ARTIGOS
Um estudo sobre os motivos da não implementação do Custeio
Baseado em Atividades (ABC) em uma indústria de café
A study on the reasons for non-implementation of Activity Based Costing (ABC) in a
coffee industry
Cristina Rosa de Oliveira da Costa1
Elvis Antonio Bim2
RESUMO
O custeio baseado em atividades (Activity Based Costing - ABC) e a gestão baseada
em atividades (Activity Based Management - ABM) são ferramentas que contribuem
para o gerenciamento das organizações. O objetivo deste trabalho foi apurar os
motivos da não implementação do método de custeio ABC por uma indústria. O
Custeio ABC tem por objetivo estudar as atividades da empresa como um todo,
visando mostrar a realidade dos custos com clareza. A Gestão ABM, por sua vez,
visualiza a empresa em dois níveis: operacional e econômico. Foram revisadas as
etapas para implantação de um sistema de custeio ABC, as razões para sua
implementação, bem como seus possíveis benefícios. Também foram abordados, de
forma suplementar, quais os requisitos para a implementação de um sistema ABM,
ressaltando-se a necessidade do ABC como ferramenta econômica e do JIT/TQM
como ferramenta operacional. Após demonstrar os principais conceitos do custeio
ABC, bem como suas principais vantagens, foi realizado um estudo de caso em uma
indústria, cujo principal ramo de atividade é industrialização de café. Os resultados
alcançados conduzem à conclusão de que, embora possa contribuir para a gestão de
custos, esta contribuição sempre deve ser avaliada sob a ótica do custo-benefício,
quando da implementação de um novo método de custos, ressaltando-se que os
motivos que levaram a não adoção desse método de custeio pela empresa, onde foi
realizado o estudo de caso, relacionaram-se diretamente com o baixo índice de
custos indiretos, em relação aos custos totais, objetos de alocação de custos pela
nova metodologia.
Palavras-chave: Custeio ABC. Gestão ABM. Motivos de não implementação.
ABSTRACT
The activity-based costing (Activity Based Costing - ABC) and activity-based
management (Activity Based Management - ABM) are tools that contribute to the
management of organizations. The objective of this study was to determine the
reasons for non-implementation of the ABC costing method by an industry. The ABC
Costing aims to study the activities of the company as a whole, in order to show the
reality of the costs clearly. The ABM Management, in turn, view the company on two
levels: operational and economic. We reviewed the steps for implementing a costing
system ABC, the reasons for its implementation as well as its possible benefits. Were
also addressed in supplemental form, which the requirements for the
1
Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Londrina – UEL; contadora; e-mail:
cristinaoliveira197@yahoo.com.br
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Mestrado em Contabilidade e Controladoria pela Universidade Norte do Paraná - UNOPAR (2001); Docente
Titular da Universidade Estadual de Londrina; e-mail: elvis@bim.cnt.br
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implementation of an ABM system, emphasizing the need for economic tool as ABC
and JIT / TQM as operational tool. After demonstrating key concepts of ABC, as well
as its main advantages, we conducted a case study in an industry whose primary
business activity is manufacturing of coffee. The results lead to the conclusion that,
although it may contribute to cost management, this contribution should always be
evaluated from the perspective of cost-effectiveness when implementing a new
method of costs, noting that the reasons not to adopt this method of costing the
company where the study was conducted case related directly to the low level of
overhead costs in relation to total costs, cost allocation objects by the new
methodology.
Keywords: ABC. ABM management. Reasons for non-implementation.
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo realizar um estudo sobre os motivos que
levaram a não implementação do Custeio Baseado em Atividades (Activity Based Costing
- ABC ABC), em uma indústria, cujo principal ramo de atividade é a industrialização de
café.
Considerando-se a literatura sobre custos, em especial sobre Custeio Baseado em
Atividades (Cogan, 1994, Nakagawa, 2001, Sakurai, 1997, Bornia, 2002), tem-se que a
implementação de modernas ferramentas de custeio apresenta ganhos de eficácia e
eficiência para as organizações, proporcionando melhorias substanciais nos processos
produtivos e na forma de gestão de custos. Entretanto, há situações nas quais a
implementação de um novo instrumento gerencial pode não proporcionar tais
melhorias, constituindo-se em uma ferramenta não adequada àquela empresa ou a
determinado segmento de atividade.
Desta forma, esta pesquisa buscou demonstrar os motivos que levaram uma
determinada indústria a não implementar o processo de gestão de custos baseado em
atividades, haja vista as constantes vantagens apresentadas em diversos trabalhos
publicados (Beuren e Roedel, 2001, Vieira e Robles Junior, 2002, Aida, 2002,
Raimundini, 2003), entre outros.
