Variabilidade de nutrientes em milho
969
VARIABILIDADE DE NUTRIENTES EM PLANTAS DE MILHO CULTIVADO
EM TALHÃO MANEJADO HOMOGENEAMENTE ( 1)
ZAQUEU FERNANDO MONTEZANO (2 ); EDEMAR JOAQUIM CORAZZA (3 ); TAKASHI MURAOKA (4)
RESUMO
O conhecimento da variabilidade da nutrição de plantas e da produtividade em áreas cultivadas
pode fornecer importantes subsídios na racionalização do uso de insumos e auxiliar no manejo da
fertilidade do solo. O objetivo deste trabalho foi avaliar a variabilidade da nutrição mineral de plantas
de milho por meio do fracionamento de um talhão cultivado comercialmente em células de manejo e
verificar as relações com a produtividade. O estudo foi realizado na Fazenda Alto Alegre, em Planaltina
(GO), em área de 373 hectares de Latossolo Vermelho-Amarelo Distroférrico, cultivado com milho na
safra 2003/04. Traçado um polígono da área, procedeu-se sua divisão em 80 células de manejo de quatro
hectares cada uma. A amostragem de folhas em cada célula seguiu uma diagonal com 12 pontos para
compor uma amostra composta. Realizou-se a análise dos macro e micronutrientes nas folhas. A
produtividade para cada célula foi obtida por meio de colhedora equipada com GPS. Na análise da
variabilidade dos resultados foram considerados os parâmetros estatísticos descritivos. O teste ausência
de correlação foi realizado com o nível de significância de 5%. A variabilidade da concentração dos
nutrientes na folha indicadora do milho foi considerada baixa para N, P, K, S e Mg; e média para Ca, Cu,
Fe, Mn e Zn. A variabilidade da produtividade de milho revelou diferenças de produção para cada célula
analisada. Os coeficientes de correlação entre os nutrientes e a produtividade foram significativamente
diferentes de zero (p<0,05) e negativos para Cu, Mn e Zn.
Palavras-chave: Zea mays, nutrição mineral, escala de campo, plantio direto, Latossolo, Cerrado.
ABSTRACT
CORN PLANT NUTRIENT VARIABILITY IN AN HOMOGENEOUSLY MANAGED CROP FIELD
The knowledge of variability of plant nutrition and grain productivity in cultivated areas may
provide important information for rational use of fertilizers and soil amendments. The objective of this
case study was to determine the corn plant mineral nutrition variability through the fractionation of a
commercial grown corn field into small management cells. The study was carried out at the farm Alto
Alegre in Planaltina, Goiás State, Brazil, on a Typic Dystrarox soil in 373 ha area of corn crop during the
crop year of 2003/2004. After outlining a polygon of area it was divided into 80 management cells of 4
ha each. The leaf sampling followed a diagonal with twelve points to constitute a representative composite
sample within each cell. The leaf samples were analyzed for macro and micronutrients. Yield for each
cell was obtained through grain yield monitor of a combine harvester equipped with GPS. For data
variability analysis descriptive statistic parameters were considered. Test for correlation coefficients were
accomplished considering the significance level of 5%. The variability of nutrient content in the diagnostic
leaves were considered low for N, P, K, S and Mg content; and medium for Ca, Cu, Fe, Mn e Zn. Yield
variability showed yield differences among cells. Linear correlation coefficients between nutrient content
and grain yield were significant and negative for Cu, Mn and Zn.
Key words: Zea mays, mineral nutrition, field-scale, no-till, Oxisol, Cerrado.
( 1 ) Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor. Recebido para publicação em 8 de junho de 2005 e aceito em 18 de
julho de 2008.
( 2 ) Doutorando em Solos e Nutrição de Plantas pela ESALQ/USP, Laboratório Fertilidade do Solo, CENA/USP. E-mail:
zaqueu@esalq.usp.br (*) Autor correspondente. Bolsista CNPq.
( 3 ) Embrapa Informação Tecnológica - PqEB, Caixa Postal 040315, 70770-901 Brasília (DF). E-mail: edemar@sct.embrapa.br
( 4 ) Centro de Energia Nuclear na Agricultura - CENA/USP. E-mail: muraoka@cena.usp.br
Bragantia, Campinas, v.67, n.4, p.969-976, 2008
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Z.F. Montezano et al.
