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O único - laboratório e registro histórico

O Único: Laboratório e registro histórico Luiza Mylena Costa Silva Estudante de Graduação 7º período do Curso de Jornalismo da Facomb-UFG, email: mylena.luiza@yahoo.com.br Wéber Felix Oliveira Estudante de Graduação 5º período do Curso de Jornalismo da Facomb-UFG, email: weber.imprensa@gmail.com RESUMO O jornalismo em Goiás sofre até hoje com a falta de registro históricos consolidado que formalize o passado das atividades de imprensa do estado. O Único surge como opção para a história da imprensa goiana resgatando veículos importantes que fizeram parte da imprensa goiana e faz entrevistas com personalidades envolvidas no jornalismo goiano da atualidade. O jornal, fruto de uma disciplina de História da Imprensa, aparece com a função de laboratório, para os estudantes que o produziram, e o de registro histórico, pois parte no resgate do jornalismo goiano. É neste contexto que pretende-se analisar sua importância, história e didática, buscando entender a maneira que o jornal foi produzido e principais contribuições deixadas com sua primeira e única edição. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo goiano, história da imprensa, jornal laboratório. INTRODUÇÃO O jornal O Único foi fruto de uma disciplina de história da imprensa, e surgiu com dupla proposta: jornal laboratório e registro histórico do jornalismo goiano. Lançado no ano de comemoração da implantação da imprensa no Brasil, O Único colocou no papel a história de um jornalismo que passou por ditadura, dilemas éticos e dificuldades políticas para se manter. A professora-orientadora, Rosana Borges, e os estudantes da disciplina fizeram entrevistas com personalidades envolvidas com o jornalismo goiano que puderam dar suas impressões sobre o fazer jornalístico goiano. O Único conta ainda sobre a história de jornais que foram relevantes para a formação cultural goiana. O Único teve tiragem de 1000 exemplares e uma primeira e única edição. Após a publicação d'O Único, outro grupo de estudantes propuseram a edição on-line do jornal. O Único virtual entrou na web com grande parte do material publicado na versão impressa. Uma vez na internet, o jornal ganhou em visibilidade e facilidade de acesso. Este trabalho propõe a apresentação do jornal O Único, em sua versão impressa e on-line, aliando a análise de conteúdo das versões para mostrar as potencialidades de cada formato. Através de entrevista concedida pela professora Rosana Borges, que participou das duas propostas do jornal, procurou-se entender mais sobre o processo de produção e a importância do ponto de vista didático e de registro histórico d'O Único. JORNAL O ÚNICO, PRIMEIRA E ÚNICA EDIÇÃO O Único foi produzido no segundo semestre de 2005 por estudantes da disciplina de História da Imprensa, ministrada pela professora Rosana Borges. A professora também foi editora e revisora do jornal que possui edição única e teve tiragem de mil exemplares. Rosana Borges, em entrevista concedida aos pesquisadores (Anexo I), falou sobre o jornal, processo de produção e a importância de registro e divulgação do jornalismo goiano. Segundo o editorial produzido por Rosana Borges n'O Único, o jornal tinha como objetivo “desmitificar o fazer histórico e jornalístico e construir fontes documentais sore a história da imprensa goiana” (ÚNICO, 2005, p.2). O Único teve, portanto, dupla função: jornal laboratorial daquela turma e registro de memória sobre a imprensa goiana, que com quase dois séculos de atividades ainda carece de fontes. A produção do jornal foi feita pelos alunos Hugo Faria, Paulo Almeida, Katiéllen Bonfanti, Taysa Lara, Nathália Cristina, Mayara Jornana, Ana Manuela Arantes, Tainá Borela, Líliam Sales, Viviane Martins, Adriano Muhammad, Vinicius Batista, Elisa Caetano, Chico Ciccone, Nathália Lima, Mayara Santana, Ana Paula Vieira, Carolina Pessoni, Gustavo da Lima