FICHA TÉCNICA
Título: Anais de Artigos Completos do 9º Seminário Nacional Cinema em Perspectiva
Editores: Cristiane Wosniak e Pedro de Andrade Lima Faissol
Diagramação: Bárbara Murakami de Albuquerque
Ano: 2021
ISSN: 2317-8930
www.cinemaemperspectiva.com
ANAIS DE ARTIGOS COMPLETOS:
9º SEMINÁRIO NACIONAL CINEMA EM PERSPECTIVA
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
COORDENAÇÃO GERAL
Prof. Me. Luis Fernando Severo
COORDENAÇÃO SIMPÓSIOS E ANAIS
Profa. Dra. Cristiane Wosniak
Prof. Dr. Pedro de Andrade Lima Faissol
COMUNICAÇÃO E DIVULGAÇÃO
Prof. Dr. Hertz Wendel Camargo
Prof. Me. Tiago Alvarez
MONITORIA
Ágatha Angélica Wiggers
Alina Chiaradia Cardoso
Ariane Miwa Miake
Daniel Marino do Val
Lidia Maria Antunes da Gloria
Rebeca de Santana Matos
Teodoro Andrade dos Santos
Vanessa de Freitas Sousa
REALIZAÇÃO
Curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual; Curso de PósGraduação Lato Sensu em Cinema com ênfase em Produção; Cursos
de Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado Acadêmico em Cinema
e Artes do Vídeo e Mestrado Profissional em Artes da Universidade
Estadual do Paraná/Campus de Curitiba II - Unespar/FAP.
PARCERIA
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu – Mestrado e
Doutorado em Comunicação Universidade Federal do Paraná
- UFPR/DECOM/PPGCOM e SINAPSE - Laboratório de
Consumo, Criação e Cultura, projeto de extensão do curso de
Publicidade e Propaganda da UFPR.
APOIO
Cinemateca
Fundação Cultural de Curitiba
Cine Passeio.
PROGRAMAÇÃO
MESA-REDONDA “ESTUDOS DE CINEMA E PÚBLICOS - RECEPÇÃO E
ESPECTATORIALIDADE”
Profa. Dra. Nilda Jacks (PPGCOM/UFRGS)
Profa. Dra. Valquiria Michela John (PPGCOM/DECOM/UFPR)
Mediação: Dr. Anderson Lopes da SIlva. (GEliDis/USP/CNPq)
MESA-REDONDA “CINEMA E HISTÓRIA: PERSPECTIVAS
CONTEMPORÂNEAS”
Profa. Dra. Rosane Kaminski (PPGHIS/UFPR)
Profa. Dra. Izabel de Fátima Cruz Melo (ANPUH-BA/UNEB)
Profa. Dra. Carolina Amaral (PPGHS-UEL)
Mediação: Profa. Dra. Cláudio Priori (PPG-CINEAV/FAP/UNESPAR)
MESA-REDONDA “PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL NA AMÉRIA LATICA:
MÉXICO E ARGENTINA”
J. Ignacio Rodríguez (FILMOTECA AUTONOMA DO MÉXICO)
Alfonso Espinosa Rosas (CINEMATECA NACIONAL DO MÉXICO)
Laura Gomes (PRESER.AV)
Mediação: Profa. Dra. Solange Straube Stecz (PPGCOM-ARTES/FAP/UNESPAR)
MESA-REDONDA “CINEMA INDÍGENA NO BRASIL: UM PANORAMA
CONTEMPORÂNEO”
Sueli Maxakali
Isael Maxakali
Kamikia Kisêdje
Coletivo Audiovisual Munduruku
Graciela Guarani
Mediação: Profa. Dra. Camila Dutervil Moliterno Franco (FAP/UNESPAR)
MOSTRA DE CINEMA INDÍGENA BRASILEIRO
Sumário
EDITORIAL ............................................................................................................................................. 14
SIMPÓSIO 1: GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS E NARRATIVAS
HISTÓRIA, ATUALIDADE, DIÁLOGOS E SUBVERSÕES
A SUBVERSÃO DO GÊNERO DO HORROR POR GABRIELA AMARAL ALMEIDA ............... 19
Maria Luiza Correa da Silva
ENCENAÇÃO E ENCARNAÇÃO: A TRAJETÓRIA DAS MACUMBAS NO CINEMA
BRASILEIRO DOS ANOS 1970 .................................................................................................................... 27
Eduardo Martins Zimermann Camargo
UMA ANÁLISE SOBRE A NARRATIVA DE O PRIMEIRO DIA (1999) E SUA GEOGRAFIA
SOCIAL .................................................................................................................................................................... 35
Giovanni Rei Ribeiro Ojeda
Allana Calil Dotto Silva
Leonardo Gomes Esteves
OLHARES E OSCILAÇÕES DE GÊNERO EM MY MAD FAT DIARY...............................................44
Bárbara Murakami de Albuquerque
KEVIN CAN F*** HIMSELF: A SUBVERSÃO DA PERSONAGEM DA ESPOSA EM SITCOMS ....50
Gabriela Quadros Ribeiro
CONFLITOS ENTRE MATERNIDADE E CARREIRA EM GREY’S ANATOMY .............................58
Virgínia Jangrossi
O SUBURBANISMO FANTÁSTICO PERIFÉRICO ................................................................................. 67
Pedro Artur Baptista Lauria
O MITO, O REAL E O FANTÁSTICO EM PEIXE GRANDE E SUAS HISTÓRIAS
MARAVILHOSAS ................................................................................................................................................... 76
Stephanie Watanabe
A REPRESENTAÇÃO DA INDÚSTRIA CULTURAL NA FICÇÃO CIENTÍFICA: UM ESTUDO
SOBRE THEY LIVE (1988) ............................................................................................................................... 88
Victor Finkler Wachowski
LUCHINO VISCONTI E A SUBVERSÃO DO DRAMA HISTÓRICO EM LUDWIG ...................96
Luis Fernando Severo
REALISMO E MELODRAMA - SUBVERSÃO E CONTENÇÃO DO MATERIAL
MELODRAMÁTICO EM “LA FAMILIA” (2017) DE GUSTAVO RONDÓN CÓRDOVA ........ 103
Thiago Bezerra de A. Benites
SIMPÓSIO TEMÁTICO 2: CINEMA DE ANIMAÇÃO
PERSPECTIVAS, HIBRIDAÇÕES E POÉTICAS
O SOBRENATURAL É POP: IMAGENS DA ESPIRITUALIDADE NOS FILMES DA
DISNEY ................................................................................................................................................................ 117
Diego dos Santos
Hetz Wendell de Camargo
FRAGMENTAÇÕES E EXCESSOS: HIPERESTÍMULO E A CRISE DA NARRATIVA VISUAL
EM THE MIDNIGHT GOSPEL .................................................................................................................... 125
Lucas Soares de Souza
METÁFORAS EM PRETO, CINZA E VERMELHO: O PROCESSO DE CRIAÇÃO EM “PARE.
