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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO NYVIAN CRUZ BARBOSA MÍDIA E MEIO AMBIENTE: ANÁLISE DOS JORNAIS IMPRESSOS DIÁRIO DO AMAZONAS E A ACRÍTICA MANAUS 2010 2 NYVIAN CRUZ BARBOSA MÍDIA E MEIO AMBIENTE: ANÁLISE DOS JORNAIS IMPRESSOS DIÁRIO DO AMAZONAS E EM TEMPO Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas, tendo como orientadora Prof.ͣ Dr.ª Luiza Elayne Azevedo MANAUS 2010 3 BARBOSA, Nyvian Cruz Mídia e Ambiente: análise jornais impressos A Crítica e Diário do Amazonas/Nyvian Cruz Barbosa. – 2010. 45f. Monografia (graduação)– Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Comunicação Social, 2010. Orientação: Luíza Elayne Correa Azevedo, Departamento de Comunicação Social. 1 Jornalismo Ambiental. 2 Meio Ambiente. 3 Jornal Impresso. I. Título. 4 NYVIAN CRUZ BARBOSA MÍDIA E MEIO AMBIENTE: ANÁLISE DOS JORNAIS IMPRESSOS DIÁRIO DO AMAZONAS E EM TEMPO. BANCA EXAMINADORA Profª. Drª Luiza Elayne Correa Azevedo – orientadora Profª. MSc. Ivânia Vieira Prof.ª Anielly Laena de Azevedo Dias MANAUS 2010 5 AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos primeiramente a Deus que meu deu vida, com a qual posso tudo. A meus pais, os primeiros que me apoiaram, aos meus irmãos, que me acompanharam. Às pessoas: Damiana e J.G. Muniz, Raimunda Barbosa, Lucinda Cruz, Zilda Litaiff pelo incentivo ao caminho das letras, pelo apoio no que precisasse e na minha carreira, fosse qual fosse. À professora Luíza Elayne Azevedo que muito contribuiu no desenvolvimento e consolidação deste trabalho. Aos amigos e amigas, familiares, professores e colegas, pela formação e experiências ao longo da minha vida que me fizeram, e me fazem, crescer sempre. 6 A mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original. Albert Einstein 7 RESUMO Dentre outras regiões, a Amazônia está na pauta de diversos eventos, conferências, estudos locais, nacionais e internacionais. Levando-se em consideração esta atual e evidente preocupação, este trabalho se propôs a analisar as matérias dos diários impressos A Crítica e Diário do Amazonas sobre este tema. Entre janeiro e abril de 2009 foram coletadas matérias destes jornais que foram analisadas de acordo com autores da área de jornalismo ambiental segundo conteúdo conferido às publicações e uma análise comparativa entre a forma de publicar de cada jornal. Entrevista com os jornalistas que assinaram as matérias também compõe o trabalho. Procurou-se conceituar, dar um breve histórico, contextualizar o jornalismo ambiental no mundo, no Brasil e, por fim, em Manaus, onde se encontram os objetos deste estudo. Com tabelas e inferências, foram elucidados os resultados desta análise que não objetiva ser um ponto de vista referencial, mas ser mais um contributo para esta discussão. Palavras Chave: Jornalismo Ambiental. Meio Ambiente. A Crítica. Diário do Amazonas 8 ABSTRACT Across regions, the Amazon is on the agenda of several events, local studies and national and international conferences. Given this clear and present concern, this study proposed to examine the materials of daily printed: A Critique, Journal of Amazonas, on the subject. Between January and April 2009, was collected materials of these newspapers, which were analyzed according to authors in the field of environmental journalism, according to the contents given to publications and, finally, a comparative analysis between the shape of each newspaper to publish. Interview with journalists who signed the materials also make up this work. We tried to conceptualize, to give a brief historical context to the environmental journalism in the world, Brazil and, finally, in Manaus, where the objects of this study are located. With tables and inferences were elucidated the results of this analysis, which is not intended to be a point of reference, but be a further contribution to this discussion. Key Words: Environmental Journalism. Environment. Newspaper. 9 LISTA DE ANEXOS Anexo 1............................................................................................................................50 Anexo 2............................................................................................................................51 Anexo 3............................................................................................................................52 Anexo 4............................................................................................................................53 Anexo 5............................................................................................................................54 Anexo 6............................................................................................................................55 Anexo 7............................................................................................................................56 Anexo 8............................................................................................................................57 Anexo 9............................................................................................................................58 Anexo 10..........................................................................................................................59 Anexo 11..........................................................................................................................60 Anexo 12..........................................................................................................................61 Anexo13...........................................................................................................................62 Anexo 14..........................................................................................................................63 Anexo 15..........................................................................................................................64 Anexo 16..........................................................................................................................65 Anexo 17..........................................................................................................................66 Anexo 18..........................................................................................................................67 Anexo 19..........................................................................................................................68 Anexo 20..........................................................................................................................69 Anexo 21.........................................................................................................................70 Anexo 22.........................................................................................................................71 10 LISTA DE QUADROS QUADRO 1....................................................................................................................17 QUADRO 2....................................................................................................................29 QUADRO 3....................................................................................................................30 QUADRO 4....................................................................................................................33 QUADRO 5....................................................................................................................33 QUADRO 6....................................................................................................................34 QUADRO 7.....................................................................................................................35 QUADRO 8.....................................................................................................................35 QUADRO 9.....................................................................................................................36 QUADRO 10...................................................................................................................36 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................13 1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA...........................................................................15 1.1 Tema..............................................................................................................15 1.2 Delimitação do Tema.....................................................................................15 1.3 Problema........................................................................................................15 1.4 Objetivo.........................................................................................................15 1.5 Justificativa....................................................................................................16 1.6 Metodologia...................................................................................................16 1.7 Tipo de