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REFLEXÃO SOBRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA
GINÁSTICA ARTÍSTICA
Myrian Nunomura
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Michele Viviene Carbinatto
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil
Paulo Daniel Sabino Carrara
Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo, São Paulo, Brasil
Resumo
O presente estudo levanta uma discussão sobre a formação do profissional de Gi
nástica Artística. Foram entrevistados 36 profissionais que atuam na modalidade
em diferentes instituições, que opinaram sobre a implantação de um “Programa de
Formação para Profissionais de Ginástica Artística no Brasil”. Pela análise de con
teúdo dos comentários a maioria mostrouse favorável à implantação de um pro
grama, e justificouse amparada na perspectiva de progresso na carreira e na
abordagem de objetivos mais específicos do que aqueles existentes nos cursos de
graduação. A formação específica parece ser uma necessidade emergente, pois a
necessidade de conhecimento para atuar na Ginástica Artística, em qualquer nível,
é cada vez mais evidente.
Palavraschave: Ginástica. Capacitação. Ensino.
A
Ginástica Artística e Formação Profissional no Brasil
Ginástica Artística (GA) é uma das modalidades olímpicas mais
tradicionais e está presente nos Jogos Olímpicos Modernos des
de a sua primeira edição, em 1896 (PÚBLIO, 1998). Recentemente, a
GA brasileira tem alcançado resultados expressivos em torneios inter
nacionais como os Jogos PanAmericanos, as Copas do Mundo e os
próprios Jogos Olímpicos. Esses resultados devemse, em grande par
te, aos investimentos da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG),
que de 2001 a 2008 manteve um centro de treinamento. Além disso,
são contratados técnicos experientes de outros países, para auxiliar os
profissionais brasileiros, para atender às demandas do setor competi
tivo (FONSECA, 2012).
Mas não houve ações expressivas por parte das Federações em
respeito à formação de profissionais brasileiros na GA, pois a maioria
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dos técnicos estrangeiros atua exclusivamente em determinada insti
tuição e não dissemina seu conhecimento e experiência (OLIVEIRA,
1997). Assim, a vinda de profissionais estrangeiros resolveria o pro
blema, de forma imediatista, mas pouco contribui na formação dos
técnicos que atuam no alto nível. Eventualmente, essas instituições
oferecem cursos esporádicos, sem continuidade e supervisão, e não
têm o objetivo de preparar futuros profissionais. Os cursos desenvol
vidos com mais frequência são os de arbitragem e alguns cursos téc
nicos de curta duração.
A situação mais evidente de formação profissional brasileira cor
responde aos cursos superiores de Educação Física e de Esporte. Em
41 instituições consultadas por Nunomura e NistaPiccolo (2003), 35
oferecem a disciplina GA e sete delas também oferecem um aprofun
damento. O fato nos levaria a concluir que a maioria dos profissionais
que atua na modalidade estaria qualificada para orientar programas de
iniciação, conforme as ementas das disciplinas. Entretanto, a grade
curricular dos cursos de graduação não atende às necessidades de co
nhecimento para atuar na modalidade e poucos cursos oferecem uma
formação especializada que vise à atuação na GA em níveis mais ele
vados de prática (NUNOMURA, 2001).
Isto ocorre porque os conhecimentos acadêmicos adquiridos em
uma graduação específica não preenchem as necessidades de maior
aperfeiçoamento técnico desportivo, pois seu objetivo é a formação
generalista (NUNOMURA; NISTAPICCOLO, 2003). Sobre os do
centes do ensino superior, esses consideram insuficiente o tempo dis
ponível nas grades curriculares para o desenvolvimento da disciplina
GA (FIGUEIREDO, 2009), o que incide em profissionais insatisfeitos
com sua preparação (NUNOMURA; NISTAPICCOLO, 2003). Sem a
preparação considerada necessária os profissionais tendem a se de
monstrar inseguros para ministrar um conteúdo não vivenciado du
rante a formação profissional (THOMMAZO, 2006).
