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Desenvolvimento Curricular e Didática As condições materiais da prática da educação física no 1º CEB – um olhar qualitativo dos gestores The material conditions of the practice of physical education in the elementary school - a qualitative look of managers Rui Neves Departamento de Educação e Psicologia / Centro de Investigação em Didática e Tecnologia naFormação de Formadores Universidade de Aveiro Portugal rneves@ua.pt Resumo O presente estudo centra-se na análise das condições materiais do desenvolvimento da educação física (EF) nas escolas do 1º ciclo do ensino básico (1º ceb), com base nas perspetivas dos gestores das escolas com responsabilidades sobre este nível de ensino. Foram inquiridos através de um questionário, 14 professores do 1º ceb em funções de gestão na direção de Agrupamentos de Escolas na região de Aveiro (Portugal) que responderam às questões: i) “Como caracteriza a qualidade das condições materiais da área da EF nas escolas do 1º ceb do agrupamento (muito más; más; razoáveis; boas; muito boas ou excelente); ii) Porquê? (questão aberta); iii) qual o contexto de realização das aulas de EF mais utilizado?; iv Justifique (questão aberta). Os dados foram tratados em termos de análise de conteúdo e evidenciaram que os gestores identificaram uma diversidade de condições materiais para a EF nas escolas do 1º ceb, entre agrupamentos e também no interior de alguns agrupamentos. Há uma perceção global positiva sobre as condições materiais para o desenvolvimento da EF, apesar da diferenciação existente entre escolas. Palavras-chave: escolas 1º ceb, gestores, condições materiais, educação física Abstract This study focuses on the analysis of the material conditions of the development of physical education (PE) in schools of elementary schools, based on the perspectives of managers of schools with responsibility for this level. Were surveyed through a questionnaire, 14 teachers of the elementary schools management functions toward school groups in the region of Aveiro (Portugal) who responded to the questions: i) “How do you characterize the quality of the material conditions of the EF area schools 1st ceb grouping (very bad, bad, reasonable, good, very good or excellent); ii) Why? (Open question); iii) that the realization of the context of PE classes most used ?; iv Justify (open question). The data were analyzed in terms of content analysis and showed that managers have identified a variety of material conditions for the PE elementary schools, between groups and also within some groups. There is a positive overall perception on the material conditions for the development of PE, in spite of the difference between schools. Keywords: elementary school, managers, material conditions, physical education, CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 Resume Cette étude porte sur l’analyse des conditions matérielles du développement de l’éducation physique (EF) dans les écoles du 1er cycle de l’enseignement fondamental (1er ceb), sur la base des points de vue des gestionnaires des écoles responsables de ce niveau. Ont été interrogés par le biais d’un questionnaire, 14 enseignants des fonctions de gestion envers les groupes scolaires dans la région d’Aveiro (Portugal) qui ont répondu aux questions suivantes: i) «Comment caractérisez-vous la qualité des conditions matérielles des écoles de la région EF 1er regroupement (très mauvais, mauvais, raisonnable, bon, très bon ou excellent); ii) Pourquoi? (Question ouverte); iii) que la réalisation du contexte des classes de PE plus utilisé?; iv) Justifier (question ouverte). Les données ont été analysées en termes d’analyse de contenu et ont montré que les gestionnaires ont identifié une variété de conditions matérielles pour les écoles EF du 1er ceb, entre les groupes et aussi au sein de certains groupes. Il y a une perception globale positive sur les conditions matérielles pour le développement du PE, en dépit de la différence entre les écoles. Mots-clés - écoles du 1er cycle de l’enseignement fondamental, gestionnaires, conditions matérielles, de l’éducation physique Introdução A área de Educação Física (EF) carateriza-se por necessitar de espaços, equipamentos e materiais específicos que contribuam para as aprendizagens dos alunos. Em vários estudos (Neves, 1997; Cordoba, 2002) os professores do 1º ceb têm apresentado a ausência de condições materiais como uma forte barreira ao desenvolvimento curricular desta área. Nos