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Quem fica de olho no Big Brother?¹ AZEVEDO LUÍNDIA, Luiza Elayne SOUZA, Cristiane Naiara Resumo Analisa- se os efeitos do Programa Big Brother Brasil em dois ambientes sócio-culturais em Manaus (AM) para verificar se existe a chamada ‘elite massificada’. Buscou-se, ainda, verificar se há uma ligação entre esse tipo de gênero, estudos culturológicos e dos argumentos de contrato e da promessa. Para tanto, recorre-se aos pressupostos teóricos e modelos relacionados da teoria da comunicação e de alguns artifícios persuasivos da comunicação pós-moderna e da publicidade, usados para ‘fisgar’ essa nova ‘massa’, que, em alguns casos, não se considera como tal. 1. Introdução No dia 13 de janeiro de 2009, a Rede Globo passou a exibir a nona edição do Big Brother Brasil (BBB). Dezoito participantes, cada um deles desconhecido dos demais concorrentes e dos telespectadores, vão conviver durante certo tempo, ao longo de quase três meses, na esperança de um prêmio milionário. Em sua origem, o Big Brother (Grande Irmão) é personagem central do romance “1984”, publicado em 1948, pelo escritor inglês George Orwell. Preocupado com o totalitarismo soviético, Orwell imagina uma sociedade dominada por um ditador que se autodenomina “Grande Irmão”. Nela, os cidadãos são permanente vigiados por câmeras instaladas em toda parte, a começar de suas casas. Nas sociedades pós-modernas que reivindicam o status de democráticas e de mediáticas, apesar do enclausuramento promovido, em parte pelas tecnologias digitais, o anonimato que parece tomar conta da maioria das pessoas, está ficando cada vez mais difícil de ser realizado. Nesta ótica, as pessoas, atualmente mesmo “protegidas” pelas redes, não conseguem se esconder ou ficarem à margem dos acontecimentos que incluem uma parafernália de câmeras de espias, a exemplo dos Programas do tipo Reality Show como o Big Brother Brasil. ________________________ ¹Artigo apresentado n XI Congresso IBERCOM, 16-18 abril de 2009, Universidade da Madeira, no Grupo de Trabalho Teoria e metodologia de investigação em Comunicação. ²Dr.ª em Ciências Sócio-Ambientais, Jornalista, Prof.ª Titular do Curso de Graduação e PósGraduação do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam); Tutora do Programa de Educação Tutorial de Comunicação Social, líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Comunicação Social (GEPECS). E-mail: luindia@ufam.edu.br ³ Acadêmica de Jornalismo do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), egressa do Programa de Educação Tutorial de Comunicação Social e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Comunicação Social – GEPECS. E- mail: crisss_nicegirl@hotmail.com Conforme vários posicionamentos da Rede Globo o Big Brother apresenta “a vida como ela é” na realidade de cada dia, em cada ambiente, em cada situação. Nesta ótica, o programa estimula a ilusão de se entrar no mundo virtual da TV, onde tudo é fácil e permitido e a felicidade depende de determinados produtos, situações e prêmios. Para realizar este simulacro de fazer fama e ganhar dinheiro apenas se “mostrando apesar de vigiado”, o Programa BBB se utiliza de uma indústria paralela de propaganda ao anunciar amplamente sua estréia numa multipluralidade de meios ao prometerem que o ato de espiar incutirá o desejo do telespectador não querer mais sair de casa por estar mais interessado em espiá-lo. Para Susana Kilpp, professora e pesquisadora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, “o cômodo mais importante da casa e o único lugar em que os participantes têm alguma privacidade. Nele os BBS contam seus segredos e revelam e justificam seus votos”. É nesses termos que o site do Big Brother Brasil apresenta o confessionário. Ele está incluído no formato original de reality show, mas tanto na Holanda quanto nos Estados Unidos e na Inglaterra, é conhecido como diary room, termo traduzido como o quarto da agenda ou o quarto do diário. A Endemol (www.endemol.com/format_descripitions.xm?id=1) define diary room como sendo um dos quatro elementos centrais do jogo, aquele lugar onde os competidores são requeridos a gravar seus sentimentos, frustrações, pensamentos e suas nomeações. Sobre esta perspectiva de jogo, Bordieu (1996, p. 164) afirma que o melhor exemplo de disposição é, sem dúvida, o sentido do jogo: o jogador, tendo interiorizado profundamente as regularidades de um jogo, faz o que faz no momento em que é preciso fazê-lo, sem ter de colocar explicitamente como finalidade o que deve fazer. Ao se transmutar em jogo para estabelecer as regras e a competição entre os pretensos vencedores