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Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Métodos de identificação humana post mortem no IML – Centro de Perícias Renato Chaves nos anos de 2016 e 2017 Methods of human identification post mortem at IML - Renato Chaves Expertise Center in 2016 and 2017 Métodos de identificación humana post mortem en IML - Centro de Experiencia Renato Chaves en los años 2016 y 2017 Recebido: 11/04/2021 | Revisado: 17/04/2021 | Aceito: 19/04/2021 | Publicado: 05/05/2021 Joyce dos Santos Brasil ORCID https://orcid.org/0000-0003-2416-0204 Universidade do Estado do Pará, Brasil E-mail: joycebrasil.jb@gmail.com Maria Eduarda Chaves Pereira ORCID https://orcid.org/0000-0002-3149-2322 Universidade do Estado do Pará, Brasil Daniela Soares Leite ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3412-1375 Universidade do Estado do Pará, Brasil E-mail: danielaleite@uol.com.br Resumo O presente trabalho teve como objetivo traçar o perfil das formas de identificação e/ou reconhecimento post mortem mais ocorrentes no IML de Marabá/PA nos anos de 2016 e 2017. Trata-se de um estudo científico, transversal, nominal do tipo observacional, de caráter descritivo, voltado para análises documentais de laudos periciais no Centro de Perícias Renato Chaves nas quais foram identificação antropológica, documental e em última instância a identificação por DNA. Os dados foram analisados mediante gráficos de dispersão (ANOVA) e uma representação de comparação das médias (teste de Tukey) no software R Studio®. Foram analisados 735 laudos do ano de 2016 e 758 laudos de 2017. Em 2016 os métodos de identificação/reconhecimento mais utilizados foram Para identificação por meio de documentos do cadáver e identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar; a identificação por DNA correpondeu a 3,12%. Em 2017 os métodos mais utilizados também foram documentos do cadáver e identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar; análise por DNA correpondeu 6,20%. As formas de identificação post mortem mais ocorrentes no IML de Marabá/PA foram as que fazem uso da fotografia sinalética, datiloscopia e bioantropologia; a identificação post mortem por análise de DNA foi significativamente baixa. Palavras-chave: Medicina legal; Antropologia forense; Identificação humana; Identificação de cadáveres; Técnicas de identificação. Abstract The present work aimed to outline the profile of the most common forms of identification and / or post mortem recognition in the IML of Marabá / PA in the years 2016 and 2017. It is a scientific, transversal, nominal study of the observational type, of descriptive character, aimed at documentary analysis of expert reports at the Renato Chaves Expertise Center in which they were anthropological, documentary identification and ultimately DNA identification. The data were analyzed using scatter plots (ANOVA) and a representation of comparison of means (Tukey test) in the R Studio® software. 735 reports for the year 2016 and 758 reports for 2017 were analyzed. In 2016, the most used identification / recognition methods were For identification by means of corpse documents and identification by means of documents combined with family recognition; DNA identification corresponded to 3.12%. In 2017, the most used methods were also documents from the corpse and identification through documents combined with family recognition; DNA analysis corresponded to 6.20%. The most common forms of post-mortem identification in the IML of Marabá / PA were those that use sign photography, typing and bioanthropology; post-mortem identification by DNA analysis was significantly low. Keywords: Forensic medicine; Forensic anthropology; Human identification; Identification of corpses; Identification techniques. 