Rocha, Wanessa de Souza, Ítalo Ramalho, José Barbacena, Felipe de Oliveira, Marília Almeida, Caio Henrique Salgado, Juliana Teixeira, Isaura Carijó, Larissa Bittar, Daniela Rodrigues, Pedro Mota, Tauana do Vale, Vinícius Tondolo, Almiro Franco, Pilar Lisboa, Kamyla Maia, Rosimeire Ramalho, Flaviane Junqueira, Leandro José do Prado, Ana Flávia Teixeira e Mirian Vasconselos. A edição e revisão final foi feita pela professora Rosana Borges, a produção das pautas e revisão das entrevistas foi feita pela professora Silvana Coleta, então professora de Produção de Texto Jornalístico I, e a diagramação por Fernando Couto, Daniella Barbosa e Marcela Borela, estudantes de outros períodos do curso de jornalismo. Desta maneira é fácil perceber que a produção do jornal não foi uma atividade que dizia respeito somente à disciplina de história da imprensa. Fato que é citado pela professora Rosana Borges no editoral do jornal, onde lembra que a produção do jornal foi “uma atividade interdisciplinar”(ÚNICO, 2005, p.2). O processo de produção foi, segundo Borges (2013), democrático, pois todos os estudantes participaram nas escolhas de temáticas, adotando-as ou sugerindo novas, “os estudantes realmente se envolveram na elaboração do jornal”. A partir das escolhas feitas os estudantes participaram de todo os processos do jornal “desde o levantamento das pautas, produção das mesmas, composição dos textos, diagramação e revisões finais” (BORGES, 2013). O jornal foi composto por entrevistas à jornalistas goianos e pessoas envolvidas com o jornalismo no estado, além de matérias que contavam a história do jornalismo ou de veículos goianos. Em entrevista, Rosana Borges disse que no processo de escolha das fontes para as entrevistas ela propôs diversos nomes “e os próprios estudantes foram acrescentando outras fontes na produção das reportagens e matérias”(BORGES, 2013). Para Borges (2013) a principal vantagem da versão impressa foi a materialização da produção naquele ano, já que era aniversário de 200 anos da implantação da imprensa brasileira e assim a versão impressa pode ser distribuída em vários eventos. É interessante notar que o meio utilizado para falar de jornalismo foi um jornal, entrando também para a história do jornalismo goiano. A versão on-line do jornal, O Único Virtual Disponível em http://ounicovirtual.blogspot.com.br/ , foi feita um ano após a publicação da versão impressa, por um grupo de alunos da disciplina de Comunicação e Educação, também ministrada pela professora Borges. Segundo ela, o “processo ocorreu meio ao acaso, sem muito planejamento (…) Como parte da turma havia cursado História da Imprensa, um grupo propôs, como trabalho final, elaborar um Blog sobre O Único, dando vida ao O Único Virtual” (BORGES, 2013). Para produção do web-jornal houve a transposição do conteúdo da versão impressa para a versão on-line, em que as entrevistas e os artigo sobre a histórias do jornalismo goiano puderam ser acessadas de qualquer lugar do mundo. O Único virtual, assim como a versão impressa, foi resultado de uma atividade avaliativa e contribuiu principalmente no acesso ao conteúdo produzido na versão on-line, restrita anteriormente às pessoas que tiveram contato com sua produção. O conteúdo da versão on-line foi transposto do impresso, mas com uma pequena vantagem: havia mais informações. Como o formato on-line não possui limitações espaciais foi possível acrescentar conteúdo às entrevistas feitas. Este fator será melhor abordado pela breve análise de conteúdo feita com os dois formatos. ANÁLISE DE CONTEÚDO Para poder analisar as versões impressa e virtual foi feita análise de conteúdo que, segundo Marcia Benetti “pode ser utilizada para detectar tendências e modelos na análise de critérios de noticiabilidade, enquadramentos (…) descrever gêneros e formatos jornalísticos” (BENETTI, 2010, p. 123). Desta maneira, procurou-se saber sobre o que o jornal tratava e de que modo isto era feito. Analisando