pesquisa............................................................................................16 1.8 Procedimentos metodológicos.......................................................................17 1.8.1 Itens Analisados..............................................................................17 1.8.2 Período de análise..........................................................................17 1.8.3 Procedimento da coleta..................................................................18 1.8.4 Procedimentos de análise...............................................................18 1.9 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................20 1.9.1 Comunicação e Meio Ambiente.....................................................20 1.9.2 Jornalismo Ambiental: o que é? .....................................................22 1.9.3 Importância da formação dos comunicadores.................................23 1.9.4 Entraves e desafios..........................................................................26 1.9.5 Hipótese do Agendamento ou Agenda-Setting...............................27 2 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................29 2.1 Relação das matérias......................................................................................29 2.2 Descrição de categorias.................................................................................32 2.3 Agrupamento das matérias sete categorias....................................................33 2.4 Formação dos jornalistas que assinam as matérias analisadas......................35 2.5 Inferências ....................................................................................................37 2.5.1 Inferências I – Jornal A Crítica......................................................38 2.5.2 Inferências II – Jornal Dário do Amazonas...................................41 12 3 RESULTADOS.............................................................................................................43 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47 REFERÊNCIAS............................................................................................................48 13 INTRODUÇÃO Atualmente temas relativos ao meio ambiente vêm ganhando notoriedade na mídia em geral. Temas como “sustentabilidade”, “efeito estufa”, “florestas”, “biodiversidade” ou “mudança climática” geralmente são pautas usadas em reportagens especiais ou mesmo para chamar atenção dos leitores, em sua maioria sob o caráter de denúncia e/ou durante o período da semana do meio ambiente, mesmo não existindo jornalistas especializados no assunto nos jornais investigados. A proposta deste trabalho é analisar o conteúdo questões ambientais nos jornais impressos “A Crítica” (AC) e “Diário do Amazonas” (DA). A escolha dos mencionados jornais se deu porque o A Crítica é considerado o primeiro jornal de maior circulação e o Diário do Amazonas por ser considerado o terceiro de maior circulação. Optamos pelo jornalismo impresso por acreditar que o meio atinge mais diretamente o público formador de opinião por excelência, se comparado a outros meios de comunicação, como a própria TV, onde o noticiário sobre meio ambiente é mais abundante, mas o público é menos definido. É notório o valor que a mídia dá aos assuntos ambientais determinados por circunstâncias trágicas: vazamentos de óleo, enchentes, estiagem, queimadas, furacões e terremotos merecem lugar de destaque no noticiário. Grandes incêndios, extração ilegal de madeiras, invasão de terras indígenas, grilagem e garimpos em unidades de conservação e o desmatamento frequentam os noticiários da mídia nacional e internacional. Geralmente, tais assuntos não têm página própria e figuram aleatoriamente nas páginas dos cadernos de cidades e até de economia. Diante deste contexto esta pesquisa se propõe a verificar as seguintes indagações: Como os jornais “A Crítica” e “Diário do Amazonas” tratam este tema? Quais os conteúdos relacionados? Quais os enfoques predominantes? Há jornalistas especializados no assunto nos referidos objetos de estudo? O trabalho está dividido em dois capítulos. O primeiro capítulo apresenta o projeto deste trabalho, seus objetivos, metodologia, discute também a importância do trabalho enfocando a mídia e meio ambiente através de um breve histórico do jornalismo 14 ambiental, seu conceito, formação dos comunicadores e desafios da área. O segundo analisa os resultados através das análises de conteúdo bem como realizando inferências sobre os dados obtidos. A intenção também é a de contribuir com o debate seja como trabalho acadêmico ou como um ponto de vista, não somente jornalístico, mas no campo da comunicação social em geral, a fim de serem pensadas novas alternativas de uma melhor difusão da informação. 15 CAPÍTULO I - FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Tema Jornalismo Ambiental 1.2 Delimitação do Tema Análise de conteúdo das matérias veiculadas de janeiro a abril de 2009, pelos jornais “A Crítica” e “Diário do Amazonas” no que diz respeito a temas sobre jornalismo ambiental. 1.3 Problema O jornalismo ambiental da forma como é praticado em Manaus ajuda ou não a população a refletir sobre questões e consciência ambiental? 1.4 Objetivo - Geral: Analisar com base na análise de conteúdo as matérias sobre meio ambiente veiculadas nos jornais “A Crítica ” (AC) e “Diário do Amazonas” (DA). - Específicos: 1. Identificar, quantificar e agrupar os assuntos mais recorrentes sobre meio ambiente nos jornais em questão; 2. Realizar análise de conteúdo nas matérias catalogadas nos respectivos jornais. 3. Fazer inferências sobre os dados obtidos. 16 1.5 Justificativa Este trabalho justifica-se pela relevância atual do tema: meio ambiente. Em meio a discussões e preocupações internacionais, a soberania em questão em relação a Amazônia, tudo leva-nos a refletir como estamos cuidando deste tesouro, bem ou mal. O comunicador, por sua vez, não pode estar de fora deste debate por ser um dos responsáveis pela opinião pública. Então, saber as principais categorias dos temas ambientais mencionados leva-nos, a saber, como esse assunto está sendo tratado: pontual, factual, profundo, superficial. Enfoque também na pesquisa sobre quem está publicando, cuja formação reflete diretamente na qualidade da publicação e, por conseguinte, no pensamento dos leitores. 1.6 Metodologia Esta pesquisa foi realizada pelo método da análise de conteúdo, segundo os preceitos de Bardin (1994). Foi escolhido este método porque através destes é possível interpretar a realidade. A análise de conteúdo descreve com objetividade e precisão o que é dito sobre um determinado tema, num determinado lugar num determinado espaço. “[...] um conjunto de instrumento metodológico cada vez mais sutil em constante aperfeiçoamento que se aplicam aos discursos (conteúdos e continentes) extremamente diversificados.” (Bardin, 1994, p.9) Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre dois pontos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Compreende três etapas fundamentais: a) Pré análise: seleção do material. b) Exploração do material. c) Levantamento de dados e interpretação. Principais usos: · Descrever tendências no contexto da comunicação; · Comparar mensagens, níveis e meios de comunicação; · Identificar intenção características e apelos. 17 Um discurso poderia ser classificado como otimista ou pessimista, liberal ou conservador, factual ou contínuo, manifesto/explícito ou latente/implícito. Categorização é o processo do tipo estruturalista que envolve duas etapas: 1) inventário - isolamento das unidades de análise das palavras, textos, frases; 2) Classificação das unidades comuns de acordo com as categorias (colocação em gavetas). Não basta descrever os conteúdos. Discussão e interpretação (Inferências): buscam-se os entendimentos sobre as causas e antecedentes da mensagem, bem como seus efeitos e conseqüências. 1.7 Tipo de pesquisa Para subsídio deste trabalho, foi usada essencialmente a pesquisa bibliográfica e a pesquisa quali-quantitativa, com as seguintes fases: o Primeiramente, catalogou-se em livros e na internet a base para o referencial teórico desta pesquisa. o Em seguida, selecionaram-se as matérias de cunho ambiental dos jornais escolhidos. o Por fim, entrevistaram-se os jornalistas que assinaram as matérias selecionadas. 1.8 Procedimentos metodológicos Os jornais escolhidos estão sediados na cidade de Manaus. O primeiro, A Crítica, situa-se à Avenida André Araújo, zona centro-sul de Manaus; e o segundo, Diário do Amazonas, à Avenida Djalma Batista, zona centro-oeste. Estas foram as duas mídias impressas escolhidas, por serem dois dos três jornais que de maior abrangência em Manaus e por não apresentarem jornalistas com formação acadêmica exclusivamente ao tema em questão. 1.8.1 Itens Analisados 18 O estudo foi realizado a partir da análise das matérias sobre meio ambiente publicadas nos jornais impressos A Crítica e Diário do Amazonas. O primeiro jornal possui uma página semanal sobre o tema em questão, editada somente às terças-feiras; o segundo mantém divulgação matérias esporádicas, sem dias específicos na semana, de tal modo que as reportagens publicadas seguem o curso factual dos acontecimentos. 