copa - fotossíntese)
Obras âncoras: Grande Árvore Verde, 1985, e Grande Árvore Folharada, 1985, Carlos WOLNEY.
- RESPIRO - OLHAR - CONTATO - MOMENTO - PAUSA – ENCONTRO Obras: O sonho da Terra; Jardins Suspensos; Respiro; Quando Reparei nos Pássaros; Do quintal, olhos
e capilares.
94
1.
ser árvore (raiz)
- SIMBIOSE - HIBRIDISMO - ANCESTRALIDADE - CONEXÃO -
Obras: Impermanência; Cor de jambo; Caindo Dentro; NÓS: minha segunda pele; Distopia; Patrono;
Renascerá; Ensaio para ser Árvore; Cuidado.
Impermanência, 2021 (videoarte) – Daphne Cunha
Vídeo a partir de imagens. Relação com as plantas. Plantas e a relação com o tempo. Lidar com o
perecimento. Intempéries climáticas e naturais. Lidar com o brotar e morrer.
Programa de edição de celular, brincadeiras com efeitos.
Exuberância da cor. Enquadramento.
Às mulheres comportadas: flores; às mulheres que desafiam o sistema: pedras. As flores, ofertadas
como mimo, carregam a simbologia da delicadeza, da beleza, da fragilidade, docilidade e fertilidade,
enquanto as pedras são punições, pagar com dor o desvio de conduta, servir de exemplo para que
outras não se manifestem.
A condição associada ao estigma de ser mulher em uma sociedade patriarcal é comumente elaborada
a partir de uma perspectiva de opressão que cria estereótipos de padronização. É comum que
características que acentuam a “feminilidade” sejam exaltadas como qualidade, enquanto outras que
sinalizam um desvio sejam apontadas como defeito, problema. Se à cor rosa é atribuída um gênero
específico, com os objetos e elementos da natureza não seria diferente.
Na obra “Impermanência”, a artista tensiona a simbologia atribuída às flores, mastigando, engolindo
e regurgitando significados pré-concebidos, ao mesmo tempo em que explora a possibilidade perdida
95
na oscilação temporal da cultura – aquilo que outrora foi alimento com propriedades medicinais vira
adorno no silenciamento das culturas ancestrais.
A relação com as plantas, enquanto fonte de alimento e cura, há séculos é desacreditada e discriminada
em nome de uma ciência patriarcal colonizadora. O conhecimento popular sobre as ervas medicinais
chegou a ser criminalizado em diferentes culturas e momentos da História quando protagonizado
por mulheres e comunidades racializadas. A oralidade, meio pelo qual tais ensinamentos eram
compartilhados, foi perdendo sua força e os fármacos ocupando o lugar dos chás e garrafadas.
Na obra “Do quintal, olhos e capilares”, a artista retoma a relação com o cultivo afetivo das plantas.
Com o cuidar permanente, que acompanha os processos de germinação, crescimento e mapeamento
da variedade de espécies que crescem tanto pelo plantio, quanto de forma espontânea, criando um
recorte de bioma exclusivo àquele espaço de mundo, numa organização orgânica que faz da morada
uma relação de simbiose com o meio que a rodeia.
Registrar, nomear, catalogar, conhecer suas cores, formatos, variações e propriedades. No cuidado
diário, reconectar-se à terra, aos ciclos que ocorrem dentro, acompanhando o que se dá fora. Das
fases da lua às pulsações uterinas. Na obra, as imagens pulsam ritmicamente a vibração das folhas;
suas membranas e veias delineiam o caminho por onde corre a seiva de vida.
Reconectar-se à terra, recuperar o vínculo que nos foi negado com o meio orgânico, entender-se
parte de todos os elementos que pulsam. Retomar o conhecimento das plantas é também uma
forma de reescrever a própria história. Enquanto registra o jardim nascido de suas mãos, a artista
se desvincula do desejo de enraizamento num território único e abraça a possibilidade de semear
universos infinitos.
Daphne Cunha
DIALOGA COM: Do quintal, olhos e capilares; Caindo dentro.
96
Cor de jambo (Fotoperformance) – Aline Ambrósio
Composição da cor,
organização da imagem
composição do corpo
organização da imagem
Elas nos remetem também às nossas origens. As árvores nos levam a pensar naqueles que estão
na fundação – nas raízes – de nossa existência. “Cor de jambo” é, como coloca a artista, comumente
relacionado à cor da pele e não da árvore. Em sua obra, podemos ver a verdadeira cor do Jambo:
um rosa vibrante, como se nele estivesse contida uma energia poderosa. Assim como em outras
situações, o rosa como símbolo de luta e força. Em “Cor de Jambo”, a união dos jambos. Unidos os
frutos formam um coração – perfurado. Um coração igualmente vibrante perfurado por uma flecha
que, por mais que permaneça em seu interior, não o impede de bater. Há alguém de frente para
esse coração, se fundindo com ele. Momento em que se teve a possibilidade de reconhecer sua
própria história, estar diante dela e perceber sua beleza. Entrega às próprias origens. Mergulho na
ancestralidade.
Ana Beatriz Cucaroli
DIALOGA COM: Cuidado; Ensaio para Árvore(Ser).
97
Caindo dentro, 2020 (fotoperformance) – Dara Blois
Relação de fusões, integrações, seja pelas fagias ou pelas sobreposições.
Metamorfosear-se em árvore parece passar por um caminho de solidão. A projeção na parede, mas
também no corpo, chega a fazer duvidar do nosso olhar. Há nas árvores uma presença duradoura e um
crescimento silencioso. Acima e abaixo da terra, essa presença e esse crescimento contemplam uma
inteligência que, muito diferente da solidão experimentada por nós, se alastra no solo, se comunica
de maneira eficiente.
O corpo mira a parede, um nada em tons de azul. O corpo mira a sombra do próprio corpo, temos
a folhagem da copa de uma árvore, seu tronco não é de madeira, seu tronco, o caule da árvore, é
matéria humana, nua.
Diante da parede, esse nada parece construído de forma abismal. Olhamos para as ausências, para
as sombras, para o duplo, para o corpo-tronco. Projeção, ilusão, presença e ausência. E, então, nada
mais nos olha de volta, há de se pensar como árvore. Há de se comunicar com as raízes.
Monelise Vilela
DIALOGA COM: Impermanência; Do quintal, olhos e capilares, 2021; NÓS: minha segunda pele.
98
NÓS: minha segunda pele, 2021 (fotoperformance) – Júnior Garcia
Das diferenças fundamentais entre plantas e animais, o movimento e a percepção destes são as que
primeiro percebemos. Mover-se é primordial para que um animal sobreviva, mas não é a solução dos
problemas. É uma fuga, assim descrita por Mancuso (2019), em “Revolução das plantas”. Animais se
movem para achar alimento e abrigo, fugir de perigos e de predadores, animais não se enraízam.
Viver sem fugir é o oposto de ser animal, o oposto de ser humano, é encontrar terreno para espalharse. Enfrentar solos difíceis e entranhá-los com a presença forte e serena de quem cresce devagar.
Quem conhece onde está. Aprender a criar raízes, descobrir raízes, sentir-se planta.
Aprender a arvorar.
Parecer-se com planta, ser na pele, ainda que na silhueta humana de uma fotografia, é o desejo de
integrar-se, aprender a comunicar-se com e pelas nossas raízes.
Monelise Vilela
DIALOGA COM: Cuidado; Caindo dentro.
99
Distopia, 2020 (fotoperformance) – Lívia Lopes
Limpeza, separação (da natureza).
“Habitar a própria pele e a pele que nos une”
Placenta. Embrionário. Fenômeno. Nascimento.
Em Distopia, o espectador é levado a uma transposição ou, talvez, a uma fusão de limites imagéticos.
A partir do seu invólucro placentário em terra fecunda, um corpo em formação se nutre a partir da
natureza e, em suas trocas, se permite reinventar, purificar e, principalmente, fundir. Esse corpotronco em gestação é carregado pela natureza enquanto envolve e experimenta em si a sua própria
essência. Nesse fenômeno, a natureza e o corpo se tocam num entrecruzar de dedos sutil, mas de
extrema potência revolucionária do renascer. Tensionando barreiras de dentro e fora, é possível
traçar a linha que separa o tronco da natureza? O corpo é natureza. Distopia carrega o corpo do lado
de fora provocando um novo olhar sobre os conceitos de interno e externo e, ainda, suscitando uma
terceira possibilidade: a interseção. A obra sai do próprio enquadramento e se transpõe para a vida
prática com a proposta sensível e irrecusável: a de habitar a própria pele enquanto natureza.