o conteúdo do O Único impresso, são encontradas 23 matérias jornalísticas, no espaço de 11 páginas do formato tabloide, sendo a primeira página a capa com chamadas de sete matérias do jornal. Dentre as 23 matérias de todo o jornal, 17 são entrevistas, esta grande presença de entrevistas se explica com o editorial de Rosana Borges “A atividade consistiu em entrevistas com personagens que participaram da consolidação da imprensa em Goiás”(ÚNICO, 2005, p.2). Das 17 entrevistas, 9 delas são no estilo ping-pong e as outras 8 estão em formato de texto corrido. As outras seis matérias se tratam de 1 editorial, produzido pela professora Rosana Borges, que faz a abertura do jornal, explicando do que se trata e explica rapidamente como foram divididas as atividades de produção do jornal. Há também 5 artigos, que tratam sobre temas diversos relacionados à história da imprensa goiana. Para melhor análise do jornal, o material foi divido em três grupos principais em que se separados os 23 materiais jornalísticos, entre entrevistas e artigos. Os grupos foram divididos sobre o assunto que tratavam: o fazer jornalístico, veículos jornalísticos e história do jornalismo goiano. Sendo que 15 abordam o fazer jornalístico, 5 matérias especificamente sobre veículos jornalísticos goianos e 3 sobre a história do jornalismo em Goiás. As matérias ficaram assim divididas nos três grupos: Fazer jornalístico: neste grupo, constituído por entrevistas, os entrevistados falam de diversos temas, mas os destaques, visíveis pelos títulos, foi o critério de escolha para se encaixar neste grupo. Os entrevistados são Jávier Godinho falando sobre a má remuneração do jornalista, Lourenço Tomazett fala sobre o trabalho televisão brasileira, Batista Custódio, Silvio José da Silva, Jordevá Rosa e Rosenwall Ferreira falando sobre suas participações no jornalismo goiano, Padre Jesus Flores fala sobre a imparcialidade e objetividade no jornalismo, Altair Tavares fala sobre o radiojornalismo, Paulo Beringhs fala sobre o telejornalismo goiano, Lourimá Dionísio fala sobre ética jornalística, Reynaldo Rocha, José Divino e Cassim Zaidem falam sobre o jornalismo goiano na época da ditadura militar, e um artigo que questiona a produção mídiatica e, por fim, Tasso Câmara que fala sobre o poder que a política exerce no jornalismo. Veículos jornalísticos: entrevistas com Sebastião Barbosa que fala sobre a Tribuna do Planalto, Jaime C. Júnior fala sobre as Organizações Jaime Câmara e entrevista com Miriam Raquel que fala sobre a Rádio Aliança e dois artigos um sobre a Revista Oeste e outro sobre a Matutina Meiapontense. História do jornalismo goiano: artigo sobre a história do jornalismo esportivo goiano, outro sobre a história da imprensa em Goiás e por fim uma história da ditadura nos meios de comunicação no Brasil. É importante lembrar que o fato de uma matéria estar inclusa em um grupo não exclui a possibilidade de conter informações sobre algum dos outros dois grupos. Como se presencia no caso da entrevista de Tasso Câmara, que fala sobre a história das Organizações Jaime Câmara e sobre os desafios da imprensa goiana. Na versão impressa d'O Único foram entrevistados Javier Godinho, Batista Custódio, Lourenço Tomazett, Rosenwal Ferreira, Padre Jesus das Flores, Jaima Câmara Júnior, Altair Tavares, Silvio José da Silva, Paulo Beringhs, Lourimá Dionisio, Jordevá Rosa, Reinaldo Rocha, Miriam Raquel, Cassim Zaidem, José Divino, Tasso Câmara e Sebastião Barbosa. Na análise do O Único virtual foi constatado a presença de 18 matérias, sendo 14 entrevistas e 4 artigos. O conteúdo das entrevistas e dos artigos eram os mesmo que o do jornal impresso mas, em todas as produções, o material da versão virtual era maior que a versão impressa. Este fato nos leva inferir que o impresso possuí uma limitação espacial, que foi superado pela versão on-line, onde o leitor pode acompanhar as entrevistas com mais perguntas ou ter mais informações