anos 90 e decorrente da Reforma Educativa, Fernandes et al. (1994:37), num estudo junto de 136 professores do ensino oficial, particular e cooperativo, a lecionar os novos programas de EF no 4º ano de escolaridade, no ano letivo de 1992/1993, concluíram que a maioria dos professores experimentadores considera que é apenas na área de Expressão e Educação Físico Motora que frequentemente não tem possibilidades de implementar algumas atividades por não dispor de material didático suficiente e adequado. Também Monteiro (1996) na identificação das condições materiais da EF nas escolas do 1º ceb é bastante duro quando refere que as instalações para a EF no 1º ceb caracterizam-se pela sua ausência quase total ou pela inadequação aos propósitos da atividade física educativa das crianças neste nível de ensino (idem, 1996, pp. 56). Para os professores do 1º CEB os recursos materiais não são fator de maior frequência ou regularidade na abordagem da EF, argumentando por outro lado que a afetação de bons recursos contribuiriam para aumentar a sua motivação para lecionar esta área (Miranda, 2002), que consideravam globalmente insuficientes. No âmbito da nota prévia ao estudo elaborado pelo ME (2005:2) refere-se que “Justifica-se, igualmente, pela necessidade de integrar as escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico na mesma lógica de preocupações e orientações, tanto no que respeita à natureza da organização escolar (agrupamentos verticais), como na clarificação dos aspetos associados à problemática da área curricular da EF neste nível de ensino. Assim, a opção por elaborar um documento que integre todos os níveis de ensino básico e secundário permite equacionar o planeamento das instalações CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 27 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 numa perspetiva integrada, como é desejável, e reforça uma visão articulada dos currículos”. Neste documento são definidas diversas tipologias de instalações escolares para a EF no 1º CEB de natureza a saber: i) Espaços de ensino exteriores não cobertos (área do espaço de exploração e aventura e/ou ginásio ao ar livre com zona dedicada a jogos e espaço verde); ii) Espaços de ensino exteriores cobertos (campo polivalente de jogos coberto sobre Exploração e Aventura); iii) Espaços de ensino interiores (ginásio constituído por campo polivalente de jogos); iv) Espaços auxiliares e de apoio (vestiários, balneários, salas, arrecadações, gabinetes, instalações sanitárias); v) Espaços para espectadores (galerias ou bancadas). Os professores têm consciência da importância dos recursos materiais para o sucesso na aprendizagem em EF mas, no entanto não consideram que este seja hoje um fator determinante na regularidade e qualidade da EF no 1º CEB, perceção esta mais forte por parte dos professores do 1º ceb que manifestam crenças, atitudes e práticas mais positivas para com a área de EF (Neves, 2007). Esta questão considerada como um fator problemático em diversos estudos sobre a abordagem da EF (Branco, 1994; Neves, 1997, 2003), surge com poder de diferenciação entre os professores, em função da sua experiência docente, mas com muito menor influência para a prática da EF na escola do 1º ceb, comparativamente com outros fatores como os alunos, o gosto e satisfação na prática de AFD, ideologia profissional, satisfação e desenvolvimento profissional (Neves, 2007). Mais recentemente através da redução do número de escolas do 1º ceb e a edificação de novos centros educativos na maioria dos concelhos do país, passaram na maior parte das situações, a esta carência ter sido ultrapassada, ainda que não correspondendo na íntegra a todas as sugestões do documento atrás referido (ME, 2005). Em alguns países da Europa uma das prioridades atuais no âmbito do desenvolvimento das atividades físicas (AF) prende-se com a melhoria das condições sob as quais se realiza a prática desportiva nas escolas e com a modernização das instalações desportivas e dos equipamentos (CE, 2013). Lounsbery et al. (2011) salientam a importância de mobilizar os responsáveis das escolas para o conhecimento das barreiras ao desenvolvimento da EF. Isto porque “a EF é encarada como uma forma de inspirar as crianças e os jovens a experimentar diferentes AF, para que se sintam depois motivados a desfrutar desse tipo de atividade de forma recreativa ao longo de toda a sua vida. Por vezes, há fatores práticos que condicionam significativamente a escolha de determinadas atividades obrigatórias