O presente trabalho está estruturado em cinco partes: esta introdução, a segunda
parte apresentando a metodologia de estudo, sendo que na terceira parte foi realizada a
revisão teórica a respeito dos conceitos do ABC e da ABM, com a quarta parte
apresentando o estudo de caso realizado. As conclusões do estudo são realizadas na
quinta e última parte.
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2. Metodologia de estudo utilizada
De acordo com Cooper e Schindler (2003, p. 68), um problema de ordem
administrativa gera a necessidade de uma decisão. Sob este enfoque, a adoção de
diferentes métodos de avaliação de custos pode gerar uma tomada de decisão de acordo
com as informações recebidas. Uma vez que o controle de custos é considerado hoje
como uma das ferramentas mais úteis para a gestão financeira, uma pesquisa que tenha
por objetivo investigar os motivos que levaram à não adoção de determinado método de
custeio torna-se extremamente relevante sob a ótica administrativa.
Neste trabalho foram aplicadas técnicas de pesquisa de natureza qualitativa, uma
vez que foi realizada a revisão bibliográfica sobre o sistema de custeio baseado em
atividades (ABC), definindo-os conceitualmente, realizando-se posteriormente análise
documental e entrevistas com os gestores da organização, visando à compreensão das
características específicas e individuais da organização.
Como característica principal, é um estudo de caso, com pesquisa de campo
realizada em uma indústria de café da região Norte do Paraná. Em relação ao estudo de
caso, a principal limitação existente é de que foi realizado um estudo de caso único,
procurando-se investigar um problema de natureza administrativa, dificultando-se a sua
generalização para outras populações ou universos (YIN, 2001).
A utilização da análise documental foi essencial, sendo que para tanto foram
analisados documentos e relatórios internos, bem como arquivos de registro
organizacional interno, que permitiram aos pesquisadores obter o histórico do processo
analisado no presente trabalho.
A escolha da empresa objeto deste estudo de caso foi realizada de forma
intencional, uma vez que a administração da empresa permitiu a realização deste
trabalho de pesquisa.
3. Revisão da literatura sobre o custeio ABC e Gestão ABM
Nakagawa (2001, pág. 41) afirma que o ABC já era conhecido e usado por
contadores em 1800 e início de 1900. Outros registros mostram que ele era bastante
conhecido e usado na década de 60. De Rocchi (1994) encontrou as origens do ABC nos
trabalhos de Alexandre Hamilton Church, realizados nas primeiras décadas do século
XX. Também se encontram citações sobre o Platzkosten, criado por Konrad Mellerowicz
na década de 50, o livro Activity Costing and input-ouput Accounting, de Georg J.
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Staubus, publicado em 1971, e o Transaction Based Costing, proposto por Jeffrey G.
Miller e Thomas E. Vollmann em 1985 (BORNIA, 2002, p. 120)
Segundo Nakagawa (2001) o uso do ABC está intimamente associado ao bom
senso e ao fomento à criatividade. Taylor, Fayol, Elton Mayo e outros que contribuíram
para o desenvolvimento da administração científica fizeram uso da análise de atividades
para seus estudos de tempos e movimentos de organização do trabalho.
Para entender melhor o ABC, segundo Nakagawa (2001), é necessário ter
domínio de alguns conceitos básicos tais como: competitividade, accountability,
contabilidade, mensuração, exatidão, acurácia, rateio, rastreamento e direcionadores de
custos.
A competitividade pode ser definida pela capacidade de crescer e sustentar
vantagens que uma empresa possui em relação a sua concorrência, considerando tanto
fatores internos, a maneira de tomar decisão estratégica em conjunto com os demais
departamentos, como externos, de dominar as influências políticas e econômicas do
país.
Considerando os fatores internos e externos, em relação à competitividade, é
possível identificar duas abordagens: a ex-post, que se limita à análise estática da
competitividade, através de indicadores como volume de exportações e participação no
mercado, procura também avaliar a competitividade a partir de seus efeitos e resultados
e a ex-ante, que se refere à competitividade como a capacidade de longo prazo para
competir, exigindo uma análise mais profunda dos fatores determinantes, procurando
identificar as vantagens competitivas e sua capacidade de manter e se de se renovar. A
principal diferença entre as duas é que a primeira utiliza indicadores que podem ser
ultrapassados por mudanças no padrão de competitividade e a outra enfatiza fatores
para a avaliação da competitividade, buscando investigar suas causas.