1. INTRODUÇÃO
A área plantada e a produtividade da cultura
do milho para grãos vêm aumentando paulatinamente
nas últimas décadas, e a cultura tem papel importante
no agronegócio brasileiro, que passou de um país
importador para exportador. Nesse contexto, por
conseqüência do melhoramento genético realizado ao
longo dos anos para obter alto potencial produtivo, a
planta tornou-se mais exigente em nutrientes.
Uma das formas de se aumentar a
produtividade da cultura é, sem dúvida, a nutrição
mineral adequada, por meio de programas de
adubação que considerem, além da quantidade de
fertilizantes fornecida, o balanço entre os nutrientes
requeridos, aliado a condições climáticas adequadas,
principalmente a precipitação pluvial (BÜLL, 1993).
A utilização da análise foliar como critério
diagnóstico baseia-se na premissa da existência de
relação significativa entre o suprimento de nutrientes
e os teores dos elementos na folha, e que aumentos
ou decréscimos nas concentrações se relacionam com
produções maiores ou menores respectivamente
(MALAVOLTA et al., 1997).
Em estudo com a variabilidade de fósforo na
planta e no solo, CAMELO et al. (1993/94) concluíram
que a intensidade de amostragem poderia ser menor
para o fósforo na planta do que no solo. Considerando
que o número mínimo de subamostras de solo é
diretamente proporcional ao coeficiente de variação,
quanto maior o coeficiente de variação, maior será o
número de subamostras a serem coletadas (SILVEIRA et
al., 2000). Isto se aplica também quando se pretende
definir o número de subamostras para determinar
atributos de nutrição mineral de plantas.
Segundo SALVIANO et al. (1998), os coeficientes
de assimetria e de curtose dos atributos são
apresentados para efeito de comparação com a
distribuição normal, para a qual estes coeficientes são,
respectivamente, zero e três. Esses autores verificaram
que os atributos matéria seca e altura de plantas de
crotalária tiveram coeficientes de assimetria e curtose
que se aproximam ao de uma distribuição normal,
diferentemente para a maioria dos atributos químicos
do solo. Segundo os mesmos autores, essa
distribuição corrobora o baixo coeficiente de variação
dos atributos relacionados a planta em comparação
aos atributos do solo.
Considerando a classificação proposta por
W ARRICK e NIELSEN (1980) para os atributos físicos do
solo, aqueles com coeficientes de variação acima de
12% e abaixo de 52% foram classificados como de
média variabilidade, sendo os atributos com
Bragantia, Campinas, v.67, n.4, p.969-976, 2008
coeficiente de variação abaixo e acima deste intervalo
classificados, respectivamente, como de baixa e alta
variabilidade.
Em diversos trabalhos tem sido comentado
que a planta atua como integradora da variabilidade
do solo (T RANGMAR et al., 1987; SOUZA , 1992; CAMELO
et al., 1993; 1994; S ALVIANO et al., 1998), ou seja, como
a planta explora um volume de solo maior do que o
representado por uma amostra, ela pode então diluir
a variabilidade edáfica, compensando diferenças
pontuais no solo (C AMELO et al., 1993; 1994). Para
SOUZA (1992), a extensão do sistema radicular a curta
distância pode constituir fator de ajustamento da
planta às variáveis do solo. Para as gramíneas, isso
seria mais preponderante do que para uma espécie
vegetal com sistema radicular pivotante, que pode
explorar camadas mais profundas do solo e,
conseqüentemente, sua heterogeneidade.
O conhecimento da variabilidade das
concentrações de nutrientes em plantas de milho e da
correlação com a produtividade em áreas
consideradas e manejadas homogeneamente é
fundamental para diagnosticar possíveis carências ou
excessos de nutrientes na cultura, seja em locais
específicos, seja em área total. Este diagnóstico permite
uma avaliação da resposta da cultura às fertilizações
realizadas e ao histórico de manejo da área
considerada, além de esclarecer possíveis problemas
ocasionados por diferentes fatores que influenciam na
produtividade. A diagnose foliar pode ser considerada
uma ferramenta complementar na interpretação dos
dados de análise de solo.