OLHE. ESCUTE”.................................................................................................................................... 133
Mariana Aguiar Neitzel
Felipe Hage Imbelloni
Luciana Reitenbach Viana
PUBLICIDADE E ELEMENTOS DA SEMIÓTICA TENSIVA NO FILME LOGORAMA ...........141
Ludmilla Martins Naves
SIMPÓSIO 3: MODERNO E CONTEMPORÂNEO
HISTÓRIA E ESTILO NO CINEMA
CINEMA ANTIRRACISTA BRASILEIRO: REFLEXÕES SOBRE CONGO (1972) E ALMA
NO OLHO (1974) .............................................................................................................................................153
Alvaro Luiz Nunes
ÉRIC ROHMER E AS ARMADILHAS DO ACASO EM “NOITES DE LUA CHEIA”
(1984) ..................................................................................................................................................................160
Giovanni Comodo
A FÁBRICA MÓVEIS CIMO S.A.: NEGÓCIOS E REDES DE EXIBIÇÃO ....................................169
Osvaldo Bruno Meca Santos da Silva
UMA ANÁLISE DO CURTA-METRAGEM VINIL VERDE (2004), DE KLEBER MENDONÇA
FILHO, COMO EXPRESSÃO DO CINEMA MODERNO PERNAMBUCANO ...................... 178
Marcella Wiffler Steffani
VÁRIAS CAMADAS DE UM FILME: ENTREVISTA COM O VAMPIRO (1994) E SUAS
CONEXÕES CINEMATOGRÁFICAS ............................................................................................... 187
Maytê Regina Vieira
LAURA E SANTA: ALEGORIA DA (I)MORALIDADE EM O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA
O SANTO GUERREIRO .................................................................................................................................. 196
Andrea Rosas de Almeida
MODERNO E CONTEMPORÂNEO: HISTÓRIA E ESTILO NO CINEMA REICHENBACH FILME DEMÊNCIA E OS ANOS 80 .......................................................................................................... 202
Cauê Costa Soares
A IDENTIDADE NACIONAL A PARTIR DOS MATERIAIS MITOLÓGICOS NA OBRA DE
LUIZ FERNANDO CARVALHO DOS ANOS 2000 ............................................................................. 210
Douglas Gasparin
IMAGENS CRUZADAS: IMAGINÁRIOS DO CORPO MASCULINO EM AMORES
IMAGINÁRIOS DE XAVIER DOLAN .......................................................................................................... 219
Rafael Alessandro Viana
REPRESENTAÇÕES DA DITADURA NAS ADAPTAÇÕES DE SÃO BERNARDO (1972) E
ELES NÃO USAM BLACK-TIE (1981) ...................................................................................................... 228
João Vitor Moreno Brunieri
CRIAÇÃO DO MIS PARANÁ E O CONTEXTO DA CULTURA DURANTE O REGIME MILITAR
NO BRASIL ......................................................................................................................................................... 237
Cristiane Senn
O ACERVO FAMILIAR REVISITADO E A ELABORAÇÃO DE NOVAS HISTÓRIAS ............. 246
Ana Paula Málaga Carreiro
SIMPÓSIO 4: DESIGN SONORO
PROCESSOS DE CRIAÇÃO
O SOM DO VENTO.............................................................................................................. 255
Mateo Felipe Bravo Ariza
VEROSSIMILHANÇA
EM
FOLEY:
USANDO
“MENTIRAS”
PARA
CRIAR
“REALIDADES” ................................................................................................................................................ 263
Juliano Carpen Schultz
Débora Regina Opolski
A CRIAÇÃO ARTÍSTICA NA DUBLAGEM ............................................................................................. 271
Felipe Renã Golim Stocco
Débora Regina Opolski
PROCESSOS
CRIATIVOS
COM
GRAVAÇÃO
DE
CAMPO,
PRÁTICAS
INTERDISCIPLINARES .................................................................................................................................. 280
Guilherme Farkas
O SILÊNCIO COMO PONTO DE PARTIDA PARA A CRIAÇÃO MUSICAL FÍLMICA ......... 289
Marina Marcon Moreira
FICÇÃO SERIADA “INSECURE”: REPRESENTATIVIDADE, PROTAGONISMO FEMININO
NEGRO E INFLUÊNCIA DE MULHERES NA COMPOSIÇÃO DA TRILHA SONORA .........297
Dyone Arruda Cypriano
Gabriela Santos Alves
O PAPEL NARRATIVO DA MÚSICA PARA GAMES: UMA ANÁLISE DA TRILHA SONORA DE
SHADOW OF THE COLOSSUS ................................................................................................................. 306
Vitor Collodetti Resende
SESSÕES DO PRO TOOLS COMO DOCUMENTOS DO PROCESSO CRIATIVO SONORO:
UM ESTUDO DE CASO ..................................................................................................................... 314
Rodrigo Carreiro
O DESIGN DE SOM DE LESLIE SHATZ: UMA ANÁLISE DE GERRY, DE GUS VAN
SANT ..................................................................................................................................................................... 321
Gabriela de Azevedo Sampaio
VER OS SONS, OUVIR AS IMAGENS: A MÚSICA VISUAL DE MARY ELLEN BUTE .......... 331
Vitor Droppa Wadowski Fonseca
Débora Regina Opolski
CHIPS, OSCILADORES E TONS - CHIPTUNES .................................................................................340
Gabriel Costa Madeira
Marcus Vinicius Marvila das Neves
SIMPÓSIO TEMÁTICO 5: IDENTIDADES E SEXUALIDADES NO AUDIOVISUAL
DA PRODUÇÃO À RECEPÇÃO
ELAS DOMINAM E ELES COSTURAM: “AS CONSQUÊNCIAS DO FEMINISMO” DE ALICE
GUY BLACHÉ.........................................................................................................................................349
Maritza Muniz dos Santos
IDENTIDADE, MEMÓRIA, CINEMA E HISTÓRIA: UM ESTUDO SOBRE “PARIS IS BURNING”
(1990) .................................................................................................................................................................... 359
Edson Ferreira Lopes Junior
Zeloi Aparecida Martins
OLGA FUTEMMA: DA AUTOBIOGRAFIA AO FILME-ENSAIO ................................................... 370
Hanna Henck Dias Esperança
MULHERES, TRÂNSITOS E PERTENCIMENTO: ANÁLISE DE UMA GEOGRAFIA DAS
DESIGUALDADES (2019), DE DAY RODRIGUES .............................................................................. 379
Karolyne Mendes Gomes
Gabriela Santos Alves
REPRESENTAÇÃO E AUTORIA FEMININAS EM “TENTEI”, DE LAÍS MELO ......................... 385
Ana Pellegrini Costa
IDENTIDADE DA MULHER DESCENDENTE DE IMIGRANTES ITALIANOS NO SUL DO
BRASIL REPRESENTADA NO CINEMA: A PERSONAGEM PIERINA NO ENREDO DE O
QUATRILHO ................................................................................................................................................. 395
Rafael José Bona
Juliano Godoi Moreira
A SUBVERSÃO PRESENTE NA CONSTRUÇÃO DA PROTAGONISTA ADA MCGRATH EM O
PIANO, DE JANE CAMPION........................................................................................................................ 403
Livia Salvatti Zanuni
CORPORIFICAÇÕES MASCULINAS DE BORDA, EM FOCO O MENINO E O VENTO DE
CHRISTENSEN .................................................................................................................................................. 414
Ricardo di Carlo Ferreira
“PEÇO PERDÃO E DESFAÇO EM MIM”: O CORPO-IMAGEM PERFORMATIVO E A
MASCULINIDADE NÃO-HEGEMÔNICA .............................................................................................. 424
Julia Gasparoto
CUÍRLOMBOS POSSÍVEIS: A CONSTRUÇÃO DE TERRITORIALIDADES NARRATIVAS POR
CORPOS TRANS EM “IAUARAETÊ” DE XAN MARÇALL ............................................................... 431
Leandro Stoffels
FEMINISMO E DECOLONIALIDADE NA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL DO COLETIVO
MUJERES CREANDO.......................................................................................................................... 440
Jéssica Faria Ribeiro
MÁS E MAIS: ARQUÉTIPOS E RUPTURAS ENTRE AS VILÃS DAS TELENOVELAS DO
HORÁRIO NOBRE NA REDE GLOBO (1980-2018) ......................................................................... 447
Beatriz Martins de Castro
Valquíria Michela John
ESTRATÉGIA DE VALÊNCIA EMOCIONAL NA RECEPÇÃO E PRODUÇÃO DE SENTIDO
EM CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS SOB A PERSPECTIVA DA NEUROCIÊNCIA DO