A Accountability é quando a pessoa principal delega responsabilidade a outrem, e
este tem que prestar contas dos desempenhos e resultados, ou seja, uma dupla
responsabilidade.
Já o conceito de mensuração está ligado ao fato de desenhar um Sistema
Relacional Numérico (SRN) partindo de eventos e objetos e transações observadas em
um Sistema Relacionado Empírico (SRE), ou seja, demonstrar as atividades operacionais
da empresa em termos econômicos. A exatidão, por sua vez, é a eficiência do processo
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decisório e a acurácia é a eficácia do processo decisório através dos números obtidos na
mensuração.
Dois conceitos que, embora parecidos, possuem uma diferença básica, são os
conceitos de rateio e rastreamento. O rateio de custos é a alocação dos custos indiretos
de fabricação (CIF) aos produtos. Já o rastreamento busca identificar os custos para cada
atividade. O rastreamento é realizado mediante a utilização dos direcionadores de
custos. Os direcionadores de custos (ou cost drivers) são as transações que determinam
a quantidade de trabalho e, através dela, o custo de uma atividade.
Considerando-se os conceitos anteriormente definidos, o ABC tem se tornado
cada vez mais utilizado devido a diversos fatores. Ele não é apenas um sistema de
acumulação de custos para fins contábeis. As aplicações práticas mostram que o ABC
introduz, em relação ao VBC (Volume Based Costing, ou custeio baseado em volume, nos
quais estão amparados os métodos tradicionais de custeio, como o de absorção e o de
variável) algumas mudanças fundamentais. O ABC é um método de custeio baseado em
atividades, que pode contribuir tanto para o sistema de informação como para o de
gestão econômica das empresas, respondendo assim as perguntas: quando? Como? Para
quê? Por quê? (NAKAGAWA, 2001, p. 39).
De acordo com Cogan (1994), os sistemas tradicionais de custos medem com
precisão os recursos que são consumidos proporcionalmente ao número de
componentes produzidos dos produtos industriais. Esses recursos incluem a mão de
obra direta, o material direto, as horas máquinas e energia. Contudo, existem na
organização muitos outros recursos que ocorrem, todavia, em atividades que não se
relacionam diretamente com o volume físico das unidades produzidas, causando assim
distorções. O ABC, contudo, determina que atividades consomem os recursos da
companhia, agregando-as em centros de acumulação de custos por atividades.
De modo geral, há três categorias, ou abordagens, do ABC, conforme Sakurai
(1997, pág. 95):
a) Contabilidade por atividade, proposta por CAM – I (Berliner e Brimson, 1988) e
James A. Brimson (1991).
b) Custeio baseado em atividades (ABC), proposto por Cooper, Kaplan e seus
seguidores, desde os últimos anos da década de 80.
c) Gerenciamento baseado em atividades (ABM), proposto por Kaplan, Peter
Turney e outros.
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A idéia básica do ABC é tomar os custos das várias atividades da empresa e
entender seu comportamento, encontrando base que representem as relações entre os
produtos e essas atividades (BORNIA, 2002, p. 121). Para Martins (2003), o ABC é um
sistema que procura reduzir sensivelmente as distorções provocadas pelo rateio dos
custos indiretos. Ele pode ser aplicado, também, aos custos diretos, e é recomendável
que o seja, mas neste caso não haverá diferenças significativas em relação aos VBC.
Para implementação de um sistema de custeio baseado em atividades, assume-se
como pressuposto que os recursos de uma empresa são consumidos por suas atividades
e não pelos produtos que ela fabrica. Os produtos surgem como consequência das
atividades consideradas estritamente necessárias para fabricá-los, como forma de se
atender as necessidades, expectativas e anseios dos clientes (NAKAGAWA, 2001, pág.
39).
Neste trabalho, será adotada a definição de Maher (2001), em conjunto com a de
Garrison e Noreen (2001), que consideram o custeio por atividades uma atribuição dos
custos dos recursos às atividades, para posteriormente alocá-los aos serviços prestados.
Este método tem como objetivo fim estabelecer a relação entre o consumo de recursos e
as atividades, analisando-os de forma conjunta para decisões de natureza estratégica.
Segundo Nakagawa, (2001), atividade pode ser definida como um processo que,
de forma adequada, combina: pessoas, tecnologias, materiais, métodos e seu ambiente,
tendo como objetivo a produção de produtos. Ela não se refere apenas a processos de
manufatura, mas também produção de projetos, serviços e etc. O conceito de atividades
constitui o cerne do método ABC e a sua principal função é a de converter insumos em
produtos (BRIMSON, 1996, p. 63).