e perdedores, qual seria a proposta central do BBB? De acordo com o artigo de Verônica Eloi de Almeida4, intitulado “A Televisão como objeto de 4 Artigo apresentado na VII Jornada de Pesquisadores do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Rio de Janeiro na mesa “Literatura, imagem e artes plásticas: um olhar sociológico (2004). reflexo: o Big Brother Brasil”, a proposta central do BBB se constrói em torno do ato de ‘espiar’ ou do fato que o telespectador ‘vê sem ser visto’, a naturalidade, o grotesco e a intimidade dos participantes/jogadores, desde sua primeira exibição na televisão holandesa em 1999. Ainda, conforme o artigo, o formato de BBB vem despertando o interesse não somente dos profissionais da mídia, mas também dos pesquisadores da área de Ciências Sociais ao escreverem artigos, comentários e críticas para a mídia. O volume destes materiais é tão expressivo na mídia impressa e virtual (páginas de internet, blogs, dentre outros) que chega a superar em muito o número de artigos em periódicos especializados em Ciências Sociais. Em nossa concepção esse conjunto de ferramentas virtuais e supostamente dialógicas utilizados no reality show deveriam promover a interatividade entre os que são ‘vigiados’ e os que ‘vigiam’. Esta intervenção do telespectador ocorre a partir de vários contextos, inclusive, pelo uso de artifícios: posição das câmeras, publicidade múltipla, apresentador e, por último, segundo Almeida (2006) pelo elemento mais fundamental: a espia ou o voyeurismo, quando se explora o que as pessoas fazem o mais ocultamente ou sozinhos como fofocas, intrigas, o falar sozinho, as necessidades fisiológicas, o rezar, o chorar, a troca de roupas, os banhos etc. Propõe-se que o BBB além de elementos acima, também se apropria da categoria ‘elite massificada’. Por que se pode dizer que existe uma elite massificada? É compreensível uma estranheza a princípio, todavia, se apresenta algumas questões norteadoras: a) A publicidade alcança todos os públicos: ricos e pobres, analfabetos e universitários, e com suas estratégias cada vez mais aprimoradas ela consegue atingir de forma semelhante esses diversos públicos, visto que sua finalidade é uniformizar a aceitação em todos os estratos sociais, assim, mais pessoas ligarão ou votarão pela internet nos BBB’s; b) Não se pode dizer que uma pessoa de nível sócio-cultural relativamente baixo tenha condições de pagar TV por assinatura, escutas telefônicas dos microfones dos participantes ou mesmo possuir acesso à internet durante a madrugada para prosear em chats e bate-papos com os eliminados do programa. A partir do exposto acima é possível se formular a seguinte tese: se tais recursos são disponibilizados pela emissora é porque tem um público que deles faz uso, e ainda, esse público possui poder aquisitivo relativamente alto e, conseqüentemente, melhor acesso às informações, além de oportunidades de freqüentarem escolas e faculdades particulares. Este último público se constitui em uma elite nas universidades federais. Reivindicam para si a postura de ‘anti-tevê’ e, em especial, ‘anti-BBB’, fomentado, desse modo, uma contradição no seu discurso/comportamento/academia. As denominadas pessoas, em seu meio acadêmico, afirmam não serem ‘telespectadores/espias’ em relação aos produtos da indústria cultural. Contudo, em seu círculo de amizade, entre seus familiares e através dos chats e blogs comentam sobre o caráter, a aparência e o favoritismo em relação aos participantes do Big Brother Brasil. Com isso, fica claro um comportamento dúbio, com discurso adaptado ao meio em que o indivíduo se encontra, o que acaba por demonstrar um certo preconceito em relação à cultura que ele próprio vem aderindo, muitas vezes ‘inconscientemente’ e ‘sem seu consentimento’. O fato é que ele a possui e a nega: um outro paradoxo. A pesquisa objetivou analisar os efeitos do Programa Big Brother Brasil em dois ambientes sócio-culturais em Manaus (AM) para verificar se existe a chamada ‘elite massificada’. Buscou-se, ainda, verificar se há uma ligação entre esse tipo de gênero, estudos culturológicos e dos argumentos de contrato e da promessa a partir da concepção de Françoise Jost (2004). Neste lastro, recorre-se aos pressupostos teóricos e modelos relacionados da teoria da comunicação e de alguns artifícios persuasivos da comunicação pósmoderna e da publicidade, usados para ‘fisgar’ essa nova ‘massa’, que, em alguns casos, não se considera como tal. Objetivou-se, ainda, comparar as motivações dos dois grupos para assistir ao programa, bem como traçar um paralelo entre as respostas de ambos a respeito do conteúdo do programa. Os principais questionamentos levantados foram: será que as condições sociais e culturais diferenciam o tipo de recepção do programa? Qual dos grupos mais ‘espia’ assiduamente? As condições sociais e culturais diferenciam o tipo de recepção do programa? O grupo com menor instrução e classe sócio-econômica inferior será o mais afetado pelos efeitos da comunicação massiva? O outro grupo, o dos universitários será menos receptivo a esse tipo de produto cultural? Como se dá a interação e intervenção destes dois grupos no programa? 