1.8.2 Período de análise Quadro 1 – Período coleta dados Janeiro Fevereiro A Crítica Diário do Amazonas X Março X X X X Abril X O período de análise corresponde ao explicitado no Quadro 1 acima. Para efeitos de análise de conteúdo da pesquisa, foi realizada primeiramente a leitura flutuante das notícias sobre meio ambiente, todas publicadas nos jornais manauaras A Crítica e Diário do Amazonas, no período de 1º de janeiro de 2009 a 30 de abril de 2009, em edições aleatórias. 1.8.3 Procedimento da coleta A coleta de dados foi realizada durante o primeiro quadrimestre do ano de 2009, por meio da seguinte abordagem: foram adquiridos, por meio de compras avulsas e/ou pesquisas por jornais antigos, os exemplares usados para a análise em questão. 19 Concomitante às buscas, constituiu-se observação dos noticiários do dia e escolha subjetiva dos temas de maior relevância social. As formas como as matérias foram coletadas são diferentes uma da outra. Do jornal A Crítica (AC) coletou-se os jornais das terças-feiras, que é o dia que se publica a página sobre o tema em estudo, enquanto que do jornal Diário do Amazonas (DA) adquiriu-se os exemplares de forma avulsa. 1.8.4 Procedimentos de análise O plano de análise aplicado foi desenvolvido de acordo com a seguinte organização: a) constituição do corpus e leitura flutuante; b) efetuação da análise; c) categorização dos dados; e d) leitura em profundidade dos dados analisados. A primeira etapa necessária foi a descrição, a enumeração das características do texto resumidas após tratamento. A segunda foi a interpretação, em que foi concedido significação às características. Como procedimento intermediário situou-se a inferência, que permitiu a passagem explícita e controlada da descrição à interpretação. Buscou-se saber o que os conteúdos pudessem apontar após serem tratados. De acordo com Vala (1986), a passagem da descrição à interpretação se dá através da inferência. É ela que dá sentido às características do material coletado, segundo o pesquisador. 1.9 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.9.1 COMUNICAÇÃO E MEIO AMBIENTE Foi depois da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972, que as questões ambientais começaram a aparecer com maior freqüência na imprensa internacional. O novo boom ocorreu em meados dos anos 80, com a descoberta do buraco na camada de ozônio e as primeiras hipóteses sobre o 20 impacto das atividades humanas no aumento do aquecimento global. A imprensa brasileira reagiu às preocupações dos países do primeiro mundo, e se voltou aos problemas ambientais da Amazônia. Em 1968, era preso no Brasil - pela Operação Bandeirantes - o jovem repórter Randau Marques, primeiro jornalista brasileiro a se especializar em meio ambiente. Randau foi considerado subversivo na época porque escreveu num jornal da cidade paulista de Franca (berço dos curtumes) reportagens sobre a contaminação de gráficos e sapateiros com chumbo, e já questionava a expressão "defensivos", mostrando que os agrotóxicos eram responsáveis pela mortandade de peixes e pela intoxicação de agricultores. Depois, Randau se especializou em assuntos urbanos e questões ambientais no Jornal da Tarde. Pelo diário do Grupo Estado, Randau cobriu na capital gaúcha a primeira polêmica ambiental envolvendo uma grande indústria. O fechamento da fábrica de celulose Borregaard, do dia seis de dezembro de 1973 até 14 de março de 1974, atraiu a atenção de jornalistas de outros estados e do exterior. A indústria, hoje chamada de Riocell, fica nas margens do Guaíba, na frente de Porto Alegre. A poluição uniu o embrionário movimento ecológico gaúcho. Mas foi a famosa foto do estudante universitário Carlos Dayrel sentado numa acácia, tirada no dia 25 de fevereiro de 1975 que representa época. Ele ficou horas em cima da árvore que seria cortada pela Prefeitura para a construção de um viaduto. Os protestos dos ecologistas ganharam ampla cobertura da imprensa, amordaçada pela censura militar. Em agosto de 1989, foi realizado em São Paulo o Seminário "A Imprensa e o Planeta", promovido pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão e pela Associação Nacional de Jornais. Três meses depois, aconteceu o encontro mais importante para o jornalismo ambiental brasileiro. A Federação Nacional dos Jornalistas realizou no final de novembro, em Brasília, o "Seminário para Jornalistas sobre População e Meio Ambiente". Participaram especialistas internacionais, como o francês François Terrason, especialista em planejamento ecológico e agricultura, a norteamericana Diane Lowrie, da Global Tomorrow Coalition, a jornalista argentina Patricia 21 Nirimberk, da Fundação Vida Silvestre, o tcheco Igor Pirek, da Agência de Notícias CTK, o educador Pierre Weil, da Universidade Holística Internacional e especialistas brasileiros, como o repórter Randau Marques, o professor Paulo Nogueira Neto, o físico Luis Pinguelli Rosa, o agrônomo Sebastião Pinheiro e o jornalista Fernando Gabeira. Outro grande evento para debate ambiental foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. O evento, que ficou conhecido como ECO-92 ou Rio-92, fez um balanço tanto dos problemas existentes quanto dos progressos realizados, e elaborou documentos importantes que continuam sendo referência para as discussões ambientais. Diferentemente da Conferência de Estocolmo, a Eco-92 teve um caráter especial em razão da presença maciça de inúmeros chefes de Estado, demonstrando assim a importância da questão ambiental no início dos anos 90. Durante o evento, o presidente Fernando Collor de Mello transferiu temporariamente a capital federal para o Rio de Janeiro. As forças armadas foram convocadas para fazer uma intensa proteção da cidade, sendo responsáveis também pela segurança de todo o evento. A Carta da Terra, documento oficial da ECO 92, foi elaborada a partir de 3 acordos: Biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas uma declaração de princípios sobre as florestas e a Agenda 21, base para que cada país elaborasse individualmente seu plano para preservação do meio ambiente; dos 175 países signatários da agenda 21 na época, 168 confirmaram sua posição quanto ao respeito a convenção sobre a biodiversidade. Não há como negar que há algum tempo temas relativos ao meio ambiente vêm ganhando notoriedade na mídia em geral. Temas como “sustentabilidade”, “efeito estufa”, “florestas”, “biodiversidade” ou “mudança climática” geralmente são pautas usadas em reportagens especiais ou mesmo para chamar atenção dos caros leitores. Ban Moon, ministro das relações exteriores da Coréia do Sul e secretário-geral da ONU, diz que o maior problema da humanidade, neste momento, não está no terrorismo. Está nas mudanças climáticas (acentuadas pelas emissões de nossas matrizes energéticas 22 poluentes) e na insustentabilidade dos padrões de produção e consumo no mundo, já mais de 20% além da capacidade de reposição da biosfera, e com o déficit aumentando ano a ano. São esses – diz ele – os problemas que ameaçam a sobrevivência da espécie humana. 1.9.2 JORNALISMO AMBIENTAL: O QUE É? Wilson da Costa Bueno (2007) divide os conceitos de Comunicação e Jornalismo dedicados ao meio ambiente. Enquanto que o primeiro é todo o conjunto de ações, estratégias, produtos, planos e esforços de comunicação destinados a promover a divulgação/promoção da causa ambiental, enquanto o segundo, ainda que uma instância importante da Comunicação Ambiental, tem uma restrição importante: diz respeito exclusivamente às manifestações jornalísticas. Conforme Bueno (2007): Jornalismo Ambiental como o processo de captação, produção,edição e circulação de informações (conhecimentos, saberes, resultados de pesquisas, etc.) comprometidas com a temática ambiental e que se destinam a um público leigo, não especializado (p.3) Para Bacchetta (2000), dentro da gama de especializações possíveis, o jornalismo ambiental é um dos gêneros mais complexos: Si considerarnos al medio ambiente como el conjunto de sistemas naturales y sociales habitados por el humano y los demás seres vivos existentes em el planeta y de los cuales obtienen su sustento, el periodismo ambiental es uno de los géneros más amplios y complejos del periodismo ( p. 18) O jornalismo ambiental se faz necessário hoje à medida que o tema ganha notoriedade e mais a tecnologia se desenvolvendo de forma exponencial. Os meios de comunicação, especialmente os jornais, vê sendo apontados como importantes aliados no processo de construção dessa nova sociedade, dadas algumas de suas características mais singulares, entre estas a capacidade para a construção de um jornalismo mais avançado em torno de temas que demandam uma certa complexidade e diversidade de opiniões, 23 além de terem se tornado, mais recentemente, a mais poderosa fonte de informações para a rede mundial de computadores. (LUFT, 2005). Apesar desta vertente de se discutir temas ambientais através da mídia e precisamente do jornalismo impresso, na Amazônia e