DIALOGA COM: Renascerá; Patrono.
100
Patrono, 2019 (fotoperformance) – Marden Ferreira
Presente em cada elemento da mata. Patrono, divindade natural que habita e é a floresta. Corpofloresta majestoso que expressa possibilidades infinitas do ser, traz nas mãos as flores que nasceram
de seu interior, oferendas que descansam em seu colo. Proteger a mata é se proteger, é cuidar de
si no coletivo da existência. É preciso pedir licença para que os caminhos da encruzilhada sejam
abertos e possíveis.
Ele chama, você ouve? Patrono encara, imagem que devolve o olhar, destemido, respeitado, convocando
presenças. Entoa sons, o movimento de seu corpo inspirando atenção, conexões, brotando beleza
e força. Grita, expande, funde floresta e corpo. Potências que se multiplicam, incontáveis como as
folhas das matas.
Débora Viveiros
DIALOGA COM: Cuidado; Distopia.
101
Renascerá (fotoperformance) – Nathália Bruno
A dança dos recomeços
Corpo híbrido, resultado de interações, maior que a soma de suas vivências. Prolonga-se pelo mundo,
por além-espaços imprevistos. Divide-se e multiplica-se, desdobrando-se em existências. Veias e
veios, caminhos. Um redescobrir-se incessante. Estar em si mesmo e no outro, saber que o outro é
um pouco de si. O fim é também começo, transmutação. Estágios e passagens que se atravessam,
impregnando de significado a matéria mais sutil, que igualmente se esvai e se transforma.
Lívia Lopes
DIALOGA COM: Do quintal, olhos e capilares; Distopia; Patrono;
102
Ensaio para Árvore(Ser) (fotoperformance) – Nirvi
Manoel de Barros – “estado de árvore”
IX
Para entrar em estado de árvore é preciso partir de um torpor animal de lagarto às três horas da
tarde, no mês de agosto.
Em dois anos a inércia e o mato vão crescer em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até o mato sair na voz.
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.
BARROS, Manoel de. O Livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016, p.17.
Uso de cores complementares bem marcadas.
A ideia do híbrido, do complementar.
Movimento forte e sutil. O olho passeia pelas imagens buscando os movimentos e as diferenças. A
noção da dança é percebida também nos movimentos dos olhos que observam a imagem.
Ensaio para Árvore(Ser) é imagem a ser desvendada. Enigma. Caleidoscópio de cores quentes. Planta
de verde vibrante se espalha em primeiro plano, “como as raízes de uma árvore centenária”, e, em
dança minuciosa junto ao corpo que a acolhe (ou por ela é acolhido), busca, segundo a artista, “acessar
territórios outros”. Braços e pernas se multiplicam e se confundem com hastes e folhas. Por meio de
sutil ritual registrado em cada uma das seis imagens, expressa vivências paradoxais a respeito da
natureza e do confinamento. A experiência nos aproxima da visão da manifestação corporal de deus
hindu. Esse ser multiforme, árvore, imortal, HÍBRIDO, se apresenta como enigma. Se não nos devora,
103
nos guia até as angústias e dúvidas inerentes à existência. Esfinge. Aguardando para ser desvendada,
nos convida à reflexão e resiliência.
Beatriz Radicchi
CORES QUENTES – SER HÍBRIDO – entidade – METAMORFOSE – RITUAL
DIALOGA COM: Cuidado; Jardins Suspensos.
104
Cuidado, 2021 (fotoperformance) – Roberta Silvestre
Roberta é multiartista mineira, possui formação em arquitetura e urbanismo. Geralmente seu olhar
se volta a fotografar paisagens e detalhes de construções com grande tendência geométrica, como
vemos em suas redes sociais. Na Mostra CHAMA!, a artista se joga no olhar orgânico e se propõe a
um autorretrato com a planta zamioculca (planta comum nas residências brasileiras, embora seja
da Tanzânia). A fotoperformance se apresenta em forma de díptico. Na primeira imagem, a simbiose
acontece, ocupando dois terços do espaço e principalmente a parte central e baixa da imagem, a
artista se apresenta segurando um vaso de planta cujos galhos possuem apenas folhas de cor verde
bandeira escuro e brilhante; no centro da obra está a boca da artista, que se confunde em forma
com as folhas, as cores também se rebatem. O terço central da imagem é protagonizado por seu
cabelo, uma mancha poética de cor preta prendendo a atenção ao passo que nos conduz aos olhos
de Roberta, estes estão dirigidos ao espectador “através” e “com” a planta, a figura se mostra em
metamorfose, e nos encara, nos questiona quase que enfrentando.
Elas trocam particularidades, perdem e ganham uma da outra para juntas caminharem, elas se
cuidam, se acolhem e se reconstroem mais fortes, movimento esse fruído na segunda imagem, onde
a figura se distribui no espaço de modo vertical crescente com a planta, a figura híbrida se apresenta
de olhos fechados na poética do encontro e da entrega do Ser Árvore, ou seja, o movimento do crescer
e do cuidado, da raiz à ponta mais alta da folha mais alta do galho mais alto da copa. “Cuidado” (2021)
é um movimento micro no qual a artista propõe um olhar macro, universal.
Do verbo “arvorar”: elas “arvoraram”.
Marília Roque
DIALOGA COM: Cor de jambo; NÓS: minha segunda pele; Ensaio para ser Árvore; Tudo o que vive é
sagrado; Jardins Suspensos.
105
2.
árvore é mundo (caule / corpo / tronco)
- POLÍTICA - PROTESTO - AQUECIMENTO GLOBAL - DENÚNCIA - PRESENÇA -
Obras: O Calor do Instante; Cidade é nosso jardim; Natureza Morta; Uma América; Tudo o que vive é
sagrado; Árvore da saudade; Tronco ExTendido; Uma lembrança minha pela de minha avó.
O Calor do Instante, 2021 (colagem) – Gabriella Pedro
Mapa. Cor. Fogo. Quente. Ancestralidade (?). Ritual.
Quente. Calor, aquecimento global.
Tecido popular - chita - tropical
Folhas no chão, árvores no chão. Verde opaco.
Statement “mundo seco e desértico, pedindo socorro”
Às margens, uma tipoia de folhas. Fáeton rasga o páramo celeste com sua carruagem à combustão,
e chamas irrompem por todos os lados. A natureza, vibrante e bela, pede auxílio em vão diante da
infame presença humana. O que há de ser do nosso fulcro verde? Flores incandescentes?
Do mundo temos corrido e navegado
Toda a parte do Antártico e Calisto,
Toda a costa terrena rodeado;
Diversos céus e terras temos visto;
Dum tipo potente somos, povo abençoado!
Porém, temido por tudo vivo e malquisto,
Que não no largo mar, com leda fronte,
106
Mas no lago entraremos de Aqueronte
Ô, enxotados do céu, gente mesquinha
Enquanto a infante natureza inflama
Donde arranjas a arrogância que em vós se aninha?
Tiago Castro
DIALOGA COM: Tudo que vive é sagrado.
107
A Cidade é nosso jardim, 2021 (videoarte) – AlaBa
Num jogo de palavras e combinações de sentido, AlaBa lança mão da palavra “cidade” entendida
como lugar potente, no sentido da fertilidade do terreno de um “jardim” e traz à tona a referência pela
qual um dia foi conhecida a capital mineira: Cidade Jardim. Ainda hoje, dados do IBGE apresentam
Belo Horizonte na terceira colocação entre as cidades mais arborizadas do país, com 82,7% de
arborização em vias públicas.
São alguns instantes de um registro que carrega no nome e nas imagens a tensão das relações de
urbanização e natureza. Apesar de arborizada, a capital de Minas Gerais é também representação de
um dos territórios urbanos mais pavimentados que temos. Árvore versus asfalto. Uma filmagem na
vertical, uma rua por atravessar, movimentada e barulhenta. Ao fim da travessia, uma larga parede
branca com o grafite de um imponente tronco de árvore, completado pela copa verde e esplendorosa
de uma árvore cuja base se esconde por trás da parede ilustrada.
Ruas, avenidas, rotas, transeuntes, árvores, percursos, veículos, sonhos, encontros e expectativas nas
quais a vida coexiste. A saudade de um futuro de horizontes possíveis.
Monelise Vilela
DIALOGA COM: Quando eu reparei nos pássaros.