1 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Resumen El presente trabajo tuvo como objetivo perfilar el perfil de las formas más comunes de identificación y / o reconocimiento post mortem en el IML de Marabá / PA en los años 2016 y 2017. Se trata de un estudio científico, transversal, nominal de tipo observacional, de Carácter descriptivo, orientado al análisis documental de los informes periciales del Centro de Pericia Renato Chaves en los que se realizaron antropología, identificación documental y en definitiva identificación por ADN. Los datos se analizaron mediante gráficos de dispersión (ANOVA) y una representación de comparación de medias (prueba de Tukey) en el software R Studio®. Se analizaron 735 informes del año 2016 y 758 informes del 2017. En 2016, los métodos de identificación/reconocimiento más utilizados fueron: Identificación mediante documentos de cadáveres e identificación mediante documentos combinados con reconocimiento familiar; La identificación del ADN correspondió al 3,12%. En 2017, los métodos más utilizados también fueron los documentos del cadáver y la identificación a través de documentos combinados con el reconocimiento familiar; El análisis de ADN correspondió al 6,20%. Las formas más comunes de identificación postmortem en el IML de Marabá / PA fueron las que utilizan fotografía de signos, mecanografía y bioantropología; La identificación post mortem mediante análisis de ADN fue significativamente baja. Palabras clave: Medicina forense; Antropología Forense; Identificación humana; Identificación de cadáveres; Técnicas de identificación. 1. Introdução A antropologia forense é uma subdisciplina da antropologia biológica ou física e, como parte desta disciplina, estuda a diversidade humana no nível biológico, que visa estimar, se uma espécie é humana ou animal, se humana, qual o sexo, a idade, a etnia, a estatura e a ancestralidade (Souza & Soares, 2019). Sendo assim, uma área contida no escopo da medicina forense, voltada para a área judicial, visando principalmente realizar a identificação no que diz respeito à individualização, bem como os diversos fatores que levaram a morte de um indivíduo (Hercules, 2005; Soares, 2008; Malgosa et al, 2010). E ainda, segundo Cunha, 2019: “Corpos em adiantado estado de decomposição, em que os traços faciais já não permitem qualquer tipo de reconhecimento, esqueletos, ossos, fragmentos ósseos, ossos/corpos queimados são todos materiais que podem ser considerados casos de antropologia forense. Convém referir ainda que os antropólogos forenses também trabalham com indivíduos vivos, nomeadamente na estimativa da idade tanto de menores sem documentação como de indivíduos mais idosos que nunca souberam exatamente a idade que têm e que, numa dada fase da vida, precisam da validação legal da idade.” (Cunha, 2019) A antropologia forense possui duas vertentes: a identificação policial, que utiliza conhecimentos nas áreas antropométricas, utilizando o sistema de bertillonagem e a datiloscopia, tendo como principal vertente de estudo a criminalística, podendo analisar vivos ou cadáveres; e a identificação médico-legal que utiliza conhecimentos médicos na resolução de casos específicos, que podem analisar corpos inteiros ou em decomposição, porém, com objetivo maior na identificação de ossadas quando se tem apenas partes incompletas, ou somente a arcada dentária. Ambas as áreas são de imensa importância na identificação humana (Croce, 2012). A atuação da antropologia forense teve seu início no século XX e continua progredindo devido a necessidade do conhecimento da anatomia do esqueleto em ações jurídicas que envolvam a identificação e avaliação de restos humanos em decomposição ou esqueletizados (Hércules, 2005). A antropologia forense tem um importante papel no combate à violência e à impunidade em muitos países do mundo, e para isso, faz-se necessário a existência formal de especialistas em antropologia forense nas instituições periciais (Lessa, 2009; 2010). A análise antropológica obedece aos pressupostos ou dogmas centrais da identificação que são “Unicidade na busca que vestígios que individualizam o que vai ser identificado; Imutabilidade procura caracteres que não se alteram com o passar do tempo; Perenidade busca elementos que resistam a ação do tempo; Praticabilidade faz com que o processo de identificação não seja um tanto quanto complexo; Classificabilidade é o processo de registro (França, 2004). A identificação de cadáveres inteiros ou com ossificação completa é relativamente fácil, porém, quando existem 2 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 apenas restos, fragmentos de ossos ou outras partes corporais torna-se um desafio para a perícia médico-legal. Existem diversos métodos que podem ser utilizados para a individualização em casos por exemplo de acidentes em massa (Funabashi et al, 2009; Silva, 2015), explosões, desastres em massa, dentre outros fatores, a antropologia forense é uma área criteriosa e tem uma série de processos, que permitem a análise de ossadas, estudo da arcada dentária e identificação por DNA forense (França, 2004). Com