especificamente em Manaus tal proposição ainda carece de interesse e motivação tanto das empresas jornalísticas quanto das faculdades de comunicação. A este respeito, Azevedo Luíndia e Lima, argumentam que apesar de vivermos na região Amazônica, a atuação dos profissionais e veículos de comunicação não se diferem em relação ao resto do país. Prova disso é a ausência de importância dada pelos jornalistas aos temas locais. “A ausência de visão crítica do profissional e as limitações do próprio processo jornalístico (tempo, espaço, interesses, recursos humanos e financeiros) esvaziam o conceito de notícia de modo despolitizante” (AZEVEDO LUÍNDIA; LIMA, 2008, p.03). Ainda sob o contexto das autoras acima essa falta de preocupação por parte de alguns jornalistas e/ou mídia contradiz o principio básico descrito por Marques de Melo “a tarefa principal do jornalismo é educar as grandes massas para que possam assumir seu papel de sujeito da História. Isso significa acesso ao conhecimento, participação política e mobilização social” (MELO, 2006, p. 119). Para Fernandes (2002, citado por Azevedo Luíndia e Dias, 2009) apurar e redigir – de forma clara e verdadeira – são algumas das funções dos jornalistas, contribuindo para melhor compreensão da sociedade e os veículos de comunicação precisam estar atentos a essa realidade. Dessa maneira, notamos que ainda hoje, a mídia – principalmente o jornal impresso e a televisão – tem uma influência muito forte na sociedade. Portanto, o papel desses veículos torna-se decisivos no processo de formação de opinião sobre a problemática ambiental. Segundo Azevedo Luíndia (2007) se temas referentes ao meio ambiente têm se tornado um senso comum nos jornais do Brasil essa realidade nem sempre foi assim, pois somente após a publicação, em 1987, do Relatório Brundtland (“Nosso Futuro Comum”) e da Eco 92, que tais atos passaram a ganhar destaque na mídia e divulgando alguns termos (desenvolvimento sustentável, mudanças climáticas) que antes eram restritos a pesquisadores e ambientalistas. Sobre esse aspecto, Luft (2005) afirma “a Amazônia em 24 toda sua abrangência, requer um tratamento inter e multidisciplinar através da imprensa” (LUFT, 2005, p.116). Isso porque cabe tanto à sociedade, às empresas, ao governo, ou seja, à sociedade a responsabilidade de elaborar, construir e implementar mecanismos que atendam as demandas sociais modernas e de mercado, no caso, a questão ambiental. E é justamente aí que a comunicação entra: na discussão, no levantamento de informação, na estimulação das idéias. Luft (2005) diz que isso significa que, como produtores e difusores de informação em larga escala, caberá aos meios de comunicação a função de implementar mecanismo que possam contribuir para o processo de construção da cidadania com base no cenário multicultural que está em formação. 2.3 Importância da formação dos comunicadores Regis de Moraes (2005) concorda que espaço da comunicação é, necessariamente, espaço educacional, pois as ações da educação não estão somente nas instituições educacionais, mas em todo o campo social que implica no trânsito de ideias e sentimentos, valores e sugestões comportamentais. O que podemos entender que, principalmente, os meios de comunicação estão inseridos neste contexto. Assim podemos listar algumas das funções da mídia de acordo o mesmo autor: 1. Liga frequentemente pessoas, ideias e situações; 2. Erige novos padrões de conhecimento e avaliação, no meio social; 3. Informa; 4. Regula valores, projetos e amolda e transforma comportamentos; 5. Oferece, devidamente ou de forma empobrecedora, entretenimento; 6. Propicia certa função ritual, com a qual às vezes ligas as pessoas a seu ambiente, bem como a outros seres humanos; 7. Reforça algumas vezes a identidade grupal estabelecendo um pano de fundo comum para as pessoas de classe, regiões e culturas diferentes no interior de uma sociedade, graças a seu efeito de convergências. 25 8. Possibilita através de TV ou periódicos, pessoas poderem partilhar de uma perspectiva comungante de acontecimentos nacionais e internacionais de grande alcance. [...] 9. Padroniza modas linguísticas e o jeito de as pessoas se expressarem, pela fala, pela escrita ou pela linguagem corporal . 10. Exalta nas pessoas a obsessão pelo imediato [...]. 11. Não cultiva abordagens com profundidade, conspirando algumas vezes contra a densidade do que é histórico. 12. Pelos mesmos motivos, a mídia excita hoje o preenchimento do tempo com novos e ligeiros conteúdos ou com entretenimentos inconsequentes; 13. Ela estabelece um ritmo e de imagens, textos e falas que condicionam um rápido deslocamento da atenção, evitando que seus usuários pensem acerca do que assistem e do que vivenciam. Visto isso, torna-se imprescindível que o profissional da comunicação tenha ciência de seu papel decisivo na sociedade. Por causa disso, Lemos (1997), diz que o corpo editorial deve atentar para as seguintes proposições abaixo para que para que as mudanças na consciência para o meio ambiente ocorram com sua participação: 1. O formador de opinião precisa rever seu papel diante da comunidade na qual está inserido e ter consciência da importância do desenvolvimento sustentável; 2. Deve exercer a função de orientador, disseminando e divulgando novos valores ambientais, novas tendências empresariais e inovações tecnológicas, preferentemente no que se refere às tecnologias mais limpas de processo ou produto atualmente disponíveis; 3. Estabelecer contatos nas Universidades e instituições de pesquisa, para divulgação de informações que vislumbrem invenções de novas tendências em tecnologia mais limpas; 4. Atuar como difusor de idéias e inovações tecnológicas para os mais variados setores da indústria. 26 Vimos neste tópico que muitos autores concordam com a formação acadêmica voltada ao meio ambiente do profissional de comunicação. Mostram as vantagens, a importância e a diferença que faz o conhecimento de causa num texto produzido por um profissional especializado e por um não especializado. Em sua dissertação de mestrado, José Maria Alvarenga (2009) analisa os jornais A Crítica e Amazonas em Tempo. A pesquisa aponta que na época, o jornal manaura “Amazonas Em Tempo” apresentava seus textos melhor redigidos, pontuados, convincentes, planejados, preparados e com vocabulário próximo ao utilizados por profissionais ligados ao meio ambiente. Ou seja, “para o público leigo ter uma melhor compreensão do assunto que está sendo tratado. Isso corrobora a idéia de que o jornalista ambiental precisa se fazer entender pelo seu público leitor.” (p. 85). Ao contrário do jornal A Crítica, que não possuía em sua redação jornalista formado exclusivamente no referido tema, suas matérias se apresentavam de forma mais factual. O autor enfatiza ainda que por isso mesmo neste jornal na medida em que as matérias se apresentam, pode-se concluir que há falta de organização, uma vez que se mostram distribuídas de forma aleatória, dando a impressão de pouco preparo daqueles profissionais quanto ao domínio de conteúdo em questão, sobretudo quanto ao tema política ambiental. Sobre o Paula Melani Rocha (2006) diz: O jornalista é um destes profissionais que trabalham na mídia. Ele faz a comunicação. O ato de informação na imprensa é acompanhado por uma estratégia de comunicação. Muitas vezes, ele tem que ir à contramão das idéias do público alvo. Por isso, a necessidade de ter profissionais preparados, cientes da sua relevância social e do contexto histórico, atuando na transmissão dessas informações. Vários autores divergem quanto a considerar o jornalismo ciência ou somente uma técnica. Ao considerar ciência, exige-se automaticamente uma formação na área. Como técnica, é tão somente uma prática. Mas mesmo como técnica, Rocha (2006) diz que é preciso conhecimento para transmitir informações globais a um público tão diversificado quanto o público brasileiro. 