108
Natureza Morta, 2021 (fotoperformance) – Érika Lima
Árvore x concreto - tons de cinzas
A fotoperformance de Érika Lima traz uma imagem com vista ortogonal do toco de árvore na calçada,
à beira do asfalto (sarjeta?). O enquadramento mostra ainda o pé da artista em proximidade ao que
sobrou do tronco, um pé quase nu, ornamentado, um pé com vida. Ainda podemos perceber a vida,
também, surgindo na crosta do tronco, um sinal de resistência por meio do ressurgimento, um ramo
que se apresenta no meio da cena linfática. Natureza Morta nos provoca reflexões e questionamentos
sobre o processo sistemático das podas urbanas, o concretamento das cidades bem como a
normatização do desmatamento urbano. O cinza civil se apropria do tronco morto, deixando-o com
a cor esquelética e permitindo uma mimetização ao asfalto frio, também sem vida. Essa cena é
repetida inúmeras vezes pelas ruas de toda a cidade, é um componente comum do panorama urbano
e esse prosaísmo banaliza a atrocidade do ato. Um cemitério monta-se a céu aberto sem impactar
ou instigar qualquer afetamento. A artista denuncia essa monocromia depressiva e perigosamente
ordinária ao quebrá-la, invadindo a cena com seu pé. Em um ato político de presença, a indiferença
é rasgada e cria-se um cenário ambíguo de ausência e presença. “Natureza Morta” busca a ideia de
devastação e falência da racionalidade humana perante a natureza e as várias formas de vidas “não
humanas”. As obras têm a intenção de aguçar o olhar da sociedade sobre a falta de consciência do
homem contemporâneo que, gabaritado na era do capital e do consumismo, tem a ideia que “onde
o que não produz dinheiro não serve, e o que não serve é cortado, descartado e jogado fora”. Erika,
através das lentes fotográficas de sua câmera, registra a falência e a destruição das árvores, em
uma cidade cada vez mais engessada e tomada por grandes blocos de concreto, tijolos e ferragens.
A artista, intencionalmente, tenta combater uma suposta narrativa de progresso que mascara a cada
dia a derrubada e a poda das árvores da cidade. As imagens fortes criam um sentimento reflexivo
sobre essa ideia de expansão da sociedade sem planejar um futuro compartilhado com a natureza.
Virgilio de Barros/Tiago Borges
DIALOGA COM: Tronco ExTendido; Árvore da saudade – O que restou do Vila Viva.
108
Uma América – Mara Tavares
O cabano não se cansa de ter esperança
Guerra dos cabanos que parece não ter fim. Sob o céu azul, copas frondosas que tombam. Madeeeira!
Troncos deitados nos rios vão para longe. Por entre o verde que resta no alto, fumaça. Cinzas no chão.
A cabanagem quer o seu próprio corpo no rio, o corpo da floresta de pé. É a seiva, é o sangue, é a
selva. Revolta. Sobre o chão quente, pés firmes. Por entre as pernas sobe o vapor depois da chuva.
Respeitar os ciclos da terra. O cabano quer a sombra das mangueiras. Seu frescor, seu aroma doce.
Fruta que cai quando madura. Sabedoria do que é e não se furta em doar. É preciso desacelerar para
perceber que para seguir é necessário também retornar. Mara Tavares Lavareda nos transporta a
uma realidade local cujo alcance é o mundo. Natureza interdependente das coisas, os cabanos somos
todos.
Lívia Lopes
DIALOGA COM: Árvore da saudade – O que restou do Vila Viva.
110
Tudo que vive é sagrado, 2021 (fotografia) – Sophia Alberti
Um olhar profundo sobre as nossas ligações com o planeta.
O trabalho da artista visual Sophia Alberti, aluna da Escola de Artes Visuais do Cefart – FCS em Belo
Horizonte, é a fotografia de um objeto em formato de caixa com cinco planos cobertos de colagens
retiradas de revistas, jornais etc., junto de imagens coloridas sobre a natureza, a caixa-caverna nos
leva ao fundo onde um pequeno vaso de planta está localizado no centro.
Essa caixa-caverna também é relicário-altar. A obra nos mostra algo que foi posto com grandeza
para refletirmos: como devemos olhar para a vida e seus ciclos, com cuidado e amor? Todas as
formas expressas, elementos e representação de seres que compõem a obra nos enchem os olhos
para que possamos respeitá-las e valorizá-las, como se o sagrado em sua mais bela forma estivesse
a nascer do ponto central, em uma pequena planta que surge e cresce representando a vida, o ciclo
da vida, como o equilíbrio natural das estações do ano. Remete-nos ao que o mundo oferece, as
suas ligações, um manifesto para a fragilidade que se encontra ao nosso dispor, a delicadeza que
precisamos encontrar para carregar em nossos braços o nosso mundo, para que não seja permitido
o fim do todo.
Joana Pinheiro
DIALOGA COM: Árvore da saudade – O que restou do Vila Viva; O Calor do Instante; Cuidado.
111
Árvore da Saudade – O que restou do Vila Viva (fotografia) – Tborges
Árvore como testemunha. Árvore da Saudade
É uma crítica direta ao Projeto Vila Viva e as demolições das casas no Aglomerado da Serra. A árvore
“de pé” simboliza a resistência periférica e da natureza a partir da ação degradante do ser humano.
O termo composto “saudade” remete à memória indenitária ancestral que, por gerações, viveu em
plena harmonia próximo de sua gigantesca e sombreada copa. Na clareira solitária, esse colosso da
natureza, é imponente contra o tempo, sendo o grande guardião que restou da história e da memória
daquela gente e do lugar.
Tiago Borges
testemunha viva em contraposição às denúncias
resistência
afeto, sagrado, vida
DIALOGA COM: Tronco ExTendido; Natureza Morta; Uma América; Tudo que vive é sagrado.
112
Tronco ExTendido (fotoperformance) – Virgilio de Barros
Crônica Urbana: Virgilio
Virgilio de Barros é mineiro de Teófilo Otoni, nasceu em 1975 e logo veio para Belo Horizonte, onde
cresceu e mora, carregando sempre o Vale do Jequitinhonha em sua vida. Artista visual com pósgraduação em Arte e Contemporaneidade (Escola Guignard / UEMG) e em Fotografia (UNIARA-SP),
Virgílio pôde aprofundar os estudos de pintura em diálogo com a fotografia pelo eixo central de sua
poética: a potência da fotografia como registro/manutenção da memória.
Na 4ª edição da Mostra CHAMA!, o artista expõe um tríptico, apresentando uma fotoperformance:
certa árvore urbana abatida sem porquês evidentes. Na primeira imagem vemos um registro deixado
pela perícia: a linha branca delineando o contorno do corpo-árvore ausente; na segunda imagem, o
corpo do artista se apropria do espaço vazio da árvore, agora ele é o elemento central e a base da
árvore cortada é seu pedestal, seus braços são galhos e suas pernas estão fixas como raízes; na
terceira e última imagem a fita zebrada circunda a cena do crime, o corpo-artista está ausente.
Ausente como a sombra e o frescor da copa. Ausente como o som do vento passando por entre as
folhas. Esse trabalho habita a melancolia, certa saudade de um passado que necessariamente não
foi vivido e agora já não é mais palpável, não é mais possível. A serra elétrica sem porquês abateu um
tronco antigo, a moradia de aves e insetos foi requerida e desocupada sem mandado! A reintegração
de posse foi executada sem aviso e a pedido do Senhor Asfalto. Virgilio não aceita silenciosamente
essa “desarvorização” contínua, ele convoca seu eu-perito-artista e registra o “descuidado”.
Observação: Ao artista, um acalanto de Manoel de Barros (2016. p.75):
“Estou atravessando um período de árvore.
O chão tem gula de meu olho por motivo que meu olho tem escórias de árvore.
O chão deseja meu olho vazado pra fazer parte do cisco que se acumula debaixo das árvores.
O chão tem gula de meu olho por motivo que meu olho possui um coisário de nadeiras.
113
O chão tem gula de meu olho pelo mesmo motivo que ele tem gula por pregos por latas por folhas.
A gula do chão vai comer o meu olho.
No meu morrer tem uma dor de árvore.”
Marília Roque
DIALOGA COM: Uma lembrança minha pela de minha avó; Natureza Morta.
Uma lembrança minha pela de minha avó - Daniela Parampal
Quem não tem uma memória com árvore?
Território do alimento, da casa, do lúdico, do refresco sombreado, da luz difusa, do inseto morador, da
ave que pousa… Fábrica de oxigênio, esconderijo vivo.
DIALOGA COM: Tronco ExTendido; Natureza Morta;
114
3.