Este trabalho teve por objetivo avaliar a
variabilidade das concentrações de nutrientes de
plantas de milho determinadas por meio da análise
foliar num talhão manejado homogeneamente e
verificar possíveis relações com a produtividade da
cultura do milho.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo de caso foi desenvolvido na Fazenda
Alto Alegre, localizada no município de Planaltina
(GO), em área de 373 hectares. O solo da área, segundo
E M B R A P A (1999), é classificado como Latossolo
Vermelho-Amarelo Distroférrico. De 1987 a 1989, a
área que estava sob vegetação natural de Cerrado foi
desmatada para o cultivo da soja. Após 1994, a área
passou a ser cultivada em semeadura direta com a
utilização do milho, além da soja.
A dessecação da área foi realizada no período
de 31/10 a 5/11/2003 com 2,75 L ha -1 de glifosato +
0,6 L ha -1 de 2,4-D amina. No período de 3/11 a 10/
Variabilidade de nutrientes em milho
11/2003, realizou-se a semeadura direta com os
híbridos 30F90, 30K75 e 3021 da Pioneerâ, com 64.000
sementes por hectare para obter uma população final
de aproximadamente 60.000 plantas. As sementes
foram tratadas com o inseticida à base de tiodicarbe.
Efetuou-se o controle de invasoras com aplicações em
pré-emergência do milho do herbicida atrazina +
simazina, no período de 3/11 a 8/11/2003. Aplicaramse, no plantio, 25, 90 e 50 kg ha-1 de N, P 2O5 e K2O +
(4,5; 2,5; 0,30; 0,08; 0,08; 0,15 g kg-1 de Ca, S, Zn, B, Cu
e Mn respectivamente). A primeira adubação em
cobertura, no período de 18/11 a 1.°/12/2003, foi feita
com 35 e 30 kg ha-1 de N e K2O, respectivamente, na
forma de nitrato de amônio e cloreto de potássio,
distribuídos a lanço. A segunda, no período de 26/11
a 15/12/2003, foi efetuada na dose de 45 e 20 kg ha -1
de N e K2O, respectivamente, como uréia e cloreto de
potássio, incorporados nas entrelinhas. Realizou-se
uma aplicação de inseticida fisiológico nuvaluron para
o controle da lagarta do cartucho em área total no
período de 11/12 a 30/12/2003.
A definição dos pontos e procedimento de
amostragem do solo é descrita a seguir. foi utilizado
Para traçar uma poligonal da área, utilizou-se o GPS
Etrex Vista. De posse do polígono, procedeu-se a
divisão da área em 80 células de manejo com quatro
hectares cada uma. As células das bordaduras foram
desconsideradas para fins de amostragem, seguindo
uma diagonal com 12 pontos para compor a amostra
representativa, dentro de cada uma das 80 células. As
coordenadas desses pontos foram obtidas e
arquivadas (MONTEZANO et al., 2006).
A amostragem da folha indicadora foi realizada
entre os dias 24/1 e 28/1/2004 nas coordenadas das
subamostras do solo. A localização dos pontos foi feita
com o uso do GPS Etrex Vista. Foram coletadas três
folhas por ponto de subamostragem, de plantas
diferentes, totalizando 36 folhas por amostra composta.
Colheu-se o terço médio da folha oposta e abaixo da
espiga no período do aparecimento da inflorescência
feminina (cabelo), descartando-se a nervura central
(MALAVOLTA et al., 1997).
O material vegetal (lâminas de folha) foi seco
em estufa de circulação forçada de ar com temperatura
ajustada em cerca de 65°C por um período de 48 horas.
O material seco foi moído em moinho tipo Wiley,
passando as amostras em peneira de 20 mesh. Para
as determinações de macro e micronutrientes, a
exceção de N e B, o material vegetal foi submetido à
digestão nítrico-perclórica conforme descrito em
MALAVOLTA et al. (1997). No extrato nítrico-perclórico,
a concentração de P foi determinada por
espectrofotometria do metavanadato + molibdato, a de
K por fotometria de emissão de chama, as
971
concentrações de Ca, Mg, Cu, Fe, Mn e Zn por
espectrofotometria de absorção atômica e a de S por
turbidimetria do sulfato de bário. Para a determinação
de N, submeteu-se o material vegetal à digestão
sulfúrica e posterior destilação do extrato pelo método
micro-Kjeldahl. O extrato vegetal para determinação
da concentração de B foi obtido pela dissolução das
cinzas provenientes da incineração do material seco,
com posterior determinação pelo método
espectrofotométrico da azometina-H.