relação ao uso de DNA, até meados da década de 80 poucas técnicas eram conhecidas para o uso do DNA com o objetivo de gerar provas de investigação de paternidade, porém, os avanços da genética tornaram possível a identificação para exclusão de paternidade/maternidade e para inclusão de paternidade (Melki et al, 2001). A identificação de vítimas é um campo onde a patologia, a antropologia, a odontologia e até a genética devem se fundir (Cattaneo et al, 2006). No estado do Pará, o processo de identificação humana é feito pelo IML-Centro de Perícias Renato Chaves. O estado do Pará tem 05 unidades regionais distribuídas geograficamente no estado (Belém, Castanhal, Marabá, Altamira e Santarém). A unidade do IML-Centro de Perícias Renato Chaves do município de Marabá (Estado do Pará) atende outros 24 municípios do seu entorno. Assim, para se averiguar o atendimento à demanda de análises em Marabá e nos municípios dependentes, fazse necessário um estudo para descrever os métodos de análise bioantropológica, bem como delimitar quais critérios são aplicados para os encaminhamentos de amostras para análise de DNA forense comparativo, na capital do Estado do Pará (Belém), já que este aumenta os custos e o gasto de tempo. Assim, este estudo teve como objetivo descrever os métodos de identificação e/ou reconhecimento post mortem no IML- Centro de Perícias Renato Chaves de Marabá/PA, nos anos de 2016 e 2017. 2. Metodologia Trata-se de um estudo quali-quantitativo (Serapioni, 2000), transversal, nominal do tipo observacional, de caráter descritivo. As informações utilizadas no presente estudo foram obtidas no Centro de Perícias Renato Chaves, localizado no bairro Nova Marabá, do período de 01/01/2016 à 31/12/2017. Os tipos de identificação e/ou reconhecimento considerados foram: bioantropológica (incluindo análises de ossadas), documentais e reconhecimento familiar, além de identificação por DNA forense. Foi obtido o consentimento prévio (mediante solicitação por ofício) do IML-Centro de Perícias Renato Chaves para a obtenção de dados e informações dos laudos periciais. As variáveis foram codificadas como: DOC= Para identificação por meio de documentos do cadáver; DOC+RF= Para identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar; RF= Para reconhecimento familiar; DNA= Para identificação por meio de DNA comparativo; EXT= Para laudos extraviados; LNPC= Para laudos não preenchidos corretamente; IGN= Para laudos ignorados, onde a classificação de cadáver ignorado se dá quando: um corpo dá entrada no IML sem carregar consigo nenhuma informação que o identifique e nenhum familiar o reconheça por um período de 3 meses. Após esse período é realizado o sepultamento do cadáver e o arquivamento adequado do laudo para possíveis exumações. Após o recolhimento dessas informações os dados foram organizados e divididos em planilhas Excel©, classificandoos nas diferentes formas de identificação e/ou reconhecimento humano. E foram estatisticamente analisados por meio do teste do teste ANOVA (do inglês “Análise de variância”) e o Teste de Tukey, para comparar todos os possíveis pares de médias e se baseia na diferença mínima significativa (D.M.S.), considerando os percentis do grupo. 3. Resultados e Discussão Foram analisados 735 laudos referentes ao ano de 2016 (Tabela 1) e 758 laudos referentes ao ano de 2017 (Tabela 2). Totalizando 1493 laudos (Tabela 3). 3 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Tabela 1. Variáveis de identificação dos laudos post mortem, no período de 01 de janeiro de 2016 à 31 de dezembro de 2016. LAUDOS DE 2016 DO IML E SUAS IDENTIFICAÇÕES Laudo por VARIÁVEIS Intervalo (no) DOCS DOCS+R.F R.F DNA EXT LNPC IGN 1-35 10 14 2 1 4 2 1 36-70 10 13 1 1 4 1 1 71-105 14 11 1 1 3 1 1 106-140 10 12 1 1 3 1 1 141-175 12 14 4 1 2 1 2 176-210 13 14 2 1 4 1 1 211-246 13 12 1 1 3 1 1 247-281 12 12 1 1 5 2 1 282-316 19 15 2 1 4 1 1 317-351 16 13 4 1 4 1 1 352-386 15 11 2 1 6 1 1 387-421 19 15 2 2 4 1 1 422-456 10 13 2 1 7 2 1 457-491 20 13 2 1 4 1 1 492-526 10 13 1 1 6 1 1 527-561 19 13 2 1 6 2 1 562-596 9 10 2 1 6 1 1 597-631 9 10 2 1 4 1 1 632-666 10 13 1 2 6 1 2 667-701 14 13 1 1 6 1 1 702-736 10 12 3 1 3 2 1 Totais 264 266 39 23 94 26 23 % 35,9% 36,3% 5,3% 3,1% 12.8% 3,5% 3,1% Total 735 DOC= Para identificação por meio de documentos do cadáver DOC+RF= Para identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar RF= Para reconhecimento familiar DNA= Para identificação por meio de DNA comparativo EXT= Para laudos extraviados LNPC= Para laudos não preenchidos corretamente IGN= Para laudos ignorados, a classificação de cadáver ignorado se dá quando: é dada entrada de um corpo no IML sem ter consigo algo que o identifique somado a isso, uma abstenção de qualquer reconhecimento por familiar ou conhecido por até 3 meses; Após esse período é realizado o sepultamento do cadáver e o arquivamento adequado para possíveis exumações. Fonte: Autores (2020). 