ARvore (copa - fotossíntese)
- RESPIRO - OLHAR - CONTATO - MOMENTO - ENCONTRO -
Obras: O sonho da Terra; Jardins Suspensos; Respiro; Quando Reparei nos Pássaros; Do quintal,
olhos e capilares.
O sonho da Terra (instalação digital) – Danilo Celso
Uma figura humana parece se mover, nela brotam folhas. Renasce?
Três grandes esferas giram ao seu redor, dentro delas imagens de vegetações interrompidas por
rostos e espaços contidos. Movimento?
O som que envolve é de pássaros e de rio ou o que entendemos como “a natureza”. Estamos separados?
Qual é o sonho da Terra?
DIALOGA COM: Renascerá.
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Jardins Suspensos (fotoperformance) – Rô Gontijo
diálogo corpo planta - hibridismo
corpo em posição inesperada
perder-se em plantas
From Debora Viveiros to Everyone: 09:29 PM
por oposição, fiquei pensando que a obra Jardins Suspensos poderia dialogar com a Cor de Jambo
tbm talvez... Já sem oposição, ela também poderia dialogar com a Caindo Dentro, pela verticalidade
das imagens e pelo enquadramento dos corpos retratados.
Poema
Jardim suspenso
Suaviza a aridez.
No meu inconsciente,
funde-se com o paraíso.
Aqui.
Reduzido, criado, cultivado e mantido.
Vertical.
Sob o meu controle.
Incessante.
Ancestral.
Nele me recolho.
Eu me reencontro.
Mistério desvendado.
“Paraideza”.
DIALOGA COM: Cuidado; Renascerá; Ensaio para Árvore(Ser).
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Beatriz Radicchi
Respiro, 2021 - Ana Beatriz Cucaroli
Dia a dia, passo a passo, hora a hora.
Café, computador, trabalho, cama.
Aperto o passo, não passa o dia.
Passa a hora, solto o suspiro.
Cansaço.
Falta o ócio.
O descanso.
Sobra o descaso, não passa o dia.
Res...piro.
Monelise Vilela
DIALOGA COM: Quando eu reparei nos pássaros.
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Quando eu reparei nos pássaros (videoarte) – Daniela Parampal
Fotopoema em ação
Em meio ao caos do existir em uma grande cidade, uma janela para o céu. Um respiro. Ruídos do
trânsito, semáforos, topo de prédios e do que restou das árvores “encanteiradas” pelo cimento que
reveste a natureza na cena urbana. A cidade se fecha sobre os transeuntes por todos os lados, suas
paisagens, conhecidas, repetem-se rua após rua em um enfileirado de concreto. O incomum aos olhos
é justamente o natural. O que causa estranhamento, porém, igual alívio, é a presença dos pássaros,
que voam livres sob o céu azul, acima das cabeças confinadas.
No fim do túnel, uma luz. Uma possibilidade de emergir do caos e encontrar um momento de paz.
Essa chance se multiplica em pequenos fragmentos dentro dos dias que correm, basta uma escolha,
redirecionar o olhar. Repensar o compasso da vida, oportunidade gratuita. “Quando eu reparei nos
pássaros” (2021) nos convida para um passeio por esse mundo sutil muitas vezes ignorado. Ao invés
do olhar retilíneo, na tentativa de devorar o horizonte, o olhar para cima. No céu, o presente e tudo
aquilo que ele nos pode oferecer. Alívio.
Ana Beatriz Cucaroli e Lívia Lopes
DIALOGA COM: A Cidade é nosso jardim; Respiro.
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Do quintal, olhos e capilares, 2021 (videoarte) – Marília Roque
Natureza abundante, atravessada e atravessando a natureza humana com sentidos, explosões visuais
e sutilezas sonoras. Cores, trajetos, pulsações. Encorpar, corpo-árvore, fincar raiz. Como traduzir os
caminhos e escritos de folhas, caules, raízes, flores? A videoarte “Do quintal, olhos e capilares” (2021)
da multiartista Marília Roque transcende, transborda, extrapola em texturas, saturações e contrastes
o que palavras não conseguem traduzir.
Aluna da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS, a artista concluiu o curso de Design de Moda na UFMG
em 2018 e, em 2020, finalizou a licenciatura em Artes Visuais pelo Centro Universitário Claretiano
de Batatais. Por suas próprias palavras, sua arte se dá no âmbito da coleta de materiais e na criação
artística em diversas linguagens.
A trajetória da artista entrelaça-se à obra. Um quintal abundante, repleto de sentidos, de explosões
visuais, sutilezas sonoras e tantos outros sentidos abertos à percepção: cuidado, rotina, memórias,
afetos e, como afirmado no statement da artista: despedida. A mão que planta, rega e aduba,
onipresente nos cuidados, acena afetos como despedida, conversa com as perdas enquanto enxerga
vida em cada momento. E aqui, extrapolando a confissão sobre a despedida que Marília diz ao seu
quintal cultivado há quatro anos, seria possível afirmar que o adeus não é somente dela, mas também
nos pertence, levando em consideração o contexto experimentado por todos nós.
Ao longo de um ano difícil, despedidas tornaram-se uma parte dolorida e rotineira do cotidiano.
Em alguma medida, a videoarte dialoga com perdas, tristezas e “não mais”, mas também com a
insistência da vida, nos detalhes, em perceber que o momento não é a vida em si, mas apenas uma
parte dela. Um movimento, um ato, uma coleção de breves olhares. Contemplar a obra de Marília é
observar alguém segurando um retrato com os olhos coloridos de nostalgia e enxergar beleza nisso.
Débora Viveiros
DIALOGA COM: Cuidado; Impermanência.
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Referências
BARROS, Manoel de. O Livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016, p.17.
COUTO, Mia. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 110.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
MANCUSO, Stefano. Revolução das plantas: um novo modelo para o futuro. São Paulo: Ubu, 2019.
MENDES, Murilo. Poesia Completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
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projeto expográfico
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Narrativas expográficas: processos e desafios
Fruto de um processo da seleção de objetos artísticos, as exposições de arte constituem-se como
um espaço democrático, promovendo a produção e difusão de conhecimentos. No entanto, é
importante lembrar que nem sempre a arte era acessível ao público, sendo até o séc. XVIII reservada
à contemplação da elite dominante. Somente após a Revolução Francesa, os museus são abertos
ao público com o intuito de representar a identidade coletiva nacional e, mais tarde, passa a ter um
importante papel de promover a contemplação estética.
No séc. XIX, os museus, os salões e as feiras universais ditavam os padrões de organização e
disposição das obras de arte. Com o passar do tempo, as tendências da própria produção artística
passaram a interferir no espaço expositivo, e a expografia tornou-se uma das ferramentas de se
experimentar e usufruir da arte. Dessa forma, a expografia se apresenta como uma ferramenta de
comunicação utilizada pelas instituições museológicas e de arte para apresentarem suas coleções e
objetos artísticos nos mais diversos espaços, sendo utilizada para reforçar uma ideia proveniente do
discurso do curador. Empregando as mais diversas técnicas, a expografia utiliza-se de ferramentas
de comunicação como a luz, o som, as cores, entre outros atributos, para criar experiências didáticas
atrativas e comunicativas com o visitante, dos quais “potencializa a interação entre o público e o
patrimônio cultural” (CURY, pág. 46 2005). Sendo assim, o espaço expositivo constitui-se como
elemento essencial na compreensão da arte, capaz de promover experiências sensoriais e cognitivas
aos visitantes.
A professora e pesquisadora Lisbeth Rebollo Gonçalves, ao admitir que o uso das ferramentas
expográficas atrai também o público não especializado, alerta para os desafios que se abrem. A
“universalidade” dessas ferramentas pode criar barreiras no diálogo com os visitantes, levando-se
em consideração a diversidade de público existente. Dessa forma, a busca por recursos e inovações
torna-se uma preocupação constante quanto ao envolvimento do público.
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Mediante às transformações da tecnologia digital, as exposições virtuais surgem para satisfazer
as necessidades da sociedade atual. Os modelos virtuais ampliam os espaços de compreensão e
interpretação da arte, sugerindo novas formas de contemplação, multiplicando-se os campos de ação
da interatividade. O ambiente para receber as obras é construído a partir da simulação do real e o
visitante age como um produtor de realidade ao percorrer os espaços projetados. As estratégias
expográficas são infinitas, visto que os ambientes virtuais não possuem limitação e o alcance de
visitação ultrapassa as fronteiras geográficas. A experiência estética do visitante é construída a
partir do seu percurso e, embora o visitante não tenha contato com o mundo físico, as experiências
sensoriais são interpretadas como signos.