Os dados de produtividade do talhão foram
obtidos no momento da colheita, por meio de colhedora
equipada com Sistema de Posicionamento Global (GPS),
sensor de fluxo de grãos por placa de impacto, sensor
de umidade de grãos, sensor de velocidade de
deslocamento da colhedora e sensor de controle de
altura da plataforma. Essas informações foram
gerenciadas pelo monitor de rendimento de grãos
AgLEADER PFAdvantage®, arquivando as leituras de
produtividade, altitude e umidade de grãos a cada dois
segundos, durante a colheita da cultura em toda a área.
Utilizou-se o Sistema de Informação
Geográfica (SIG) para a visualização dos dados brutos
de produtividade de grãos e altitude. A partir desses
dados, fez-se a interpolação, pelo método do inverso
do quadrado da distância. Para a obtenção dos dados
médios de produtividade e altitude, para cada uma
das 80 células de manejo, usou-se o mesmo Sistema.
Os pontos georeferenciados das subamostras de folha
e os mapas de dados brutos de produtividade e
altitude foram sobrepostos. Em cada ponto de
subamostragem, foram selecionados os dados de
produtividade e altitude, contidos em um círculo com
10 m de raio e calculou-se a média. As médias de
produtividade e altitude de cada subamostra serviram
para obter as respectivas médias de cada uma das 80
células de manejo (SHIRATSUCHI e MACHADO, 2003). Os
mapas de superfície e da distribuição espacial foram
construídos com o emprego do software de visualização
de dados espaciais Surfer for Windows (G OLDEN
SOFTWARE, 1997).
Na análise estatística dos resultados
considerou-se o cálculo dos parâmetros estatísticos
referentes às medidas de tendência central e
variabilidade, para cada conjunto de valores. Foram
calculados os coeficientes de assimetria e curtose,
para verificar o tipo e o formato da curva de
distribuição da concentração foliar de cada nutriente.
A medida da correlação linear do coeficiente de
Pearson serviu para determinar a relação entre as
concentrações dos nutrientes na folha e as médias de
produtividade do milho e altitude da área, em cada
célula de manejo, a 5% de probabilidade, pelo teste t.
O software Statistica for Windows STATSOFT (1996) foi
o pacote estatístico utilizado nas análises.
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Z.F. Montezano et al.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Variabilidade
macronutrientes
nas
concentrações
de
A análise estatística descritiva, para as
concentrações de macro e micronutrientes
determinadas em tecido foliar de milho, está
apresentada na tabela 1.
Considerando a proximidade entre os valores
da média e mediana como indicativo de uma
distribuição normal, observa-se que os resultados para
P e Mg atendem a esse critério, pois a diferença foi
de 0,01 g kg-1. O coeficiente de assimetria foi próximo
de zero, o que corrobora para satisfazer a condição
de distribuição normal do P e Mg. Alguns
pesquisadores, ao invés de utilizarem tabelas com
limites de aceitabilidade para valores de assimetria
com nível de significância, como a tabela de JONES
(1969), preferem fixar um valor de aceitabilidade para
a assimetria, como PAZ et al. (1996), que aceitaram a
hipótese de normalidade quando os valores de
assimetria distanciaram-se de zero até no máximo um.
Dentre os micronutrientes, Cu e Zn revelam valor
do coeficiente de assimetria que satisfaz a hipótese
de normalidade segundo P AZ et al. (1996). A diferença
entre as duas medidas de tendência central dos dois
nutrientes foi de 0,44 e 2,08 mg kg -1 respectivamente,
indicando que a distribuição de freqüências tende à
normalidade.