Assim, a seleção dos profissionais de GA para atuar em níveis in
termediários e mais elevados baseiase, predominantemente, na expe
riência de exatleta; e a maioria dos técnicos do setor competitivo foi
ginasta e já atuava nessa profissão antes mesmo de sua formação
(NUNOMURA, 2001). Em contrapartida, os profissionais com menor
tempo de contato com a GA veemse desestimulados a atuar na mo
dalidade, pois não acreditam que sua formação possa concorrer com o
prestígio de grandes ginastas (NUNOMURA, 2001; NUNOMURA;
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NISTAPICCOLO, 2003). Parte dos técnicos tenta aprofundar o co
nhecimento obtido nos cursos de graduação e buscam outras fontes de
formação. Participam de clínicas, cursos, intercâmbios no exterior,
entre outros recursos (NUNOMURA; NISTAPICCOLO, 2003).
Mas, ainda é possível observar práticas pouco apropriadas de cer
tos profissionais nos clubes, nas escolas e nos torneios que acontecem
no país. As crianças e os jovens são submetidos às cargas intensas e
especializadas de treinamento e, ainda muito jovens, são inseridos no
ambiente competitivo e pressionados a obter resultados (NUNOMU
RA; CARRARA; TSUKAMOTO, 2010). Entre outras atitudes que
poderiam comprometer a integridade de crianças e jovens, ocasionar
prejuízos irreversíveis e/ou levar ao fenômeno burnout, ou seja, a de
sistência dos ginastas ainda quando muito jovens (NUNOMURA,
2004). Essas situações são ocasionadas porque os objetivos de muitos
técnicos estão estritamente associados às competições e ao alto nível,
em função das exigências das instituições onde trabalham (NUNO
MURA; CARRARA; CARBINATTO, 2010).
Podemos verificar que em diversos níveis de atuação muitos dos
profissionais necessitam de melhor preparo. Diante dessa realidade
Brasileira, partimos para a investigação do contexto da formação pro
fissional em outros países.
Ginástica Artística e Formação Profissional no contexto interna
cional
Há necessidade de conhecimento cada vez mais especializado de
GA, à medida que o nível técnico da modalidade e de seus ginastas
aumenta (NUNOMURA; NISTAPICCOLO, 2003). Em Portugal, nos
EUA, no Canadá, e na Austrália, entre outros países, o trabalho inte
grado entre Associações, Governos e Federações possibilita atender a
essa demanda do Esporte, ou seja, àqueles profissionais que preten
dem progredir na carreira profissional, e a GA não é exceção. A se
guir, apresentamos brevemente alguns dos programas de formação
profissional no Esporte desses países, com ênfase na modalidade de
GA.
Em Portugal, a Escola Nacional de Ginástica (ENGYM) é respon
sável em atender às necessidades de formação dos profissionais de
Ginástica. A GA está dividida em níveis, do 1o ao 5o, de acordo com a
qualidade técnica e a idade dos praticantes (PINTO; BARATA, 1999).
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O modelo português vigente possui três valências: 1) Sociais ou não
competitivas, englobam o estatuto profissional na área técnica; 2)
Educativa ou Competitiva, engloba o estatuto profissional na área de
treino desportivo; e 3) Desportiva, com atividades curriculares e des
porto escolar, que inclui aperfeiçoamento e formação específica. Nes
sas diferem a Intervenção do profissional de acordo com os níveis
preparatórios. A parte principal do curso possui matérias teóricas e
técnicas, a prática pedagógica e créditos em ações pontuais ou ativi
dades (ENGYM, 1999).
Nos Estados Unidos a United States of America Gymnastics
(USAG) elabora uma série de materiais didáticos e publicações espe
cíficas para cada nível de formação proposto. Para Moskovitz (1991),
o reconhecimento do profissional é um atributo necessário para o seu
sucesso. Ele dispensa grande parte de seu tempo com as crianças e,
potencialmente, seria o adulto mais significante de suas vidas. Seu
papel é, antes de tudo, uma missão, e a USAG acredita que os profis
sionais devem estar preparados para lidar com os vários aspectos de
vida da criança como autorrealização e autoestima, por exemplo, e
não apenas com a técnica e o aprendizado de habilidades.