CONSUMO ........................................................................................................................................................ 456
Letícia Salem Herrmann Lima
Isabella Carolina Santos Franco
FACETAS FEMININAS E AS (IM)POSSIBILIDADES DA FICÇÃO CIENTÍFICA: UMA
ANÁLISE DAS PEREONAGENS NO FILME EXCITAÇÃO (1976) .................................................. 466
Carolina de Oliveira Silva
BLACK MIRROR E A EXPERIÊNCIA QUEER NOS VIDEOGAMES ............................................ 475
Bruno Ribeiro
SIMPÓSIO TEMÁTICO 6: CINEMA, VÍDEO E
CONVERGÊNCIAS MIDIÁTICAS
REFLEXÕES SOBRE AS TEORIAS DAS ARTES DO VÍDEO APLICADAS À LINGUAGEM DO
VIDEOGAME: PONTES E APROXIMAÇÕES ....................................................................................... 485
Waldir Segundo
ESTRATÉGIA TRANSMÍDIA: OS MUNDOS POSSÍVEIS NA SEMIOSFERA DO
TESSERATO ........................................................................................................................................................ 495
Rodrigo dos Santos Estorillio
TECNOLOGIAS PARA A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL SOLITÁRIA EM 2021 ....................... 505
Kelvin Cigognini
OS TRÂNSITOS TECNOESTÉTICOS MULTIMIDIÁTICOS: UMA REFLEXÃO SOBRE
VIDEOCLIPE E LYRIC VIDEO ..................................................................................................................... 517
Thaiane de Toledo
APROXIMAÇÕES ENTRE O DOCUMENTÁRIO POÉTICO E A MÚSICA VISUAL: UMA
PROPOSTA NÃO-HIERÁRQUICA PARA O FAZER FÍLMICO ...................................................... 528
Daniel Rojas da Silva
COMO CRIAR UM IDOL: UMA ANÁLISE DA CONSOLIDAÇÃO DA TRINDADE - INDÚSTRIA,
ÍDOLO E FÃ NO K-POP ........................................................................................................................... 538
Juliano Pasqualini
Mariana Maringolli
ASSERÇÕES E SUBJETIVIDADES: REALIDADES FOTOGRÁFICAS EM ANDARILHO DE
CAO GUIMARÃES ........................................................................................................................................... 545
Tiago Mendez Alvarez
O (RE) NASCIMENTO DE VÊNUS: TRANSMÍDIAS E RELEITURAS DE UM ÍCONE .......... 555
Helio Ricardo Sauthier
QUANDO A PEDAGOGIA DA UBIQUIDADE FAZ UM CORPO VÍDEO[DANÇAR]:
PROCESSO DE [TRANS]CRIAÇÃO DE SPECTRAL (2020) .............................................................. 566
Cristiano Wosniak
Helen de Aguiar
Juliana Virtuoso
PROCESSOS CRIATIVOS EM VIDEODANÇA: UM EXERCÍCIO REFLEXIVO DE CRÍTICA
DE PROCESSO A PARTIR DA CRIAÇÃO DA VIDEODANÇA ÂNSIA ....................................... 576
Daniela Sena Durães
“RACKEARAM O INSTAGRAM DO MAC DA USP”: GUSTAVO VON HA E A PRODUÇÃO
CRIATIVA MEMÉTICA ................................................................................................................................... 584
Brendo da Silva Carvalho
Raquel Assunção Oliveira
PROJETO CINEMA NO MARAJÓ E AS NARRATIVAS AUDIOVISUAIS EM BREVES E
MELGAÇO .............................................................................................................................................. 594
Denise Machado Cardoso
Alessando Ricardo Campos
Márcio Silva da Cruz
Felipe Bandeira Netto
A CINÉSICA DA CINÉ-TRANSE ................................................................................................................. 602
Camila Dutervil
TRAÇOS BRECHTIANOS EM ANTÍGONA DE STRAUB/HUILLET ............................................ 607
Lucas Gonçalves Rangel
Fábio Uchôa
A LUZ COMO PERSONAGEM EM MABOROSHI NO HIKARI (A LUZ DA ILUSÃO), DE
HIROKAZU KORE-EDA ................................................................................................................................ 619
Juliana Choma
Demian Garcia
SIMPÓSIO TEMÁTICO 7:
CINEMA BRASILEIRO E EDUCAÇÃO
SAÚDE MENTAL NA PERSPECTIVA DO DOCUMENTÁRIO EM NOME DA RAZÃO: UMA
HISTÓRIA NÃO CONTADA ......................................................................................................................... 627
India Mara Aparecida Dalavia de Souza Holleben
Julia Von Holleben
ESTUDO SOBRE O FILME DOCUDRAMA: “NISE: O CORAÇÃO DA LOUCURA” .............. 633
Christian Joe Kuhnen
Zeloi Ap. Martins
A OBRA “PARASITA” (2019) E O CONTRASTE HISTÓRICO SOCIOCULTURAL................. 641
Beatriz Marinho Tuletzki
Zeloi Ap. Martins
O FILME HISTÓRICO COMO UM MODO DE PENSAMENTO HISTÓRICO:
POSSIBILIDADES DE ANÁLISE A PARTIR DA OBRA ROBERT ROSENSTONE ................ 648
Zeloi Ap. Martins
A NOÇÃO DE “ESPECTADOR” NO QUE SE REFERE AO LUGAR OCUPADO POR QUEM
OLHA UMA OBRA FÍLMICA - UMA REFLEXÃO FOUCAULTIANA ........................................... 655
Nara Corrêa Vargas
Stela Maris da Silva
RELAÇÕES DIALÓGICAS ENTRE O DOCUMENTÁRIO ‘ALVORADA’ E O DUSCURSO DA
MÍDIA HEGÊMONICA SOBRE DILMA ROUSSEFF .......................................................................... 663
Wagner de Alcântara Aragão
MADAME SATÃ E O PAGADOR DE PROMESSAS: FOTOGRAFIA FÍLMICA E O
ESPECTADOR ................................................................................................................................................... 672
Manoelle Fuzaro Gullo
Salete Machado Sirino
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA E
LITERATURA BRASILEIRA, NO ESPAÇO ESCOLAR, A PARTIR DA PRODUÇÃO DE
DOCUMENTÁRIOS ........................................................................................................................................ 682
Miriam Galvan Pereira
Solange Straube Stecz
REFLEXÕES SOBRE O FILME TURMA DA MÔNICA – LAÇOS E A EDUCAÇÃO .................... 689
Bruna José Fontoura
Rodrigo Uliano
MEU MUNDO MINHA JANELA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA AUDIOVISUAL ............. 696
Carla Dalazem Cichocki
Solange Straube Stecz
AÇÕES EDUCATIVAS NO FESTIVAL DE CINEMA DA LAPA NA PANDEMIA ...................... 704
Dorotéia Werner da Silva
Salete Machado Sirino
UM ESTUDO SOBRE OS ASPECTOS DE CRIAÇÃO E DE PRODUÇÃO DE FIGURINO NOS
FILMES A TÍMIDA LUZ DE VELA DAS ÚLTIMAS ESPERANÇAS E CURITIBA ZERO GRAU ...... 713
Tania Maria dos Santos
EXPERIÊNCIA AUDIOVISUAL NO MEIO ESCOLAR: CINECLUBES ......................................... 723
Roberta Jorge da Silva Wisnlevski
Solange Straube Stecz
ESTUDO DE UM PROCESSO EXPERIMENTAL: FORMAÇÃO PEDAGÓGICA PELO
CINEMA ............................................................................................................................................................. 733
Márcia Regina Galvan Campos
Marcos Henrique Camargo
O CINEMA DE ANIMAÇÃO E A TAXONOMIA DE BLOOM COMO FORMA PARA INSERÇÃO
DO AUDIOVISUAL NO CONTEXTO ESCOLAR ................................................................................. 742
Marcia Maria Alvos
NÃO É NADA DISSO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A VINHETA DA ATLÂNTIDA
CINEMATOGRÁFICA ..................................................................................................................................... 750
Larissa Acosta Canavarros
Pablo Borges Paz
Leonardo Esteves
O FILME “BACURAU” (2019): A VISÃO ESTRANGEIRA E RESGATE DA MEMÓRIA
CANGACEIRA ................................................................................................................................................... 758
Sara Maciel Rodrigues
Zeloi Ap. Martins
EDITORIAL
Estes Anais de Artigos Completos partilham a escrita de estudos que fizeram
parte das comunicações orais ocorridas nos Simpósios Temáticos integrantes do 9º
Seminário Nacional Cinema em Perspectiva – edição online, evento realizado de 16
a 22 de setembro de 2021, por meio de videoconferências em decorrência dos protocolos de isolamento social impostos pela pandemia de COVID-19. O evento é promovido pelo Curso de Bacharelado em Cinema e Audiovisual, bem como pelos Cursos
de Pós-Graduação Stricto Sensu: Mestrado Acadêmico em Cinema e Artes do Vídeo
(PPG-CINEAV) e Mestrado Profissional em Artes (PPGArtes) da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) – campus de Curitiba II/Faculdade de Artes do Paraná.