oferecidas pelas escolas, sendo que estas necessitam de estar aptas a oferecer instalações e equipamentos apropriados para o ensino de EF” (CE, 2013 pp 22). Metodologia O presente estudo de características exploratórias e de natureza qualitativa incidiu sobre a perceção daqueles que nos Agrupamentos de Escolas (AE) possuem a responsabilidade de supervisionar pedagógica e cientificamente o trabalho docente ao nível das escolas do 1º ceb. Assim, inquirimos através de um questionário 14 responsáveis adjuntos do Diretor de cada Agrupamento de Escolas (AE) sobre as suas perceções acerca das condições materiais para o desenvolvimento da EF nas escolas do 1º ceb do seu AE. CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 28 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 Caraterísticas do contexto e grupo de estudo Os adjuntos da direção dos AE são 14 docentes (11 sexo feminino e 3 sexo masculino) com funções de coordenação científica e pedagógica do 1º ceb, com uma média de idades de 49,9 anos e habilitações académicas variáveis, indo do bacharelato até ao doutoramento (quadro 1). Eles representam a totalidade dos AE de 4 concelhos do distrito de Aveiro (Portugal) que integram um total de 77 escolas e 367 professores do 1º ceb. Estes AE vão desde um máximo de 9 escolas e 47 professores do 1º ceb até um mínimo de 3 escolas e 12 professores do 1º ceb. Quadro 1 – Caraterísticas dos Adjuntos da Direção do AE – sexo, idade e habilitações académicas Sexo Idade Habilitações Académicas 11 F 3M Média = 49.9 anos ± 4.25 Mais novo – 42 Mais velho – 55 anos Bacharel – 1 Licenciatura – 7 Mestrado – 5 Doutoramento - 1 Em termos de média de 5.5 escolas ± 1.82 por AE e uma média de 26,2 professores ± 10.9 também por AE (quadro 2). Poderemos deduzir que estamos perante diferentes AE, sob o ponto de vista da sua dimensão e consequentes implicações organizacionais. Quadro 2 – Caraterísticas dos Agrupamentos de Escolas – escolas, médias/AE, professores, média professores Total de escolas do 1º ceb dos 14 AE Média de escolas / AE Total de professores do 1º CEB dos AE Média de professores / AE 77 5.5 escolas ± 1.82 367 26,2 ± 10.9 CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 29 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 Recolha de dados Os dados foram recolhidos juntos dos 14 Adjuntos da Direção dos AE através de um questionário individual, distribuído pessoalmente na Direção dos AE. Esse questionário previamente validado era constituído por: dados biográficos, questões abertas e algumas fechadas sobre o desenvolvimento da EF e das AFD no AE, às quais estavam associadas pedidos de justificação. Os dados objeto desta publicação decorrem das respostas às questões: i) “Como caracteriza a qualidade das condições materiais da área da EF nas escolas do 1º ceb do agrupamento (muito más; más; razoáveis; boas; muito boas ou excelentes); ii) Porquê? (questão aberta); iii) Qual o contexto de realização das aulas de EF mais utilizado (sala de aulas; polivalente interior; polivalente exterior; ginásio; pavilhão desportivo; campo de jogos exterior; outro)? Justifique (questão aberta). Tratamento dos dados. Os dados foram tratados em termos de análise de conteúdo (Bardin, 1997) numa perspetiva interpretativa das respostas obtidas e sua relação interna, incidindo os dados aqui apresentados unicamente sobre a questão da perceção das condições materiais da EF nas escolas do 1º ceb de cada AE. Resultados Os dados de natureza qualitativa que se apresentam, estão divididos na qualificação atribuída às condições materiais em cada AE para a prática da EF na escola do 1º ceb e as justificações e fundamentos apresentados. - Qualificação e contexto das condições materiais das aulas de EF e justificações Estes dados resultam da qualificação de cada gestor de AE sobre as condições materiais para o desenvolvimento da EF nas escolas do 1º ceb no seu AE. O quadro 3 sintetiza as qualificações identificadas por cada um, podendo evidenciar-se uma variedade de situações que usam a totalidade da escala (de muito más a excelentes). No entanto é possível identificar um pendor claramente positivo a partir das qualificações das condições materiais para a EF nas escolas dos AE, com menções que vão do Razoáveis (AE F) até ao Excelentes (AE L). CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 30 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 Quadro 3 – Condições materiais da área de EF nas escolas do 1º ceb – Qualificação dos gestores Agrupamento de Escolas