O Canadá é o pioneiro em programa de capacitação e de certifica
ção de profissionais do Esporte na América do Norte e que iniciou em
1976. O objetivo é oferecer uma base de conhecimento que abrange
da iniciação ao alto nível; elevar o padrão de ensino; auxiliar no de
senvolvimento do profissional; padronizar o ensino da Ginástica; es
tabelecer níveis de qualificação dos profissionais e critériobase para
sua seleção em diversas instituições como clubes, escolas e Universi
dades; manter informativo de divulgação nacional para os profissio
nais; e desenvolver a excelência na instrução do Esporte (CAC, 1994).
Na GA, implantouse uma expansão do nível inicial, ou seja, subní
veis como Ginástica de Exibição, Ginástica préescolar e Ginástica
recreativa (RUSSELL, 1994). O objetivo desses subníveis é atingir
aqueles que não têm intenção de ascender para os níveis subsequentes,
mas aprofundar seus conhecimentos e ampliar sua atuação nesse nível.
No Canadá a organização Esportiva é indiscutível, e tamanho foi o seu
sucesso que diversos países buscam apoio para estabelecer programas
semelhantes.
Na Austrália a Australian Gymnastics Federation (AGF) o único
órgão administrador em todo o país, é responsável pelo desenvolvi
mento, implementação e monitoramento da qualidade dos programas
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de formação profissional e pelo estabelecimento do National Accredi
tation Scheme (NAS), um sistema de certificação dos profissionais. O
NAS pautase na filosofia de que o desenvolvimento do profissional é
um processo gradual e contínuo de aprendizagem. A combinação de
curso, prática em campo e avaliação constitui o processo de “autori
zação”. É necessário que os profissionais completem, anualmente, um
curso de atualização para que possam manter a sua “autorização” para
atuar (SCHEMBRI, 2000). O ponto forte da Austrália é o desenvolvi
mento de um sistema nacional integrado e a competência das agências
de distribuição, públicas e privadas. O reflexo desse sistema estendeu
se em todos os níveis do Esporte na Educação Física escolar e na ad
ministração das grandes organizações nacionais de Esporte (SCHEM
BRI, 2000).
Podemos observar, a partir desses exemplos, que diversos conteú
dos podem ser trabalhados na formação e no aperfeiçoamento dos
profissionais da GA, que atuam em diversos níveis de prática da mo
dalidade, da iniciação esportiva ao alto nível. Ao comparar com a rea
lidade brasileira, acreditamos que no nosso país a formação
profissional para atuar na GA seja insuficiente. Esse fato também po
de ter impacto na baixa popularidade da modalidade no Brasil, pois
um sistema de formação profissional é essencial para o desenvolvi
mento do Esporte (NUNOMURA, 2004). De acordo com Campbell
(1993), o sistema de educação para técnicos é amplamente determina
do pela cultura, política e tradições do país. Portanto, não há um mo
delo ideal a seguir, mas certos princípios em comum deveriam ser
considerados. Esse cenário nos leva a ponderar sobre a importância de
se desenvolver, também no Brasil, um Programa de Formação e Cer
tificação para a GA. O objetivo deste artigo é identificar o que os pro
fissionais brasileiros pensam sobre a implantação de um programa de
formação de técnicos de GA no Brasil.
Procedimentos metodológicos
Fizeram parte deste estudo de campo 36 técnicos, que atuam em
todas as categorias competitivas da GA e que concluíram a graduação
em Educação Física ou em Esporte. Eles completaram o ensino supe
rior em instituições públicas ou privadas do Brasil e possuem 13.34 ±
1.52 (média e desvio padrão) anos de experiência no ensino da GA.
Atuam em importantes centros de formação e treino de ginastas no
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Brasil. E, são afiliados à CBG e participam de torneios e campeonatos
brasileiros organizados pela mesma.