4 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Tabela 2. Variáveis de identificação dos laudos post mortem, no período de 01 de janeiro de 2017 à 31 de dezembro de 2017. LAUDOS DE 2017 DO IML E SUAS IDENTIFICAÇÕES Laudo por Intervalo (no) VARIÁVEIS DOCS DOCS+R.F R.F DNA EXT LNPC IGN 1-42 10 10 9 2 2 2 2 43-84 12 12 12 2 1 2 1 85-126 12 14 10 3 2 2 1 127-168 13 11 12 2 2 2 1 169-210 11 12 10 4 2 1 2 211-252 12 10 12 2 1 1 1 253-294 12 12 12 3 2 2 2 295-336 12 12 9 3 2 1 1 337-378 12 13 10 2 2 1 2 379-420 11 10 12 4 2 2 2 421-462 13 14 9 2 2 1 2 463-504 12 10 12 2 1 1 2 505-546 12 10 12 2 1 2 2 547-588 10 14 10 3 1 2 1 589-630 13 12 12 4 1 2 2 631-672 12 13 11 2 2 2 1 673-714 13 13 11 3 1 2 1 715-756 10 14 12 2 1 2 2 Totais 212 216 197 47 28 30 28 % 28% 28,5% 26% 6,2% 3,7% 3,9% 3,7% Total 758 DOC= Para identificação por meio de documentos do cadáver DOC+RF= Para identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar RF= Para reconhecimento familiar DNA= Para identificação por meio de DNA comparativo EXT= Para laudos extraviados LNPC= Para laudos não preenchidos corretamente IGN= Para laudos ignorados, a classificação de cadáver ignorado se dá quando: é dada entrada de um corpo no IML sem ter consigo algo que o identifique somado a isso, uma abstenção de qualquer reconhecimento por familiar ou conhecido por até 3 meses; Após esse período é realizado o sepultamento do cadáver e o arquivamento adequado para possíveis exumações. Fonte: Autores (2020). 5 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Tabela 3. Total de laudos e variáveis analisadas nos laudos de 2016 e 2017. Variáveis DOCS DOCS+R.F R.F DNA EXT LNPC IGN Total 2016 264 266 39 23 94 26 23 735 2017 212 216 197 47 28 30 28 758 Totais 476 482 236 70 122 56 51 1493 % (31,8%) (32,2%) (15,8%) (4,7%) (8,2%) (3,7%) (3,4%) Anos DOC= Para identificação por meio de documentos do cadáver DOC+RF= Para identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar RF= Para reconhecimento familiar DNA= Para identificação por meio de DNA comparativo EXT= Para laudos extraviados LNPC= Para laudos não preenchidos corretamente IGN= Para laudos ignorados, a classificação de cadáver ignorado se dá quando: é dada entrada de um corpo no IML sem ter consigo algo que o identifique somado a isso, uma abstenção de qualquer reconhecimento por familiar ou conhecido por até 3 meses; Após esse período é realizado o sepultamento do cadáver e o arquivamento adequado para possíveis exumações. Fonte: Autores (2020). Dentre os métodos de identificação, no ano de 2016 (Tabela 1), os cadáveres identificados por meio de documentos (DOC), representaram 35,9% do total de laudos, os identificados por meio de documentos combinados com o reconhecimento familiar (DOC+RF), 36,3% e ignorados (IGN) representaram 3.12% do total de laudos no ano de 2016. A proporção de número de identificações post mortem por análise de DNA foi significativamente baixa compondo um percentual também de 3,12%. Este método utiliza o material genético da pessoa que alega ter algum grau de parentesco com o falecido e o compara com o material genético do cadáver. Do total dos 23 corpos que utilizaram o método de identificação por DNA para serem individualizados, apenas 06 utilizaram material retirado da polpa dentária, enquanto 17 utilizaram amostras colhidas de ossos longos tais como fêmur e tíbia (por vezes descrita no laudo, porém em grande maioria não descrita). Em 2016, o extraviamento (EXT), 12,78%, ocorreu mais que identificações realizadas por meio do DNA (3,12%). E apesar dessa variável não ser uma forma de identificação, o extraviamento não permite saber se os corpos foram identificados e como, ou se são cadáveres ignorados. De acordo com o Gráfico 1, observa-se diferenças nas médias entre os métodos de identificação no IML-CPC Renato Chaves, no ano de 2016, onde os métodos mais prevalentes foram DOC (fotografia sinalética, datiloscopia e bioantropologia) e DOC+RF (combinação de identificação por documento e o reconhecimento familiar), diferindo significativamente dos demais métodos de identificação. Isso se deve ao fato de que a identificação de cadáveres inteiros é relativamente fácil, em vista de quando existem apenas restos, ou fragmentos de ossos, ou outras partes corporais (França, 2004). 