Tabela 1. Medidas estatísticas descritivas para as concentrações de macro e micronutrientes em folha diagnóstica de
milho
Medidas estatísticas descritivas
Atributo
Média
Mediana
Desvio-padrão
Variância
N (g kg )
31,00
30,63
1,65
P (g kg-1)
2,43
2,44
0,19
K (g kg )
23,97
23,40
2,29
Ca (g kg-1)
5,07
4,90
0,73
-1
Mg (g kg )
2,08
2,09
S (g kg-1)
2,07
2,02
8,04
Fe (mg kg )
Mn (mg kg-1)
-1
-1
Cu (mg kg-1)
-1
-1
Zn (mg kg )
Coeficiente
Variação
Assimetria
Curtose
2,72
5,32
1,76
4,23
0,04
7,89
0,63
1,24
5,22
9,53
2,28
5,04
0,53
14,38
2,12
4,63
0,24
0,06
11,31
0,25
0,12
0,25
0,06
11,87
4,64
26,32
7,60
2,33
5,41
28,95
0,45
-0,71
114,37
106,77
31,59
997,99
27,62
1,23
1,18
30,92
30,28
4,09
16,74
13,23
1,05
0,93
40,65
38,57
8,87
78,66
21,82
0,67
-0,66
Os nutrientes com baixa variabilidade são N,
P, K, S e Mg, segundo o critério proposto por W ARRICK
e NIELSEN, (1980). Aqueles com média variabilidade
são Ca, único entre os macronutrientes, e todos os
micronutrientes considerados na análise foliar.
B ERNDTSSON e BAHRI (1995) verificaram que os
teores dos nutrientes no solo apresentaram maior
variação que as concentrações dos nutrientes na
planta. Os mesmos autores argumentaram que outros
fatores, além da influência das propriedades químicas
do solo, afetam significativamente a variabilidade
química na planta, a exemplo de tipo de planta,
propriedades genéticas e variáveis do solo
(disponibilidade de água, concentração dos solutos,
etc.). O mesmo resultado é verificado comparando-se
os coeficientes de variação encontrados por
MONTEZANO et al (2006) para os macronutrientes P, SSO42-, K, Ca e Mg, e os micronutrientes Cu, Fe, Mn e
Zn determinados em amostras de solo na mesma área
de estudo. Em todos os coeficientes, a exceção do Fe,
Bragantia, Campinas, v.67, n.4, p.969-976, 2008
os valores foram maiores em relação aos coeficientes
calculados a partir das concentrações dos nutrientes
nas folhas, apresentados neste trabalho.
C AMELO et al. (1993; 1994) verificaram que a
variação do P na planta foi menor que no solo.
Também comentaram sobre o elevado número de
fatores que interferem na distribuição do P absorvido
pelas plantas, os quais M A L A V O L T A et al. (1997)
dividem em fatores externos (disponibilidade, aeração,
temperatura, o próprio elemento, interação com outros
íons, pH, micorrizas e rizosfera) e internos
(potencialidade genética, estado iônico interno, nível
de carboidratos, intensidade transpiratória,
morfologia da raízes). Entretanto, como a planta
explora um volume de solo maior que o representado
pela amostra, ela diluiria, então, a variabilidade do
solo, compensando suas diferenças pontuais (CAMELO
et al., 1993; 1994). Outro comentário importante referese aos limites de concentração dos nutrientes nas
plantas, mais estreitos que as faixas de teor dos
Variabilidade de nutrientes em milho
elementos no solo. A planta possui uma composição
química mais definida, o que influencia em menor
dispersão nas observações e na distribuição de
freqüências, não se afastando muito da distribuição
normal (CAMELO et al., 1993; 1994).
973
na absorção dos nutrientes pelas plantas, provocando
desenvolvimento irregular da cultura dentro de uma
área de produção (TSEGAYE e HILL, 1996). É importante,
portanto, conhecer a variabilidade dos nutrientes no
tecido vegetal antes de aplicar adubo em resposta a
esta variação.
Variabilidade da produtividade do milho
A análise exploratória dos dados médios de
produtividade e altitude está apresentada nos mapas
de superfície (Figura 1) e de distribuição espacial dos
dados para cada célula de manejo (Figura 2). Observase que na parte central da área as produtividades
foram maiores, acima de 8,0 t ha -1 . As menores
produtividades ocorreram próximo aos limites da área.
A amplitude foi de 1,9 t ha-1, demonstrando diferenças
significativas de produção, o que resultará em
diferenças também significativas de renda para cada
célula analisada. O relevo da área foi classificado
como suave ondulado, como se verifica no mapa de
superfície da altitude da área (Figura 1).