sobre os entrevistados. Os entrevistados da versão on-line foram Reinaldo Rocha, Padre Jesus das Flores, Batista Custódio, Tasso Câmara, Miriam Raquel, Cassim Zaidem, José Divino, Javier Godinho, Rosenwal Ferreira, Altair Tavares e Alziro Zarur, único entrevistado que entrou somente na versão on-line. Em relação ao número de informações sobre os entrevistados a versão on-line mostrou um avanço significativo. Sem as limitações espaciais, os estudantes puderam acrescentar informações importantes a cerca da vida profissional dos entrevistados, o que enriquecia o texto, além de, consequentemente, valorizar as carreiras dos profissionais. Pode-se perceber pelas falas dos entrevistados que, de maneira geral, o fazer jornalístico não é simples ou fácil. Seja o fazer como trabalhador jornalista, ou as tramas políticas e de poder que envolvem os meios de comunicação, o que se constata pelas declarações dos entrevistados é que o jornalismo é uma profissão repleta de dificuldades. Isto pode ser visto principalmente pelos títulos das matérias, que chamam a atenção por falar de imparcialidade, ética e a má remuneração dos jornalistas. As perguntas feitas nas entrevistas são as mais diversas, relacionando com a história pessoal, opiniões sobre pontos específicos e perguntas que abordavam as especialidades dos meios de comunicação (jornalismo impresso, radiojornalismo ou telejornalismo) de cada entrevistado. Embora cada questionamento tenha sido feito de modo particular, pode-se constatar o mesmo viés na maioria das entrevistas: dificuldades no jornalismo goiano e possibilidades de mudanças para o jornalismo. UMA EXPERIÊNCIA LABORATORIAL E DE MEMÓRIA Apuração, entrevista, redação, edição e distribuição são as principais etapas do fazer jornalístico que são ensinadas no decorrer do curso de comunicação social nas universidades brasileiras. Geralmente as instituições de nível superior dedicam-se uma disciplina a cada uma dessas etapas, ou até em alguns casos, são recorrentes o ensino em apenas um módulo. Mas o que chama atenção não é a distribuição do conteúdo na grade curricular, e sim, o conteúdo em si e a didática pedagógica utilizada pela rede de ensino superior no Brasil. Durante muitos anos os cursos de jornalismo eram predominantemente caracterizados pelo ensino teórico e reflexivo. Os estudantes conheciam a teoria do fazer jornalístico e assim eram avaliados pelo domínio teórico dos conteúdos e reflexão sobre os mesmos. Somente após o período de estágio é que se tinha a oportunidade de ver na prática aquilo que foi visto nos bancos das universidades. Ou seja, havia um distanciamento entre o que era ensinado e o que era praticado no mercado brasileiro, o que muitas vezes acarretava em uma disparidade de ferramentas entre os dois universos: academia e a redação de um jornal. Tal situação passou a torna-se uma queixa recorrente dos alunos, a falta de um espaço dentro da grade curricular que pudesse ser utilizado para a prática antes de sua entrada no mercado profissional. Até aquele momento, os alunos diziam que a universidade constituía-se em uma etapa de conhecimento reflexivo e no estágio é que se tinha a ‘faculdade’ do jornalismo. Como fazer essa adequação sem que a instituições superiores perdessem esse caráter reflexivo característico e sem que o curso tornasse meramente tecnicista? Algumas instituições implementaram os laboratórios que convergiam tanto o ensino teórico e prático e, ainda, permitia a reflexão sobre os produtos elaborados. Posteriormente, as atividades laboratoriais passariam a ser exigidas no currículo pelo Ministério da Educação. Os jornais-laboratoriais ganharam ao longo dos anos um perfil que se assemelha ao que é produzido no mercado, porém não significa que ele esteja engessado ou enquadrado no “no padrão mecanicista” (VIEIRA JR, 2002, p.11) daquele. Na verdade, o jornal laboratorial permite que ali possa ser desenvolvido um produto que seja fruto da elaboração