O movimento pandêmico causado pela Covid-19, ao impor o isolamento social, impactou as relações
sociais, mudando os hábitos e forçando-nos às mais diversas adaptações. Devido às restrições
de visitação, o modelo de exposição virtual tornou-se uma ferramenta acessível, respondendo às
necessidades atuais. Foi nesse contexto que a Escola de Artes Visuais, por meio da CHAMA! Corpos
Arvoredos Plurais, utilizou-se das tecnologias digitais para apresentar os trabalhos desenvolvidos
por seus alunos por meio de uma exposição virtual. A escolha da Galeria Guignard sediada no
Palácio das Artes nos possibilitou mesclar as experiências físicas com o espaço e projetar novas
experiências permitidas pelo modelo virtual. Os alunos do Curso Básico de Expografia, ao projetarem
a exposição, não se limitaram ao espaço físico existente, abrindo os limites da galeria aos jardins
externos, usufruindo das ferramentas que o mundo digital nos permite. No entanto, os desafios das
experiências virtuais se revelam no alcance daqueles que ainda não possuem acesso à internet, uma
realidade triste ainda existente em nosso país.
Podemos concluir que a expografia sofre adaptações de acordo com as tendências e necessidades de
seu tempo, transformando seus processos e interfaces. Contudo, provocar experiências estéticas no
público visitante continua sendo seu principal objetivo. Os movimentos artísticos, as relações sociais
e os próprios espaços expositivos (físicos ou virtuais), ao redirecionar os atributos expográficos,
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impõem novas formas de projetar, no entanto, mantém-se os desígnios de se projetar ambientes
atrativos que proporcionem aos visitantes experiências coletivas e individuais.
Bruna Gonçalves é arquiteta e urbanista, bacharela e licenciada em História, especialista em História e Culturas Políticas,
professora na Escola de Artes Visuais e na Escola de Tecnologia da Cena do Cefart/FCS.
Referências
CASTILLO, Sônia Salcedo Del. Cenário da arquitetura da arte: montagens e espaços de exposições. São Paulo: Martins,
2008. 347p
CURY, Marília Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2006. 160p.
GONÇALVES, Lisbeth Rebollo. Entre cenografias: o museu e a exposição de arte no século XX. São Paulo: EDUSP: 2004.
164p.
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Concepção do projeto expográfico da CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais
Por consequência das restrições impostas pela pandemia, a CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais foi
desenvolvida em formato digital e virtual. Sua concepção foi idealizada de forma a provocar no
espectador uma experiência impactante e interativa. De tal modo, o norte expográfico estabeleceuse a partir da própria experiência do visitante, em detrimento de uma adequação ao mundo real.
O ambiente museal não foi reproduzido tal como é, mas sim reinventado. Tal proposta reforça as
potencialidades do mundo virtual: ser pensado por si só, e não como um substituto, mas como um
ambiente com novas e inventivas possibilidades, limitadas apenas pelos recursos técnicos das
plataformas digitais.
A Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, sediada no Palácio das Artes, foi o espaço selecionado
para a representação virtual e apresentação das obras selecionadas. Concebeu-se então uma divisão
temática dos ambientes, desenvolvida a partir do conceito das obras. A exposição conta ainda com
sala de vídeo, para exibição dos vídeos performances e depoimentos.
Ao entrar pela galeria, o visitante depara-se com um ambiente que remete à destruição da natureza,
composto por um chão arenoso, paredes escuras e árvores secas, com raízes expostas enquanto
elementos cenográficos. Sob o mote “Natureza morta”, estão dispostas as obras mais intimistas,
com uma iluminação condizente. A partir do meio da sala, algumas obras mais ativas, remetendo
a movimentos políticos relacionados ao meio ambiente, surgem penduradas no teto, trazendo a
sensação de algo provisório, nos alertando que algo está prestes a mudar.
A mudança do chão arenoso para um gramado verde leva o visitante a mudanças bruscas ao adentrar
um ambiente completamente distinto do anterior. No teto, o vídeo “Quando eu reparei nos pássaros”
ao evocar o céu, os pássaros e os sons da natureza, prepara o visitante para adentrar a temática do
Renascimento, despertando novas sensações. Mais exuberante, as cores vivas nas paredes realçam
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as obras âncoras, às quais recebem destaques por meio de uma iluminação de destaque. A opção
por rachaduras discretas nas paredes, das quais brotam ramos verdes, evocam a ideia de que uma
flor nasce no asfalto, ou ainda de que a natureza retoma para si o mundo civilizado. Seguindo o
mesmo conceito, duas paredes em cascatas são dispostas no centro da sala, perpetuando a ideia de
movimento, frescor e renovação. Além disso, as cascatas atuam ainda como suporte para uma série
de fotografias que evocam o corpo, o espaço e a ocupação.
A sala de vídeo, recinto primordial em uma exposição contemporânea, foi projetada para remeter
ao interior de uma árvore, como estar dentro de um tronco aberto e oco. Ao virem à tona as obras
de projeção nas paredes da galeria, reforça-se o conceito de reflexão acerca da problemática da
natureza em contraponto com o desenvolvimento humano que, inevitavelmente, põe seus recursos
em um risco. Ao mesmo tempo que a extração proporciona avanços, cria-se uma paradoxal via de
esgotamento desses recursos. Tais questionamentos são levantados poeticamente e sensivelmente
pelas produções audiovisuais em linguagem de videoarte imersiva, em que todas as suas paredes
são projetáveis, ativas juntamente pelas sonorizações em sincronia e entrelaçamento.
No jardim, a ideia central das obras expostas é remeter primeiramente à memória afetiva do Parque
Municipal. A organização espacial da obra “Patrono” foi proposta de forma a remeter à representação
de uma entidade que cuida da floresta (jardim). O percurso expositivo é finalizado com uma instalação
de técnicas avançadas em 3D. Intitulada “O sonho da Terra”, a obra aborda a temática do ser humano,
propondo-nos a livrarmos de nossas sujidades tamanhas, ao passo que haja o retorno gradativo e
crítico para a natureza. É uma instalação imersiva, para que os espectadores se sintam envolvidos
pela natureza, tanto pelo espaço expográfico, quanto pela representatividade da obra, em formato
esférico.
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Danilo Celso é graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFMG, artista, escritor pesquisador, membro do Black
Speculative Arts Movement Brasil, um dos fundadores do coletivo Negro Malungo e estudante do Curso Básico de
Expografia da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Gabriella Pedro de Abreu é mineira, tem 19 anos, estudante de Artes Plásticas na Escola Guignard, Desenho Técnico
Mecânico no SENAI e, desde 2020, é aluna do Cefart no curso de Expografia. Trabalha como fotógrafa freelancer e é dona
do brechó Epifania B.
Julia Jovita, candanga de nascença e belo-horizontina há 23 anos. Estudante de Letras, professora, aspirante a poeta, é
estudante do Curso Básico de Expografia da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Julio Ho é arquiteta e urbanista e estudante do Curso Básico de Expografia da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Sophia Alberti é mineira de Belo Horizonte. Arquiteta e Urbanista por formação, expandiu sua área de atuação e trabalho
como designer gráfico, e é estudante do Curso Básico de Expografia da Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Uri Nonnato é graduando em Artes Visuais / Escultura pela UFRJ e é estudante do Curso Básico de Expografia da Escola
de Artes Visuais do Cefart/FCS.
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declaração dos artistas
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Impermanência, 2021 – videoarte – Daphne Cunha
No quintal de casa assisto, sou e estou diante da impermanência.
Capturo o presente como única ação possível. Intercepto no trânsito o
limiar – quero mordê-lo, incorporá-lo. São anos de relação com essa
árvore, um dia galho, estaca, muda. Já habitando sua terceira casa,
estive eu também em inúmeros ciclos em sua convivência, enquanto
regava, podava e transplantava. Transfiguro a paisagem fora para
outra dentro. Transponho os limites entre uma e outra a partir da
criação. Suspendo o tempo, retiro-lhe do ciclo da matéria o antes e o
depois. Árvore eu, agora.