Figura 2. Distribuição espacial de produtividade de grãos
de milho (a) e altitude em relação ao nível do mar (b).
Correlações de macro e micronutrientes com
a produtividade do milho
Aproximadamente 50% dos coeficientes de
correlação linear entre os elementos de nutrição
mineral do milho foram significativos pelo teste t com
95% de confiabilidade (Tabela 2).
Figura 1. Mapas de superfície para produtividade de grãos
de milho (a) e altitude em relação ao nível do mar (b).
A produtividade das culturas é variável
devido à heterogeneidade das propriedades físicas,
químicas e biológicas do solo (BRESLER e LAUFER , 1988)
e essas por sua vez, interferem, como fatores externos,
O N correlacionou de forma positiva com os
macronutrientes P, K, Ca e S, e de forma negativa com o
Mg. Para P, K, Ca e S os resultados demonstram que as
plantas bem nutridas em N são mais eficientes em
absorver outros elementos devido ao maior crescimento
do sistema radicular. Este raciocínio, porém, não se
aplica ao caso do Mg. Altas concentrações de Ca2+, e
sobretudo de K+ no meio, podem inibir competitivamente
a absorção de Mg2+, causando, às vezes, a deficiência
desse nutriente (MALAVOLTA et al., 1997).
Bragantia, Campinas, v.67, n.4, p.969-976, 2008
Bragantia, Campinas, v.67, n.4, p.969-976, 2008
*: correlação significativa ao nível de 5% de probabilidade pelo teste t.
-
0,36*
-0,54*
-0,27*
-0,38*
-0,47*
0,57*
0,27*
-0,41*
-0,15
-0,05
-0,14
0,13
0,21
0,33*
-0,21
0,11
0,52*
0,23*
Altitude (m)
0,41*
-0,19
Produtividade (t ha -1)
-0,21
-
-
0,61*
-0,33*
-0,49*
0,32*
0,54*
0,06
0,04
-0,05
-0,23*
-0,17
-0,33*
-0,38*
-0,32*
-0,02
Zinco (mg kg-1)
-0,26*
-0,03
-0,15
Manganês (mg kg-1)
-
-
-
-
-0,16
-0,04
0,01
0,09
0,09
0,06
0,26*
0,42*
-0,10
0,20
0,16
0,25*
-0,01
Cobre (mg kg )
Ferro (mg kg -1)
-
-
-0,15
0,09
-0,04
-0,06
0,06
0,23*
0,22*
-0,21
-0,40*
Enxofre (g kg-1)
-1
Magnésio (g kg )
-
-
-
-
0,82*
0,66*
Cálcio (g kg-1)
0,58*
0,69*
Potássio (g kg )
0,57*
-
Mg
Ca
0,70*
-1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Zn
Mn
Fe
Cu
S
-1
Não foram significativos os coeficientes de
correlação entre a maioria dos atributos de nutrição
mineral e os dados de produtividade média para cada
célula de manejo (Tabela 2). Destacam-se, porém, as
correlações negativas entre a produtividade média de
milho com os micronutrientes Cu, Mn e Zn, as quais
foram significativas e estão diretamente ligadas ao
fornecimento anual desses nutrientes nas adubações.
Como as determinações dos valores de pH do solo
revelaram que a acidez está contida na faixa de
interpretação agronômica considerada de média
acidez, pode-se inferir uma maior disponibilidade dos
micronutrientes catiônicos.
Fósforo (g kg )
O Zn correlacionou negativamente tanto com
o P quanto com o K, Ca e o Fe. Segundo MALAVOLTA
et al. (1997) há efeito de inibição competitiva e não
competitiva do Zn 2+ com o Ca 2+ e H 2 PO 4 respectivamente. Houve correlação positiva do Zn
com os micronutrientes Cu e Mn.
K
O Mn correlacionou negativamente com o K,
Mg e o Fe. Houve correlação positiva do Mn com o
Cu e o Zn. O Mn tem propriedades químicas
semelhantes às dos metais alcalinos terrosos, como Ca
e o Mg, e de metais pesados, Fe e Zn, por exemplo, e,
por isso, esses cátions podem inibir sua absorção e
transporte. Por sua vez, o Mn inibe a absorção
daqueles mencionados acima, principalmente do Fe
(MALAVOLTA et al., 1997).