coletiva, da troca de conhecimentos e, do vivido de cada indivíduo. Isso faz com que essa atividade construa uma relação de interação entre conteúdo teórico e a prática e, não menos importante, leva o aluno a pensar no que ele produz e como esse conjunto de informações chega a um determinado público. Na verdade o aluno se aproxima da produção do mercado, além de que a experiência, como consequência o leva a pensar sobre o fazer jornalismo, ou seja, o estudante universitário […], que começa a participar das rotinas de produção jornalística, tal qual acontece no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que se desenvolvem a narrativa, o faro por notícias, a adequação das mesmas para o receptor [...], de igual maneira cria-se também o sentimento de desejo de transformação da realidade que os cercam, da comunidade onde estão inseridos. Permite que o aluno exercite a capacidade de analisar os problemas de sua comunidade, consequentemente, de seu país (DIAS, 2011, p. 25). O jornal “O único” deve ser observado como um instrumento acadêmico eficaz para o aprendizado, uma vez que ele, como um produto laboratorial permite aos alunos envolvidos ter contato com a produção jornalística, além de se constituir em um espaço onde se coloca em prática as teorias amplamente discutidas na academia, incluindo nessa etapa o pensar fazer jornalístico. Ou seja, “as atividades laboratoriais são caracterizadas pela experimentação, embora também signifiquem em larga escala a aplicação de conhecimentos” (SPENTHOF, 2010, p.97). Os alunos são motivados a aprender fazendo e concomitantemente são levados a pensar sobre o fazer. Essas duas etapas abarcam a proposta pedagógica: que é conhecer e analisar a ferramenta jornalística e as consequências do que é produzido. Ora, os estudantes são capacitados a fazer um produto em que o Outro não seja visto meramente como objeto de sua reportagem, e na verdade passe a incluí-lo como sujeito das suas ações, sem um olhar que o marginalize. Dessa maneira, os projetos laboratoriais como o retratado acima conseguem traduzir “a ideia do aprender no ar, antes de ser algo negativo, pode ser corretamente traduzida para aprender fazendo, pois é efetivamente complementada pelo fazer pensando” (SPENTHOF, 2010, p.98). A construção do jornal “O único” representa um processo de elaboração de um campo rico, tanto nas discussões sobre a temática, quanto na abordagem experimental do fazer jornalístico. Em primeira análise, não se pode deixar de lado a importância dessa ferramenta para a materialização de um corpus que marca e, ao mesmo tempo registra a história da Imprensa Goiana e do Brasil. Para tanto, são levantados dados e aspectos que sensibilizam a memória de produção jornalística do País e de todo o contexto histórico inerente a esse processo. O que, consequentemente, permite aos executores da tarefa e aos leitores, público para qual se destina o produto, a compreensão da história de seu povo. A atividade jornalística, antes mesmo de ser designada por esse termo, já nasceu dentro de um modelo funcional e de eficiência para o seu período. Embrenhada de elementos capitalistas, o jornalismo foi, na era da modernidade um importante difusor de ideias, conceitos e conhecimento. Na verdade, ainda serviu para que se fossem criados espaços simbólicos e identidades nacional-modernas. O desenvolvimento do veículo jornalístico sempre esteve atrelado à emergência dessa nova corrente de pensamento político. Ou seja, o período moderno “vinha estreitamente ligado ao desenvolvimento de novos meios de comunicação que permitiam ás ideias e símbolos serem expressos e difusos numa linguagem comum.” (THOMPSON, 1995, p.52). Em decorrência do aprimoramento dos meios de produção e, concomitante, o da imprensa, iniciou-se um período de rápida propagação de informações pelos quatros cantos do globo. Thompson acrescenta que essa fase é marcada pelo “advento da indústria gráfica” e assim permitiu