Desde 2011, em caráter permanente no calendário acadêmico das atividades
científicas e culturais da Unespar, destaca-se que a realização desta edição de 2021
conta com a parceria entre os Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu da Unespar e o Programa de Mestrado e Doutorado em Comunicação (PPGCOM) da Universidade Federal do Paraná, com apoio cvultural do Cine Passeio - Fundação Cultural de
Curitiba.
Em 2021, os 7 Simpósios Temáticos do Cinema em Perspectiva aprovaram 131
propostas de comunicações advindas de pesquisadores de diversas instituições do
Paraná e do Brasil (Unespar – campus Curitiba II/FAP; Campo Mourão; Paranaguá e
Paranavaí, UFPR, UTFPR, UEL, UEM, UEM, UENC, UEPG, UFES, UFPA, UFSC, FAE,
FURB, UEMG, UFMG, ECA/USP, PUC-PR, PUC-GO, PUC-RJ, UFMT, UFP, UFF, UFJF,
UFPA, UFPE, UFRGS, UFSCar, UFRN, IFPR, UNESP, UNINTER, UNIANDRADE, UNICURITIBA, ANHEMBI/MORUMBI, UNICAMP, UNIFESP, UNIOESTE, UNIPAR, UNICESUMAR, UNIVALI) demonstrando o alcance do evento e a diversidade de origens
das pesquisas no campo do Cinema e das Artes do Vídeo.
Neste sentido, paulatinamente, o Seminário Nacional Cinema em Perspectiva
vem se apresentando como um referencial nas oportunidades de partilha acadêmica
de pesquisa na área do Cinema e das Artes do Vídeo, concretizando uma necessária
articulação do fazer universitário da Unespar com sua comunidade interna e com comunidades externas. Em outras palavras, os Simpósios deste evento têm constituído
um espaço propício para se discutir e socializar os resultados de pesquisas e realizações cinematográficas e audiovisuais concluídas ou em andamento e, desse modo,
contribuído com a expansão das pesquisas em Cinema e Artes do Vídeo e áreas afins,
proporcionando um importante espaço de interação entre professores, alunos e alunas, artistas e pesquisadores da Unespar, de outras IES e, inclusive, da Educação Básica.
14
Aqui, nestes Anais de Artigos Completos, estão publicados trabalhos que foram
disseminados nos seguintes Simpósios:
1) GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS E NARRATIVAS: HISTÓRIA, ATUALIDADE,
GÊNEROS E SUBVERSÕES – coordenado pelo professor doutor Fábio Luciano
Francener Pinheiro. A partir da noção de gênero como um conjunto de códigos
narrativos e visuais inseridos historicamente em uma complexa e mutável relação
entre criadores e público, o referido Simpósio abriu espaço para pesquisas que
debateram o gênero em seu potencial mais amplo de diálogos, hibridismos, citações e
transgressões, tais como: a referência ao trauma da escravidão no filme de horror na
produção nacional O Diabo Mora Aqui (2015) e o debate racial na mesma categoria
em Corra! (2017); as referências ao western em A Qualquer Custo (Hell or High
Water, 2016) e em Drive (2011); a implosão do melodrama tradicional na filmografia
de Almodóvar ou a presença crítica da categoria em Que Horas Ela Volta? (2015). No
cenário audiovisual contemporâneo, entre a televisão e as plataformas de streaming,
as narrativas seriadas jogam livremente com as regras genéricas: Westworld (western
como simulacro), Penny Deadfull (cruzamento de personagens), O Conto da Aia
(distopia feminista), Game of Thrones (fantasia medieval, melodrama e geopolítica).
2) CINEMA E ANIMAÇÃO: PERSPECTIVAS, HIBRIDAÇÕES E POÉTICAS –
coordenado pelas professoras doutoras Janiclei Mendonça e Márcia Maria Alves.
O simpósio propôs um espaço para a discussão de trabalhos que compreendem
a relação entre cinema e animação a partir de investigações do diálogo entre as
duas áreas, perpassando a estética, o estilo, a narrativa, como também a questão
da poética, da sonoridade, do gênero e do discurso, as relações entre identidade,
produção, distribuição e consumo das narrativas audiovisuais a partir do atual
panorama sociocultural e novas configurações midiáticas. O simpósio integrou textos
sobre reflexões, interpretações e teorias que apontaram para a evolução histórica do
cinema e da animação, estilos, produção de sentidos e tecnologias/técnicas aplicadas
ao cinema de animação e série de animação, bem como investigações que tiveram
como objeto de estudo produtos audiovisuais estruturados a partir da animação
em sua composição como videoclipe, curta e longa-metragem, série televisiva,
websérie, vinheta, abertura de série, filme publicitário, curta metragem publicitário,
institucionais e afins.
3) MODERNO E CONTEMPORÂNEO: HISTÓRIA E ESTILO NO CINEMA –
coordenado pela professora doutora Margarida Adamatti e pelo professor doutor
Fernando Seliprandy. O simpósio teve como objetivo promover uma discussão sobre
recentes formulações da história do cinema e das mais variadas formas de relação
entre cinema e história. Foram privilegiadas as questões de estilo, crítica, política
e pensamento do modernismo cinematográfico, considerando a sua inserção na
conjuntura de produção. A pauta se concentrou sobre a análise, a circularidade e o
15
intercâmbio de formas fílmicas ou de outros tipos de discursos e materiais que se
cristalizaram ao redor da prática cinematográfica a partir da década de 1950, quando se
estabeleceu um novo contexto de intervenção e criação. A formação contemporânea
de uma moderna cultura cinematográfica variou segundo sínteses dinâmicas entre
localismo e cosmopolitismo, elaborando modelos de apresentação e representação
projetados nas telas, dispostos em jornais e revistas ou presentes nos arquivos e
cinematecas. Assim sendo, as comunicações, neste Simpósio, versaram sobre os mais
diversos objetos: filmes, textos, mostras, instituições, sínteses históricas etc.
4) DESIGN SONORO: PROCESSOS DE CRIAÇÃO – coordenado pelos professores
doutores Débora Regina Opolski e Ulisses Galleto, assim como pelo professor
mestre Demian Garcia. Este simpósio discutiu aspectos voltados para a prática
do tratamento do som no cinema e no audiovisual, considerando a importância do
método para a realização dos processos de criação da trilha sonora da pré-produção à
finalização. Sendo assim, foram apresentados trabalhos que trataram dos diferentes
elementos de som: as vozes, os efeitos sonoros e a música, bem como pesquisas que
discutiram questões técnicas, narrativas e criativas relacionadas a toda a cadeia de
criação sonora do filme, desde o projeto inicial de criação até a mixagem no cinema e
no audiovisual. O Design sonoro é desenvolvido a partir de articulações entre várias
texturas e elementos que são modelados com o objetivo de construir uma narrativa
sonora cinematográfica. Em uma arte coletiva e com altos níveis de complexidade
técnica como o cinema, o método tem importância ressaltada, na medida em que os
procedimentos podem contribuir para que a expressividade artística seja explorada
e otimizada.
5) IDENTIDADES E SEXUALIDADES NO AUDIOVISUAL: DA PRODUÇÃO À
RECEPÇÃO – coordenado pelas professoras doutoras Regiane Ribeiro e Valquíria
John, além do professor doutor Anderson Lopes da Silva. A proposta do simpósio
reuniu pesquisas com foco nas temáticas da identidade e da sexualidade presentes nos
conteúdos midiáticos audiovisuais, especialmente a ficção seriada latino-americana
e norte-americana e o cinema, mas sem excluir outras narrativas audiovisuais e
outros países produtores. O objetivo foi discutir como as identidades e as práticas
da sexualidade são produzidas, representadas e recebidas a partir de narrativas
audiovisuais. A temática das identidades abarca aspectos como: gênero, etnicidade
e as suas mais diversas interseccionalidades; a sexualidade abarca temas ligados às
questões LGBTQ+ entre outros diversos aspectos. A proposta do simpósio, portanto,
foi congregar vários estudos, olhares e reflexões relacionados a essas duas grandes
temáticas e suas várias possibilidades de diálogos interseccionais, não apenas em
análises dos conteúdos audiovisuais, mas também dos processos de produção dessas
narrativas bem como suas formas de circulação, consumo e recepção.