6 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Gráfico 1. Resultado do teste ANOVA e teste de Tukey do ano de 2016, exibindo a média de todas as observações. DOC= Para identificação por meio de documentos do cadáver DOC+RF= Para identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar RF= Para reconhecimento familiar DNA= Para identificação por meio de DNA comparativo EXT= Para laudos extraviados LNPC= Para laudos não preenchidos corretamente IGN= Para laudos ignorados, a classificação de cadáver ignorado se dá quando: é dada entrada de um corpo no IML sem ter consigo algo que o identifique somado a isso, uma abstenção de qualquer reconhecimento por familiar ou conhecido por até 3 meses; Após esse período é realizado o sepultamento do cadáver e o arquivamento adequado para possíveis exumações. Fonte: Autores (2020). No ano de 2017 (Tabela 2), os cadáveres identificados por meio de documentos (DOC), representaram 28% do tota de laudos, os identificados por meio de documentos combinados com o reconhecimento familiar (DOC+RF), 28,5% e os números de cadáveres ignorados representaram 3,7% do total de laudos do ano de 2017, os mesmos encontram-se nessa situação por serem corpos encontrados sem documentação e permanecerem por mais de três meses sem reconhecimento familiar. Nessa variável, foi observado um aumento percentual de 15% de 2016 para 2017. Porém, apesar de representar apenas 3,4% de casos nos dois anos é muito importante socialmente que os cadáveres ignorados sejam catalogados de forma adequada. Essa identificação, na esfera civil, entre outros fatores, resguarda a titularidade para o direito de sucessão e, na esfera penal, em se tratando de um provável autor de crime, permite averiguar a extinção da punibilidade (Catteneo, 2013 apud Mizokami, 2014). Houve, em 2017, um aumento de identificações realizadas por DNA em relação ao ano de 2016, com 47 (6,2%) corpos sendo individualizados por análise de DNA. Desses 47 corpos individualizados por DNA, 31 utilizaram dentes como fonte de material genético, um aumento de 416.6% comparado ao ano anterior. Os 16 corpos restantes utilizaram material de ossos longos tais como fêmur e tíbia para análise genética. Em 2017, o extraviamento (EXT), 3,7%, não se apresentou maior do que nenhuma forma de identificação, diferente do ano anterior. No Gráfico 2, observa-se diferenças nas médias entre os métodos de identificação no IML-CPC Renato Chaves, no ano de 2017. O método de identificação post mortem mais ocorrentes no IML de Marabá/PA neste ano foram as que fazem uso da fotografia sinalética, datiloscopia e bioantropologia (DOC). 7 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Gráfico 2. Resultado do teste ANOVA e teste de Tukey do ano de 2017, exibindo a média de todas as observações. DOC= Para identificação por meio de documentos do cadáver DOC+RF= Para identificação por meio de documentos combinados com reconhecimento familiar RF= Para reconhecimento familiar DNA= Para identificação por meio de DNA comparativo EXT= Para laudos extraviados LNPC= Para laudos não preenchidos corretamente IGN= Para laudos ignorados, a classificação de cadáver ignorado se dá quando: é dada entrada de um corpo no IML sem ter consigo algo que o identifique somado a isso, uma abstenção de qualquer reconhecimento por familiar ou conhecido por até 3 meses; Após esse período é realizado o sepultamento do cadáver e o arquivamento adequado para possíveis exumações. Fonte: Autores (2020). O total de laudos identificados por meio de documentos (DOCS), onde o legista realiza o reconhecimento e comparação do falecido com a fotografia sinalética disposta no corpo do documento em questão, nos anos analisados, foi de 476 (31,8%) (Tabela 3) sendo a segunda forma de identificação que mais ocorre no IML centro de Perícias Renato Chaves nos dois anos analisados. Contudo, deve-se lembrar que o reconhecimento é um processo subjetivo, suscetível a erros de caráter intencional ou não, que deve sempre ser seguido de um processo científico de identificação (Martin et al, 2008; Carneiro et al, 2017). Dos 1493 corpos, cerca de 16% (15,8%) foram identificados por familiares (RF). Assim, de