Obra feita em coautoria com Maria Fernanda Ambuá.
daphnecunha.com
Cor de jambo 2019 – Fotoperformance – Aline Ambrósio
Árvore que simboliza minha ancestralidade e minha cor (fruto da
mistura entre negros e indígenas). Dessa mescla, surge o tom de
pele popularmente denominado “cor de jambo”. Na obra, um coração
constituído de jambos é atravessado por uma flecha (galho da própria
árvore). Trata-se da celebração da minha cor, assim como da denúncia
acerca da histórica e violenta tentativa de embranquecimento do negro
que se dá pela linguagem.
instagram.com/alinealeambrosio
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Caindo dentro, 2020 – fotoperformance – Dara Blois
O trabalho fala sobre ser consumida por essa paisagem. Querer
permanecer/ser d’ela. O trabalho foi pensado sobre a perspectiva atual
em que vivemos isolados em nossos cômodos. O trabalho foi feito a
partir de projeções de filmagens capturadas, pela própria artista, de
árvores em um dia ventoso na cidade local dela.
darablois.com
NÓS: minha segunda pele, 2021 – fotoperformance – Júnior Garcia
A motivação foi mostrar que, independente da forma agressiva com
a qual o homem age contra a natureza e, por consequência, contra
si mesmo, é impossível desvincular a relação entre os dois. Daí a
proposta de sobrepor a pele humana com a imagem da árvore, como
se, NÓS, fôssemos um só e dependentes um do outro. A obra se torna
uma exaltação recíproca por sermos UM e pertencermos ao mesmo
lugar.
instagram.com/juniorgarcia986
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Distopia, 2020 – fotoperformance – Lívia Lopes
Ser uno. Por definição, cujas partes não se podem separar,
permanecendo na sua totalidade, sendo a divisão responsável pela
perda da essência. Terra-casa, corpo-tronco, pé-raiz, pulmão- folha.
Casulo-barreira que intermedeia o contato. Protege, porém, separa.
Também invólucro placentário que carrega em si a potência do
nascimento. Romper a casca pra nascer algo novo. Habitar a própria
pele e a pele que nos une.
Suporte de produção: Criola
Suporte de fotografia: Criola e Artur Ranne
instagram.com/liv_lopes
Patrono, 2019 – fotoperformance – Marden Ferreira, Djalma
e Gabi França
A fotoperformance Patrono apresenta algumas entidades cocriadas
a partir do imaginário de um artista do Vale do Jequitinhonha, em
colaboração com uma diretora de arte de Montes Claros e um fotógrafo
de Belo Horizonte; três vidas de significantes diferenças que são
atravessadas por um encorajamento a se aventurar na literatura e, a
partir dela, criar linguagem para tecer em outros campos artísticos.
Em Patrono, construímos essas entidades que protegem, a partir dos
seus meios, o meio-ambiente.
instagram.com/mardenshian
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Renascerá, 2021 – Fotoperformance – Nathália Bruno
Série composta por 7 fotografias compara, unifica e aproxima o corpo
feminino e os elementos naturais. Ambos se complementam, sendo
parte integrante um do outro e capazes de se auto-reconstruir, se
transformar e gerar vida. Descamação e ruídos na resolução estética
representam situações impostas às figuras retratadas que convocam
seu constante recomeço.
instagram.com/nathybrunarte
Ensaio para Árvore(Ser) 2019 – fotoperformance – Nirvi
Ensaio para Árvore(Ser), assim como as raízes de uma árvore
centenária se espalham para tentar acessar diversos territórios
íntimos. Como uma dança, traduz em movimento, ainda que estático,
sentimentos e vivências paradoxais a respeito da natureza, do
confinamento, das relações estabelecidas entre. Como um ritual, de
onde saímos modificados a partir de um ponto de não retorno, indica
revoluções ocorridas em microssegundos. Nunca mais seremos iguais
agora. Nem agora. Nem agora.
instagram.com/olharandante
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Cuidado, 2021 – fotoperformance – Roberta Silvestre
Diante de uma quarentena imposta por uma pandemia global, um
corpo em sua casa espera por dias melhores, assim como uma planta
em um vaso à espera pelo Sol. Quando o toque se torna um perigo
e a morte um evento banal, faz-se necessário perceber que tudo é
natureza. O que se faz com o mundo se faz com si mesmo.
instagram.com/_robertasilvestre
O Calor do Instante, 2021 – Colagem – Gabriella Pedro
O processo para essa obra foi algo bem experimental e intuitivo,
porém uma coisa que eu tinha certeza que eu queria era a presença
de cores fortes e chamativas. Junto a isso a sensação que eu tive com
o primeiro contato visual com a fotografia que está posicionada no
meio (de um mapa-múndi) foi de um aquecimento extremo em nosso
mundo, e logo me lembrou do aquecimento global. A base é essa. O
calor. O princípio é você olhar, sentir toda aquela vibração ao redor,
por conta das folhas e do tecido, entretanto, quando o olhar focar no
centro, irá ver um mundo seco e desértico, pedindo socorro. Quase
queimando.
instagram.com/photosdagabii/
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A Cidade é nosso jardim, 2021 – videoarte – AlaBa
Vídeo concebido a partir de visão do Grafite do Hunko letivo, ideia de
estabelecer vínculo com o urbano, como num quintal de casa expressar
nossa indignação diante da fumaça do diesel, reação à serra elétrica, à
seca urbana. O contraste entre o tronco sem vida e o arvoredo vigoroso,
a necessidade da intervenção da cidade na proteção ao verde.
Colaboradores: Nilma Silva, Moisés Silva, Hylzi Silva, Neuza Silva,
Saulo Pico e autores do Grafite.
facebook.com/alaba.silva.794
Natureza Morta, 2021 – Fotoperformance – Érika Lima
Árvores urbanas cortadas pela proliferação do concreto. Conscientizar
as pessoas que o número crescente de árvores urbanas cortadas
aumenta o calor, afugenta os pássaros e outros animais dependentes
do abrigo delas, diminui o O2 em circulação e deixa a cidade sem um
projeto de paisagismo adequado.
instagram.com/natureza_morta74
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Uma América, 2013 – fotografia – Mara Tavares
Região Norte, Belém, 2013: ano em que o país desejava um outro
futuro. Velhas formas de colonizações que não cessam. Corpos feitos
de chuvas e de florestas. Submersos e equatoriais. Ameríndios,
Afro-índios, pardos desconhecidos como um rio aberto que encontra
o mar. Na fotografia, a linha poética que costura o intermitente
gesto de trazer para as ruas de uma manifestação-revoluçãocabana a esperança colorida, frágil-balão, que guia uma América,
“Amenegríndia”, no querer de se encontrar um dia.
instagram.com/mara.rtl
Tudo que vive é sagrado, 2021 – fotografia – Sophia Alberti
A obra é um chamado a todas e todos à lógica atual de consumo/
exploração ao meio ambiente, buscando mostrar a prática do Bem
Viver, que funda e constitui novas concepções de gestão do coletivo
e do individual; envolvendo natureza, política e cultura, calcados
na filosofia inspirada em cosmovisões ameríndias e que propõe a
integralidade do mundo e uma vivência em harmonia com a natureza.
“Bem viver significa compreender que a deterioração de uma espécie
é a deterioração do conjunto.” TUDO QUE VIVE É SAGRADO.
https://sophialberti.wixsite.com/sophiaalberti
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Árvore da Saudade – O que restou do Vila Viva 2021 – fotografia
– Tborges
É uma crítica direta ao Projeto Vila Viva e as demolições das casas
no Aglomerado da Serra. A árvore de pé simboliza a resistência
periférica através da ação degradante do ser humano. O termo
composto “saudade” remete à memória indenitária ancestral, que
por gerações viveu em plena harmonia próximo de sua gigantesca
e sombreada copa. Na clareira solitária, esse colosso da natureza é
imponente contra o tempo, sendo o grande guardião que restou da
história daquele lugar.
instagram.com/tiagoborges76
Tronco ExTendido, 2021 – fotoperformance – Virgilio de Barros
Tá lá um tronco ex-tendido no chão! A fotoperformance denuncia o
abate sistemático de árvores feito em centros urbanos. Na minha
rua havia uma árvore, havia uma copa que fazia sombra em toda
a largura do logradouro. O elemento foi abatido, mas o mal não foi
cortado pela raiz, não. Com um requinte de crueldade, a cicatriz
é deixada na sarjeta, como um aviso para que nenhuma outra se
atreva a fazer sombra!
Obra feita com coautoria de Pedro Cabral.
instagram.com/virgiliodebarros
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Uma lembrança minha pela de minha avó, 2021 – foto-narração –
Daniela Parampal
Uma lembrança minha pela de minha avó é a junção de uma
fotografia e um áudio em que conto de maneira informal duas
histórias. A primeira é um caso de minha avó sobre a queda de uma
mangueira em seu quintal, esse caso me fez lembrar da segunda
história, também sobre árvore, que aconteceu no Cefart em 2017.
instagram.com/daniela_parampal
O sonho da Terra, 2021 – instalação virtual – Danilo Celso
“O sonho da Terra” representa uma cosmovisão em que o homem
se livra de suas sujeiras e passa a habitar seu espaço natural como
uma espécie renascida, imerso na natureza onde a alma pode brotar
novamente.