6) CINEMA, VÍDEO E CONVERGÊNCIAS MIDIÁTICAS – coordenado pela
16
professora doutora Cristiane Wosniak. A partir das convergências entre as artes e as
comunicações, este Simpósio se propôs ao acolhimento das linguagens audiovisuais
híbridas como objeto de investigação. Importaram ao debate os processos de criação no
cinema e nas artes do vídeo, a crítica de processos, a crítica genética, filmes de autor/a,
pensamentos e atos teóricos vislumbrados em poéticas contemporâneas e vice-versa,
spots publicitários, videoclipes, videodanças, videogames, videoinstalação, trailers,
teasers, gifs, streaming, vlogs e outras manifestações audiovisuais que ocupam, na
contemporaneidade, variadas plataformas e espaços de visibilidade. O Simpósio
ainda acolheu os estudos sobre o corpo mediado pelas tecnologias de comunicação
e das múltiplas telas, seja no âmbito da criação artística ou no âmbito da educação, por meio das
pedagogias da ubiquidade na era digital.
7) CINEMA BRASILEIRO E EDUCAÇÃO – coordenado pelas professoras doutoras
Salete Sirino e Solange Straube Stecz. O Simpósio acolheu trabalhos que se
interessaram em discutir as lacunas existentes no aperfeiçoamento de professores
da Educação Básica, no que se refere à produção audiovisual na escola, como
componente curricular complementar, formação continuada dos professores para o
uso educativo do Cinema. O acesso à produção audiovisual brasileira é apenas uma
das faces da questão: cabe discutir os critérios de escolha dos filmes, a formação do
público a qualidade da exibição, conhecimentos não verbais vinculados ao som, à
imagem e ao movimento, entre outras cognições. O Simpósio teve como objetivo,
portanto, apresentar estudos sobre o Cinema Brasileiro, em especial, sobre os
aspectos criativos – roteiro, direção, arte, fotografia, montagem, som – imbricados
aos aspectos de produção e de difusão de cinema. O debate ainda incluiu questões
de preservação audiovisual e ações dentro e fora da escola referentes à produção e
fruição do audiovisual.
Agradecemos aos colegas que submeteram e disponibilizaram seus textos para
publicação nos Anais de Artigos Completos do 9º Seminário Nacional Cinema em
Perspectiva, bem como desejamos aos leitores instigantes diálogos.
Cristiane Wosniak e Pedro de Andrade Lima Faissol
Editores
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O mito, o real e o fantástico em Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
Stephanie Watanabe1
UAM-SP
RESUMO: O longa-metragem Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish, Tim Burton,
2003) apresenta duas tramas, uma real e outra imaginária, contadas por narradores nãoconfiáveis: um mentiroso e um investigador que desconhece a verdade. Busca-se compreender
como estes dois plots, a princípio tão dispares, poderiam se conectar, ao mesmo tempo em
que a linguagem cinematográfica revelaria ao expectador a experiência de uma investigação
pela verdade, lado a lado ao narrador. Este artigo se utiliza de conceitos de gênero em Todorov,
narrativa e linguagem em Bordwell, Thompson e Bruce Block, conceitos da Nova Hollywood
em Costa, e a representação de elementos de delírio a partir de Veyne, Marques e Young.
PALAVRAS-CHAVE: Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, mito, imaginário, fantástico, Bordwell.
ABSTRACT: The full-length film Big Fish (Tim Burton, 2003) combines a real and an imaginary plot,
both told by unreliable narrators: a liar and na investigator who doesnt know the truth yet. This paper
analyzes how these two diferente plots may be combined, as well as the cinematography should
present the audience the experience of discovering, along with the narrators. It relies on genre
concepts by Todorov, narrative and cinematography studiens on Bordwell, Thompson, and Bruce
Block, the New Hollywood on Costa, and the delusion representations by Veyne, Marques and Young.
KEY WORDS Big Fish, mith, imaginary, fantasy, Bordwell.
Introdução
Um jovem adulto, prestes a se tornar pai, é assombrado pelas memórias de sua infância. Tendo
um pai famoso e cheio de histórias mirabolantes sobre seus grandes feitos, Will cresceu sob a
sombra de seu holofote, pior, sabendo que seu pai sempre foi ausente durante seu crescimento,
ele parece ser o único a não sorrir quando ouve, pela milionésima vez, suas histórias. Peixe Grande e
Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish, Tim Burton, 2003) combina, à sua maneira, duas narrativas em
paralelo, duas jornadas de amadurecimento em temporalidades diferentes: a vida do pai, da infância
ao nascimento do filho, sob o olhar de suas histórias fantasiosas e claramente exageradas; e o olhar
cético e investigativo do filho, enquanto sai em uma jornada para descobrir mais sobre o verdadeiro
passado do pai. A obra, à sua maneira, combina gênero de fantasia, quando retrata os relatos do pai,
1
Stephanie Carolina Kodama de Oliveira Watanabe é doutoranda no Programa de Pós-graduação em
Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi, bolsista taxa pela CAPES. É graduada em Design de Animação (UAM,
2010), especialista em Produção Audiovisual (SENAC, 2013) e mestre em Comunicação Audiovisual (UAM, 2019). É
professora integral e coordena o curso de Cinema e Animação na FAAP. E-mail: profstephaniewatanabe@gmail.com.
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/2744319220100362.
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com o drama da realidade do filho e a morte do pai. Assim, se apropria das estéticas do gênero, ao
mesmo tempo em que realiza escolhas de cinematografia e linguagem audiovisual para evocar os
sentimentos variados destes dois narradores. A partir disso, este artigo pretende seguir por uma
análise da obra, a partir de estudos do gênero e narrativa em David Bordwell e Kristin Thompson, do
fantástico e do realismo fantástico em Tzvetan Todorov e da linguagem audiovisual em Bruce Block
e Renato Pucci Jr; e também observa como ocorre a representação destes elementos díspares na
obra, por meio de estudos do mito e do psicológico das personagens em Paul Veyne, Roberto Marques
e Skip Young. Estudos da Nova Holywood são observados em Antonio Costa, e do contemporâneo
são discutidos a partir de Alison Waller e Irmtraud Huber.
Vale observar que Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas é uma adaptação cinematográfica
da obra literária Big Fish: A Novel of Mythic Proportions, de Daniel Wallace, publicado em 1998.
Entretanto, não cabe a este artigo a análise da adaptação fílmica, e sim da obra cinematográfica
apenas, uma vez que as discussões caminhem pelas escolhas narrativas, estilísticas e estéticas do
filme.
Os Bloom
William Bloom, durante o próprio casamento, é, mais uma vez, colocado de lado. Os holofotes se
viram à famosa história do pai, Edward Bloom. Segundo o próprio, ele estaria a tentar capturar um
peixe lendário, gigante e “impescável”, que roubou sua aliança, enquanto a esposa dava luz a seu filho.
Edward enfatiza a importância da aliança como símbolo do seu amor. Todos riem no casamento, mas
Will repreende a atitude do pai, que estaria a se envergonhar sozinho. Três anos se passam sem que
pai e filho se falem, até que o câncer de Edward progride a nível terminal, a medicação é pausada e
Edward está acamado. Will e a esposa, agora grávida, voam e se hospedam na casa dos Bloom por
uns dias.
É evidente o carinho que Edward tem por sua esposa, mas Will sempre questionou o quanto suas
histórias poderiam encobrir segredos, como uma possível infidelidade do pai. Para ele, Edward não
é assim tão magnífico como todos dizem. Tendo acesso a cartas, fotos e antigas documentações,
além do depoimento da mãe, Will começa a investigar o passado de seu pai.
A obra assim, costura passado e presente, história e verdade, de maneira a combinar o que
Will sempre ouviu ao que realmente aconteceu. Até que seu pai vem a falecer e muito ainda não
é respondido. No velório, no entanto, vários amigos do passado, personagens ilustres de suas
histórias, surgem para prestar sentimentos à família e acabam por validar grande parte das histórias
do pai. Will finalmente reconhece no pai a imagem de um “Peixe Grande Lendário” e começa a passar
adiante as histórias dele, oralmente, a seu filho.
Dois mundos distantes: o realismo fantástico
A obra apoia-se em uma narrativa clássica, ou seja, não é conectada ao distanciamento causado
pela narrativa do filme arte, e sim clara, com uso de causalidade e referências constantes e concisas
de espaço e tempo (BORDWELL, 2005). Dentro desta narrativa, é comum observar a conexão de
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dois plots ou tramas2; no caso de Peixe Grande, há um plot real, ambientado no contemporâneo e
na investigação de Will, e um plot focado no imaginário, no passado e nas histórias contadas por
Edward sobre sua juventude. Entretanto, além da distância de sentidos e localidades, há uma
distância também de gêneros entre os plots.