Para Hansen e Mowen (2001, p. 392), um sistema de custeio baseado em
atividades, também conhecido por ABC, primeiramente, rastreia os custos para as
atividades e, em seguida, para os produtos e outros objetos de custo, tendo como
suposição subjacente que as atividades consomem recursos e que os produtos e outros
objetos de custo consomem atividades. Desta forma, quando não estiver sendo
desenvolvida nenhuma atividade, como na ocorrência de capacidade ociosa, estes custos
não podem ser agregados aos produtos, pois não produzem valor agregado ao cliente.
O evento, neste contexto, é uma consequência ou o resultado de uma ação externa
a uma atividade, estes dão início a uma atividade. As transações são materializadas
através de documentos e procuram reproduzir o mais fielmente possível os eventos e as
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atividades. As atividades podem ser em sua natureza: primaria e secundária. Segundo
vários autores (Atkinson et al, 2000; Hansen, Mowen, 2001; Maher, 2001), as atividades
primárias são aquelas consumidas por um objeto final de custo, tal como um produto ou
um cliente. As atividades secundárias, por sua vez, são aquelas consumidas pelos objetos
intermediários de custos, como as atividades primárias, os materiais ou outras
atividades secundárias.
Nakagawa (2001, p. 41) conceitua o sistema ABC como sendo “[...] uma
metodologia desenvolvida para facilitar a análise estratégica de custos relacionados com
as atividades que mais impactam o consumo de recursos de uma empresa”.
Graficamente, o sistema ABC está representado na figura 1, em relação ao processo de
mudanças no meio ambiente organizacional:
Figura 1: O sistema ABC e o processo de mudanças.
ABC
Processo
de
mudanças
A N Á L I S E
A Ç Ã O
Atividades
Cost-drivers – Atributos
Custos dos produtos e serviços
Qualidade dos produtos e serviços
Produtividade e flexibilidade dos processos
Eficácia dos custos – timing
Fonte: Nakagawa, (2001, p. 41)
Em um ambiente de negócios que sofre constantes transformações, as
informações oriundas de um sistema de controle de custeio ABC proporcionam ao
administrador uma ferramenta mais adequada para o controle e a mensuração dos
custos da empresa em certas circunstâncias. Nos sistemas de custeio por absorção, que
são os mais utilizados, as taxas de mão de obra direta são utilizadas para o rateio dos
custos indiretos de fabricação, provocando, por meio deste procedimento, a alocação
dos custos de capacidade instalada e não utilizada, resultando em um custo maior do
que o efetivamente consumido pelo produto.
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Como se pode inferir a partir das observações relacionadas, a adoção do sistema
ABC pode proporcionar às organizações um ganho na qualidade das informações
recebidas, provocando a oportunidade de melhorar a base fundamental para o processo
de tomada decisão por parte dos gestores.
Uma observação pertinente sobre a opção da empresa de adotar o custeio
baseado em atividades diz respeito ao valor a ser gasto na sua implantação. Um sistema
de custeio baseado em atividades oferece uma precisão maior ao custeio do produto,
mas a um custo crescente. A justificativa em se adotar uma abordagem de custeio
baseado em atividades deve repousar nos benefícios das decisões melhoradas
resultantes dos custos, materialmente diferentes dos produtos (HANSEN; MOWEN,
2001, p. 385).
De forma complementar, Brimson (1996, p. 93) afirma que o nível das
informações fornecidas pela contabilidade por atividades auxilia os gerentes em
diversas decisões, citando como exemplo a determinação do mix da linha de produção e
preço, o desenvolvimento de uma estratégia de fabricar/comprar e a avaliação de novas
tecnologias.
Entretanto, torna-se necessário avaliar o grau de correlação entre os custos
indiretos e os direcionadores de atividade. Caso haja dificuldades em se determinar os
custos indiretos e os direcionadores que provocarão a sua alocação aos produtos ou
serviços ou, ainda, no caso de estes custos indiretos não representarem um volume de
recursos relevantes, as informações geradas podem ser de pouca importância ou
distorcidas, o que pode ser considerado como uma limitação deste sistema.
Nakagawa (2001) 0diz que o principal objetivo de uma atividade é o de converter
recursos em produtos ou serviços. A questão da hierarquia das atividades pode ser vista
sob as formas de como elas são agregadas em termos de:
a) Consumo de recursos pelas atividades;
b) Alocação dos custos das atividades aos produtos.
Conforme pode ser observado na figura 2, os recursos são consumidos pelas
atividades e as atividades são alocadas aos produtos.