27 2.4 ENTRAVES E DESAFIOS De acordo com pesquisa realizada pela Revista Imprensa (junho de 2001), o principal obstáculo apontado para a questão do envolvimento das empresas jornalísticas com o meio ambiente é o imediatismo. “O ritmo acelerado das redações dificulta uma abordagem mais ampliada dos temas ambientais, os quais exigem conhecimento técnico, dedicação e especialização”. (p. 22). Contexto esse que muitas vezes compromete o cunho da matéria. De acordo com a pesquisa coordenada por Pedro Jacobi e Laura Valente (professor da Universidade de São Paulo e Coordenadora do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, respectivamente), realizada em 2001 pela revista Imprensa, comprovou que a imprensa brasileira preocupa-se com o meio ambiente basicamente em três ocasiões: 1. Catástrofes naturais ou acidentes que causam danos à natureza; 2. Relatórios publicados por revistas estrangeiras com dados científicos sobre aquecimento global; 3. E no dia 5 de junho, dia mundial do Meio Ambiente, instituído pela ONU Segundo a pesquisa, quando o periódico é dirigido às classes mais baixas, essa defasagem torna-se ainda mais gritante. A citada pesquisa ainda revela que esse tipo de pauta tem pouca ou nenhuma repercussão porque o leitor de classe baixa não se interessa por esse tipo de leitura, tendo em vista que seus interesses apontam em grande parte para o agora. A partir destas constatações, tomamos a indagação de Luft (2005): como transformar as pautas ambientais em algo rentável se o público médio ou o grande público ainda têm preferência por informações processadas no plano do imediatismo? Este constitui o desafio do jornalismo ambiental. De acordo com as reflexões de Luft, existem dois passos nesta direção. Primeiro, visualizar o meio ambiente sob a perspectiva do lucro; o segundo seria explorar de forma mais significativa tais pautas. Assim sendo, “transformar as questões ambientais num produto vendável que tragam 28 prazer, informação, cultura e conscientização para os leitores e que propiciem maior retorno econômico para as empresas de comunicação”. (Lemos, 1997) Visualizar meio ambiente lucrativamente é conscientizar-se da necessidade de agregar valores ao produto, uma tendência no universo jornalístico atual. E explorar o tema em “torno de descobertas e processos inovadores que levem à utilização de tecnologias mais limpas” por meio de parcerias com universidades, com instituições de pesquisa, com empresas envolvidas no processo. Ainda, a falta de profissionais com formação acadêmica acaba comprometendo o cunho da matéria. Apesar desta matéria ou a falta de conhecimentos ser para esclarecer assuntos para o público leigo, por diversas vezes lê-se matéria sensacionalista ou superficial. Conforme a pesquisa da Revista Imprensa, o ritmo acelerado das redações também contribui para o agravamento situação. 2.5 HIPÓTESE DO AGENDAMENTO OU AGENDA SETTING Maxwell McCombs e Donald Shaw iniciaram com uma pesquisa os primeiros estudos sobre essa teoria com seu artigo intitulado The Agenda Setting Function of Mass Media (1972). Este estudo tinha o propósito de investigar a capacidade de agendamento dos media na campanha presidencial de 1968 nos Estados Unidos, além de confrontar o que os eleitores de Chapel Hill (local escolhido para a realização da pesquisa) afirmaram serem as questões chaves da campanha com o conteúdo expresso pelos medias (McCOMBS e SHAW, 1972, citado por TRAQUINA, 2000, p. 49). Os autores pretendiam averiguar também se as idéias que os votantes julgavam como temas mais relevantes eram moldadas pela cobertura jornalística dos meios de comunicação (Weaver, 1996, p. 2). Neste estudo, McCombs e Shaw (1972) concluíram que O mundo político é reproduzido de modo imperfeito pelos diversos órgãos de informação. Contudo, as provas deste estudo, de que os eleitores tendem a partilhar a definição composta dos media acerca do que é importante, sugerem fortemente a sua função de agendamento (McCombs e Shaw, 1972, citado em Traquina, 2000, p.57). 29 Ao contrário dos desdobramentos e dos possíveis efeitos, a sua definição em si é simples. Como diz Shaw (2001), a formulação clássica da hipótese defende que, “em conseqüência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos”. As pessoas, segundo o autor acima, teriam a tendência de incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que a mídia inclui ou exclui do seu próprio conteúdo. De acordo com Katz (1998) o modelo institucional, ao qual pertence o agenda-setting, sustenta que a mídia nos diz em que temos que pensar. No paradigma crítico, a mídia tem o poder de nos dizer em que não há o que pensar. No paradigma tecnológico, a mídia talvez tenha o poder de dizer como devemos pensar e a que grupo pertencer (Katz, 1998). Barros Filho (1995) afirma que a mídia determina, direciona os assuntos das conversas do cotidiano das pessoas. Dentro dos principais assuntos, percebe-se no período analisado como as matérias sobre meio ambiente se correlacionam. Tratadas de maneira pontual e factual, elas apontam a forma de pensar sobre os assuntos numa determinada época. Isso acontece mesmo que de formas diferentes de tratamento entre os jornais pesquisados. 30 CAPÍTULO II - RESULTADOS E DISCUSSÃO A pré-análise, para Bardin (1977), é a fase de organização do material, da escolha de todos os documentos, que constituirão o corpo da pesquisa. Este corpo pretende conter os elementos essenciais que retratem o material básico coletado e que serão submetidos à análise dos indicadores que fundamentaram a interpretação final. Feita a primeira leitura geral, realizada de forma flutuante, intuitiva e aberta a idéias, reflexões e hipóteses, como preconizou a autora, foram descartadas todas as matérias abaixo de 2 mil caracteres. Foram descartadas, por exemplo, notas e/ou fotografias somente com a legenda que não faziam parte da matéria principal. 2.1 Relação das matérias Os quadros a seguir dizem respeito às matérias analisadas a partir da coleta de reportagens oriundas do jornal A Crítica e do jornal Diário do Amazonas. As temáticas das reportagens foram descritas a partir de uma delimitação por data, página e título. Somente os jornais A Crítica publicados às terças-feiras foram coletados e avaliados, de janeiro a março deste ano, totalizando 12. Foram 12 também os exemplares de jornais Diário do Amazonas, escolhidos agora de modo aleatório, avaliados, de fevereiro a maio de 2009. Quadro 2 - matérias analisadas do Jornal A Crítica no 1º trimestre de 2009 Mês: Janeiro Dia Página Caderno Título Jornalista 1 13 C4 - Cidades Rigor no julgamento de crimes ambientais Elaíze Farias 2 20 c3 - Cidades Bandas têm licenciamento Sem Assinatura Trabalho será compartilhado na gestão Sem Assinatura 3 27 c3 - Cidades ambiental (entrevista) 31 Mês: Fevereiro Dia 1 3 2 10 Página Caderno Título Jornalista c3 - Cidades A Ordem é reciclar sempre Clarisse Manhã Integração de espaços livres viabiliza o Sem Assinatura C3 - Cidades verde Ana Célia 3 17 4 24 c4 - Cidades c4 - Cidades Chuvas vão definir abertura de compotas Ossame Empresa busca apoio da colônia Antônio Jorge Eduardo Aleixo Dantas Mês: Março Dia 1 3 Página c4 Caderno Título Jornalista - Uma política ambiental voltada para as Sem Assinatura Cidades pessoas 2 10 c4 Cidades Elaíze Farias Patrimônio Geológico 3 17 c4 Cidades - 4 31 c4 Cidades Clarisse Manhã África conta efeito estufa Liberação da BR-319 só virá se MT atender todas As exigências feitas (entrevista-Carlos Minc) Antônio Paulo (sucursal Brasília) Quadro 3 - matérias analisadas do Jornal Diário do Amazonas no 1º trimestre de 2009 Mês: Fevereiro Dia Página 1 3 6 Caderno Amazonas Título Nível do Rio Negro Jornalista 32 2 3 6 está acima da maior enchente,a de 1953 Hélida Tavares Mais 35,1% de Sem Assinatura Amazonas chuvas este ano Cadeno Título Mês: Março Dia Página 1 5 2 20 Nada que se enquadrasse Brasil Dia Página Cadeno Jornalista Nada que se enquadrasse - Mês: Abril Título Jornalista Belmiro Vianez 1 9 Dendê na Amazônia Filho (artigo) Opinião MP da Sem Assinatura Amazônia será 2 9 4 Amazonas debatida Rios na cota de 3 9 8 Amazonas - Sem Assinatura emergência Sipam instalará - Sem Assinatura antenas no 4 9 8 Amazonas Amazonas Minc vai exigir 5 14 18 Brasil - Sem Assinatura reflorestamento Decreto foi com - Sem Assinatura base em relatório 6 14 10 Amazonas de prefeitos Jaraqui começa a Keynes Breves 7 14 Sociedade e Meio Ambiente 8 17 8 perder espaço Amazonas PF detém e multa - Sem Assinatura 33 assentados do Incra em R$ 39 Mi Governo quer - Sem Assinatura geladeira a R$ 9 23 3 Brasil 500 Raphael Cortezão, Atingidos pela cheia Tayana Martins e terão que esperar até Ana Carolina 10 11 23 10 24 11 Amazonas Amazonas dia 27 Barbosa Serviço de água - Sem Assinatura é um dos piores 2.2 Descrição de categorias Dentro do contexto das 24 matérias pesquisadas, estas foram separadas em sete categorias de acordo com os temas mais freqüentes, tais como podemos observar no Quadro 04. Quadro 4 – Catalogação das categorias Categoria Temática Definição para Escolha Água Com oito matérias, fez-se a junção de temas tanto sobre a água da chuva, das enchentes quanto como recurso hídrico. Separaram-se neste grupo matérias sobre fauna e flora. Mudança climática. Floresta Clima Gestão Esta categoria é composta por oito matérias no que diz respeito à organização por parte do governo e prefeitura. 34 Reciclagem Estrada Somente uma matéria sobre conscientização da reutilização de recursos. Sobre a liberação da construção da BR-319 pelo então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. 