2. Embasamento teórico Conforme Gomes (2004) para Ortega y Gasset, a divisão da sociedade entre ‘massas e minorias’ não é uma divisão de classes, mas de homem. Em todas as classes pode haver ‘homem massa’ e ‘homem minoria’. Da mesma forma como uma pessoa da massa assiste ao Big Brother Brasil, um indivíduo da minoria universitária também pode fazê-lo. A referida proposição encontra apoio na assertiva de Elizabeth Duarte e Maria Lilian Castro (2006, p. 265) ao declararem que nunca antes um programa televisivo suscitou tanto debate em diferentes países. De um lado estão boa parte das audiências seduzidas e enamoradas por BB. De outro, estão os pesquisadores, intelectuais, políticos (situados à esquerda e à direita), religiosos e parcela da população. Ou seja, em torno do BB se dividiram as opiniões, de um lado o saber popular e de outro o saber culto. Outra questão concernente é o preconceito que o termo ‘massa’ sugere, tornado-se, por vezes, pejorativo e sinônimo de pouca instrução nos meios universitários. Sobre isso Muniz Sodré comenta em sua obra Televisão e Psicanálise: “hoje, sem conseguir gerar por si própria, valores de legitimação, a estrutura da economia capitalista volta-se para a esfera da cultura como meio de fornecer aos diversos grupos sociais modelos universais de comportamento, como um meio de organizar as massas”. (Sodré, 2003). Para compor estes modelos o BBB entrelaça a fantasia e realidade a cada instante e eliminando qualquer fronteira geográfica, para atingir milhões de pessoas ao mesmo tempo. Segundo o autor acima, é com esta linguagem que o cotidiano é apresentado de forma espetacularizada na tevê, passando por todos os gêneros, da comédia ao drama, com direito à direção, produção, luzes, câmeras e ação. Ainda, conforme o autor: “(...) o que faz as pessoas terem vontade de viver não está no real, no cotidiano ou no mundo do trabalho e sim no imaginário”. Sobre a importância da linguagem para construir o espetáculo do programa, Maria Tereza Rocco (2003) argumenta: as formas de recepção variam. Os níveis de compreensão das mensagens também. Para o autor “No entanto, pensando-se especificamente na TV, cujo apelo, centrado no visual, se fixa mais facilmente, já que a imagem é menos mediada que o verbal, pensando-se, pois, nesta TV e nas possibilidades de aí se instaurar, mais facilmente um processo de persuasão manipuladora [...].” (ROCCO, 2003, p. 183). Infere-se, aqui a perspectiva Jost (2004) que para estimular mais facilmente a persuasão manipuladora o programa estabelece o contrato entre os emissores ‘os que se mostram’ e os receptores ‘o que observam’. Para fazer este elo entre os dois, estabelece a promessa. Para Jost (2004) contrariamente à perspectiva do modelo de contrato que é instantâneo, sincrônico, o modelo da promessa é um modelo que ocorre em dois tempos. O telespectador deve fazer a exigência de que a promessa seja mantida. Conforme, ainda, o autor “... a intenção da emissora é muito mais a de entreter, a de divertir, do que a de mostrar a realidade. A promessa, como se pode ver nesse caso, é uma questão estratégica” (p. 23). Intrinsecamente na promessa se insere a intervenção do público ao participar do jogo/competição, ao eliminar e escolher o vencedor. Com estes fatores se firma um contrato entre o emissor e receptores onde ambos têm claro e definidas as regras deste contrato de comunicação e da realização da competição. Sobre estes aspectos, a estratégia de eliminação semanal dos participantes do BBB estabelece a relação que o programa estabelece com os telespectadores – as estratégias de interação com os telespectadores. Ressalta-se que exclusão de concorrentes consubstancia as regras do jogo, efeito de sentido de interação. Essa estratégia tem o objetivo de fazer com que o telespectador/leitor se envolva com as construções simbólicas do programa, tendo a ilusão de que efetivamente participa dele e pode contribuir para seu sucesso. Em seu artigo na Folha de São Paulo, Esther Hamburger declara que nesta interatividade o espectador deixa de ser um simples receptor da imagem para atuar sobre