que “novas redes de poder simbólicos” fossem tecidos. Além da prática de algumas instituições de utilizarem esses meios para consolidar uma ideologia, o “jornal”, inegavelmente representa a materialização de narrativas. Estórias, essas, que passam por todos os momentos históricos do homem. Isso nos prova a face de registro que o jornalismo desempenha e, por conseguinte, provoca a reflexão dos fatos, muito além da informação por si só. Nesse aspecto é que se levanta nossa segunda análise, o jornal “O Único” é exemplo dessa prática. O veículo desenvolvido por estudantes do curso de jornalismo da UFG construíram um canal que permitisse discutir o próprio jornalismo e, para tanto, resgataram episódios sobre sua formação em Goiás e no País. Dessa maneira, ele se apresenta como uma ferramenta metarreferencial, ou seja, o jornalismo que fala de si e abre espaço para que sua história seja acessada por seus leitores e a partir de então que eles consigam desenvolver um senso crítico sobre a origem e o perfil dos diversos canais de comunicação social no Estado. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como resultado final do trabalho podemos concluir que ambas versões, impressa e on-line, possui vantagens inerentes ao seus formatos. Acredita-se que foi uma escolha acertada em produzir a versão on-line além da impressa, que pode dar grande visibilidade para a professora-orientadora e os estudantes e principalmente para o trabalho realizado, inédito na história do jornalismo goiano. Por sua vez, o projeto cria possibilidades muito além que pedagógicas, na verdade ele inaugura o pensar sobre o registro e marca a representatividade dos meios de comunicação em Goiás. A reunião de narrativas é uma forma eficaz de documentar os processos de criação e consolidação da imprensa goiana. REFERÊNCIAS DIAS, Luciene. Samambaia: Jornal-Laboratório como construção coletiva. In: MAIA, Juarez Ferraz de (Org.) Jornalismo UFG. Cegraf. Goiânia: 2010. DIAS, Samantha Gomes. OutrOlhar sobre o ensino de jornalismo: uma análise da importância do jornal-laboratório para a formação profissional. Trabalho de Conclusão de curso (graduação). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011. MARTINS, Rafael Barbosa Fialho. O jornal-laboratório como exercício da prática e teoria na formação superior em Jornalismo. Disponível em: <http://www.cch.ufv.br/revista/pdfs/artigo8vol12-1.pdf>. acessado em 19 jun. 2013. PASE, André; NUNES, Ana Cecília e FONTOURA, Marcelo. Um tema e muitos caminhos: a comunicação transmidiática no jornalismo. BRAZILIAN JOURNALISM RESEARCH - Volume 8 - Número 1 – 2012. SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de jornalismo impresso. Porto: Bocc, 2001. SPENTHOF, Edson. Aprender fazendo e fazer pensando: Breve análise dos quase 40 anos de experiência pedagógica do curso de jornalismo na Rádio Universitária da UFG. In: MAIA, Juarez Ferraz de (Org.) Jornalismo UFG. Cegraf. Goiânia: 2010. VIEIRA Jr, Antônio. Uma pedagogia para o jornal-laboratório. Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/17272445/VIEIRA-Jr-Uma-pedagogia-para-o-jornallaboratorio>. Acessado em 19 jun. 2013. APÊNDICE I – Entrevista realizada pelos pesquisadores com professora-orientadora Rosana Borges. Como surgiu a ideia do Único? Dialogando com a turma da disciplina História da Imprensa, e aproveitando que se comemorava, naquele ano, os 200 anos de emergência da imprensa no Brasil, chegamos à proposta de, ao invés de se trabalhar artigos finais da disciplina, elaborarmos um jornal sobre a História da Imprensa, com maior foco em Goiás. Como era um jornal único, logo a turma sugeriu o nome. Na época, a direção da Facomb, a cargo do Prof. Joãomar Carvalho de Brito, apoiou a iniciativa e financiou o jornal. Como as atividades foram divididas na produção do Único? Conversamos a respeito das temáticas prioritárias e os próprios grupos/estudantes foram se assentando. Alguns sugeriram