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Figura 2: Hierarquia das atividades
Recursos
Hierarquização das
atividades para se
otimizar o consumo de
recursos
Atividades
Hierarquização das
atividades para se otimizar
sua utilização pelos
Produtos
Fonte: Nakagawa,2001
Os custos deveriam ser diretamente identificáveis com as atividades e ou objetos
de custeio, mas à medida que aumentam as inovações tecnológicas, os custos vão se
tornando cada vez mais indiretos. Ao se usar o ABC para pesquisar a identificação dos
custos, constata–se desde logo que o foco central é a análise de atividades e esta inicia-se
com a elaboração de uma matriz de atividades e registro de seus respectivos tempos. A
habilidade de usar ABC com inteligência, portanto, dependerá sempre do treinamento e
da experiência do usuário. Não haverá substituto para o que se aprende fazendo na
prática do dia-a-dia (Nakagawa, 2001).
Segundo Nakagawa (2001), o usuário experiente e bem treinado poderá se
favorecer de duas técnicas que o ajudará a obter um melhor uso do ABC, adicionando o
que é chamado de atributos às atividades analisadas.
Conforme Cogan (1994, págs. 7 e 8), um dos benefícios obtidos com o ABC é o de
permitir uma melhoria nas decisões gerenciais, pois deixa-se de ter produtos
“subcusteados” ou “supercusteados”, permitindo assim a transparência exigida na
tomada de decisão empresarial, que busca em última análise otimizar a rentabilidade do
negócio.
O ABC permite ainda que se tomem ações para o melhoramento contínuo das
tarefas de redução dos custos. Ele facilita, ainda, a determinação dos custos relevantes.
No sistema tradicional, a ênfase na redução de custos se concentra tão somente nos
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custos diretos, os demais ficam ocultos. Contudo, em sendo uma sistemática que permite
a determinação dos custos das atividades que incidem nos produtos, traz condições que
permite a análise desses custos indiretos.
Em sua forma mais detalhada, pode ser que até mesmo não seja aplicável, na
prática, em virtude de exigir um número excessivo de informações gerenciais que
podem inviabilizar sua aplicação. O custo da coleta e manipulação detalhada teria que
justificar o seu beneficio.
De acordo com Cogan (1994, p.67), todas as empresas precisam conhecer com
adequada precisão seus custos. Engana–se quem pensa que o ABC é privilégio tão
somente das grandes empresas pelo fato de exigir que a companhia possua uma
estrutura suporte para apuração dos custos de cada atividade que seria então alocada a
cada um de seus produtos. O ABC em sua versão mais completa pode ser inviável de
adoção na prática, pois uma empresa pode inclusive ter mais de cem atividades
custeáveis. Contudo, simplificações são viáveis e reconhecidas mesmo quando se utiliza
uma metodologia baseada no sistema ABC.
Há, basicamente, duas versões para o modelo conceitual do ABC. A primeira delas
foi desenvolvida no final dos anos 80, com objetivos estratégicos, como ferramenta para
melhor a acurácia do custeio de produtos e serviços e, através desta, a determinação do
melhor mix e preços de produtos. Nesta primeira versão do ABC, cada grupo de
atividades pertencia a um centro de custos (cost pools) (NAGAGAWA, 2001). Este
modelo está apresentado na figura 3.
Figura 3: Modelo 1 do ABC
RECURSOS
Cost drivers
Cost pool de grupo
de atividades
Cost pool de grupo
de atividades
Cost pool de grupo
de atividades
Cost drivers
PRODUTOS, CLIENTES, PROJETOS
Fonte: Nakagawa, 2001
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A figura 4, por sua vez, traz o segundo modelo conceitual para implementação de
um custeio baseado em atividades:
Figura 4: Modelo 2 do ABC
RECURSOS
Atividades
Cost drivers
Mensuração de
desempenhos
Objetos de
custeio
Fonte: Nakagawa,2001
Sakurai (1997,pág.106) afirma que existem duas alternativas para implantação
de um sistema ABC: a primeira é por intermédio da reforma o sistema de contabilidade
de custo em uso e a segunda através do desenvolvimento de um sistema inteiramente
novo.
Bornia (2002, p. 124) diz que é possível simplificar em quatros etapas:
1º - Mapeamento das atividades;
2º - Alocação dos custos às atividades;
3º - Redistribuição dos custos das atividades indiretas até as diretas;
4º - Cálculo dos custos dos produtos.
Complementando essa visão, com o objetivo de se obter o sucesso do desenho e
da implementação do ABC, são necessários os seguintes fatores (NAKAGAWA, 2001, p.