Em se tratando do cinema contemporâneo, pós-moderno ou hipermoderno (LIPOVETSKY,
2011), é comum que este remeta a vários gêneros ou mesmo crie uma alusão a outros cinemas,
como afirma Carroll, “o alusionismo é um termo guarda-chuva que cobre práticas variadas como
citações, a memorização de gêneros do passado, a reconstrução desses gêneros, homenagens, e a
recriação de cenas clássicas, planos, tramas, diálogos, temas, gestos, e assim por diante” (CARROLL,
1998, p. 240, tradução da autora). Desta maneira, é concebível combinar o gênero de drama com o
gênero do fantástico dentro de uma mesma obra.
Tzvetan Todorov define o gênero do fantástico na literatura como um momento de hesitação
do leitor diante de acontecimentos sobrenaturais na história. Para que o fantástico se sustente,
é preciso que o leitor mergulhe na obra, presentificando aqueles eventos e personagens como se
fossem um mundo vivo. Mas, cabe ao leitor, partindo da hesitação, decidir se estes eventos seriam
uma ilusão de sentido, sem abalar as leis do mundo real - assim, a obra, segundo Todorov, pertenceria
ao gênero do estranho – ou, decidir ser convencido pela veracidade deste mundo mágico com suas
regras próprias, então, a obra pertenceria ao gênero do maravilhoso (TODOROV, 2012).
Compreende-se, desta forma, variados acontecimentos maravilhosos da trama como elementos
do fantástico: o peixe gigante super inteligente que se transforma em uma sereia encantada; o
nascimento de Edward Bloom, extremamente escorregadio pelos corredores do hospital; o rápido
crescimento de Edward, capaz de rasgar suas roupas; uma bruxa amigável, cujo olho de vidro
poderia informar o futuro e como quem o olha viria a morrer; um gigante gentil de mais de cinco
metros; gêmeas siamesas coreanas performáticas, cada extremidade com uma personalidade; uma
floresta encantada com galhos enfeitiçados; uma forte tempestade que inundou uma floresta e
prendeu o carro no topo de uma árvore; o tempo que pára quando Edward conhece Sandra; e uma
cidadezinha escondida dentro da floresta, cujo tempo parou dentro das antigas tradições sulistas
norte-americanas.
Entretanto, é importante lembrar que não se trata apenas do sobrenatural nesta obra, e sim de
uma constante oscilação entre real e imaginário, pelo olhar de dois personagens cujo psicológico
está abalado.
Assim, este artigo recorre ao conceito de realismo fantástico. Este é um gênero literário que tem
sua origem entre os séculos XVIII e XIX, sobretudo na França; onde o sobrenatural viria contestar
a racionalidade do Iluminismo, passando posteriormente para as narrativas cujos transtornos
psicológicos dos personagens, como loucura, alucinações e pesadelos, refletiam suas angústias
contemporâneas. Todorov cita A Metamorfose, de Kafka (1915), como exemplo. Já Malcolm Jones, ao
2
A trama, plot, ou syuzhet, é a forma na qual são organizados os eventos em sua narração. A trama na narrativa
clássica pode apresentar, geralmente, uma estrutura causal dupla, uma principal que pode girar em torno de um casal, e
a secundária que envolveria outra esfera: trabalho, guerra ou outras relações pessoais (BORDWELL, 2005, p. 280).
78
analisar o realismo fantástico em Dostoievsky, Bakhtin e Tolstói, aponta como os russos poderiam
se apoiar no fantástico para analisar a realidade de maneira mais poética ou espiritual, ou em uma
patológica distorção da realidade, reforçando o fato do fantástico sempre encontrar sua relação
com um evento contemporâneo real (JONES, 1990).
Para Todorov (2012), o realismo fantástico é reconhecido na literatura por acontecimentos
que não podem ser explicados pelas leis racionais, e o sobrenatural poderia se impor ao natural. O
fantástico se compõe a partir do encontro entre o maravilhoso e o estranho, criando um ambiente
narrativo de incerteza, desenvolvida na oposição entre o mundo natural e o sobrenatural. Assim, o
gênero depende não apenas na maneira como o autor escreve, mas sim da maneira como o leitor
decide compreender a obra: este deve criar um pacto com este fantástico, aceitando as regras
únicas deste universo ficcional como algo vivo e próprio, ainda que fictício.
Imbricado entre a ficção e a realidade, o formato narrativo e conceitual do realismo fantástico
também foi absorvido pelo cinema, ora se mesclando ou se encaixando em outros gêneros e
movimentos, como visto nas Vanguardas, no Filme Arte, no Expressionismo Alemão, no Horror
Fantástico, e mesmo no cinema pós-moderno de alusão, como visto em em O Labirinto do Fauno,
Onde Vivem os Monstros, Dois Caras Legais, Perdi Meu Corpo, entre outros.
Se na literatura o gênero literário do fantástico dependia do pacto com o leitor, no cinema, essa
concretização se realiza a partir de regras estilísticas bem definidas desde o início do cinema clássico,
e que devem se manter durante toda a obra audiovisual. Para Bordwell e Thompson (2013, p. 475476), o estilo e o gênero partem de convenções formais que se conectam à expectativa do público,
ou seja, a partir do momento em que o público reconhece certos elementos narrativos, estruturais,
sonoros, de cor, iluminação, contraste, montagem, e escolha de planos, ele pode reconhecer um
gênero ou estilo e já sabe o que esperar daquela obra. Assim, o pacto é assegurado, uma vez que
o estilo seja capaz também, de moldar significados (ibidem, p. 479), como em um jogo entre obra
e espectador (LYRA, 2018). Estas normas estilísticas podem ir além de um só gênero e fazer parte
também do conjunto de obras de um certo diretor, por exemplo, as obras de Tim Burton, diretor de
Peixe Grande.
Assim, quando o espectador testemunha o universo onírico fantasioso criado por Edward,
este mundo maravilhoso é presentificado por meio do estilo único do diretor: uma combinação do
horror com o fantástico, do sobrenatural com o mágico, estéticas próprias já conferidas em Batman,
O Estranho Mundo de Jack, Edward Mãos-de Tesoura, entre outros. Mas, quando o espectador sai do
delírio e vem ao mundo real, lhe é apresentado o gênero dramático, em uma estética menos colorida
e mágica, até incomum ao diretor, mais apática, doente e cética, tal qual o olhar e a realidade de Will:
seu pai está morrendo e eles precisam melhorar essa relação.
Grande parte da conexão entre estes dois plots, dois gêneros, e dois mundos diferentes é
feita por meio do “gancho de diálogo”, proposto por Thompson. Segundo a autora, obras clássicas
costumam conectar uma cena a outra por meio de um continuísmo indicado por uma frase dita na
cena anterior. No exemplo dado pela autora, Jurassic Park, a dra. Ellie Grant pergunta ao dono do
79
parque como este trouxe de volta à vida estas criaturas extintas, ele responde “Vou lhe mostrar”, e
a cena seguinte é uma continuação desta frase vista de maneira visual: conhecemos o laboratório
genético (THOMPSON, 2003, p. 24). Em Peixe Grande, estes diálogos conectores surgem quando
Edward começa a contar uma história, ou mesmo por meio da narração de Will.
O narrador não-confiável e a jornada do espectador
Diversos autores como Booth, Nunning, Zerweck e Cohn, já apontaram variadas possibilidades
para teorizar o narrador não-confiável e há uma constante problemática nesta teorização: de
um lado, a obra poderia apresentar um narrador com problemas de inconsistências ou mesmos
devaneios, mas também um narrador cuja moral e pontos de vista sejam opostos ao do leitor. Mais
uma vez, dentro da literatura, este conceito dependeria do ponto de vista do leitor e da forma como
este optaria por ler.
Já em Peixe Grande, a narrativa não permite a dúvida: nenhum dos dois narradores é confiável.