ela, para intervir na competição. (HAMBURGER, 2002). Neste contexto, conforme Duarte e Castro: “... a história da mídia televisão deva ser compreendida como um antes e um depois desse tipo de emissão que, utilizando-se da convergência entre canais abertos e fechados, câmeras de vigilância, telefone e internet, propõe ao telespectador, enquanto formato global, um novo contrato comunicativo”. (2006, p. 271). Ainda, para as autoras este novo contrato, fundado, como diria Jost, em uma dupla promessa: (1) oferta de real ao telespectador [e] (2) a possibilidade concreta e efetiva de interação, afirmam, representada pelas condições – telefone, internet – oferecidas ao público de intervenção direta nos rumos do programa. Corrabora-se as idéias acima, com o argumento de Bordieu (1996, p. 164) de que o melhor exemplo de disposição é, sem dúvida, o sentido do jogo: o jogador, tendo interiorizado profundamente as regularidades de um jogo, faz o que faz no momento em que é preciso fazê-lo, sem ter de colocar explicitamente como finalidade o que deve fazer. Ao fazer da eliminação semanal dos participantes do BBB, sua principal mola propulsora neste jogo supostamente interativo e contratual, se tenta conferir importância ao programa, utilizando-se ao artifício da ‘ilusão de interatividade’ que, de fato, não existe. Isso não acontece somente na hora da votação, incluindo a participação em fóruns eletrônicos de opinião e em conversas on-line, disponibilização de arquivos em vídeos, possibilidade de envio de mensagens via internet aos participantes e promoção de chats com os eliminados. Com as enquetes os editores ficam sabendo quem é o participante favorito e os “índices de popularidade” desses concorrentes entre o público. Isso não é por acaso, afinal, é necessário saber se as ‘estratégias comunicativas’ estão fazendo efeito sobre o público. 3. Metodologia A fim de se direcionar o trabalho, usou-se o método hipotético-dedutivo. Visando à apuração dos dados, utilizou-se a técnica de entrevista estruturada, aplicada em dois ambientes distintos e com as seguintes amostras: 15 graduandos de Comunicação Social da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e 15 estudantes do 3° ano do ensino médio da Escola Estadual Jacimar da Silva Gama, localizada no bairro do Coroado, no entorno da instituição de ensino. Ambos os grupos com faixa etária entre 17 e 21 anos. Visando à organização e à análise de dados se estabeleceu as seguintes variáveis: a) Faixa etária; b) Estudo e trabalho c) A freqüência com que se assiste à programação; d) A principal motivação para fazê-lo; e) Torcida f) A freqüência com que se conversa a respeito do programa; g) Público - alvo do programa; h) Críticas ao programa i) A justificativa pessoal para o grande sucesso do Big Brother Brasil; j) Modos como participam no programa; k) Relação entre essas variáveis, buscando comprovação para um conhecimento teórico hipotético. 4. Análise e discussão de resultados A pesquisa objetivou, de modo geral, comparar as impressões de pessoas de diferentes ambientes sócio-culturais – o do ensino médio e o universitário – para que, dessa forma, seja possível analisar os efeitos da programação em ambos os espaços e, mais precisamente, como e por que eles se operam. Obtiveram-se os seguintes dados: A audiência do programa se dá principalmente entre os jovens, por tal razão as entrevistas foram aplicadas a pessoas com faixa etária variando entre 17 e 21 anos, tanto na Escola quanto na Universidade. Segundo a pesquisa, 73% dos universitários somente estudam, enquanto somente 33% dos estudantes do ensino médio estão na mesma situação. Isso significa, em primeira instância, que os primeiros dispõem de mais tempo livre para outras atividades. Entre os universitários, 20% assistem ao Big Brother todos os dias, enquanto isso só ocorre com 13% dos demais estudantes. Já o percentual dos que assistem somente na final ou nunca é de 40% e 34%, entre universitários e finalistas do ensino médio, respectivamente, o que pode ser conseqüência da maior disponibilidade de horário do primeiro grupo. A respeito das motivações para assistir ao programa, os universitários apontaram a falta de motivação como a maior (50%), ou seja, segundo eles, assistem não porque gostam do BBB, mas por não terem opções melhores (29%). 