Condições materiais da área de EF nas escolas do 1º ceb A B Muito más Más (outras escolas) Muito boas (escola-sede) C Boas D E F G H I J L M N O Boas Muito boas Razoáveis Más Muito boas Razoáveis Razoáveis Excelentes Más Muito más Más Os resultados sobre o contexto de realização das aulas de EF e sua justificação apresentam um vasto leque de situações entre os vários AE. Desde a utilização de múltiplos contextos - “Ginásio + pavilhão + campo de jogos exterior + outro” (AE C), “Sala de aula + polivalente interior + ginásio + outro” (AE G) até a “Outro” (AE N). Por outro lado é identificável a diferenciação de condições dentro do mesmo AE quando se refere “Ginásio + pavilhão desportivo (escola-sede) campo de jogos exterior (outras escolas”) (AE B) e “Ginásio, pavilhão ou campo de jogos na escola-sede, logradouro ou telheiro nas outras” (AE C). CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 31 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 Quadro 4 – Contexto de realização das aulas de EF e justificação – Perceções dos gestores Agrupamento de Escolas A B C Contexto de realização das aulas de EF Sala de aulas + campo de jogos exterior Ginásio + pavilhão desportivo (escolasede) campo de jogos exterior (outras escolas) Ginásio + pavilhão + campo de jogos exterior + outro D Pavilhão desportivo + outro E Ginásio + campo de jogos exterior F Campo de jogos exterior G H I J Sala de aula + polivalente interior + ginásio + outro Polivalente interior + campo de jogos exterior Sala de aula + polivalente interior + campo de jogos exterior Campo de jogo exterior Justificação “Durante os anos letivos transatos a EF não tem tido condições de espaço físico condignas. Quando chove os alunos fazem a atividade dentro da sala de aula” “Só na escola-sede os alunos dispõem de espaços adequados” “Ginásio, pavilhão ou campo de jogos na escola-sede, logradouro ou telheiro nas outras” “… nos centros escolares a realização das aulas de EF já se verifica nos pavilhões desportivos, enquanto nas outras as aulas realizam-se em espaços adaptados.” “Está de acordo com os blocos trabalhados/abordados” “As escolas do 1º ceb não têm polivalentes ou ginásios. As atividades têm de ser feitas nos espaços exteriores, nomeadamente campos de jogos e telheiros.” “Na maioria das escolas EB1, a EF realizase no pátio exterior e quando há mau tempo passam para uma sala de aula. Apenas as 2 turmas do 4º ano que estão na EB de … e as turmas do Centro Escolar de … é que possuem melhores condições (polivalente e ginásio) ” --“Há 2 escolas com, polivalente interior e outras 4 têm campo de jogos ao ar livre ou coberto” “Nas escolas do 1º ceb deste AE não existem pavilhões ou polivalentes, motivo pelo qual os docentes ficam confinados ao espaço exterior ou à sala de aula” CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 32 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 L “As aulas são todas realizadas em espaço Outro específico – tipo pavilhão” M Campo de jogos “Inexistência de espaços adequados” exterior N “Recreios de terra ou alpendres em tempo Outro de chuva” O Sala de aula + campo --de jogos exterior - A matização das condições materiais para a prática da EF AE com condições más ou muito más Identificamos perceções assertivas e objetivas marcadamente qualificadas com muito más por “Os espaços não são adequados, não existem campos de jogos, cobertos ou descobertos”(AE N). A justificação para que a perceção muito negativa do AE A sobre as condições materiais da EF decorrem de “Durante os anos letivos transatos a EF no 1º CEB tem sido bastante menosprezada, quer a nível das condições físicas, quer a nível dos materiais, bastante precário e quase inexistente” (AE A) ou da ausência de materiais específicos da EF “Não existem instalações e material adequado à prática da disciplina”(AE M). Outros ainda referem de uma forma mais mitigada uma perceção negativa “As escolas do 1.