Por meio de entrevistas semiestruturadas, levantouse a opinião e
a justificativa desses profissionais sobre a implantação de um Progra
ma de Formação e Certificação para a GA no Brasil, visto que há pro
gramas em outros países, conforme indicado anteriormente. Foi feita a
seguinte perguntachave a todos os participantes: "Quais seriam os as
pectos positivos e/ou negativos da implantação de um "Programa de
Formação e Certificação para Técnicos de GA no Brasil?" Para aque
les que não compreenderam o que seria um Programa de Formação e
Certificação, foi citado o Programa do Canadá como exemplo. Os de
poimentos das entrevistas foram gravados e transcritos na íntegra.
Para o tratamento dos relatos dos profissionais, adotamos a Análise
de Conteúdo proposta por Bardin (2004). O método é definido por um
conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza proce
dimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das men
sagens. A intenção da análise de conteúdo é a interferência de
conhecimento relativo às condições de produção (ou eventualmente,
de recepção), interferência esta que recorre a indicadores (quantitati
vos ou não).
O processo da análise de conteúdo envolve: (1) a coleta dos depoi
mentos; (2) o levantamento das unidades de registros; (3) a síntese das
unidades de registro; (4) a categorização; (5) a interferência e a inter
pretação dos resultados.
A partir da leitura do conteúdo dos depoimentos, pudemos identi
ficar três categorias distintas: aqueles que são favoráveis à implanta
ção de um Sistema de Certificação para técnicos; aqueles que não se
posicionaram nem a favor nem contra; e aqueles que são contra tal
implantação. A partir da definição destas categorias, as respostas fo
ram reduzidas em unidades de significado, para posterior análise, dis
cussão e confronto com a literatura, conforme sugere o processo de
análise de conteúdo.
Resultados e Discussão
Do ponto de vista quantitativo, observamos que 31 técnicos
(86,11%) são favoráveis à implantação de um sistema de formação
para os profissionais que atuam na GA, quatro (11,11%) são neutros
ou não opinaram e um (2,78%) é contrário. A seguir, apresentamos a
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análise dos aspectos mais relevantes em cada uma das categorias le
vantadas.
Favoráveis à implantação
Os profissionais ressaltaram a necessidade de um sistema que
atenda às suas expectativas de conhecimento e que não foram privile
giadas nos cursos de graduação e tampouco em outras fontes. Eles
ressaltaram, também, a repercussão de tais sistemas de formação em
outros países e acreditam que seja uma das formas de elevar a quali
dade do ensino da GA no nosso país: “A respeito de um programa de
certificação para técnicos acho que é interessante, pois hoje tem muita
gente trabalhando com a ginástica e que não tem conhecimento ade
quado questões de segurança, desenvolvimento da criança, cargas
aplicadas, etc” disse o técnico oito (T8).
As questões sobre padronização do conteúdo e estabelecimento de
níveis de atuação também foram ressaltadas. Os profissionais veem
um alto grau de desordem no seu campo de atuação. Segundo o co
mentário de T1: “Sem o conhecimento adequado, alguns professores
fazem com que seus ginastas realizem elementos complexos, sem um
trabalho de preparação necessário... além de realizar um trabalho de
péssima qualidade, provocando lesões que podem ser gravíssimas em
seus ginastas”. A definição de níveis de qualificação contribuiria para
aprimorar a intervenção do profissional, que não atuaria em níveis su
periores para os quais não estivesse preparado. Infelizmente, esse fato
é prática comum no âmbito da GA, pois há carência de profissionais
para atender a demanda em diversos setores em que a modalidade se
faz presente. É comum encontrarmos situações em que o mesmo pro
fissional é o responsável por diferentes categorias competitivas e atua
simultaneamente em níveis técnicos distintos (NUNOMURA; PIRES;
CARRARA, 2009).
Os técnicos relacionaram a pouca expressividade, o pequeno nú
mero de praticantes e a pouca divulgação da modalidade com a carên
cia de profissionais qualificados. Para T1: “Acredito que um Programa
de Certificação para Técnicos poderia contribuir também para aumen
tar o nível do esporte no Brasil”; e para T13: “Se todos os técnicos do
Brasil seguissem um mesmo programa, acredito que hoje estaríamos
mais difundidos em relação a outros esportes. Além disso, a falta de
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conhecimento para se trabalhar a GA se mostra um impedimento para
a sua popularização”.