20% por curiosidade; 10% são motivados para os conflitos; 10% para espiar a vida alheia. Os finalistas do ensino médio apontam 29% para a falta de opção; 29% para os conflitos; 14% para as intrigas; 14% para interatividade e diversão; 7% para influência de familiares. Quando questionados a respeito da torcida por algum participante do programa, 80% dos universitários responderam negativamente, enquanto 53% dos estudantes do ensino médio disseram não torcer por nenhum BBB em qualquer das oito edições já exibidas. Entretanto, 40% dos mesmos universitários afirmam lembrar de algum vencedor do BBB, ou seja, 20% dos que lembram de algum vencedor não torcia por ninguém na casa, o que reafirma a eficácia das ferramentas midiáticas de exposição dos brothers e, principalmente, dos vencedores. Esse número sobe para 93% entre os demais entrevistados, com 40% a mais de estudantes que, mesmo não torcendo por ninguém, lembram de algum vencedor. 47% dos acadêmicos de comunicação social em média conversam 3vezes na semana; 40% não conversam nunca; 13% todos os dias. No ensino médio, 73% conversam 3 vezes na semana; 27% dos estudantes nunca; Nenhum têm como pauta diária o Big Brother. O público-alvo do Big Brother, de acordo com os universitários, corresponde a 20% das pessoas das classes B e C; 13% para os adolescentes; 7% para a sociedade de massa; 7% para os voyeurs; 6% para os alienados pelas novelas. Já 44% dos estudantes do ensino médio acreditam que o programa é para os jovens; 19% para os adultos; 6% para a sociedade de massa; 6% para a classe mais alta; 6% para as classes mais baixas; 6% para todas as classes. As críticas mais mencionadas pelo público universitário foram: o apelo sexual (28%); irrealidade e vulgaridade (27%); a ‘venda’ das imagens dos participantes (18%); 9% as situações embaraçosas; 9% puro entretenimento; 9% para público dependente. Os estudantes apontaram a manipulação da programação (29%), a linguagem e bebidas alcoólicas (29%); a exposição dos concorrentes (14%); o incentivo à desigualdade (14%); público dependente (14%); programa muito explícito (14%). O sucesso do BBB, que a cada ano bate recordes de audiência, aparece nas programações de outras emissoras, cria novos artistas, novas musas da Revista PlayBoy, dá-se, segundo os universitários, pelo interesse do público pela vida alheia (40%), horário em que é exibido em TV aberta (20%), o formato Reality Show (13%); o apelo sexual (13%); apelo publicitário (7%). Os estudantes da escola estadual apontam a diferença entre os participantes (20%); o fato de o BBB atingir grande número de pessoas (20%); por motivação (13%); identificação com os participantes (13%); conflitos e relacionamentos (13%); por ser engraçado (7%); muita exposição (7%). Sobre o fato de ligar ou votar pela internet, os universitários responderam o seguinte: 73% nunca; 13% duas vezes; 7% três vezes; os estudantes: 53% nunca; 205 três vezes; 7% duas vezes. 5. Considerações Foi constatado, após a análise de dados, que os estudantes do Ensino Médio não se inibem ao falar que assistem ao programa ou conversam a respeito dele; no entanto, apesar de o público universitário não se considerar telespectador do programa, muitos admitem conversar sobre ele ou até sentem-se motivados a participar do Big Brother. Verificou-se uma conseqüência direta do fenômeno de convergência midiática, segundo o qual alguém pode assistir TV, receber SMS, assinar PayperView, ler revistas, conversar nos Chats, orkuts, fotologs, blogs sobre o mesmo assunto. Interessante perceber que, mesmo o público mais assíduo reconhece algum tipo manipulação exercido pela emissora. Todos sabem sobre as edições, os cortes, as farsas, mas o importante é torcer, votar pela internet ou pelo telefone, ser boss, ser expectador e diretor ao mesmo tempo, pois essa é a nova estratégia do formato revolucionário da comunicação televisiva que inaugura a pós-modernidade. A característica dinâmica, humorística e entretenimento do formato reality show ou tele realidade produz interatividade e conectividade no contrato entre os emissores (o que são espiados) e os receptores (os que vigiam). Enuncia-se que independente de o público universitário camuflar sua participação como telespectador os resultados da pesquisa nos leva a considerar que em grande parte as pessoas sejam de qualquer classe social e detentoras ou não de uma alta formação escolar, o ato de ‘espiar’ desperta, motiva e referenda o sucesso do Programa Big Brother Brasil, o que referenda nossa tese central. Referências ALMEIDA, V. E. A Televisão como objeto de reflexo: o Big Brother Brasil. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers2004. Acesso em: 10.10.2008. BOURDIEU, P. Razões Práticas sobre a teoria da ação. Campinas, SP: Papirus, 1996. DUARTE, E. B.; CASTRO, M. L. DE (orgs.). Televisão – entre o mercado e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2004. HAMBURGER. E. 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