º ceb não possuem pavilhão ou sala destinada à prática desportiva. A prática desportiva é realizada principalmente no espaço exterior das escolas, quando as condições meteorológicas o permitem. A docente que leciona esta atividade nas Expressões Artísticas e Físico Motoras, recorre a material existente na escola sede do agrupamento” (AE O). Outros AE com perceções claramente negativas resultam das diferenças existentes entre a escola-sede e as restantes escolas, como é referido para o AE G “Com exceção do Centro Escolar de … , que possui instalações mais recentes, todas as outras escolas não têm as melhores condições para a prática de EF: não possuem um espaço específico, nem equipamentos” (AE G). Ainda neste AE há uma diferenciação de condições entre escolas “Na maioria das escolas EB1, a EF realiza-se no pátio exterior e quando há mau tempo passam para uma sala de aula. Apenas as 2 turmas do 4º ano que estão na EB de … e as turmas do Centro Escolar de … é que possuem melhores condições (polivalente e ginásio) ” com implicações para as opções dos professores. Como forma de caraterizar e justificar a realidade vivida o AE A reconhece que “Durante os anos letivos transatos a EF não tem tido condições de espaço físico condignas. Quando chove os alunos fazem a atividade dentro da sala de aula”. Na perspetiva negativa cabem também condições que ainda persistem nas nossas escolas, como as referidas pelo AE N “Recreios de terra ou alpendres em tempo de chuva”. AE – condições razoáveis O grupo dos AE qualificadas pelos seus gestores com condições materiais da EF razoáveis, são fundamentados por diferentes razões. Como é descrito para o AE F, as alterações climáticas fazem variar essa perceção já que ”As condições são razoáveis uma vez que são realizadas no espaço da escola (recreio ou campo de futebol). Quando chove as condições são más, uma vez que se torna difícil a realização desta atividade, porque os telheiros da mesma são pequenos”(AE F). Outra razão para esta qualificação decorre da diferença entre escolas como é referido no AE I “Há escolas requalificadas que tem condições materiais mas 70% das escolas têm mais de 50 anos e sem requalificação e portanto inadequadas à prática de EF. Os recursos materiais que existem são dados pelo agrupamento para serem utilizados em parcas condições, nessas escolas” (AE I). Noutro CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 33 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 AE assume-se a falta de materiais e as fontes diversas de financiamento desse material quando se diz que as condições são “Razoáveis tendo em conta os materiais que as escolas possuem que foram adquirindo com verbas próprias ou verbas das AEC” (AE J) mas que ao nível das infraestruturas são desadequadas “Nas escolas do 1º ceb deste AE não existem pavilhões ou polivalentes, motivo pelo qual os docentes ficam confinados ao espaço exterior ou à sala de aula”(AE J). AE – condições boas ou muito boas São vários os AE que consideram possuir boas ou muito boas condições materiais para a EF, como o AE C que apesar de tudo refere diferenças entre escolas “A escola-sede tem um ginásio e um pavilhão muito bem equipados em termos de materiais. Todas as escolas do agrupamento foram também equipadas com um “kit” de materiais, podendo outros, adicionais, ser requisitados da escola-sede sempre que necessário. Contudo, em dias de chuva, as escolas fora da escola-sede estão em clara desvantagem, uma vez que não há espaços cobertos suficientemente grandes para a prática de atividade física. (AE C). Apesar de qualificar como boas, há uma justificação um pouco contraditória e dúbia quando são identificadas diferenças entre escolas como neste AE “Neste momento existem 3 CE em funcionamento que estão bem equipados, no entanto nas restantes escolas não existem muito boas condições para a prática da EF” (AE D). Uma qualificação de muito boas foi fundamentada ao nível das instalações quando refere “Das 5 escolas 3 possuem pavilhão / ginásio equipado com material desportivo”(AE E). AE – condições excelentes Um único AE assumiu a excelência das suas condições materiais para a EF. Para justificar tal qualificação das suas condições materiais para o desenvolvimento da EF o AE L carateriza que “Todas as escolas estão integradas em centros escolares, possuindo a sua maioria uma sala específica para a educação física coberta – tipo pavilhão – equipado com material que se considera suficiente e em bom estado”. Esta descrição decorre de novas construções em que as questões da EF foram equacionadas em cada nova escola. No fundo aquilo que à partida deveria ser o normal e habitual e que adquire aqui a dimensão de excecionalidade face à comparação com outras realidades escolares. A qualidade da EF na escola do 1º ceb não estando exclusivamente dependente da natureza das condições materiais para a sua prática, tem nestas um forte fator condicionador das decisões de organização do processo ensino-aprendizagem por parte do professor. Um mais amplo leque de opções de espaços e equipamentos disponíveis são uma fonte de motivação e inspiração