Por meio dos diálogos, somos levados a crer que Edward Bloom adora ser envolvido e admirado por
suas histórias, e, segundo Will, nada do que ele afirma realmente aconteceu. Edward não estaria
ocupado pescando um peixe gigante enquanto sua esposa entrava em trabalho de parto; ele estava
em outro estado trabalhando como comerciante, vendendo os produtos inovadores de sua empresa.
Logo, desde o início da obra, somos informados que Edward não é confiável em seus discursos, e
tampouco Will seria, já que ele realmente não sabe o que de fato aconteceu. Assim, a trama segue
sua jornada de investigação, costurando os relatos dos dois.
A obra assim, investe na montagem paralela3, ora ilustrando imageticamente as histórias de
Edward, ora acompanhando Will, como forma de aproximar passado e presente, realidade e ficção.
A ordem dos eventos da montagem, e o fato do narrador não ser onisciente são elementos
narrativos cruciais para que, ao final da obra, durante o velório, o expectador descubra a verdade
juntamente com Will. Outro elemento para fortalecer essa relação do espectador enquanto
investigador juntamente ao protagonista é a linguagem audiovisual.
Para Bruce Block (2010), as escolhas visuais de cada quadro sozinho já compõem uma narrativa
visual. Para Young (2014), Bordwell e Thompson (2013), a sequência da decupagem implica em
uma produção de sentido. O diretor, assim, não direciona somente atores e técnicos, mas também a
atenção do público. Já em Plate (2017), observa-se como a decupagem poderia vir a fortalecer uma
representação do imaginário.
3
Para Marie-Therèse Journot, a montagem paralela alterna uma série de imagens que não têm entre si qualquer
relação de simultaneidade. “É discursiva, e não narrativa, utilizada para fins retóricos e de simbolização, para criar
efeitos de comparação ou de contraste” (JOURNOT, 2005, p. 103).
80
Imagem 1 – O Gigante
À esquerda, observa-se a narração da história de Edward, segundo ele, o gigante possuía mais de cinco metros e poderia matá-lo
apenas com seus dedos. À direita, a presença de Karl no velório de Edward, um homem alto que sofre de gigantismo. Fonte: PLATE,
2017.
Na imagem 1, por exemplo, observa-se a veracidade dos fatos contados por Edward, entretanto,
recheados de exagero. A título de comparação, ao revelar o gigante sob o olhar das histórias de
Edward, Karl é enquadrado em plongeé4, potencializando a diferença de altura entre os dois. Durante
o velório, entretanto, Karl está entre os outros amigos de Edward, enquadrado em uma câmera reta,
de frente, revelando que sua altura não era monstruosa nem fora do comum a ponto de ser motivo
de medo para uma cidade inteira.
Imagem 2 – As Gêmeas “Siamesas”
As gêmeas siamesas eram, na realidade, apenas gêmeas idênticas. Fonte: DVD.
Já na imagem 2, acima, há a representação do relato de Edward Bloom, em suas histórias, as
gêmeas coreanas eram siamesas, conectadas por um mesmo par de pernas. Abaixo, durante o velório,
4
Plongeé, dentro da linguagem cinematográfica, é um enquadramento na qual a câmera se posiciona de
maneira mais alta que os personagens, levemente curvada, como se olhasse para baixo (PUCCI, 2009, p.270).
81
Will e sua esposa se sentam em uma cadeira e possuem parte da vista obstruída pelos convidados.
De repente, reparam em Ping e Jing, conversando, em um primeiro plano5, de maneira a não revelar
suas pernas. O casal as percebe, surpresos, até que um dos personagens acompanha uma das gêmeas
para fora do plano, e em seguida vemos a reação de ambos, um pouco desapontados. Nestes dois
exemplos, a escolha dos planos foi crucial para que houvesse uma surpresa, aproximando a reação
do público à reação do protagonista.
Já em outros momentos, a direção se apoia em outros elementos estilísticos e estéticos. No caso
da bruxa, por exemplo, Will sabia que era apenas uma história de criança, e que a bruxa poderia ser
apenas uma idosa que morava na cidade de seu pai. Até que Jenny lhe conta que, para Edward, ela
envelheceria um dia e se tornaria a bruxa da infância dele, fechando um grande ciclo. Will, ainda
cético, acha isso um absurdo, sentindo o fenômeno do estranho; mas Jenny acredita que, dentro do
imaginário diferenciado de Edward, isso faz sentido, como que compactuando com o fantástico e o
maravilhoso de sua história. Assim, quando Jenny envelhece e Will a visita, o filme recorre ao uso
da mesma atriz que performa a bruxa, e o mesmo penteado de cabelo. Como na história da bruxa, a
casa de Jenny também se torna uma mansão que range e seu entorno se torna pântano.
Imagem 3 – A “Bruxa”
Helena Bonham Carter, como Jenny, a amiga de Edward, e como a Bruxa. Fonte: DVD.
Em se tratando do fantástico no cinema, em diversas vezes ele foi reforçado por elementos
de efeitos especiais e visuais, além da maquiagem e da construção de cenários diferenciados,
algo que seria possível após os anos 1990 e a evolução da tecnologia digital. Em Peixe Grande,
isso é aproveitado com o advento da tecnologia de CGI na construção do peixe lendário, do bebê
escorregadio no hospital, nos galhos enfeitiçados que atacam Edward na floresta, e nas pipocas que
congelam junto com o tempo no circo.
5
O primeiro plano é um enquadramento que corta o personagem de seu peito até pouco acima da cabeça.
(PUCCI, 2009, p.270).
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Imagem 4 – O uso de CGI no fantástico
Elementos de composição digital com CGI para reforçar o elemento fantástico: pipocas que flutuam no tempo
congelado e um peixe gigante. Fonte: DVD.
Um novo mentiroso que acredita em suas mentiras
Enquanto seu pai piora de saúde e é internado no hospital, Will visitava a antiga e fantasiosa
cidade de Spectre e Jenny – que de fato existiam. Lá, a antiga amiga de seu pai desmistifica a suspeita
de Will de que Edward teria uma segunda família, ou mesmo um caso com Jenny. Ela reforça que
sempre sonhou com isso, mas Edward sempre preferiu seu trabalho, sua esposa e seu filho. Assim,
ela declara, que, na realidade, Edward sempre teve muito mais tempo para o próprio filho e para a
família do que realmente para ela e outros amigos, ao contrário do que o próprio Will se lembrava.
Ao chegar no hospital, o médico da família relata em pouquíssimas palavras e certa frieza a verdade
sobre o parto de Will: foi um parto simples e sem complicações, e na época era incomum o pai estar
presente no parto, então não fazia diferença alguma ele estar em outro estado. Dr. Bennett confessa
que se pudesse, escolheria a versão fantasiosa do pai pescador ao invés desta história chata que ele
acabara de contar.
Confortado com a verdade vinda de Jenny, Will aceita que muitas coisas eram fantasiosas, mas
havia uma parte de verdade e de carinho nas histórias do pai para com ele. O filho toma o perfil
de contador de histórias do pai, abraça seus mitos, e narra como ele seria agraciado por todos os
personagens de suas histórias em seu enterro, como em uma grande festa.
Para Veyne, a mitologia tem sempre algo de fantástico e de sobrenatural, entretanto, dentro de
todo este místico e absurdo, deve haver regras no mito para que sejam credíveis ou mesmo aceitáveis
(VEYNE, 2014). Para Will, naquele ponto, no hospital, era possível aceitar aquelas meias verdades
recheadas de exagero, porque de fato algo de explorador e aventureiro deveria ter tirado seu pai
da cidade natal; algo de diferente e fantástico o atraiu a Spectre, uma cidade no meio da floresta;
há algo de mágico em se apaixonar, como se o tempo realmente parasse, e havia muita saudade e o
pensamento na esposa enquanto ela paria seu filho de longe, como se um compromisso ou um peixe
mágico roubasse o símbolo do seu amor, sua aliança de casamento.
O delírio como frustração no contemporâneo
Se o gênero literário de realismo fantástico surge apontando o sobrenatural como objetificação
83
das frustrações do contemporâneo, falta analisar quais seriam estas frustrações. Roberto Marques,
ao analisar estes eventos no cinema, intitula-os como uma objetificação imaginária do real, ou
seja, o sobrenatural, o fantástico ou maravilhoso ilustrariam um desejo real de uma personagem
dentro daquele contexto histórico. Ele aponta como exemplo Pássaros, de Hitchcock, e como as aves
ilustrariam, de maneira lúdica, a frustração de uma mãe a perder o filho para a mulher pela qual ele
está apaixonado (MARQUES, 2015, p.77).