forma empírica, por meio do “reconhecimento”, corpos são liberados sem segurança, colocando a verdadeira “identificação”, com base científica em segundo plano (Aguiar Filho, 2011). O uso do reconhecimento familiar é menor que o uso de métodos de identificação, como as realizadas através de uso de documentos e da combinação entre documentos e reconhecimento familiar. Porém, o reconhecimento familiar, foi observado em um total de 236 laudos (15,8%) (Tabela 3) nos dois anos analisados e apresentou um aumento de 405% do ano de 2016 para 2017. Dessa forma, deve-se, novamente, atentar para a subjetividade do reconhecimento individualizações de cadáveres. Em todos os períodos analisados, para a realização da identificação por DNA de um corpo, sob a responsabilidade do IML de Marabá/PA, é realizado encaminhamento para Belém/PA (capital do estado). Sendo adotado os seguintes critérios: a entrada de restos mortais de pessoas carbonizadas (material de coleta é o dente), corpo de cadáver ignorado que após o período de 03 meses foi sepultado pelo IML e um terceiro recorre ao IML para realizar o reconhecimento. Neste, os restos mortais que foram sepultados são exumados e então é colhido material que possui DNA para realização do método comparativo. Apesar do DNA ser uma forma de identificação precisa a mesma não se mostrou expressivamente solicitada pelo IML-Centro de Perícias 8 Research, Society and Development, v. 10, n. 5, e23010514925, 2021 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i5.14925 Renato Chaves nos anos analisados como a hipótese do estudo supôs. Algumas explicações para isso são: A técnica de DNA é pouco executada pois o estado dos corpos que deram entrada nos dois anos permitiu que a identificação bioantropológica fosse realizada, visto que o DNA é o auxiliador principal em casos de mortes por carbonização ou corpos encontrados em elevado estado de putrefação; Os cadáveres ignorados ainda não possuem ninguém que tenham realizado pedido para identificação e consequentemente realização da exumação do cadáver e execução do DNA comparativo; A identificação ocorre de forma a esgotar todas eletivas de identificação mais rápidas e com menor custo benefício disponíveis; A técnica é mais dispendiosa e demorada, podendo gerar atraso na conclusão do laudo e, por óbvio, aumenta a espera da família para as cerimônias fúnebres, essenciais em nossa cultura. (Bissacot, 2015). O extraviamento põe em discussão a precisão dos resultados apresentados nos outros tratamentos pois o extraviamento não permitiu que estes laudos fossem examinados. Os laudos não preenchidos corretamente também não permitem a obtenção quanto a forma de identificação que individualizou os corpos em questão. 4. Conclusão As formas de identificação e/ou reconhecimento post mortem mais utilizadas no IML de Marabá/PA são as que fazem uso da fotografia sinalética, datiloscopia e bioantropologia; cadáveres ignorados (não identificados) representam uma pequena proporção (não significante estatisticamente); A proporção de número de identificações post mortem por análise de DNA foi, também, significativamente baixa e os materiais mais utilizados para isolamento de material biológico utilizado na técnica de DNA foram ossos (longos, tais como tíbia e fêmur) e dentes. Faz-se necessário mais estudos em ano seguintes, para ver a evolução dos métodos de identificação/reconhecimento no IML-Centro de Perícias Renato Chaves. Além disso, é cabível a conscientização acerca de laudos não preenchidos corretamente, arquivamento, contribuindo assim para a resolução de demandas cíveis e penais. Agradecimentos Os autores agradecem ao IML-Centro de Perícia Renato Chaves-Marabá/PA, pelo suporte e a disponibilização dos dados para a realização deste trabalho. Referências Aguiar Filho, A. M. (2011). A eficiência da perícia necropapiloscópica na identificação de vítimas em desastre de massa, em casos de repercussão e na identificação de cadáveres ignorados. Trabalho de conclusão de curso de Especialização em Perícia Criminal pela Universidade Paulista – UNIP. Goiânia. 122f. Bissacot, G. (2015). Métodos de identificação humana utilizados no Laboratório de Antropologia Forense do IML-DPT-PCDF, entre 1993 e 2013. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Odontologia) Universidade de Brasília, Brasília, 45f. Carneiro, A. P. C., Andrade, L. M., Fraga, F. J. O., & Duarte, M. L. (2017). 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