89):
a) Os relatórios gerados pelo ABC devem ser úteis;
b) O modelo ABC da empresa deve ser sempre atualizado;
c) Cada gerente deve ter o ABC que atenda a suas necessidades específicas;
d) Os usurários devem receber educação continuada em ABC.
Conforme Nakagawa (2001):
[...] até 1970 era usada somente à gestão baseada em números (MBN), em que o
executivo só discutia negócios com os relatórios em mãos. Na suposição de que
os mesmos representavam com exatidão os eventos, objetos e transações da
empresa.
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Conforme Ching (1997):
O controle de custos, concentra-se nos custos resultantes, aqueles que
aparecem nas demonstrações financeiras, e não nos fatores que originam os
custos. Os custos não são meramente incorridos (espontâneos), eles são
causados! E é nos fatos geradores de custos que os administradores deveriam
concentrar suas atenções [...] (Hong Yuh Ching pág.29).
Os motivos do surgimento do ABM, descritos pelo Nakagawa (2001), são:
a) descobriu-se que somente os relatórios não mostravam a realidade dos
esforços que os vários produtos e complexos processos requeriam da empresa;
b) percebeu-se que faltava aos números dos relatórios financeiros uma certa
exatidão;
c) sentiu-se que a MBN favorecia a explicação das variações de eficiência e de
gastos no processo produtivo ao invés de motivar mudanças de atitudes das pessoas e
eliminação de desperdícios.
Desta forma, a Gestão Baseada em Atividades é um método que busca a exatidão
dos números contidos nos relatórios, facilitando assim a visibilidades do processo de
produção e permitindo aos gestores uma visão simultânea dos problemas que ocorrem
no nível operacional e econômico (NAKAGAWA, 2001).
De acordo com Perez Jr. et all
(2001, p.220), no ABM são utilizadas três
ferramentas, divididas em dois níveis: operacional - Total Quality Management (TQM),
Just in time (JIT) e econômico, com base no Custeio baseado em Atividades (ABC).
Para compreender melhor o Custeio Baseado em Atividade (ABC) e Gestão
Baseada em Atividade (ABM), é necessário o entendimento da teoria versus prática. A
implantação do método ABC, por si só, abrange diversos procedimentos operacionais
dentro de uma organização. Contudo, a simples implantação, sem que esse método sirva
como ferramenta de gestão, não traz a maximização das informações obtidas.
Ao considerar-se Gestão Baseada na Atividade (ABM) é preciso que,
primeiramente, a atividade seja amplamente conhecida pelo contador que implantará o
ABC, para não incorrer em procedimentos que distorça o resultado obtido pelo sistema
de informação que será implantado.
O T.Q.M. está estruturado, basicamente, por três questões. Primeiro, consiste em
uma estratégia de Administração orientada a criar consciência de qualidade em todos os
processos organizacionais. O TQM tem sido amplamente utilizado em indústrias. Em
segundo lugar, seu objetivo é a implicação não só da empresa inteira, mas, também, a
organização estendida: fornecedores, distribuidores e demais parceiros de negócios.
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Para finalizar, na estruturação de um T.Q.M., deve-se ter em mente de que ele é
composto de estágios: planejamento, organização, controle e liderança. Tanto qualidade
quanto manutenção são qualificadas de total porque cada empregado que participa é
diretamente responsável pela realização dos objetivos da empresa.
O Just in Time (JIT), por sua vez, é considerado um componente importantíssimo
para excelência empresarial, tendo como objetivo a eliminação ou redução dos estoques
tanto da empresa como dos fornecedores (Perez Jr. et all, 2001).
Conforme os mesmos autores citados acima, no desenvolvimento desta
ferramenta há alguns estágios:
1º estágio – os fornecedores pensam que JIT significa apenas entregar pequenas
quantidades;
2º estágio– os gerentes visualizam o JIT como um simples programa de redução
de estoques;
3º estágio – o JIT passa a ser um processo contínuo com o objetivo de melhorar a
qualidade;
4º estágio– o JIT é visto como uma estratégia de produção;
5º estágio– o JIT é assumida pela empresa como um todo e não somente pela
produção.
Outra definição para JIT dada por Player, Keys e Lacerda (1997, p. 215) é:
Uma abordagem de treinamento no qual indivíduos são treinados para
desempenhar as tarefas requeridas em momento imediatamente anterior à sua
necessidade efetiva. Esta abordagem eleva a probabilidade de retenção (do
treinamento), devido à aplicação imediata das tarefas ensinadas.