2.3 Agrupamento das matérias sete categorias Do total de 27 matérias, procuramos compor outras unidades temáticas com o objetivo de melhor compreender as implicações políticas, econômicas e sociais presentes no corpo das matérias. Quadro 5 - Água 03/02/2002 DA / Amazonas 6 Nível do Rio Negro está acima da maior enchente, a de 1953 03/02/2002 DA / Amazonas 6 Mais 35,1% de chuvas este ano 17/02/2009 AC / c4 – Cidades Chuvas vão definir abertura de compotas 03/04/2009 DA / Amazonas 10 Atingidos pela cheia terão que esperar até dia 27 DA / Sociedade e Meio Ambiente 09/04/2009 DA / Amazonas 8 4/04/2009 Jaraqui começa a perder espaço Rios na cota de emergência 14/04/2009 DA / Amazonas 10 Decreto foi com base em relatório de prefeitos 24/04/2009 DA / Amazonas 11 Serviço de água é um dos piores Este assunto, Água, figura oito vezes na lista por causa da enchente desse ano de 2009. Logo no início, em janeiro mais precisamente, pouco se falava sobre a questão da água. E tão logo o nível do rio começou a subir logo o DA, principalmente, deu o destaque. Pode-se perceber isso ao se notar que são sete as matérias publicadas pelo DA e 35 apenas uma pelo AC, a matéria deste que também tem relação com a cheia, mas se foca na hidrelétrica de Balbina. Percebeu-se que o DA deu um tom mais emergencial às matérias. Chama a atenção pela comparação com a maior marca que o rio já alcançou com a repetição da palavra “emergência”. Percebe-se constantemente o discurso crítico em relação ao governo e à prefeitura com as matérias dos atingidos pela cheia, que terão que esperar; sugerindo que a ajuda do governo não chegará a tempo hábil e que os atingidos terão que esperar muito por essa assistência. A outra matéria intitulada “Serviço de água é um dos piores” é sobre um relatório do ministério das cidades sobre o serviço de água que a empresa Águas do Amazonas oferece. O detalhe é que a matéria enfatiza este resultado na gestão do atual prefeito, Amazonino Mendes, que em 1999 era governador, ano da privatização da empresa de água. Isto prova mais uma vez o discurso de caráter crítico que o DA assume em algumas matérias. Quadro 6 - Floresta AC / c4 – 24/02/2009 Cidades Empresa busca apoio da colônia Antônio Aleixo 10/03/2009 AC / c4 - Cidades Patrimônio Geológico 09/04/2009 DA / Opinião 09/04/2009 DA / Amazonas 8 Sipam instalará antenas no Amazonas Dendê na Amazônia (artigo) A matéria intitulada “Empresa busca apoio da colônia Antônio Aleixo” trata sobre uma empresa que quer construir uma obra e quer o apoio dos moradores. A matéria é explicativa com tendência a aspirar à melhora da imagem da empresa e do que ela pretende fazer: que a construção não trará tantos danos assim ao local, no caso o Lago do Aleixo, próximo ao Encontro das Águas. A segunda, “Patrimônio Geológico”, fala sobre o tombamento da Ponta das lajes em sítio geológico. É uma matéria de confronto à acima citada, mostrando dados, informações e como instituições, a exemplo da Universidade Federal do Amazonas e do 36 Serviço Geológico Brasileiro, dão importância em considerar a mesma região da Ponta das Lajes – Colônia Antônio Aleixo – como sítio arqueológico. Por isso, tão urgente sua preservação. Nenhuma destas matérias faz referência uma à outra, mas tratam do mesmo assunto. O tratamento diferenciado dá à primeira a ênfase à obra que seria feita próximo da região do Encontro das Águas; e dá à segunda um tom mais científico ao local, mostra que há estudo apresentando-o com valor de patrimônio. As outras duas são de temas adversos. “Dendê na Amazônia” diz respeito à economia e dos benefícios de tal produto pra região e a segunda, da instalação de antenas para vigilância na e da floresta. Quadro 7 - Estrada 14/04/2009 DA / Brasil 18 Minc vai exigir reflorestamento 31/03/2009 AC / c4 – Cidades Liberação da BR-319 só virá se MT atender todas as exigências feitas A matéria sobre a liberação da BR-319 é uma entrevista com o atual ministro do meio ambiente Carlos Minc pode ter entrado na pauta pelo que diz respeito ao então ministro dos transportes, o ex-ministro e ex-prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento. Quadro 8 - Clima 17/03/2009 AC / c4–Cidades África contra efeito estufa 23/04/2009 DA / Brasil 3 Governo quer geladeira a R$ 500 A primeira matéria trata de um acordo firmado entre a Semma e o ministério do meio ambiente de Moçambique. Mais uma matéria sobre a Semma “África contra o Efeito Estufa”. E a segunda, demonstra tentativa do governo federal de tomar atitude frente ao aquecimento global. 37 Quadro 9 - Gestão 13/01/2009 AC / c4 – Cidades Rigor no julgamento de crimes ambientais 20/01/2009 AC / c3 – Cidades Bandas têm licenciamento 27/01/2009 AC / c3 – Cidades Trabalho será compartilhado na gestão ambiental (entrevista) 10/02/2009 AC / c3 – Cidades Integração de espaços livres viabiliza o verde 03/03/2009 AC / c4 – Cidades Uma política ambiental voltada para as pessoas 09/04/2009 DA / Amazonas 4 MP da Amazônia será debatida 17/04/2009 DA / Amazonas 8 PF detém e multa assentados do Incra em R$ 39 Mi Ao ler esta tabela, vemos a ênfase que cada um dos jornais dá a esta categoria. Enquanto que o AC publica cinco matérias deste cunho, DA vem com apenas duas. Todas as matérias desta categoria do AC têm ligação com a Semma; e a principal delas é a entrevista com o novo secretário. Já as duas do DA fala sobre ações do governo federal e polícia federal. Tais dados demonstram a direção do jornal quanto ao tema. “Rigor no julgamento de crimes ambientais” fala sobre o projeto de lei do senador Artur Neto e suas opiniões sobre leis ambientais. “Trabalho será compartilhado na gestão ambiental (entrevista)” e “Uma política ambiental voltada para as pessoas” são praticamente entrevistas ao então secretário municipal de meio ambiente, Marcelo Dutra, sobre como será sua forma de gerir. “Bandas têm licenciamento” é uma matéria publicada na época do carnaval de 2009 para informar sobre o a autorização concedida pela Semma às bandas de ruas. Quadro 10 - Reciclagem 03/02/2009 AC / c3 – Cidades A Ordem é reciclar sempre Pode-se considerar uma matéria de conscientização, de como as pessoas podem aproveitar a parte reciclável de seu lixo e/ou desperdiçar menos. Informativa, de cunho educacional. 38 2.4 Formação dos jornalistas que assinam as matérias analisadas Como foi explicitado na metodologia deste trabalho, a partir da entrevista realizada com os jornalistas assinantes das matérias analisadas constatou-se que estes não possuem formação acadêmica focada no tema e na questão ambiental abordada. Abaixo, o resultado das entrevistas: o Ana Célia Ossame: Formada em jornalismo em 1986; especializada em marketing. (A Crítica) o Clarisse Manhã: ainda não formada. Transferida da Universidade Estácio de Sá para Universidade Federal do Amazonas. (A Crítica) o Elayzes Farias: Formada em jornalismo em 1993; especializada em Antropologia. (A Crítica) o Tayana Martins: na ocasião da matéria, não tinha graduação; hoje, formada pela Universidade do Norte. (Diário do Amazonas) o Raphael Cortezão: na ocasião da publicação da matéria, não havia concluído; hoje, formado pela Universidade Federal do Amazonas. (Diário do Amazonas) o Jorge Eduardo Dantas: Graduado pela Universidade Federal do Amazonas. (A Crítica) o Keynes Breves: Ufam (Diário do Amazonas) o Ana Carolina Barbosa: Ufam (Diário do Amazonas) o Hélida Tavares: Ufam (Diário do Amazonas) Azevedo Luíndia (2007) considera que para os comunicadores sociais falta a constituição de um embasamento teórico no sentido de permitir a produção de um panorama não-fragmentado da realidade sobre as questões científicas e ambientais. Esta pesquisa vem confirmar e mostrar um problema apontado como um dos entraves para o jornalismo ambiental: a falta de jornalistas com formação acadêmica no assunto. 39 2.5 Inferências Assim podemos começar as observações falando que os jornais analisados têm formas distintas de tratar as pautas sobre meio ambiente. Nota-se que, no período de coleta, a maioria das matérias do AC mostra caráter gestor citando por várias vezes a nova secretaria de meio ambiente. Como o período de coleta coincidiu com o período da enchente no estado, o DA mostrou mais o lado factual das pautas pela observação da repetição das palavras “emergência”, “nível da água” e constantes comparações com a cheia de 1953. Entretanto nenhum dos jornais analisados e/ou nenhuma matéria que atenda a todas as características de uma matéria sobre meio ambiente. Talvez, pelas divergências de pontos de vista, possa-se encontrar em “Mais 35,1% de chuvas este ano (de 03/02/09 - DA)” informações esclarecedoras sobre a pauta, no caso, nível pluviométrico. 