Participantes: Laura Belisário, Kawany Tamoyos, Christina Faria e
Thayná Carvalho.
danilocelso.com
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ins Suspensos, 2021 – fotoperformance – Rô Gontijo
O conceito da obra está na ideia de vegetação confinada, como nos
jardins suspensos da Babilônia. Plantas cultivadas para viverem
presas nos vasos, nos terraços, suspensas em muros. Minha
motivação está na relação entre as plantas (com as quais tenho
convivido, trocado afetos, toques, abraços) e o isolamento social.
Fotografia de Gabriela Fernanda Pereira
https://www.superprof.com.br/professora-doutora-filosofiaformacao-artes-cenicas-anos-magisterio-superior.html
Respiro, 2021 – curta-metragem – Ana Beatriz Cucaroli
Pensando na época em que vivemos, “Respiro” foi concebido a partir
da necessidade de reavaliarmos pequenas ações no nosso dia
a dia. Dessa forma, procurei refletir, nesse trabalho, a respeito da
supressão da nossa natureza devido à forma na qual escolhemos
viver todos os dias – em constante contato com a máquina. E nesse
caos, resta a possibilidade de salvação, a qual, por vezes, se encontra
em pequenas mudanças de perspectiva.
Direção, roteiro e edição: Ana Beatriz Cucaroli – Atuação: Nicole
Wingester – Produção: Isadora Reis e Raquel Chamon
instagram.com/cucaroli
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Quando eu reparei nos pássaros, 2021 – videoarte –
Daniela Parampal
O vídeo-poema “Quando eu reparei nos pássaros” é um instante
capturado no caminho para minha casa. Árvores, prédios, céu, trânsito,
postes, pássaros, nuvens, carros, sirene. A cidade acontecendo. No
meio desse movimento, eu reparei nos pássaros.
instagram.com/daniela_parampal
Do quintal, olhos e capilares, 2021 – videoarte em loop –
Marília Roque
Tentativa de captar as diversas capilaridades de um terreiro em que
cultivei por 4 anos, registro de uma despedida, tentativa de eternizar
uma experiência com a natureza. De aquário, o aguadeiro: corpo
aparelho circulatório, medula espinhal, seiva, sangue, ramificações,
simbiose.
instagram.com/mariliaroque_
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Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS
Alexandre Ventura é licenciado e bacharel em História, mestre em História Social, professor e
mediador na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Ana Luiza Emerich é licenciada em Artes Visuais, mestra em Artes, professora na Rede Estadual de
Ensino, professora e mediadora na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Bruna Gonçalves é arquiteta e urbanista, bacharela e licenciada em História, especialista em História
e Culturas Políticas, professora na Escola de Artes Visuais e na Escola de Tecnologia da Cena do
Cefart/FCS.
Clarissa de S. P. de Errico é professora e mediadora na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS e
também atua como ilustradora e designer gráfico freelancer. Possui bacharelado e licenciatura em
Artes Visuais e técnico em Comunicação Visual.
Daniela Parampal é bacharel e licenciada em Artes Visuais, artista visual, professora e mediadora
cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Giovane Diniz é licenciado em Artes Plásticas, mestre em Artes Visuais, artista plástico, professor e
mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Guilherme Brant é formado em História pela PUC-MG, pós-graduado em Gestão Cultural pela UNA,
professor e coordenador da Gerência de Ensino e Escola de Música (interino) do Cefart/FCS.
Isa Carolina é especialista em História da Arte pela PUC Minas, licenciada em Desenho e plástica
pela Escola de Design da UEMG e atua como professora e mediadora cultural na Escola de Artes
Visuais do Cefart/FCS.
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Janaina Beling é Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela PUC MINAS, pós-graduada em Produção
e Crítica Cultural pela PUC MINAS, cenógrafa, professora e mediadora cultural na Escola de Artes
Visuais do Cefart/FCS.
Lucas Amorim é historiador, terapeuta holístico, mestrando em artes, professor e mediador cultural
na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS. Atualmente, trabalha na Diretoria de Articulação e Integração
Cultural da Secretaria de Cultura e Turismo do Governo do Estado de Minas Gerais.
Mara Tavares é licenciada em Letras, mestra em Artes, professora e mediadora cultural na Escola
de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Mariana Rodrigues é licenciada em Artes Visuais, professora da Rede Estadual de Ensino e professora,
mediadora cultural e coordenadora na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS.
Naiara Rocha é bacharel e licenciada em Artes Visuais, graduada em Pedagogia, professora da Rede
Municipal de Ensino, mediadora e professora na Escola de Artes Visuais e na Escola de Tecnologia da
Cena do Cefart/FCS.
Nathália Bruno é bacharel e licenciada em Artes Plásticas, especialista em Ensino de Artes Visuais
e Tecnologias Contemporâneas, artista visual, professora e mediadora cultural na Escola de Artes
Visuais do Cefart/FCS.
Paulo Henrique Peixoto graduado em Turismo, licenciado em Artes Plásticas, foi professor e
mediador cultural na Escola de Artes Visuais do Cefart/FCS (in memoriam).
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GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Governador Romeu Zema Neto
Vice-Governador Paulo Eduardo Rocha Brant
Secretário de Estado de Cultura e Turismo Leônidas Oliveira
Secretário de Estado Adjunto de Cultura e Turismo Bernardo Silviano Brandão
Subsecretário de Estado de Cultura Maurício Canguçu
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO
Presidente Eliane Parreiras
Diretora de Relações Institucionais Cristina Schirmer
Diretora Cultural Luciana Salles
Diretora de Planejamento, Gestão e Finanças Marina Emediato
Diretora do Centro de Formação Artística e Tecnológica – Cefart Marta Guerra
CENTRO DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA E TECNOLÓGICA – CEFART
Direção Marta Guerra
Gerência de Extensão Fabrício Martins
Gerência de Ensino Piedra Magnani
Coordenação de Ensino Guilherme Brant
Secretaria Escolar Felippe Werneck
Orientação Pedagógica Cláudia Fonseca
Coordenação da Escola de Música Guilherme Brant
Coordenação da Escola de Dança Sarah Lignani
Coordenação da Escola de Teatro Paulo Maffei
Coordenação da Escola de Artes Visuais
Mariana Rodrigues
Coordenação da Escola de Tecnologia da Cena
Geraldo Octaviano e Cristiano Araújo
Coordenação da Residência para Pesquisas Artísticas
Gabriel Coupe
Assessoria Administrativa Leia Araújo
Assessoria de Gestão Artística
Emília Saud e Maria Cesarina Magalhães
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Produção Mylene Youssef
Assistentes de Produção (Montadores)
Eduardo Muller e Lucas Teixeira
Apoio Administrativo Unidade Palácio das Artes
Débora Melo e Edna Dias
Apoio Administrativo Unidade Liberdade Michelle
Barreto e Carlos Eduardo
Gestão Tecnológica Cefart Virtual Ewelyn Felice
Midiateca Adilson Ferreira e Francisco Olegário
Recepção Maria do Socorro de Sá
Gerente Appa Fernando Assis
Coordenação Pedagógica Appa Priscila Toledo
Edição de vídeos Gilberto Goulart
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ESCOLA DE ARTES VISUAIS
Professores Alexandre Ventura, Ana Luiza Emerich, Bruna Gonçalves, Clarissa de S. P. de Errico,
Daniela Parampal, Giovane Diniz, Guilherme Brant, Isa Carolina, Janaína Beling, Lucas Amorim, Mara Tavares,