Há vários ramos de uso para o ABM, mas os principais de acordo com Hong Yuh
Ching (1997, p. 61):
a) custeio de produto – análise de rentabilidade de produto/linha de produtos,
racionalização de linha de produtos, precificação;
b) custeio de clientes – análise de rentabilidade do cliente, estabelecimento de
níveis de serviço ao cliente;
c) gastos de capital – decisão de fazer ou comprar, justificativa de investimento;
d) gerenciamento de processos – análise do valor do processo, melhoria do
tempo de ciclo operacional, redução de desperdícios e duplicatas;
e) redução de custos – minimização ou eliminação de atividades que não agregam
valor, foco nos fatores geradores de custos;
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Hong Yuh Ching (1997, p. 50) cita como principais benefícios do ABM o fato de
que ela é uma ferramenta que fornece entendimento fundamental da base de custos da
empresa e, dessa forma, possibilita melhor qualidade na toma de decisão, possibilitando
uma melhoria de custos e realocação de recursos através de eliminação/redução e/ou
racionalização de atividades.
4. Estudo de Caso em uma Indústria de Café
O estudo de caso, objeto deste trabalho, foi realizado em uma indústria que
tentou implantar o ABC, mas, ao final de um processo de adaptação e análise, optou por
não implantá-lo. A princípio os objetivos do ABC para esta empresa foram:
Tabela 1: Objetivos do ABC na empresa estudada
Suporte às
decisões
Situação atual
Contabilidade e
Orçamento
Gastos não
identificados com
a capacidade
Valores reais por
centros de custo
Informações
gerenciais
Formas de
informações
Contabilidade
fiscal
Balancetes
mensais
Controle de
custos
Gerenciament
o de recursos
Transição
Custo das atividades e
processo
Identificação de capacidade
ociosa
Meta
Gerenciamento por
atividades
Gerenciamento da
capacidade ociosa
Integração de dados entre a Informações em
tempo
contabilidade, custos e
operações
Custo das atividades
Rentabilidade dos
objetos de custos
Indicadores financeiros e
Fatores críticos de
quantitativos
sucesso por processo e
indicadores-chave de
desempenho
Fonte: Minuta elaborada pela empresa de consultoria.
Um dos motivos que levaram a empresa a decidir pela tentativa de implantação
do método de custeio ABC foi o de obter um melhor sistema de custeio para empresa,
pois havia uma insatisfação em relação ao método de custeio anteriormente utilizado.
A empresa estudada, antes de implantar o ABC, seguiu algumas etapas.
Inicialmente, foi contratada uma empresa de consultoria, que elaborou os estudos
iniciais necessários ao processo de mudança de apuração dos custos. Na sequência, foi
realizado o levantamento dos dados de custos e custeio total da empresa, para posterior
apresentação do levantamento efetuado pela consultoria através de uma minuta de
proposta de mudança. Neste ponto, foi efetivada uma reunião dos gestores para análise
REVISTA DE ESTUDOS CONTÁBEIS, LONDRINA, V. 3, N.4, P. 3-21, JAN./JUN. 2012.
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Um estudo sobre os motivos de não implementação do Custeio Baseado em Atividades...
e tomada de decisão a respeito do trabalho, que decidiu pela não implementação da
metodologia de custeio ABC.
Na fase de apresentação, a consultoria apresentou uma minuta que continha os
seguintes dados: história, conceitos fundamentais, modelo conceitual, procedimentos
para apuração de custos, necessidades de controles e plano de ação. Após a
apresentação da minuta, foi efetuada a análise pelos gestores e foram apresentados os
seguintes dados, que serviram de base para tomada de decisão:
•
fluxograma do processo produtivo e dos custos unitários de cada fase,
divididos entre custos variáveis e custos fixos diretos;
•
Foram depuradas as composições dos custos fase a fase, para cada tipo de
produto comercializado pela empresa;
•
E, por fim, foi apresentado um breve resumo dos custos totais de produção
do ano divididos em custos variáveis (80,61% do custo total), custos fixos diretos
(10,86% do custo total) e custos fixos indiretos (8,53% do custo total).