2.5.1 Inferências I – Jornal A Crítica a. Rigor no julgamento de crimes ambientais (AC-13/01/09): é sobre um projeto de lei elaborado pelo senador Arthur Neto que determina maior severidade na punição dos crimes ambientais. A matéria apresenta algumas informações como “o Brasil é o décimo poluidor do mundo” e faz comparação do projeto de lei com a lei atual. Apesar de dar a entender ser de assessoria, matéria é assinada e sugere a promoção do senador por frases do tipo “o projeto de lei do senador” ou “o senador afirmou” mais ainda “autor do projeto, Arthur Neto, quer” fazendo com que ele, o senador, seja o sujeito, o protagonista da matéria. b. Bandas têm licenciamento (AC-20/01/2009): sobre um assunto que também compete ao tema meio ambiente, poluição sonora. A matéria informa sobre como proceder para obter licença sonora para bandas de carnaval. c. Trabalho será compartilhado na gestão ambiental (27/01/2009 - AC): Como janeiro deste ano foi o primeiro mês da nova gestão da prefeitura, a matéria deste dia foi dedicada a uma entrevista com o novo secretário municipal de meio 40 ambiente. A entrevista começa com um perfil do secretário, depois fala sobre a união da Semma (secretaria municipal do Meio Ambiente) e Semulsp (secretaria municipal limpeza pública), mais adiante, fala sobre a situação dos cemitérios, por fim, sobre invasões de terrenos. d. A Ordem é reciclar sempre (03/02/09 - AC): importante matéria sobre uma iniciativa de uma escola de música de reciclar óleo fazendo sabão. E é por isso que foi classificada na categoria Reciclagem. e. Integração de espaços livres viabiliza o verde (10/02/09 - AC): mais uma matéria relacionada à Semma. A matéria trata da criação de espaços verdes dentro da cidade e que, para isso, conta com a participação da Universidade de São Paulo por meio do projeto Quapa/Sel. Enquadra-se na categoria Gestão justamente porque a intenção do projeto da universidade é elaborar políticas públicas para gestão desses espaços em Manaus, segundo a matéria. f. Chuvas vão definir abertura de compotas (17/02/2009 - AC): Como o próprio nome sugere, é sobre a abertura das compotas da Usina Hidrelétrica de Balbina. A matéria tem natureza típica de publicação do caderno de cidades, ou seja, factual, mas mesmo assim assume caráter informativo sobre os riscos dessa abertura. g. Empresa busca apoio da colônia Antônio Aleixo (24/02/09 - AC): matéria sugere uma tentativa de melhorar a má imagem da obra da empresa Lajes Logística S/A. O tema principal permeia o impacto ambiental que a construção de um porto pela empresa causará no Lago do Aleixo, que por sinal fica próximo ao Encontro das Águas. A matéria mostra que a empresa procura explicar aos moradores da Colônia Antônio Aleixo que a obra trará benefícios a eles, embora a mesma matéria explique, num quadro abaixo do assunto principal, que o IPAAM - Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas - condenou o Estatuto Prévio de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental das Lajes. Existiam 23 irregularidades nestes, como a não constatação de informações sobre impactos na fauna e na flora da região. h. Uma política ambiental voltada para as pessoas (03/03/09 - AC): outra matéria correlacionada com a Semma. A matéria dar a entender que é uma entrevista com 41 o secretário, Marcelo Dutra, que descreve um pensamento dele, não uma ação concreta. i. Patrimônio Geológico (10/03/2009 - AC): Foi uma iniciativa do departamento de geociências da Universidade Federal do Amazonas que propôs o tombamento da Ponta das lajes em sítio geológico e que obteve parecer favorável. j. África contra efeito estufa (17/03/2009 - AC): mais uma matéria que poderia enquadrar-se facilmente em Gestão, porque se trata de uma troca de favores entre o nosso governo estadual e Moçambique, na África. Mas foi classificado na categoria Clima porque mostra preocupação por parte do outro país com o mesmo. k. Liberação da BR-319 só virá se MT atender todas as exigências feitas (31/03/2009 - AC): a matéria é uma entrevista com o ministro do Meio Ambiente, oriunda da sucursal em Brasília e é sobre a licença para a construção da BR-319 e também da relação entre o entrevistado e o atual ministro dos transportes, Alfredo Nascimento. 2.5.2 Inferências II – Jornal Dário do Amazonas a. Nível do Rio Negro está acima da maior enchente, a de 1953 (03/02/09 - DA): chama a atenção pela comparação com a cheia de 1953 – esta foi a maior já registrada. Entretanto é uma comparação entre medidas alcançadas nas mesmas datas e não entre picos máximos das águas. b. Mais 35,1% de chuvas este ano (03/02/09 - DA): este é sobre evolução dos níveis pluviométricos. Esta é uma matéria bem esclarecedora em relação à estatística das médias das chuvas, pois há comparações de médias de anos anteriores, entrevistas com profissionais – no caso do Serviço Geológico do Brasil, informa sobre a quantidade de áreas de riscos e como proceder. Tem caráter factual, mas apresenta informações constantes nos registros de órgãos respeitados. 42 c. Dendê na Amazônia (09/04/2009 - DA): localiza-se na página de opinião do jornal. Trata-se de um pensamento que ao mesmo tempo em que exalta o potencial econômico do plantio do dendê faz uma crítica ao código florestal, que não permite o cultivo de plantas exóticas à região – que é o caso do dendê. d. MP da Amazônia será debatida (09/04/2009 - DA): é sobre a MP 458/09 que autoriza a transferência aos ocupantes sem licitação dos terrenos da União na Amazônia Legal. Tem caráter político, logo, classificado em Gestão. e. Rios na cota de emergência (09/04/2009 - DA): mais uma matéria com caráter emergencial sempre comparando com a cheia de 1953, porém desta vez não foi a comparação livre entre médias de datas como nas matérias anteriores, mas de informações do CPRM. Ainda: traz informações sobre as medições dos outros rios, estes sim, com altura média maior que medições em anos anteriores, de acordo com a matéria. f. Sipam instalará antenas no Amazonas (09/04/2009 - DA): se trata de uma matéria sobre instalações de antenas para facilitar a telecomunicação por dentro da floresta. Uma iniciativa do Sistema de Proteção da Amazônia. g. Minc vai exigir reflorestamento (14/04/2009 - DA): este caso é para a construção de usinas termelétricas a carvão e óleo diesel no Brasil que terá que ser compensada com plantio de árvores, diferentemente das usinas a gás, que emitem menos de um terço das emissões do dióxido de carbono. A matéria se inicia com caráter gestor, depois vai se tornando informativa no sentido de apresentar dados sobre a quantidade de árvores e a quantidade de megawatts de potência. h. Decreto foi com base em relatório de prefeitos (14/04/2009 - DA): matéria cuja notícia principal é o fato de o Sedec (Subcomando de Ações de Defesa Civil Estadual) avaliar que prefeitos dos municípios do interior do estado não saibam identificar quando há necessidade de declarar situação de emergência ou não. i. Jaraqui começa a perder espaço (14/04/2009 - DA): sobre o costume do amazonense em comer o peixe chamado jaraqui e as possíveis razões de esse hábito está caindo em desuso por entre os mesmos. j. PF detém e multa assentados do Incra em R$ 39 Mil (17/04/2009 - DA): esta é uma que fala sobre a operação da polícia federal em cima dos assentados do Incra 43 (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) por construírem madeireiras ilegais nos espaços. k. Governo quer geladeira a R$ 500 (23/04/2009 - DA): mostra uma atitude do governo federal em incentivar os brasileiros a trocar de geladeira antiga que consome muita energia por novas que consomem menos e custam quinhentos reais. l. Atingidos pela cheia terão que esperar até dia 27 (23/04/2009 - DA): assumindo uma posição contrária ao governo, a notícia aqui é o fato de interioranos terem até o dia 27 para receber a ajuda de R$300 do governo do estado por meio da parceria com o banco Bradesco devido ao fato de nem o governador e nem o subcomandante da Defesa Civil ter certeza de quantas famílias foram atingidas pela enchente. m. Serviço de água é um dos piores (24/04/2009 - DA): é o que consta no relatório do Ministério das Cidades, 13a edição do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto relativo a 2007. De acordo com o relatório, o serviço oferecido pela empresa Águas do Amazonas não é dos mais eficientes, ao contrário, é um dos piores do Brasil. Ainda faz uma comparação entre o número de reclamações feitas e as atendidas pela empresa. 44 3. RESULTADOS Embora possa se perceber o caráter factual e pontual dado aos temas ambientais por parte tanto do Jornal A Crítica quanto pelo Diário do Amazonas, se pode inferir que no Diário do Amazonas as publicações assumem uma natureza mais de denúncia com palavras e expressões de caráter impactante. Através do fato observado que em ambos os jornais a categoria Gestão apresenta o total de sete matérias, sendo cinco do A Crítica e duas do Diário do Amazonas. A categoria gestão em grande parte no jornalismo se relaciona com o aproveitamento de press releases das secretárias dos governos. Apesar de não ter se obtido dados sobre o assunto através das entrevistas realizadas com os jornalistas responsáveis, pode-se inferir o argumento aqui se baseando na pesquisa coordenada pela professora da Universidade Federal do Amazonas, Luíndia Azevedo e a egressa petiana Laurianne Franco de Lima, sobre jornalismo científico nos jornais de Manaus revelou os seguintes resultados: 50% dos quatro jornais pesquisados (a saber: Diário do Amazonas, A Crítica, Jornal do Comércio e Em Tempo) afirmaram que não há como estimar o aproveitamento de material oriundo de assessorias e 25% afirmaram que a taxa de aproveitamento situa-se entre 5% e 10%. Os demais 25% afirmaram que o aproveitamento é de 50%, proporção representada pelo único jornal que possui um profissional que se dedica à cobertura de Meio Ambiente e C&T. Esse resultado indica que todos os jornais analisados aproveitam todo ou em parte sugestão de pauta ou press-releases. Em nossa pesquisa cada jornal deu destaque a um tópico e um deles encontrados na maioria das matérias foi a categoria água e sua incidência maior foi dado pelo jornal DA. A natureza factual dada à categoria sugere um tom de impacto, de tragédia à situação, no caso, da cheia do rio. Quando se chama atenção em caráter emergencial a um determinado assunto, esse acaba se tornando assunto de época, ou seja, só aparece quando acontece algo e não por ter valor para a sociedade. Uma espécie de ‘agenda setting’, que é o que acontece com as matérias sobre as compras de natal, a novidade para o ano novo e carnaval, a semana do meio ambiente, o festival folclórico de Parintins, entre outros assuntos. 