O fato poderia, em certa medida, ser amenizado pela implantação
de um sistema de formação específica. A geração de profissionais
competentes ampliaria, consequentemente, as oportunidades de práti
ca oferecidas à sociedade. Outro aspecto levantado pelos profissionais
foi o acesso a esse sistema, em oposição à situação atual, que deman
da alto custo (cursos e estágios no exterior e contratação de técnicos
estrangeiros).
Em relação aos aspectos que poderiam melhorar a qualificação do
técnico, houve um consenso geral de que faltam cursos, desde aqueles
que abordam os fundamentos básicos àqueles que tratam de questões
técnicas e avançadas da GA; outro consenso foi a opinião de que falta
apoio das federações para promover esses cursos. Além disso, muitos
sentem falta de intercâmbio entre os próprios técnicos do país: “vejo a
dificuldade de se conseguir implantar um programa que realmente se
ja efetivo, pois existe muita gente trabalhando com a GA e que não
mantém contato com as Federações e nem mesmo com outros profis
sionais da área” relata T10. Infelizmente, existem aqueles que não fa
zem ideia de suas atitudes e sua importância no ambiente da GA, pois
são apenas reprodutores das atividades que tiveram em seus treina
mentos, desenvolvendo uma prática irrefletida (NUNOMURA; NIS
TAPICCOLO, 2003). É de suma importância que o profissional tenha
atitudes de uma formação continuada, como a troca de vivências com
outros profissionais (THOMMAZO, 2006). Esse seria um ponto a ser
melhorado, pois o comportamento do profissional vai além do que
qualquer curso de formação poderia oferecer (PERRENOUD, 2002).
Assim, é importante a conscientização daqueles profissionais para que
a existência de mais cursos e eventos seja realmente necessária e pro
veitosa.
Foram apontados outros aspectos, como opina T17: “Além da di
vulgação precisaríamos de espaços físicos adequados ao alcance da
população para prática consciente e motivante para a formação de
técnicos e ginastas.” Esse aspecto também é importante, se observar
mos o exemplo do programa Australiano, onde o impacto do sistema
refletese em todos os níveis do Esporte, na Educação Física escolar e
na administração das grandes organizações nacionais de Esporte
(SCHEMBRI, 2000). Em outras palavras, uma estrutura organizacio
nal que possibilite o desenvolvimento do programa Brasileiro. O pro
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grama Canadense procura identificar as necessidades da sociedade;
facilitar o acesso e distribuição dos serviços; desenvolver parceiros
para facilitar uma abordagem de integração à educação do Esporte;
policiar o Esporte em todas as suas dimensões: formação profissional,
administração, mídia, pais, órgãos governamentais, patrocinadores,
arbitragem, entre outros.
Existe um consenso geral de que uma formação específica para os
técnicos de GA é positiva para a nossa realidade, pois eles veem mui
tos profissionais que desenvolvem a GA com pouca fundamentação e
pouco conhecimento. Entretanto, há uma ressalva para que não se faça
uma cópia de outros programas e sim, a criação de um programa pró
prio.
Neutros ou não opinaram
Ainda que sejam poucos, alguns técnicos têm dúvidas sobre a re
percussão da implantação de tal sistema, pois acreditam que a especi
ficidade na formação poderia limitar o campo de atuação desse
profissional, ou seja, acreditam que é contrário ao sistema atual de
formação superior, que é generalista e amplia as possibilidades no
mercado de trabalho. Outros técnicos demonstram muita preocupação
com a saúde dos praticantes, antes de se pensar nos resultados dos
mesmos, segundo T36: “Espero que os supostos técnicos sejam antes
de tudo Educadores Físicos e posteriormente capacitados para a fun
ção de técnico.”
Ainda parece haver um lapso na visão dos profissionais sobre a
gama de possibilidades da GA, em que são esquecidos os níveis re
creativos, intermediários ou de formação esportiva. A GA fez e deve
fazer parte da Educação Física no contexto acadêmico como uma das
manifestações da “ginástica como área de conhecimento” mas, para
tanto, é preciso rever os delineamentos da mesma nos cursos superio
res (RINALDI, 2004).