O alvo, para a implementação do ABC, seria toda a empresa, sendo identificadas
as seguintes atividades dentro do processo produtivo da empresa:
Tabela 2: Centrais de atividades
Centrais de atividades
Processo de alimentação
Processo de torrefação
Processo de granulação
Processo de tratamento de extrato
Processo de secagem
Processo de embalagem
Garantia de qualidade
Engenharia industrial
Manutenção civil
Manutenção mecânica
Manutenção elétrica/instrumentação
Utilidades
Logística
Gestão de recursos humanos
Gestão administrativa
Gestão comercial
Nível
Processo
Processo
Processo
Processo
Processo
Processo
Suporte
Suporte
Suporte
Suporte
Suporte
Suporte
Suporte
Empresa
Empresa
Empresa
Fonte: Minuta feita pela empresa de consultoria, dezembro de 1997
Considerando-se que, de acordo com a literatura sobre o custeio ABC, o ponto
chave deste sistema de custeio é uma correta alocação dos custos indiretos, chegou-se à
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Costa, C.R.O.; Bim, E.A.
conclusão de que, no caso da empresa analisada, o total de custos fixos indiretos
representariam apenas 8,53% dos custos totais, em relação às fases de produção. Neste
caso, em primeira análise, foi constatado pelos gestores da organização um grande
esforço para uma parcela pequena dos custos totais da empresa. Devido a este motivo, o
custo da implementação de um custeio ABC suplantaria em muito os benefícios por ele
gerados, sendo que devido, ao grande volume de produção, a distribuição dos custos não
resultaria em benefício no custeio dos produtos.
Como a implementação do sistema de Custeio ABC não foi realizada, o projeto
posterior, de realizar uma Gestão Baseada em Atividades, não obteve êxito uma vez que
a metodologia de custeio ABC consiste no alicerce sobre o qual será executado um
processo de gestão baseado em atividades.
De forma geral, o trabalho executado pela consultoria externa, com a colaboração
de gestores da empresa, trouxe grandes avanços para o sistema de custeio da empresa,
pois foram identificados muitos itens de custos fixos diretos que estavam sendo
considerados como custos fixos indiretos, prejudicando o custeamento dos produtos em
virtude dos rateios. Após a realização do trabalho, estes custos passaram a ser alocados
diretamente às fases/produtos, melhorando significativamente o custeio.
Entretanto, constatou-se que, embora a literatura apresente diversas vantagens
de utilização de novas metodologias de custeio, devem-se levar em consideração as
características individuais de cada organização. A implementação do custeio ABC
importa em mudanças estruturais nos processos de apuração de custos da empresa, que
visarão controlar e apropriar os referidos custos indiretos por intermédio dos
direcionadores de custos. Atividades com elevada participação dos custeios indiretos no
custo total, como as atividades de prestação de serviço, apresentam uma relação
satisfatória de custo-benefício, como apresentado nos trabalhos de Pattio (2001),
Martins (2002) e Raimundini (2003). No entanto, caso a empresa possua baixa
participação relativa dos custos indiretos na composição do custo total dos produtos,
como no caso da indústria analisada no presente estudo de caso, os benefícios oriundos
de um processo de mudança no sistema de apuração de custos não suplantará os custos
deste processo.
5. Conclusões
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Um estudo sobre os motivos de não implementação do Custeio Baseado em Atividades...
Os métodos de custeio vão desde os mais tradicionais aos mais elaborados, em
virtude da necessidade de alocação dos custos fixos indiretos. Estes custos (supervisão,
apoio, áreas de suporte) desempenham papel chave na formação do custo dos produtos
dentro das empresas, esta alocação enfrenta muitas críticas devido aos critérios
utilizados em virtude de conterem maior ou menor grau de subjetividade, levando a
incerteza da exatidão das alocações.
O custeio ABC se propõe através de sua metodologia tratar a alocação dos custos
fixos indiretos de forma que minimizem a subjetividade ao máximo. Esta abordagem
demanda um grande esforço para apontamento das métricas (direcionadores de custos)
que serão utilizadas para distribuição dos custos (tabela de tempo, apontamentos no
processo de produção, utilização de tempo de máquinas etc.).
Nota-se, através do estudo de caso, que é necessário que haja uma grande parcela
de custos fixos indiretos para haver a necessidade/viabilidade de implantação de um
sistema de custeio ABC. E mesmo assim, antes de qualquer coisa, devemos efetuar um
levantamento de custos para identificar se há custos fixos que possam ser identificados
como o produto ou seu processo produtivo, que muitas vezes estão “escondidos” dentro
dos custos fixos indiretos.
Conclui-se que o custeio baseado em atividades é um grande instrumento de
gerenciamento e que o ABM é um complemento e necessita do ABC, porém há a
necessidade de um estudo mais aprofundado na empresa de seus custos, sistema de
custeio, métricas utilizadas para alocação dos custos indiretos, visando levantar
eventuais correções que possam ser identificadas para determinar a necessidade ou não
de sua implementação no todo ou em parte.
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Recebido em: 30/11/2011
Aprovado em: 07/01/2012
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