45 Essa hipótese da agenda setting em conseqüência da ação dos meios de informação, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. Pode ser usado como uma espécie direcionamento do pensamento de uma grande massa populacional, pois as pessoas têm tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (Shaw apud Wolf, 2001, p.144). No que se refere a este tópico, a hipótese em questão pode ser aplicada ao jornal Diário do Amazonas, tendo em vista que a mídia tem a capacidade de influenciar a projeção dos acontecimentos na opinião pública, esta mídia incitou as discussões sobre a água, especificamente a cheia, antes que o tema tivesse ganhado grandes proporções. Não bastou motivar o assunto dessas discussões, ainda instigou a forma de refletir dando ao tema o modo emergencial. O outro assunto destacado agora pelo AC foi a categoria Gestão, cinco matérias de 12 no total e todas de cunho político local. Pôde-se observar também que a diversidade de temas das matérias do AC tem cunho tradicional, mais informativo e sem apresentar um maior caráter de denúncia e tom impactante. As duas matérias sobre Gestão o tema do DA, ao contrário do A Crítica, não falam sobre a prefeitura ou o governo locais, mas de ações do governo federal e Ibama. Em relação ao clima se observou maneiras diferentes de tratar a questão. Enquanto DA fala sobre o incentivo do governo federal à população para substituir geladeiras, o AC veio com uma matéria sobre parceria com um país africano no combate ao aquecimento global. Ambas as matérias têm grau de importância para informação da população. No que concerne à floresta, os dois jornais empataram em número de matérias e também foram muito diversificados. O que se pode acrescentar aqui é o fato de que em relação a este tema em especial, houve pouca ou nenhuma informação conveniente sobre o contexto local no sentido de conscientizar, sensibilizar e informar sobre o que de fato está acontecendo com a floresta amazônica. Assuntos como soberania, queimadas, latifúndios que têm alto grau de relevância tanto no contexto regional como, 46 principalmente, no contexto nacional não figuram entre as pautas mais citadas em ambos os jornais. Uma vez que se compreende como estes meios trabalham na formação da opinião pública, é inegável a influência dos meios de comunicação no cotidiano das pessoas, visto que temos uma infinidade de informações que são disseminadas por estes canais. A pauta das conversas interpessoais é sugerida pelos jornais, televisão, rádio e internet, propiciando aos receptores a hierarquização dos assuntos que devem ser pensados/falados. “As pessoas agendam seus assuntos e suas conversas em função do que a mídia veicula. É o que sustenta a hipótese [da Agenda Setting]” (Barros Filho, 1995, p. 169). A realidade social passa a ser representada por um cenário montado a partir dos meios de comunicação de massa. Ambos os jornais têm interesses em explicitar algo. Não somente mostrar, mas o “de que forma” fazê-lo também tem seus efeitos. O DA com seu modo espetacular e por várias vezes criticando veementemente o governo quer indicar ao leitor a cogitar que os ribeirinhos e interioranos estão desassistidos pela falta de política governamental, que essa administração não fiscaliza o serviço de água, que quer questionar se prefeitos sabem avaliar ou não quando declarar estado de emergência. Sugere assumir uma posição mais esquerdista. Enquanto que o AC tende assumir posição mais conservadora, menos conflituosa com várias matérias sobre a prefeitura, sobre animais e reciclagem. A natureza precisa ser desvendada em todas as suas dimensões: população indígena, empresas que estão sendo instaladas na região amazônica, ONG’s de vários aspectos políticos e ideológicos, mídias regionais, movimentos sociais, agricultura familiar etc. Não da forma excessiva, mas na medida da razoabilidade, da cobertura balanceada, que apresentasse os projetos locais com uma importância digna de ser mostrada. A mídia poderia incorporar o conceito de uma revolução científica e tecnológica, pois acúmulo tecnológico existe, basta o interesse e o compromisso dos diversos atores sociais com a questão. Entende-se que a comunicação exerce um papel central para onde convergem os conflitos que, ali trabalhados, “espetacularizados”, “ressignificados”, etc., acabam por fazer dos meios de comunicação uma importante instituição que “leva a pensar”, que 47 “educa” (BACCEGA, 1998, p.116). Portanto, numa sociedade centrada na mercadoria e no consumismo, a comunicação tende a exercer um papel ideológico, formador ou dominador. Ainda faz-se necessário aqui uma comparação dos jornais. Ambos não possuem jornalistas específicos no e para o assunto: todos escrevem sobre tudo, sobre o assunto do momento, sobre a pauta que tem que sair. Assim sendo, conclui-se através dos dados obtidos que nenhum dos assinantes das matérias analisadas tem familiaridade com o assunto proposto. O jornal A Crítica apresenta matérias que, em sua maioria, ou não chamam atenção do leitor ou enfocam ações políticas em demasia. Também apresenta tom conservador. Já o Diário do Amazonas publica matérias de cunho mais chamativo. Expressões como “emergência”, “maior enchente”, “pior serviço” aparecem diversas vezes, e algumas delas pra chamar atenção para falha ou do governo ou da prefeitura. As inferências aqui apresentadas endossam o argumento de José Maria Alvarenga quando o autor enfatiza que quando não há jornalistas preparados para o assunto em questão, pode-se concluir que há falta de organização, uma vez que se mostram distribuídas de forma aleatória, dando a impressão de pouco preparo daqueles profissionais quanto ao domínio de conteúdo em questão, sobretudo quanto ao tema política ambiental. Ademais, os dados aqui expostos consubstancial as proposições de Azevedo Luíndia e Dias (2009) ao afirmarem que o papel do comunicador social deve estar pautado no compromisso com a sociedade. Isso faz com que veículos e jornalistas assumam uma postura em relação à informação, ou seja, que os mesmos estimulem – através de matérias – o interesse coletivo, fazendo com que a comunidade intervenha mais conscientemente nos assuntos discutidos diariamente. Quando nos voltamos às questões ambientais, observamos que nem sempre os jornalistas/sujeitos estão preparados para trabalhar essa temática. 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS Algumas publicações, embora de caráter comercial, têm cumprido papel importante na circulação de informações sobre meio ambiente, em suas múltiplas perspectivas ou temas (água, biotecnologia, turismo ecológico, energia, agroecologia, saneamento, entre outros). Na prática, serão cada vez mais respeitadas na medida em que estiverem comprometidas com uma visão moderna, abrangente e adequada às questões que afetam o meio ambiente. As agências de comunicação, os institutos, as associações e as ONGs que mantêm, com regularidade, seu sistema de produção de notícias (sites, jornais) também se enquadram neste perfil, favorecendo, amplamente, o processo de democratização de informações ambientais. O jornalismo ambiental deve propor-se como política, social e culturalmente engajado, porque desta forma resistirá às pressões de governos, empresas e até de universidades e institutos de pesquisa, muitos deles patrocinados ou reféns dos grandes interesses. O jornalismo ambiental não pode comprometer-se com a isenção porque participa de um jogo amplo de interesses. Não deve admitir-se utópico porque se fundamenta na realidade concreta, na luta pela qualidade do solo, do ar, da água, enfim de tudo o que conserva a vida. Quem se propuser a escrever sobre o gênero em questão, deve saber que seu trabalho não será somente dar uma informação, mas sensibilizar as pessoas para que engrossem a luta pela defesa do ambiente. E ainda com a responsabilidade educativa na formação dos cidadãos. O jornalismo ambiental não deve ser visto apenas como o exercício de uma atividade produtiva e remunerada, como a maioria das que estão disponíveis para os profissionais liberais, em todo o mundo, inclusive para a maioria dos jornalistas, mas como compromisso que vai além da jornada de trabalho. O jornalismo ambiental envolve uma visão de mundo comprometida com novos parâmetros de convivência e solidariedade. 49 REFERÊNCIAS ALVARENGA, José. Análise de discurso e de conteúdo sobre questões ambientais publicadas nos jornais “A Crítica” e “Amazonas em Tempo” 2007 a 2009. 2010. Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia na área de concentração Política e Gestão Ambiental) – ICB, Universidade Federal do Amazonas, Amazonas. AZEVEDO LUÍNDIA, Luiza Elayne; DIAS, Anielly Laena Azevedo. Jornalismo ambiental “Amazonas em Tempo”: uma análise discursiva. 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