para o trabalho docente. Se só por si a qualidade dos espaços e equipamentos em EF não serão garantia de qualidade das práticas, eles condicionam as práticas de professores e alunos perante esta área. Importa salientar que a sustentabilidade e a qualidade da EF na escola do 1º ceb se iniciam nas decisões de muitos outros antes deles. CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 34 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 Conclusões Este estudo permite-nos ter uma visão de como os gestores dos AE (também eles docentes do 1º ceb) percecionam as condições materiais que existem em cada AE para a docência da EF. Em termos de conclusões poderemos referir que existe uma matização da perceção de condições materiais para a EF, com iguais qualificações ao nível das suas condições materiais para a EF no 1º ceb a serem justificadas de formas diferentes. Os gestores nem sempre têm em consideração os mesmos indicadores na qualificação das condições materiais, já que de forma clara uns parecem valorizar exclusivamente instalações desportivas (pavilhões e ginásios), enquanto outros referenciam outros indicadores (ex: equipamento e material portátil). De uma forma global parece existir uma perceção positiva sobre as condições materiais para a prática da EF no 1º ceb, muito por via das recentes construções dos chamados centros escolares um pouco por todo o país. Este parece ser um dado marcante deste estudo, pois são constantes as referências feitas às novas escolas por contraste com as escolas mais antigas e quase sempre identificadas como sem condições para a prática da EF no 1º ceb. Os gestores das escolas assinalam de forma vincada um padrão em quase todos os AE, identificando uma diferença das condições materiais para a prática da EF no 1º ceb proporcionadas na escola-sede (muito boas) para as restantes escolas do 1º ceb de cada AE (nem sempre boas). Apesar de não ser assumido de forma explícita, parece que a questão das condições materiais para a prática da EF na escola do 1º ceb está, aos olhos dos gestores dos AE, demasiado fulanizada na dimensão instalações, já que as referências se centram muito na existência ou não de ginásios e/ou pavilhões. Deste modo, importa valorizar a diversidade de espaços e equipamentos de EF capazes de contribuir para a qualidade da prática da EF no 1º ceb, em simultâneo com um apetrechamento em materiais específicos capazes de apoiar o trabalho docente na intervenção nesta área. Deverá ainda ser reforçada a ideia de que apesar das melhorias de condições materiais da EF realizadas em muitas escolas do 1º ceb, ainda muito importa fazer para responder aos desafios definidos pelo próprio ME (2005). Como refere a UNESCO (2015) em defesa da EF, importa que a administração central e local com responsabilidades específicas nesta área, construa e consolide um futuro sustentável para a EF, envolvendo todos os decisores com responsabilidades, diretores, gestores, professores, pais e outros para a valorização educativa da qualidade da EF e seus valores intrínsecos e extrínsecos. A qualidade da EF na escola do 1º ceb também passa pela melhoria global das instalações e equipamentos específicos. Bibliografia BARDIN, L. (1977). Análise de conteúdo. Edições 70. Lisboa. BRANCO, P. (1994). O município e a prática desportiva de crianças e jovens. Revista Horizonte. 78. Dossiê. COMISSÃO EUROPEIA/EACEA/Eurydice, (2013). A Educação Física e o Desporto nas Escolas na Europa. Relatório Eurydice. Luxemburgo: Serviço de Publicações da União Europeia. FERNANDES, D. et al. (1994). Os professores, os conselhos escolares e o processo de experimentação do novo programa do 4º ano de escolaridade – Um estudo de avaliação. Instituto de Inovação Educacional. CIDTFF - Indagatio Didactica - Universidade de Aveiro 35 Desenvolvimento Curricular e Didática Indagatio Didactica, vol. 8(2), julho 2016 ISSN: 1647-3582 CORDOBA, A. (2002). Les difficultés d’enseigner l’eps aujourd’hui. Education Physique et Sport1, 110. Novembre - Décembre. Editions Education Physique et Sport. Paris, (3 – 5). LOUNSBERY, M., MCKENZIE, T., TROST, S. & SMITH, N. (2011). Facilitators and Barriers to Adopting Evidence-Based Physical Education in Elementary Schools, Journal of Physical Activity and Health, 8 (Suppl 1), (17-25), Human Kinetics, Inc. ME (2005). Programas para a conceção e projeto de instalações escolares para Educação Física e Desporto – 1º, 2º e 3º ciclos do Ensino Básico e Ensino Secundário. 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