Outro aspecto duvidoso do ponto de vista dos técnicos é a cópia de
um modelo “enlatado” que não atenderia às nossas necessidades reais
e estaria fora do nosso contexto. Para T5: “Seria interessante padroni
zar o ensino e os profissionais da área, mas não vejo a necessidade de
copiar um método, mas sim criar um”; e para T33: “Apenas devemos
ter o cuidado, para não se utilizar de um programa de outro país, que
tem suas próprias características, cultura, etc. E simplesmente aplicá
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lo em nosso país sem ser capaz de adaptálo e adequálo à nossa reali
dade”. A existência de corpo docente qualificado que possa conduzir
tal sistema também foi uma dúvida gerada por esse grupo. Acrescido a
necessidade de melhoria geral em infraestrutura, é importante ressaltar
que a qualidade do ensino é um dos fatores essenciais para o desen
volvimento do Esporte e de sua qualidade. Para um país atingir seu
potencial máximo no Esporte, é vital que haja um programa nacional
bem estruturado de educação do profissional (CAMPBELL, 1993).
Aqueles que não opinaram justificaramse por ainda não terem
muita experiência no ensino da GA, o que os impossibilitaria, no mo
mento, de traçar um parecer sobre a situação atual dessa modalidade.
Provavelmente, esses necessitariam de um tempo maior de atuação
para concluírem se a formação que obtiveram é satisfatória ou não.
Desfavorável à implantação
Para T12 há a crença que a especificidade da formação é interesse
de uma minoria e, portanto, não justificaria a implantação de um sis
tema dessa natureza no país. Possivelmente, a ideia é que isso se
prestaria a um nível técnico diferente daquele que atua o profissional.
Ou, não há consciência da importância da especificidade de conheci
mento em qualquer nível esportivo, pois o mesmo atua em âmbito es
colar e esporte participativo, sem vistas ao alto nível. Essa crença se
deve a condição histórica da disciplina GA nos cursos superiores.
Embora houvesse amplas mudanças no processo de desenvolvimento
da disciplina, essas se deram na esfera tecnológica e técnica, voltadas
para a modalidade esportiva de alto nível, enquanto em relação ao ca
ráter teóricopedagógico não houve alterações aparentes (RINALDI,
2004). Assim, muitos profissionais não cultivam a ideia de que os
cursos específicos poderiam abranger conteúdos importantes para a
atuação em diferentes níveis da GA, como ocorre nos modelos inter
nacionais.
Considerações finais
A partir da presente investigação, podemos observar que a maioria
dos nossos técnicos de GA tem preocupação em relação ao seu apri
moramento e a qualidade de sua atuação. Mas, um dos grandes entra
ves é a falta de incentivo de diferentes instâncias, seja dos órgãos que
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administram a modalidade, ou dos próprios currículos dos cursos su
periores. Assim, seriam favoráveis a existência de um programa de
formação profissional na GA.
Conforme exposto, há países que criaram sistemas de formação
para os profissionais que pretendem progredir na carreira esportiva.
Sobretudo no Canadá e na Austrália, os sistemas repercutiram em ní
vel nacional e, atualmente, as instituições se baseiam em seus respec
tivos níveis de qualificação e certificação como critérios para a
contratação dos profissionais em vários segmentos. A organização do
Esporte canadense é indiscutível e o impacto do seu sucesso repercu
tiu em diversos países.
Entre os profissionais entrevistados, aqueles que atuam no alto ní
vel da GA demonstraram “sede de soluções” para os problemas que
vivenciam no cotidiano da prática. Certamente, é o grupo de profissi
onais que mais necessita de aperfeiçoamento e, contraditoriamente, se
depara com poucas alternativas. Para resolver essa questão, alguns
deles têm optado em sair do país ou buscar apoio de técnicos do exte
rior, o que não podemos considerar uma alternativa acessível à grande
maioria das instituições.