temáticas, entrevistas. Outros aderiram à temáticas sugeridas. Foi um processo bem democrático, tranquilo, pedagógica e didaticamente, uma vez que os estudantes realmente se envolveram na elaboração do jornal. Qual o trabalho feito pelos estudantes? Desde o levantamento das pautas, produção das mesmas, composição dos textos, diagramação e revisões finais. Qual foi o critério de escolha para o material do jornal? As temáticas foram divididas por grupo e as produções revisadas por mim, que também fiz o trabalho de edição. A versão final foi aprovada pelo autor/autores(estudantes) Qual foi o critério para escolha dos entrevistados e linha editorial? Cada grupo teve a liberdade de propor uma temática. Eu fiz inúmeras sugestões de fontes, e os próprios estudantes foram acrescentando outras fontes na produção das reportagens e matérias. No que se refere ao levantamento de fontes, também tivemos grande auxílio do professor Joãomar Carvalho de Brito Neto, que era titular da cadeira de História da Imprensa na Facomb. Em relação à linha editorial, não definimos muito bem. Preferimos focar na temática do jornal. Por isso, há textos jornalísticos mais frios, mais quentes, mais pra lá, mais pra cá. Não sei se a liberdade para angular pode ser chamada de linha editorial, mas se puder ser, então nossa linha editorial foi essa. Como foi o processo de adaptação do modelo impresso para o on-line? Esse processo ocorreu meio ao acaso, sem muito planejamento. Um ano após o lançamento de O Único, ofertei um Núcleo Livre cuja disciplina se propunha a debater as interfaces entre a Comunicação e a Educação. Como parte da turma havia cursado História da Imprensa, um grupo propôs, como trabalho final, elaborar um Blog sobre O Único, dando vida ao "O Único Virtual". Na época, não percebemos a visibilidade que o impresso teria, mas teve. Até os dias de hoje, mesmo sem muita divulgação, há pesquisadores, estudantes, pessoas do nosso e de outros estados que me procuram pedindo informações sobre a História da Imprensa em Goiás porque se depararam com esses conteúdos na internet. Qual a vantagem de cada modelo (impresso/on-line)? O impresso, naquele ano, foi muito importante, porque materializou produções, pensamentos, histórias... era os 200 anos da implantação da imprensa no Brasil. Em inúmeros eventos, distribuímos o Jornal. O on-line deu visibilidade ao produto, que ganhou o mundo... A produção do jornal pode contribuir de que formas para a formação dos alunos? Qualquer produção acadêmica, seja na área de impresso, rádio, web, tele... é importante, porque se consiste em materialização do produzido num ambiente público. Por isso, tem, no mínimo, duas faces: a de fomentar a formação acadêmica, e a de dar um retorno à sociedade. É o que chamamos de "universidade socialmente referenciada". Qual foi a receptividade dos alunos com a ideia e como repercutiu a publicação do Jornal dentro e fora da universidade? Sempre muito boa, tanto na primeira, quanto na segunda iniciativa. A repercussão ocorreu, principalmente, nos eventos comemorativos dos 200 anos de imprensa, nas turmas que se seguiram de História da Imprensa e depois, na própria web, que perpetuou e deu maior visibilidade ao produto. Qual a sua influência/orientação neste processo? A influência propositiva dos projetos... a orientação que costumo fazer, que anda e se faz de acordo com o caminhar dos estudantes, dos grupos e da interação possível. Como o jornal pode se apresentar como um registro histórico do jornalismo goiano? A partir do momento em que se propõe a debater a História da Imprensa em Goiás o jornal se torna um registro histórico, não só pelas histórias que conta, imprime, como também pela fala que possibilita aos que construíram os veículos jornalísticos no estado ou que, de alguma maneira, estiveram envolvidos em sua trajetória histórica. UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA CURSO DE JORNALISMO I COLÓQUIO DE HISTÓRIA DA IMPRENSA DA UFG