No caso de Peixe Grande, essa objetificação imaginária do real surge de maneira literal - Edward
conta uma história e as imagens ilustram esta história a partir de seu diálogo - e não de um sentimento
não mencionado, ou alegórico para carregar toda a trama, como em Pássaros. Porém, vale observar
que em Edward, há um desejo egocêntrico de ser o centro das atenções toda vez que conta uma
anedota, como o caso dos papagaios que só não falam sobre religião, para evitarem conflitos. Mas,
quando se trata de sua própria história, enfatiza todo o esforço que viveu, desde jovem, em prol de
prover para a esposa e o filho que tanto ama uma casa grande com piscina e cercas brancas, típica
do american way of life, da época. Todas as fantasias exageradas, como um assalto ou a perseguição
a um peixe-sereia servem como desculpa para justificar uma ausência causada pelo trabalho e pelo
desejo de fazer o bem à cidade de Spectre, reforçando sua boa índole. No caso de Will, ele adere as
histórias e as conta ao filho como forma de se conectar e se lembrar do pai, curando essa perda e o
distanciamento que tiveram por anos.
Neste sentido, as histórias convergem ao mesmo ponto: o período de amadurecimento dos dois
personagens. De acordo com Alison Waller, o realismo fantástico possui uma proximidade com a
construção da adolescência e a transição à vida adulta. Para Waller, o jovem em amadurecimento se
apega aos simbolismos do fantástico para criação de identidades (WALLER, 2010).
Já Huber (2015) vê estes elementos do pós-moderno com certa ironia. Surgindo após movimentos
revolucionários dos anos 60 e 70, ele aponta que as narrativas literárias pós-modernas não possuem
a intenção de chocar, subverter, expor, reconstruir ou de se rebelar, ao contrário, migram ao
conservadorismo, com tramas que enfocam a responsabilidade, comunidade, compromisso, valores
e reconciliação, mesmo que de maneira superficial.
Neste sentido, vale até analisar o olhar do próprio cinema neste contexto histórico. Nos anos
1960, o cinema de longa-metragem estadunidense passava por uma crise com o desmantelamento
do monopólio das majors com as leis antitruste, e a competição com a televisão. Desta maneira,
vivenciava baixos números de bilheteria e de produção de obras. Além disso, nos anos 1970, surgia
o vídeo cassete, que possibilitava a reassistibilidade. Assim, o cinema adquiriria novas estratégias,
nos anos 1970 e 1980, para retomar o perfil industrial. Isto incluiria abarcar um público maior,
atraindo também o público jovem; obras de baixo orçamento; atenção à política e aos costumes;
uma escolha rigorosa do tema da obra, revisitando ou mesclando gêneros clássicos; e uso de intensa
publicidade e marketing para seduzir ainda mais consumidores a colaborar com as bilheterias – e
com o consumo de suas obras também, a posteriori, em mídia física. Desta maneira, nasce o cinema
blockbuster, ou a Nova Hollywood, com obras de grande bilheteria, como Guerra nas Estrelas – Uma
Nova Esperança e Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, que, abarcando um amplo público,
84
poderia apresentar discussões e situações pertinentes ao mundo adulto, ainda que incluindo ícones
do imaginário infantil, como heróis, e um humor de simples compreensão para os pequenos. (COSTA,
2003, p. 135-140)
Assim, percebemos uma aproximação entre as temáticas abordadas pelo cinema e pela literatura.
Dentre vários assuntos que emergem, segundo Huber, um deles é o desejo de buscar o pai ausente,
como visto nas obras literárias de Mark Z. Danielewski, Dave Eggers, Yann Mantel, David Mitchell.
Ironicamente, o jovem conservador contemporâneo anseia pela reconciliação com aquele que
estaria envolvido com assuntos de liberdade e de revolução. Desta maneira, para Huber, o filme e o
livro Peixe Grande também oscilariam, além de realidade e ficção, entre liberdade e compromisso, o
moderno e o pós-moderno (HUBER, 2015).
Neste sentido, as histórias são uma maneira de manter viva a saudade de um tempo aventureiro
e revolucionário de Edward que ficou para trás: a partir do momento em que Will nasce, as histórias
acabam e viram meras anedotas de papagaios e política, Edward opta por traçar um compromisso
com sua família. Jenny reforça que depois que não havia mais o que salvar de Spectre, Eddie
nunca mais voltara a visitá-la. Assim, é feita a ironia, a saudade da revolução e dos sentimentos de
liberdade ao lado do desejo aos bons costumes, tão comum em uma realidade de Amplo Presente
(GUMBRETCH, 2015), na qual passado e presente coabitam.
Peixe Grande, a título de conclusão
Unir elementos, a princípio tão díspares, parece um trabalho desprendido das possibilidades do
cinema, e há séculos já discutido e aprofundado pela literatura no realismo fantástico. Entretanto, é
justamente pelo cinema contemporâneo, a partir do pós-moderno de alusão que esta possibilidade
se faz presente, unindo cinemas, unindo gêneros e elementos variados. Adaptar o gênero literário
de realismo fantástico se faz possível no cinema por meio de combinações estilísticas, estéticas,
técnicas, artísticas de maquiagem e de tecnologia, e de união de gêneros cinematográficos, como o
drama e o fantástico, nesta obra analisada.
Essa concretização no cinema é mais feliz que a literatura, uma vez que não depende de uma
interpretação diferenciada do leitor: o expectador do cinema já sabe reconhecer os gêneros e já
sabe o que esperar e sentir a partir deles. O mesmo com a escolha de linguagem e montagem da
obra. Entretanto, aos mais sonhadores e aos mais céticos, há um protagonista para cada lado que o
público escolha se identificar.
A partir de tantos anos de narrativa clássica e estudos da análise fílmica e da montagem, observase como sutilezas como um corte ou o ângulo da câmera podem contribuir a uma experiência muito
mais imersiva ao expectador, enquanto investigador ao lado do protagonista jovem.
Jovem este que surge após os formatos conservadores do pós-moderno e da Nova Hollywood,
desejando revisitar olhares à família tradicional, ao mesmo tempo em que questiona, ironicamente,
o american way of life e a liberdade vividas por seu pai. A dualidade, assim, se faz presente até nas
motivações e questionamentos do filho. Entretanto, isso não causa estranhamento, pelo contrário,
85
a constante tensão entre passado e presente é parte do contemporâneo.
Esta é a grande questão e a grande felicidade da obra, suas várias dualidades que teimam em
aproximar e questionar universos agora, simultaneamente, tão próximos e distantes: delírio e
realidade, passado e presente, moderno e pós-moderno, cético e sonhador, revolucionário e
conservador. De maneira orgânica, fluída e bem realizada, Peixe Grande cumpre a promessa de
trazer ao expectador a experiência destes dois mundos.
Referências Bibliográficas
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BLOCK, Bruce. A Narrativa Visual. Amsterdã: Elsevier, 2010.
BORDWELL, David. “O cinema clássico hollywoodiano normas e princípios narrativos”. In:
RAMOS, Fernão. Teoria Contemporânea do Cinema, volume II. São Paulo: Editora SENAC, 2005.
BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. A Arte do Cinema: Uma Introdução. Campinas:
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CARROLL, Noël. Interpreting the movie image. Cambridge University Press: United Kingdom,
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GUMBRECHT, Hans Ulrich. “Amplo Presente”. Revista Redescrições, Ano 3, Número 4, p. 23-43,
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HUBER, Irmtraud. Of missing fathers and Big Fish: reconstructive tendencies after
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JONES, Malcolm. Dostoyevsky after Bakhtin: readings in Dostoyevsky’s fantastic realism.
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JOURNOT, Marie-Therèse. Vocabulário de Cinema. Lisboa: Edições 70, 2005.
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FICHA TÉCNICA
Título: Anais de Artigos Completos do 9º Seminário Nacional Cinema em Perspectiva
Editores: Cristiane Wosniak e Pedro de Andrade Lima Faissol
Diagramação: Bárbara Murakami de Albuquerque
Ano: 2021
ISSN: 2317-8930
www.cinemaemperspectiva.com
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