Mariana Rodrigues, Naiara Rocha Viana, Nathália Bruno e Paulo Peixoto (in memoriam)
Estudantes do Curso de Formação Inicial Continuada em Assistente de Produção Cultural Aline Ambrósio,
Carlos Augusto Silva Nogueira, Olivia Babêtto Gonçalves, Dara de Moraes Blois, Fabio Junio dos Santos,
Waldemar Lopes Garcia Júnior, Katheryne Fernandez, Nayara Mineira dos Santos, Cássia Silva,
João Pedro Soares de Andrade e Laura Sotomayor
Estudantes do Curso Básico de Arte-Educação Abraão Veloso, Adriana Martins, Alberto Silva, Beatriz Fóscolo,
Clarissa Tomasi, Dayane Melo, Desirée Kinoshita, Érika Lima, Fátima Regina Silva, Gabriella Diniz Mansur,
Julia Resende, Luciana Lage, Marúzia Moraes e Rozângela Gontijo
Estudantes do Curso Básico de Curadoria Ana Beatriz Alves Cucaroli, Anderson Agulhari Bahia, Beatriz Radicchi,
Daphne Emanuelle Silva Cunha, Débora de Viveiros Pereira, Fernanda Silva Freitas, Joana Juliane Santos Pinheiro,
Jussara Guiomar Ferreira Vilaça de Prado, Lívia Lopes, Marden Vinícius de Almeida Ferreira, Marília de Souza
Roque, Monelise Vilela, Paula Silveira Bemfeito, Raphael Silva Ferreira, Roberta Silvestre, Tiago da Silva Borges,
Tiago de Castro Dias Sampaio e Virgilio Newton de Barros Júnior
Estudantes do Curso Básico de Expografia Danilo Celso da Silva, Gabriela Pedro de Abreu, Julia Oliveira Ho,
Julia Jovita Cunha, Sophia Oliveira Alberti e Uri Ramos Rodrigues de Freitas Nonnato
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ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Assessora-Chefe
Júnia Alvarenga
Assessoria de Imprensa
Thamiris Rezende (Coordenadora), Daniel Helvécio (Jornalista),
Maria Eliana Goulart (Revisão Editorial) e Paulo Lacerda (Fotografia)
Design Gráfico
Clério Ramos (Coordenador), Ângela Peres (Designer) e Luciana Campello (Designer)
Mídias Digitais
Anelise Hott (Coordenadora) e Ana dos Anjos (Social Mídia)
Edição de Vídeo
Marco Túlio Ulhôa
ASSOCIAÇÃO PRÓ-CULTURA E PROMOÇÃO DAS ARTES – APPA
Presidente Felipe Vieira Xavier
Vice-Presidente André Lacerda
Diretor Financeiro Guilherme Domingos
Analista Financeira Andréia Santos
Assessora Financeira Pâmela Perdigão
Superintendente de Auditoria Agostinho Resende Neves
Gerente de Projetos Fernando Assis
Assessora Pedagógica Priscila Toledo
Coordenador de Comunicação Daniel Moreira
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CHAMA! CORPOS ARVOREDOS PLURAIS – 6ª MOSTRA DA ESCOLA DE ARTES VISUAIS – CEFART/FCS
Artistas participantes
Acervo da Fundação Clóvis Salgado – Carlos Wolney, Frans Krajcberg e Mário Fraga
Selecionados – Danilo Celso, Nathália Bruno, Júnior Garcia, Rô Gontijo, Ana Beatriz Cucaroli, Lívia Lopes, Virgilio
de Barros, Aline Ambrósio, Érika Lima, TBorges, Dara Blois, Sophia Alberti, AlaBa, Roberta Silvestre, Gabriella
Pedro, Daniela Parampal, Nirvi, Marden Ferreira, Mara Tavares, Gabriella Pedro, Marília Roque e Daphne Cunha
Projeto curatorial
Curadora convidada – Celina Lage
Projeto Expográfico
Desenvolvido por estudantes do Curso Básico de Expografia.
Estudantes – Danilo Celso da Silva, Gabriela Pedro, Julia Oliveira Ho, Julia Jovita Cunha, Sophia Alberti
e Uri Nonnato
Texto Gabriela Pedro, Julia Jovita Cunha e Uri Nonnato
Imagens Danilo Celso da Silva, Julia Oliveira Ho e Sophia Alberti
Orientação Bruna Gonçalves
Catálogo
Desenvolvido por estudantes e professores do Curso Básico de Curadoria.
Estudantes – Ana Beatriz Cucaroli, Beatriz Radicchi, Debora Viveiros – Nirvi, Joana Juliane Santos Pinheiro, Lívia
Lopes, Marden Ferreira, Marília Roque, Monelise Vilela Pando, Daphne Cunha, Roberta Silvestre, Tiago Borges,
Tiago Sampaio e Virgilio de Barros
Professores Alexandre Ventura, Daniela Parampal, Giovane Diniz e Mara Tavares
Cartilha
Desenvolvida por estudantes e professoras do Curso Básico de Arte-Educação.
Estudantes – Abraão Veloso, Adriana Martins, Alberto Silva, Beatriz Fóscolo, Clarissa Tomasi, Dayane Melo,
Desirée Kinoshita, Érika Lima, Fátima Regina Silva, Gabriella Diniz Mansur, Julia Resende, Luciana Lage, Marúzia
Moraes e Rozângela Gontijo
Professoras – Ana Luiza Emerich, Clarissa de S. P. de Errico, Isa Carolina, Naiara Rocha Viana, Nathália Bruno e
Mara Tavares
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Proposições Educativas – PE
PE Bora se tecnoarborizar? – Abraão Veloso, Adriana Martins, Beatriz Fóscolo e Julia Resende
PE Arvoredos: corpos plurais e a memória – Alberto Silva, Érika Lima e Fátima Regina Silva
PE Reflorestação (reflorestar + coleção) – Clarissa Tomasi, Desirée Kinoshita, Gabriella Diniz Mansur e
Marúzia Moraes
PE Natureza engarrafada: cada um na sua garrafa – Dayane Melo, Luciana Lage e Rozângela Gontijo
Orientações sobre material didático-pedagógico – Ana Luiza Emerich
Orientações sobre grid e layout – Clarissa de S. P. de Errico
Orientação para o texto de introdução – Isa Carolina
Orientações para as proposições educativas – Nathália Bruno
Orientações para as imagens das proposições educativas – Mara Tavares e Naiara Rocha Viana
Projeto gráfico – Naiara Rocha Viana
Revisão – Ana Luiza Emerich e Naiara Rocha Viana
Acessibilidade
Texto descritivo das imagens do acervo (Carlos Wolney, Frans Krajcberg e Mário Fraga) – Danilo Celso da
Silva, Júlia Jovita, Sophia Oliveira Alberti, Júlia Oliveira Ho, Gabriella Pedro de Abreu e Uri Ramos Rodrigues de
Freitas Nonnato
Revisão – Danilo Celso da Silva, Júlia Jovita, Sophia Oliveira Alberti, Júlia Oliveira Ho, Gabriella Pedro de Abreu,
Uri Ramos Rodrigues de Freitas Nonnato e Nathália Bruno
Orientação – Nathália Bruno
Identidade Visual
Desenvolvida por estudantes e professores do Curso Formação Inicial Continuada em Assistente de Produção
Cultural
Estudantes Aline Ambrósio, Olivia Babêtto Gonçalves, Waldemar Lopes Garcia Júnior, Katheryne Fernandez e
Cássia Silva
Professores Alexandre Ventura, Clarissa de S. P. de Errico, Giovane Diniz e Mara Tavares
Pesquisa história das mostras Katheryne Fernandez
Pesquisa de marcas Cássia Silva
Proposta de revitalização da logo principal CHAMA Olivia Babêtto Gonçalves
Proposta de identidade visual da edição CHAMA! Corpos Arvoredos Plurais
Aline Ambrósio e Olivia Babêtto Gonçalves
Proposta de padronização de uso da marca CHAMA Aline Ambrósio e Waldemar Lopes Garcia Júnior
Infográfico cronologia das mostras Katheryne Fernandez
Manual de Identidade Visual Aline Ambrósio e Waldemar Lopes Garcia Júnior
Orientação sobre Identidade Visual Clarissa de S. P. de Errico
Revisão Alexandre Ventura, Clarissa de S. P. de Errico, Giovane Diniz e Mara Tavares
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Programação
Organização Giovane Diniz
Comunicação
Briefing Clarissa de S. P. de Errico e Mariana Rodrigues
Gestão de informação Clarissa de S. P. de Errico
Exposição Virtual
Direção de arte e executiva de projeto de exposição virtual
Tadeus Mucelli – Conteúdo Arte & Tecnologia
Assistente de arte e assistente executiva
Luciene Eller
Arte, desenvolvimento e ambiente virtual
Ronaldo Gazel
Site
Pedro Penido – Adapta Design
Consultoria de acessibilidade e elaboração de audiodescrição
Ana Martha Coutinho
Audiodescrição
Michelle Oliveira
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ACESSE O QR CODE E
RESPONDA A PESQUISA
DE SATISFAÇÃO
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fcs.palaciodasartes
Palácio das Artes - Fundação Clóvis Salgado
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO | PALÁCIO DAS ARTES
AV. AFONSO PENA, 1537 | BELO HORIZONTE – MG