P
Se por um lado, a absorção do Fe é
influenciada por outros cátions como K, Ca e Mg,
por outro lado, o Cu, o Zn e o Mn podem induzir
a deficiência de Fe, presumivelmente por inibição
competitiva (MALAVOLTA et al., 1997). Assim, houve
correlação significativa positiva do Fe com os
cátions K e Ca. Houve também correlação entre o
Fe e o P.
N
O K correlacionou positivamente com o Ca e
o Fe e negativamente com o Mn e o Zn. O efeito
sinérgico entre K e Ca foi demonstrado pela maior
correlação entre estes. M A L A V O L T A et al. (1997)
comprovaram que o íon Ca2+, em concentrações não
muito elevadas, aumenta a absorção de cátions e de
ânions por seu papel na manutenção da integridade
funcional da plasmalema. Segundo OLIVEIRA (2004),
as concentrações de Ca no tecido foliar estão contidas
dentro da faixa considerada adequada para o milho
(2,5 a 10 g kg-1).
-1
O P correlacionou positivamente com K, Ca,
S e o Fe e negativamente com o Zn. Segue neste caso
o mesmo citado para o N, ou seja, quanto melhor
nutrida a planta em P, maior o crescimento do sistema
radicular, permitindo que a planta explore volume
maior de solo.
Prod.
Z.F. Montezano et al.
Tabela 2. Correlação de Pearson entre as concentrações dos macro e micronutrientes nas folhas de milho e os dados médios de produtividade e altitude
974
Variabilidade de nutrientes em milho
975
Aliado ao fornecimento das adubações anuais,
permite-se deduzir sobre provável consumo de luxo
desses micronutrientes. Segundo a tabela de
concentrações adequadas de nutrientes para as
principais culturas no Cerrado (O LIVEIRA, 2004), os
teores de Mn e Zn para todas as amostras estão dentro
da faixa de concentração considerada adequada para
estes dois micronutrientes na cultura do milho. Na
maioria das amostras, verificaram-se concentrações
adequadas de Cu, segundo a referência acima citada;
em 21,25% das amostras o teor de Cu ficou abaixo do
limite inferior da faixa considerada adequada.
Logicamente, deve-se considerar que outros fatores de
produção estiveram envolvidos no desempenho da
cultura no campo.
BRESLER, E.; LAUFER, A. Statistical inferences of soil
operties and crop yield as spatial random functions. Soil
Science Society American Journal, Madison, v.52, p.12341244, 1988.
A altitude proporcionou correlação positiva
com a produtividade de milho (Tabela 2). Uma
possível explicação, refere-se ao fato de que a
declividade influencia o fluxo da água no solo,
diretamente associado à produtividade das culturas
em áreas de sequeiro, em especial na ocorrência de
veranicos. Como a determinação das variáveis
associadas à água não era objeto deste estudo, não
foi possível avaliar seu efeito sobre a produtividade.
Nas concentrações de macro e micronutrientes, à
exceção de Mg, S e Cu, houve correlação significativa
com a altitude. Os nutrientes tiveram associação mais
direta com a altitude do que com a produtividade do
milho, a exceção do S e do Cu.
GOLDEN SOFTWARE. Surfer for windows. v.6,04. Colorado:
Golden, 1997.
4. CONCLUSÕES
1. Nas concentrações dos macronutrientes N,
P, K, Mg e S, na folha indicadora das plantas de milho
cultivado em área manejada homogeneamente ocorreu
baixa variabilidade, à exceção do Ca, com média. As
concentrações dos micronutrientes Cu, Fe, Mn e Zn
tiveram média variabilidade.
2. A variabilidade da produtividade de milho
demonstrou diferenças de produção para cada célula
analisada que devem ser consideradas no manejo dos
próximos cultivos na área.
3. Nas concentrações de Cu, Mn e Zn a
correlação foi negativa com a produtividade de milho,
e em Fe, houve correlação positiva. Os macronutrientes
N, P, K, Ca, Mg e S não tiveram correlação significativa
com a produtividade de milho.
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