Alguns técnicos acreditam que os cursos específicos são importan
tes somente para quem atua no alto nível. Entretanto, como visto nos
exemplos internacionais, os cursos abrangem diversos níveis de atua
ção profissional, e normalizam a ação dos mesmos em âmbito nacio
nal. E também proporcionam bases preparatórias para que a ascensão
de níveis seja adequadamente obtida; o que minimiza os episódios re
latados pelos profissionais entrevistados, sobre a atuação “experimen
tal” do técnico com o ginasta quando há progressão de níveis
competitivos. É necessário apoiar um sistema que privilegie o desen
volvimento do Esporte como um todo e, principalmente, a formação
de diferentes profissionais que atuem com os praticantes em geral até
os ginastas de alto nível.
No Brasil, um sistema de formação de profissionais parece ir de
encontro às necessidades daqueles que atuam ou pretendem atuar na
GA. A vantagem de um sistema dessa natureza é gerar perspectivas na
carreira esportiva e também de garantir a qualidade da instrução com
profissionais mais preparados. E, não menos importante, assegurar o
espaço de atuação dos técnicos, pois muitos profissionais ganham es
paço no mercado de trabalho devido a sua experiência de ginasta e/ou
de seu prestígio por conta de títulos conquistados. Fator que pode
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contribuir para a qualidade de atuação do profissional, mas que não é
essencial e muito menos determinante.
O perfil do técnico que se espera, partindose da suposta existência
de um Programa para a formação de técnicos de GA, é de um profis
sional que tenha compromisso e responsabilidade com a qualidade de
ensino do esporte, tendo em vista sua função pedagógica e ética. O
comprometimento do técnico pode ser demonstrado no conhecimento
e respeito aos limites e potenciais reais de seus ginastas, primando por
sua saúde e, consequentemente, qualidade de vida. Além disso, é ex
tremamente desejável que ele esteja envolvido com estudos e pesqui
sas nessa área, que busque sempre seu aperfeiçoamento e sua
atualização. Acreditamos que alguns técnicos se equivocaram ao pen
sarem que para se tornar um bom profissional a experiência e o co
nhecimento bastariam. Há a necessidade de ir além, manterse
atualizado, estar em permanente contato com outros profissionais,
adotar uma postura de observação e reflexão sobre a própria atuação,
ser flexível e estar suscetível a mudanças (PERRENOUD, 2002).
Reflection on coaching education in Artistic Gymnastics
Abstract
This study discuss about the education of professional involved in Artistic Gym
nastics. Thirtysix coaches were interviewed, who are working in different institu
tions. They reported their opinions about the implementation of a “Coaching
Certification Program in Artistic Gymnastics in Brazil". Through the content
analysis of the coaches’ comments the majority reported in favor of the implemen
tation of a program, and has justified their position supported by the prospect of
career progress and more specific objective approach than the existing ones in the
undergraduate courses. Specific education seems to be urgent, as the need for kno
wledge to coach Artistic Gymnastics, at any level, is increasingly evident.
Keywords: Gymnastics. Training. Teaching.
Reflexión en formación profesional en la Gimnasia Artística
Resumen
El actual estudio levanta una pelea en la formación del profesional en la gimnasia
artística. Treinta y seis profesionales habían sido entrevistados con quién el acto en
la modalidad en diversas instituciones, de que había pensado en la implantación de
un “programa de la formación para los profesionales de la gimnasia artística en
Brasil”. Para el análisis del contenido de los comentarios la mayoría reveló favora
ble a la implantación de un programa, y justificó se apoyada en la perspectiva del
progreso en la carrera y subir de objetivos más específicos de lo que cursa la gra
duación. La formación específica se parece ser una necesidad inesperada, por lo
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tanto la necesidad del conocimiento a actuar en la gimnasia artística, en cualquier
nivel, es cada hora más evidente.
Palabras clave: Gimnasia. Capacitación. Enseñanza.
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Recebido em: 29/02/2012
Revisado em: 17/05/2012
Aprovado em: 23/10/2012
Endereço para correspondência
mnunomur@usp.br
Myrian Nunomura
Universidade de São Paulo
Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto
Av. dos Bandeirantes 3900
Monte Alegre
14040907 Ribeirao Preto, SP Brasil
Pensar a Prática, Goiânia, v. 16, n. 2, p. 320618, abr./jun. 2013
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